UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
O CANTO DO PABLO NERUDA
MARIA JOSÉ FERREIRA DE PINHO
PROF. ORIENTADORA: FABIANE MUNIZ
Rio de Janeiro
2002
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO “A VEZ DO MESTRE”
O CANTO DO PABLO NERUDA
MARIA JOSÉ FERREIRA DE PINHO
Trabalho monográfico apresentado como
requisito parcial para a obtenção do Grau de
Especialista em Docência do Ensino Superior.
Rio de Janeiro
2002
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Este trabalho, dedico em memória de meus pais
Sebastião Ferreira da Silva e Maria da Graça da
Silva, a meu marido José Vitor Pereira de Pinho, a
meus filhos José Vitor Pereira de Pinho Júnior e
Vivian Ferreira de Pinho, pelo incentivo e pela
compreensão nos momentos mais difíceis desta
trajetória, onde estiveram sempre ao meu lado.
4
A meus amigos e professores em geral, que
formaram parte desta caminhada junto comigo, na
qual consegui muitos conhecimentos que serão de
grande importância para o futuro.
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“...Deixa que o vento corra, coroado de espuma,
que me chame e busque galopando na sombra,
enquanto eu, mergulhando nos teus imensos
olhos, nesta noite imensa, descansarei, meu
amor...”
Pablo Neruda
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................... 07
1. LITERATURA............................................................................................................ 08
2. LITERATURA HISPANO-AMERICANA (Pablo Neruda)......................................
2.1 Vida e Obra...............................................................................................................
2.2 Sua infância...............................................................................................................
2.3 O pseudônimo............................................................................................................
2.4 Primeiro poema.........................................................................................................
2.5 O prêmio Nobel.........................................................................................................
2.6 Crepusculario.............................................................................................................
2.7 Residência em la Tierra.............................................................................................
2.8 Canto general.............................................................................................................
2.9 Vinte poemas de amor...............................................................................................
2.10 Auto-retrato.............................................................................................................
10
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16
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17
18
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19
3. ALGUNS POEMAS.................................................................................................... 21
CONCLUSÃO................................................................................................................. 29
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................ 30
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA............................................................................. 31
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INTRODUÇÃO
Este trabalho visa homenagear o grande poeta chileno Pablo Neruda, que nos encantou
e contribuiu com seus poemas, utilizando uma linguagem clara e simples, modernizando a
forma dos sonetos. Sua poesia se inspira em profunda angústia altamente romântica, a solidão
e a depressão.
Sem ter a pretensão de apresentar uma biografia completa do homenageado, tenho por
escopo traçar um perfil com alguns tópicos biográficos do extraordinário poeta que com a
maestria de sua obra inspira as gerações através de uma literatura modernista, contribuindo
extraordinariamente para a cultura universal, notadamente de sua época, sendo um dos
maiores expoentes da obra literária Hispano-Americana.
A voz de Neruda, é tão excelsa, tão rica, tão dilatada e tão insistente, sua inteligência e
seu instinto harmonizam com o público.
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1. LITERATURA
O estudo da Literatura não pode dispensar uma identificação do fenômeno em relação
ao momento histórico em que surgiu.
A Literatura, como toda arte, transfigura o real, realidade recriada através da língua
para as formas, que são os gêneros, e com as quais ele toma corpo e nova realidade. Os fatos
que lhe deram às vezes origem perderam a realidade primitiva e adquiriram outra, graças a
imaginação do artista que cria ou recria um mundo de verdades que ao são mensuráveis pelos
mesmos padrões das verdades factuais. Os fatos que se manipulam não tem comparação com
os da realidade concreta. São as verdades humanas gerais, que traduzem antes um sentimento
de experiência, uma compreensão, um julgamento, um sentido da vida, etc.
A Literatura é criação e comunicação.
Criação porque é um trabalho intelectual que tem sua origem na vida do homem e seu
mundo social, cultural e natural.
Comunicação, porque nos ensina, nos mostra, nos comunica algo, não apenas a
literatura, também a música, escultura, pintura e outras. Em qualquer manifestação artística,
existem os que se sobressaem, adquirem a “imortalidade” e servem de modelo aos demais,
sendo que cada povo, cada país tem seus maiores representantes.
