UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE Curso de Especialização MBA em Gestão Integrada da Qualidade DIFICULDADES NA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE QUALIDADE EM EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL Odete Carolina de Oliveira Dias Rinaldo Franco Willian Anacleto Figueiredo Governador Valadares Fevereiro / 2009 ODETE CAROLINA DE OLIVEIRA DIAS RINALDO FRANCO WILLIAN ANACLETO FIGUEIREDO DIFICULDADES NA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE QUALIDADE EM EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado, como requisito parcial à conclusão do curso MBA em Gestão Integrada da Qualidade, da Faculdade de Engenharia da Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE). Governador Valadares Fevereiro / 2009 O que motiva o homem é a esperança de concretizar os seus sonhos, e um homem motivado deixa de ser um mero expectador da vida para fazer a história. Willian Figueiredo DIFICULDADES NA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA DE GESTÃO DE QUALIDADE EM EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL Monografia apresentada à Coordenação do curso de Pós Graduação lato sensu MBA Gestão Integrada da Qualidade da Universidade Vale do Rio Doce (UNIVALE). RESUMO Este trabalho faz uma abordagem sobre as dificuldades encontradas na implantação de um sistema de gestão de qualidade em empresas de construção civil. Nele pode-se encontrar o conceito de qualidade, sua história e sua importância no contexto do mundo atual. Apresenta-se de forma concisa com o objetivo de nivelar o conhecimento dessas dificuldades para que outras empresas e outros pesquisadores possam utilizá-lo para aprimorar a implantação de seus sistemas. ABSTRACT This work makes a boarding on the difficulties found in the implantation of a system of management of quality in companies of civil construction. In it the quality concept can be found, its history and its importance in the context of the current world. It is presented of concise form with the objective to level the knowledge of these difficulties so that other companies and other researchers can use it to improve the implantation of its systems. AGRADECIMENTOS Agradecemos a Deus, nosso criador e sustentador de nossas vidas, agradecemos aos nossos pais que sempre nos amaram com amor verdadeiro, à nossa orientadora professora Jacqueline M. de Carvalho Vasconcelos e nossos mestres pelo apoio e encorajamento contínuos na pesquisa e pelos conhecimentos transmitidos, à empresa DIEFRA Engenharia e Consultoria Ltda por nos apoiar e nos fornecer informações de extrema importância para que nosso trabalho obtivesse o resultado esperado e à Diretoria do curso de pós-graduação da Universidade Vale do Rio Doce pelo apoio institucional e pelas facilidades oferecidas. Sumário RESUMO............................................................................................................................ 4 ABSTRACT ....................................................................................................................... 5 AGRADECIMENTOS ...................................................................................................... 6 1 - INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 8 2 - DESENVOLVIMENTO ............................................................................................ 11 2.1 - QUALIDADE: HISTÓRICO E CONCEITOS ..................................................................... 11 2.1.1 - QUALIDADE: DA INSPEÇÃO À GESTÃO DA QUALIDADE TOTAL ........................... 11 2.1.2 - A ABRANGÊNCIA DO CONCEITO DA QUALIDADE ................................................ 14 2.2 - ENFOQUES DA QUALIDADE....................................................................................... 16 2.3 - DIMENSÕES DA QUALIDADE ..................................................................................... 17 2.4 - SISTEMAS DA QUALIDADE ........................................................................................ 18 2.5 - GESTÃO DE SISTEMAS DE QUALIDADE ...................................................................... 20 2.6 - DIFICULDADES NA IMPLANTAÇÃO DE UM SGQ EM EMPRESAS DE CONSTRUÇÃO CIVIL21 2.6.1 - CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................. 21 2.6.2 - CARACTERISTICAS DO PROCESSO CONSTRUTIVO QUE DIFICULTAM A IMPLANTAÇÃO DE PROGRAMAS DE GARANTIA DA QUALIDADE ............................................................ 22 2.6.2.1 - CARACTERISTICAS GERAIS ......................................................................... 22 2.6.2.2 - O PAPEL DO CLIENTE FINAL (USUÁRIO)....................................................... 23 2.6.2.3 - A DIVERSIDADE DE PERFIS DE CONSTRUTORAS E FORNECEDORES............... 24 2.6.2.4 - A DESVALORIZAÇÃO DO PROJETO E A FALTA DE INTEGRAÇÃO PROJETOPRODUÇÃO ................................................................................................................... 25 2.6.3 - CASOS ............................................................................................................... 26 2.6.3.1 - METODO DE PESQUISA ................................................................................ 26 2.6.3.2 - CASO 01 ..................................................................................................... 26 2.6.3.3 - CASO 02 ..................................................................................................... 33 3 - CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................... 40 4 - BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 41 1. - INTRODUÇÃO A indústria da Construção Civil possui uma série de características que a torna peculiar, quando comparada aos demais setores industriais e, frente às suas singularidades e à complexidade do processo produtivo. É caracterizada pela alta incidência de patologias, por elevados índices de desperdícios de diversas naturezas, pela baixa produtividade, pela reduzida mecanização e pelo uso intensivo de mão-de-obra. Outro aspecto importante, destacado por PICCHI (1993), são os fatores culturais arraigados nos profissionais e empresas de construção onde, na maioria das vezes, priorizam-se aspectos como prazos e custos em detrimento da questão da qualidade. Nos últimos anos, entretanto, a situação econômica, social e política do país e do mundo vem estimulando algumas empresas a investir na melhoria da qualidade de seus processos e produtos. Em decorrência do aumento do número de obras, do aumento da participação do Estado no setor da Construção Civil, da abertura do mercado nacional, do fim da ciranda financeira e do processo inflacionário, da privatização de empresas estatais, do aumento da renda dos consumidores e de sua maior exigência por qualidade, apoiada pelo Código de Proteção e Defesa do Consumidor, do grande investimento do Governo Federal, através de programas como PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), no setor de transporte (estradas e ferrovias), saneamento, urbanização, delineia-se uma nova realidade de grande competitividade, somadas as pressões do mercado no sentido de redução de custo, prazo de entrega e melhoria na qualidade dos serviçoes associadas as alterações no cenário macro econômico, contribuem para definir novos paradigmas de competência e competitividade, tanto para as construtoras quanto para os demais participantes da cadeia de produção da construção civil, colocando a qualidade e a produtividade como fatores chave para o sucesso empresarial. Como destaca CARDOSO (1997a), todos esses fatores têm definido novos paradigmas e imposto novos referenciais de competência para as organizações e empresas participantes do processo de produção no setor da Construção Civil. Nos dias atuais, “a busca por uma melhor gestão, melhor qualidade, maior produtividade, menores desperdícios, melhor emprego dos recursos, maior segurança no 8 trabalho, maior motivação dos trabalhadores, maior retorno social dos recursos aplicados, menor impacto ambiental, menores preços dos „produtos‟ construídos e menores custos de operação ao longo da vida útil dos mesmos, entre outros pontos, constitui objetivo que deve ser perseguido