16° Encontro Nacional da Associação Nacional de Pesquisadores de Artes Plásticas
Dinâmicas Epistemológicas em Artes Visuais – 24 a 28 de setembro de 2007 – Florianópolis
“ESTADO DE ARTE”
UM PROJETO DE VIVÊNCIA ARTÍSTICA NO INTERIOR PERNAMBUCANO
SUZANA MARANHÃO DE AZEVEDO MELLO
ARTE EDUCADORA
LICENCIADA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
O PROJETO
A idéia de mapear o chão pernambucano resgatando a cultura através da arte,
deixou de ser um sonho antigo, quando se tornou ação com o projeto “Estado de
Arte”. Iniciei essa caminhada, atendendo ao convite de ¹Ana Veloso para participar
de um projeto concebido por esta artista autodidata, com currículo extenso, 30
anos de arte, sucesso de mercado e prêmios. Ana Veloso tem uma temática
voltada para a cultura e aspectos econômicos da vida nordestina e me ofereceu a
oportunidade de parceria ainda na fase embrionária do trabalho.
Maturamos e desenvolvemos juntas as ações, onde vislumbramos a emancipação
do interior pernambucano e o resgate de sua cultura através da arte.
Cantar o meu chão, sempre foi um tema escolhido por mim. É veículo para
proclamar o meu lugar com formas, cores e letras. Em busca do belo, me jogo
inteira na alma da minha terra.
A beleza é uma das abstratas faces, que o afeto humano projeta sobre tudo
quanto lhe é caro.
“A beleza não existe em lugar algum, a beleza
é o nome que eu dou às coisas, em troca do
agrado que elas me fazem”.
Fernando Pessoa.
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Pernambuco, com relevante desempenho na formação cultural brasileira, é ainda
carente de atenção e registros no seu fazer artesanal e artístico. Carece de
estímulos e levantamento da produção existente.
Instrumentalizar a criatividade é mister da técnica. Nos caminhos da arte, essa é a
ferramenta usada no processo criativo ao longo da história e tem na pesquisa, um
inesgotável poço inovador.
A técnica e a criatividade, ganham igual importância, quando ambas dispõem de
seus atributos, para resolver o intrincado labirinto de acender o belo.
Da têmpera à pintura acrílica, dos compassos e réguas ao computador, o artista
se cerca sem cerimônia, para melhor colocar em qualidade e precisão o seu
trabalho.
Numa inegável soberania da criatividade, encontramos nos rincões do nosso
Estado, entre aqueles que qualificamos de artesãos, figuras que esbanjam
artisticidade e técnicas desenvolvidas a partir da sua experimentação e que são
instrumentalizadas com o que está ao seu alcance.
Note-se a apropriação feita de pneus usados, de cacos de vidro, do galho do
“pereiro”, do “mulungu”, da “cana brava”, dos “mariscos”, das “cabaças de rama” e
do barro; esse barro dessa terra!
Em ²Serra dos Ventos, Volta do Rio, Itacatu, Pontas de Pedra, não há curadores
classificando tendências ou estilos. Não há “insight”, mas inspiração vinda dos
bodes e cabras, do horizonte seco povoado de jurema preta, dos canaviais, ou do
branco da areia recebendo o mar.
É um manancial inesgotável para a reverência da arte pernambucana.
Pontuar uma louvação a nossa arte inusitada, ao nosso artista desconhecido,
perdido no interior sem ciência de si mesmo, é uma reza, um bendito que me
apraz entoar.
Por Pernambuco inteiro pululam idéias, soluções artísticas equacionadas com a
riqueza da diversidade própria de cada braça de terra; da praia à caatinga.
Idéias que se materializam, são fruídas e consumidas nas feiras semanais pela
gente local sem alarde. São verdadeiros salões sem aberturas pomposas, sem
mídia e sem frescura.
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Passei a desenvolver o conceito do que seria o meu deslocamento do Recife para
viver no interior como um habitante local. Viver, num mesmo tempo de vida, um
espaço paralelo.