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Através das obras literárias, tomamos contato com a vida, nas suas verdades eternas,
comuns a todos os homens e lugares, onde percebe-se uma ideologia, uma postura do artista
diante da realidade e das aspirações humanas.
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2. LITERATURA HISPANO-AMERICANA (PABLO NERUDA)
A chegada do homem europeu à América – Colombo as Antilhas, Cortés do México,
Pizarro ao Peru, suscitou um longo processo de assimilação de conhecimentos dispersos das
realidades americanas, vistas sob prismas diferentes e isoladas, sem maior ilação, sobre dados
geográficos, físicos e sociais, e conhecimentos históricos um tanto fragmentários e
superficiais.
As primeiras notícias sobre a América, entre as das Cartas de Cristóvão Colombo, não
conseguiram separar o americano do asiático. Até começos do século XVI, a crença geral na
Europa era de que se havia chegado as ilhas do catai ou da Índia.
Mas, alguns anos depois já no começo do século XVIII outros relatos de experiências
dos descobridores e conquistadores começam a esboçar uma realidade independente, isto é,
começa-se a considerar os elementos americanos como originários de um continente novo.
Desenharam-se então os primeiros mapas, que delineiam um novo corpo da realidade
terrestre, que irá se elaborando lentamente em toda amplitude pelos descobrimentos e
conquistas posteriores. Surgem assim para os europeus a existência de impérios importantes
como os dos astecas e dos incas. Américo Vespúcio que viaja de 1498 a 1508, consegue isolar
cosmograficamente o novo continente.
A nova terra principia a receber atributos de terra prometida, de paraíso terrestre.
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O marco histórico dessa literatura são os dezenove países americanos onde o Espanhol
é o idioma oficial, sendo que cada país apresenta suas peculiaridades; por ex.: A natureza com
suas proporções grandiosas, suas forças telúricas acompanham as peripécias humanas na obra
dos escritores.
A cultura latino-americana é o resultante da inserção ibérica inicial e da suplantação
progressiva em seguida no tronco multiforme das culturas ameríndias, com posterior
agregação do elemento africano e das aluviões imigratórias. Dada a diversidade de
componentes, um problema latino-americano essencial foi e continua sendo encontrar sua
identidade cultural, situação que a literatura reflete, ao procurar apropriar-se de uma
linguagem e concretizar um conteúdo num idioma em certa medida emprestado, e dentro de
um contexto político não unificado. A procura se intensifica e o conflito torna-se evidente em
certos momentos críticos de tomada de consciência: a emancipação romântica, o modernismo,
o romance social e a literatura de nossos dias.
O espanhol da Amércia, com suas peculiaridades e sua riqueza constitui-se num
extraordinário instrumento expressivo e estético, nas mãos dos grandes escritores entre os
quais se destaca Pablo Neruda que mostra através da sua obra poética uma troca significativa
e inovadora, recordação valorativa ao mundo do homem mostrando a raiz de todo fascínio:
“...o mundo, monótono e pequeno, hoje, ontem, amanhã, faz- nos ver sempre a nossa imagem.
Um oásis de horror num deserto de tédio”.
Mas, a realidade e a sensibilidade latino-americana penetram e encharcam seus
romances a tal ponto que a questão de influência chegar a ser um assunto quase que
puramente acadêmico conforme disse com muita sensatez Pablo Neruda:
O mundo das artes é uma grande oficina em que todos trabalham e se ajudam, mesmo
que não o saibam ou acreditem. E, em primeiro lugar, somos ajudados pelo trabalho dos que
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nos precederam e já se sabe que não há Rubén Darío sem góngora, nem Apollinaire sem
Rimboud, nem Bandilaire sem Lamartine, nem Pablo Neruda sem todos eles juntos1 .
2.1 Vida e Obra
Parral é uma pequena cidade do Chile entre Cordilheira dos Andes e Oceano Pacífico,
região de grande mineração de cobre e salitre.