por todos os agentes setoriais”. Assim, procurando responder às exigências do mercado e garantir uma perspectiva de atuação em um contexto cada vez mais exigente e competitivo, as empresas de construção civil, entre outras ações, vêm recorrendo à implementação de Sistemas de Gestão da Qualidade. Já se pode perceber que a introdução dos conceitos da qualidade vem estabelecendo, principalmente no meio empresarial da construção civil, uma nova cultura, direcionando o país a uma fase de grande destaque das questões relacionadas à qualidade, como é possível perceber através de iniciativas como o lançamento do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade − PBQP, de caráter nacional em 1991, e do Programa da Qualidade na Construção Habitacional do Estado de São Paulo − QUALIHAB, em 1996, promovido pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo − CDHU. Como os conceitos de qualidade foram desenvolvidos para as indústrias de produtos seriados, continua sendo necessário e importante estudar as eventuais necessidades de adaptação dos Sistemas de Gestão da Qualidade às peculiaridades da construção civil e de cada empresa em particular, avaliando-se quais seriam as melhores formas de sua introdução, levando-se em conta o estágio de desenvolvimento gerencial e tecnológico dessas empresas, suas inter-relações com os demais intervenientes do setor (projetistas, construtores, subempreiteiros, fornecedores de materiais e componentes, etc.) e sua forma particular de produção. Agora, a partir da conclusão das etapas de implementação, disseminação e consolidação dos Sistemas da Qualidade, é fundamental proceder-se a uma coleta de dados que possibilite identificar algumas dificuldades enfrentadas pelas empresas de construção civil brasileiras ao implementarem seus Sistemas da Qualidade. BARROS (1996) acredita que “a implementação de programas de Gestão da Qualidade não tem conseguido alcançar plenamente seus objetivos e que muitas empresas, 9 ansiosas por resultados, acabam perdendo o estímulo inicial, tornando-se difícil fazer com que a „qualidade‟ chegue aos canteiros de obras”. Pode acontecer, em alguns casos, que a forma de produzir das empresas não reflita as opiniões e os discursos da alta administração com relação aos princípios da Qualidade Total, permanecendo os canteiros de obras pouco organizados e tendo-se uma baixa eficiência nas atividades produtivas. Este trabalho tem o objetivo de mostrar as dificuldades encontradas na implantação de um SGQ em empresas de construção civil e possibilitar através do mesmo o norteamento para as empresas que possuem interesse em se certificarem. 10 2. - DESENVOLVIMENTO 2.1 - QUALIDADE: Histórico e Conceitos 2.1.1 - QUALIDADE: da inspeção à gestão da Qualidade Total A busca pela qualidade de produtos e serviços não é uma preocupação recente. Como citado por GITLOW (1993), o Código de Hammurabi, que estabelece que “se um construtor erguer uma casa para alguém e seu trabalho não for sólido, e a casa desabar e matar o morador, o construtor deverá ser imolado”, é uma demonstração clara da importância desse conceito já no ano de 2150 a.C., quando chefes tribais, reis e faraós governavam. O autor comenta que, naquela época, a qualidade baseava-se estritamente na inspeção final do produto acabado, conforme padrões preestabelecidos por inspetores, que faziam cumprir especificações governamentais. Já no século 13 esse conceito se alterou com o surgimento das guildas, que eram corporações de ofícios, onde um único indivíduo era capaz de produzir e inspecionar todos os produtos, estabelecendo um padrão único de qualidade (GITLOW, 1993). Com o advento da Revolução Industrial, exigindo maior produção de bens, devido, principalmente, ao aumento da demanda proporcionado pelo crescimento da população mundial, os artesãos deram lugar a um moderno sistema industrial, baseado no gerenciamento científico de Taylor e nas linhas de montagem introduzidas por Henry Ford. Assim, o que antes era produzido e controlado por uma só pessoa passou a ser de responsabilidade de um grupo de indivíduos que, de certa forma, não se comprometiam com a qualidade das operações executadas durante a fabricação. Retirando a responsabilidade dos trabalhadores pelo planejamento do trabalho e dividindo operações complexas em procedimentos simples, capazes de serem realizados por funcionários não qualificados, conseguiu-se um aumento considerável da produção. 11 No entanto, a ênfase dada à produtividade surtiu efeito negativo sobre a qualidade. Na tentativa de manter os elevados índices de produção sem, contudo, prejudicar a qualidade dos produtos, foram criados departamentos de inspeção, independentes da linha de produção, com o principal objetivo de descartar os produtos de baixa qualidade. Consolidouse, então, a era da inspeção na indústria manufatureira. No entanto, a era da inspeção, como ficou conhecido o período compreendido entre a Revolução Industrial e a década de 20, estava com os dias contados. Por ser a inspeção um processo cujo enfoque da qualidade estava centrado na avaliação do produto final, havia grande desperdício financeiro, pois os funcionários eram remunerados para inspecionar os produtos acabados e se estes apresentavam algum defeito, ou eram descartados, ou eram reparados. Enfim, havia um custo significativo com materiais que iriam ser eliminados. Além dos altos custos, a inspeção não era à prova de falhas e, muitas vezes, quem arcava com as conseqüências da ineficiência do processo era o próprio consumidor, adquirindo produtos de má qualidade (ASHER, 1992). A Segunda Guerra Mundial foi benéfica ao desenvolvimento dos conceitos da qualidade. Se, por um lado, épocas de crise trazem descontentamentos, por outro, alavancam mudanças significativas, tecendo novos paradigmas sociais, econômicos e políticos. Nesse período, com o aumento no volume e complexidade dos produtos, os custos com mão-de-obra e equipamentos voltados à inspeção elevaram-se, gerando a necessidade de se criar um método que controlasse economicamente a qualidade em ambientes de produção seriada. Ganhou destaque, então, por volta dos anos 50, o controle estatístico da qualidade, cujos precursores são George Edwards e o matemático Walter Shewhart, ambos membros do “Bell Laboratories”, indústria de produtos militares. Essa etapa histórica da qualidade ficou conhecida como a era do controle estatístico e caracterizou-se pela introdução do uso de ferramentas estatísticas para o controle da qualidade, visando a prevenção de problemas, e técnicas de inspeção por amostragem (CTE, 1995). Nos anos posteriores à Guerra, o grande interesse das empresas americanas era atender ao mercado interno e externo. Por isso, conforme analisam GOETSCH; DAVIS (1995), elas 12 procuravam respeitar prazos de entrega, muitas vezes não valorizando o aspecto qualidade. Do outro lado do mundo, o Japão, arrasado pela derrota, tentava reconstruir sua economia através da conquista de novos mercados consumidores, voltando-se à busca da melhoria de qualidade de seus produtos, anteriormente conhecidos como “baratos e ruins” (ISHIKAWA, 1993). Para isso, convidaram Deming e Juran a ensinar os princípios da qualidade aos empresários do país. Segundo GITLOW (1993), “os ensinamentos do Dr. Deming tocaram profundamente os industriais e a qualidade, a produtividade e a competitividade japonesas foram tremendamente aperfeiçoadas e fortalecidas”. Nos anos 50 e início dos anos 60 nasceu um novo conceito de qualidade, não mais baseado exclusivamente em atividades corretivas, mas voltado ao gerenciamento do processo de produção, visando a eliminação ou redução dos problemas em todas as fases de fabricação dos produtos, desde o projeto até as vendas. A partir daí, iniciou-se a era da garantia da qualidade, caracterizada pela maior conscientização das empresas quanto à obtenção da qualidade de produtos e serviços, através, inclusive, do desenvolvimento de programas de melhoria da qualidade. Os princípios desenvolvidos por Deming e Juran no Japão ganharam nova conotação através dos trabalhos de Ishikawa. Pode-se dizer que, durante essa fase, existiu um duplo enfoque do controle da qualidade total: o enfoque ocidental e o enfoque japonês. Enquanto o enfoque ocidental estava voltado principalmente aos aspectos técnicos dos sistemas da qualidade, o enfoque japonês dava maior atenção aos aspectos gerenciais e motivacionais, aclamando a participação de todos os funcionários na busca pela melhoria contínua da qualidade (PICCHI, 1993). Os princípios da qualidade total, hoje aceitos e utilizados pela quase totalidade dos pesquisadores, têm várias conotações trazidas do enfoque japonês da qualidade. Exemplos disso são a ênfase dada ao treinamento e aperfeiçoamento dos recursos humanos de toda a organização e a participação efetiva do alto escalão da empresa na condução dos programas da qualidade, implementados, atualmente, em várias indústrias, inclusive na de Construção Civil. 