CEFAC
CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONAUDIOLOGIA CLÍNICA
MOTRICIDADE ORAL
O PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL
NOS DISTÚRBIOS ARTICULATÓRIOS
GERALDO LEMOS
FORTALEZA
1999
1
CEFAC
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA CLÍNICA
MOTRICIDADE ORAL
O PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL
NOS DISTÚRBIOS ARTICULATÓRIOS
Monografia de conclusão do curso de
Especialização em Motricidade Oral
Orientadora: Mirian Goldenberg
GERALDO LEMOS
FORTALEZA
1999
2
RESUMO
ESTE TRABALHO PRETENDE ESTABELECER A RELAÇÃO DOS DISTÚRBIOS
ARTICULATÓRIOS COM AS DIFICULDADES DE PROCESSAMENTO AUDITIVO
CENTRAL NA PRODUÇÃO E PERCEPÇÃO DA FALA, ENVOLVENDO AS FASES
DO PROCESSAMENTO AUDITIVO, AS ÁREAS LINGÜÍSTICAS, COGNITIVAS,
SUPRA-LIMINARES E A PRODUÇÃO DOS SONS DA FALA.
FOI ELABORADO ATRAVÉS DE REVISÃO BIBLIOGRÁFICA, DESTACANDO
OS SEGUINTES AUTORES : ALVAREZ, PEREIRA ,RUSSO & BEHLAU.
AS DIFICULDADES ESPECÍFICAS DAS HABILIDADES DA FALA COMO SUA
CAPTAÇÃO E PRODUÇÃO ESTÃO INTIMAMENTE LIGADAS A PERCEPÇÃO
DOS
PROCESSOS
AUDITIVOS
PERIFÉRICOS
E
PRICIPALMENTE
OS
CENTRAIS.
QUANDO OS INDIVÍDUOS APRESENTAM ALTERAÇÕES NO PROCESSO
AUDITIVO CENTRAL, ESTAS PODEM GERAR DIFICULDADES NA PERCEPÇÃO
E NA PRODUÇÃO DO PROCESSO ARTICULATÓRIO PRICIPALMENTE SE
ENVOLVEM A DECODIFICAÇÃO AUDITIVA.
3
SUMMARY
THIS SCIENTIFIC RESEARCH INTENDS TO ESTABLISH THE RELATIONSHIP
BETWEEN THE ARTICULATORIES DISTURBANCES AND THE DIFFICULTIES
OF
CENTRAL
AUDITORY
PROCESSING
IN
THE
PRODUCTION
AND
PERCEPTION OF SPEECH, INVOLVING THE PHASES OF THE AUDITORY
PROCESSING; THE LINGUISTIC, COGNITIVE AND SUPRA-THRESHOLD
AREAS; AND THE PRODUCTION OF THE SOUNDS OF SPEECH.
IT
WAS
ELABORATED
THROUGH
BIBLIOGRAPHICAL
REVISION,
HIGHLIGHTING THE FOLLOWING AUTHORS: ALVAREZ, PEREIRA, RUSSO
AND BEHLAU.
THE SPECIFIC DIFFICULTIES OF THE ABILITIES OF SPEECH AS ITS
RECEPTION
AND
PRODUCTION
ARE
INTIMATELY
LINKED
TO
THE
PERCEPTION OF THE PERIPHERAL AUDITORY PROCESSES AND MAINLY
THE CENTRAL ONES.
WHEN
THE
PATIENTS
PRESENT
ALTERATIONS
IN
THE
CENTRAL
AUDITORY PROCESS, THESE CAN GENERATE DIFFICULTIES IN THE
PERCEPTION AND IN THE PRODUCTION OF THE ARTICULATORY PROCESS,
MAINLY THEY WRAP UP THE AUDITORY DECODING.
4
Dedico este trabalho a minha esposa
Ana Elisa e aos meus filhos Felipe e Iana.
Cada criança reconstrói, por si mesma, a
Linguagem Oral, tomando, seletivamente, a
Informação que o meio lhe oferece.
