O percurso artístico da pintora Aurélia de Souza
Resumo
A pintora portuense, Aurélia de Souza foi uma artista versátil, quer em géneros temáticos, quer
em formas de expressão artística. Dotada de grande qualidade plástica e de forte determinação
pessoal, conseguiu alcançar o atributo de ser considerada entre os seus pares masculinos, feito
inigualável na época. Com uma formação académica tardia, inicia-se na Academia de Belas
Artes do Porto e prossegue estudos na Academia Julian, em Paris. Depois de longa viagem
pela Europa, instala-se definitivamente no Porto, onde a vivência doméstica e familiar assume
grande importância nas suas obras.
Dados biográficos
A pintora Aurélia de Souza nasce em 1866, no Chile, enquanto os seus pais aí estavam
emigrados e ligados à comercialização de madeiras para a construção das linhas férreas. A
quarta filha regressa à Pátria paterna com 3 anos de idade e desde cedo, revela uma enorme
aptidão para a arte do desenho. A sua sensibilidade foi, várias vezes, testemunhada por
aqueles que a rodeavam, como refere a sobrinha, Maria Feliciana Correia de Oliveira1: “Um
dia, foi encontrada por sua mãe, exposta ao sol, na varanda, num choro infindável. A Avó
Olinda, muito aflita, indagou o que acontecera. A resposta, rápida e desconcertante, foi dada
com um sorriso: - Estou a ver as cores das lágrimas ao sol”.
Outro episódio2, relata os desenhos com que cobria os livros onde aprendia a ler e que
ilustravam a história do “Menino do Olho Vivo”, inventada por si.
Sua mãe decidiu-se a propiciar-lhe formação a esse nível, tendo chamado Caetano da Costa
Lima para lhe dar aulas privadas de desenho e pintura, a partir de 1882. Seguiu-se outro
professor que a aconselhou a prosseguir estudos na Escola de Belas Artes.
Estudos académicos e percurso artístico
Contra vontade materna, por não ser considerada uma actividade adequada a uma senhora
e num meio, habitualmente, irreverente, acaba por concretizar esse desejo, inscrevendo-se
no curso de Desenho Histórico em 1893. Nesta decisão é acompanhada por sua irmã, Sofia
Martins de Souza, também ela com atributos artísticos e com quem passa a partilhar, passo a
passo, uma vida dedicada à Arte. Aurélia conclui o curso em 1896 e, ao contrário do percurso
das (poucas) artistas femininas de então, prossegue estudos em Pintura Histórica, com o mestre
Marques de Oliveira. Aí exercita as disciplinas de Nu, Modelo Vestido, Estudos da Composição,
Pintura de Género e Pintura Histórica.
Graças à sua capacidade artística, consegue fazer o 1º e 2º ano em simultâneo, pelo que requer
1 OLIVEIRA, Maria Feliciana de Souza Ortigão Sampaio Corrêa de - As pintoras Aurélia de Souza e Sofia M. de Souza. Porto:
Tip. Rocha. 1964
2 Idem
Materiais e Técnicas de Pintores do Norte de Portugal – Processo nº 3-6-15-6-1199 (QREN)
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permissão para realizar o 3º ano, logo em 1897. A 12 de Outubro do ano seguinte, inscreve-se
no 4º ano, que não chega a concluir pois decide partir para Paris, em 1899. Também, nesta
estadia de formação é acompanhada por sua irmã, Sofia, que só chega à capital francesa, um
ano mais tarde.
Na viragem do século, França e, sobretudo, Paris constituíam o centro incontestado da
Arte, de passagem obrigatória para quem se queria afirmar no ofício. Paris era o ponto
de partida para novas estéticas e também o ponto de encontro entre artistas de todas as
nacionalidades.
Não só o movimento estético do naturalismo aí tinha florescido (em meados do séc. XIX),
fruto de um novo gosto pela representação ao ar livre a que os arredores de Paris não foram
alheios: a construção da linha férrea Paris-Lyon (1842-1849) veio tornar acessível a floresta de
Fointainbleau, local de inspiração e de experimentação para toda uma geração de artistas3.