13 É fato que o sucesso das técnicas de gerenciamento da qualidade japonesas foi responsável, nas décadas de 70 e 80, pela reestruturação desse conceito no Ocidente que, a partir de então, valorizou os relacionamentos humanos dentro e fora da organização, ou seja, com funcionários, fornecedores e clientes. Esse período ficou conhecido como a era da gestão da qualidade total. E, transferindo esse conceito para a construção de edifícios, MESEGUER (1991) destaca que “a palavrachave da gestão da qualidade é „interveniente‟: todos os intervenientes no processo construtivo devem cooperar em todas as fases do processo, (...). Precisamente, a circunstância de considerar o processo como um todo e não o desmembrando em atividades separadas é a que melhor caracteriza a nova mentalidade que supõe a gestão da qualidade”. Aqui, chegamos no que eu chamaria de “Era das Normas”, mas pode chamar de Fase da Gestão da Qualidade. Com base na norma inglesa BS (British Standard)-5750, vieram as normas da família ISO 9000. A ISO (International Organization fo Standardization) foi fundada em 1947 em Genebra, Suíça, mas só em 79 é que criaram o Comitê TC-176, responsável exclusivamente por Qualidade. 2.1.2 - A ABRANGÊNCIA DO CONCEITO DA QUALIDADE Recentemente, com a intensificação da competitividade nos mercados nacionais e internacionais promovida pela globalização da economia, a qualidade vem sendo considerada um diferencial importante na conquista de novos consumidores, tornando-se uma oportunidade de se destacar frente à concorrência. Dessa forma, o conceito da qualidade vem sofrendo uma rápida e crescente evolução, agregando, a valores já arraigados, aspectos que dão novas dimensões ao tema. Seu conceito mais restrito, conformidade com requisitos, foi divulgado por Crosby em 1979. A partir daí, surgiu um enfoque voltado não apenas à produção, mas também ao atendimento das necessidades dos clientes, fossem eles internos (ligados à fabricação do produto) ou externos (a sociedade em geral). Esse conceito foi compartilhado por vários 14 autores, entre eles ISHIKAWA (1993) e GITLOW (1993), além de também estar presente nas normas que definem o tema. Outra definição de qualidade, como observa ABRANTES (1995), refere-se à capacidade do produto em atender as finalidades para as quais foi destinado, ou seja, deve atender aos anseios e necessidades dos clientes, que PICCHI (1993) subdivide em necessidades implícitas, quando se referem à facilidade de uso, cortesia ou rapidez no atendimento e outras; ou explícitas, voltadas ao produto em si como, durabilidade, preço, funcionalidade e manutenibilidade. O autor ainda acrescenta que qualidade é atender às necessidades dos clientes internos e externos à empresa com economia, produtividade e eliminação de desperdício, e enfatiza: “o objetivo passa a ser não só a qualidade do produto, mas também a qualidade do processo”. Outro aspecto importante e que contribui para a conceituação do tema é que muitos consumidores aliam a qualidade ao valor do produto. Daí MARANHÃO (1996) definir qualidade como “valor por dinheiro”. Em outras palavras, isso significaria dizer que, quando se recebe um benefício compensador, o cliente não reclama do preço pago. O autor também define qualidade como “atratividade de mercado”, ou seja, qualidade percebida pelo cliente, que seria a liberdade de escolha de um determinado produto dentre vários concorrentes. Nesse caso, o produto ganharia a preferência do consumidor seja pela aparência, preço, marca ou conteúdo, que serviriam como demonstrativos de sua qualidade. Esse critério também é abordado por GOETSCH; DAVIS (1995). Nessa mesma linha, encontra-se o conceito proposto por ROCHA LIMA (1993), que considera a qualidade um referencial abstrato, pois depende da maneira como cada consumidor ou usuário reagirá diante das características de determinado produto. GITLOW (1993) também defende que qualidade é “um julgamento feito pelos clientes ou usuários de um produto ou serviço; é o grau em que os clientes ou usuários sentem que o produto ou serviço excede suas necessidades e expectativas”. Daí a qualidade ser relativa e dinâmica, como analisa PICCHI (1993). 15 No caso da construção civil, MESEGUER (1991) concorda que a qualidade seja um conceito relativo, pois, segundo o autor, cada interveniente no processo de produção tem uma idéia diferente do que seja qualidade de acordo com seus interesses. Porém, salienta que a satisfação do cliente final só será obtida caso haja um comprometimento desses diversos intervenientes em atuar no sentido de otimizar sua relação particular entre qualidade e custo. A posição do autor é de extrema importância quando se considera a qualidade no subsetor, que possui uma cadeia produtiva bastante complexa e heterogênea, contando com uma grande diversidade de agentes intervenientes e de produtos parciais gerados ao longo do processo de produção, que irão incorporar diferentes níveis de qualidade, afetando a qualidade do produto final (CTE, 1995). 2.2 – ENFOQUES DA QUALIDADE Com o aumento do interesse pelo estudo da qualidade, várias áreas da ciência se debruçaram sobre o assunto: filosofia, economia, marketing e administração, cada uma sobre um ângulo diferente. David Garvin (apud Campos ,1998, p. 9) identificou que as definições da qualidade podem ser abordadas de cinco formas distintas: transcendental – a qualidade é percebida, mas não definida, pois não está no produto está além dele; centrada no produto ou serviço – o qual possui um número maior ou menor de melhores características; centrada no processo – quando ocorre a repetibilidade das operações que compõem o processo, ausência de defeitos e confiança no processo por parte do consumidor; centrada no valor – refere-se à relação custo/benefício, sendo que o benefício pode ser um valor financeiro (investimento), afetivo, moral, etc; centrada no cliente – adequação ao uso, atende às necessidades do consumidor. 16 Estas abordagens são complementares e não excludentes. 2.3 – DIMENSÕES DA QUALIDADE A AMERICAN SOCIETY FOR QUALITY CONTROL (apud PICCHI, 1993, p.63) destaca em sua definição de qualidade, que: “para garantir, controlar, ou melhorar a qualidade, é necessário ser capaz de avaliá-la”. Deve-se, portanto avaliar as características dos produtos que representam as necessidades dos consumidores, de forma que se possa verificar o nível de ajustamento deste produto ao mercado, e efetuar as correções se necessário. PALADINI (2000, p.86) cria o termo “característicos da qualidade”, o qual define como sendo os elementos de decisão que um consumidor elege para adquirir um produto. É uma questão estratégica o controle destes elementos para a organização. Para se avaliar estes “característicos” não existe uma única escala de valores, visto que podem ser de natureza diversa. A tabela 2.1 apresenta diferentes características da qualidade que podem ser avaliadas, sendo a de Garvin a que considero mais relevante por contemplar de forma simples a maioria dos parâmetros considerados pelos consumidores ao adquirir um produto ou serviço, e tratá-los de acordo com a dinâmica do conceito da qualidade. O único parâmetro relevante e não contemplado claramente por Garvin, se refere a perdas para a sociedade, fator que desperta discussões, mas observo que ainda não é preponderante no momento da decisão para a maioria dos clientes. 