Vygotski
AGRADECIMENTOS
À MINHA ORIENTADORA MIRIAN GOLDENBERG QUE ME
INICIOU NA DIFÍCIL, EMPOLGANTE ARTE DE ESCREVER CIENTIFICAMENTE
E À ANA MARIA ALVAREZ, QUE DESPERTOU E ME CONDUZIU NO
CONHECIMENTO SOBRE O PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL.
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SUMÁRIO
1- INTRODUÇÃO..........................................................................................pg. 7
2- DISCUSSÃO TEÓRICA............................................................................pg. 9
2.1- CONCEITUAÇÃO DE PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL........pg. 9
2.2- DISTÚRBIOS DO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL(DPAC)..pg. 16
2.2.1- CONCEITO...........................................................................................pg. 16
2.2.2- ETIOLOGIA...........................................................................................pg. 16
2.2.3- CARACTERÍSTICAS GERAIS..............................................................pg. 17
2.2.4- CLASSIFICAÇÕES...............................................................................pg. 20
2.3- RELAÇÃO DOS DISTÚRBIOS ARTICULATÓRIOS COM OS
DPAC.............................................................................................................pg. 27
2.4-PRINCIPAIS ORIENTAÇÕES PARA PORTADORES DE DPAC............pg. 46
3- CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................pg. 50
4- REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS...........................................................pg. 57
6
1- INTRODUÇÃO
A possibilidade de entender as áreas de funcionamento do sistema nervoso
central relacionando a funções complexas cerebrais, junto com o embasamento
teórico-prático do método de reorganização neurofuncional possibilita uma
perspectiva ampla de entendimento do processo da fala e da linguagem.
Alvarez (1997) chama a atenção para a compreensão de como o cérebro produz
a marcante individualidade da ação humana. É uma rede precisa de mais de 100
bilhões de células nervosas interconectadas em sistemas que focalizam nossa
atenção, produzem nossa percepção do meio externo e controlam a percepção de
todos os nossos atos.
Nosso primeiro passo é entender que as células nervosas, os neurônios, se
organizam em determinadas vias de transmissão e se comunicam uns com os
outros através de ligações sinápticas trazendo a informação e, por conseguinte, a
aprendizagem.
Perceber o mundo, isto é, ver, ouvir, sentir, cheirar, provar, assim como lembrar,
falar, ler, calcular e aprender, só é possível através de mediação de nosso cérebro,
sede de todos os nossos comportamentos
Cada tipo de comportamento pode ser melhor relacionado a uma parte do cérebro
em particular.
7
As regiões posteriores do córtex, os lobos occipitais são especializados na
VISÃO; As regiões laterais, os lobos temporais, na AUDIÇÃO; as partes superiores,
os lobos parietais, são responsáveis pelo TATO e as intermediárias, assim como as
situadas na parte anterior, isto é, os lobos frontais, estão relacionadas as funções
motoras e comportamentos ou FUNÇÕES MAIS COMPLEXAS.
No decorrer da minha prática clínica surgiram indagações a respeito de alguns
pacientes que apresentavam dificuldades ou precisavam de maior tempo para
adquirir e/ou automatizar alguns fonemas. Estes indivíduos em sua quase
totalidade apresentavam testes audiológicos supra-liminares, impedânciometria e
logoaudiometria dentro dos padrões considerados adequados, concomitante a esse
quadro apresentavam inteligência e desenvolvimento neurológicos normais, mesmo
assim tinham dificuldades em adquirir e automatizar alguns fonemas.
A maioria dos distúrbios articulatórios são avaliados e tratados normalmente,
como um processo puramente de tônus muscular e de baixa acuidade auditiva para
detecção de tons puros ou de dificuldades de discriminação fonética.
No estudo aqui apresentado, discutiremos a influência dos distúrbios auditivos
processados pelas vias auditivas centrais relacionando com a percepção e
decodificação dos processos envolvidos na produção da fala. Devido acometer
crianças, adolescentes e até mesmo adultos que apresentam distúrbios
articulatórios a casuística deve ter sua pesquisa envolvendo as habilidades usadas
para sua percepção e execução dos processos envolvidos na articulação. Este
indivíduo sabendo de suas dificuldades, tendo possibilidades de resolvê-las, estará
mais apto a desenvolver-se como um todo.
A elaboração desta pesquisa foi através de revisão bibliográfica.
