Crátilo: Revista de Estudos Linguísticos e Literários, UNIPAM, (4):124-136, 2011
O Golpe Militar Chileno em Pablo Neruda
e Roberto Rolaño: relações literárias
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JORGE BENEDITO DE FREITAS
Universidade Federal de Ouro Preto. e-mail: [email protected]
Resumo: O trabalho apresenta uma relação entre Pablo Neruda e Roberto Bolaño, pelo discurso literário, analisando as obras Confesso que Vivi (1974), de Neruda – focando
no capítulo 12, “Pátria Doce e Dura” – e Noturno do Chile (2000), de Roberto Bolaño.
São obras de gêneros, linguagem e períodos distintos, porém em determinada instância, abordam o mesmo assunto: o Golpe Militar ocorrido no Chile em 1973. Este texto
aborda ainda a relação literária existente entre romance de Bolaño – e o conto “Carnet
de Baile”, publicado no livro Putas Asesinas (2001) – e a figura de Neruda. A análise do
Golpe pela ótica dessas obras visa a proporcionar um estudo sobre o período históricosocial em que se encontrava a sociedade chilena no ano de 1973, situação que se assemelha ao que ocorreu em quase toda a América Latina, onde outros países também
foram governados por regimes ditatoriais.
Palavras-chave: literatura e política; Chile; Bolaño; Neruda.
I. Introdução
No início da década de 70, o Chile era o único país da América do Sul a chegar
próximo de conquistar uma transformação socialista. Nesta década, o Chile passava
por uma séria crise econômica, pois seu principal produto, o cobre, baixara de preço, e
grande parte do lucro se encontrava no exterior, principalmente nas mãos norteamericanas. O crescimento populacional pressionava por empregos e por uma qualidade melhor nos serviços sociais.
Em janeiro de 1970, pouco antes das eleições, a Unidade Popular, maior centro
da esquerda chilena, ainda não havia decidido quem seria o seu candidato à presidência. Enquanto se desenrolavam as negociações internas, tendo como nome forte Salvador Allende, outra frente de esquerda chilena, o Partido Comunista, havia lançado como seu candidato o ex-senador e poeta Pablo Neruda; porém a delicada situação da
política chilena e a grande amizade entre os dois fizeram com que Neruda desistisse da
candidatura e passasse a apoiar o amigo Salvador Allende.
Em seu livro Confesso que Vivi, publicado postumamente pela primeira vez em
1974, Neruda faz uma grande e bela descrição de sua vida como poeta, senador, em-
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baixador e apaixonado pela vida. No capítulo 12, intitulado “Pátria Doce e Dura”, do
mesmo livro, o poeta discute as várias influências de personagens da história comunista em sua obra, abrangendo desde o chamado à candidatura à presidência do Chile
pelo Partido Comunista em 1969, até o cruel retorno à pátria prestes a ser dominada
por uma ditadura militar. Neruda foi um poeta de várias facetas, dentre as quais possuidor de um grande senso de responsabilidade política. Foi um poeta marxista e difundiu em suas obras ideais que influenciaram muitas sociedades.
Roberto Bolaño, premiado escritor chileno, entusiasmado pelo governo socialista, voltara, no início de 1973, do México, país em que se encontrava desde 1968. Com o
golpe de 73, Bolaño foi mandado para a prisão por não concordar com os rumos ditatoriais em que o país estava entrando. Libertado por um amigo de infância, ele e a família
partiram para El Salvador e depois novamente para o México, onde publicava seus
poemas; por fim firmou-se na Espanha, onde permaneceu até sua morte em 2003.
A obra Confesso que Vivi, livro de memórias do poeta Pablo Neruda, apresenta
caráter bibliográfico e poético, um relato de sua vida desde jovem provinciano que
fazia confissões com seu único amigo, a Chuva, até a dura desilusão do golpe militar
de 1973, que culminava com a morte do amigo e então presidente chileno, Salvador
Allende, relatado no capítulo 12 da obra, “Pátria Doce e Dura”:
Estas memórias ou recordações são intermitentes e por vezes fugidias na memória, porque a vida também é assim. As memórias do memorialista não são as memórias do poeta. Aquele viveu talvez menos, mas fotografou muito mais, recreando-nos com a perfeição dos pormenores. Este entrega-nos uma galeria de fantasmas sacudidos pelo fogo e
pela sombra da sua época (NERUDA, 1983, p. 8).
A obra de Roberto Bolaño, Noturno do Chile, publicada em 2000, é um romance
com dois parágrafos, sendo o primeiro bastante longo e o segundo consta apenas de
uma frase: “E depois se desencadeia a tormenta de merda” (BOLAÑO, 2004, p. 1001). O
livro é narrado em primeira pessoa pelo padre Sebastián Urrutia Lacroix que, às vésperas de sua morte, realiza um monólogo sobre sua vida e, por meio dele, reconstrói
momentos importantes da história chilena, dentre eles, os momentos vividos antes e
depois do golpe de 1973.