Pablo Neruda em um de seus artigos, descreveu as características dos homens dessa
região: São homens de rostos queimados, expressão de solidão e de abandono concentram-se
nos olhos de escura intensidade; o encanto das mulheres, o trabalho de seus companheiros e a
inteligência de seus compatriotas.
Nasceu nesta cidade sua pátria formosa, a forte beleza da natureza, a 12 de julho
Neftalí Ricardo Basilalto Reyes que literariamente era conhecido pelo nome de Pablo Neruda.
Filho do ferroviário José del Carmen Reyes Morales e da professora Rosa Basoalto Opazo
que faleceu poucos anos depois do nascimento do poeta.
Em 1906 a família se translada para Temuco cidade pioneira sem passado, mas como
os índios não sabiam ler, as lojas de ferragens ostentavam nas ruas os seus emblemas
exagerados.
Um imenso serrote, uma gigantesca janela, um cadeado, as sapatarias uma bota
colossal; a vida era muito difícil para os pequenos agricultores; as vinhas cresciam no centro e
o vinho era abundante.
Seu pai José del Carmen se casa com Trindad Candia Maverde, a quem o poeta
menciona em diversos textos.
1
Pablo Neruda e Nicanor Parral, Santiago do Chile, 1962, p.54.
13
Neruda realizou seus estudos no Liceu de “Hombres” desta cidade, onde também
publicou seus primeiros poemas no jornal regional “La mañana”.
Em 1927 se radicou em Santiago e estudou Pedagogia em francês na Universidade do
Chile onde obteve seu primeiro prêmio da festa da primavera com o poema “La Canción de
Fiesta”, sendo publicado posteriormente na revista “juventud”.
Sempre participando ativamente de diversas manifestações artísticas e ideológicas,
sendo um dos maiores poetas chilenos e da literatura contemporânea em geral, sua obra
poética passa com o correr dos anos por fases bastante distintas, cada vez menos lírico, cada
vez mais épico. Quanto mais engajado mais despojado em sua expressão; versos simples que
possam ser entendidos por gente simples, a medida que aumenta sua politização o poeta vai
retornando a linguagem tradicional, abandonando os escotismo.
De uma forma geral, a poesia de Pablo Neruda tem as seguintes vertentes; aos poemas
de amor, a poesia voltada para a solidão e a depressão, a poesia épica, política e a poesia do
simples cotidiano.
2.2 Sua Infância
Através da poesia de Neftali Ricardo que podemos ter uma imagem nítida de sua
infância.
Era muito tímido e silencioso.
Como ele próprio dizia: nasci para a vida, para a terra, para a poesia e para a chuva,
porque desde a sua infância o seu único personagem inesquecível foi a chuva.
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Em frente a sua casa a rua convertia-se num imenso mar. Carroça se atolava no meio
da rua, o camponês com manta de lã negra fustigava os bois que não podiam mais avançar
entre a chuva e o barro.
Pelas veredas, pisando em uma pedra e outra, contra o frio e a chuva andava até o
colégio. O vento levava os guarda-chuvas, os impermeáveis eram caros e as luvas as
incomodavam, os sapatos se encharcavam.
Depois vinham as inundações sobre os povoados onde vivam a gente mais pobre, junto
ao rio e os tremores que sacudiam a terra.
Uma de suas recordações, certa vez chovia implacavelmente e nada parecia mais
formidável que o chapéu de oleado verde papagaio. Apenas chegou à sacada o chapéu voou
como um papagaio. Ele o perseguia e quando ia pegá-lo voava de novo entre a gritaria mais
ensurdecedora que jamais escutou, nunca mais voltou a vê- lo.
2.3 O Pseudônimo
A resposta era demasiada simples e tão sem nada de extraordinário que guardava o
mais cuidadoso segredo. Quando tinha quatorze anos de idade seu pai perseguia sua atividade
literária. Não concordava em ter um filho poeta, e para encobrir a publicação de seus
primeiros versos buscou um sobrenome que os despistasse totalmente. Encontrou numa
revista esse nome tcheco, sem saber se quer que se tratava de um grande escritor, Jan Neruda,
venerando por todo um povo, autor de belíssimas baladas e romances e com monumentos no
bairro Mala Strana de Praga, onde colocara uma flor aos pés de sua estátua.