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2- DISCUSSÃO TEÓRICA
2.1 - CONCEITUAÇÃO DE PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL
Nos últimos tempos autores têm se preocupado com as habilidades auditivas,
levantando definições sobre seu processamento, como mostram Almeida et al.
(1997):
Berry (1960) descreveu processamento Auditivo como ato de interpretar com
significado, de discriminar sons e seqüencializar de sons empregados na
comunicação oral.
Lúria (1979) descreveu a necessidade de um complexo processamento dos
sinais acústicos para fazer-se a distinção dos sons de um discurso. Afirmou, ainda,
que é a percepção auditiva que inclui o indivíduo no sistema da língua em que ele
está inserido.
Peckles (1985) referiu que a localização sonora seria realizada pelos neurônios
bipolares dos núcleos olivares, e afirmou que a diferença de tempo e de nível de
intensidade internaural constituiriam pistas importantes para a localização dos sons
no espaço.
Bess (1986) afirmou que a localização seria uma habilidade auditiva essencial
para o estabelecimento do processo de atenção ao estímulo sonoro.
9
Boothroyd (1986) identificou as etapas do processamento auditivo: detecção de
sons, atenção seletiva, reconhecimento, discriminação, localização, memória e
compreensão.
Downs (1988) considerou o processamento auditivo como sinônimo de função
auditiva central, habilidade auditiva central, percepção auditiva central, e
processamento auditivo central. Para a autora, as habilidades envolvidas no
processamento auditivo seriam desenvolvidas comitantemente às habilidades de
linguagem.
Sloan (1991) referiu que o processamento auditivo envolveria uma análise
complexa do sinal acústico, integrando a informação em modelos auditivos.
Katz, Stecker & Henderson (1992) descreveram que o sinal auditivo e o
processamento auditivo central são de vital importância para a habilidade de
comunicação e educação.
Pereira (1993) descreveu o processamento auditivo como habilidade de
interpretar padrões sonoros, o qual se desenvolve nos primeiros dois anos de vida.
Atualmente Alvarez; Caetano & Nastas (1997) definem processamento auditivo
central como uma série de operações que o sistema auditivo, como um todo,
realiza para receber detectar atender, reconhecer, associar, integrar os estímulos
acústicos e, a partir disso, resgatá-los para planejar e emitir respostas. Azevedo et
al. (1995) acrescentam o aspecto de estarem envolvidas estruturas a partir da
entrada no tronco encefálico até o córtex auditivo primário, área 41 de Brodmam no
lobo temporal.
O termo processamento auditivo se refere a como o sistema auditivo periférico e
central recebe, analisa e organiza as informações auditivas. O primeiro envolve
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todas as estruturas desde a orelha externa até o córtex, compreendendo as
habilidades de atenção, detecção e identificação de um evento sonoro. O segundo,
o processamento auditivo central, se refere a como o sistema auditivo central
organiza as informações acústicas. Envolvendo as estruturas a partir do tronco
cerebral
compreendendo
as
habilidades
envolvidas
na
organização
das
informações auditivas, que dependem da capacidade biológica e da experienciação
auditiva ( Suegler,1991; Katz, Stecker & Henderson, 1992; Azevedo, Vilanova &
Goulart, 1995).
Bess & Humes (1998) mostram como se processa as informações que são
geradas no ramo coclear do nervo auditivo em direção ao córtex, e deste ou do
tronco cerebral até a periferia. Depois que os potenciais de ação são gerados no
ramo coclear do nervo auditivo, a atividade elétrica avança para cima, em direção
ao córtex. Esta rede de fibras nervosas é freqüentemente chamada de sistema
nervoso auditivo central (SNAC). As fibras nervosas que transportam as
informações na forma de potencial de ação até o SNC em direção ao córtex fazem
parte das vias ascendentes ou aferentes. Os impulsos nervosos também podem
ser enviados em direção a periferia, a partir dos centros do córtex ou do tronco
cerebral. As fibras que transportam essas informações compõem as vias
descendentes ou eferentes.
