A IMPORTÂNCIA DO CEFAPRO1 – PONTES E LACERDA PARA A
FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES DE GEOGRAFIA DA
EDUCAÇÃO BÁSICA DO VALE DO GUAPORÉ
Heder De Oliveira Silva/CEFAPRO
[email protected]
FORMAÇÃO CONTINUADA
É notório que a sociedade na qual vivemos está permeada por mudanças que
nos acometem a cada instante. Muitos métodos e ideologias passam por
questionamentos colocando em destaque a necessidade de encontros de formação
continuada no próprio local de trabalho.
Na atual conjuntura, o contexto onde se insere o trabalho docente tem ganhado
novas atividades tornando-se cada vez mais complexo. NÓVOA, em entrevista ao
programa Salto para o futuro da TV Brasil, ao ser indagado “Ser professor atualmente é
mais complexo do que foi no passado?” Ele responde:
É difícil dizer se ser professor, na atualidade, é mais complexo do que foi no
passado, a profissão docente sempre foi de grande complexidade. Hoje, os
professores têm que lidar não só com alguns saberes, como era no passado,
mas também com a tecnologia e com a complexidade social, o que não
existia no passado (17/06/2009).
Nas salas de aulas fica bem nítida a diversidade social. Precisamos sempre,
enquanto professores, estarmos atentos às diferenças existentes, diferenças estas que no
passado não poderiam ser observadas com naturalidade, como: pobre e ricos, negros e
brancos, índios e filhos de fazendeiros, pessoas com e sem acesso ao mundo virtual,
trabalhadores e desempregados. Os professores têm que estar preparados, conscientes da
sua ação para que possam analisar, respeitar e trabalhar na diversidade com qualidade os
1
Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica;
conteúdos que desenvolvam as aprendizagens necessárias para solidificar as habilidades
para que os mesmos não sejam excluídos.
HYPOLITTO, em seu artigo “Repensado a Formação Continuada”, afirma:
O profissional consciente sabe que sua formação não termina na
universidade. Esta lhe aponta caminhos, fornece conceitos e idéias, a matériaprima de sua especialidade. O resto é por sua conta. Muitos professores,
mesmo tendo sido assíduos, estudiosos e brilhantes, tiveram de aprender na
prática, estudando, pesquisando, observando, errando muitas vezes, até
chegarem ao profissional competente que hoje são.
Isto nos mostra que professor é um eterno estudante. O profissional que escolhe
a licenciatura de Geografia, como em qualquer outra área, sabe da dinamicidade dos
conteúdos e a da criatividade que precisará utilizar para desenvolver aprendizagens
necessárias, oportunizando a emancipação do aluno, contribuindo na formação enquanto
cidadão pleno.
Sabemos o quanto é difícil exigir dedicação dos professores nesses períodos de
baixos salários, onde os mesmos se dedicam a cargas horárias duplas, triplas para
sustentar suas famílias. Mesmo porque, seus salários, comparados aos demais
profissionais de mesmo nível de estudo são, na maioria, inferiores.
Porém, em enquete realizada no Blog (Hedergeo.blogspot.com) para averiguar
fatores que dificultam o trabalho do professor, a questão salarial não aparece como o
principal entrave, conforme mostra o quadro abaixo.
FALTA DE INTERESSE DOS ALUNOS
18
(33%)
PROFESSORES DESMOTIVADOS
13
(24%)
PAIS DESPREOCUPADOS
12
(22%)
INDISCIPLINA
FALTA DE APOIO
6
4
(11%)
(7%)
Total de votos até o dia 20 de Julho de 2009: 53 votos
Observa-se que a maioria dos internautas, sendo professores, acreditam que o
aluno é o principal ator desse processo, pois colocam no desinteresse dos mesmos, os
fatores de entrave ao processo de aprendizagem. Mas não podemos deixar de levar em
consideração o grande número de internautas que coloca a responsabilidade em segunda
instância, na desmotivação dos professores.
Precisamos então, a partir destes dados, pensar em uma formação continuada
que consiga minimizar alguns desses problemas.
A formação continuada não conseguirá resolver todos os problemas da
educação, pois os mesmos são complexos e precisam da ação de diversos atores tais
como: governo com políticas públicas de estado, menor número de programas
imediatistas sem retorno qualitativo, gestão democrática, professores motivados,
concursos, participação da família, formação continuada e que repense a prática.
