A IMPORTÂNCIA DO CEFAPRO1 – PONTES E LACERDA PARA A FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFESSORES DE GEOGRAFIA DA EDUCAÇÃO BÁSICA DO VALE DO GUAPORÉ Heder De Oliveira Silva/CEFAPRO [email protected] FORMAÇÃO CONTINUADA É notório que a sociedade na qual vivemos está permeada por mudanças que nos acometem a cada instante. Muitos métodos e ideologias passam por questionamentos colocando em destaque a necessidade de encontros de formação continuada no próprio local de trabalho. Na atual conjuntura, o contexto onde se insere o trabalho docente tem ganhado novas atividades tornando-se cada vez mais complexo. NÓVOA, em entrevista ao programa Salto para o futuro da TV Brasil, ao ser indagado “Ser professor atualmente é mais complexo do que foi no passado?” Ele responde: É difícil dizer se ser professor, na atualidade, é mais complexo do que foi no passado, a profissão docente sempre foi de grande complexidade. Hoje, os professores têm que lidar não só com alguns saberes, como era no passado, mas também com a tecnologia e com a complexidade social, o que não existia no passado (17/06/2009). Nas salas de aulas fica bem nítida a diversidade social. Precisamos sempre, enquanto professores, estarmos atentos às diferenças existentes, diferenças estas que no passado não poderiam ser observadas com naturalidade, como: pobre e ricos, negros e brancos, índios e filhos de fazendeiros, pessoas com e sem acesso ao mundo virtual, trabalhadores e desempregados. Os professores têm que estar preparados, conscientes da sua ação para que possam analisar, respeitar e trabalhar na diversidade com qualidade os 1 Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica; conteúdos que desenvolvam as aprendizagens necessárias para solidificar as habilidades para que os mesmos não sejam excluídos. HYPOLITTO, em seu artigo “Repensado a Formação Continuada”, afirma: O profissional consciente sabe que sua formação não termina na universidade. Esta lhe aponta caminhos, fornece conceitos e idéias, a matériaprima de sua especialidade. O resto é por sua conta. Muitos professores, mesmo tendo sido assíduos, estudiosos e brilhantes, tiveram de aprender na prática, estudando, pesquisando, observando, errando muitas vezes, até chegarem ao profissional competente que hoje são. Isto nos mostra que professor é um eterno estudante. O profissional que escolhe a licenciatura de Geografia, como em qualquer outra área, sabe da dinamicidade dos conteúdos e a da criatividade que precisará utilizar para desenvolver aprendizagens necessárias, oportunizando a emancipação do aluno, contribuindo na formação enquanto cidadão pleno. Sabemos o quanto é difícil exigir dedicação dos professores nesses períodos de baixos salários, onde os mesmos se dedicam a cargas horárias duplas, triplas para sustentar suas famílias. Mesmo porque, seus salários, comparados aos demais profissionais de mesmo nível de estudo são, na maioria, inferiores. Porém, em enquete realizada no Blog (Hedergeo.blogspot.com) para averiguar fatores que dificultam o trabalho do professor, a questão salarial não aparece como o principal entrave, conforme mostra o quadro abaixo. FALTA DE INTERESSE DOS ALUNOS 18 (33%) PROFESSORES DESMOTIVADOS 13 (24%) PAIS DESPREOCUPADOS 12 (22%) INDISCIPLINA FALTA DE APOIO 6 4 (11%) (7%) Total de votos até o dia 20 de Julho de 2009: 53 votos Observa-se que a maioria dos internautas, sendo professores, acreditam que o aluno é o principal ator desse processo, pois colocam no desinteresse dos mesmos, os fatores de entrave ao processo de aprendizagem. Mas não podemos deixar de levar em consideração o grande número de internautas que coloca a responsabilidade em segunda instância, na desmotivação dos professores. Precisamos então, a partir destes dados, pensar em uma formação continuada que consiga minimizar alguns desses problemas. A formação continuada não conseguirá resolver todos os problemas da educação, pois os mesmos são complexos e precisam da ação de diversos atores tais como: governo com