17 2.4 – SISTEMAS DA QUALIDADE PALADINI (2000, p.98) define sistema como uma estrutura organizada, cujos elementos são bem definidos e cujo funcionamento segue uma lógica determinada. Uma organização para produzir e distribuir produtos necessita que os mesmos passem por várias atividades de processamento, dentro de seus departamentos e subdivisões, ou seja, necessitam de um sistema de produção. Segundo JURAN (1991, p.15) cada departamento é responsável por uma atividade específica, além de ser co-responsável pela execução de outras funções de âmbito geral dentro da empresa como: relações humanas, finanças e qualidade. Define a função qualidade como sendo o conjunto de atividades através das quais atingimos adequação ao uso, não importando em que parte da organização essas atividades são executadas, e a representa através de uma espiral (Figura 2.2). 18 PALADINI (2000, p.123) apresenta o confronto entre os elementos que compõem os sistemas de produção e de qualidade (figura 2.3), aonde chega à conclusão que na realidade não existe o sistema de qualidade, o que de fato existe é um aperfeiçoamento do conceito de sistema de produção, onde a qualidade é uma noção estratégica. 19 2.5 – GESTÃO DE SISTEMAS DE QUALIDADE Gerenciar significa tomar decisões que orientem as pessoas a realização de objetivos estabelecidos. Portanto pode-se definir gestão da qualidade como o conjunto de ações planejadas e sistematizadas adotadas pela organização, estando envolvidos todos os componentes da empresa para o atendimento total de todas as necessidades de seus consumidores, e a busca constante pelo atendimento a seus clientes. A gestão da qualidade busca a sobrevivência da organização, baseia-se na cultura da empresa para confecção de um plano de longo prazo (elimina a intuição), que será executado utilizando-se de estruturas sistêmicas (que permitam a realimentação), através de ações interativas (fixa atividades e funções com maior ênfase do que as características das pessoas que vão exercê-las). Segundo JURAN (1991, p.18) a gestão da qualidade se faz com a utilização de três processos administrativos: de planejamento, de controle e de aperfeiçoamento. Onde o planejamento se refere às atividades de desenvolvimento de produtos que atendam os clientes; o controle utilizado pelos grupos operacionais visa verificar se o resultado obtido no processo está de acordo com os objetivos propostos; e o aperfeiçoamento é a busca do melhoramento continuo. PALADINI (2000, p.130) conceitua gestão da qualidade como o processo de definição, implantação e avaliação de políticas da qualidade. A qual me parece bastante adequada, pois abrange todos os aspectos citados na trilogia de Juran, além de avaliar as políticas da organização. 20 FIGURA 2.4: A Trilogia de Juran. 2.6 - DIFICULDADES NA IMPLANTAÇÃO DE UM SGQ NA CONSTRUÇÃO CIVIL Mostraremos a seguir algumas considerações importantes antes de entrarmos de fato nos cases. 2.6.1 – Considerações iniciais No caso das empresas construtoras brasileiras, foram adotados sistemas de garantia da qualidade baseados numa adaptação da norma ISO 9002:1994. Porém, não obstante resultados positivos que vêm sendo alcançados com a implantação de programas de gestão e garantia da qualidade, como é o caso, por exemplo, do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat (PBQP-H, 2002), no qual já se envolveram mais de 1000 empresas construtoras, muitas deficiências, que comprometem os empreendimentos, continuam sendo observadas. Essas deficiências afetam a produtividade e o tempo de execução das obras, em função da ausência de requisitos voltados à facilidade de execução do projeto nos canteiros de obras. Além do mais geram problemas de qualidade no produto final edificação, pelo não atendimento dos requisitos de desempenho, durabilidade, manutenabilidade, etc.. Afetam diretamente os custos, que são aumentados devido ao retrabalho, desperdício de insumos e a própria manutenção corretiva após a ocupação das unidades habitacionais. 21 2.6.2 - Características do processo construtivo que dificultam a implementação de programas de Garantia da Qualidade 2.6.2.1 - Características gerais A Indústria da Construção Civil brasileira, de forma similar ao que ainda acontece em vários outros países, de maneira geral, é ainda muito conservadora e, portanto, muito resistente a mudanças. Características singulares justificam o seu atraso em relação às outras indústrias, no tocante às questões relativas à Qualidade (MOYA, 2001; MACIEL e MELHADO, 1995). É uma indústria de caráter nômade e artesanal, que fornece produtos únicos cada edifício tem suas próprias características -, numa produção concentrada, o que significa que os operários se movem em torno e dentro do produto. Cada processo, cada canteiro de obra, apresenta um resultado individualizado, de forma contrária a uma linha de produção contínua. Observa-se também que é uma indústria que trabalha com amplas tolerâncias, quaisquer que sejam os parâmetros de controle de aceitação do produto. A mão-de-obra operária normalmente é constituída por trabalhadores não especializados, de baixo grau de instrução, e, por necessidade, aceita quaisquer condições de trabalho (LOURES, 1992 apud MACIEL e MELHADO, 1995). As relações contratuais geralmente de caráter provisório -, os baixos salários, as condições inadequadas de trabalho e a péssima relação com os superiores, são impedimentos para a formação de uma equipe de trabalho comprometida com metas de qualidade. Por outro lado, em um grupo significativo de empresas a pressão para a redução de custos implica na redução do quadro de engenheiros nas obras. Esses profissionais, mais administradores do que engenheiros , em não poucos casos são obrigados a supervisionar várias obras ao mesmo tempo. Esse fato, somado à falta de ferramentas adequadas de planejamento e controle da produção, faz com que os engenheiros passem grande parte do seu tempo apagando incêndios , sem que possa instalar-se nos canteiros uma atitude pró-ativa de antecipação de soluções a problemas potenciais, ou uma preocupação sistematizada com a racionalização das tarefas produtivas. 22 Fator de maior importância é que a produção de uma edificação é um processo segmentado e envolve várias etapas e agentes intervenientes. Isso faz com que o desenvolvimento desse produto sob o prisma da Garantia da Qualidade, de forma completa e eficiente, seja uma atividade de alto grau de complexidade devido à multiplicidade de interfaces e de interesses que devem ser conciliados no processo (VIEIRA et al., 2000; MESEGUER, 1991). Esse aspecto causa o estabelecimento de especificações pouco precisas, incompletas, confusas e não poucas vezes contraditórias para a execução dos projetos. 2.6.2.2 - O papel do cliente final (usuário) Outra característica peculiar da indústria da construção é o posicionamento dos usuários frente ao produto final edificação. Aqui três pontos podem ser destacados. Em primeiro lugar, apesar de já serem observadas algumas mudanças pontuais, em muitos casos o cliente final (usuário) tem pouca ou nenhuma influência sobre a concepção do produto. Na maioria dos casos os usuários não sabem traduzir em especificações técnicas suas expectativas e necessidades. Além disso, de forma distinta a outros segmentos industriais, onde a percepção das expectativas dos clientes é sistematicamente considerada desde as etapas iniciais de desenvolvimento de produtos, a cultura vigente no setor da construção civil não prioresa ouvir o consumidor que, desta forma, assume uma postura passiva no processo. Cabe ressaltar que um aspecto cultural bastante disseminado é o fato de que os usuários das edificações não aplicam, com relação a esse produto, as mesmas exigências de desempenho e qualidade que exigem de produtos de outras indústrias. Em geral, os consumidores recusam-se, por exemplo, a comprar um carro com a pintura deteriorada, ou algum eletrodoméstico com desempenho inferior ao anunciado. No entanto, convivem com naturalidade com as mais diversas patologias nas edificações, e em não poucos casos têm pouco claras quais seriam as metas de desempenho a serem exigidas para as mesmas, tais como conforto térmico, acústico, durabilidade de materiais e equipamentos, etc. Observa-se, por exemplo, que o manual do proprietário só recentemente passou a ser uma exigência do mercado, quando há décadas os consumidores não hesitam em exigir tal manual do mais simples dos eletrodomésticos. 