COMPROVAÇÃO DA QUALIDADE FÍSICO-QUÍMICA E MICROBIOLÓGICA DE PARACETAMOL ORAL COMERCIALIZADO NO ÚLTIMO ANO DE VALIDADE Autor(a): Maria do Socorro da Silva Co-autor(es): Francisca Eritânia Passos Rangel, Suane Lima Paz, Marcov de Morais Borges. Orientador(a): Leonardo Pinheiro Landim Introdução O controle de qualidade é imprescindível para assegurar a confiabilidade dos medicamentos disponibilizados à população brasileira. Na indústria farmacêutica, o controle de qualidade realizado é de fundamental importância para garantir a qualidade do produto final, e, consequentemente, do medicamento comercializado ao paciente (OLIVEIRA, 2009). Para garantir que os medicamentos disponíveis no mercado farmacêutico sejam seguros e eficazes, é necessário que estes sigam todas as normas técnicas para a produção e o controle de qualidade (OLIVEIRA et al., 2006). Além dos ensaios para aprovação, todos os medicamentos devem passar também por estudos de estabilidade, conforme determinado pela Resolução RE nº 01 de 29 de julho de 2005 (BRASIL, 2005). A estabilidade de produtos farmacêuticos pode ser afetada por inúmeros fatores ambientais, como temperatura, luz e umidade, além de outros fatores relacionados ao próprio produto como as propriedades físicas e químicas do fármaco e dos excipientes, do material de acondicionamento e do material de embalagem, por exemplo. Essas possíveis alterações podem ser detectadas através de alterações na cor, nas propriedades organolépticas, no teor e na formação de precipitado, dentre outros aspectos (BRASIL, 2012). Dependendo dos aspectos que estão sendo considerados, a estabilidade dos produtos farmacêuticos pode ser classificada em química, física, microbiológica, terapêutica e toxicológica. Qualquer alteração nas características originais dos medicamentos que extrapolem os limites aceitáveis e pré-estabelecidos coloca em risco a segurança e a eficácia dos produtos (BRASIL, 2012). Com base nos resultados dos estudos de estabilidade é determinado o prazo de validade dos medicamentos, ou seja, o período de tempo no qual a preparação permanece estável quando armazenada sob as condições recomendadas (GENNARO, 2004). De acordo com Segundo (2008), o medicamento representa perspectiva de resolutividade de grande parte dos graves problemas da saúde, assim a preservação da sua qualidade deverá ser garantida desde a fabricação até a dispensação ao paciente. Desta forma as condições de estocagem, distribuição e transporte devem ser adequadas, para assim manter a qualidade dos medicamentos dentro de padrões ideais. A manutenção de sua estabilidade durante sua distribuição e armazenamento é fundamental, pois além de garantir sua efetividade, reduz perdas e minimiza gastos. Este trabalho tem como objetivo verificar a manutenção da qualidade físico-química e microbiológica do medicamento paracetamol solução oral, com prazo de validade de até 12 meses antes do seu vencimento, comercializado em uma farmácia de Juazeiro do Norte – CE. Metodologia Foram selecionadas duas amostras de paracetamol solução oral, de diferentes fabricantes, que estavam no último ano de validade. As amostras foram submetidas aos métodos analíticos descritos na Farmacopéia Brasileira (FB) 5ª edição. a) Controle de Qualidade Físico-químico: Preparo das soluções: Padrão: Pesar 50mg de paracetamol padrão, transferir para balão volumétrico de 50 mL, completar o volume com metanol e homogeneizar. Transferir 1 mL da solução resultante para balão volumétrico de 100 mL, adicionar 1 mL de ácido clorídrico 0,1 M, completar o volume com metanol e homogeneizar. Branco: Transferir 1 mL de ácido clorídrico 0,1M para balão volumétrico de 100 mL e completar o volume com metanol e homogeneizar. Amostra: Transferir volumetricamente 5mL da solução amostra para o balão volumétrico de 100 mL, diluir com metanol e completar o volume com o mesmo solvente. Transferir 1 mL da solução resultante para o balão volumétrico de 100mL, adicionar 1 mL de ácido clorídrico 0,1M, completar o volume com o metanol e homogeneizar. Teste de Identificação: Proceder à leitura da solução padrão e amostra em espectrofotômetro de absorção ultravioleta na faixa de 200nm a 400nm. Determinação de Volume: Separar 10 frascos de cada fabricante. Pesar individualmente cada recipiente com as respectivas tampas. Homogeneizar, remover e reunir os conteúdos e reservar para a determinação da densidade de massa. Lavar os recipientes e as tampas com água e, em seguida, com etanol. Secar em estufa a 105 ºC, por uma hora, até peso constante. Esfriar à temperatura ambiente, recolocar a tampa e pesar novamente. A diferença entre as duas pesagens representa o peso do conteúdo. Determinar os volumes individuais correspondentes utilizando a expressão V(mL) = m(g)/d(g/mL) e calcular o volume médio das unidades testadas. Determinação do pH: Tomar alíquota de 25 mL da amostra, levar ao pHmetro e proceder a leitura que deve estar entre 3,8 e 6,5. Doseamento: Fazer as medições das absorbâncias das soluções resultantes (amostra e padrão) em 249nm, utilizando