AURÉLIA CAMARGO: O PAPEL SOCIOCULTURAL DA MULHER NO
ROMANCE DE JOSÉ DE ALENCAR
PAES, Danielle Cristina A.1
SOUZA, Gildeth Costa de 2
RESUMO
O artigo aborda a trajetória da personagem protagonista Aurélia Camargo, do romance
Senhora, uma das principais obras do Romantismo no Brasil, do célebre escritor José de
Alencar. O texto apresenta algumas características dessa personagem, como seus
desejos, seus medos e sua busca diante de uma sociedade limitada para o mundo
feminino. Uma mulher que se destaca intelectualmente em meio aos homens burgueses.
Faz também uma breve introdução do movimento literário Romantismo e do autor José
de Alencar, e como o mesmo se posicionam diante da sociedade em que vive, esta
representada em suas obras.
Palavras-chave: Literatura brasileira. Limitação feminina. Desejo. Busca.
ABSTRAT
The article discusses the trajectory of the protagonist character Aurélia Camargo,
romance Lady, one of the major works of romanticism in Brazil, the famous writer José
de Alencar. The text presents some features of this character, as their desires, their fears
and their quest in the face of a limited partnership to the feminine world. A woman who
stands out among the bourgeois men intellectually. Also makes a brief introduction of
the literary movement of romanticism and author José de Alencar, and how the same
stand on the society in which he lives, this represented in his works.
Words-Key: Brazilian literature. Female limitation. I wish. Search.
O presente artigo acadêmico científico tem por objetivo fazer uma discussão e
análise da concepção da figura feminina e do papel da mulher na sociedade carioca do
século XIX. As reflexões se constituíram a partir da representação da personagem
Aurélia Camargo da obra Senhora, do grande e renomado escritor José de Alencar.
Este célebre autor contribuiu imensamente para as gerações românticas do nosso país.
Todavia, ele pertenceu ao primeiro momento romântico, mas isto não o impediu de
atravessar séculos e cooperar para sempre em nossos estudos literários e culturais,
principalmente quando se trata dos desejos femininos.
Alencar é uma das figuras mais importante da prosa romântica brasileira,
embora não tenha sido o criador da mesma. Porém, é um grande colaborador assíduo da
nossa ficção romântica. Produziu teatros, poesias, romances urbanos, indianistas,
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Graduada em Letras pela faculdade de Cuiabá UNIC.
Graduada em Letras pela faculdade de Cuiabá UNIC.
históricos e regionalistas, no qual este último, está inserido a espetacular obra Senhora.
Esta, por sua vez, exalta os valores locais da época, critica a busca de flagrável pelo
dinheiro, “censura” os costumes burgueses e mostram os conflitos de uma relação
perfeita (homem/mulher) diante da sociedade, mas que no íntimo do relacionamento as
estruturas conjugais, praticamente, não existem. Massaud Moisés nos deixa convicto
que “Alencar tinha consciência de haver tratado, nos romances, de aspectos
fundamentais da realidade brasileira” (1985, p. 90). Alfredo Bossi reforça o dizer de
Moisés:
Alencar, cioso da própria liberdade, navega feliz nas águas do remoto e
do longínquo. É sempre com menos-cabo ou surda irritação que olha o
presente, o progresso, ‘a vida em sociedade’; e quando se detém no
juízo da civilização, é para deplorar a pouquidade das relações cortesãs,
sujeitas ao Moloc do dinheiro. Daí o mordente de suas melhores páginas
dedicadas aos costumes burgueses em ‘Senhora’ e ‘Lucíola’ (BOSI,
1999, p. 137).
Retratar a sociedade fluminense, em pleno século XIX, era um trabalho que
necessitava de completa e minuciosa observância, conforme diz Moisés: “Fruto de
breve experiência jornalística, de observação da sociedade fluminense, e da fantasia [...]
Senhora [...] enquadra-se nessa “comédia humana” carioca de me-ados do século XIX”
(1985, p. 91). Note que Alencar, buscou reproduzir o cotidiano da burguesia, em
especificidade o contexto da mulher no meio social, que em sua obra prima intitulou-a
de Senhora. Na verdade, a “Senhora” deste notável escritor, é uma jovem moça bela,
órfã e pobre.
No entanto, torna-se herdeira absoluta de uma grande fortuna e fica rica.