As duas obras apresentam características diferentes no que se refere ao gênero
literário e à linguagem. Confesso que Vivi é uma obra de caráter biográfico em que o
poeta Pablo Neruda remonta fatos de sua vida. A obra é dividida em 12 capítulos, discorrendo sobre sua infância, juventude, encontros com a poesia, aspirações e concretizações políticas. A obra de Bolaño, Noturno do Chile, é um romance que mistura fatos
de ficção com a presença de personagens reais, apresentando uma crítica à sociedade
chilena. Bolaño reconstrói a vida social chilena por meio da literatura.
As obras foram escritas em períodos históricos diferentes: Confesso que Vivi, foi
publicado em 1974, pouco tempo após a morte de Neruda, em 1973. Segundo Isabel
Allende, sobrinha do presidente Salvador Allende, em seu livro Paula (1995), “em setembro de 1973, doze dias depois do Golpe Militar, morreu Pablo Neruda. Estava do-
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ente e os tristes acontecimentos daqueles dias acabaram com sua gana de viver” (ALLENDE, 1995, p. 135). Noturno do Chile foi publicado em 2000, dez anos após o general
Augusto Pinochet, por meio de um plebiscito, deixar a presidência do Chile, nas primeiras eleições chilenas, desde 1970.
II. “Pátria Doce e Dura”, de Pablo Neruda
O capítulo 12 do livro autobiográfico de Nefatli Ricardo Reyes Basoalto, poeta
chileno de pseudônimo Pablo Neruda, começa descrevendo os acontecimentos antecessores à eleição de 1970, que teve como vencedora a Unidade Popular, cujo candidato
era Salvador Allende. O capítulo termina com o assassinato do presidente e a derrubada do governo socialista. Com esse golpe, a democracia no país foi substituída por uma
ditadura militar, comandada pelo General Augusto Pinochet, que iria governar o Chile
com mãos de ferro até meados de 1990.
Neruda divide o capítulo 12 em subtítulos, mantendo a estrutura apresentada
em todo livro. O autor utiliza uma linguagem suave, poética, para descrever suas memórias que vão se entrelaçando à história do Chile. Ele inicia o capítulo 12, “Pátria Doce e Dura”, tratando os extremismos revolucionários como sendo uma atitude prejudicial para as rebeliões revolucionárias. Estas rebeliões somente encontram força se depositadas em organizações da massa possíveis de realizar uma mudança social. Extremismos revolucionários caracterizam-se apenas como revoluções individuais, impossíveis de proporcionar alterações na ordem vigente e incapazes de realizarem uma ampla revolução que atinja a todos. Alertando sobre o perigo destes extremistas, o poeta
cita uma de suas lembranças sobre um velho conhecido, senhor idôneo, oriundo de
minorias raciais e extremamente apaixonado por tal origem, que ao fim se revelava um
espião a serviço de um governo fascista, determinado a realizar a passagem de informações ao seu governo sobre organizações contrárias.
A partir do subtítulo “Poética e Política”, o autor começa a descrever a sua relação com a política de seu país, no conturbado período pré-eleições de 1970. Sempre
com a suavidade poética que lhe é de costume, Neruda vai delineando as suas memórias, revelando que sua tranquilidade de poeta encontrara pela frente vários desafios.
O inverno é estático e brumoso. Ao seu encanto acrescentamos todo dia o fogo da
lareira. A brancura das areias na praia nos oferece um mundo sempre solitário, como
era antes de existirem habitantes ou veranistas na terra. Mas não se pense que eu
detesto a multidão estival. Mal se aproxima o verão, as moças se aproximam do mar,
homens e crianças entram nas ondas com precaução e saem saltitando do perigo. Assim
consumam a dança milenar do homem diante do mar, talvez a primeira dança dos seres
humanos ( NERUDA, 1983, p. 352).
Em 1969, Neruda passou todo o ano em Isla Negra, litoral chileno, acompanhado de sua esposa Matilde Urrutia. Esta vida simples de poeta, dedicada à contempla-
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ção da natureza, regada com a solidão de seus poemas, encontra afirmação em sua vida política dedicada ao enfrentamento das multidões.
Solidão e multidão continuarão sendo deveres elementares do poeta de nosso tempo.
Na solidão, minha vida se enriqueceu com o marulhar no litoral chileno. Intrigaram-me
e me apaixonaram as águas que arremetiam e os penhascos fustigados, a multiplicação
da vida oceânica, a formação impecável dos pássaros migradores, o esplendor da espuma marinha.
