Todo Nerd Quer Ser Um
Super-Herói
Felipe Gomes, mais conhecido como Change,
encontrou-me em uma famosa lanchonete no
cruzamento de duas grandes avenidas de São Paulo
para falar sobre sua história com os quadrinhos e o
surgimento do site mais badass da Internet, o
Melhores do Mundo.
Por: Gabriela Rodrigues
E
m meados de 2010, um dos mais loucos admiradores do personagem deste perfil
publicara um vídeo pelado, cobrindo seus órgãos genitais com uma meia,
dizendo ser uma homenagem, uma declaração do seu amor a Change, frontman
do 7º maior site do país, o Melhores do Mundo.
O Melhores do Mundo é uma página especializada em quadrinhos e ficou famosa por
sua linguagem displicente, o tom humorístico e pela construção de personagens para
seus autores como o Hell, o Bugman, o Ultra (ou “falecido” Ultra) e o Change. Seus
leitores também fazem parte do show que se constrói meio a este site, sendo mal falados
em todas as outras páginas do mesmo segmento, a cólera da Internet; e foi com eles que
obtive o meu primeiro contato.
Foram cerca de dois meses interrogando os, por assim dizer, fãs, buscando informações
úteis a respeito do personagem deste perfil, tentando encontrar histórias e percebendo
até onde eu poderia ir sem que minhas intenções fossem percebidas. Nossas conversas,
nem sempre amigáveis, sobre seus ídolos eram regadas de acusações e elogios, um amor
bipolar por um ser inanimado sobrecarregado pela negação de querer ser um deles, uma
admiração descomedida por super-heróis dos tempos modernos.
Quando revelei minhas reais intenções só ouvi negativas de seus admiradores,
explicações que você talvez escute da boca de um torcedor fanático sobre o porquê seu
time não está na final do campeonato “a culpa é dele que o site não vai pra frente”, “o
problema é que ele quer se levar a sério agora, 10 anos depois”, “ele não vai te
atender”.
Na verdade, o ódio por ele diferido, nada mais é do que a ânsia por noticias. A
personagem deste perfil não passa horas no Twitter descrevendo cada passo que dá em
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140 caracteres ou posta fotos do seu almoço com os filtros do Instagram. É uma pessoa
reservada, quieta, incomodada com sua exposição, mas, mesmo com tal incômodo,
consegue atrair todos os olhares quando expõem suas opiniões.
Change encontrou-me no centro econômico de São Paulo, entre as avenidas Brigadeiro
Faria Lima e Juscelino Kubitschek na noite de quarta-feira, 14 de março de 2012, em
uma lanchonete próxima a um posto de gasolina. Acenou para mim de longe e, para
minha surpresa, tratava-se de um rapaz comum, vestindo uma camisa xadrez, bermuda e
um sorriso, me recordando a música do Smashing Pumpkins que diz “Disarm you with a
smile and cut you like you want me to”, coisa que se refletiu pela entrevista inteira, me
desarmando de uma forma sutil e, em certos momentos, me conduzindo com uma
simpatia fora do comum.
Felipe Gomes tem 30 anos, é Change há 10, nasceu no estado do Rio de Janeiro, foi
criado no bairro da Tijuca, zona norte da cidade, e é formado em Publicidade e
Propaganda. Um leonino às avessas, odeia ser o centro das atenções, porém fica
confortável quando o gravador é ligado.
Sua história com as HQs começou cedo, seus pais compravam revistas da Disney,
Turma da Mônica, Palhaço Alegria, mas foi durante uma doença que seu avô lhe
apresentou o mundo dos quadrinhos de super-heróis com uma compilação de histórias
do Homem-Aranha.
Peter Parker – o Homem-Aranha – é o típico rapaz tímido, desajeitado com as garotas e
com poucos amigos, porém extremamente inteligente; mesmo sendo super-poderoso,
aceita sofrer bullying para que sua identidade seja preservada, vivendo sob o ideal de
que com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades; talvez isso tenha provocado
o amor à primeira lida, seu jeito de ver o mundo logo se encontrou com os traços do
super-herói e o entrelace de seus valores – e de seu tipo físico – com Peter Parker fez
com que suas memórias de infância fossem completamente ligadas a revistas em
quadrinhos, influenciando suas escolhas e seu comportamento.
Ainda na infância, Felipe pegava emprestadas as revistas de seus
amigos e já começava a guardar o dinheiro dos lanches na escola
para formar sua própria compilação de HQs. Seu primeiro quadrinho
foi um Super Aventuras Marvel com o Demolidor como protagonista.
Cerca de vinte anos depois, Felipe mantém uma coleção que
ultrapassa o incrível número de 25 mil revistas em quadrinhos no seu
apartamento na zona sul de São Paulo, incluindo aquela Super
Aventuras Marvel do Demolidor.
A criação do Melhores do Mundo aconteceu ainda no Rio de Janeiro, enquanto Felipe
trabalhava no projeto Comunicar dentro de sua faculdade, quando conheceu Tiago
(Bugman) e Tales (Ultra) por causa de um desenho autoral do próprio Demolidor ao
lado de fora de sua mochila.
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A princípio, o nome seria Blog da Justiça, mas, ao registrar
o domínio, Tales (Ultra) resolveu fazer uma referencia ao
Batman e ao Super-Homem e assim nasceu o nome
Melhores do Mundo. A proposta do site também foi alterada
com o passar do tempo, o que era pra ser um blog de
clipping de notícias sobre quadrinhos, tornou-se um site
opinativo sobre o mesmo assunto por uma desatenção de
Felipe, que ao invés de fazer o design do site, resolveu
escrever criticas de revistas já utilizando a linguagem que
anos depois seria o diferencial do MdM.
Com o aglomerado de jovens e a visível união de seus leitores, vários blogs “filhos” do
Melhores do Mundo apareceram, mostrando os diversos grupos que acessam o site
diariamente, inclusive a surpreendente concentração de leitores homossexuais,
representados pelo blog Pink Lanterns.
Ao questionar a construção de personagens para os autores, obtive a resposta mais direta
e verdadeira da noite “...todo nerd quer ser um super-herói”. No caso de Felipe, ou
melhor, Change, a figura de herói é secundária, dando espaço a um grande ponto de
interrogação, talvez por preservar a sua privacidade acima de tudo ou por não ter a
mesma facilidade em lidar com a imagem como é o caso do Jovem Nerd ou do Matando
Robôs Gigantes – blogs/podcasts do mesmo seguimento – apimentando ainda mais a
especulação de como seria este anti-herói de uma nova cultura em ascensão.
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Referências:
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Melhores Do Mundo: http://www.interney.net/blogs/melhoresdomundo/
Twitter: http://twitter.com/
Instagram: http://instagram.com/
Disarm – Smashing Pumpkins: CORGAN, Billy. 1994. Siamese Dream.
Pink Lanterns: http://thepinklanterns.blogspot.com.br/
Jovem Nerd: http://jovemnerd.ig.com.br/
Matando Robôs Gigantes: http://matandorobosgigantes.com/
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