23 Além do mais, como ressalta (LIMA JR., 1993) alguns desses produtos, como no caso das habitações, geralmente são adquiridos apenas uma única vez, ou em intervalos de tempo muito espaçados. Esse fato dificulta a percepção de verdadeiras marcas de qualidade , ou seja, os clientes não têm referenciais objetivos para julgar a qualidade de uma edificação, como têm para julgar a qualidade, ou o nível de inovação de outros produtos. Em parte isso acontece porque, quando de uma nova aquisição, o mercado já mudou a tipologia das edificações, e o poder de compra e os anseios pessoais dos usuários também já foram modificados. Isso, em um universo de muitos fornecedores, é um entrave para a disciplina das relações de concorrência no mercado justamente porque dificulta que as marcas de qualidade se sobressaiam, e, consequentemente, permite que muitos aventureiros, verdadeiros especuladores não compromissados com a qualidade, tenham espaço no mercado da construção brasileira. 2.6.2.3 - A diversidade de perfis de construtoras e fornecedores. A atividade de construção de edifícios é bastante pulverizada e desconcentrada (FABRÍCIO, 2002). São diversos os tipos e perfis de empresas atuantes no mercado brasileiro. Em sua maioria são pequenas construtoras e sub-empreiteiros, com poucos funcionários, que convivem com a redução de sua margem de lucro em função de fatores como desperdícios e baixa produtividade, e que não priorizam a busca da qualidade. Geralmente essas empresas não têm o domínio de tecnologias mais racionalizadas ou não detém o conhecimento de práticas gerenciais já utilizadas por empresas de maior porte. O grande número de empresas construtoras, sub-empreiteiros e fornecedores é um empecilho para uma eficiente disseminação de conhecimentos já adquiridos no tocante à gestão e garantia da qualidade. Observa-se que quaisquer avanços científicos e tecnológicos obtidos em outros tipos de empresas são muito mais facilmente disseminados do que no caso da construção civil. Uma outra dificuldade que se configura devido à diversidade de perfil das empresas é a adaptação das soluções à realidade de cada uma delas. Acrescente-se que, no Brasil, a dificuldade de disseminação de conceitos relativos à qualidade e a introdução de formas mais adequadas de gerenciamento dos empreendimentos é aumentada pela extensão territorial e pelas diferenças regionais. 24 2.6.2.4 - A desvalorização do projeto e a falta de integração projeto-produção As deficiências apontadas no ítem 2.6.2, são, principalmente, decorrentes de uma generalizada cultura entre os agentes da cadeia de produção de uma edificação. Essa cultura não dá a devida importância à etapa de desenvolvimento do produto edificação do empreendimento e nem às suas interfaces com a etapa de produção. Comumente o projeto é visto apenas como um instrumento legal, que deve ser aprovado para que a produção possa ser iniciada. No mercado da construção civil brasileira, poucos são os empreendedores que se preocupam com um projeto executivo , de maneira suficientemente detalhada, visando soluções otimizadas do binômio projeto - produção nos seus aspectos técnicos e gerenciais. Além disso, é amplamente disseminado entre os construtores o hábito de remunerar mal os projetos e esse é um dos fatores decisivos para a ausência de qualidade dos mesmos. De maneira geral, os profissionais intervenientes no processo de produção de edificações não possuem uma visão holística do empreendimento, e falta-lhes o entendimento de como o valor atendimento das expectativas do cliente é gerado e evolui ao longo da cadeia. Prevalece entre esses profissionais uma mentalidade contratual, caracterizada por uma contínua negociação a respeito de obrigações e responsabilidades. Isso implica que o processo construtivo seja segmentado, onde as soluções, ao longo da cadeia, desde as etapas iniciais, vão trocando sucessivamente de mãos, de maneira seqüencial, sem mecanismos que garantam uma efetiva sinergia e interação entre os diversos projetistas e engenheiros de obra (VIEIRA et al., 2000). Além disso, falta um profissional que veja a obra como um todo e as relações com projetistas e entre projetistas ainda são deficientes faces do sistema de produção das edificações (THOMAZ, 2001). É nesse contexto que vêm sendo desenvolvidos nos meios acadêmicos vários modelos de gestão dos empreendimentos, voltados à melhoria da qualidade e produtividade, enfocando não só a execução das obras, mas também o processo de concepção das edificações. No entanto, uma análise das práticas do mercado da construção civil brasileira, no que diz respeito à busca de ganhos de qualidade, através da aplicação de processos de desenvolvimento de produtos, e de projetos, em particular, demonstra uma enorme diferença entre os conhecimentos já adquiridos no tocante aos modelos de gestão da qualidade das construções e o que efetivamente é praticado na maior parte das empresas. 25 2.6.3 - CASOS 2.6.3.1 - Método de pesquisa Baseados em tudo o que foi citado anteriormente é que vamos apresentar dois cases como amostragem das dificuldades que as empresas de construção civil têm na implantação de sistema de gestão de qualidade. O trabalho foi executado de duas formas uma através de levantamento realizado em pesquisas pela internet durante os meses de novembro de 2007 a janeiro de 2009 e outra realizada presencialmente na empresa Diefra, a qual apresentaremos numa segunda parte deste trabalho com a certeza de agregar grande valor ao mesmo. 2.6.3.2 – CASO 01 Foram encontrados vários trabalhos realizados sobre “As dificuldades na implantação de um Sistema de Gestão de Qualidade na construção civil”, analisando o conteúdo e a facilidade de interpretação dos dados pesquisados pelos autores, optamos por demonstrar a pesquisa abaixo realizada por Marcelo D. Depexe e Edson P. Paladini, ambos da Universidade Federal de Santa Catarina. Este trabalho foi apresentado na Revista de Gestão Industrial. Os autores realizaram o levantamento entre os meses de julho e outubro de 2005. Neste período, haviam 38 construtoras certificadas no nível A do PBQP-H no Estado de Santa Catarina. Foram contatadas 21 empresas construtoras das cidades de Florianópolis e São José. Destas, sete empresas não demonstraram interesse em colaborar com a pesquisa. Assim sendo, o presente levantamento conta com a participação de 14 empresas. Optou-se por pesquisar apenas empresas do nível A porque estas já estão com o processo de implantação completamente concluído, de modo a fornecer uma visão mais ampla e fundamentada a respeito do sistema e do programa. A pesquisa objetiva determinar a percepção dessas empresas quanto às principais dificuldades enfrentadas durante a implantação e certificação de sistemas de gestão da qualidade. Esta pesquisa é realizada sob a forma de uma entrevista estruturada, baseada em um questionário, com o responsável da qualidade das empresas. O 26 entrevistado expressa sua percepção sobre cada item de acordo com uma escala de um a cinco. Todas as questões e os itens que constam no questionário foram baseados em pesquisas similares nacionais e internacionais, notadamente referente à certificação na norma ISO 9000. Uma vez que há compatibilidade entre a ISO 9001:2000 e o PBQP-H, não há problema em se comparar tais pesquisas. Além disso, diversas empresas pesquisadas também possuem a certificação ISO 9001:2000. Em todo momento o entrevistado pôde comentar cada item livremente, o que fornece informações mais substanciais do que a simples informação do nível de percepção, de modo a permitir uma melhor interpretação dos dados obtidos. O autor visitou pessoalmente cada empresa para solicitar sua colaboração na pesquisa. Optou-se pela realização de entrevistas para obter-se uma maior quantidade de informações, de modo a proporcionar um melhor entendimento sobre o processo de implantação do sistema de gestão da qualidade e da situação atual do sistema nas empresas. Além disso, a presença do autor permite o esclarecimento dos itens do questionário, de modo a fornecer maior confiabilidade às respostas. Os dados obtidos foram analisados com auxílio de uma planilha eletrônica. Foram calculados, para cada item, a média e o desvio-padrão. Realizou-se também uma análise de freqüência das respostas quanto à pontuação na escala de um a cinco. Assim, procedeu-se a análise quantitativa através dos dados obtidos, que podem ser complementados e justificados por uma análise de cunho qualitativo, baseada nos comentários realizados pelos entrevistados. A seguir, apresentam-se os resultados obtidos. 