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2.4 Primeiro Poema
Muitas vezes lhe perguntavam quando começou a escrever seu primeiro poema ou
mesmo quando nasceu dentro dele a poesia.
Tudo começou muito longe da infância e tendo apenas aprendido a escrever, sentiu
uma certa vez uma imensa emoção e traçou algumas palavras semi-rimadas mas estranhas a
ele, diferentes da linguagem diária. Passou a limpo num papel, preso de uma ansiedade
profunda de um sentimento até então desconhecido espécie de angústia e tristeza. Era um
poema dedicado a sua mãe, isto é, a sua madrasta angelical, cuja sombra suave protegeu toda
a sua infância; sentia-se incapaz de julgar sua 7ª produção, levou a seus pais que estavam na
sala de jantar mergulhados em conversas que dividiam o mundo das crianças e dos adultos.
Desdobrou o papel com as linhas trêmulas ainda com a 7ª visita da inspiração. Seu pai leu
distraidamente e devolveu- lhe, dizendo: De onde copiaste?
Assim nasceu seu 7º poema e que assim recebeu a 1ª amostra distraída da crítica
literária.
Entretanto avançava no mundo do conhecimento, do desordenado rio dos livros como
um navegante solitário. A avidez de leitura não descansava de dia nem de noite.
Certa vez, encontrou-se com o poeta Dom Augusto Winter que o admirava de sua
voracidade literária, chegando a Temuco a poeta Gabriela Mistral a qual viria exercer o cargo
de Diretora do Liceu de meninas, presenteou- lhe com alguns de seus livros; e outros poetas
como: Tolstoi, Dostoievski e Tchecov os quais faziam parte de sua preferência.
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2.5 Prêmio Nobel
Antes nomeado Cônsul geral do Chile, Neruda serviria sucessivamente em Buenos
Aires, Madrid durante a guerra civil Espanhola, que teve importância decisiva em sua vida,
sendo embaixador no México e também eleito Senador; esteve exilado em Paris; foi
novamente embaixador do Chile em Paris e recebeu o título de Doutor Honoris causa na
Universidade de Oxford, na Grã-bretanha.
Esteve no Brasil em diversas oportunidades, e numa delas declamou seus poemas
perante grande população concentrada no estádio do Pacaembu em S.Paulo.
Em 1971, estava em Paris com sua mulher Matilde e recebeu o Prêmio Nobel.
Comunicou antes de qualquer pessoa a Salvador Allende, com quem compartilhou muitas
lutas.
Estava recém-operado, anêmico e titubeando ao andar com pouca vontade de se
mover. Chegaram os amigos para o jantar naquela noite: Gabriel Garcia Márquez, de
Barcelona; Siqueiros do México e seu grande acompanhante a Estocolmo Miguel Otero Silva,
Venezuelano grande escritor e poeta brilhante, companheiro incomparável.
Os telegramas se acumulavam em montanhas. A cerimônia ritual do Prêmio Nobel
teve um público imenso, tranqüilo e disciplina do que aplaudiu com oportunidade e cortesia.
Em 23 de setembro de 1973, sucumbiu a doença e, certamente, à amargura do golpe de
estado vitorioso de Pinochet contra o governo de Salvador Allende.
A opinião pública internacional tomou conhecimento com profundo estupor da casa de
Valparaíso e a casa de Santiago, onde o cadáver foi velado, foram saqueadas e destruídas.
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2.6 Crepusculário
Refugiou-se na poesia com ferocidade de tímido.
De tarde ao pôr do sol, defronte a sacada, desenrolava-se um espetáculo diário que
Pablo Neruda não perdia por nada deste mundo. Era o poente com grandioso esbanjamento de
cores e distribuição de luzes.
Em 1923 foi publicado seu 1º livro: crepusculário. Teve muitas dificuldades para
pagá- lo. Vendeu os poucos móveis, penhorou o relógio que tinha sido presente do seu pai.
Era o poeta estudantil de capa escura, magro e desnutrido como o poeta daquela época.
Apesar de tantas dificuldades saiu pela rua com seus livros debaixo do braço, com os
sapatos rotos e louco de alegria.
