Dica Clínica
Alternativas para a fixação da contenção
fixa ântero-inferior durante a colagem
Lívia Barbosa Loriato*, André Wilson Machado*,
José Maurício de Barros Vieira**
Resumo
A fase de contenção após o tratamento ortodôntico é uma importante etapa para a
manutenção dos resultados obtidos e estabilidade do tratamento. Em relação à recidiva ortodôntica, a região de maior preocupação é a ântero-inferior, vista a freqüência
do apinhamento dos incisivos associada à
sua etiologia multifatorial. Dessa forma, a
contenção fixa ântero-inferior tem grande
aplicação clínica por sua praticidade, simplicidade de confecção, conforto ao paciente e por dispensar a colaboração quanto ao uso. O objetivo deste artigo é abordar
o passo-a-passo de algumas alternativas
para sua fixação durante o procedimento
de colagem, auxiliando os clínicos e pósgraduandos da área de Ortodontia a reduzir
as falhas deste tipo de contenção.
Palavras-chave: Ortodontia. Contenção do tratamento. Apinhamento dentário.
*Mestres em Ortodontia pela PUC/Minas.
**Especialista e Mestre em Ortodontia pela PUC/Minas. Professor do Curso de Mestrado em Ortodontia da PUC/Minas.
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Alternativas para a fixação da contenção fixa ântero-inferior durante a colagem
Introdução
Uma questão de grande relevância clínica e científica em Ortodontia é a estabilidade dos tratamentos. Ao final de uma intervenção ortodôntica, existem algumas maneiras de se manter
o resultado obtido, através de aparelhos removíveis ou fixos de
contenção. Dentre as áreas de atuação desses aparelhos de contenção, aquela que desperta a maior atenção dos ortodontistas
é a ântero-inferior. Na verdade, isto ocorre devido ao altíssimo
potencial de recidiva do apinhamento ântero-inferior associado à
sua etiologia multifatorial4,7.
Sadowsky et al.9 afirmaram que, para manutenção do alinhamento anterior do arco inferior, é necessário um período prolongado de contenção, que, segundo Riedel8, pode se estender por
toda a vida.
Considerando, portanto, que o apinhamento ântero-inferior é
uma preocupação após a remoção de aparelhos fixos, o planejamento da fase de contenção deve ser feito criteriosamente, bem
como a supervisão periódica.
O objetivo deste artigo é descrever e ilustrar o passo-a-passo
de algumas alternativas para colagem deste tipo de contenção,
auxiliando os profissionais e pós-graduandos da área de Ortodontia.
REVISÃO DA LITERATURA
Heier et al.6 afirmaram que o uso da contenção lingual inferior colada tem se tornado cada vez maior. A praticidade em relação ao uso da contenção fixa ântero-inferior, principalmente por
dispensar a colaboração do paciente, justifica essa crescente aplicação na clínica ortodôntica. Um aspecto importante é o caráter
não invasivo e reversível da contenção fixa ântero-inferior3.
Normalmente confeccionada com fio de aço inoxidável, convencional ou trançado, este tipo de contenção é colado na superfície lingual dos dentes ântero-inferiores, podendo englobar
de canino a canino ou, em alguns casos, como os de extração
ou diastemas generalizados previamente ao tratamento, de prémolar a pré-molar.
A característica mais importante deste tipo de contenção é
que deve tocar em todos os dentes adequadamente. Caso seja
colada apenas nas extremidades, é fundamental o contato íntimo
com os incisivos, considerando que qualquer separação entre a
superfície dentária e o fio na região dos caninos e/ou pré-molares
que receberão a fixação poderá ser preenchida pelo material de
colagem11.
Zachrisson12 destacou as vantagens da contenção inferior fixa,
entre elas: (1) permite uma contenção mais diferenciada; (2) é invisível no sorriso; (3) apresenta baixo risco de cárie; (4) necessita de
pouca cooperação por parte do paciente; (5) permite uso simples e
prolongado, podendo ser permanente.