2.6.3.2.1 - Resultados Apresentam-se aqui as principais dificuldades enfrentadas pelas 14 empresas pesquisadas durante o processo de implantação do sistema de gestão da qualidade. A Tabela 1 apresenta a média e o desvio-padrão das 14 empresas. Observa-se que as questões relativas à cultura organizacional e o excesso de burocracia gerada pelo sistema representam as maiores dificuldades. A distribuição das pontuações pode ser observada na Tabela 1. A seguir, cada item é analisado separadamente. 27 Tabela 1 – Média, desvio padrão e distribuição das notas Dificuldades durante a implantação Média Cultura organizacional e resistência a 4,29 mudanças Burocracia excessiva 4,14 Baixo nível de escolaridade dos 2,93 funcionários Falta de treinamento 2,79 Falta de envolvimento dos 2,57 funcionários Falta de participação e 2,50 conscientização dos colaboradores Comunicação deficiente 2,43 Ansiedade por resultado 2,36 Falta de comprometimento da alta 2,36 administração Falta de recursos 1,93 Falta de liderança 1,93 Falta de comprometimento dos 1,93 gerentes Falta de foco no cliente 1,50 Fonte: Revista Gestão Industrial (2007, p.17) Distribuição das notas DesvioPadrão 1 2 3 0,61 0% 0% 7% 1,10 1,49 0% 14% 7% 29% 50% 21% 21% 21% 14% 21% 1,42 1,16 29% 7% 36% 14% 14% 21% 29% 21% 29% 0% 1,22 36% 7% 1,28 1,15 1,50 29% 21% 29% 14% 7% 36% 7% 43% 14% 0% 43% 14% 21% 7% 14% 1,59 1,38 1,27 71% 0% 7% 7% 64% 0% 21% 7% 50% 29% 7% 7% 1,09 79% 7% 4 57% 36% 43% 7% 0% 5 7% 14% 7% 7% 14% 0% A - Cultura organizacional e resistência a mudanças O item cultura organizacional e resistência a mudanças apresenta a maior média de todas as dificuldades vivenciadas pelas empresas durante a implantação do sistema de gestão da qualidade. Observa-se também que este item possui o menor desvio-padrão, o que indica menor variabilidade na opinião das empresas. Isso pode ser visualizado na Tabela 1, que mostra grande concentração das empresas nas notas 4 e 5. Conforme o engenheiro da Empresa F, a resistência a mudanças é a maior dificuldade enfrentada, principalmente durante o processo de implantação. Em geral, a maior resistência provém de parte da mão-de-obra e de alguns mestres-de-obras quanto ao uso dos procedimentos padronizados. Segundo o engenheiro, muitas pessoas apresentam resistência em alterar a forma de realizar os serviços ou a tecnologia utilizada. 28 B - Burocracia excessiva Com média 4,14, o excesso de burocracia está em segundo lugar na lista das maiores dificuldades enfrentadas. Além disso, 50% das empresas afirmam que a burocracia excessiva é a principal dificuldade do programa, conforme a Tabela 1. Ao contrário, do que acontece com o item cultura organizacional, a burocracia excessiva apresenta uma distribuição mais variável. Isso se deve por duas razões. A Empresa B, por exemplo, possui uma pessoa especificamente designada para trabalhar com o programa. Já a Empresa J realmente possui um sistema desburocratizado. Isso se deve à orientação prestada pela consultoria particular contratada pela empresa, que abandonou a consultoria prestada pelo SENAI. As instruções de serviço foram escritas juntamente com os funcionários, de maneira bem simples, para que haja compreensão e sejam utilizados sem resistência. A empresa possui apenas cinco processos principais, relacionados às macros atividades. As demais empresas, que seguiram com a consultoria do SENAI, possuem um número bem maior de processos. Para a Empresa A, o sistema gera muita burocracia para uma empresa de pequeno porte. O engenheiro afirma que não há necessidade de fazer listas para si mesmo. Já para a Empresa L, o programa faz muitas exigências de documentação sem necessidade. Um exemplo é a realização de calibração periódica de equipamentos. Os funcionários operacionais apresentam dificuldades em trabalhar com documentação, principalmente as fichas de verificação de serviços - FIS. Em diversas empresas há a reclamação de que o preenchimento dessas fichas representa perda de tempo sem ganho justificado, que poderia ser mais bem utilizado em outras atividades. C - Baixo nível de escolaridade dos funcionários O baixo nível de escolaridade dos funcionários apresenta a terceira maior média. Entretanto, não há consenso entre os entrevistados devido a grande variabilidade das respostas, como se observa na Tabela 1. Ou seja, para algumas empresas o baixo nível de escolaridade representa um problema, enquanto que para outras não. Segundo alguns engenheiros, o que importa é que o funcionário saiba desempenhar bem suas funções, de modo que um treinamento adequado é o suficiente para obter um serviço de qualidade. De acordo com a Empresa E, seria mais fácil para os funcionários compreenderem o programa se tivessem maiores níveis de escolaridade. Uma alternativa para contornar esse problema é somente realizar a contratação de funcionários alfabetizados, conforme realizado na Empresa D. Já para a Empresa G, a baixa escolaridade dos funcionários não representa problema, uma 29 vez que os conhecimentos necessários são transmitidos através de treinamentos. O engenheiro responsável pelos treinamentos possui habilidade para lidar com pessoas e explica tudo na linguagem utilizadas pelos funcionários. D - Falta de treinamento O quarto item com maior média é a falta de treinamento. Entretanto, as opiniões são muito variáveis, como se pode observar na Tabela 1. Deste modo, algumas empresas vivenciam dificuldades devido à falta de treinamento da mão-de-obra, enquanto que para outras, o treinamento admissional oferecido no canteiro é suficiente para sanar as deficiências. Salienta-se aqui a deficiência em treinamento tanto em questões relativas à qualidade como em treinamento relacionado às próprias atividades desenvolvidas em canteiro de obra, pelas quais os funcionários são contratados para exercer. O setor da construção civil apresenta grande necessidade de treinamento devido à baixa qualificação de seus funcionários que, aprendem a profissão na prática e pela observação. E - Falta de envolvimento dos funcionários A falta de envolvimento dos funcionários é a quarta maior dificuldade enfrentada, com média 2,57. Deve-se em parte ao desconhecimento do programa e de seus benefícios, bem como de uma certa resistência ao novo. A Empresa C, por exemplo, relata falta de envolvimento dos funcionários no início da implantação, quando muitos funcionários não queriam contribuir. Entretanto, a empresa afirma que os funcionários colaboram quando percebem as vantagens de trabalhar com melhor qualidade, de acordo com os procedimentos. Para isso, é necessário mostrar a maneira mais eficiente de realizar os serviços e explicar as conseqüências negativas dos erros, tanto para a empresa como para o funcionário. Desta forma, há maior valorização e integração dos trabalhadores, que entendem que fazem parte do mesmo negócio. F - Falta de participação e conscientização dos colaboradores Algumas empresas enfrentam dificuldades com relação aos fornecedores de materiais. A Empresa C afirma que muitos fornecedores não entregam o material conforme especificado. Deste modo, a empresa é obrigada a realizar inspeção em 100% do material 30 entregue por novos fornecedores. O número de inspeções diminui com a passar do tempo, a medida em que o fornecedor torna-se mais confiável em suas entregas. A Empresa H também enfrenta algumas dificuldades com relação aos fornecedores de materiais e com alguns serviços terceirizados, como a marcação da obra, quando a empreiteira não possui os equipamentos necessários devidamente calibrados. Além disso, a empresa relata uma certa resistência por parte de alguns projetistas terceirizados quanto à adequação aos padrões da empresa. Isso