2.7 Residência en La Tierra
A angústia do poeta assume dimensões trágicas. Neruda tem do mundo uma visão
desolada. Por todo lado chamam sua atenção a morte, a ruína, a desintegração. E a falta de
sentido da vida reflete-se no poeta, em total descaso pela forma. Parece que não quer ser
entendido por um mundo em sua composição. A visão do horror da guerra civil Espanhola
desperta em Pablo Neruda o entusiasmo perdido.
18
2.8 Canto General
Pablo Neruda consegue atingir alguns pontos mais altos dessa nova fase. Dividido em
15 partes, o poema canta a geografia e a vegetação da América, a aparição dos homeros,
animais e águas, sua posterior destruição pelos colonizadores. O poeta se exalta, mistura os
nomes dos libertadores do séc. XIX com os de líderes do comunismo. Prega a derrubada das
ditaduras, enaltece o trabalhador americano. Bastante desigual, o melhor poema do “Canto
General” é “Alturas de Machu Piechu”.
Escrito seu épico “Canto General” e depois em Chile pronuncia um discurso em que
indica diretamente seus novos ideais poéticos com explicativa alusão à luta entre seus deveres
e suas inquietações profundas, disse Neruda:
“Neste ano de luta não tive tempo sequer de olhar de perto aquilo que minha poesia
aclara: as estrelas, as plantas e os cereais, as pedras dos rios e dos caminhos do
Chile. Não tive tempo de continuar minha misteriosa exploração, aquela que me
ordena tocar com amor a neve para que a terra e o mar me entreguem sua
misteriosa essência mas avancei por outro caminho, e cheguei tocar o coração
desnudo de meu povo e a verificar com orgulho que nele vive um segredo mais forte
do que a primavera, que nem humilde, solitário e desamparado povo tira do fundo
do meu duro território, e o levanta em seu triunfo, para que todos os povos do
mundo o considerem, o respeitem e o imitem”. (NERUDA)
E ainda mais dramaticamente repete um ano depois, em Montevidéu:
...Não pude, não posso conservar minha cátedra de silencioso exame de vida e do
mundo, tenho que sair e gritar pelos caminhos e assim ficarei até o final de minha
vida. Somos solidários e responsáveis pela paz da América, mas essa tarefa nos dá
autoridade, e nos mostra o dever de que a humanidade, com nossa intervenção, saia
do delírio e renasça na tormenta....
A América Hispânica encontrou sua expressão própria. O mundo americano não
representa mais mera visão folclórica ou encanto exótico.
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Converteu-se em expressão autêntica de uma literatura que é instrumento de indagação
vivencial e busca raízes, indicando sua maturidade criadora.
2.9 Veinte Poemas de Amor
É um livro doloroso e pastoril que contém suas mais atormentadas paixões, misturadas
com a natureza envolvente do sul da pátria. Era um dos livros que Neruda mais amava,
porque apesar de sua aguda melancolia estava presente nele o prazer de viver.
Os veinte poemas de amor são o romance de Santiago, com as suas estudantes, a
Universidade e o cheiro de madressilva do amor compartilhado.
Sempre quando lhe perguntavam quem era a mulher dos Vinte Poemas de Amor, era
difícil responder. Marisol é o idílio da província encontrada com imensas estrelas noturnas e
olhos escuros como o céu úmido de Temereo. Marisombra é a estudante da capital, boina
cinzenta, olhos suavíssimos, o cheiro constante de madressilva do errante amor estudantil, do
apaziguamento físico, dos apaixonados encontros nos esconderijos da cidade.