Barbizon, a pequena povoação que acolheu, temporariamente ou de forma permanente,
(Rousseau e Millet aí viveram até ao fim dos seus dias) os artistas ávidos por explorarem, de
forma directa, a multiplicidade de formas da natureza, veio a simbolizar o espírito de abertura
aos temas de costumes, ao apreço pela luz e suas subtilezas, em oposição ao academismo que
se vivia na École des Beaux-Arts e no Salão oficial de Paris.
Mais tarde, é também em Paris que se assiste ao nascimento do movimento impressionista,
personificando uma contestação à corrente académica oficial, onde os seus membros eram,
regularmente, banidos das exposições dos Salões, pelo que, em contrapartida, organizavam os
seus próprios eventos, como foi o caso da primeira exposição realizada em 1870.
A um nível mais alargado, foi igualmente em Paris, que na passagem do século, teve lugar a
Exposição Universal, visitada por Aurélia e sua irmã, onde se enalteciam os progressos das
quarenta nações representadas no campo da tecnologia, da ciência, das artes plásticas e das
artes decorativas, entre outras.4
Foi este panorama de efervescência e de constante estímulo que Aurélia encontrou, na capital
francesa, durante o seu triénio de formação. A forma como o ensino artístico estava organizado
também contribuiu para granjear mais candidatos, que no regresso aos locais de origem,
difundiam a ‘marca francesa’. Como refere Mª João Ortigão de Oliveira5, “…a supremacia
estética francesa era inquestionável: resultado sobretudo do sistema de ensino que facilitava
aos estrangeiros o acesso à École des Beaux-Arts – que só começou a admitir mulheres em
1897 – e mercê dos cerca de cinquenta ateliers e academias que preparavam os alunos para tal
admissão; graças à actividade cultural e artística com a proliferação de salons e exposições das
mais diversas temáticas e origens, Paris tornou-se o ponto de encontro de todos os aspirantes
a artistas, na Europa, na Ásia e na América”.
3 CABRAL, J. M.P.; Ribeiro, I.; Cruz, A.J. - As relações entre a fotografia e a pintura. In HENRIQUES, Ana De Castro (coord.) - Silva
Porto, 1850-1893: Exposição Comemorativa do Centenário da sua Morte. Museu Nacional de Soares dos Reis. Lisboa: Instituto
Português de Museus. 1993, p. 33-35;
4 OLIVEIRA, Maria João Lello Ortigão de - Aurélia de Souza em contexto: a cultura artística no fim do século. Lisboa: Imprensa
Nacional-Casa da Moeda. 2006. (Colecção arte e artistas), p. 25
5 Idem, p. 342
Materiais e Técnicas de Pintores do Norte de Portugal – Processo nº 3-6-15-6-1199 (QREN)
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Os estrangeiros, para poderem ingressar na École de Beaux-Arts tinham que superar uma
prova linguística, dificuldade que terá sido explorada pela Academia Julian, para propiciar
aprendizagem a artistas oriundos da América, Rússia, Austrália, Suiça, Irlanda, Suécia, Turquia,
Egipto, Sérvia, Alemanha, Escócia, Espanha e Portugal6. O acesso de mulheres artistas também
foi, habilmente, fomentado por esta academia, já que lhes era vedado entrar na École de
Beaux-Arts, até 1897.
Mas, paralelamente, a estes factores, o seu fundador, Rodolphe Julian, foi capaz de criar um
ensino artístico, de cariz profissionalizante, para mulheres artistas, habitualmente, limitadas a
um carácter de amadorismo.
Foi precisamente nesta prestigiada academia que Aurélia prosseguiu os seus estudos, não
como bolseira, devido à idade, mas a expensas de uma irmã e cunhado.
Na Academia Julian tem como mestres Benjamin Constant (discípulo menor de Delacroix) e
Jean Paul Laurens (amigo de Rodin e ilustre pintor de História). A filosofia imperante era a de
não impor um estilo único mas incentivar os alunos a descobrir as suas próprias formas de
expressão.