Experimentei que curtir essa gente em seus hábitos, contando as horas em outro
ritmo, esse clima variado, essa paisagem fragmentada em cores e formas como
caleidoscópios , é a mais contemporânea expressão artística que concebo para
resolver com a minha ação.
Enquanto estou mexendo com todos os meus sentidos, estou instigando o
movimento do outro.
Faço registro com a ajuda da fotografia e do vídeo. Preencho o espaço do meu
tempo presente com a emoção. Performática, me coloco reunindo elementos,
catalogando e empilhando imagens na minha memória, projetando expectativas
que influenciam minhas ações.
Por um período em que volto para minha vida de origem, me imobilizo, me
distancio. Volto outra vez à ação exercendo a repetição e inserindo no contexto
novos elementos.
Dentro do projeto encontro um novo caminho para produzir arte. Minha pesquisa
pessoal está parindo resultados coletivos.
O projeto é vitorioso em Serra dos Ventos, município de belo Jardim, Agreste
meridional do Estado e pontua ações nas seguintes frentes:
•
No contato e interação com o artesão / artista local;
•
na minha interferência, na interferência da parceira e dos artistas
oficineiros, no estilo de vida e mentalidade local;
•
na interferência de todos nós na produção artesanal e artística do lugar.
Há ainda um compromisso com a produção pessoal. Aí eu revisito as técnicas,
agrego elementos da região e resolvo plasticamente a minha vivência dando um
corpo matérico ao meu processo.
O meu exercício dá um enfoque novo ao fazer artístico e ao mesmo tempo bebo
na fonte da habilidade espontânea, que reflete a pureza da cultura popular. É um
trabalho interativo.
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O “Estado de Arte” está aprovado pelo Ministério da Cultura e a captação, ainda
incompleta, tem ³parceiros estatais e particulares. Já tem 06 meses de
estabelecido e está previsto para funcionar durante 18 meses.
O entorno e o processo de apropriação.
Antes do projeto ser aberto e funcionar como tal, Ana Veloso e eu, com a ajuda da
Prefeitura Municipal de Belo Jardim, começamos a sensibilização do público alvo
visitando a população nas casas, nos sítios e arredores.
A região é de muitos curtumes, portanto logo descobrimos a raspa e o pó do couro
de caprinos. É refugo, cheira mal, precisa ser exposto ao sol para curar.
Com esse material, a raspa do couro especificamente, o ateliê de Ana Veloso
produz tapetes, bolsas, cobertura de móveis estufados, flores e colares.
Eu produzo papel com o pó do couro. Com a raspa construo suportes para aplicar
gravuras, fazer embalagens, etc.
Hoje, oficinas nessa área já andam sós. A busca agora é pelos dos artesãos da
cestaria. O uso do cipó foi ficando difícil para a região, uma vez que os outros
centros com mercado mais ágil, levam a matéria prima da área, sem o menor
controle das autoridades. O cipó está se tornando escasso por aqui.
É hora de passar para a palha da bananeira, cultura natural do lugar, para a palha
do milho e outras fibras ainda em pesquisa.
Os dois 4ateliês/residência, o de Ana Veloso e o meu, estão montados em duas
casas do povoado, aparelhadas com utensílios da região, tais como: panelas e
adornos de barro e palha, bancos de madeira rústica das feiras, etc.
Passamos assim para a população o gosto pelo décor simples e prático da
realidade local. Pretendemos com isso inflar sua auto-estima para que valorizem o
que é seu. É importante para o projeto, a mudança da mentalidade do homem do
interior com relação ao sonho da cidade grande, pois aí é aonde ele perde sua
identidade cultural e sua referência como pessoa.
A minha observação aprofunda captar o desencanto ou a saudade, nas pessoas
que experiênciaram a vida no “el dourado” – São Paulo.
Hoje há um grande contingente de nordestinos voltando à sua terra natal.
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Aqui, em Serra dos Ventos, onde a televisão apenas funciona com a antena
parabólica, o Sul passa a ser a grande meta de consumo. Observo a zona de
interseção entre a realidade e o sonho.
Os que ainda não ”viveram” e os que já “acordaram”, trazem a mudança registrada
no sotaque e na necessidade de afirmação.