2.10 Auto-Retrato
De minha parte, sou ou penso ser narigudo, olhos pequenos, careca, barrigudo, pernas
compridas, pés largos, pele amarela, cheio de amores, imprevisível de cálculos, confuso de
palavras, mãos ternas, lento no andar, coração permanentemente aberto, aficcionado às
estrelas, marés maremotos, admiradores dos insetos escaravelho, que caminha nas areias,
desajeitado nas instituições, chileno eternamente, amigo de meus amigos, sem inimigos,
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vivente entre pássaros, mal educado em casa, tímido nos salões, arrependido sem objetivo,
mau administrador, falante, e curandeiro das tinturas, discreto entre os animais, cheiro de
dificuldades, investigador de mercados, escuro nas bibliotecas, melancólico nas montanhas,
incansável nos bosques, muito lento nas respostas, ocorrente anos depois, vulgar durante todo
o ano, brilhante com meu caderno, impressionante apetite, cruel no sono, sossegado na
alegria, inspetor do céu a noite, trabalhador invisível, desordenado, persistente, valente por
necessidade, covarde sem pecado, sonolento por vocação, amado pelas mulheres, ativo por
padecimento, poeta por maldição e muito bobo.
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3. ALGUNS POEMAS
O vento na Ilha
O vento é um cavalo:
ouve como ele corre
pelo mar, pelo céu.
Quer me levar: escuta
como ele corre o mundo
para levar-me longe
Esconde- me teus braços
por esta noite erma,
enquanto a chuva rompe
contra o mar e a terra
sua boca inumerável.
22
Escuta como o vento
me chama galopando
para levar-me longe.
Como tua fronte na minha,
sua boca em minha boca,
atados nossos corpos
ao amor que nos queima,
deixa que o vento passe
sem que possa levar- me
Deixa que o vento corra
coroado de espuma,
que me chame e me busque
galopando na sombra,
enquanto eu, protegido
sob teus grandes olhos,
por esta noite só
descansarei, meu amor.
23
Saudade
Saudade é solidão acompanhada, é quando o amor ainda
não foi embora, mas o amado já ...
Saudade á amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca, é não ver o
futuro que nos convida ...
Saudade é sentir que existe o que não existe mais ...
Saudade é o inferno dos que perderam, é a dor dos que
ficaram para trás, é o gosto de morte na boca dos que
continuam ...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E isso é o maior dos sofrimentos: não ter por quem sentir saudades, passar pela vida e não
viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido.
Antes de amar-te
Antes de amar-te, amor, nada era meu:
Vacilei pelas ruas e coisas:
Nada contava num tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
24
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
tudo era dos outros e de ninguém,
até que tua beleza e tua pobreza
de dádivas encheram o outono.
Áspero amor, violeta coroada de espinhos...
arbustos entre tantas paixões erguidas,
lança das dores, coroa da ira,
Por quais caminhos e como te dirigiu a minha alma?
Por que precipitaste teu fogo doloroso,
Repentinamente, entre as folhas frias do meu caminho?
Quem te ensinou os passos que te levaram a mim?
Que flor, que pedra, que fumaça mostraram minha casa?
A verdade é que tremeu a noite apavorante,
a aurora encheu todas as taças com seu vinho
e o sol estabeleceu sua presença celeste,
enquanto o amor cruel me cercava sem trégua,
até que padecendo- me com espadas e espinhos,
abriu meu coração um caminho ardente.
25
Nos bosques, perdido
Nos bosques, perdido, cortei um ramo escuro
e aos lábios, sedento, levante seu sussurro:
Era talvez a voz da chuva chorando,
um sino quebrando ou um coração partido –
Algo que de tão longe me parecia
oculto gravemente, coberto pela terra,
um grito ensurdecido por imensos outonos,
pela entreabertas úmida treva das folhas.
Porém, ali, despertando dos sonhos do bosque,
o ramo de avelã contou sob minha boca,
e seu odor errante subiu para o meu entendimento como se, repentinamente, estivessem me
procurando as raízes que abandonei, a terra perdida com minha infância, e parei ferido pelo
aroma errante.
Não o quero, amada
Para que nada nos prenda
Para que não nos uma nada.
Nem a palavra que perfumou tua boca
Nem o que não disseram as palavras
Nem a festa de amor que não tivemos
Nem teus soluços junto à janela.
26
A Canção Desesperada
Tua lembrança emerge desta noite em que estou.
O rio e o mar enlaçam seu lamento obstinado.
Abandonado como um cais na madrugada.
É a hora de partir, oh abandonado!
Sobre o meu coração chovem frias corolas.
Oh sentina de escombros, feroz gruta de náufragos!