acarreta dificuldades de compatibilização de projetos, o que pode levar a erros durante a execução da obra. Além da forma de apresentação, a empresa também sofre com atrasos em relação ao prazo de entrega dos projetos terceirizados. G - Comunicação deficiente Em geral, os problemas de comunicação deficiente ocorrem entre escritório e obra e entre departamentos da empresa. Na Empresa C, algumas pessoas detentoras de informação não queriam compartilha-las com os demais. Os procedimentos escritos tiveram importante função na difusão do conhecimento na empresa. Um dos principais problemas na Empresa I diz respeito à comunicação e integração no escritório. Há problemas de relacionamento entre os departamentos de compras e de engenharia. As freqüentes confusões com os pedidos de materiais culminou com a substituição do gerente de compras. Também há certa dificuldade de comunicação entre a direção e demais setores da empresa. H - Ansiedade por resultados Em algumas empresas houve uma certa ansiedade por resultados, como nas Empresas I e G, devido à alta cobrança por parte da direção por resultados. Tal fato ocorreu em menor intensidade em outras empresas. Uma empresa de consultoria foi contratada pela Empresa C para orienta-la durante o processo de certificação. Assim, não houve ansiedade por resultados, devido ao esclarecimento fornecido pela consultoria a respeito do tempo necessário para que surjam os benefícios. Todo o sistema foi implementado no escritório para posteriormente ser levado à obra. Já na Empresa M, houve certa frustração após a certificação, quando se verificou que algumas coisas continuavam a ser executadas da maneira antiga. 31 I - Falta de comprometimento da alta administração Em algumas empresas, a alta administração está totalmente comprometida com o programa e participa ativamente de sua implantação. Já em outras empresas observa-se menor engajamento. Em tais empresas, a diretoria fornece os recursos necessários para a obtenção do certificado, mas se a CEF não exigisse o certificado, a direção iria abolir o programa. Inicialmente, a Empresa J sofreu grande resistência da alta administração quanto à implantação do PBQP-H. Alguns engenheiros também não acreditavam no programa. Esta visão negativa começou a mudar com a observação de alguns benefícios, mas ainda não estão plenamente engajados com o sistema. Já na Empresa E, o presidente da empresa não considera a certificação importante, embora os demais engenheiros apóiem a iniciativa. A Empresa B, por exemplo, afirma que falta colaboração de todos. A direção decidiu pela implantação e contratou uma pessoa especificamente para se responsabilizar pelo programa. Assim, tudo o que diz respeito ao programa é de responsabilidade da assessora da qualidade, de modo que a direção e os engenheiros não se envolvem muito com o sistema. Na Empresa G, a diretoria apóia o programa por meio do fornecimento de recursos e metas, mas poderia participar mais. Segundo o engenheiro, seria melhor se a alta administração comparecesse mais em reuniões, principalmente com os níveis mais baixos, de modo a promover maior envolvimento e demonstrar que a qualidade tem prioridade na empresa. J - Demais elementos A falta de recursos está empatada com a falta de liderança e com a falta de comprometimento dos gerentes, com média 1,93. Em geral, as empresas dispõem dos recursos necessários, principalmente para a realização das auditorias e contratação de pessoal. A falta de liderança também parece não ser um problema para as empresas entrevistadas. Em geral, os engenheiros reconhecem a importância do papel do líder no desenvolvimento dos funcionários para a implantação de um sistema de gestão da qualidade. Entretanto, parece não haver um pleno entendimento por parte dos engenheiros a respeito do conceito de liderança. Em geral, o nível médio é o mais comprometido com o programa. Composto por engenheiros, técnicos e mestres-de-obras contratados pelas empresas, são essas pessoas que, na maioria das vezes, são encarregadas pela implantação e manutenção do sistema de gestão 32 da qualidade. Mesmo assim, alguns engenheiros têm uma tendência a centralizar informações, de modo que dificilmente delegam tarefa. Finalmente, apenas duas empresas admitem que a falta de foco no cliente pode ter atrapalhado o desenvolvimento da implantação do sistema de gestão da qualidade. A grande maioria (79%) atribuiu nota mínima para este item, conforme a Tabela 1. 2.6.3.2.2 – CONCLUSÃO A presente pesquisa, realizada com 14 construtoras da Grande Florianópolis, procura demonstrar a realidade vivida por essas empresas ao implantar e certificar seus sistemas de gestão da qualidade. Em comparação com outras pesquisas, a falta de comprometimento não representa uma dificuldade muito significativa para este grupo de empresas. Em contraste, o item cultura organizacional e resistência a mudanças aparece como a maior média de todos os itens avaliados, o que indica ser este a maior dificuldade enfrentada pelas construtoras. 2.6.3.3 – CASO 02 Abordaremos neste segundo caso as dificuldades de implantação de SGQ na empresa DIEFRA e mostraremos também as lições aprendidas com tais dificuldades. Este trabalho foi realizado presencialmente através de entrevista e por pesquisas de documentos da empresa. Documentos estes que continham levantamentos dos problemas citados posteriormente. Vamos conhecer um pouco sobre esta empresa. A DIEFRA iniciou suas atividades em 1983 atuando no segmento da engenharia nacional. Ao longo destes anos, a empresa se pautou pela ética em suas ações, na superação das expectativas de seus clientes e no respeito aos seus colaboradores, ao meio ambiente e as comunidades onde desenvolve suas atividades. Atualmente a DIEFRA trabalha em todo o território nacional, nas diversas áreas da engenharia, prestando seus serviços a clientes públicos e privados e participando ativamente do desenvolvimento do país. A DIEFRA tem como política: Buscar a plena satisfação dos clientes, com a prestação de serviços de qualidade assegurada. 33 Envolver todos os funcionários da empresa para alcançar os objetivos propostos, através da motivação e satisfação. Melhorar continuamente os processos, visando ao aumento da produtividade e da competitividade. Preservar a ética nas relações com a comunidade e, assim, fortalecer a imagem da empresa. A forma como a DIEFRA enxerga o negócio traduz seu crescimento ao longo desses anos. Transmitir segurança ao cliente é objetivo desta empresa que investe continuamente na melhoria de todos os seus processos, entre eles; Gestão de Pessoas: a DIEFRA valoriza seus colaboradores, incentivando o crescimento pessoal e profissional, através de cursos de capacitação e treinamentos para toda a equipe, além de garantir um ambiente de trabalho saudável e seguro. Gestão tecnológica: investimento em pesquisas e novas tecnologias fazem parte do dia-a-dia da DIEFRA e de sua busca pelo desenvolvimento nos serviços Gestão ambiental e responsabilidade social: continuamente são realizados trabalhos de conscientização dos colaboradores e avaliação das ações. Além disso, a DIEFRA cumpre com todas as normas ambientais e sociais em seus projetos. Gestão em segurança e saúde: a DIEFRA oferece condições favoráveis e ambiente propício, buscando saúde e segurança de todas as pessoas envolvidas nos trabalhos, sejam seus colaboradores e comunidades. A DIEFRA é certificada na ISO 9001:2000, ISO 14001, especificação OHSAS 18001 e possui o atestado de qualificação QUALIOP – Programa de Qualidade das Obras Públicas da Bahia – Nível B – Escopo: Gerenciamento de obras. Para ter uma visão melhor sobre as dificuldades encontradas e as lições aprendidas com cada uma, dispomos cada uma em quadros Dificuldades x Lições Aprendidas, os quais mostraremos a seguir. 