Essa situação tem merecido minha atenção, para apropriação do sentimento
reinante em meu trabalho. Observo as duas vertentes: o desencanto e a
esperança e atesto em tudo que faço, uma preferência pelas cores locais.
Através da vivência junto à comunidade, vou fortalecendo a mudança de postura,
e o resgate da cultura. O fomento sócio-econômico vem com o ensino de técnicas
artísticas e como incentivo da produção artesanal abrindo assim, o mercado para
os produtos, a melhoria econômica, e o incremento do turismo.
Durante os 10 dias em que permaneço no local, acontecem oficinas com jovens
e/ou quaisquer pessoas interessadas. Sempre à tarde e à noite, respeitando o
horário escolar e os turnos de trabalho.
A cada mês, o projeto disponibiliza recursos para receber dois artistas convidados
nos ateliês, durante dois dias. Eles aplicam oficinas, estimulam o uso dos
materiais advindos do desperdício do entorno e da biodiversidade local. É intenção
do projeto, estimular os artistas visitantes a fazerem o mesmo em outras
localidades. O “Estado de Arte” quer fazer escola, para que Pernambuco
gradativamente seja tomado pela ação artística e usufrua dos seus benefícios em
prol da beleza de sua arte.
Ao lado da capacitação da população, será criado um Centro de Arte, que ao
término do projeto, permanecerá no local em casa cedida pela Prefeitura.
A abordagem técnica das oficinas é livre. Sempre a partir do material da vez, seja
barro, madeira, papel artesanal feito do pó ou da raspa do couro, (refugo dos
curtumes); das cascas secas do feijão; sacos de cimento rasgados; papelões sem
uso, sementes, palha de bananeira e poucos insumos como: cola branca, alguma
tinta, pigmentos naturais etc. O cipó é também uma matéria prima usada para
resgate da cestaria.
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A filosofia do projeto é trazer para o povo do lugar, o prazer e o orgulho de serem
regionais e a consciência de que assim caminhando, se tornarão universais.
É importante salientar que em cada ateliê existe uma galeria montada nos moldes
contemporâneos.
É necessário que a população local experimente uma fruição artística e tenha
contato com a contemporaneidade dos movimentos de arte.
As obras são produzidas e alimentam uma mostra que é permanente.
A galeria do meu ateliê contempla, além dos meus trabalhos, uma instalação
interativa com peças em cerâmica. Faço parceria com um artista local do Sítio
Rodrigues – Jailson. Dele são as cabeças de ex-votos, meus são os pés e a
montagem, onde disponho tudo em tripés de ferro e em posição de caminhada. O
texto “Pé na Estrada” que, como em todo meu trabalho acompanha a resolução
plástica, remete ao estado de alienação da nossa população.
... “Pé andarilho
Do povo perdido, dono do mundo”.
Suzana Azevedo/2006
Minha pesquisa tem nesse projeto, a base de observação para a promoção do
contexto artístico das diferentes habilidades encontradas nesse distrito. Tem sabor
de ministério, de compromisso.
AS OFICINAS
A seguir vou tecer alguns comentários sobre o processo das oficinas, para facilitar
a compreensão do trabalho desenvolvido até agora:
Oficina/Cerâmica
As “louceiras” trabalham sentadas no chão modelando o barro. A postura
compromete as pernas e coluna.
Um dos artistas convidado para fazer oficina de cerâmica por ocasião de uma das
visitas, foi o ceramista pernambucano 5Antônio Mendes. Trabalhou de forma
didática, carinhosa e procurou encontrar um modo de como facilitar o trabalho.
Fez uso de instrumentos como o arame, para maior segurança no descolamento
e transporte das peças cruas. Também cuidou de estimular o exercício já iniciado
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por Ana Veloso, que é o uso do registro do imaginário no trabalho. Tampas de
panelas ganham adornos com figuras de cabeças de boi, de lagartixas, de bodes
e de galinhas servindo de puxadores.
Ao lado da produção de peças, o ceramista incentivou a confecção de ladrilhos
com desenhos de cada participante na intenção de registrar a ação, em um painel,
como pede o projeto. Nesse percurso construtivo de um marco de tempo, a
artisticidade, a cumplicidade e a consciência de um trabalho especial, estiveram
presentes entre os participantes.