políticas públicas de estado, menor número de programas imediatistas sem retorno qualitativo, gestão democrática, professores motivados, concursos, participação da família, formação continuada e que repense a prática. A formação continuada em serviço possibilita repensar a prática docente, refletir acerca dos problemas a serem resolvidos na escola e ressignificar a ação pedagógica. Verifica-se hoje um grande número de professores que obteve formação inicial não suficiente para estar na sala de aula. Podemos observar ainda que a maioria dos professores está exercendo uma profissão que não estava em seus planos durante a adolescência e a juventude. Pontes e Lacerda - MT com 37.910 habitantes, de acordo com dados do IBGE na contagem de 2007, permite vislumbrar essa situação, pois tem uma Universidade Estadual (UNEMAT2) com número de cursos reduzidos e Faculdades particulares que nem sempre oferecem cursos que a sociedade almeja. Aqueles que adentram a Universidade Estadual em nosso município acabam indo para a licenciatura uma vez que este é o único curso gratuito e noturno que permite acesso a alunos trabalhadores. Percebe-se ainda grande número de universitários que decidiram seus cursos na incerteza e sem muita segurança dos avanços em seus estudos, isto explica grande número de evasão, concretização da carreira sem muito preparo e não podemos deixar de lado os que não conseguem entrar no mercado de trabalho devido ao grande número de turmas ao longo desses 17 anos da UNEMAT em Pontes e Lacerda. Não podemos ver a Formação continuada em serviço como uma santa que chega para curar todos os males da escola e da educação. Ela necessita de alguns pontos a serem pensados com muita responsabilidade. Não poderá ser vista como mais um programa de governo, como muitos a vêem. Não se pode fragmentar a teoria e a prática, como muitos fazem, refletindo a teoria pela teoria e a prática pela prática. 2 Universidade Estadual de Mato Grosso – Unidade em Pontes e Lacerda. SALLES, em seu artigo publicado na Revista Iberoamericana de Educação “A formação continuada em serviço”, coloca que: [...] aprende-se com a prática como se aprende com a teoria e da mesma maneira, isto é, se refletindo criticamente sobre a experiência quer seja ela de natureza teórica ou prática. Ninguém aprende com a teoria senão refletindo criticamente sobre ela, assim como ninguém aprende com a prática senão refletindo criticamente sobre ela. Isso significa dizer que a teoria é tão importante quanto a prática e vice-versa. Não podemos reproduzir modelos de formação continuada a torto e a direito. Sobre esta questão SALLLES vai além, quando esclarece e nos mostra quatro questões sobre as quais precisamos refletir em relação à formação continuada: a primeira é a de que a educação continuada em serviço constitui uma atividade fundamental da formação do professor; mas não constitui a única e nem, necessariamente, a mais estratégica; a segunda é a de que é falsa a oposição que muitos estabelecem entre os modelos de formação continuada, baseadas na racionalidade técnica ou nos saberes disciplinares e os que propõem desenvolvê-la em serviço, baseados na racionalidade prática ou no cotidiano da prática docente na escola; a terceira é a de que a formação continuada em serviço se constitui em um momento insubstituível da formação dos professores; a quarta é a de que nenhuma formação continuada em serviço pode ser proposta desvinculada de uma forma mais geral de se conceber a prática educativa. No item ressignificação da prática do professor de geografia, aprofundaremos nessa discussão sobre formação continuada. IMPLANTAÇÃO DO CEFAPRO NO ESTADO DE MATO GROSSO Os 15 polos do CEFAPROs têm como instituição mantenedora a SEDUC - MT Secretaria de Estado da Educação. O Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica – CEFAPRO – foi criado em 1998 para desenvolver a Política de Formação dos Profissionais da Educação Básica de Mato Grosso. Sempre é bom ressaltar que a história acerca da origem e constituição