Aparentemente, num meio de maior imparcialidade entre artistas de diferentes sexos, Aurélia
é distinguida com um prémio, em 19007 mas não deixa de fazer referência à preferência que
é dada ao género masculino e a quem são atribuídas a maioria destas honras. O facto de não
ser bolseira, não a condiciona quanto à avaliação da sua aprendizagem, pelo que submete,
periodicamente, trabalhos a Marques de Oliveira, seguindo a prática vigente entre os primeiros.
Também de Paris8, submete, não à crítica académica mas ao grande público, obras para uma
exposição na Galeria da Misericórdia do Porto, em 1901.
Durante os Verões da sua estadia, viaja com Sofia até à Bretanha, seguindo a tradição de tantos
dos seus congéneres: Silva Porto (1850-1893), Veloso Salgado (1864-1945), Sousa Pinto (18561939), Jaime Verde (1863-1945) ou Carlos Reis (1863-1940), entre outros. É desse período que lhe
estão atribuídos obras como, Volta do Mercado, Bretã (Fig. 1) ou A procissão das Filhas de Maria.
Depois desta formação, atestada por Rodolphe Julian em 30 de Abril de 19019, Aurélia e
Sofia iniciam o regresso ao Porto, após prolongada viagem por Flandres, Bélgica (Antuérpia),
Holanda (Amesterdão e Haia), Berlim, Florença, Veneza, Sevilha e Madrid.
No Porto, onde vive até ao fim dos seus dias, dedica-se a organizar e a participar em exposições
de arte (Galeria da Misericórdia, Sociedade Portuense de Belas-Artes, Sociedade Nacional
de Belas-Artes, Associação Católica do Porto e Palácio de Cristal), à leccionação particular,
à ilustração e à fotografia. A sua dedicação à arte é total, conseguindo viver da sua própria
actividade profissional.
Morre em 1922 na Quinta da China, onde viveu a maior parte da sua vida mas continua a fazer
viagens ocasionais por diversos países da Europa.
6 Idem, p. 25
7 Idem, p. 360
8 Idem, p. 357
9 Idem, p. 365
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Figura 1 – Bretã-Auray
Colecção particular; Óleo s/tela; 61 X 73cm; In SILVA, Raquel Henriques da, Aurélia de Souza, Edições Inapa,
1992, p. 42
A obra, as temáticas e as influências sentidas
A obra atribuída a Aurélia, que compreende um universo de cerca de 300 obras, entre pintura,
pastel, ilustração, desenho e fotografia, encontra-se, sobretudo em ambiente privado, sendo
excepções as colecções da Câmara Municipal do Porto (CMP- 34 obras existentes na CasaMuseu Marta Ortigão Sampaio), da Câmara Municipal de Matosinhos (CMM - 21 obras) e do
Museu Nacional Soares dos Reis (MNSR - 13 obras). Em menor escala, têm acervos da artista,
a Escola Superior de Belas Artes do Porto (ESBAP - 2 obras), o Museu do Chiado (MNAC), a
Santa Casa de Misericórdia do Porto (2 obras), o Museu do Abade Baçal, a Fundação Casa de
Bragança (2 obras), a Casa-Museu Teixeira Lopes e o Instituto Arq. José Marques da Silva (1
obra).
As temáticas escolhidas pela artista reflectem, em grande parte, não só temas comuns à esfera
feminina da época – flores e naturezas-mortas – traduzidos em telas como Flores, Livros e
um copo com água (CMM nº 4937) ou Jarros na borda de uma taça (CMP nº 78.31.35) (fig.
2); como a vivência pessoal da artista em ambientes íntimos e familiares, representados em
interiores como, Interior com mãe de artista (CMP nº 78.31.06) ou No atelier (MNAC nº 279)
(fig. 3).