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Como desvantagem, pode-se citar a dificuldade de higienização, com acúmulo de placa e cálculo. Entretanto, Heier et al.6,
após uma comparação entre contenção fixa e removível, verificaram leve inflamação gengival nos pacientes com os dois tipos
de contenções, porém, com maior acúmulo de placa e cálculo
naqueles com contenção fixa. Entretanto, essa diferença entre
os grupos já estava presente antes da instalação das contenções, o que não permitiu associar a contenção fixa a um pior
grau de higienização. Artun1 verificou que o tipo de fio utilizado, seja liso ou trançado, também não diferenciou o acúmulo de
placa e cálculo.
As variações quanto ao diâmetro do fio utilizado se relacionam
ao modo da colagem. Fios menos calibrosos, como os de 0,020”,
são utilizados quando todos os dentes são colados, enquanto fios
de maior calibre, como o 0,032”, permitem que apenas os dentes
relacionados com as extremidades da contenção sejam colados. A
contenção com fio mais espesso é mais fácil de higienizar, principalmente em relação ao uso de fio dental, embora possibilite
pequenas rotações dentárias. Já a com fios mais finos, quando
colada dente a dente, dificulta o processo de higienização, mas
contém os dentes em posição de forma permanente, desde que
não ocorram falhas ou fraturas12.
Dahl e Zachrisson5 registraram baixos índices de falhas, equivalentes a apenas 0 - 5,9%, em longo prazo, quanto à utilização
das contenções confeccionadas com fio trançado flexível de diferentes diâmetros, variando entre 0,0195” e 0,0215”. Zachrisson10
e Bearn2 também recomendaram a utilização de fios trançados
rígidos de diâmetro 0,032”.
Becker, Goultschin3 e Bearn2, a respeito das contenções fixas
com fio trançado, afirmaram que estas permitem a movimentação fisiológica dos dentes, o que é uma vantagem para o paciente
com comprometimento periodontal. Para Bearn2, a principal indicação de se utilizar um fio mais rígido de diâmetro 0,032”, colado
apenas nos caninos, seria em casos tratados com alteração da
posição ântero-posterior ou lateral do segmento labial inferior.
Já as contenções flexíveis com fios 0,0175” ou 0,0215”, coladas a
todos os dentes, estão indicadas em casos onde há tendência de
recidiva por movimentos dentários individuais.
O momento de remoção da contenção fixa varia de acordo
com a capacidade de o paciente manter a higienização adequada,
o tipo de má oclusão inicial ou mesmo com a idade do paciente. Pode-se optar, após um período de contenção do tratamento,
pela utilização noturna de uma contenção removível12.
Visto que as falhas em relação à fixação e à colagem deste tipo de contenção têm sido um dos fatores de insucesso da
contenção fixa ântero-inferior, será descrito e ilustrado o passoa-passo de algumas alternativas para facilitar sua instalação, ao
final de um tratamento ortodôntico.
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DESCRIÇÃO DAS TÉCNICAS DE FIXAÇÃO
O primeiro passo a ser realizado é a confecção da contenção
ântero-inferior. Para tal, é necessária a obtenção do modelo de
gesso do arco inferior com boa qualidade, para que o fio possa ser
devidamente adaptado à superfície lingual dos dentes (Fig. 1).
Este tipo de contenção fixa pode ser confeccionado com fio
de aço 0,7mm ou de outros calibres, como 0,6mm e 0,8mm, de
acordo com a preferência do profissional. Nos casos em que a
colagem é feita dente a dente, ao invés de apenas nas extremidades, pode-se optar por fios de menor calibre, como o 0,016”
ou 0,018”.
A seguir, será descrito o passo-a-passo de algumas técnicas
para fixação da contenção fixa lingual inferior, de forma a facilitar sua instalação e o procedimento de colagem.
Técnica 1 – Fixação com fio ou fita dental
Após a remoção do aparelho fixo, utilizam-se dois segmentos
de fio dental posicionados na distal dos incisivos laterais (Fig. 2A,
B). Posiciona-se a contenção por lingual e, em um dos lados, o fio
dental é introduzido na face mesial do incisivo lateral e levado até
a face vestibular (Fig. 2C, D). Amarra-se o fio dental nessa região
de forma rígida e repete-se o mesmo processo do lado oposto
(Fig. 2E-I).
O fio dental também pode contornar todos os quatro incisivos
e ser amarrado na linha média por vestibular (Fig. 3A-C).