Porém, devido a um terrível desgosto amoroso no passado, conforme relata Mariana
Thiengo: “O herói a encontra, o amor acontece, mas o casamento, não. O mundo se
interpõe entre o casal como obstáculo, e caberá a heroína tentar removê-lo, movida pelo
amor” (2008, p.11). Aurélia Camargo, agora “[...] rica e famosa [...] rainha dos salões
[...] deusa dos bailes; a musa dos poetas e o ídolo dos noivos em disponibilidade”
(ALENCAR, 2006, p. 9), revoltada e com imenso desejo de vingança, busca a todo e
qualquer percurso reaver o amor de seu amado, Fernando Seixas, o mesmo que a muito
havia trocado-a, por outra que possuía um dote mais vultoso.
[...] o principal móvel de Aurélia será casar-se com Seixas, o homem que a
rejeitou, oferecendo a ele o que anteriormente faltava, o recurso financeiro, em
forma de dote [...] Começa, então, a agir, criando toda uma situação em que
Seixas, devido ao seu endividamento e à ameaça iminente da pobreza, obriga-se
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em compromisso formal a casar-se com ela, sem saber que se tratava de sua
antiga namorada [...] Aurélia admite estar comprando a sua felicidade [...] ela
irá lembrar o tempo todo a Seixas a sua condição de marido comprado
(THIENGO, 2008, p. 11-12).
Essa mulher de valor extraordinário, aos olhos de seu criador, nos faz pensar que
quando se tem dinheiro tudo, absolutamente tudo, é possível. To-davia, a personagem
Aurélia na procura incessante pelo homem amado, transgride as regras da época e abre
novos caminhos para as futuras gerações femi-ninas. A heroína se torna modelo de luta,
conquista e igualdade, para as mulheres, em um local onde o dinheiro é o “Imperador”.
[...] Aurélia, heroína [...] exemplifica a perfeição esse duelo de interesse
e sentimentos, numa trama em que o dinheiro atribui à mulher o direito
não só de tirar alguma nódoa do passado, como nivelar-se ao homem
amado; e a este, render-se à evidência dos fatos e tornar-se merecedor,
por meio da recuperação moral (a compra, pelo dinheiro, de sua
liberdade), da mulher amada (MOISÉS, 1985, p. 91).
Segundo Moisés: “Era o Romantismo que irrompia, com todo o ímpeto e
violência próprios do novo em substituição ao velho” (1985, p. 5). Ou seja, o período
Romântico substituiu outra estética, bem como uma nova estética, o substituirá. Sendo
assim, Aurélia nos esclarece que a conduta feminina está buscando o “eu independente”,
ou melhor, a “velha” mulher está cedendo lugar para a “nova”. Portanto, “a submissa”
está lutando para ser parte integrante da sociedade, ser reconhecida e aceita como tal,
não se importando, na maioria das vezes, “ocupar” um ambiente que era exclusivamente
voltado para o homem, como a administração da própria fortuna.
Esta mistura de romance e realidade, amor e ódio que Aurélia busca traçar em
seu caminho, é uma fase de importante grandeza dentro da estética romântica, conforme
nos diz Moisés: “Organismo proteiforme, vulto de mil faces, o Romantismo mergulha
raízes na crise de cultura que revolve o século XVIII e prepara as mutações dos tempos
modernos” (1985, p. 5). Esta frase também pode ser comparada as atitudes da mulher
Aurélia, porque esta ficava dividida entre sofrimento e emoção, desejo de amar e
vingar-se, anseia perdoar, mas é orgulhosa, é humilhada e humilha, porém o sentimento
amoroso permanece. Isto comprova que ela é uma mulher de muitas faces, onde sofre
várias mutações no decorrer deste grandioso romance urbano, conhecido como
Senhora.