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Figura 2 – Jarros na Borda de uma Taça
(CMP nº 78.31.35); Óleo s/tela; 74 X 92cm; In SILVA,
Raquel Henriques da, Aurélia de Souza, Edições
Inapa, 1992, p.50
Figura 3 – No atelier
(MNAC nº 279); Óleo s/tela; 55 X 48cm; In SILVA,
Henriques da Silva, Museu do Chiado: Art portugais
(1850-1950)¸IMC,1994, p. 175
Um subtema do anterior, são as reading-women que foram, recorrentemente, exploradas por
Aurélia, onde era costume incluir familiares seus em composições domésticas, Sofia M. Souza
lendo à mesa (CMM nº 4924) (fig. 4). Este intimismo e interesse por cenas do quotidiano
parece resultar da influência que os antigos mestres holandeses exerceram sobre a sua obra.
Figura 4 – Sofia M. Souza lendo à mesa
(CMM nº 4924); Óleo s/tela; 45 X 39cm; In MATOS, Lúcia Almeida – A Luz na Sombra: Aurélia de Souza 18661922, Matosinhos Câmara Municipal
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O género Paisagem, com ou sem figuras, nuns casos com elementos arquitectónicos ou com
a presença do rio, foi um tema que lhe mereceu muita atenção. Inspirada pelas paisagens
circundantes da Quinta da China, representou vários aspectos desta, tendo chegado a repetir
a mesma composição, mas com abordagens plásticas distintas, como foi o caso de Paisagem
fluvial ao entardecer (CMM nº 4923) (fig. 5), de Vista sobre o rio Douro - Areiinho (CMM nº
4933) (fig. 6) e de Paisagem - Margens do Douro (Fundação Casa de Bragança) (fig. 7).
Figura 5 – Paisagem fluvial ao entardecer
CMM nº 4923); Óleo s/madeira; 11,7 X 18cm; In
OLIVEIRA, Mª João Ortigão, Aurélia de Souza em
contexto: a cultura artística no fim do século, p. 390
Figura 6 – Vista sobre o rio Douro - Areiinho
(CMM nº 4933); Óleo s/tela; 39,4 X 54cm; In Idem, p.
391
Figura 7 – Paisagem – Margens do Douro
(Col. Fundação Casa de Bragança); In Idem, p. 392
Esta repetição temática, que estimulava a experimentação composicional, a comparação de
efeitos luminosos, de texturas e técnicas pictóricas foi exercício de outros pintores próximos
de Aurélia como Monet (nenúfares), Cézanne (Ste Victoire), Turner (rio Tamisa)10.
O género Paisagem foi representado em suportes distintos, dos quais fazem parte pequenos cartões
que poderão ter sido um auxiliar precioso nos passeios de bicicleta que realizava aos arredores da
10 MATOS, Lúcia Almeida – A Luz na Sombra: Aurélia de Souza 1866-1922. Matosinhos, Câmara Municipal, Galeria Municipal.
2009, ISBN 978-972-9143-62-5
Materiais e Técnicas de Pintores do Norte de Portugal – Processo nº 3-6-15-6-1199 (QREN)
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cidade, com a sua irmã Sofia, em busca de locais rústicos para pintar cenas ao ar livre11.
Outro género que desenvolveu com bastante regularidade foi o retrato (auto-retratos, retratos
específicos ou desconhecidos), a que não deve ser alheio o treino obrigatório e académico da
Academia portuense – o Retrato do pai da Aurélia de Souza (CMP nº 78.31.115) parece ser
deste período – assim como o estímulo que terá recebido na Academia Julian, que entendia
este género como a grande via de profissionalização feminina. Nos seus múltiplos auto-retratos,
é interessante salientar aquele em que se veste de hábito franciscano, em alusão ao patrono
do dia de nascimento da artista, Santo António (Santo António, CMP nº 78.31.117) (Figura 8).
Este tipo de personificação é uma ocorrência comum em artistas da viragem do século, sendo
exemplo disso, António Carneiro que se fez representar em vários rostos de Cristo12.