A formação continuada em serviço possibilita repensar a prática docente, refletir
acerca dos problemas a serem resolvidos na escola e ressignificar a ação pedagógica.
Verifica-se hoje um grande número de professores que obteve formação inicial
não suficiente para estar na sala de aula. Podemos observar ainda que a maioria dos
professores está exercendo uma profissão que não estava em seus planos durante a
adolescência e a juventude. Pontes e Lacerda - MT com 37.910 habitantes, de acordo
com dados do IBGE na contagem de 2007, permite vislumbrar essa situação, pois tem
uma Universidade Estadual (UNEMAT2) com número de cursos reduzidos e Faculdades
particulares que nem sempre oferecem cursos que a sociedade almeja.
Aqueles que adentram a Universidade Estadual em nosso município acabam
indo para a licenciatura uma vez que este é o único curso gratuito e noturno que permite
acesso a alunos trabalhadores. Percebe-se ainda grande número de universitários que
decidiram seus cursos na incerteza e sem muita segurança dos avanços em seus estudos,
isto explica grande número de evasão, concretização da carreira sem muito preparo e
não podemos deixar de lado os que não conseguem entrar no mercado de trabalho
devido ao grande número de turmas ao longo desses 17 anos da UNEMAT em Pontes e
Lacerda.
Não podemos ver a Formação continuada em serviço como uma santa que chega
para curar todos os males da escola e da educação. Ela necessita de alguns pontos a
serem pensados com muita responsabilidade. Não poderá ser vista como mais um
programa de governo, como muitos a vêem. Não se pode fragmentar a teoria e a prática,
como muitos fazem, refletindo a teoria pela teoria e a prática pela prática.
2
Universidade Estadual de Mato Grosso – Unidade em Pontes e Lacerda.
SALLES, em seu artigo publicado na Revista Iberoamericana de Educação “A
formação continuada em serviço”, coloca que:
[...] aprende-se com a prática como se aprende com a teoria e da
mesma maneira, isto é, se refletindo criticamente sobre a experiência
quer seja ela de natureza teórica ou prática. Ninguém aprende com a
teoria senão refletindo criticamente sobre ela, assim como ninguém
aprende com a prática senão refletindo criticamente sobre ela.
Isso significa dizer que a teoria é tão importante quanto a prática e vice-versa.
Não podemos reproduzir modelos de formação continuada a torto e a direito. Sobre esta
questão SALLLES vai além, quando esclarece e nos mostra quatro questões sobre as
quais precisamos refletir em relação à formação continuada:
a primeira é a de que a educação continuada em serviço constitui uma
atividade fundamental da formação do professor; mas não constitui a
única e nem, necessariamente, a mais estratégica;
a segunda é a de que é falsa a oposição que muitos estabelecem entre
os modelos de formação continuada, baseadas na racionalidade
técnica ou nos saberes disciplinares e os que propõem desenvolvê-la
em serviço, baseados na racionalidade prática ou no cotidiano da
prática docente na escola;
a terceira é a de que a formação continuada em serviço se constitui
em um momento insubstituível da formação dos professores;
a quarta é a de que nenhuma formação continuada em serviço pode
ser proposta desvinculada de uma forma mais geral de se conceber a
prática educativa.
No item ressignificação da prática do professor de geografia, aprofundaremos
nessa discussão sobre formação continuada.
IMPLANTAÇÃO DO CEFAPRO NO ESTADO DE MATO GROSSO
Os 15 polos do CEFAPROs têm como instituição mantenedora a SEDUC - MT
Secretaria de Estado da Educação.
O Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica –
CEFAPRO – foi criado em 1998 para desenvolver a Política de Formação dos
Profissionais da Educação Básica de Mato Grosso.
Sempre é bom ressaltar que a história acerca da origem e constituição do
CEFAPRO está permeada de relatos e descrições que podem não ser tão reais. Portanto,
devido à carência de registros e o pouco tempo em que estou na instituição, apresentarei
algumas informações que poderão não ser verdadeiras sob o olhar de alguns leitores.
