A noção do escore em psicologia
Na área de publicações de nosso site já apresentamos de várias formas a problemática dos
escores e das medições (esta última sendo uma noção muito discutível nos testes de atitude
construídos seguindo o método clássico). Porém, em nosso último curso onde participavam
vários psicólogos percebemos que estas noções continuam muito vagas, e que praticamente
ninguém é realmente ciente da problemática.
Por isso, mais um curto artigo sobre os escores dos testes psicométricos de atitude.
Os escores psicológicos são números privados de unidade de medida. São obtidos
convencionalmente a partir dos comportamentos observados com testes ou questionários
psicológicos, ou qualquer forma de observação padronizada e cuja finalidade é a de serem
interpretados como medidas de atributos psicológicas. As respostas aos itens utilizados nos
questionários e inventários de personalidade são dispositivos empíricos que permitem
codificar respostas em números, ou seja, de fabricar escores.
Parece complicado? Vamos ilustrar com um exemplo.
Imaginamos que o nível de energia de um sujeito dependa de sua maneira de responder ao
item:
Sinto-me cansado
1
2
3
4
5
Nunca
Raramente
De vez em quando
Freqüentemente
Sempre
... onde cada uma das cinco respostas foi codificada com números de 1 a 5.
O que significam estes números? Do ponto de vista matemático absolutamente nada. São
escolhas subjetivas feitas pelo autor da prova. Se trata de uma classificação puramente
nominal que, no melhor dos casos poderia se tornar ordinal!
Para refrescar os conhecimentos sobre as escalas pode acessar a mini formação sobre
escores e medição
(http://www.moityca.com.br/pdfs/Asmensuraeseainterpretaodosescores.swf).
É necessário efetivamente fazer a diferença entre o fato de atribuir um valor numérico a uma
resposta qualitativa e o fato que consiste a determinar o valor numérico de uma grandeza. No
primeiro caso, a grandeza é determinada “arbitrariamente” pelo psicólogo, no segundo caso a
grandeza é trazida a uma unidade que se apresenta como a quantidade empírica a qual é
comparada à medida.
Dois obstáculos fundamentais são associados à interpretação dos escores psicológicos nas
provas subjetivas de método clássico ou tradicional:
1) como definir a origem de uma escala, o ponto 0?
2) como definir a unidade?
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Intuitivamente parece complicado definir com precisão uma expressão como “10 pontos de
descontração”, enquanto qualquer adulto, com um mínimo de educação, definirá com uma
precisão aceitável a expressão “10 latas de cerveja”. O fato é que a descontração não é
material, não é como uma substância que tem suas propriedades físicas que podem ser
contadas ou pesadas. Deste ponto de vista os escores psicológicos são números privados de
unidade de medida, ou seja, não devem ser interpretados como se designassem uma quantia
objetiva.
Outro ponto esquecido dos escores calculados seguindo os conceitos da teoria clássica dos
testes, é que as escalas são construídas baseando-se no pressuposto (postulado) de que os
escores psicológicos possuem propriedades de intervalos.
Comparando, por exemplo, em um teste de ansiedade o escore de João hoje (4 pontos) para
o de João ontem (1 ponto). Ambos os escores determinam um intervalo de tempo, ou uma
diferença de 3 pontos. Se dividir pelo número de medições, ficamos com a pontuação média
de João entre ontem e hoje. Se formos estender o raciocínio para cada dia do ano, eles
podem manter uma pontuação média de ansiedade. Nós vemos assim surgir a possibilidade
de comparar a pontuação média de João com a pontuação média de Julia, para determinar
qual dos dois é o mais ansioso. Porém estes escores só fazem sentido se aceitamos que a
soma das pontuações no dia-a-dia faz sentido. Aceitar que esta soma possa ser efetuada
implica admitir que 3 + 1 = 4 = (1 + 1 + 1) + 1 ou que 3 = 1 + 2. Em outras palavras, para que
a adição e a subtração possam ser efetuadas, deve ser admitido que existe uma unidade de
medida, a mesma em todas as possibilidades de respostas.
A teoria clássica dos testes é historicamente a primeira maneira de interpretar os escores,
utilizando os conceitos de escore verdadeiro e escore de erro. Mas quem lembra disso? E se
lembrar, quem entende? É bem mais comum interpretar erroneamente os escores como se
fossem porcentagens!!!
Hoje é possível construir escores que sejam também medidas: para as provas objetivas existe
a Teoria de Resposta ao Item que conseguiu se livrar do postulado dos intervalos.
Para os testes subjetivos o Método Funcional é a solução.
Graças à possibilidade de obter escores absolutos – que em seguida podem ser
padronizados – o utilizador visualiza perfeitamente estes fenômenos e entende porque os
escores – neste caso - são também medidas.
O leitor interessado em aprofundar mais seu conhecimento achará vários textos neste site. Se
quiser, pode entrar em contato com Renzo: [email protected].
Renzo Oswald
São Paulo, Outubro de 2008
© 2008 Moityca Eficiência Empresarial Ltda.
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