Mas aprendi muito mais da grande maré das vidas, da ternura vista em milhares de
olhos que me olharam ao mesmo tempo. Esta mensagem pode não estar ao alcance de
todos os poetas, mas quem a sentiu a guardará em seu coração, desenvolvendo-a em
sua obra.
É memorável e dilacerador para o poeta ter encarnado para muitos homens, durante
um minuto, a esperança (NERUDA, 1983, p. 354).
Em 1970, ano de eleição presidencial no Chile, o país estava dividido. De um
lado a coalizão de partidos da direita, denominada Democracia Cristã, já apresentava
seus candidatos, enquanto do outro a coalizão de vertente esquerdista, denominada
Unidade Popular (UP), ainda estava dividida, sem ter um candidato definido. O nome
de Pablo Neruda sai como candidato pelo seu partido, o Partido Comunista – membro
da Unidade Popular –, cuja intenção era de se fortalecer com apenas um nome para
disputar as eleições. O nome de Salvador Allende, que já havia disputado as eleições
presidenciais por três vezes, é lançado pelo Partido Socialista – também membro da
Unidade Popular. Chegando a um consenso dentro da UP, Neruda renuncia à sua possível candidatura para apoiar o amigo Salvador Allende como candidato único pela UP
à eleição presidencial no Chile.
A Unidade Popular vence a eleição de 1970 e, pela primeira vez, o Chile tem um
presidente de vertente socialista. Fortemente apoiado pelos operários e camponeses – a
camada popular chilena –, Allende começa grandes mudanças em seu país, sendo a
mais significativa a nacionalização do cobre, principal recurso natural que estava em
mãos estrangeiras. Após a posse de Allende, Neruda assume o cargo de embaixador do
Chile em Paris. No subtítulo “Embaixador em Paris”, o poeta conta como se sentira
feliz pelas realizações tão significativas em seu país.
Tinha sido feita uma revolução no Chile, uma revolução à chilena, muito analisada e
muito discutida. Os inimigos de dentro e de fora afiavam os dentes para destruí-la. Por
cento e oitenta anos se sucederam em meu país os mesmos governantes com diferentes
rótulos. Todos fizeram o mesmo. Continuaram os farrapos, as moradias indignas, as
crianças sem escolas nem sapatos, as prisões e as bordoadas contra meu pobre povo.
Agora podíamos respirar e cantar. Isso era o que me agradava na minha nova situação
(NERUDA, 1983, p. 358).
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O capítulo 12, que remonta a essas memórias do poeta, termina com o subtítulo
“Allende”, em que Neruda descreve de forma poética sua admiração pelo presidente
chileno e os últimos dias que decorreram até o fatídico golpe militar ocorrido em setembro de 1973, que culminou com a morte do presidente Allende. O golpe deu fim às
mudanças sociais realizadas por Allende e, então, o país foi entregue às mãos dos militares, apoiados pelas diversas camadas elitizadas do Chile. Tudo isso acarretou o fim
da democracia chilena, iniciando, a partir de então, uma ditadura feroz e sanguinária
que iria durar até 1990, comandada pelo General Augusto Pinochet. Em suas últimas
linhas, Neruda descreve com pesar o heroísmo e fim do “companheiro” Allende:
Escrevo estas rápidas linhas para minhas memórias há apenas três dias dos fatos inqualificáveis que levaram à morte meu grande companheiro, o Presidente Allende. Seu assassinato foi mantido em silêncio, foi enterrado secretamente, permitiram somente à sua
viúva acompanhar o imortal cadáver. A versão dos agressores é que acharam seu corpo
inerte, com mostras visíveis de suicídio. A versão que foi publicada no estrangeiro é diferente. Após o bombardeio aéreo, vieram os tanques, muitos tanques, para lutar intrepidamente contra um só homem: o Presidente da República do Chile, Salvador Allende,
que os esperava em seu gabinete, sem outra companhia a não ser seu grande coração
envolto em fumaça e chamas.
Não podiam perder uma ocasião tão boa. Era preciso metralhá-lo porque jamais renunciaria a seu cargo (NERUDA, 1983, p. 368).
III. Noturno do Chile, de Roberto Bolaño
Noturno do Chile, de Roberto Bolaño, é um romance que discorre sobre as lembranças da vida do personagem padre, escritor e crítico literário Sebástian Urrutia Lacroix, que em seu leito de morte, atormentado pela figura de um “jovem envelhecido”,
busca esclarecer alguns fatos de sua vida, tendo como pano de fundo uma crítica severa às camadas da sociedade chilena que ficaram apáticas durante o período que antecedeu o Golpe Militar de 11 de setembro de 1973 e permaneceram inertes nos anos seguintes da duríssima repressão Militar.