Netter ( s/ data) descreve o processamento das informações auditivas aferentes e
eferentes do sistema nervoso central. Diz que as FIBRAS AUDITIVAS
AFERENTES após entrarem no tronco encefálico no nervo vestibulococlear (VII),
se ramificam para inervar as duas áreas receptoras primárias no interior do bulboos núcleos cocleares dorsal e ventral . Os neurônios desses núcleos têm
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propriedades semelhantes: cada um é excitado por uma faixa relativamente estreita
de freqüências sonoras e podem ser inibidos por tons fora dessa faixa. Dentro de
cada núcleo, os neurônios sensíveis a diferente seqüências são arranjados de
forma ordenada, o que ocasiona uma distribuição tonotópica no interior do núcleo.
Além dos núcleos cocleares, a via auditiva consiste de série de núcleos - o
complexo olivar superior (ponte), o núcleo do lemnisco lateral (ponte), o
colículo inferior ( mesencéfalo) e o corpo geniculado medial (mesencéfalo).
Dentro destes núcleos, os sinais de ambos os ouvidos interagem em direção ou
córtex cerebral. Quando os sinais ascendem pela via, eles não necessariamente
realizam sinapse com cada núcleo desta. Assim, fibras dos núcleos cocleares se
projetam diretamente ao núcleo do lemnisco lateral e fibras da oliva superior
passam sem interrupção ao colículo inferior. Eventualmente, os sinais auditivos
alcançam o corpo geniculado medial, cuja a porção lateral ( parte principal) se
projeta ao córtex auditivo primário. No homem, a área 41 de Broadmann no lobo
temporal é considerada a área auditiva primária. A despeito da intensa mistura
entre as vias aferentes, dois terços da atividade neural que alcança o córtex
auditivo se origina no ouvido contralateral. A ordem tonotópica é preservada em
toda via ascendente, de tal forma que regiões corticais individuais são sensíveis a
freqüências específicas. A ampla banda de freqüências à qual o neurônio individual
responde é aproximadamente a mesma na área 41 e ao nível dos núcleos
cocleares.
Na análise da informação acústica, relativamente pouco se sabe sobre a função
dos vários estágios na via auditiva. Recentemente foi verificado que os neurônios
do complexo olivar superior são especificamente adaptados para analisar a
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localização do som no espaço. Os neurônios olivares recebem os impulsos
excitatórios dos núcleos cocleares contralaterais e inibem os impulsos do núcleo
ipsilaterais. Na posição medial do complexo, onde os neurônios são sensíveis a
sons de baixa freqüência, estes impulsos opostos fazem com que neurônios
individuais tornem-se sintonizados a um intervalo de tempo fixo entre a chegada do
som a cada ouvido. Na porção lateral do complexo onde os neurônios são
sensíveis a freqüências mais altas, os impulsos opostos fazem com que os
neurônios tornem-se sensíveis a diferenças na intensidade do som que alcança
cada ouvido. Estudos psicofísicos têm mostrado que os retardos no tempo e as
diferenças na intensidade entre os dois ouvidos são características chaves
responsáveis pela localização de um som. Contudo, embora a análise destas
características seja feita por neurônios no complexo olivar superior, estudos de
lesões no SNC têm mostrado que toda via auditiva, inclusive o córtex auditivo, deve
está intacta para que ocorra a localização sonora. Similarmente são necessárias
estruturas auditivas até ao nível dos colículos inferiores para a discriminação de
freqüências, embora os neurônios de todos os níveis da via estejam seletivos à
freqüência. As discriminações de intensidade, por outro lado, podem ainda ser
feitas após a destruição dos colículos inferiores e centros mais superiores. Tal
discriminação pode envolver as vias colaterais que ligam os sinais auditivos à
formação reticular do tronco encefálico. Estas vias são provavelmente também
envolvidas na reação reflexa a sons súbitos.
As conexões das VIAS AUDITIVAS EFERENTES (Centrífugas) uma característica
proeminente do sistema auditivo. Dentro do cérebro tais conexões surgem de cada
uma das áreas envolvidas no sistema auditivo, incluindo o córtex auditivo
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primário, esse projeta a núcleos um ou dois níveis abaixo do seu ponto de origem.
As conexões podem ser excitatórias ou inibitórias, mais as vias centrífugas
parecem ser ativadas pela inibição da transmissão dos sinais auditivos nas vias
auditivas ascendentes.