O artista antes de finalizar a oficina, agradeceu o privilégio do contato interativo e
foi aplaudido como nas aulas magnas.
Oficina/Pintura
O exercício das cores foi introduzido pelo pintor pernambucano 6Carlos Alberto
Pragana. A oficina ministrada por ele, trouxe como base as cores primárias.
De pintura gestual, Pragana desenvolveu uma oficina que teve um efeito
espetacularmente terapêutico no que particulariza o desenho preso aos modelos
infantis convencionados a traços antigos e figurativos pobremente acorrentados às
convenções, pouco ou nada particulares. Repetições estéreis.
Após Pragana, hoje com toda certeza, a artísticidade daquele público começa a
ser libertada. Já poderão ousar sem medo.
A oficina produziu um enorme painel, composto gestalticamente
Foram produzidas 28 telas uma de cada participante, integradas pelo traço solto
do artista.
A ação feita em presença de uma grande assistência, se transformou em
espetáculo.
Oficina/Gravura
Com cuidado, iniciei o meu trabalho de transformar lixo em beleza.
Sem ter feito de fato uma escolha, os adolescentes povoaram o meu atelier. Foi
bom. Os adultos penderam para o atelier de Ana Veloso.
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Posta assim uma seleção natural, passei a militar no que mais me apraz, lidar com
a formação de opinião. Com jovens isso é imensamente rico!
Os curiosos adolescentes, a princípio surpresos com as minhas oficinas de papel
artesanal, hoje produzem lindos papéis com o seu lixo e confeccionam
embalagens para consumo do comércio local, mercado aberto por eles próprios.
O papel artesanal feito do lixo, não implica em custos altos, é bom para o poder
aquisitivo do público em questão.
As oficinas que ministro com a feitura do papel, trazem a preocupação de agregar
a prática da gravura.
A região, embora virgem nessa arte, não desconhece a xilogravura pelo que
encadernam a literatura de cordel, comum em todas as feiras nordestinas.
Usando o miolo da madeira prensada, ligante natural e cores terrosas, crio
monotipias que, feitas nesse papel artesanal, conseguem dar a impressão do
relevo denso como a depressão do solo, como sementes e grãos. No exercício
deste fazer, a gravura vem como veículo para possibilitar a figuração das
diferentes texturas.
Cito aqui Delacroix , quando se reporta à função da gravura enquanto veículo:
“A gravura é uma arte que serve para reproduzir outra arte”
Delacroix /1857
Trago portanto, com essa técnica, a imagem do relevo do solo bruto e rachado
pelas ações contra o meio ambiente e do contexto leve da flora restante, rarefeita
e escassa em decorrência da depedração.
Figuro, assim, uma situação ambígua de peso e leveza.
O sistema de matrizes irregulares, feitas da parte interna da madeira rachada,
não serve para repetição. Portanto, após cumprirem sua função de gravar uma
imagem, são retrabalhadas, ganham nova identidade, não permitindo que seja
identificada sua verdadeira natureza. Adquirem aspecto de metal, de pedra etc.
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Faço um paralelo entre a precisão na aplicação da técnica da gravura e a
liberdade de ousar livremente, a exemplo das “feiras”, sem estilos ou escolas,
fazendo assim o meu próprio ensaio.
Trago para os meus “alunos” a tranqüilidade de fazer algo só seu, sob o
confortável pensar de um grande mestre, Oswald Goeld.
“Nunca sacrifiquei a qualquer modernismo o
meu próprio eu, caminhada dura,mas a única
que vale todos os sacrifícios”.
(Oswald Goeld, junho 1949)
O gravador e escultor 7Ypiranga Filho, visitou o projeto para ministrar uma oficina
de gravura.
O trabalho iniciou-se com os alunos aprendendo como fazer tinta gráfica com pó
xadrez e magnésio.
O professor também ensinou a fazer “fusen” de galhos de goiabeira e pitangueira,
cortados pelos alunos nos quintais da vizinhança. Técnica simples, usando latas
vazias para a queima do fusen a ser usado nos desenhos.