o branco ajuste do zero. Calcular a quantidade de Paracetamol na solução oral, a partir das leituras obtidas. b) Controle de Qualidade Microbiológico: As duas amostras foram submetidas às análises que seguiram as recomendações da FB 5ª edição. Realizou-se a contagem total de microrganismos aeróbios viáveis (contagem de bactérias e de fungos e/ou leveduras). Para a pesquisa de microrganismos específicos, realizou-se a pesquisa dos seguintes patógenos: Escherichia coli, Salmonella sp., Pseudomonas aeruginosa e Staphylococus aureus. Resultados e Discussão a) Controle de Qualidade Físico-químico: As duas amostras analisadas apresentaram os seguintes resultados: Teste de Identificação: Na execução do ensaio de varredura, as amostras dos dois fabricantes e o padrão apresentaram máximo de absorção em 249nm, confirmando assim a presença de paracetamol e atendendo ao disposto na farmacopéia. Além disso, os espectros das amostras foram comparados frente ao espectro do padrão, sendo perceptível a semelhança entre eles. Determinação de Volume: As amostras dos fabricantes A e B apresentaram como resultados do volume médio 15,08mL e 15,12mL, respectivamente. A especificação da FB 5ª edição preconiza que o volume médio não deve ser inferior ao volume declarado (15,0mL) e o volume individual de nenhuma das unidades deve ser inferior a 95% do volume declarado (14,24mL). Portanto, as duas amostras estão de acordo com a exigência da FB. Determinação do pH: As amostras dos fabricantes A e B apresentaram como resultados 6,06 e 5,82, respectivamente. A especificação da FB 5ª edição preconiza um valor entre 3,8 e 6,5. Portanto, as duas amostras estão de acordo com a especificação da FB. Doseamento: amostras dos fabricantes A e B apresentaram como resultados 102,15% e 104,22% de paracetamol, respectivamente. A FB 5ª edição exige que a amostra contenha, no mínimo, 90% e, no máximo, 110% da quantidade declarada de paracetamol. Portanto, as duas amostras cumprem com a especificação exigida. b) Controle de Qualidade Microbiológico: Na pesquisa de microrganismos aeróbios viáveis (contagem de bactérias e de fungos e/ou leveduras), as duas amostras analisadas apresentaram resultados similares: < 10 UFC/mL. A FB 5ª edição preconiza para estas análises valores < 200UFC/mL para contagem de bactérias e < 20UFC/mL para contagem de fungos e/ou leveduras. Portanto, as amostras analisadas encontram-se dentro dos padrões considerados satisfatórios. Na pesquisa de patógenos, as duas amostras apresentaram resultados negativos com relação à presença dos microrganismos Escherichia coli, Salmonella sp., Pseudomonas aeruginosa e Staphylococus aureus. A FB 5ª edição determina que estes patógenos deverão estar ausentes em 1mL da amostra. Portanto, as amostras analisadas cumprem as especificações exigidas na legislação vigente. Conclusão As amostras apresentaram resultados satisfatórios quanto aos quesitos analisados, confirmando a qualidade e segurança em sua utilização. Apesar da aprovação dos medicamentos, não é possível afirmar que os mesmos permaneceram estáveis, uma vez que não dispomos dos resultados analíticos do fabricante, ou seja, quando de sua liberação para comercialização. O principal obstáculo no desenvolvimento do presente trabalho foi encontrar, nas farmácias, solução oral de paracetamol com prazo de validade de até 12 meses antes do seu vencimento, por ser um medicamento de alta rotatividade. Para trabalhos futuros, além de aumentar o número de amostras, seria ideal verificar a temperatura de armazenamento dos medicamentos nas farmácias e correlacioná-la com a estabilidade dos medicamentos. Vale ressaltar que temperaturas superiores ao recomendado pelo fabricante, podem interferir na qualidade dos produtos farmacêuticos e representar um risco sanitário. Referências BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução n. 01, de 29 de julho de 2005. Guia para a Realização de Estudos de Estabilidade. 2005. Disponível em:< >. Acesso em: 30 set. 2013. BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Formulário Nacional da Farmacopéia Brasileira. 2ª edição, 2012. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/hotsite/farmacopeiabrasileira/arquivos/2012/FNFB%202_Revisao_ 2_COFAR_setembro_2012_atual.pdf. Acesso em: 28 set. 2013. GENNARO, A. R. R. A Ciência e a Prática da Farmácia. 20ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2004. OLIVEIRA, E.; A. de; LABRA, M. E.; BERMUDEZ, J. A produção pública de medicamentos no Brasil: uma visão geral. Cadernos de Saúde Pública, v. 22, n.11, p. 2.3792.389, Rio de Janeiro, novembro, 2006. OLIVEIRA, C. L. C. G. Desenvolvimento de métodos analíticos e estudo de estabilidade de linezolida em comprimidos. Tese de Doutorado em Ciências Farmacêuticas. Universidade Estadual Paulista, 2009. SEGUNDO, O. G. Condições de armazenamento dos medicamentos da central de abastecimento farmacêutico e das unidades básicas de saúde do município de Jaguaretama. Especialização em Assistência Farmacêutica. Escola de Saúde Pública do Ceará. Fortaleza, 2008.