Em ti se acumulam os vôos e as guerras.
De ti ergueram asas os pássaros do canto.
Tu devoraste tudo, qual devora a distância.
Como o mar, como o tempo. Tudo em ti foi naufrágio!
Era a hora ditosa do assalto e do beijo.
Era a hora do êxtase que ardia como um facho.
Uma ânsia de piloto ou de mergulhador cego,
turva embriaguez de amor, tudo em ti foi naufrágio!
Na infância de névoa, minha alma alada e ferida.
Descobridor perdido, tudo em ti foi naufrágio!
Tu cingiste-te à dor, prendeste-te ao desejo.
Derrubou-te a tristeza, tudo em ti foi naufrágio!
Fiz recua então a muralha de sombra,
caminhei para além do desejo e do ato.
Oh carne, carne minha, ó amada que perdi,
a ti nesta hora úmida evoco e torno cântico.
27
Como um vaso guardaste a infinita ternura
e o infinito olvido partiu-te como um vaso.
Era a solidão, solidão negra das ilhas,
e ali, mulher de amor, me acolheram teus braços.
Era a seda e a fome, e então foste os frutos.
Era a dor e as ruínas e tu foste o milagre.
Ah, mulher, eu não sei como pudeste conter- me
na terra da tua alma e na cruz dos teus braços!
Meu desejo de ti foi terrível e breve,
o mais revolto e ébrio, o mais tenso e mais ávido.
Cemitério de beijos, ainda há fogo em teus túmulos,
ainda os cachos ardem picados pelos pássaros.
Oh boca mordida, oh membros beijados,
oh os famintos dentes, os corpos entrançados!
Oh a cópula louca de esperança e esforço
em que ambos nos atamos e nos desesperamos.
E a ternura, suave como a água e a farinha.
E a palavra que mal começava nos lábios.
Esse foi meu destino, nele singrou minha ânsia,
nele caiu minha ânsia, tudo em ti foi naufrágio!
Oh sentina de escombros, em ti tudo caía,
que dor não exprimiste, que ondas não te afogaram!
De queda em queda ainda chamejaste e cantaste.
De pé como um marujo sobre a proa de um barco.
Floresceste ainda em cantos e brotaste em correntes.
28
Oh sentina de escombros, poço aberto e amargo.
Mergulhador cego e pálido, derrotado e fundeiro,
descobridor perdido, tudo em ti foi naufrágio!
É a hora de partir, a hora dura e fria
com que a noite domina todo o horário.
O cinturão ruidoso do mar abraça a costa.
Surgem frias estrelas, emigram negros pássaros.
Abandonado como um cais na madrugada.
Somente a sombra trêmula se torce em minhas mãos.
Ah, para além de tudo! Ah, para além de tudo!
É a hora de partir. Oh abandonado!
29
CONCLUSÃO
Pablo
Neruda
legou
uma
obra
profundamente
humana
que
representa
extraordinariamente a sensibilidade que a América Latina trouxe ao mundo; seus poemas
traduzem sucessos que marcaram sua existência. Por seus próprios sofrimentos ampliou seu
interesse por toda humanidade.
Sua obra permanece como tema inspirador. Portanto, é um verdadeiro Tesouro
Cultural para todas as gerações, não somente as latino-americanas, como as dos outros
continentes.
30
REFRÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FRANCO, Jean. História de la Literatura Hispano-Americana. Barcelona: Ariel, 1999.
JOSEF, Bella. História da Literatura Hispano-Americana. Ed. Francisco Alves. 1979.
MORENO, César Fernández. América Latina em sua Literatura. Ed. Perspectivo. 1979.
NOVA ENCICLOPÉDIA BARSA Vol. 10 p: 84.
PIZARRO, Ana. Palabras Literatura Y Cultura. Unicamp . 1995.
31
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA
CADEMARTORI, Lígia. Períodos Literários. S. Paulo . Ed. Ática, 1995.
CCOLOQUI INTERNACIONAL. Letras nº 6. S. Paulo. Ed. Fernando Pessoa, 1972 a 1979.
MARCENAC, Jean. Coleção Arte Política. Povoa do Varzin. Ed. Poveira
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