Com muita experiência e didática, o professor construiu com os alunos um grande
painel de papel artesanal, feito e gravado por eles.
Depois de gravadas, as unidades foram interligadas com mais polpa de papel.
Afixado em suporte de tela, o painel recebeu interferência do artista, que diante
dos alunos explicou o significado dos símbolos traçados pelo seu pincel.
Oficina/Arte Conceitual
Numa pincelada de atualidade, tivemos a experiência vivida no projeto pelas
artistas baianas 8Dr.ª Viga Gordilho da Universidade Federal da Bahia e pela
²Prof.ª Mestra
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Maristela Ribeiro da Universidade Estadual de Feira de
Santana/BA.
Na ocasião foram ministradas oficinas enfocando-se a auto-estima (ego) e a
interação entre o “eu” e o ”outro” (auterego), através de fotografias do indivíduo e
o seu “lugar de sonho”.
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O trabalho resultante dessa abordagem feita por Viga, compõe-se de um painel de
caixas trabalhadas com raspa de couro e papel celofane.
A doutora Viga Gordilho trabalhou as cores locais fazendo uma leitura da
paisagem e da imagem de cada participante, olhando através do papel. A artista
descreve assim o seu trabalho:
“Na oficina proposta, foi possível instigar crianças e adolescentes a participaremdo exercício de valorização da identidade
e alteridade, paralelo à criação de
artefatos culturais, tendo a poética visual como caminho. A percepção do entorno
é o ponto de partida e de referência. A imagem fotográfica a mediadora e o outro,
é parte integrante do processo. Todos são elementos coadjuvantes da
experiência. A proposta de “Como guardar o ar da Serra dos Ventos?”, visa
essencialmente a valorização da identidade de cada participante, utilizando
materiais oriundos do seu local de origem, a aproximação com o outro e a
participação de todas as instâncias envolvidas no processo. Uma situação
peculiar, inovadora e cheia de desafios, porque tem o diálogo perceptivo como
proposta transformadora”.
A professora Maristela Ribeiro compôs móbile feito com as fotocópias geradas de
pequenos painéis cobertos com raspa de couro usando a reprodução da imagem
fotografada da própria pessoa e sua interferência em si mesma. O objetivo da
artista está relatado abaixo :
“Esta oficina propõe a criação de um espaço de intercâmbio de idéias e
experiências, através da prática coletiva desenvolvida a partir da imagem do rosto
de cada participante, em contato com suportes e materiais do cotidiano da região
de Serra dos Ventos. Para a seleção desses materiais foram observados os
critérios de pessoalidade e intimidade, como fatores de referência de cada um, ou
seja, objetos que lhes são familiares e atraentes, tais como: sementes, flores
silvestres, folhagens desidratadas, fitas, botões, miçangas, etc., todos os materiais
que os participantes conhecem de perto”.
Pude constatar nessa oportunidade, que o meu público alvo, adolescentes dos 10
aos 16 anos, e os adultos que freqüentam o ateliê de Ana Veloso, viveram essas
oficinas completamente abertos para o salto: de caipiras à contemporâneos.
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Na verdade o tempo nos referenda a todos com a atualidade. Nos núcleos fora
dos centros urbanos no entanto, as pessoas precisam de um aval, de uma senha
que os autorize a entrar no trem do hoje, deixando para trás os estereótipos e
abraçando sem pruridos a sua verdade.
Para que o trabalho frutifique é preciso despojamento de todo e qualquer tipo de
preconceito. Com olhar transparente, cito para finalizar, o artista espanhol :
“Aqui tienes, contemplador, passeante que miras los cuadros
com mirada limpia. Si no tienes ojos transparientes, de nada
te va a servir la capacidad de veer”.
Luis de Horna / Salamanca-ES / 2003
Estou nessa pesquisa com a prontidão de quem se dispõe a aceitar o estabelecido
em sua totalidade, não deixando que nada se perca para depois então
transformar, sem cortes ou castrações, o lixo em beleza.
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Citações:
²Serra dos Ventos : Distrito do Município de Belo Jardim, situado no Agreste Meridional de Pernambuco.
