CLÍNICA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA DO HOSPITAL UNIVERSITÁRIO SÃO JOSÉ Ginecomastia Luíza Paulino Guerra Acadêmica do 4º ano da FCMMG 19 de setembro de 2007 Belo Horizonte Introdução • Aumento da mama em indivíduos do sexo masculino, devido à proliferação do componente glandular • Condição clínica freqüente • Pode ser um achado acidental • Massa dolorosa aguda, uni- ou bilateral, sob a região areolar ou massa indolor • Pode ser progressivo (mama feminina desenvolvida) Fonte: http://www.medicohebiatra.com.br/perguntas_ginecomastia.asp Etiologia • Causas - fisiológicas - patológicas • Mecanismo básico: desequilíbrio entre a ação inibitória da testosterona e a ação estimuladora dos estrogênios sobre a mama Etiologia Estrogênios - Aumento dos níveis séricos de estrogênios - Hipersensibilidade ao estrogênio + Mama Masculina - Androgênios - Redução na secreção ou ação dos androgênios Formas Fisiológicas • Podem ocorrer em 3 estágios da vida, conseqüente a mudanças hormonais • Período neonatal: tecido mamário palpável em 60% a 90% dos RN (passagem transplacentária de estrógenos maternos – “leite de bruxa”) • Puberdade (ginecomastia puberal): afeta até 2/3 dos adolescentes. Uni- ou bilateral, dimensões variáveis. Causa incerta. Formas Fisiológicas • Ginecomastia puberal: • Valores de E2 atingem valores adultos antes da T. Valores médios E2 de são maiores em adolescentes com GP • Maiores relações de E2 /T e estrona/androgênios adrenais • Formação local de estrogênio dentro da mama Paciente com 18 anos com ginecomastia bilateral. Aspectos pré (A e B) e pós-operatórios (C e D). Fonte: http://www.cfnavarra.es/salud/anales/textos/vol28/sup2/suple12a.html Formas Fisiológicas • Ginecomastia no idoso (senil): 40% dos idosos • Fatores: - níveis médios de T plasmática; níveis médios de T biodisponível; globulina ligadora da T; taxa de aromatização periférica; relação androgênio/estrogênio; níveis de LH/FSH; ou perda da ritmicidade circadiana de T. • Uso de medicações múltiplas, doenças cardíaca ou hepática Formas Patológicas • Qualquer condição que implique redução da produção de androgênios ou de sua ligação com a mama, ou aumento dos níveis circulantes de estrogênios • Deficiência da secreção de T: defeitos congênitos, doenças adquiridas, drogas e procedimentos que afetem diretamente os testículos ou por secreção deficiente de gonadotrofinas Formas Patológicas • Diminuição da ação da T: defeitos no receptor androgênico ou de anormalidades pós-receptor, drogas antiandrogênicas e, talvez, hiperprolactinemia • Aumento dos níveis circulantes de estrogênios: uso de estrogênio ou drogas estrogênio-símiles, hermafroditismo verdadeiro, TU adrenais, testiculares e produtores de HCG e aumento da atividade de aromatases Formas Patológicas • Outras causas: obesidade, TU testiculares, síndrome de Klinefelter, síndrome da feminização testicular, uso de Espironolactona, situações com aumento de androgênios (cirrose hepática, hipertiroidismo, TU adrenais, hiperplasia adrenal congênita, etc.) • Ginecomastia idiopática Insuficiência Testicular Adquirida • Orquite viral, AIDS, trauma, irradiação, distúrbio auto-imune, castração, hanseníase, doenças infiltrativas, doenças neurológicas, IR, cirrose hepática, drogas, etc. Insuficiência Testicular por Doenças Congênitas • SÍNDROME DE KLINEFELTER • Testículos pequenos e endurecidos, azoospermia, proporções eunucóides, ginecomastia e hipogonadismo hipergonadotrófico • Cariótipo: 47, XXY. Mosaicismo ou variantes podem resultar em fenótipo similar • Após a época esperada para puberdade: 50-80% não-mosaicos, 1/3 dos mosaicos • LH e FSH, T normal ou Paciente B. H. M., com síndrome de Klinefelter Jovem do sexo masculino, 17 anos, com síndrome de Klinefelter. Principal Queixa, ginecomastia Fonte: http://www.ufv.br/dbg/bio240/DG107.htm Insuficiência Testicular por Doenças Congênitas • DEFEITOS NA