Figura 8 – Santo António
(CMP nº 78.31.117); Óleo s/tela; 175 X 139cm; In SILVA, Raquel Henriques da - Aurélia de Souza. Edições
Inapa, 1992, p.35
Neste auto-retrato, em particular, também é de referir o cruzamento com a fotografia, em que
Aurélia se fez registar vestida de hábito, em diferentes poses, num acto preparatório à execução
da pintura13. O desenvolvimento desta nova forma de arte está, intimamente, relacionado com
a própria criação pictória, como é referido no caso de outro pintor seu contemporâneo, Silva
Porto14: “É bom lembrar que a fotografia apareceu para responder às necessidades da pintura,
11 OLIVEIRA, Maria Feliciana de Souza Ortigão Sampaio Corrêa de - As pintoras Aurélia de Souza e Sofia M. de Souza. Porto:
Tip. Rocha. 1964
12 CASTRO, Laura - Casa-Museu Marta Ortigão Sampaio. Porto, Câmara Municipal. 1996, p. 9
13 OLIVEIRA, Maria João Lello Ortigão de - Aurélia de Souza em contexto: a cultura artística no fim do século. Lisboa: Imprensa
Nacional-Casa da Moeda. 2006. (Colecção arte e artistas), p. 498
14 HENRIQUES, Ana De Castro (coord.) - Silva Porto, 1850-1893: Exposição Comemorativa do Centenário da sua Morte. Museu
Materiais e Técnicas de Pintores do Norte de Portugal – Processo nº 3-6-15-6-1199 (QREN)
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nomeadamente o desenvolvimento dum método expedito de registo de observações visuais
que substituísse, com vantagem, o tradicional caderno de esboços do artista. A fotografia foi
inventada por pintores (reais ou frustrados) para pintores. Daguerre (1787-1851) era pintor e
Fox Talbot (1800-1877) não era mas gostava de ter sido”.
Vários dos pintores que Aurélia admirava e de quem teve oportunidade de examinar as
obras enquanto viveu em Paris, como Manet (1832-1883) e Degas (1834-1917) recorreram,
frequentemente, à fotografia como auxiliar da criação15.
O seu interesse deve ter sido estimulado por estes (e outros) exemplos mas também pela
proximidade com o fotógrafo portuense, Aurélio Paz dos Reis, referida por Mª João Ortigão de
Oliveira16.
Conclusão
Aurélia de Souza soube corresponder às expectativas de uma clientela habituada a valores
estéticos, ditos, seguros onde as composições florais se inscreviam, por ter consciência da
importância que tinham, socialmente, e para a sua própria autonomia económica. No entanto,
este tema também lhe era querido, no sentido em que se dedicava, longamente, à jardinagem
na Quinta da China. Não descurou, por isso de criar composições mais arrojadas, como é o caso
dos Jarros na Borda de uma taça (CMP nº 78.31.35), em que jogou com a proporção exagerada
das flores, a transparência da pincelada no reflexo da água e sombras ou com a visibilidade
do desenho preparatório (?). Esta expressividade plástica e a capacidade de transmitir uma
interioridade psicológica (mais presente nos géneros Interior e Retrato) é que, nas palavras
de José-Augusto França17, a tornaram “…verdadeiramente, a primeira pintora portuguesa…”
Referências
SILVA, Raquel Henriques da - Aurélia de Souza. Lisboa: Edições Inapa. 1992
Arte Reconhecida: Exposição de Homenagem à Grande artista D. Aurélia de Souza. Porto.
Palácio de Cristal. 1936
SILVA, Henriques da Silva - Museu do Chiado: Art portugais (1850-1950). Lisboa: Instituto dos
Museus e da Conservação.1994
Homenagem a Maria Feliciana. Matosinhos, Câmara Municipal. Edições Afrontamento Lda.
1996. ISBN 972-36-0409-4
Nacional de Soares dos Reis. Lisboa: Instituto Português de Museus. 1993, p. 26
15 Idem, p. 29
16 OLIVEIRA, Maria João Lello Ortigão de - Aurélia de Souza em contexto: a cultura artística no fim do século. Lisboa: Imprensa
Nacional-Casa da Moeda. 2006. (Colecção arte e artistas), p. 532
17 FRANÇA, José-Augusto - A Arte em Portugal no século XIX. 3ª ed. Lisboa : Bertrand Editora. 1990. ISBN 972-25-0060-0. Vol.
II, p. 246
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