Bolaño tem como característica peculiar a mistura de gêneros literários em sua
literatura, mesclando a própria literatura com a crítica literária. Segundo o estudioso da
obra de Bolaño, Rafael Gutiérrez Giraldo, em seu artigo publicado pela revista Gragoatá,
em tom sério e burlesco, às vezes sarcástico, às vezes demolidor, uma forma particular
de crítica literária aparece de forma constante na obra ficcional de Roberto Bolaño.
Grande parte da obra deste escritor chileno tem como tema central a própria literatura.
Suas histórias são habitadas por poetas, escritores, editores, leitores compulsivos e professores de literatura. Assim não é estranho que um tipo de crítica literária também faça
parte integral de sua ficção (GIRALDO, 2007, p. 180).
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As lembranças vividas por Lacroix, na medida em que se desenvolve o romance, se entrelaçam com fatos e personagens reais da história do Chile. No decorrer de
todo o romance, Lacroix encontra-se com personagens reais da literatura que serviram
de forte influência para Bolaño. Noturno do Chile apresenta uma forte semelhança com o
conto “Carnet de Baile”, de outro livro do chileno intitulado Putas Asesinas (2001). Nas
palavras de Giraldo:
Escrito em forma autobiográfica, o conto descreve a relação apaixonada e depois conflituosa, entre o narrador e a obra de Neruda. Essa história literária se mistura à história
de vida do narrador durante o início da ditadura chilena. História de coragem juvenil e,
ao mesmo tempo, história de formação literária. A literatura funciona neste conto, como
em quase toda a obra de Bolaño, como catalisador, como fio condutor da narrativa. O
conto desenha o trajeto de leitura do narrador Bolaño, começando com Neruda e depois
passando por Vallejo, Huidobro, Borges, De Rohka, Girondo, até chegar a Nicanor Parra, que será uma de suas influências mais marcantes. A citação de escritores é comum
em Bolaño e vai construindo uma cadeia de influências e gostos literários que o próprio
escritor revela e serve de ponte para aproximar-se da sua obra ficcional e crítica (GIRALDO, 2007, p. 183).
•
A sexualidade na relação entre os personagens Lacroix e Farewell
Seguindo na análise do romance Noturno do Chile, abordarei relação entre o personagem Lacroix e seu ídolo, o grande crítico literário Farewell. No primeiro encontro
entre os dois, o padre vê o crítico como sendo um gigante de dois metros de altura,
grandioso renomado e bem trajado, deixando evidente a condição de submissão de
Lacroix a Farewell, aquele que posteriormente o “introduziria” no mundo das letras.
[...] meus dedos frescos de jovem recém-saído do seminário, os dedos de Farewell, grossos e já um tanto deformados como cabia a um ancião tão alto, e falamos dos livros e
dos autores desses livros, e a voz de Farewell era como a voz de uma grande ave de rapina, que sobrevoa rios, montanhas, vales e desfiladeiros, sempre com a expressão justa,
a frase que caia como uma luva em seu pensamento (BOLAÑO, 2004, pp. 7-8).
Essa passagem deixa clara a admiração de Lacroix por Farewell; o padre sentese ingênuo diante do grande crítico literário possuidor de uma sabedoria de ancião,
passando a ideia de que a sua voz potente era ouvida em vários lugares. Nesse primeiro encontro, Lacroix já manifesta o seu desejo em seguir a vereda aberta por Farewell e
também se tornar crítico literário. Daqui é possível observar uma crítica aberta feita
pelo crítico literário ao caracterizar o país como atrasado e pertencente a uma oligarquia agrária pouco interessada no estudo da literatura. Pode-se observar uma contradição, pois Farewell é também pertencente a esta oligarquia dominante. Os principais
acontecimentos entre o padre e o crítico ocorrem em sua fazenda de nome Là-Bas.
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Em sua visita a Là-Bas, o narrador revela ter uma forte tendência homossexual,
que passa a ser presente em sua relação com Farewell. Está sempre presente na narrativa a característica de submissão do padre frente ao seu grande ídolo, que o domina e
com ele mantém uma relação sexual.
[...] E então a mão de Farewell desceu do meu quadril para a minha nádega e um zéfiro
de rufiões provençais entrou no terraço e fez minha batina negra esvoaçar, e eu pensei:
O segundo ai!, passou. Olhe que depois vem o terceiro. E pensei: Eu estava em pé na
areia do mar. E vi surgir do mar uma Besta. E pensei: Então veio um dos sete Anjos que
levavam as sete taças e falou comigo. E pensei: Porque seus pecados se amontoaram até
o céu e Deus lembrou suas iniqüidades (BOLAÑO, 2004, p. 16).