As vias auditivas centrífugas também incluem as projeções eferentes para as
células ciliadas sensórias da cóclea e para os músculos do ouvido médio. As
fibras eferentes cocleares se originam em um grupo de neurônios do lado medial
da oliva superior contralateral (grupo retro-olivar) e passam para a cóclea por
intermédio da via cruzada do feixe olivococlear e divisão coclear do nervo
vestibulococlear (VIII). A elas é acrescido um menor número de fibras, originadas
na oliva superior ipsilateral. As fibras eferentes produzem hiperpolarização das
células ciliadas cocleares e dos terminais nervosos aferentes diminuindo assim a
resposta aferente produzida quando o som alcança a cóclea. As fibras que inervam
os músculos do ouvido médio (músculos tensor do tímpano e estapédio ) se
originam no núcleo motor dos nervos trigêmeo e facial. Ao se contrair, estes
músculos diminuem a transmissão das vibrações sonoras do tímpano para a janela
oval através dos ossículos (martelo, bigorna e estribo).
Têm sido propostas várias funções para as vias auditivas centrífugas. Uma
possibilidade é a de que os impulsos eferentes podem diminuir a sensibilidade do
sistema auditivo, impedindo desta maneira que ocorra lesão por um estímulo
excessivamente intenso. Os músculos do ouvido médio se contraem durante sons
altos e vocalização autoiniciada, auxiliando na prevenção da saturação e dano aos
receptores cocleares. As fibras eferentes ativadas pelo som no feixe olivococlear
podem, adicionalmente, contribuir para supressão dos impulsos sensoriais que
14
poderiam saturar as vias nervosas centrais. Um mecanismo relacionado,
possivelmente também mediado por fibras olivococleares, é o de que a
discriminação auditiva é melhorada pela atenuação da resposta do sistema auditivo
a ruídos ambientais elevados, embora não se saiba em que extensão as
importantes conexões centrífugas do SNC possam contribuir para esta supressão
de sons intensos.
O fenômeno de atenção seletiva à sinais auditivos podem também ser um efeito
das vias auditivas centrífugas. Alterações na atividade dos músculos do ouvido
médio têm sido observadas durante o comportamento de atenção. As evidências
também mostram que a inibição que ocorre nos núcleos cocleares pode ser
relacionada a habituação observada quando um estímulo auditivo é apresentado
repetidamente.
Finalmente, as conexões centrífugas podem desempenhar um papel em moldar
os sinais nervosos responsáveis pela discriminação auditiva. Os neurônios dos
níveis mais superiores da via auditiva tendem a responder a alterações transitórias
nos impulsos auditivos e não a sinais estáveis. A inibição centrifuga pode ser um
fato que contribui para a eliminação das respostas a estímulos estáveis,
acentuando assim aquela a estímulos transitórios. Juntamente com a inibição que
ocorre a cada nível do sistema auditivo, ela pode também contribuir para o
processo que focaliza as respostas neurais por restringir as bandas de freqüências
às quais cada neurônio responde.
Evidências para suportar os papéis propostos para o sistema auditivo centrífugo
são fragmentares; estas teorias devem ser consideradas como hipóteses, que
ainda necessitam de confirmação. A ampla extensão das conexões auditivas
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centrífugas, indica, contudo, que elas são importantes no controle das respostas a
estímulos auditivos no homem.
2.2- DITÚRBIOS DO PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL
2.2.1- CONCEITO
Azevedo et al. (1995) mencionam a definição de DPAC segundo a
Association of Children and Adults With Learning Disabilites (ACLD)
como: "a inabilidade ou impedimento da habilidade de atender, discriminar,
reconhecer ou compreender as informações apresentadas auditivamente
mesmo em indivíduos com acuidade auditiva e inteligência normais". Alvarez,
Caetano
&
Nastas
(1997)
acrescentam
ainda
que
estes
indivíduos
freqüentemente não compreendem o que outras pessoas dizem, embora
possuam limiares auditivos suficientemente sensíveis até para a detecção de
sons sutis, ouvem de maneira "confusa" por apresentarem disfunções nas vias
sensoriais ou neurais que conduzem o som até o córtex cerebral. Uma vez que
é função do cérebro dar significado aos sons recebidos pelo ouvido, se o córtex
recebe uma mensagem auditiva confusa, torna-se incapaz de responder
apropriadamente.