Ser “pertencente” ao chamado sexo feminino, definitivamente não é uma tarefa
fácil, ainda mais, quando se trata deste contexto no século XIX, pois as mulheres
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conquistaram com enorme batalha e dedicação a tão esperada “igualdade”. Mas, para
que este caminho fosse percorrido com sucesso, houve muitas lágrimas, sofrimentos e
corações partidos, não tão somente no âmbito econômico, como também cultural e
político. A exclusão da mulher vem desde a antiguidade remota e ocupar um lugar de
“destaque” na sociedade foi, e é, um trabalho doloroso para a alma feminina. Todavia,
aos poucos este ser “frágil”, “donzela” e “inexperiente” está alcançando a tão sonhada
“alforria” nas entranhas deste meio, que é chamado de sociedade. Porém, conquistar a
liber-dade, apenas com estes desígnios (mulher, concessão e transgressão) é um tanto
utópico, se não sarcástico. Porque, estes elementos são definidos como:
Mulher: 1. Pessoa do sexo feminino; 2. Pessoa do sexo feminino depois
da puberdade; 3. esposa. (AMORA, 2003, p. 45). [...] Concessão: 1.
Ação de conceder, autorização; 2. privilégio concedido pelo Estado,
para determinar exploração; 3. favor. (Id., ibid., p. 161). [...]
Transgressão: 1. Ação ou efeito de transgredir; 2. Infração (Id., ibid.,,
p. 732).
Note que Aurélia, apenas por ser uma mulher, já é “vista” como uma escrava,
não que ela a seja de fato. Mas se tomarmos como análise, as definições de Amora,
acima, este termo escrava serve perfeitamente a personagem. Pois, podemos dizer que
ela é escrava de seu amor por Seixas e de seu destino, porém a jovem de espírito
guerreiro, não mede esforços para realizar seu desejo, em qual Thiengo nos contata:
“[...] começa a dominar as pessoas, manipulando-as conforme seus interesses,
submetendo-as à sua vontade [...] a moça modesta [...] é rapidamente substituída pela
moça voluntariosa e desdenhosa [...]” (2008, p. 11). A jovem, que antes era modesta e
apaixonada, agora se vê transtornada e enlouquecida pelo desejo insano de “adotar” o
amado. Segundo Thiengo “a personagem Aurélia age movida pelo sentimento amoroso
[...] a heroína deposita toda a sua esperança de felicidade na união com o homem que
ama [...]” (2008, p. 11).
Não a abandonou o pensamento da vingança [...] Nas alternativas desse
desejo de vingança amiúdo con-trariado pelos generosos impulsos de
sua alma [...] (ALENCAR, 2006, p. 129).
Apesar de toda angústia, decepção e sofrimento de Aurélia, a mesma, foi uma
mulher moderna em sua época. Alencar nos relata: “A natureza dotara Aurélia com a
inteligência viva e brilhante da mulher de talento, que se não atinge ao vigoroso
raciocínio do homem, tem a preciosa ductilidade de prestar-se a todos os assuntos, por
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mais diversos que sejam [...]” (2006, p. 68). Sendo assim, uma das características desta
“futura geração feminina” é quando ela toma frente aos negócios, conforme nos diz
Alencar: “[...] sei também muitas coisas que ninguém imagina. Por exemplo: sei o
dividendo das apólices, a taxa do juro, as cotações da praça, sei que faço uma conta de
prêmios compostos com a justeza e exatidão de uma tábua de câmbio” (2006, p. 21).
Este posicionamento da moça não era comum no século XIX. Aurélia, também nos
permite imaginar como era a vida de uma mulher pobre no Segundo Império.
Aurélia é quem suportava todo o peso da casa. Sua mãe, abatida pela
desgraça e tolhida pela moléstia, muito fazia, evitando por todos os
modos tornar-se pesada e incômoda à filha. Envolvera-se ainda em vida
em uma mortalha de resignação, que lhe dispensava o médico, a
enfermeira e a botica [...] Os arranjos domésticos, mais escassos na casa
de pobre, porém de outro lado mais di-fíceis, o cuidado da roupa, a
conta das compras diárias, as contas do Emílio e outros misteres,
tomavam-lhe uma parte do dia; a outra ia-se em trabalhos de costura
(ALENCAR, 2006, p. 69).
Trata-se de uma personagem ampla, que permite penetrarmo-nos nas mais
diversas camadas e campos sociais carioca. Ela retrata com um valor inquestionável a
realidade de seu tempo, principalmente a conduta feminina, a aristocracia machista e um
meio social sem escrúpulos, movido pela ganância. Com um histórico de vida, não tão
heróico, sacrifica a “nova vida” pelo idealismo da alma.