do CEFAPRO está permeada de relatos e descrições que podem não ser tão reais. Portanto, devido à carência de registros e o pouco tempo em que estou na instituição, apresentarei algumas informações que poderão não ser verdadeiras sob o olhar de alguns leitores. Também não podemos negar o grande número de pessoas e autores de artigos, monografias e livros acerca da instituição que se deixam levar pelo bairrismo e regionalismo. FAVRETTO (2006) em sua tese de mestrado pela UFMT, com tema: “A formação continuada dos professores em exercício nas escolas públicas de Rondonópolis-MT. uma investigação sobre as instâncias formadoras”, afirma: Os centros de formação e atualização dos professores – CEFAPROs foram criados a partir do Centro de Formação Permanente de Professores – CEFOR3 que teve sua origem na Escola Sagrado Coração de Jesus de Rondonópolis-MT, para institucionalizar o projeto de Formação permanente dos Professores que já existia e não era reconhecido pelo Estado (pág. 54) De acordo com FAVRETTO (2006), o grupo foi crescendo, envolvendo outras escolas do município, e a SEDUC4-MT começou a se interessar pelo trabalho ali desenvolvido. Segundo RODRIGUES apud FAVRETTO, 2006 P.55 A SEDUC tomou o projeto do CENFOR como referência para a criação do CEFAPRO [...] era a confirmação do seu êxito e viabilidade, além de que seriam criadas as condições para estendê-los aos demais professores da rede estadual de ensino (RODRIGUES, 2004, p. 86). A partir daquele momento o projeto do CEFOR, deixa Rondonópolis e ganha o Estado, conforme relata FAVRETTO (2006). O projeto ganhou dimensão no Estado com o Decreto de criação do CEFAPRO Nº 2007/97 de 29 de dezembro de 1997, nos municípios de Rondonópolis, Diamantino e Cuiabá. A partir daí foram implantadas unidades nas demais regiões de Mato Grosso, como poderá ser visto no quadro abaixo apresentado no Encontro de Formação dos CEFAPROS, realizado de oito a dezoito de Fevereiro de 2009 no Hotel Fazenda Mato Grosso, em Cuiabá. Ano Pólo 3 Centro de formação permanente de professores. 4 Secretaria se Estado da Educação – Mato Grosso. Decreto 1997 Cuiabá, Diamantino e Rondonópolis 1998 Sinop, São Félix do Araguaia, Matupá, Juara e 2319 de 08/06 Cáceres 1999 Juína, Alta Floresta, Barra do Garças e 0053 de 22/03 Confresa 2005 Tangará da Serra 6824 de 30/11 2008 Primavera e Pontes Lacerda Lei 9.072 de 24/12 2007 de 29/12 Segundo a Superintendência de Formação (SEDUC-MT), em slide apresentado no encontro anteriormente mencionado: Depois de oito anos de sua criação, em 2006 os CEFAPROs foram transformados em Unidades Administrativas pela LEI 8.405 de 27 de dezembro de 2005. Esta Lei definiu que o CEFAPRO tem por finalidade a formação continuada, a inclusão digital e o uso de novas tecnologias na prática pedagógica dos professores da educação básica da rede pública estadual de ensino. No mapa abaixo podemos verificar a divisão e localização geográfica dos CEFAPROs no Estado de Mato Grosso. Fonte: Professora Ms. Graciete Maria Teixeira (SUFP5) Nesse caminho percorrido, 11 anos se passaram e muitos obstáculos foram vencidos, a instituição obteve avanços, sempre com o objetivo da garantia do desenvolvimento das aprendizagens para professores e alunos da rede pública de ensino. De acordo com a Superintendência de formação, as funções dos CEFAPRO, são: - Disseminar as políticas oficiais de educação do Estado de Mato Grosso e do Ministério da Educação. - Diagnosticar necessidades, apoiar e propor ações formativas junto às escolas da rede pública de ensino. - Mediar as necessidades formativas dos professores e das políticas oficiais, fortalecendo e dinamizando a rede de formação. - Elaborar, acompanhar e avaliar o projeto de formação continuada dos professores da educação básica da rede pública de ensino, contribuindo para o desenvolvimento profissional dos mesmos. Pelo exposto vemos que os CEFAPROS são vistos, pela própria Superintendência como espaço dinâmico de estudo, reflexão, diálogo, debate com e entre os professores e as