2.2.2- ETIOLOGIA
Alvarez, Caetano & Nastas (1997) classificam entre as mais variadas causas
em pesquisa, as seguintes:
-
dificuldades durante a gestação e o nascimento
16
-
febre alta durante a primeira infância
-
otites freqüentes nos três primeiros anos de vida
-
hereditariedade
-
falhas genéticas
-
disfunções ou pequenas lesões sub-clínicas durante os primeiros anos de
vida, em qualquer etapa das vias de condução dos estímulos sonoros, desde o
ouvido externo até o córtex cerebral.
-
experiências auditivas insuficientes durante a primeira infância
2.2.3- CARACTERÍSTICAS GERAIS
Os estudos de Sanchez & Misorelli (1998) fornecem a
identificação de
sintomas nas crianças em sala de aula podendo apresentar todos ou alguns:
-
baixa compreensão
-
ficam quietas, mais não envolvida com as atividades que a cercam
-
procuram pistas visuais no rosto do falante
-
mostram-se distraída constantemente
-
precisam copiar as tarefas dos outros em sala de aula
-
não respondem quando está virada de costas
-
necessitam que as ordens sejam repetidas
-
falam com muita intensidade
-
estão com resfriados constantes, nariz escorrendo
-
atrasos na produção de fala
-
problemas de produção de fala envolvendo os fonemas /r/ e /l/
17
-
falam muito" Hã?", "O quê?"
-
têm problemas de comportamento em classe
-
não acompanham uma conversa com muitas pessoas ao mesmo tempo
-
não compreendem facilmente uma piada ou duplo sentido
-
não atendem prontamente quando são chamadas, ou precisam ser
chamadas várias vezes
-
atrapalham-se ao contar uma história ou dar um recado
As crianças com DPAC apresentam com freqüência os seguintes comentários em
situação de comunicação Oral:
•
Eu sei o que você falou, mas não entendi o que você disse. Dá para repetir?
Que? ...Hão?
•
Que?...O que você falou depois de " menina" ?
•
Você falou o que? Tente ou Sente?
•
"Hum... Quero dizer uma coisa mas não acho a palavra certa... Espera aí, tá na
pontinha da língua".
Em relação ao comportamento social, podem ser:
•
Distraídos
•
Agitados/ Hiperativos/ Muito quietos
•
Desajustados (ou brincam com crianças mais novas ou adultos mais tolerantes)
•
Tendência ao isolamento( sentem-se frustrados ao notarem suas falhas, na
escola ou em casa).
Em geral é uma criança que:
•
Distrai-se facilmente com barulho
18
•
Não consegue lembrar de 3 ordens seguidas
•
Pede para repetir as ordens ou as copia dos outros
•
Tem dificuldades em tomar notas
•
Distrai-se facilmente e com freqüência, apresenta olhar vago
•
Tem atenção de curta duração
•
Tem dificuldade para memorizar
Problemas que apresentam em relação à Comunicação Escrita:
•
Inversões de letras, orientação Direita/ Esquerda
•
Disgrafias
•
Dificuldade de compreender o que lê
•
Dificuldade em leitura, soletração e escrita
•
Não acentuação de palavras e dificuldade em perceber a tonicidade das sílabas
•
Leitura lenta, embora precisa e apurada mas com pouca compreensão
•
Leitura significativa rápida, embora imprecisa, com omissões e substituições
•
Dificuldade em acompanhar o ritmo do ditado e ou omissão de grafemas,
sílabas e palavras
•
Não acompanham o ritmo do ditado e/ou omitem grafemas, sílabas e palavras
Há comentários constantes de pais e professores como:
•
Só ouve quando quer
•
Quando está concentrado não adianta nem falar com ela
•
Não consegue manter uma atividade muito tempo
•
Ouve TV / música muito alto
•
Presta atenção em tudo menos no que estou falando
19
•
Apresenta desempenho escolar abaixo do que parece capaz
2.2.4-CLASSIFICAÇÕES
A- Classificação do grau da desordem auditiva com a compreensão da linguagem
e o impacto social.