É importante ressaltar essa passagem. Podemos perceber aqui uma crítica à posição religiosa de Lacroix, sugerindo que aquela seria a segunda relação homossexual
do padre. Sendo esse “o segundo ai!”, está aberta a possibilidade de ocorrer um terceiro. Aqui também é colocada uma fuga de Lacroix em relação a sua condição de padre
e, portanto, seu dever de castidade. O personagem apresenta um temor relacionado ao
ato sexual com Farewell, mas se deixa dominar pelo prazer e realiza a cópula.
Bolaño utiliza o padre e o crítico para retratar forte e criticamente dois setores
dominantes da sociedade chilena.
Primeiramente, em Lacroix, que em todo o decorrer do romance não se abstém
de usar a sua batina, temos uma crítica à Igreja e aos padres, de um modo geral. Ao
não se abster de usar a batina, Lacroix mesmo tendenciosamente violando seus votos
clericais, acaba colocando seu desejo pelo mundo das letras em primeiro lugar. Em
Noturno do Chile, o padre está muito mais relacionado com a literatura do que com o
seu sacerdócio. No início ele deseja fazer parte do fechado círculo da literatura chilena,
e acaba se tornando, por fim, crítico e poeta. Essa sua relação muito mais forte com a
literatura do que com o sacerdócio pode ser interpretada como uma fuga de sua condição religiosa. O personagem religioso não mede esforços para fazer parte do círculo
literário chileno, chegando a se relacionar homossexualmente com Farewell para conseguir realizar seu desejo. Mais adiante o narrador descreve o fim de semana passado
na fazenda Là-Bas como se fosse seu “batizado” no mundo das letras chilenas: “O automóvel de um dos convidados de Farewell me levou até Chillán, bem a tempo de pegar o trem que me retornou a Santiago. Meu batismo no mundo das letras estava encerrado” (BOLAÑO, 2004, p. 21).
Em segundo lugar, tem-se Farewell, que representa a oligarquia agrária chilena.
O personagem desdenha os chilenos, caracterizando-os como bárbaros camponeses
aculturados; ele se julga o último e único entendedor da literatura presente naquele
país. Em Farewell podemos perceber uma crítica à sociedade burguesa chilena e à hipocrisia dos intelectuais, ao se julgarem acima das demais classes.
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Lacroix, a política e o Golpe de 11/09/73
Mais adiante, no desenvolvimento do romance, à medida que Lacroix vai se recordando de sua vida, a questão política do Chile é retratada de acordo com as convicções e lembranças do personagem. Após uma longa viagem à Europa, o padre retorna
à sua pátria e encontra o país envolvido em uma grande mudança política e social, e a
descreve com um grande desconforto.
Um dia decidi que era hora de retornar ao Chile. [...] No Chile as coisas não iam bem.
Não sou nacionalista exacerbado, mas sinto um amor autêntico pelo meu país. Chile,
Chile. Como pudeste mudar tanto?, perguntava às vezes, debruçado na minha janela
aberta, olhando a reverberação de Santiago na distância. Que fizeram contigo? Os chilenos enlouqueceram? De quem é a culpa? E outras vezes, enquanto caminhava pelos
corredores do colégio ou pelos corredores do jornal, dizia: Até quando pensas em continuar assim, Chile? Será que vais te transformar em outra coisa? Num monstro que
ninguém reconhecerá? Depois vieram as eleições, e Allende ganhou (BOLAÑO, 2004, pp.
63-64).
O personagem retorna a seu país e o encontra divido em duas vertentes políticas – a direita Democracia Cristã e a esquerdista Unidade Popular – pela disputa da
presidência chilena. O receio quanto às transformações pode ser percebido no padre,
que pertence a uma das classes dominantes do país. Ele se mostra receoso com o novo
rumo do Chile após a vitória de Allende. Em um desenlace depois de uma conversa
com Farewell, que também se mostrava desconfortável com a vitória de Allende, Lacroix termina com um apelo religioso: “Seja o que Deus quiser, disse comigo mesmo.
Vou reler os gregos” (BOLAÑO, 2004, p. 64).
Na passagem do romance, o narrador Lacroix relaciona as passagens importantes do governo socialista de Allende à sua leitura de importantes obras gregas. A posição distanciada e tendenciosa do narrador atua de forma irônica: ele nos dá uma sensação de que a desorganização impera durante todo esse conturbado período político,
iniciando pela leitura da Homero, passando pelos filósofos pré-socráticos, tais como
Tales de Mileto, Zenão de Eleia, sempre mantendo a relação destas leituras com passagens históricas do governo Allende: “depois mataram um general do Exército favorável a Allende, o Chile restabeleceu relações diplomáticas com Cuba [...]” (BOLANO,
2004, p. 64). Seguindo um percurso detalhado por Lacroix entre obras gregas e acontecimentos políticos chilenos, até o termino da leitura grega nos filósofos Platão e Aristóteles, o advento da tomada de La Moneda, a morte de Allende e o início de uma ditadura militar. O distanciamento do personagem em relação aos acontecimentos políticos
fica claro na sua manifestação contrária ao governo “barulhento” de Allende e à situação caótica de seu país, quando ele revela o seu contentamento e a sensação de paz
sentida com o fim do governo:
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[...] Depois veio o golpe de Estado, o levante, o pronunciamiento militar, bombardearam
La Moneda, e quando terminou o bombardeio, o presidente se suicidou e tudo acabou.