escolas. CRIAÇÃO DO CEFAPRO EM PONTES E LACERDA A região assistida até 2008 por Cáceres eram composta por mais de 20 municípios tornando assim difícil desenvolver uma formação contínua E eficaz. Não estou dizendo que os profissionais que trabalhavam no CEFAPRO de Cáceres até 2008 eram ineficazes, o número de municípios e a geografia da região é que não permitia adequada concretização da formação. Esta situação obrigava a construção de cursos pontuais, que em muitas vezes não respondia a expectativa e a realidade dos professores que estavam em sala de aula. De acordo com uma professora das Escolas do pólo de Pontes e Lacerda no trabalho anteriormente desenvolvido: Havia falta de conhecimento da realidade do município atendido, as comparações com outros Profissionais de forma negativa, trazer o curso pronto e acabado, não poder interferir no plano, falta de domínio do assunto e não admitir que podemos trocar experiências e 5 Superintendência de Formação, órgão integrado a SEDUC-MT. conhecimentos fazendo de nós só ouvintes de suas propostas. A maioria dos professores participava somente na hora de assinar a lista para receber certificado, porque você dormia e não sentia motivação para ouvir. A implantação do CEFAPRO na Região do Vale do Guaporé contribuiu para diminuir as distâncias, possibilitar o conhecimento das dificuldades de cada um dos municípios, seus anseios e facilitar as trocas de experiências. O CEFAPRO de Pontes e Lacerda está inscrito no Cadastro de Pessoa Jurídica sob Nº. 10.881.545/0001-08, sendo este juntamente com o de Primavera do Leste os dois mais recentes. A Lei nº 9.072, de 24 de dezembro de 2008, cria o Centro de Formação e Atualização dos Profissionais da Educação Básica do Estado de Mato Grosso – CEFAPRO – MT do município de Pontes e Lacerda, que tem como finalidade desenvolver projetos de formação continuada dos professores da rede pública estadual de ensino e desenvolve parcerias com os municípios na execução de atividades pertinentes a educação. O CEFAPRO em Pontes e Lacerda constitui-se como um polo educacional tendo como área de abrangência 10 municípios da região: Campos de Júlio, Comodoro, Conquista D’Oeste, Figueirópolis D’Oeste, Jauru, Nova Lacerda, Pontes e Lacerda, Rondolândia, Vale do São Domingos e Vila Bela da Santíssima Trindade. Fonte: Heder de Oliveira Silva Os municípios que fazem parte do polo de Pontes e Lacerda apresentam aspectos geopolíticos, culturais e históricos peculiares, fatores que nos leva a considerar a origem migratória em que esses espaços se constituíram. A primeira equipe formadora do CEFAPRO Pontes e Lacerda foi composta de: diretor: Prof. Sebastião da Silva Mota; Coordenadora de Formação Continuada: Prof.ª Aparecida de Souza Ferreira; Secretária: Ana Maria Machado de Oliveira Cunha; Técnicos: Patrícia Moreira Coelho Ruppin; Professores Formadores: Prof. Elias Martins, Prof.ª Giseli Martins de Souza, Prof. Heder de Oliveira Silva, Prof. Marcosoney Feliciano de Souza (GESTAR II), Prof.ª Maria Rosalina Alves Arantes (GESTAR II), Prof.ª Maribel Chagas de Ávila, Prof.ª Mariza Lima de Souza, Prof. Maureci Moreira de Almeida e Prof. Osvaldo de Oliveira Vieira (GESTAR II); Profuncionário: Prof.ª. Lusia Gonçalves da Silva; Apoio para Manutenção InfraEstrutura Escolar/Limpeza: Juvelina Galdina Gonçalves Roma; Fabiana Gomes de Lima; Vigilância: Elton Aparecido Pego de Oliveira, Jovelino Barbosa de Souza e Reinaldo Marques Dias. Não podemos deixar de ressaltar a participação e contribuição de todos os diretores, coordenadores, professores, apoio administrativo, guardas e merendeiras de todas as escolas dos 10 municípios do polo. O objetivo central do polo do CEFAPRO de Pontes e Lacerda, segundo seu PPDC6 é Programar a política de formação continuada dos profissionais de Educação Básica das Escolas Estaduais do polo de Pontes e Lacerda. Já os objetivos específicos são: Orientar, aprovar, intervir e avaliar os projetos elaborados pelas unidades escolares da sede e dos municípios que compõem o polo; Implantar