Avaliação clínica e ultrassonográfica de tendão de equino tratado com plasma rico em plaquetas após lesão induzida cirurgicamente Bruna Mota Zandim1,3, Maria Verônica de Souza1, Leandro Maia2, Pablo Costa Magalhães1,4, Luiza Neme Frassy1,5, Brunna Patrícia Almeida da Fonseca1, José de Oliveira Pinto1, Lukiya Silva Campos Favarato1. 1Depto de Veterinária, Universidade Federal de Viçosa, 36570-000, Viçosa (MG); 2Doutorando Clínica Veterinária, Bolsista FAPESP, UNESP, Botucatu (SP); 3Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Medicina Veterinária, Bolsista CAPES, Viçosa (MG); 4Bolsista de Iniciação Científica do CNPq, Viçosa (MG); 5 Bolsista de Iniciação Científica da FAPEMIG, Viçosa (MG). INTRODUÇÃO DISCUSSÃO E CONCLUSÕES O plasma rico em plaquetas (PRP), fonte de vários fatores de crescimento, vem sendo recentemente utilizado como terapia para o tratamento de lesões em tendões de equinos. Entretanto, ainda são raros os experimentos que objetivam a comprovação da sua eficácia nos tecidos tendo-ligamentosos da espécie equina. O objetivo desse trabalho foi avaliar o efeito do PRP no tratamento de lesão induzida cirurgicamente no tendão do músculo flexor digital superficial (TFDS) de equinos, mediante avaliações clínica e ultrassonográfica, realizadas até 3 meses do procedimento cirúrgico. O estudo demonstrou que avaliação clínica e ultrassonográfica por um período de três meses após tratamento com PRP não revela ser esta uma terapia que promove melhora nas variáveis estudadas. É possível que resultados diferentes aos obtidos no presente estudo possam ser observados se os animais forem submetidos à atividade c física progressiva e/ou avaliados por um período de pelo menos seis c meses, já que experimento recente (Bosch et bal. J. Orthop. Res., v.28, n.2, p.211-217, 2010) revelou que a reparação tecidual do TFDS em lesão cirurgicamente induzida e tratada com uma única dose de PRP difere bioquímica e biomecanicamente quando comparado com o grupo controle (NaCl a 0,9%), após 24 semanas do tratamento, com melhores resultados nos tendões que receberam PRP. METODOLOGIA e a b b c Figura 5 – Determinação da área total da lesão no grupo controle (a) e tratado com PRP (b), após 2 meses de realizada a lesão cirúrgica. b 0,18 grupo 0 1 0,16 GRUPO 0 1 3,0 0,14 Intensidade do edema Intensidade do grau de claudicação b Figura 4 – Aplicação do PRP (a) e tenorrafia no grupo controle (b) e no tratado (c). a 0,12 0,10 0,08 0,06 0,04 0,02 2,5 2,0 1,5 1,0 0,00 30 Figura 6 – Edema intenso, em ambos os membros torácicos, localizado na região da lesão induzida cirurgicamente. b Figura 2 – Exposição (a) e remoção (b) de um fragmento do TFDS. a Figura 3 – Ativação do PRP em tubo de ensaio (a) e seu aspecto (b) imediatamente antes da sua aplicação. 40 50 60 70 Tempo (dias) 80 a 90 0 GRUPO 0 1 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 0 AGRADECIMENTOS: a Intensidade do aumento de temperatura a RESULTADOS 10 20 30 40 50 60 Tempo (dias) 70 80 c 90 10 20 30 40 50 60 Tempo (dias) 70 80 90 b GRUPO 0 1 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 0 10 20 30 40 50 60 Tempo (dias) 70 80 90 d Figura 7 – Redução do grau de claudicação, do edema, da dor à palpação e da temperatura local, em função do tempo, no grupo controle (0) e tratado (1) com PRP. 3,8 GRUPO 0 1 3,6 3,5 3,4 GRUPO 0 1 1,50 Intensidade da ecogenicidade 3,7 Área (cm2) Durante o exame físico geral todas as variáveis avaliadas se mantiveram dentro dos padrões de referência para a espécie. Após tratamento ou não com PRP, os animais apresentaram desenvolvimento da inflamação aguda, caracterizada pela presença de edema intenso (Figura 6) até a 2a (N = 1) ou 3a semana (N = 5); dor intensa à palpação