Então eu fiquei quieto, com um dedo na página que estava lendo, e pensei: que paz. Levantei, fui à janela: que silêncio. O céu estava azul, um azul profundo e limpo, marcado
aqui e ali por algumas nuvens (BOLAÑO, 2004, p. 65).
•
O Estado Totalitário chileno em Noturno do Chile
O romance continua, retratando a morte do poeta Pablo Neruda, personagem
real de forte influência na literatura de Bolaño, que Lacroix conhecera por intermédio
de Farewell em uma de suas visitas a Là-Bas. Dois personagens enigmáticos que aparecem anteriormente no romance, cujos nomes são Odem e Oidó – Medo e Ódio, escritos
de trás para frente – retornam como funcionários do governo ditatorial. O escritor metaforiza a situação política em que o Chile adentrara com a duríssima repressão exercida pelo governo militar, por meio do nome destes dois personagens que fazem parte
do alto escalão governamental: os dois convidam o padre para exercer uma função
“importantíssima” e secreta, que é ministrar aulas de marxismo ao General Pinochet e
à Junta Militar.
Lacroix ministra aulas aos generais recorrendo às obras principais da teoria
marxista. Bolaño mais uma vez realiza o hibridismo que lhe é peculiar, ao misturar
personagens ficcionais com personagens reais da história chilena. Dentre eles, nesta
parte do romance, vemos o nome de Marta Harnecker, teórica chilena do marxismo
que, em decorrência do golpe militar, se exilou em Cuba de onde dirigiu o MEPLA,
Centro de Investigações da Memória Popular Latino-Americana. Sua obra Conceitos
elementares do materialismo histórico surgia na narrativa como centro de toda a questão
sobre as aulas de marxismo. Muitas das vezes, Harnecker fora tratada com descontentamento pelos generais, devido à sua relação com o marxismo e à aproximação com a
política cubana. Trata-se de uma personagem que aparece para ilustrar a questão do
marxismo presente na América Latina. Causa estranheza para os “alunos” o fato de
uma compatriota saída do ventre da pátria chilena manter relações com a desvirtuada
pátria cubana, depreciando totalmente tal relação:
Falamos de Marta Harnecker. O general Leigh disse que essa senhora tinha amizade
com uns cubanos. O almirante confirmou a informação. É possível?, perguntou o general Pinochet. Pode ser possível uma coisa dessas? Estamos falando de uma mulher ou
de uma cadela? A informação está correta? Está, disse Leigh (BOLAÑO, 2004, p. 74).
Em continuação, o narrador apresenta um diálogo entre Lacroix e Pinochet sobre a formação intelectual de Allende, diálogo em que o general desqualifica Allende
como intelectual e como mártir da pátria: de acordo com o general, Allende não lia
nada, nem ao menos se dava o trabalho de fazê-lo, o que teria acontecido com os outros
antecessores que presidiram o Chile – diferentemente do ditador que se julga, na con-
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versa com Lacroix, um genuíno intelectual, por ter publicado três livros e inúmeros
artigos. A interessante passagem da conversa entre o padre e o ditador termina com a
revelação de Pinochet sobre o motivo pelo qual estava interessado no marxismo.
Por que o senhor acha que quero aprender os rudimentos básicos do marxismo?, perguntou. Para prestar um serviço melhor à pátria, meu general. Exatamente, para compreender os inimigos do Chile, para saber como pensam, para imaginar até onde estão
dispostos a ir. Eu sei até onde estou disposto a ir, garanto-lhe. Mas também quero saber
até onde eles estão dispostos a ir [...] (BOLAÑO, 2004, p. 79).
Os inimigos do Chile são caracterizados pelos marxistas, pelos comunistas e
pelos opositores do regime ditatorial de Pinochet apoiado pelos Estados Unidos contra
a intentona comunista. Esta foi uma situação política comum em quase toda a América
Latina, onde ditadores reinavam com o apoio do poderio militar norte-americano. O
combate a esses “inimigos da pátria” se deu em uma perseguição violenta, resultando
na morte de milhares de cidadãos em toda a América Latina. No caso do Chile, Pinochet estava com tamanha “disposição” que ficou no poder com mão de ferro até meados da década de 90.