e implementar o projeto Sala de Professor nas escolas pertencentes ao polo; Fortalecer a escola como lócus de formação continuada, tendo como premissa o desenvolvimento das habilidades docentes que se encontram nos quatro pilares da educação: “aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender a ser”; Atender os profissionais da educação, no que diz respeito às questões tecnológicas com projetos de inclusão digital e instrumentalização nas diversas áreas do conhecimento; Implantar projetos de formação continuada para profissionais não docentes; 6 Projeto Político de Desenvolvimento do CEFAPRO (2009). Potencializar as ações de Educação Ambiental nos municípios do polo de Pontes e Lacerda; Assegurar a formação continuada dos profissionais do CEFAPRO através da implantação do Projeto Sala de Formador; Garantir a formação continuada dos diretores, coordenadores pedagógicos e professores articuladores dos municípios do polo. Realizar seminário de socialização de práticas pedagógicas das escolas do polo; Implantar e implementar, nos municípios que fazem parte do polo de Pontes e Lacerda, o projeto Formação Continuada: um novo olhar sobre a prática docente. Para o ano de 2009, as metas principais são: desenvolver diagnósticos interativos, fechados, abertos e visitas para observar as reais necessidades das escolas. O CEFAPRO Pontes e Lacerda têm como objetivo central o fortalecimento da Sala de Professor, sendo esta a “menina dos olhos” da Superintendência de Formação – SEDUC-MT. Os professores formadores além de acompanhar a Sala de Professor fazem encontros por áreas e disciplinas para auxiliar os professores buscando a atualização, desenvolvimento e envolvimento dos mesmos com suas práticas. RESSIGNIFICAÇÃO DA PRÁTICA DO PROFESSOR DE GEOGRAFIA É importante dizer que o professor é o ator principal quando se trata de sua formação continuada. Portanto, para que a Formação continuada em serviço aconteça, é imprescindível sua contribuição. O professor de geografia é peça fundamental na formação ético, social, econômico, crítico, histórico do ser. Não se trata de negar a importância da História, mas de entendê-la como complementar evitando assim a fragmentação dos campos do saber, pois acontecendo, surgem os fracassos escolares por parte dos alunos e os professores se sentem impotentes diante de tal situação. Nos encontros de formação continuada, identificamos junto aos professores de Geografia algumas dificuldades que impossibilitam a práxis pedagógica. Dentre elas destacamos: professores fora da área de formação, grande quantidade de contratos temporários, dificuldades com os conteúdos, indisciplina dos alunos, falta de interesse dos alunos, problemas de relacionamento interpessoal, falta de material didático, equívocos na avaliação, matriz curricular descontextualizada, falta de questionamentos, dificuldades com a leitura e interpretação. Percebemos ainda, distorções quanto à contextualização dos conteúdos didáticos e a quase inexistente interação entre os próprios professores da disciplina de geografia. Ser professor na atualidade NÃO é tarefa fácil para quem gosta, imaginem para aqueles que têm na atividade docente algo passageiro. Todos nós sabemos que a educação não poderá jamais ser vista como bico. São estas ações que nos colocam em situações vexatórias e até pecaminosas. Para Nóvoa (1997, pág. 26) “A troca de experiências e a partilha de saberes consolidam espaços de formação mútua, nos quais cada professor é chamado a desempenhar, simultaneamente, o papel de formador e de formando”. Entretanto, contrariando o que nos diz Nóvoa é corriqueiro dentro da escola, encontrar professores que atuam na mesma disciplina e que não se comunicam. Do mesmo modo, vemos as enormes dificuldades de muitos professores em dar voz aos alunos. Este quadro de distanciamento nos mostra que precisamos desenvolver nossa prática reflexiva. Segundo Schön (1997, p. 87) [...] Nessa perspectiva o desenvolvimento de uma prática reflexiva eficaz tem que integrar o