Técnica 2 – Fixação com amarrilho de aço
Com o paciente ainda com o aparelho fixo e arco ortodôntico,
prende-se a contenção a um pedaço de amarrilho de aço (Fig. 4A,
B). Posiciona-se a contenção por lingual e, em um dos lados, coloca-se o fio de amarrilho por baixo do arco ortodôntico, na região
entre incisivo lateral e canino, abaixo do ponto de contato, amarrando e fixando todo o conjunto (Fig. 4C, D). Repete-se o mesmo
procedimento no lado oposto, de forma que a contenção permaneça fixa e firme (Fig. 4E, F). Em seguida, com a contenção em posição, o procedimento de colagem pode ser iniciado (Fig. 4G, H).
O mesmo procedimento também pode ser feito com o uso
do fio dental ao invés do fio de amarrilho, seguindo os mesmos
critérios (Fig. 5A-C).
Técnica 3 – Fixação com cera
Este método é o mais simples e rápido, sendo utilizado quando o
paciente já se encontra sem o aparelho fixo, porém o risco de movimentação da contenção durante a colagem é maior. Com a contenção
já confeccionada, esta é adaptada em sua posição ideal na boca do
paciente. Em seguida, pressiona-se a cera utilidade contra os incisivos
centrais em sua face vestibular e lingual, englobando a contenção
com a cera (Fig. 6A-C). Assim, ela estará posicionada para a realização
da colagem das extremidades (Fig. 6D). Caso a fixação selecionada
seja dente a dente, após a colagem das extremidades, remove-se a
cera e prossegue-se o procedimento de colagem nos demais dentes.
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Figura 1 - Vistas da contenção ântero-inferior: A) oclusal; B) oclusal aproximada e C) lingual aproximada.
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Figura 2 - Passo-a-passo da fixação da contenção com fio dental.
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Figura 3 - Passo-a-passo da fixação da contenção com fio dental contornando todos os dentes.
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Figura 4 - Passo-a-passo da fixação da contenção com amarrilho de aço.
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Figura 5 - Passo-a-passo da fixação da contenção com fio dental ainda com aparelho montado.
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Figura 6 - Passo-a-passo da fixação da contenção com cera utilidade.
Técnica 4 – Fixação com corrente elástica
Através da utilização de um segmento de elastômero tipo
corrente, introduz-se a contenção no primeiro elo (Fig. 7A). Em
seguida, com a contenção em posição, passa-se a corrente elástica na superfície interproximal, abaixo do ponto de contato, entre
o incisivo central e o lateral (Fig. 7B, C). Contorna-se por vestibular os incisivos centrais, introduzindo novamente na superfície
interproximal entre o incisivo central e lateral do lado oposto, no
sentido de vestibular para lingual (Fig. 7D, E). Desloca-se a contenção de forma que sua extremidade se aproxime da corrente
elástica e, então, com a corrente elástica esticada, introduz-se a
contenção em outro elo (Fig. 7F, G). Dessa forma, a tensão da corrente elástica permitirá que a contenção fique em posição para
realização da colagem das extremidades (Fig. 7H, I).
Caso se planeje a colagem dente a dente, após colar as extremidades, deve-se remover a corrente elástica para que não haja
nenhum afastamento indesejado entre os incisivos. Em seguida,
segue-se o procedimento de colagem nos demais dentes.
Técnica 5 – Fixação com elásticos de borracha
O elástico de borracha utilizado pode ser o de tamanho 5/16”, o
qual permite suficiente fixação para a contenção 3-3 (Fig. 8A). Inicialmente, introduz-se a contenção no interior do elástico e, com esta
em posição, passa-se o elástico nas faces mesial e distal do incisivo
lateral, abaixo do ponto de contato (Fig. 8B, C). Contorna-se a face
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vestibular dos incisivos, introduzindo novamente na mesial e distal
do incisivo lateral do lado oposto (Fig. 8D, E). Desloca-se a contenção
de forma a permitir que ela passe por dentro do elástico que envolve
o incisivo lateral (Fig. 8F). Posiciona-se adequadamente a contenção
e se segue com a colagem das extremidades (Fig. 8G-I).
A mesma consideração deve ser feita quando realizar colagem
dente a dente, ou seja, remove-se o elástico após a colagem das
extremidades para só então colar os incisivos.
