Contribuições da Educação Infantil para a formação do leitor e produtor de textos Suely Amaral Mello Discussão DE QUE FORMA FOMOS APRESENTADOS À ESCRITA? Inicialmente a professora apresentou os As, depois os Es, os Is, Os e Us. Depois das vogais vieram as consoantes sempre uma de cada vez. POR QUE A ESCRITA NOS FOI APRESENTADA ASSIM? Pela falta de reflexão teórica sobre o assunto, entendia-se que: - O desafio de aprender a ler e a escrever era dominar a relação entre letra e som; - A maneira mais fácil de ensinar a escrita era dividi-la em partes (a correspondência entre som e grafia deveria começar com a letra); Discussão QUAL O PROBLEMA COM ESSA FORMA DE ENSINAR NA EDUCAÇÃO INFANTIL? Para as crianças que querem aprender a ler e a escrever, essa maneira projeta a resposta a essa vontade para o final do ano, depois de muito treino de letra. Será que a vontade sobreviverá? Ou vai se perder no caminho? Para as crianças que não querem aprender a ler e a escrever porque nunca conviveram com a escrita como um instrumento de comunicação e expressão, essa maneira de ensinar não cria nas crianças essa vontade; Discussão Essa forma desconsidera o fato de que a linguagem escrita não é um instrumento cultural simples como um copo, uma colher, uma tesoura, mas é um sistema de signos que representa outro sistema de signos. Ao escrever, representamos o som da fala, mas esse som da fala não é apenas um som: ele tem um significado. Esse significado representa a realidade: as coisas do que falamos, nossas ideias, sentimentos e informações; Essa forma de ler e escrever forma gente que lê sem compreender o que lê e que escreve sem autoria, ou seja, copia, escreve ditado, mas tem dificuldade de produzir um texto seu; Discussão - - A ênfase na relação entre som e letra deixou para segundo plano a função social da escrita, o fato de que a escrita serve para a comunicação com os outros, para expressar o que sentimos, pensamos, aprendemos; serve para divulgar uma ideia, para lembrar; A QUE SE LIMITA ESSA PRÁTICA? Ao reconhecimento das letras do alfabeto, À escrita de palavras isoladas e de cópias de frases ou textos que não expressam ideias, sentimentos, descobertas das crianças. Discussão QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS DESSA PRÁTICA PARA A EDUCAÇÃO DAS CRIANÇAS? - Rouba o tempo da Educação Infantil para as brincadeiras, as fantasias e as culturas infantis; - As crianças porque não vivenciam experiências significativas que as encantem, não exercitam a expressão por meio de múltiplas linguagens, deixando de brincar de faz de conta, de ouvir histórias, de manusear livros, gibis etc.. NÃO FORMAM as bases necessárias à aprendizagem da escrita - a necessidade de ler e escrever, a necessidade de expressão, a função simbólica, o controle da vontade e da conduta. - A experiência da escrita vai se tornando, desde cedo, uma experiência negativa do ponto de vista emocional: a criança vai acumulando uma história de fracasso e de cansaço em relação à escola e à escrita. Discussão COMO APRESENTAR A ESCRITA PARA AS CRIANÇAS DA EDUCAÇÃO INFANTIL? Chamar a atenção das crianças primeiro para o significado do texto, ou seja, para a relação entre escrita e realidade e só mais tarde chamar a atenção para o aspecto técnico da escrita; Planejar situações em que as crianças convivam bastante com a escrita e as leituras feitas pela professora para que possam entender para que servem a leitura e a escrita. Depois disso, começar a ensinar como se faz para escrever. Discussão QUAIS SÃO AS BASES ORIENTADORAS NECESSÁRIAS À APRENDIZAGEM DA ESCRITA PELAS CRIANÇAS? 1- A criança precisa ter a necessidade de ler e escrever. - Essa necessidade surge a partir das vivências das crianças, de sua convivência com a escrita utilizada em sua função social. - Como fazer isso? Propor situações verdadeiras de uso da escrita junto com as crianças: corresponder-se com alguém distante, escrever junto com elas bilhetes para os pais, escrever junto com a turma as regras de convivência e retornar diariamente a leitura desses combinados, manter um diário do que acontece a cada dia na escola... Discussão 2 - A necessidade de expressão - Para ter o que escrever a criança precisa ter algo a dizer; Como fazer isso? - Trabalhar o desejo e o exercício da expressão da criança por meio de