até a 2a (N = 3) ou 3a (N = 3) semana, além de intenso aumento de temperatura local nas primeiras 48 hs, reduzindo para discreto ou moderado até a 3a semana. O grau de claudicação, não avaliado nas 3 primeiras semanas, reduziu de intensidade a partir do primeiro mês, sem diferir (P>0,05) entre grupos (Figura 7a). Houve redução do edema (Figura 7b), da sensibilidade à palpação (Figura 7c) e da temperatura local (Figura 7d) ao longo do tempo (P<0,05), mas sem diferença (P>0,05) entre os grupos em relação à intensidade dessas variáveis. A avaliação ultrassonográfica não revelou (P>0,05) redução na ATT (Figura 8a) e melhora na ecogenicidade (Figura 8b) em função do tempo e do grupo. Quanto ao alinhamento, houve melhora no paralelismo das fibras, mas sem diferença (P>0,05) entre os grupos. Um exemplo da imagem ultrassonográfica do paralelismo, obtida em ambos os grupos aos dois e três meses é apresentada na Figura 9. c Figura 1 – Característica ultrassonográfica da lesão, uma semana após biópsia no grupo controle (a) e no tratado com PRP (b,c). Intensidade da dor à palpação Foram utilizados seis equinos hígidos machos castrados, com idade entre 5 e 16 anos. A lesão no TFDS foi realizada em ambos os membros torácicos (Figura 1), a uma distância de 13 a 15 cm distal ao osso acessório do carpo, mediante remoção cirúrgica de um fragmento de aproximadamente 1,5 cm3 (Figura 2). Após escolha aleatória, um dos membros foi tratado (grupo tratado, GT) com PRP ativado com solução de trombina (250 UI) e cloreto de cálcio a 10%. Para isso, 160 µL da mistura trombina/CaCl foi adicionado a 1,44 mL do PRP, contendo entre 310.000 e 460.000 plaquetas µL-1 (Figuras 3 e 4a). O membro contralateral não foi tratado, servindo como controle (GC). A tenorrafia foi realizada com poligalactina 910 no 2-0 (Figura 4b,c). No pósoperatório, todos os animais receberam anti-inflamatório não esteroidal (Meloxicam) durante 7 dias. Os equinos foram mantidos em baia durante três semanas e depois foram soltos a pasto, sendo alimentados no cocho com capim elefante (Pennisetum purpoureum). Durante o período de confinamento, os animais não foram submetidos à atividade física controlada, mas foram avaliados por meio de exame físico geral (frequência cardíaca e respiratória, tempo de enchimento capilar, temperatura corporal, coloração das mucosas, hidratação e motilidade intestinal) e específico do aparelho locomotor: grau de claudicação e avaliação do local da lesão/tratamento (aumento de volume e da temperatura, assim como sensibilidade dolorosa à palpação), com 24 e 48 hs após a biópsia e, posteriormente, duas vezes por semana. No período que estavam a pasto, foram avaliados mensalmente durante três meses. Na análise ultrassonográfica foram avaliadas as variáveis: ecogenicidade, alinhamento das fibras colágenas e área transversal do tendão (ATT), dois (Figura 5) e três meses após o procedimento cirúrgico. A média das variáveis avaliadas no exame específico e ultrassonográfico foram verificadas por meio de análises de regressões em função do tempo e do tratamento, estudado por uma variável dummy (GT=1 e GC=0), cujos coeficientes foram avaliados pelo teste t, a 5% de probabilidade. g f 1,25 1,00 0,75 0,50 60 65 70 75 80 Tempo (dias) 85 90 a 60 65 70 75 80 Tempo (dias) 85 90 b Figura 8 – Evolução da área transversal (a) e da ecogenicidade (b) do tendão em função do tempo, no grupo controle (0) e tratado (1) com PRP. a b c d Figura 9 – Acompanhamento do paralelismo das fibras colágenas aos dois (a,c) e três meses (b,d) após a biópsia, no grupo tratado com PRP (a,b) e no controle (c,d). UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - MG XI CONFERÊNCIA ANUAL DA ABRAVEQ - 2010 OBJETIVOS