contexto institucional. O professor tem de se tornar um navegador atendo à burocracia. E os responsáveis escolares que queiram encorajar os professores a tornarem-se profissionais reflexivos devem criar espaços de liberdade tranqüila onde a reflexão seja possível. Estes são os dois lados da questão – aprender a ouvir os alunos e aprender a fazer da escola um lugar no qual seja possível ouvir os alunos – devem ser olhados como inseparáveis (pág. 87). Neste contexto liberdade e diálogo constituem o espaço escolar onde a reflexão é a mola mestra. PERRENUOD (2000) em seu livro “As dez novas competências para ensinar”, nos aponta as 10 famílias de competências que norteiam a reflexão: 1 – Organizar e dirigir situações problemas; 2 – Administrar a progressão das aprendizagens; 3 – Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciações; 4 – Envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho; 5 – Trabalhar em equipe; 6 – Participar da administração da escola; 7 – Informar e envolver os pais; 8 – Utilizar novas tecnologias; 9 – Enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão; 10 – Administrar sua própria formação contínua. Nos municípios do polo do CEFAPRO de Pontes e Lacerda observamos uma grande quantidade de professores que estão atuando na disciplina de geografia, sendo esta atuação fora de sua área de formação. Este fator contribui para o baixo desenvolvimento do educando, pois os mesmos não conseguem dar o olhar que a geografia necessita uma vez que não teve formação específica. Outro aspecto que nos chama a atenção é o fato de que nos municípios do polo de Pontes e Lacerda-MT, os índices educacionais são na sua grande maioria baixos. Talvez isso se deva à inadequação do currículo, uma vez que boa parte das provas são elaboradas sem considerar as especificidades da região. São municípios em que os jovens estudantes tem em média entre 15 e 20 anos, com dupla jornada de trabalho (alunos trabalhadores), fator que, em parte impede o desenvolvimento das aprendizagens necessárias para obter bons resultados. Retomando a questão do currículo, e procurando conhecer o nível de domínio dos alunos e professores com relação a temáticas específicas da disciplina, realizamos levantamentos de dados que me mostrasse a relação ente nível de conhecimento e temas curriculares. Foram aplicados questionários fechados para alunos do 3º ano do Ensino médio no total de 53 alunos (*) de Pontes e Lacerda, Vila Bela da Santíssima Trindade e Jauru. 13 professores (**) de Geografia atuando no Ensino Médio e Fundamental 3º ciclo, de Comodoro, Rondolândia, Jauru, Vale do são Domingos e Campos de Júlio, e professores de outras áreas que lecionam geografia (***) dos municípios de Jauru, Vila Bela da Santíssima da Trindade e Figueirópolis que atuam nos anos iniciais do ensino fundamental, na sua grande maioria pedagogos. A cada temática oferecemos as seguintes opções: domino corretamente, domino, domino parcialmente, não domino e nunca estudei. Para o levantamento de dados foram utilizados conteúdos básicos da geografia encontrados nos livros de ensino médio. A linguagem cartográfica, escala, fusos horários, coordenadas geográficas, sensoriamento remoto e localização geográfica Pergunta Domínio corretamente Alunos* 03 Professores** 0 Professores*** 02 Domino 11 02 12 Domino parcialmente 26 10 28 Não domino 06 01 08 Nunca estudei 02 0 0 Conhece a geografia de onde mora? Pergunta Domínio Domino Domino Não domino corretamente parcialmente Alunos* 08 08 14 13 Professores** 02 0 06 03 Professores*** 12 14 10 12 Nunca estudei 05 02 02 Forma de ocupação do território Mato Grosso Domínio Domino Domino Não domino corretamente parcialmente 01 04 05 03 Nunca estudei 0 Pergunta Professores** Pergunta Alunos* Professores** Domínio corretamente 0 0 Conhece Milton Santos? Domino Domino parcialmente 0 04 01 07 Não domino Nunca estudei 34 04 10 01 Justificativa apresentada devido ao não domínio dos conteúdos Pergunta Alunos* Professores*** Não foi trab. Pelo professor 18 24 Não tive