Outra opção de posicionamento do elástico de borracha 5/16” é
introduzi-lo na superfície interproximal entre incisivo lateral e canino em ambos os lados, permitindo o elástico envolver todos os incisivos (Fig. 9A). Adapta-se a contenção na superfície lingual do dentes
e, em seguida, passa-se a porção lingual do elástico envolvendo a
contenção e encaixando na superfície interproximal entre incisivos
central e lateral em ambos os lados (Fig. 9B, C). Assim, obtém-se o
mesmo posicionamento da contenção e do elástico (Fig. 9D).
Quando se opta por utilizar um elástico de menor calibre, como
o 3/16”, passa-se o elástico nas faces mesial e distal do incisivo lateral, abaixo do ponto de contato em ambos os lados (Fig. 10A-C). Em
seguida, posiciona-se a contenção na face lingual dos dentes ântero-inferiores e passa-se a porção lingual dos elásticos envolvendo
a contenção e encaixando nas faces mesial e distal dos incisivos
laterais em ambos os lados (Fig. 10D-F). Assim, a contenção estará
posicionada para a realização da colagem das extremidades (Fig.
10G-I). Esta técnica foi sugerida previamente por Zachrisson12.
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Figura 7 - Passo-a-passo da fixação da contenção com corrente elástica.
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Figura 8 - Passo-a-passo da fixação da contenção com elástico de borracha.
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Figura 9 - Passo-a-passo de outra opção para a fixação da contenção com elástico de borracha.
Técnica 6 – Fixação com jig de alginato
Com o modelo de gesso do arco inferior, a contenção já confeccionada e as extremidades fixadas no modelo com cera, manipula-se uma pequena quantidade de alginato que será colocada nos incisivos (Fig. 11A, B). Durante o tempo de trabalho do
alginato, moldam-se os incisivos nas suas superfícies vestibular
e lingual (Fig. 11C). Após tomar presa, o excesso de alginato é
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recortado, formando um jig que envolve os incisivos centrais por
vestibular e lingual, bem como a contenção (Fig. 11D, E). Com o
conjunto jig de alginato e contenção prontos, leva-se à cavidade
bucal para a realização do procedimento de colagem (Fig. 11F).
Após a fixação da contenção, deve ser dada atenção quanto
ao preparo da cavidade bucal para o procedimento de colagem. O
campo deve estar com o devido isolamento relativo, seguindo-se o
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Figura 10 - Passo-a-passo da fixação da contenção com elástico de borracha previamente descrita na literatura.
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Figura 11 - Passo-a-passo da fixação da contenção com jig de alginato.
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condicionamento ácido da superfície lingual dos dentes que receberão o material de colagem. Após lavagem e secagem do dentes,
segue-se a aplicação do material de colagem, de acordo com as
instruções de cada fabricante.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O sucesso do tratamento ortodôntico também dependerá de
um período de contenção bem conduzido. Dessa forma, a utiliza-
ção de técnicas que facilitem a fixação e colagem da contenção
fixa ântero-inferior permitirá o resultado desejado desta fase do
tratamento, com redução das falhas e descolagens das contenções.
Após a análise das diversas sugestões descritas anteriormente,
o ortodontista deve analisar as vantagens e desvantagens de cada
uma delas, para decidir qual é a que melhor se adapta à sua clínica
ortodôntica.
Different methods to place and immobilize bonded
lingual retainers
Abstract
Retention in Orthodontics is a topic of paramount importance because the rate of relapse after orthodontic
therapy is very high. The lower incisor area is the most
important site due to its strong tendency to relapse
associated to its multifactorial etiology. Therefore,
lower fixed retainer has been one of the commonly
used methods of retention at the end of the orthodon-
tic treatment because it is more accurate, simple, inexpensive and do not need patient compliance. The
aim of this article is to discuss some issues about lingual bonded retainer, illustrating the step-by-step of
some alternatives to place and immobilize the lingual
retainer during the bonding procedure, assisting the
clinician to reduce eventual failure.
key words: Orthodontics. Withholding treatment. Tooth crowding.
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Endereço para correspondência
Lívia Barbosa Loriato
Av. Nossa Senhora da Penha, 570, Sala 802, Ed. Centro da Praia,
CEP: 29.055-130 - Praia do Canto, Vitória / ES
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