Também não podemos negar o grande número de pessoas e autores de artigos,
monografias e livros acerca da instituição que se deixam levar pelo bairrismo e
regionalismo.
FAVRETTO (2006) em sua tese de mestrado pela UFMT, com tema: “A
formação continuada dos professores em exercício nas escolas públicas de
Rondonópolis-MT. uma investigação sobre as instâncias formadoras”, afirma:
Os centros de formação e atualização dos professores – CEFAPROs
foram criados a partir do Centro de Formação Permanente de
Professores – CEFOR3 que teve sua origem na Escola Sagrado
Coração de Jesus de Rondonópolis-MT, para institucionalizar o
projeto de Formação permanente dos Professores que já existia e não
era reconhecido pelo Estado (pág. 54)
De acordo com FAVRETTO (2006), o grupo foi crescendo, envolvendo outras
escolas do município, e a SEDUC4-MT começou a se interessar pelo trabalho ali
desenvolvido. Segundo RODRIGUES apud FAVRETTO, 2006 P.55
A SEDUC tomou o projeto do CENFOR como referência para a
criação do CEFAPRO [...] era a confirmação do seu êxito e
viabilidade, além de que seriam criadas as condições para estendê-los
aos demais professores da rede estadual de ensino (RODRIGUES,
2004, p. 86).
A partir daquele momento o projeto do CEFOR, deixa Rondonópolis e ganha o
Estado, conforme relata FAVRETTO (2006). O projeto ganhou dimensão no Estado
com o Decreto de criação do CEFAPRO Nº 2007/97 de 29 de dezembro de 1997, nos
municípios de Rondonópolis, Diamantino e Cuiabá. A partir daí foram implantadas
unidades nas demais regiões de Mato Grosso, como poderá ser visto no quadro abaixo
apresentado no Encontro de Formação dos CEFAPROS, realizado de oito a dezoito de
Fevereiro de 2009 no Hotel Fazenda Mato Grosso, em Cuiabá.
Ano
Pólo
3
Centro de formação permanente de professores.
4
Secretaria se Estado da Educação – Mato Grosso.
Decreto
1997
Cuiabá, Diamantino e Rondonópolis
1998
Sinop, São Félix do Araguaia, Matupá, Juara e 2319 de 08/06
Cáceres
1999
Juína, Alta Floresta, Barra do Garças e 0053 de 22/03
Confresa
2005
Tangará da Serra
6824 de 30/11
2008
Primavera e Pontes Lacerda
Lei 9.072 de 24/12
2007 de 29/12
Segundo a Superintendência de Formação (SEDUC-MT), em slide apresentado
no encontro anteriormente mencionado:
Depois de oito anos de sua criação, em 2006 os CEFAPROs foram
transformados em Unidades Administrativas pela LEI 8.405 de 27 de
dezembro de 2005. Esta Lei definiu que o CEFAPRO tem por
finalidade a formação continuada, a inclusão digital e o uso de novas
tecnologias na prática pedagógica dos professores da educação básica
da rede pública estadual de ensino.
No mapa abaixo podemos verificar a divisão e localização geográfica dos
CEFAPROs no Estado de Mato Grosso.
Fonte: Professora Ms. Graciete Maria Teixeira (SUFP5)
Nesse caminho percorrido, 11 anos se passaram e muitos obstáculos foram
vencidos, a instituição obteve avanços, sempre com o objetivo da garantia do
desenvolvimento das aprendizagens para professores e alunos da rede pública de ensino.
De acordo com a Superintendência de formação, as funções dos CEFAPRO, são:
- Disseminar as políticas oficiais de educação do Estado de Mato
Grosso e do Ministério da Educação.
- Diagnosticar necessidades, apoiar e propor ações formativas junto às
escolas da rede pública de ensino.
- Mediar as necessidades formativas dos professores e das políticas
oficiais, fortalecendo e dinamizando a rede de formação.
- Elaborar, acompanhar e avaliar o projeto de formação continuada
dos professores da educação básica da rede pública de ensino,
contribuindo para o desenvolvimento profissional dos mesmos.
Pelo
exposto
vemos
que
os
CEFAPROS
são
vistos,
pela
própria
Superintendência como espaço dinâmico de estudo, reflexão, diálogo, debate com e
entre os professores e as escolas.
