Criatividade e formação de leitores em pauta na 17ª
Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro
Ignácio de Loyola Brandão e os responsáveis pelo site Jovem Nerd conversaram com
o público em espaços como Café Literário e Cubovoxes
Feito de homens e livros: A formação de leitores no Brasil foi um dos temas desta sexta
no Café Literário, o espaço de debates da 17ª Bienal Internacional do Livro do Rio de
Janeiro, com a presença de Ignácio de Loyola Brandão, Tânia Rösing, Julio Ludemir,
Marisa Lajolo e Volnei Canônica. Os participantes conversaram sobre a importância de
projetos permanentes de promoção da leitura e expuseram ideias para a formação de
leitores no Brasil, como o empoderamento das “vozes populares”.
“O que falamos de literatura costuma ser um murmúrio no espelho, escolhemos obras
de que ninguém gosta e falamos sobre elas coisas que ninguém entende”, disse Marisa,
curadora do Prêmio Jabuti, em referência às universidades. Loyola destacou a
necessidade de mudanças: “Enquanto não tivermos professores bem formados e bem
pagos, enquanto não houver uma reforço no ensino, não haverá leitor”, defendeu
Loyola.
Também no Café Literário, Graziella Betting, Sônia Rodrigues e Rodrigo Lacerda
integraram o bate-papo Enciclopédias cariocas: Nelson Rodrigues, João do Rio e João
Antônio. Mediado por Mona Dorf, eles conversaram sobre as coincidências e
discrepâncias entre as perspectivas dessas três importantes figuras em seu textos
ambientados no Rio de Janeiro.
Pertencentes a gerações distintas, o trio se destacou por dar visibilidade a personagens
anteriormente preteridos, como o suburbano, o malandro e o morador de rua, por
exemplo. Filha de Nelson Rodrigues, Sônia acredita que o pai não representa a cidade
maravilhosa geograficamente. “O que está ali é o carioca, especialmente o suburbano.
O que existe de Rio de Janeiro, na obra dele, são fronteiras", disse.
No Conexão Jovem, a blogueira Isabela Freitas, autora de Não se apega, não e Não se
iluda, não foi a grande atração do dia. No bate-papo, a escritora, que já vendeu mais de
450 mil livros, falou sobre a repercussão de seus livros, que, segundo ela, mesclam vida
realidade e ficção. “Minha vida foi a maior inspiração para os livros. A Isabela da ficção
sou eu, mas com um toque de fantasia. Pego alguma coisa que já tenha vivido e
acrescento um pouco mais de cor”, contou.
Isabela falou ainda da expectativa de ter Não se apega, não adaptado para a televisão.
“Quando recebi um e-mail da assessoria do Manoel Carlos achei que fosse trote, claro,
mas, depois que marcamos um encontro, e ele me disse que leu o meu livro e se
apaixonou pela história, e vi que esse sonho estava mais próximo de se tornar realidade.
Não dá para adiantar muita coisa, mas o livro em breve se transformará em algo bem
legal para a TV.”
Repleto de fãs, o Cubovoxes recebeu os criadores do site Jovem Nerd. Alexandre Ottoni,
mais conhecido como Jovem Nerd, e Deivei Pazo, o Azaghal, bateram um papo com a
plateia sobre os projetos e curiosidades do maior site dedicado à cultura nerd do Brasil,
que forma opiniões e tendências entre os jovens hoje. “Acho tudo isso muito esquisito,
mas é fruto do bom trabalho que entregamos ao público. Nunca passou pela nossa
cabeça formar opinião. Quando começamos, em 2002, quase ninguém gostava de ser
nerd, mas agora é legal ser nerd”, disse Alexandre.
A força de vontade e persistência em conquistar um lugar de destaque no mercado de
trabalho são as marcas registradas do romancista carioca Henrique Rodrigues e da
designer de moda inclusiva Luana Cavalcante, convidados de outra sessão do Cubovoxes
na tarde desta sexta. De origem humilde, ambos transformaram suas experiências de
vida em projeções para o futuro: Henrique como autor de três livros e Luana na criação
de acessórios para pessoas com deficiência de locomoção, como ela mesma.
“Estou lançando meu primeiro romance, O próximo da fila, que fala um pouco de mim
mesmo, de coisas que eu vivi entre o final da década de 80 e meados de 90. Se você
deseja muito uma coisa, é preciso abrir mão de outra”, disse Henrique. Já Luana afirma
que chegou a sofrer bullying no período da faculdade, além de ser desacreditada por
professores. “Mostrei que com força de vontade, inspiração em Deus e foco era possível
criar uma marca que agrega e não segrega pessoas. Assim surgiu a Sweet Angels”,
explicou Luana.
Encerrando o dia, o Café Literário discutiu os novos rumos do jornalismo cultural. O
editor do jornal Rascunho, Rogério Pereira, o editor da Revista Serrote, Paulo Roberto
Pires, e o editor do suplemento Eu & Fim de Semana, do Valor Econômico, Robinson
Borges se reuniram em mesa mediada pela jornalista Mona Dorf e concordaram que a
forma como a cultura tem sido abordada nos grandes jornais é ultrapassada.
“Precisamos oferecer produtos que se mantenham independentemente da venda e dos
anúncios”, explicou Paulo Roberto. “Aqui temos o exemplo de três publicações que não
precisam do dinheiro das vendas para se manter. O Instituto Moreira Sales, por
exemplo, mantém a revista. Tenho independência de produzir o conteúdo sem me
preocupar com anunciantes”, concluiu.
Fotos em https://www.flickr.com/photos/101023397@N04/.
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