SÍNTESE DE TESTOSTERONA • Cinco defeitos enzimáticos específicos – síntese de T deficiente – virilização incompleta do feto masculino • Ginecomastia em 2 dos defeitos: deficiências da 17ß- hidroxiesteróide desidrogenase tipo III e 3ßhidroxiesteróide tipo II 3ßHSD 17ßHSD Fonte: http://www.scielo.br/img/fbpe/abc/v79n6/13768f1.gif Insuficiência Testicular por Doenças Congênitas • • • • ANORQUIA CONGÊNITA Distúrbio raro Freqüentemente familiar Homens 46,XY fenotipicamente normais sem testículos • 50% ginecomastia Síndromes de Insensibilidade ou Resistência Androgênica • Defeitos hereditários no gene ligado ao X que codifica o receptor androgênico • Síndromes de virilização incompleta em homens 46,XY com testículos e níveis de testosterona normais • Resistentes a androgênios endógenos e exógenos • Formas mais graves: fenótipo feminino, mamas bem desenvolvidas e vagina em fundo cego (síndrome da feminização testicular) • Síndrome de Reifenstein (hipospádia e ginecomastia) Hermafroditismo Verdadeiro • Componentes testiculares e ovarianos das gônadas são endocrinologicamente ativos • Elementos ovarianos – secreção estrogênio - ginecomastia Hipogonadismo Secundário • Qualquer patologia ou tratamento na região HH que cause deficiência de gonadotrofinas Fonte: http://www.coladaweb.com/corpohumano/11_23hipofise.jpg http://www.vivatranquilo.com.br/terceira_idade/colaboradores/sempre_forma/avulsas/images/andropausa.jpg Hiperprolactinemia • Pode reduzir a produção de T agindo a nível central (inibição do GnRH) e testicular • Diminuição da conversão periférica da testosterona em DHT • 10-23% dos prolactinomas • Pouco freqüente no uso de fármacos que causam hiperprolactinemia Hipertiroidismo • Ginecomastia em 1/3 dos hipertiroideus (80% na histologia) • Pode ser a manifestação inicial • Redução da T livre (aumento da SHBG) e elevação dos níveis plasmáticos de estradiol (aumento da produção de androstenediona e aromatização) Doenças Hepáticas Crônicas • Comum na cirrose alcoólica • Mecanismos: - T livre (aumento da SHBG); - produção de estrogênios a partir de seus precursores circulantes ( androstenediona) - T pelo efeito do álcool no eixo HHT • Hepatocarcinoma: atividade das aromatases no tumor Ginecomastia de Realimentação • Realimentação ou tratamento da doença de base em indivíduo desnutrido ou com doença sistêmica que resulte em perda ponderal importante • Doenças crônicas e desnutrição – redução da secreção de gonadotrofinas – RECUPERAÇÃO – aumento do FSH e LH – produção excessiva de estrogênios com relação a de T Doenças Adrenais Benignas • HAC – produção aumentada de androstenediona – maior aromatização periférica • Deficiência 17ß- hidroxiesteróide desidrogenase tipo III Fármacos • 2 mecanismos principais: - inibição da síntese ou ação periférica dos androgênios (mais comum) - atuação direta como estrogênio ou através do estímulo da secreção testicular de E2. • Várias drogas – mecanismo desconhecido Tumores • Neoplasias dos testículos, tumores feminizantes adrenais e tumores trofoblásticos produtores de HCG podem levar a ginecomastia por diversos mecanismos (aumento produção estrogênios) • Leucemia mielóide aguda, sarcoma granulocítico e manifestação paraneoplásica em hemangiopericitoma retroperitoneal gigante Ginecomastia unilateral em paciente com câncer de pulmão. Fonte: http://www.sjtresidencia.com.br/area_do_aluno/diagnostico_diferencial/42005.php Ginecomastia Idiopática • 50% ou mais dos pacientes adultos – sem causa óbvia • Homens normais? Fator feminizante transitório? Exposição prolongada a pequenas quantidades de estrogênios ou antiandrogênios? Doença endócrina sutil? Macromastia persistente puberal • Adolescentes que desenvolvem ginecomastia volumosa (estágios III a V de Tanner) • Sem alterações endócrinas específicas ou em nível do receptor androgênico Outras causas • Doença de Kennedy: fraqueza lentamente progressiva dos