CRIAÇÃO DO CEFAPRO EM PONTES E LACERDA
A região assistida até 2008 por Cáceres eram composta por mais de 20
municípios tornando assim difícil desenvolver uma formação contínua
E eficaz. Não
estou dizendo que os profissionais que trabalhavam no CEFAPRO de Cáceres até 2008
eram ineficazes, o número de municípios e a geografia da região é que não permitia
adequada concretização da formação.
Esta situação obrigava a construção de cursos pontuais, que em muitas vezes
não respondia a expectativa e a realidade dos professores que estavam em sala de aula.
De acordo com uma professora das Escolas do pólo de Pontes e Lacerda no trabalho
anteriormente desenvolvido:
Havia falta de conhecimento da realidade do município atendido, as
comparações com outros Profissionais de forma negativa, trazer o
curso pronto e acabado, não poder interferir no plano, falta de
domínio do assunto e não admitir que podemos trocar experiências e
5
Superintendência de Formação, órgão integrado a SEDUC-MT.
conhecimentos fazendo de nós só ouvintes de suas propostas. A
maioria dos professores participava somente na hora de assinar a lista
para receber certificado, porque você dormia e não sentia motivação
para ouvir.
A implantação do CEFAPRO na Região do Vale do Guaporé contribuiu para
diminuir as distâncias, possibilitar o conhecimento das dificuldades de cada um dos
municípios, seus anseios e facilitar as trocas de experiências.
O CEFAPRO de Pontes e Lacerda está inscrito no Cadastro de Pessoa Jurídica
sob Nº. 10.881.545/0001-08, sendo este juntamente com o de Primavera do Leste os
dois mais recentes.
A Lei nº 9.072, de 24 de dezembro de 2008, cria o Centro de Formação e
Atualização dos Profissionais da Educação Básica do Estado de Mato Grosso –
CEFAPRO – MT do município de Pontes e Lacerda, que tem como finalidade
desenvolver projetos de formação continuada dos professores da rede pública estadual
de ensino e desenvolve parcerias com os municípios na execução de atividades
pertinentes a educação.
O CEFAPRO em Pontes e Lacerda constitui-se como um polo educacional tendo
como área de abrangência 10 municípios da região: Campos de Júlio, Comodoro,
Conquista D’Oeste, Figueirópolis D’Oeste, Jauru, Nova Lacerda, Pontes e Lacerda,
Rondolândia, Vale do São Domingos e Vila Bela da Santíssima Trindade.
Fonte: Heder de Oliveira Silva
Os municípios que fazem parte do polo de Pontes e Lacerda apresentam aspectos
geopolíticos, culturais e históricos peculiares, fatores que nos leva a considerar a origem
migratória em que esses espaços se constituíram.
A primeira equipe formadora do CEFAPRO Pontes e Lacerda foi composta de:
diretor: Prof. Sebastião da Silva Mota; Coordenadora de Formação Continuada: Prof.ª
Aparecida de Souza Ferreira; Secretária: Ana Maria Machado de Oliveira Cunha;
Técnicos: Patrícia Moreira Coelho Ruppin; Professores Formadores: Prof. Elias
Martins, Prof.ª Giseli Martins de Souza, Prof. Heder de Oliveira Silva, Prof.
Marcosoney Feliciano de Souza (GESTAR II), Prof.ª Maria Rosalina Alves Arantes
(GESTAR II), Prof.ª Maribel Chagas de Ávila, Prof.ª Mariza Lima de Souza, Prof.
Maureci Moreira de Almeida e Prof. Osvaldo de Oliveira Vieira (GESTAR II);
Profuncionário: Prof.ª. Lusia Gonçalves da Silva; Apoio para Manutenção InfraEstrutura Escolar/Limpeza: Juvelina Galdina Gonçalves Roma; Fabiana Gomes de
Lima; Vigilância: Elton Aparecido Pego de Oliveira, Jovelino Barbosa de Souza e
Reinaldo Marques Dias. Não podemos deixar de ressaltar a participação e contribuição
de todos os diretores, coordenadores, professores, apoio administrativo, guardas e
merendeiras de todas as escolas dos 10 municípios do polo.