[...] a personagem é um habitante da realidade ficcional, de que a
matéria de que é feita e o espaço que habita são diferentes da matéria e
do espaço dos seres humanos, mas reconhecendo também que essas
duas realidades mantêm um íntimo relacionado [...]. É somente sob essa
perspectiva, tentativa de deslindamento do espaço habitado pelas
personagens, que podemos, se útil e se necessário, vasculhar a
existência da personagem enquanto representação de uma realidade
exterior ao texto (BRAIT, 1985, p. 11).
A partir dessa visão, de desprender a personagem Aurélia do mundo fictício
para a realidade, Brait nos mostra que o autor Alencar, reproduziu de maneira sucinta e
diferenciada, a evolução das conquistas femininas, o amor que lhe foi “roubado” e a luta
para reconquistá-lo, independentemente do preço a ser pago. A sociedade corrupta, o
homem sem escrúpulos, que mais tarde busca pela honra, a mulher desesperada e
vingativa, que vai a luta e consegue o tão merecido “mérito”.
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Romances de intriga, de entretenimento, de namoro adolescente, giram
em torno do conflito entre duas forças igualmente poderosas: o amor e o
dinheiro. Não raro, o lastro de moralidade comum à mundividência
romântica compete o romancista a inserir no binômio um termo
decorrente ou paralelo: a honra. E esta, identificada ou não com um dos
antagonistas, empresta ao drama juvenil a verdade que lhe falta no
momento (MOISÉS, 1985, p. 95).
Também podemos comparar a moça Aurélia, com algumas partes da obra de
Marçal Aquino, et al., intitulada Sete Faces da Mulher. Nela, em seu primeiro capítulo
Aquino et al fala sobre a Mulher Fatal: “A mulher fatal é sedutora, ela sabe que no
mundo masculino, tem de usar a sedução como arma de afirmação social” ([s/a], p.11).
Porém, Aurélia não usou de sua sedução para adquirir Seixas, mas ela possuía uma
beleza “infernal”, arrebatadora.
Na sala, cercada de adoradores, no meio das esplêndidas reverberações
de sua beleza, Aurélia bem longe de inebriar-se da adoração produzida
por sua formosura, e do culto que lhe rendiam [...] E o mundo é assim
feito; que foi o fulgor satânico da beleza dessa mulher a sua maior
sedução. [...] Se o sinistro vislumbre se apagasse de sú-bito, deixando a
formosa estátua na penumbra suave da candura e inocência, o anjo casto
e puro que havia na-quela, como há em todas as moças, talvez passasse
despercebido pelo turbilhão [...] (ALENCAR, 2006, p. 10).
Apesar de sua imensa e adorada formosura, ela não conquista o amado, então
usa do único artifício, que naquele momento lhe era infalível, o tão afamado dinheiro.
Com esta atitude, transgride a relação do casamento perfeito, pois compra, de fato, o
marido. Segundo Thiengo: “Pela voz do narrador, ficamos sabendo que o único desejo
da heroína unir-se mediante um voto perpétuo, ao destino do homem por ela escolhido:
a mulher torna-se parte do homem, o seu outro” (2008, p. 2).
Aurélia pode ser considera uma mulher traidora. Em qual, Aquino et al a
define: “[...] a mulher traidora, a que propositalmente lança seu veneno, estuda a vítima,
calcula os botes, dá a picada final...” ([s/a], p.26). Independentemente do que a
sociedade achava ou pensava a respeito do comportamento da jovem Aurélia, sem se
importar com as críticas e as infâmias, ela aproveitou da situação decadentemente
financeira da pessoa amada, para “conquistá-lo”. Para Aquino et al., “Entre a santa e a
política, encontramos inúmeros relatos de heroísmos cotidianos, praticados por
mulheres comuns...” ([s/a], p.34), esta, segundo ele é a mulher redentora. Aurélia, com
certeza pode ser uma desta, não como Olga Benário ou Rosa Luxemburgo, mas como
uma mulher capaz de reconhecer seus erros e pedir perdão.
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– Pois bem, agora ajoelho-me eu a teus pés, Fernando, e suplico-te que
aceites meu amor que nunca deixou de ser teu, ainda quando mais
cruelmente ofendia-te. – Aquela que te humilhou, aqui a tens abatida,
no mes-mo lugar onde ultrajou-te, nas iras de sua paixão. Aqui a tens
implorando teu perdão e feliz porque te adora, como o senhor de sua
alma [...] Pois faz-me viver, meu Fernando. É o meio de a repelires. Se
não for bastante, eu a dissiparei (ALENCAR, 2006, p. 182).