membros, fraqueza bulbar (mm faciais e língua), fasciculações periorais, acometimento do sensório, CK e sinais de insensibilidade androgênica. Ginecomastia pré-puberal • 39% dos pacientes com ginecomastia • Maioria: causa básica não identificada • Causa importante: síndrome de PeutzJeggers com TU testicular • Crianças tratadas com metoclopramida (RGE), em uso de GH ou de análogos de GnRH • Exposição acidental a estrogênios • Mutação no gene da aromatase Diagnóstico Diferencial • Lipomas, neurofibromas, CA de mama e lipomastia • Lipomas, neurofibromas, CA de mama – usualmante unilaterais, indolores e excêntricos • Ginecomastia – começa nas áreas subareolares e aumenta de forma concêntrica • Metástase de adenoCA em mamilo e pele periareolar Diagnóstico Diferencial • Ginecomastia X lipomastia • US e/ou mamografia – casos inconclusivos – PAAF Investigação ANAMNESE • Pesquisar uso ou exposição a drogas • Questionar disfunção erétil ou redução do libido (hipogonadismo) • Caracterizar evolução Investigação EXAME FÍSICO • • • • • Uni- ou bilateral Diâmetro Localização Galactorréia Hábito eunucóide, sinais de doença hepática crônica ou de tirotoxicose • Exame dos testículos • TU abdominais Avaliação Laboratorial • GP – investigação em adolescentes com galactorréia, hábito eunucóide, sintomas de hipogonadismo ou hipertiroidismo, tumoração testicular ou ginecomastia volumosa • Investigação em indivíduos com ginecomastia > 5 cm, ou < 5 cm dolorosas, progressivas ou de início recente Tratamento • GINECOMASTIAS PUBERAL E IDIOPÁTICA • Maioria não requer tratamento • GP – habitualmente reversível (raramente irreversível) • GI – pode regredir espontaneamente • Terapia medicamentosa ou cirúrgica nos casos em que há interferência na vida do paciente • Farmacoterapia mais eficaz nos primeiros 6 meses do surgimento (tecido fibrótico) Tratamento • GINECOMASTIAS PUBERAL E IDIOPÁTICA • Técnicas cirúrgicas: lipoaspiração, excisão cirúrgica do tecido glandular através de pequena incisão periareolar ou combinação • Drogas: - Tamoxifeno, clomifeno ou raloxifeno (propriedades antiestrogênicas) - Danazol (androgênio fraco que suprime secreção das gonadotrofinas - produção testicular de E2. Efeitos colaterais) Tratamento • GINECOMASTIAS PUBERAL E IDIOPÁTICA • Drogas: - Testolactona (inibidor das aromatases) e DHT (androgênio não-aromatizável) – eficazes e bem tolerados (não disponíveis no BR) Tratamento Medicamentoso Medicamento Dose diária Redução dor Redução tamanho Tamoxifeno 10-30 mg 84-100% 25-70% Clomifeno 50-100mg ND* 50-90% Testolactona 450mg ND 90% Danazol 200-600mg 83% 76-90% Diidrotestosterona 125-375mg/M ND 90% Diidrotestosterona Percutâneo ND 75-90% Paciente de 21 anos com ginecomastia bilateral. Aspectos pré e pós operatórios Fonte: http://www.cfnavarra.es/salud/anales/textos/vol28/sup2/suple12a.html Paciente de 48 anos, com ginecomastia unilateral de origem farmacológica Tratamento • GINECOMASTIA POR HIPOGONADISMO • Tende a regredir com a reposição de T, mas a resposta é variável (etiologia e duração) • Síndrome de Klinefelter – regressão nem sempre satisfatória • Outras causas de insuficiência testicular – bons resultados • T é aromatizável (somente indicado em hipogonadismo comprovado) Tratamento • OUTRAS FORMAS DE GINECOMASTIA • Ginecomastia tumoral – tratamento da neoplasia • Hipertiroidismo – regressão com tratamento • Ginecomastia por realimentação e após hemodiálise – regressão espontânea • Ginecomastia medicamentosa – regressão com a suspensão • Radioterapia mamária (prevenção na terapia estrogênica) – cirurgia e/ou lipoaspiração, antiestrogênicos e inibidores da aromatase Os cinco homens mais charmosos do mundo NUMERO 5 NUMERO 4 NUMERO 3 (EMPATADOS) NUMERO 2 E o grande vencedor... NUMERO 1 Referências Bibliográficas • VILAR, L. Ginecomastia. In_: Endocrinologia Clínica. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. Cap 39, p.495-505.