O objetivo central do polo do CEFAPRO de Pontes e Lacerda, segundo seu
PPDC6 é Programar a política de formação continuada dos profissionais de Educação
Básica das Escolas Estaduais do polo de Pontes e Lacerda. Já os objetivos específicos
são:
Orientar, aprovar, intervir e avaliar os projetos elaborados pelas
unidades escolares da sede e dos municípios que compõem o polo;
Implantar e implementar o projeto Sala de Professor nas escolas
pertencentes ao polo;
Fortalecer a escola como lócus de formação continuada, tendo como
premissa o desenvolvimento das habilidades docentes que se
encontram nos quatro pilares da educação: “aprender a conhecer,
aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser”;
Atender os profissionais da educação, no que diz respeito às questões
tecnológicas com projetos de inclusão digital e instrumentalização nas
diversas áreas do conhecimento;
Implantar projetos de formação continuada para profissionais não
docentes;
6
Projeto Político de Desenvolvimento do CEFAPRO (2009).
Potencializar as ações de Educação Ambiental nos municípios do polo
de Pontes e Lacerda;
Assegurar a formação continuada dos profissionais do CEFAPRO
através da implantação do Projeto Sala de Formador;
Garantir a formação continuada dos diretores, coordenadores
pedagógicos e professores articuladores dos municípios do polo.
Realizar seminário de socialização de práticas pedagógicas das escolas
do polo;
Implantar e implementar, nos municípios que fazem parte do polo de
Pontes e Lacerda, o projeto Formação Continuada: um novo olhar
sobre a prática docente.
Para o ano de 2009, as metas principais são: desenvolver diagnósticos
interativos, fechados, abertos e visitas para observar as reais necessidades das escolas. O
CEFAPRO Pontes e Lacerda têm como objetivo central o fortalecimento da Sala de
Professor, sendo esta a “menina dos olhos” da Superintendência de Formação –
SEDUC-MT. Os professores formadores além de acompanhar a Sala de Professor fazem
encontros por áreas e disciplinas para auxiliar os professores buscando a atualização,
desenvolvimento e envolvimento dos mesmos com suas práticas.
RESSIGNIFICAÇÃO DA PRÁTICA DO PROFESSOR DE GEOGRAFIA
É importante dizer que o professor é o ator principal quando se trata de sua
formação continuada. Portanto, para que a Formação continuada em serviço aconteça, é
imprescindível sua contribuição.
O professor de geografia é peça fundamental na formação ético, social,
econômico, crítico, histórico do ser. Não se trata de negar a importância da História,
mas de entendê-la como complementar evitando assim a fragmentação dos campos do
saber, pois acontecendo, surgem os fracassos escolares por parte dos alunos e os
professores se sentem impotentes diante de tal situação.
Nos encontros de formação continuada, identificamos junto aos professores de
Geografia algumas dificuldades que impossibilitam a práxis pedagógica. Dentre elas
destacamos: professores fora da área de formação, grande quantidade de contratos
temporários, dificuldades com os conteúdos, indisciplina dos alunos, falta de interesse
dos alunos, problemas de relacionamento interpessoal, falta de material didático,
equívocos na avaliação, matriz curricular descontextualizada, falta de questionamentos,
dificuldades com a leitura e interpretação. Percebemos ainda, distorções quanto à
contextualização dos conteúdos didáticos e a quase inexistente interação entre os
próprios professores da disciplina de geografia.
Ser professor na atualidade NÃO é tarefa fácil para quem gosta, imaginem para
aqueles que têm na atividade docente algo passageiro. Todos nós sabemos que a
educação não poderá jamais ser vista como bico. São estas ações que nos colocam em
situações vexatórias e até pecaminosas. Para Nóvoa (1997, pág. 26) “A troca de
experiências e a partilha de saberes consolidam espaços de formação mútua, nos quais
cada professor é chamado a desempenhar, simultaneamente, o papel de formador e de
formando”.
Entretanto, contrariando o que nos diz Nóvoa é corriqueiro dentro da escola,
encontrar professores que atuam na mesma disciplina e que não se comunicam. Do
mesmo modo, vemos as enormes dificuldades de muitos professores em dar voz aos
alunos.