34 1 - ENVOLVIMENTO DOS COLABORADORES DIFICULDADES Resistência dos LIÇÕES APRENDIDAS colaboradores às Promover, desde o início da implantação: mudanças advindas do SGQ: - Medo/ receio: da qualidade; Do que é novo e desconhecido; De mudanças na rotina de De fiscalização desenvolvimento do do das A motivação das pessoas visando a continuidade do envolvimento delas trabalho devido aos registros a serem envolvimento/participação do SGQ; atividades – padronização; O pessoas no processo de implantação trabalho/na forma de realizar as O interesse das pessoas pelo assunto com o SGQ; A conscientização das pessoas da efetuados; importância do SGQ para a empresa SGQ x Produtividade e de como o trabalho delas contribui para o alcance dos objetivos da qualidade da organização; A conscientização das pessoas de que o SGQ de ser incorporado a rotina de trabalho. 35 2 – CONTROLE DE DOCUMENTOS E REGISTROS DIFICULDADES Dificuldades na documentação do SGQ. LIÇÕES APRENDIDAS elaboração da É indispensável a participação/colaboração dos profissionais nessa fase: Envolve o pessoal no processo; Reduz as correções e revisões futuras É importante: Evitar textos extensos e documentação volumosa; Utilizar linguagem simples e estilo direto de escrever; Considerar o uso de fluxogramas, diagramas, fotos e outros elementos visuais; Uso de formulários para uniformizar os registros; Objetivos: Facilitar a leitura e o entendimento; Facilitar a assimilação das informações; Reduzir a resistência ao auto- treinamento; Reduzir a resistência a consultas posteriores. 36 3 – AUDITORIA INTERNA DIFICULDADES Da realização: Insegurança dos auditados; Insegurança dos auditores; Formação de auditores internos. Do registro: LIÇÕES APRENDIDAS Distribuir o plano de auditoria com uma certa antecedência; No máximo 2 (dois) auditores por área/setor; No inicio da auditoria, “quebrar gelo” – descontrair o ambiente. Redação dos relatórios de auditoria. Na realização da 1ª auditoria interna é necessário o acompanhamento de profissional com alguma experiência em auditorias (auditor-líder);] É importante formar outros auditores internos, além de facilitadores da qualidade; Formar auditores internos através de acompanhamento e participação em auditorias e treinamento interno; A fase de redação dos relatórios de auditoria é mais trabalhosa e tem duração maior do que a própria realização da auditoria; Após a consolidação do processo de implantação – sintetizar/simplificar – reduzir informações do relatório. 37 4 – MEDIÇÃO E MONITORAMENTO DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DIFICULDADES LIÇÕES APRENDIDAS Dificuldades na definição de Não se devem definir indicadores indicadores quantitativos por item qualitativos: do escopo do SGQ – avaliação do nível de contratos; critérios para atribuição de notas; Falta de experiência de auditores externos treinamento e Dificuldades de padronização de instrutores em de ramo de engenharia consultiva; baseados inferências/opiniões indicadores quantitativos de desempenho no Resultados em dos avaliadores; Resultados não confiáveis. Quanto aos indicadores quantitativos: Demonstração da real situação dos serviços; Avaliações objetivas; Uniformização de critérios, pesos e notas; Resultados confiáveis; Possibilidade de avaliação de tendência de desempenho; Além de indicadores de desempenho de contratos, definir indicadores globais da empres: Avaliação sistêmica de desempenho dos processos; Avaliação de tendência de desempenho da empresa; Possibilidade de atuação direta na gestão da organização. 38 5 – IDENTIFICAÇÃO E TRATAMENTO DE NÃO-CONFORMIDADES DIFICULDADES LIÇÕES APRENDIDAS Dificuldades na identificação e registro de não-conformidades reais desenvolvimento dos serviços. durante o Não conformidades reais devem ser corrigidas o mais rápido possível; Registrar não-conformidades que possam agregar valor; Os relatórios de não-conformidade possibilitam a análise de causa e abrangência do problema, bem como o planejamento de ações corretivas; Relatórios de não-conformidade devem ser divulgados na empresa para alertar os profissionais dos problemas ocorridos e suas soluções. 39 3 – CONSIDERAÇÕES FINAIS No mundo todo se realizam pesquisas sobre a implantação de sistemas de gestão da qualidade e sobre as respectivas dificuldades enfrentadas no processo. São vários os elementos apontados por tais pesquisas como a falta de comprometimento da alta administração, bem como do nível gerencial e operacional, além da resistência a mudanças e forte cultura organizacional. São citadas também como grandes empecilhos ao sucesso das iniciativas voltadas à gestão da qualidade a falta de liderança e de recursos para a realização de melhorias. Outros fatores apontados são as deficiências na comunicação e o excesso de burocracia gerada pelo sistema. Deste modo, observa-se que, de maneira geral, todos apóiam o programa, mas apenas até um certo limite. Muitos engenheiros relatam que há grande resistência a mudanças por parte de todos, principalmente devido à cultura conservadora existente na construção civil. Grande parte dessa resistência deve-se à total falta de hábito da documentação dos processos. Uma vez que a realização de registros é uma exigência para a obtenção do certificado, o sistema trouxe uma maior carga burocrática para as empresas. Observa-se uma certa relutância quanto ao preenchimento de fichas e documentos, independente do nível hierárquico. Entretanto, é no nível operacional que se observam as maiores reclamações quanto à burocracia. Ao analisar os resultados, percebe-se que esses dois itens apresentam as maiores médias, bem superiores aos demais itens. A terceira maior dificuldade refere-se ao baixo nível de escolaridade dos funcionários, seguido pela falta de treinamento e de envolvimento dos funcionários. Todos os demais elementos apresentam pequenas variações nas médias entre um item e outro, pois foram enfrentados em intensidades diferentes pelas empresas. Há ainda muito a fazer em termos de melhoria da qualidade nas empresas construtoras. Além de colaborar para uma melhor compreensão da evolução da qualidade na construção civil, os casos apresentados procuram salientar aspectos críticos para a implantação de sistemas de gestão da qualidade, o que pode auxiliar outras empresas que ainda não completaram ou não iniciaram o processo de certificação. 40 4 – BIBLIOGRAFIA USP (Universidade de São Paulo). Diretrizes para elaboração de planos da qualidade em empreendimentos da construção civil. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3146/tde-17082004-130721/ - Acesso em 11 de julho 07 UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Controle da Qualidade na Construção Civil Habitacional. Disponível em: http://www.ie.ufrj.br/cadeiasprodutivas/pdfs/controle_da_qualidade_na_construcao_civil_ habitacional.pdf - Acesso em 11/07/07 Coletânea Habitare- vol. 2. Inovação, Gestão da Qualidade e Produtividade e Disseminação do Conhecimento na Construção Habitacional. Disponível em: http://habitare.infohab.org.br/pdf/publicacoes/arquivos/105.pdf - Acesso em 16/07/07 Congresso Latino-Americano Tecnologia e Gestão na Produção de Edifícios. Qualidade na Construção: muito além da ISO 9000. Disponível em: http://congr_tgpe.pcc.usp.br/anais/Pg403a408.pdf - Acesso em 31/01/08 USP (Universidade de São Paulo). Qualidade do Projeto na Construção de Edifícios. Disponível em: http://www.pcc.usp.br/silviobm/2003_TESE%20SILVIO%20MELHADO%201994_reviv al.pdf - Acesso em 31/01/08 41 USP (Universidade de São Paulo). Metodologia para Desenvolvimento e Implantação de Sistemas de Gestão da Qualidade em Empresas Construtoras de Pequeno e Médio Porte. Disponível em: http://publicacoes.pcc.usp.br/PDF/btpcc190.pdf - Acesso em 31/01/08 Associção Brasileira de Engenharia de Produção. Modelo de Sistema de Gestão Aplicado a Empresas de Construção Civil. Disponível em: http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP1997_T3111.PDF - Acesso em 31/01/08 USP (Universidade de São Paulo). Análise dos Impactos da Implementação de Sistemas de Gestão da Qualidade nos Processos de Produção de Pequenas e Médias Empresas de Construção de Edifícios. Disponível em: http://silviobm.pcc.usp.br/DISSERTA%C3%87%C3%95ES%20E%20TESES%20PDF/Pal myra%20Reis%201998%20USP.pdf - Acesso em 31/01/08 UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) – Revista Gestão Industrial – Dificuldades Relacionadas à Implantação e Certificação de Sistemas de Gestão da Qualidade em Empresas Construtoras. Disponível em: http://www.scribd.com/doc/5810589/DIFICULDADES-IMPLANTACAO-ECERTIFICACAO-SGQ-EM-CONSTRUTORAS - Acesso em 10-01-09 42