Lacroix ainda se lembra de uma promissora candidata a escritora, Maria Canales, que durante as noites, sem lugares para frequentar, cedia a sua casa aos artistas
para que estes realizassem encontros festivos. Ao desenrolar do romance, a casa se revela como sendo um local onde seu marido, um executivo norte-americano, realizava
torturas contra os elementos subversivos contrários ao regime ditatorial.
Mais próximo do fim do romance, o narrador Lacroix apresenta uma metáfora
sobre a situação chilena, como país dominado por uma ditadura, mostrando a incapacidade de os chilenos se posicionar e promover uma mudança na situação do país.
Ao fim do romance retorna a figura que inicia as preocupações de Lacroix, o
“jovem envelhecido”, figura enigmática, que aparece dando a entender que o velho
padre está, enfim, encontrando a morte, e em seus delírios dialoga com ela, de modo a
prestar contas de seus feitos em vida.
IV. Relações entre Roberto Bolaño e Pablo Neruda
Tomemos como ponto de apoio para esta relação a leitura do conto intitulado
“Carnet de Baile”, do livro Putas Asesinas (2001). Segundo Giraldo, o conto autobiográfico descreve a situação de um Bolaño inicialmente apaixonado pela obra de Neruda, o
que se transforma posteriormente numa relação conflituosa. O conto começa com Bolaño descrevendo o fato de que sua mãe sempre lia para ele e os irmãos o livro de Neruda, Vinte Poemas de Amor e uma canção desesperada (1924). Bolaño inicia a descrição de
sua relação com o poeta cânone da literatura chilena, apontando o temor de que aquela
obra nerudiana tenha alcançado o número de um milhão de exemplares vendidos.
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O GOLPE MILITAR CHILENO EM PABLO NERUDA E ROBERTO BOLAÑO
1. Mi madre nos leía a Neruda en Quilpué, en Cauquenes, en Los Ángeles. 2. Un único
libro: Veinte poemas de amor y una canción desesperada, Editorial Losada, Buenos Aires,
1961. En la portada un dibujo de Neruda y un aviso de que aquélla era la edición conmemorativa de un millón de ejemplares. ¿En 1961 se había vendido un millón de ejemplares de los Veinte poemas o se trataba de la totalidad de la obra publicada de Neruda?
Me temo que lo primero, aunque ambas posibilidades son inquietantes, y ya inexistentes (BOLAÑO, 2001, p. 91).
Desde o início, a referência a Neruda fez-se presente na literatura e na vida de
Bolaño. O livro passou de mãos em mãos, percorrendo algumas aldeias ao sul do Chile
até cair em suas mãos, dado pela sua irmã. Bolaño, no decorrer do conto, enfatiza sua
posição inicialmente ridícula e ingênua em relação à literatura chilena, da qual tomava
conhecimento, chegando a descrever uma discussão em que aponta Neruda como o
maior poeta chileno: “Yo era por entonces un joven hipersensible, además de ridículo y
muy orgulloso, y afirmé que el mejor poeta de Chile, sin duda alguna, era Pablo Neruda. Los demás, añadí, son unos enanos” (BOLAÑO, 2001, p. 92). Interessante ressaltar
que a discussão ocorria numa comparação entre Neruda e o poeta chileno Nicanor Parra, apontado por Rafael Eduardo Gutiérrez Giraldo como uma das influências mais
marcantes na literatura de Bolaño.
O conto desenha o trajeto de leitura do narrador Bolaño, começando com Neruda e depois passando por Vallejo, Huidobro, Borges, De Rokha, Girondo até chegar a Nicanor
Parra, que será uma de suas influências mais marcantes (GIRALDO, 2007, p. 183).
As palavras do narrador Bolaño na sequência do conto adentram o ano de 1973,
precisamente na sua volta ao Chile, em agosto, um mês antes do golpe militar. O escritor retorna ao país para participar da construção do Socialismo, descrevendo o dia 11
de setembro de 1973 como um espetáculo sangrento e humorístico. À frente o narrador
relata a sua prisão pelos militares, quando é então taxado como terrorista estrangeiro;
após ajuda de um antigo colega, consegue escapar e foge para o México, finalizando o
conto com a sua tristeza por estar impossibilitado de voltar ao seu país.
Importante ressaltar a passagem em que Bolaño se depara com o livro de memórias de Neruda, Confesso que Vivi:
47. Lo confieso: no puedo leer el libro de memorias de Neruda sin sentirme mal, fatal.
Qué cúmulo de contradicciones. Qué esfuerzos para ocultar y embellecer aquello que
tiene el rostro desfigurado. Qué falta de generosidad y qué poço sentido del humor
(BOLAÑO, 2001, pp. 93-94).