Este quadro de distanciamento nos mostra que precisamos desenvolver nossa
prática reflexiva. Segundo Schön (1997, p. 87)
[...] Nessa perspectiva o desenvolvimento de uma prática reflexiva eficaz tem
que integrar o contexto institucional. O professor tem de se tornar um
navegador atendo à burocracia. E os responsáveis escolares que queiram
encorajar os professores a tornarem-se profissionais reflexivos devem criar
espaços de liberdade tranqüila onde a reflexão seja possível. Estes são os
dois lados da questão – aprender a ouvir os alunos e aprender a fazer da
escola um lugar no qual seja possível ouvir os alunos – devem ser olhados
como inseparáveis (pág. 87).
Neste contexto liberdade e diálogo constituem o espaço escolar onde a reflexão é
a mola mestra.
PERRENUOD (2000) em seu livro “As dez novas competências para ensinar”,
nos aponta as 10 famílias de competências que norteiam a reflexão:
1 – Organizar e dirigir situações problemas;
2 – Administrar a progressão das aprendizagens;
3 – Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciações;
4 – Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu
trabalho;
5 – Trabalhar em equipe;
6 – Participar da administração da escola;
7 – Informar e envolver os pais;
8 – Utilizar novas tecnologias;
9 – Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão;
10 – Administrar sua própria formação contínua.
Nos municípios do polo do CEFAPRO de Pontes e Lacerda observamos uma
grande quantidade de professores que estão atuando na disciplina de geografia, sendo
esta atuação fora de sua área de formação. Este fator contribui para o baixo
desenvolvimento do educando, pois os mesmos não conseguem dar o olhar que a
geografia necessita uma vez que não teve formação específica.
Outro aspecto que nos chama a atenção é o fato de que nos municípios do polo
de Pontes e Lacerda-MT, os índices educacionais são na sua grande maioria baixos.
Talvez isso se deva à inadequação do currículo, uma vez que boa parte das provas são
elaboradas sem considerar as especificidades da região.
São municípios em que os jovens estudantes tem em média entre 15 e 20 anos,
com dupla jornada de trabalho (alunos trabalhadores), fator que, em parte impede o
desenvolvimento das aprendizagens necessárias para obter bons resultados.
Retomando a questão do currículo, e procurando conhecer o nível de domínio
dos alunos e professores com relação a temáticas específicas da disciplina, realizamos
levantamentos de dados que me mostrasse a relação ente nível de conhecimento e temas
curriculares.
Foram aplicados questionários fechados para alunos do 3º ano do Ensino médio
no total de 53 alunos (*) de Pontes e Lacerda, Vila Bela da Santíssima Trindade e Jauru.
13 professores (**) de Geografia atuando no Ensino Médio e Fundamental 3º ciclo, de
Comodoro, Rondolândia, Jauru, Vale do são Domingos e Campos de Júlio, e
professores de outras áreas que lecionam geografia (***) dos municípios de Jauru, Vila
Bela da Santíssima da Trindade e Figueirópolis que atuam nos anos iniciais do ensino
fundamental, na sua grande maioria pedagogos.
A cada temática oferecemos as seguintes opções: domino corretamente, domino,
domino parcialmente, não domino e nunca estudei. Para o levantamento de dados foram
utilizados conteúdos básicos da geografia encontrados nos livros de ensino médio.
A linguagem cartográfica, escala, fusos horários, coordenadas geográficas,
sensoriamento remoto e localização geográfica
Pergunta
Domínio
corretamente
Alunos*
03
Professores**
0
Professores***
02
Domino
11
02
12
Domino
parcialmente
26
10
28
Não domino
06
01
08
Nunca
estudei
02
0
0
Conhece a geografia de onde mora?
Pergunta
Domínio
Domino
Domino
Não domino
corretamente
parcialmente
Alunos*
08
08
14
13
Professores**
02
0
06
03
Professores***
12
14
10
12
Nunca
estudei
05
02
02
Forma de ocupação do território Mato Grosso
Domínio
Domino
Domino
Não domino
corretamente
parcialmente
01
04
05
03
Nunca
estudei
0
Pergunta
Professores**
Pergunta
Alunos*
Professores**
Domínio
corretamente
0
0
Conhece Milton Santos?