interesse 04 10 O professor até que tentou 10 08 Faltou motivação 15 04 Achei que não era importante 01 04 Os dados levantados demonstram a complexidade do trabalho docente na região do polo do CEFAPRO de Pontes e Lacerda, e justificam estudos específicos relativos às dificuldades encontradas. Requerem também repensar a formação continuada na disciplina de geografia. A formação continuada dos professores de geografia no estado de Mato Grosso se dá em consonância com Sala de Professores e encontros promovidos pelos CEFAPROs. A Sala de Professores de modo geral acompanhada por representante do CEFAPRO discute os problemas pertinentes à escola como um todo e às especificidades das disciplinas. Neste espaço os referidos problemas são levantados e discutidos em reuniões paralelas ou em período determinado pelos próprios professores dentro das horas atividades, podendo ainda se estender em local específico como é o caso do CEFAPRO no polo ao qual o município pertence. Conforme dito anteriormente a Sala de professores é considerada a “menina dos olhos” para a Superintendência. Porém é sempre bom ressaltar que a mesma não tem conseguido discutir todos os problemas pertinentes às disciplinas. Entretanto, é nela que as dificuldades deverão ser levantadas. Como os dados acima demonstraram, há uma carência enorme em se tratando das especificidades dos conteúdos. Historicamente a Geografia e a História foram deixadas de lado devido às dificuldades encontradas no desenvolvimento da leitura e da escrita. Em boa parte dos municípios percebemos rumores de que geografia e história foram deixadas de lado, para dar lugar a dedicação à escrita e leitura, para melhorar os índices da Provinha Brasil. Todos sabem das dificuldades e da importância da escrita e da leitura, entretanto, faz-se necessário promover e consolidar a tão desejada interdisciplinaridade, multidisciplinaridade e transdisciplinaridades de modo que uma área não seja prioridade em detrimento de outra de fundamental importância para a formação do aluno como é o caso da geografia. É direito dos alunos assegurado pela LDB o cumprimento da carga destinada a cada disciplina. Não podemos aceitar que os alunos cheguem ao último ano do 2º ciclo, sem saber as noções básicas de geografia, história e etc. Para tanto, o trabalho do coordenador é de fundamental importância nesse processo. A geografia e a história são disciplinas descritivas e que necessitam de muita observação. Também sabemos da importância dos números para o desenvolvimento das políticas públicas. Mas, estes não podem significar o “roubo” a que estão submetendo os alunos, por má interpretação do termo “ênfase”. Uma coisa é certa, querendo ou não construímos a geografia todos os dias. Vários fatores distanciam os professores da profissão. Fatores estes que foram construídos ao longo do tempo e que se acumularam. Fazendo parte de uma sociedade que se transforma continuamente, cada vez mais exigentes, o professor se vê em um processo de insegurança, chegando a se sentir inútil. Observa-se ainda outro fator importante a ser lembrado é a dificuldade dos professores de geografia para encontrar novos cursos específicos na sua área, lembrando que estamos falando dos professores do extremo oeste do estado de Mato Grosso, sempre longe dos grandes centros, como: Cuiabá, Goiânia, Campinas, Porto Alegre e etc. Mas, não podemos deixar de fazer a tarefa de casa. Temos que garantir em conjunto o desenvolvimento das aprendizagens. Só isso, a nosso ver, possibilitará a concretização da verdadeira inclusão social e da gestão democrática. Só se democratiza em se tratando de educação por duas formas: a primeira é o acesso a todos na construção, cumprimento e consolidação da política da escola; outra é dando oportunidades a todos os alunos às aprendizagens necessárias a cada ser para se estabelecer enquanto cidadão pleno. Enquanto professor de geografia, vejo que estamos longe de conseguirmos consolidar nossos objetivos. Para isso temos que mudar nossas posturas como