A formosa protagonista alencariana pode ser também, uma rival masculina, não
tão somente nos negócios, mas na impetuosidade, na busca de seus ideais. Porém, a
sociedade em geral, possuía restrições para com a figura feminina, mas não houve
limitações que impedissem a bela heroína de seguir em frente. Este ato, comprova
Aquino et al: “Através dos séculos, os papéis desempenhado pelo homem e pela mulher
sempre foram bem limitados”( [s/a], p.26).
A protagonista de Alencar pode ser uma mulher inatingível. Aquino et al faz o
seguinte comentário sobre a mesma: “Uma mulher adorada a distância, bela e
inatingível, pode vir a ser aquela a quem se convencionou a chamar de “musa
inspiradora”. ([s/n], p. 99). Aurélia não só seria a musa dos homens, mas principalmente
das mulheres da época. Thiengo observa: “[...] leque estreito de possibilidades oferecido
à mulher, cuja identidade se estruturava basicamente em torno dos ideais do amor e
casamento” (2008, p. 2). Contudo, a moçoila alencariana almejava este “ofício”, mas ela
era a que “ditava as regras”, escrevia as suas Leis e buscava o seu sonho, o homem
amado. Por isso, várias almas femininas a via como uma mulher inalcançável ou
exemplo a ser seguido.
Portanto, Aurélia transgressora do papel da mulher na sociedade ou não, o fato
é que ela abriu novas visões para as mulheres, em qual Thiengo a compara com: “[...] a
construção da identidade das leitoras brasileiras do século XIX” (2008, p. 15). Ela
definitivamente revolucionou a maneira do sexo feminino se portar perante a sociedade
machista, de pensar sobre o futuro, de agir pelos benefícios do amor e tomar “as rédeas”
da própria vida.
[...] uma nova maneira de enfrentar os problemas da vida e do
pensamento, implica uma profunda meta-morfose, uma verdadeira
revolução histórico-cultural, que abrange a filosofia, as artes, as
ciências, as religiões, a moral, os costumes, as relações sociais e
familiares [...] opera-se, em suma, o domínio amplo das fórmulas
burguesas de viver e pensar, com todas as suas múltiplas e complexas
consequências [...] (MOISÉS, 1999, p. 116).
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Enfim, Aurélia Camargo criada pelo escritor Alencar, e que foi chamada de
Senhora, pelo fato de comprar o noivo, como se ele fosse literalmente um escravo,
traçou o seu próprio destino. Esta obra retrata como nenhuma outra a revolução
feminina, as relações humanas e seus conflitos da época. Mostra uma sociedade
mascarada em que as moças deveriam ter um compor-tamento estereotipado,
obedecendo às normas do bom comportamento impostas pela sociedade, para não
causar má impressão. Graças à impetuosidade de Aurélia, a mulher começou a ver seu
posicionamento no contexto social de outra maneira, com mais utilidade, brilho e poder,
ainda que, a pedido do público leitor da época, Alencar tenha redimido sua transgressão,
por meio de um marcante pedido de perdão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALENCAR, José de. Senhora. São Paulo: Ciranda Cultural editora e distribuidora,
2006. 192 p.
AMORA, Antônio Soares. Minidicionário Soares Amora da língua portuguesa. 17
ed. São Paulo: Saraiva, 2003. 818 p.
AQUINO, Marçal et al. Sete Faces da Mulher. 5 ed. São Paulo: Moderna, [s/a].
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. 34 ed. São Paulo: Cultrix,
1999.
BRAIT, Beth. A Personagem. São Paulo: Ática, 1985. 95 p. Série Princípios.
MOISÉS, Massud. A Literatura Portuguesa. 29 ed. São Paulo: Cultrix, 1999. 326 p.
MOISÉS, Massud. História da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1985.
THIENGO, Mariana. O Perfil da mulher no Romance Senhora, de José de Alencar.
Revista Travessias: Educação, Cultura e Arte, Paraná, 3 ed. 2008. Disponível em:
<http://www.unioeste.br/ travessias >. Acesso em: 11 maio 2011. WIKIMEDIA
FOUNDATION. Enciclopédia Wiki. 15 de Jan. 2001. Disponível em:
<www.wikipedia.org>. Acesso em: 03 maio de 2011.
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