Bolaño “confessa” – fazendo uma referência ao título do livro de Neruda – que
não poderia ler o livro sem sentir-se mal perante as enormes contradições presentes nas
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JORGE BENEDITO DE FREITAS
memórias do poeta. Qualifica a obra como uma tentativa de ocultar e embelezar aquilo
que tem um rosto desfigurado.
Interpretando essa possível desfiguração da obra nerudiana, é vigente o apontamento em seu livro autobiográfico Confesso que Vivi, a condição de maior importância
dada pelo poeta a sua outra obra de forte vertente política intitulada Canto Geral, de
1950. Nas palavras de Neruda, “Naquele ano de perigo e de clandestinidade terminei
meu livro mais importante, o Canto General” (NERUDA, 1983, p. 181). A partir daí, é possível encontrar um Neruda que idealiza a vertente política, chegando a renegar os versos anteriores, de caráter romantizado. Enfatizando essa posição, temos abaixo a presente citação:
Quando eu escrevia versos de amor, que me brotavam
de todos os lados, e me morria de tristeza,
errante, abandonado, roendo o alfabeto,
me diziam: “Como és grande, ó Teócrito!”
Eu não sou Teócrito: tomei a vida,
me pus diante dela, dei-lhe beijos até vencê-la,
e logo me fui pelas vielas das minas
para ver como viviam outros homens.
E quando saí com as mãos manchadas de imundícies e dores,
eu as levantei a mostrá-las nas cordas de ouro,
e disse: “Eu não compartilho do crime”
(NERUDA, 1984, p. 366).
Percebe-se nessa passagem o sentimento de recusa da Neruda em relação a seus
antigos versos amorosos, ao posicionar-se contra o título de “Teócrito”, e a partir de
então buscar a verdade, ou a verdadeira inspiração poética – dos “homens das minas”
– os mineiros chilenos. Ao fim do livro Canto Geral, pode-se apontar até mesmo uma
alienação do poeta em relação a sua própria vida, ao colocar toda sua atual condição
humana decorrente da sua entrada no Partido Comunista.
No romance Noturno do Chile, a participação de Neruda como personagem é
evidente, pois ele se relaciona com os personagens ficcionais, chegando a ser apontado
várias vezes pelo personagem principal, Lacroix, como o maior nome da poesia chilena. Segundo Jáder Vanderlei Muniz de Souza, mestrando em Literatura HispanoAmericana pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de
São Paulo (FFLCH-USP) em seu artigo intitulado Nocturno de Chile: literatura e história, “ao
longo do romance Nocturno de Chile o poeta é mencionado aproximadamente 20 vezes,
sempre como um nome absoluto, inquestionável na tradição literária de seu país”
(SOUZA, 2010, p. 517).
Finalizando as considerações sobre as relações literárias entre os dois autores,
Neruda é mencionado no fim do conto “Carnet de Baile” como um fantasma que atormenta o narrador escondido em um dos corredores de sua casa, precedido pela aparição de Hitler. O narrador deduz que, após o aparecimento de Hitler, o próximo seria
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O GOLPE MILITAR CHILENO EM PABLO NERUDA E ROBERTO BOLAÑO
Stalin; porém coincidentemente surge Neruda, que em sua ideologia política denominava-se stalinista.
V. Referências bibliográficas
ALLENDE,
Isabel. Paula. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995.
ALMOND,
Mark. O livro de ouro das revoluções. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003.
BOLAÑO,
Roberto. Noturno do Chile. Trad. Eduardo Brandão. São Paulo: Companhia das
Letras, 2004.
_______. “Carnet de Baile”, in: Putas Asesinas. Barcelona: Anagrama, 2001.
CÁCERES,
Florival. História da América. São Paulo: Ed. Moderna, 1983.
GALEANO,
Eduardo. As veias abertas da América Latina. Trad. Galeano Freitas. São Paulo:
Paz e Terra, 2005.
Rafael Eduardo Gutiérrez. “Romances híbridos e crítica ficcional na narrativa
contemporânea latino-americana: o caso de Roberto Bolaño”, in: Revista Gragoatá. Niterói, n. 22, p. 179-190, 1.º sem. de 2007.
GIRALDO,
NERUDA,
Pablo. Confesso que vivi. 3 ed. Trad. de Olga Savary. São Paulo: Difel/Círculo
do Livro, 1983.
_______. Canto Geral. 6 ed. Trad. de Paulo Mendes Campos. São Paulo: Difel, 1984.
SOUZA,
Jáder Vanderlei Muniz de. “Nocturno de Chile: literatura e história”, in: XV
Seminário de Teses em Andamento, 2009. Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Anais do SETA, Campinas, n. 4, 2010, p. 510-520.
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