Domino
Domino
parcialmente
0
04
01
07
Não domino
Nunca
estudei
34
04
10
01
Justificativa apresentada devido ao não domínio dos conteúdos
Pergunta
Alunos*
Professores***
Não foi trab.
Pelo
professor
18
24
Não tive
interesse
04
10
O professor
até que
tentou
10
08
Faltou
motivação
15
04
Achei que
não era
importante
01
04
Os dados levantados demonstram a complexidade do trabalho docente na região
do polo do CEFAPRO de Pontes e Lacerda, e justificam estudos específicos relativos às
dificuldades encontradas. Requerem também repensar a formação continuada na
disciplina de geografia.
A formação continuada dos professores de geografia no estado de Mato Grosso
se dá em consonância com Sala de Professores e encontros promovidos pelos
CEFAPROs.
A Sala de Professores de modo geral acompanhada por representante do
CEFAPRO discute os problemas pertinentes à escola como um todo e às especificidades
das disciplinas. Neste espaço os referidos problemas são levantados e discutidos em
reuniões paralelas ou em período determinado pelos próprios professores dentro das
horas atividades, podendo ainda se estender em local específico como é o caso do
CEFAPRO no polo ao qual o município pertence.
Conforme dito anteriormente a Sala de professores é considerada a “menina dos
olhos” para a Superintendência. Porém é sempre bom ressaltar que a mesma não tem
conseguido discutir todos os problemas pertinentes às disciplinas. Entretanto, é nela que
as dificuldades deverão ser levantadas.
Como os dados acima demonstraram, há uma carência enorme em se tratando
das especificidades dos conteúdos. Historicamente a Geografia e a História foram
deixadas de lado devido às dificuldades encontradas no desenvolvimento da leitura e da
escrita. Em boa parte dos municípios percebemos rumores de que geografia e história
foram deixadas de lado, para dar lugar a dedicação à escrita e leitura, para melhorar os
índices da Provinha Brasil.
Todos sabem das dificuldades e da importância da escrita e da leitura, entretanto,
faz-se necessário promover e consolidar a tão desejada interdisciplinaridade,
multidisciplinaridade e transdisciplinaridades de modo que uma área não seja prioridade
em detrimento de outra de fundamental importância para a formação do aluno como é o
caso da geografia.
É direito dos alunos assegurado pela LDB o cumprimento da carga destinada a
cada disciplina. Não podemos aceitar que os alunos cheguem ao último ano do 2º ciclo,
sem saber as noções básicas de geografia, história e etc. Para tanto, o trabalho do
coordenador é de fundamental importância nesse processo. A geografia e a história são
disciplinas descritivas e que necessitam de muita observação.
Também sabemos da importância dos números para o desenvolvimento das
políticas públicas. Mas, estes não podem significar o “roubo” a que estão submetendo
os alunos, por má interpretação do termo “ênfase”. Uma coisa é certa, querendo ou não
construímos a geografia todos os dias.
Vários fatores distanciam os professores da profissão. Fatores estes que foram
construídos ao longo do tempo e que se acumularam. Fazendo parte de uma sociedade
que se transforma continuamente, cada vez mais exigentes, o professor se vê em um
processo de insegurança, chegando a se sentir inútil.
Observa-se ainda outro fator importante a ser lembrado é a dificuldade dos
professores de geografia para encontrar novos cursos específicos na sua área, lembrando
que estamos falando dos professores do extremo oeste do estado de Mato Grosso,
sempre longe dos grandes centros, como: Cuiabá, Goiânia, Campinas, Porto Alegre e
etc.
Mas, não podemos deixar de fazer a tarefa de casa. Temos que garantir em
conjunto o desenvolvimento das aprendizagens. Só isso, a nosso ver, possibilitará a
concretização da verdadeira inclusão social e da gestão democrática. Só se democratiza
em se tratando de educação por duas formas: a primeira é o acesso a todos na
construção, cumprimento e consolidação da política da escola; outra é dando
oportunidades a todos os alunos às aprendizagens necessárias a cada ser para se
estabelecer enquanto cidadão pleno.