Possui cerca de 8.000 habitantes. Principais atividades: criação de caprinos, cultivo de bananeiras e culturas
de subsistência. Exploração do couro de caprinos. Região de curtumes.
³Parceiros: Ministério da Cultura, Baterias Moura, COPERGÁS, Prefeitura Municipal de Belo Jardim,
Companhia Editora de Pernambuco – CEPE e Animarte Consultoria.
4
Ateliês/Residência: casas aparelhadas para residência das artistas Ana Veloso e Suzana Azevedo,
abrigando seus ateliês e oficinas para atender a comunidade.
Curriculuns Resumidos:
¹Ana Veloso – auto didata. 1966Início das atividades plásticas, com trabalhos em cerâmica, couro,metal,
madeira e resina de poliéster.
1977 – Prêmio em cerâmica pela EMPETUR.
Segue sua carreira dedicando-se inteiramente à pintura com várias exposições no Brasil e no exterior.
Site: www.anaveloso.com
5
Antonio Mendes – Artista plástico, começou sua carreira de pintura no ano de 1987, após dois anos sentiu a
necessidade de experimentar outras linguagens e técnicas fazendo então um curso de dois anos no Museu de
Arte Contemporânea de Pernambuco - MAC. Passada essa etapa, começou a pintar paisagens (entre 1989 e
1993) tendo como referencial as cidades de Olinda e Recife. A seriedade e disciplina são um marco em sua
carreira. Site: www.antoniomendes.com.br
6
Carlos Alberto Lucas Pragana - Fez sua primeira exposição na AABB, aos 14 anos, em setembro de 1966.
Em 1972 entra no curso de Desenho Industrial da Universidade Federal de Pernambuco. Em Agosto de 1975,
ganha o Prêmio de Aquisição do II Salão de Arte Global de Pernambuco (Rede Globo). Vive e trabalha em
Recife. Site: www.pragana.com.br
7
Ypiranga Filho - Em paralelo à intensa produção artística, tem uma extensa folha de diferentes serviços ao
público em órgãos oficiais, sempre trabalhou coletivamente. Organizou, ao longo dos tempos, vários grupos
de artistas muitos dos quais se formaram a partir de cursos ministrados por ele.
Site: www.ypiranga.filho.com.br
8
Maria Virgínia Gordilho Martins – Artista plástica baiana, doutora em artes Plásticas pela Universidade de
São Paulo-USP.
9
Maristela Ribeiro – Artista Plástica baiana, Mestra em Poéticas Visuais pela EBA-UFBA, Salvador, Bahia.
Pós-graduada em Metodologia do Ensino pela FFCL em Minas Gerais. Graduada em Artes Plásticas pela
Universidade Católica do Salvador, Bahia.
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RESUMO
“ Estado de Arte”
Um Projeto de Vivência Artística no Interior Pernambucano
A pesquisa contempla uma vivência artística de duas mulheres, artistas visuais, que
viabilizam a possibilidade de transformações da realidade sócio-cultural no interior
pernambucano, através da arte.
Ana Veloso e Suzana Azevedo, com estilos de trabalho diametralmente opostos, unificam
pelo conceito, uma abrangente ação arte educativa.
Palavras chaves: terra, beleza, lixo, papel artesanal
ABSTRACT
Tecnique x Criativity and May Place
A project were art expression and verbum, sys abou life
The proposal looks for an improuviment en the way of life for the country people through
the art education. Ana Veloso,e Suzana Azevedo, visual artists with diferent styles, join by
the concept develop, a large art educational action.
Keywords: land, beauty,waste, paper craft.
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CURRÍCULUM
Suzana Azevedo, graduada em Educação Artística - Artes Plásticas pela UFPE.
Curso em Técnicas de Gravura - Universidade de Bellas Artes de Salamanca –
ES.
Egressa da Região da Mata Atlântica Norte de PE, pontua o imaginário
pernambucano, suas raízes culturais e potencial artístico. Em 2005 ganha o 1º
lugar para a criação do troféu XVI Prêmio Vasconcelos Sobrinho – Semana do
Meio Ambiente/ CPRH/PE.
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