professores. Temos que ter atitudes diferentes, ser criativos e aproveitar o espaço que está a nossa volta para consolidar o desenvolvimento das aprendizagens que o aluno de geografia necessita. Cada professor tem sua maneira de trabalhar, mas é necessário observar ao nosso redor e aproveitar o campo que é mostrado pela própria natureza. A região do Vale do Guaporé apresenta espaços fantásticos, como: cachoeiras, elevações naturais, rios abundantes (Rio Guaporé) com histórias fantásticas, áreas verdes, desmatadas, grandes plantações de soja, erosões naturais e voçorocas (resultado do solo arenoso e desmatamento) e este ambiente permeado por contradições precisa ser estudado e refletido. Não podemos nos esquecer da história da primeira capital de Mato Grosso, Vila Bela da Santíssima Trindade, espaço cultural por excelência; Pontes e Lacerda com grandes criações de gado, frigoríficos e maior festa de rodeio de Mato Grosso; Comodoro com seus Índios e bela receptividade; Campos de Júlio com suas culturas sulistas; Rondolândia com o pôr do sol mais bonito de Mato Grosso e etc. Essas são apenas algumas das características da região, que demonstram o enorme potencial a ser explorado pela Geografia e História. CONSIDERAÇÕES FINAIS Constatamos em vários momentos desse trabalho a importância da busca pela melhoria da qualidade do ensino através do desenvolvimento das aprendizagens. Por muito tempo as pessoas acreditaram que para concretizar esta tarefa bastavam apenas prédios arejados, reformados, escolas modelos, equipamentos na sala de aula, laboratórios de química, física, matemática e etc. Temos hoje muito desses equipamentos e escolas equipadas com boa quantidade de recursos, mas verificamos que isto não é o suficiente para a garantia das aprendizagens. A escola precisa de alunos motivados, que acreditem na proposta pedagógica da escola e que sintam vontade de aprender no espaço que estão inseridos. O mais importante na escola, não desfazendo dos demais fatores, é termos professores motivados que acreditem no seu trabalho. Para isso fazem-se necessários gestores sensíveis às causas da educação, que não se sintam donos das escolas. Sabemos que esta cultura de práticas autoritárias criada no período militar, onde os diretores eram nomeados pelos gestores municipais, estaduais e federais. Infelizmente, temos ainda diretores coronéis, coordenadores militares, isso precisa acabar. Entretanto, não seriam apenas mudanças dos gestores escolares, é fundamental a mudança política nos investimentos que se faz na educação. A escola precisa se concretizar como espaço de efetiva aprendizagem. Se isso acontecer, não precisaremos de cotas, IDEB, Provinha Brasil, etc. Escola é espaço de construção e não apenas de reprodução. Precisamos tirar o gesso que solidificou as escolas. Muitos dizem sobre gestão democrática, mas não a vi ainda. É preciso resgatar a auto-estima dos professores que nos últimos tempos tem sido assolada. Sou a favor da reforma da escola, laboratório, horas-aulas de reforço para os alunos, e etc. Mas é primordial e urgente investir nos professores, esses sim, são os atores fundamentais dessa peça chamada ação educativa. Profissionais contentes produzem mais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FAVRETTO, Ivone de Oliveira Guimarães. A formação continuada dos professores em exercícios nas escolas públicas de Rondonópolis-MT: Uma investigação sobre as instâncias formadoras.Cuiabá: UFMT, 2006. HYPOLITTO, Dinéia. Disponível em: br.geocities.com/dineia.../RepensandoAFormacaoContinuada.pdf. Acessado em: 22 de Julho de 2009. NÓVOA, Antonio. (coord). Os professores e sua formação. Lisboa-Portugal, Dom Quixote, 1997. PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Artmed, 2000. SALLES, Fernando Casadei.Universidade Católica Dom Bosco, Brasilia. Disponível em: http://www.rieoei.org/deloslectores/806Casadei.PDF. Acessado em: 22 de Julho de 2009. SCHON, Donald. Os professores e sua formação. Coord. De Nóvoa; Lisboa, Portugal, Dom Quixote, 1997.