Enquanto professor de geografia, vejo que estamos longe de conseguirmos
consolidar nossos objetivos. Para isso temos que mudar nossas posturas como
professores. Temos que ter atitudes diferentes, ser criativos e aproveitar o espaço que
está a nossa volta para consolidar o desenvolvimento das aprendizagens que o aluno de
geografia necessita.
Cada professor tem sua maneira de trabalhar, mas é necessário observar ao nosso
redor e aproveitar o campo que é mostrado pela própria natureza. A região do Vale do
Guaporé apresenta espaços fantásticos, como: cachoeiras, elevações naturais, rios
abundantes (Rio Guaporé) com histórias fantásticas, áreas verdes, desmatadas, grandes
plantações de soja, erosões naturais e voçorocas (resultado do solo arenoso e
desmatamento) e este ambiente permeado por contradições precisa ser estudado e
refletido.
Não podemos nos esquecer da história da primeira capital de Mato Grosso, Vila
Bela da Santíssima Trindade, espaço cultural por excelência; Pontes e Lacerda com
grandes criações de gado, frigoríficos e maior festa de rodeio de Mato Grosso;
Comodoro com seus Índios e bela receptividade; Campos de Júlio com suas culturas
sulistas; Rondolândia com o pôr do sol mais bonito de Mato Grosso e etc. Essas são
apenas algumas das características da região, que demonstram o enorme potencial a ser
explorado pela Geografia e História.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Constatamos em vários momentos desse trabalho a importância da busca pela
melhoria da qualidade do ensino através do desenvolvimento das aprendizagens. Por
muito tempo as pessoas acreditaram que para concretizar esta tarefa bastavam apenas
prédios arejados, reformados, escolas modelos, equipamentos na sala de aula,
laboratórios de química, física, matemática e etc. Temos hoje muito desses
equipamentos e escolas equipadas com boa quantidade de recursos, mas verificamos
que isto não é o suficiente para a garantia das aprendizagens.
A escola precisa de alunos motivados, que acreditem na proposta pedagógica da
escola e que sintam vontade de aprender no espaço que estão inseridos. O mais
importante na escola, não desfazendo dos demais fatores, é termos professores
motivados que acreditem no seu trabalho. Para isso fazem-se necessários gestores
sensíveis às causas da educação, que não se sintam donos das escolas. Sabemos que esta
cultura de práticas autoritárias criada no período militar, onde os diretores eram
nomeados pelos gestores municipais, estaduais e federais.
Infelizmente, temos ainda diretores coronéis, coordenadores militares, isso
precisa acabar. Entretanto, não seriam apenas mudanças dos gestores escolares, é
fundamental a mudança política nos investimentos que se faz na educação.
A escola precisa se concretizar como espaço de efetiva aprendizagem. Se isso
acontecer, não precisaremos de cotas, IDEB, Provinha Brasil, etc.
Escola é espaço de construção e não apenas de reprodução. Precisamos tirar o
gesso que solidificou as escolas. Muitos dizem sobre gestão democrática, mas não a vi
ainda.
É preciso resgatar a auto-estima dos professores que nos últimos tempos tem
sido assolada. Sou a favor da reforma da escola, laboratório, horas-aulas de reforço para
os alunos, e etc. Mas é primordial e urgente investir nos professores, esses sim, são os
atores fundamentais dessa peça chamada ação educativa. Profissionais contentes
produzem mais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FAVRETTO, Ivone de Oliveira Guimarães. A formação continuada dos
professores em exercícios nas escolas públicas de Rondonópolis-MT: Uma
investigação sobre as instâncias formadoras.Cuiabá: UFMT, 2006.
HYPOLITTO, Dinéia. Disponível em:
br.geocities.com/dineia.../RepensandoAFormacaoContinuada.pdf. Acessado em: 22 de
Julho de 2009.
NÓVOA, Antonio. (coord). Os professores e sua formação. Lisboa-Portugal, Dom
Quixote, 1997.
PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Artmed, 2000.
SALLES, Fernando Casadei.Universidade Católica Dom Bosco, Brasilia. Disponível em:
http://www.rieoei.org/deloslectores/806Casadei.PDF. Acessado em: 22 de Julho de 2009.
SCHON, Donald. Os professores e sua formação. Coord. De Nóvoa; Lisboa, Portugal,
Dom Quixote, 1997.
Download

educação básica do Vale do Guaporé