diferentes linguagens; - Proporcionar experiências que deixem as crianças encantadas e maravilhadas para que tenham muito que expressar; - Incentivar a criança a desenhar livremente suas vivências, a pintar sentimentos e experiências vividas e não apenas objetos, estimular a dança como expressão de experiências e sentimentos e provocar a produção de sons, músicas para expressar um acontecido, a expressão oral de poemas, a colagem, o faz de conta, o teatro, a modelagem com papel, massa de modelar, argila... Discussão 3 - A Formação da função simbólica - Refere-se à capacidade de uso de um objeto para representar outro. A escrita é uma representação de segunda ordem (representa a fala que representa a realidade). A função de representação precisa estar formada na criança que aprende a ler e a escrever. Como se forma na criança a função simbólica? - Na brincadeira de faz de conta (necessidade de tempo livre na escola, ter muitos objetos ao seu redor que provoquem lembranças de experiências vividas, envolvendo papeis sociais diferentes para imitar). Discussão 4 – O autocontrole da vontade ou auto disciplina - A escrita como uma atividade que tem um produto e que não pode ser interrompida antes do término. Envolve antecipação, escolhas e planejamento. Que experiências e vivências formam na criança o autocontrole da vontade ou a autodisciplina? - A brincadeira do faz de conta – a atividade lúdica. Ao imitar os adultos no faz de conta a criança imita seus comportamentos, vai aos poucos aprendendo a orientar sua vontade. - Na atividade de escrita, a criança precisará ter já no inicio da atividade a ideia do produto (uma carta, um conto, uma lista, um bilhete etc... Discussão Portanto, é imprescindível que a professora de Educação Infantil compreenda que as atividades que antes não eram tão valorizadas, tais como, a expressão nas múltiplas linguagens e o faz de conta, sejam agora percebidas como essenciais não apenas para a formação da identidade, da inteligência e da personalidade da criança, como também para a formação do leitor e produtor de textos. “Professoras de Educação Infantil e suas visões de letramento: tensões da prática”. . Patrícia Corsino Educação Infantil é um momento importante na formação do leitor. É uma esfera social em que muitos textos circulam e na qual as crianças podem participar de diferentes eventos e práticas de letramento. A formação do leitor se inicia nas primeiras leituras de mundo, nos significados e sentidos produzidos com base no que vê, ouve, percebe, sente, imagina do mundo ao redor, na participação ativa das crianças em situações diversas de interação verbal, nas práticas de ouvir histórias narradas oralmente ou da leitura de textos escritos, na elaboração de significados baseados nos textos ouvidos, na descoberta de que as marcas impressas produzem linguagem. O produtor de texto tem início nas marcas que imprime com o corpo, nos gestos indicativos, nas expressões corporais e dramatizações, no traçado dos desenhos, no trabalho com as artes plásticas – pinturas, colagens e modelagens - , na criação de textos orais calcados em imagens e situações vividas, observadas ou imaginadas e na possibilidade de registrar esses textos. Registros que implicam a busca de uma maneira de melhor articular a forma e o conteúdo do discurso que tem a intenção de proferir. Discurso que, numa dada situação, pode exigir o uso da linguagem escrita e que, portanto, pode ser ditado para um escriba transcrever, porque o leitor ouvinte muito conhece dos usos e convenções da escrita e pode produzir textos oralmente com marcas e características da linguagem escrita. O que a criança pode fazer? O leitor na Educação Infantil, que é convidado a ler sem ainda ter o domínio da leitura no sentido restrito, pode interpretar os sinais gráficos, relacionar imagens e textos, antecipar sentidos, observar a organização do texto, as inúmeras possibilidades de combinações das palavras e das letras, refletir sobre a língua escrita de diferentes perspectivas. Pode observar os textos que estão a sua volta e descobrir possibilidades de relações. A criança acostumada a narrar, a dramatizar, a desenhar, a ilustrar a vida usando diferentes recursos e materiais pode se arriscar a escrever espontaneamente, descobrindo que se desenha também a fala (Vigotski 1991)