ENTREVISTA PARA REVISTA DA ABCZ – Gabriel Donato de Andrade 1- Como o sr. Avalia o mercado internacional de lácteos e a oportunidade que está existindo para o Brasil ? - Naturalmente acontecimentos como estes são sempre bem vindos para nós produtores de leite, ainda mais que não são usuais. Minha longa vivencia no segmento do leite, inclusive como industrial e não só como produtor, me deixa estimulado, mas ao mesmo tempo, desconfiado de que possam ser fatores apenas conjunturais e não estruturais. Por isso acho que devemos aproveitar ao máximo esta oportunidade, cavar e conquistar nosso espaço no mercado internacional, mas sem descuidarmos da necessidade de produzir o leite da forma mais barata e competitiva possível, porque, uma vez que voltem as condições anteriores, estaremos fortes e preparados para continuarmos a produzir de forma sustentável. Neste aspecto o papel do Zebu na composição do nosso gado leiteiro continua sendo determinante e imprescindível; 2- Neste contexto, como entra a qualidade do leite produzido? - A qualidade do leite deve ser sempre a melhor possível. É uma pena que a gente só pense em qualidade quando se fala em exportar ou atender ao mercado externo. Por que isto? E o consumidor interno, que somos nós? Não merece qualidade, respeito e atenção? 3- E para o mercado interno, importância desta qualidade? - Exatamente como foi dito anteriormente. Não deve haver distinção entre a qualidade para o mercado externo ou para o mercado interno. Qualidade é qualidade, é determinada pelo cumprimento de padrões pré-estabelecidos e tem como objetivo a segurança da saúde das pessoas ou o melhor rendimento no processamento industrial do leite. Se queremos realmente ser competitivos e obter melhor remuneração por nosso produto, temos que nos habilitar para atender as exigências do mercado; 4- Como o sr. avalia atualmente os avanços que vem sendo obtidos pelos pecuaristas na qualidade de seu produto? - Há sem dúvida um avanço muito grande, fruto das ações tanto de governo, através da implementação da instrução normativa 51, como por iniciativa das cooperativas e principalmente, das indústrias. Infelizmente os produtores vêm meio a reboque nesta questão. O ideal seria que estivéssemos, por conta e consciência próprias, assumindo a iniciativa deste processo. Só a partir desta condição estaremos realmente preparados para a entrada no mercado internacional e para competirmos inclusive contra outros concorrentes que hoje disputam espaço conosco, como os derivados de soja e outros; 5- Onde ainda precisa melhorar? - Evidentemente em tudo se pode melhorar, seja na qualidade do produto, nos custos de produção, na genética etc. Mas uma questão que nos parece fundamental e ainda está longe de ser realidade, é o entrosamento entre produtores, cooperativas e indústrias. Precisamos crescer no cooperativismo. Está evidente que os países mais competitivos no segmento lácteo, têm como trunfo maior a integração entre produtores e indústria; 6- Pequena avaliação sobre a implantação da portaria 51? - Apenas temos a lamentar que ela já não tenha sido implantada a mais tempo; 7- Qual o papel que a indústria pode desempenhar e já tem desempenhado neste processo de melhoria da qualidade do leite na fazenda? - Um papel determinante e que na verdade é ela que vem exercendo, através da diferenciação de preços, de acordo com a qualidade dos produtos. Acreditamos que hoje, o produtor se mobiliza para ter um produto com mais qualidade justamente porque sente no bolso, as conseqüências de não tê-lo. A indústria neste aspecto não está exigindo do produtor uma coisa descabida ou usando de um artifício para pagar menos a ele. Temos que entender que qualidade do leite é básica na industrialização do produto. Como criador e selecionador de zebu, sempre acreditei e hoje vemos com grande satisfação, que o zebu vai somar muito neste processo. Aliás a indústria já percebeu isto. Antigamente, indústrias com a Nestlé só financiavam para os produtores, a compra de tourinhos da raça holandesa. Hoje, com a melhoria genética do Gir leiteiro a própria indústria já reconhece e estimula o seu uso; 8- Como o sr. Avalia, no aspecto qualidade, a relação indústria/ produtor? - Da nossa parte não temos nada a reclamar. Entregamos nosso leite para a Nestlé ou DPA, aliás, a mais de 40 anos. Tem havido muito estímulo e orientação e entendemos que os pagamentos tem sido feitos de forma razoável e transparente; 9- E sobre os preços recebidos em função da qualidade e/ou penalização? O sr. teria um exemplo? - Sim e de forma contundente, na Calciolândia, onde produzimos leite em dois retiros, sendo um com o gado Gir e outro com o gado mestiço, temos recebido, nos últimos 6 meses, de forma sistemática, cerca de R$ 0,06 à mais ,por litro de leite, no retiro do gado Gir;