Pereira & Cavadas (1998) sugerem um melhor entendimento dos efeitos da
DPAC na compreensão de linguagem. Realizou-se uma descrição correlacionando
estes efeitos com o impacto social e a necessidade educacional.
∗ Grau da DPAC: normal
Efeitos da DPAC na linguagem :
-
Boa capacidade de acompanhar a conversação em ambiente desfavorável.
Impacto Social:
-
Depende da presença de tendências de erros.
Necessidade Educacional:
-
Depende da presença de tendências de erros.
∗ Grau da DPAC: Leve
Efeitos da DPAC na Compreensão de Linguagem:
-
Discreta dificuldade em acompanhar a conversação em ambiente
desfavorável;
-
Pode ser agravada se a distância do interlocutor é aumentada ou a classe é
muito barulhenta, principalmente na pré- escola.
Impacto Social:
20
-
Perdem pistas acústicas e são considerados dispersivas;
Perdem pistas acústicas da fala que podem causar impacto na socialização
e na auto-estima;
-
Apresentam comportamentos imaturos;
-
Cansam de prestar atenção.
Necessidade Educacional:
-
Lugar preferencial em sala de aula;
-
Treino para melhorar o vocabulário e a linguagem;
-
Devem ser acompanhadas no desenvolvimento da linguagem e do
aprendizado.
∗ Grau da DPAC :Moderado
Efeitos da DPAC na compreensão de linguagem:
-
Compreender a conversação se a distância e estrutura do vocabulário forem
controladas;
-
Perdem muitos sinais acústicos de fala, provavelmente cerca de 50%;
-
Podem Ter atraso de linguagem.
Impacto Social:
-
São consideradas desatentas e apresentam discrepâncias entre
compreender a fala no silêncio e no ruído;
-
A comunicação pode ser afetada e a socialização com seus pares se torna
difícil;
-
Pode haver impacto maior na sua auto- estima.
Necessidade Educacional:
21
-
Treinamento auditivo verbal;
-
Fonoterapia.
∗ Grau da DPAC: Severo
Efeitos na compreensão de linguagem:
-
Incapazes de acompanhar a conversação em ambiente desfavorável;
-
Dificuldades escolares importantes;
-
Necessitam de comunicação um a um;
-
Podem Ter atraso de linguagem, sintaxe e de inteligibilidade de fala.
Impacto Social:
-
Podem ser julgadas como pouco competentes para aprender, resultando
numa baixa auto- estima e imaturidade social, podendo contribuir para
sensação de rejeição pelo grupo social.
Necessidade Educacional:
-
Treinamento auditivo verbal;
-
Fonoterapia.
B- Classificação do desenvolvimento do perfil auditivo individual relacionando
com as habilidades e as dificuldades auditivas.
Sabendo-se que não há uma taxionomia padronizada para classificar os
DPAC utilizaremos a categorização proposta por Alvarez; Caetano & Nastas
(1996) e complementada por Alvarez et al (1999) baseada no desenvolvimento
do perfil auditivo individual que identificará as habilidades e as dificuldades
22
auditivas. Seguindo os conceitos básicos desenvolvido por Ferre (1987 e 1992)
e Ferre & Bellis (1996), nesta perspectiva são combinados anatômicos e
eletrofisiológicos com dados educacionais, de comunicação e linguagem,
comportamentais e resultados de procedimentos audiológicos. São divididas em
quatro
categorias:
Decodificação
Auditiva,
Integração,
Associação
e
Organização da Saída e Disfunção não Verbal.
1- Decodificação Auditiva: O dado mais relevante encontrado nesta
categoria é a dificuldade em efetuar tarefas de fechamento auditivo,
categorizado por performance rebaixada nos testes monoaurais de baixa
redundância e nos de fala no ruído. Nos testes dicóticos seqüenciais, observase o efeito de ordem baixo/ alto, e o efeito de ouvido alto/ baixo. Exemplo do tipo
de erro: o indivíduo repete "quem" ao ouvir "tem".
Sinais Acadêmicos: Com freqüência as manifestações se exprimem em
dificuldades de leitura, substituição de letras na escrita, vocabulário rebaixado e
sintaxe simplificada.
Sinais comportamentais: O paciente pode demostrar dificuldade em
compreender a fala em ambientes ruidosos, pedindo constantemente ao
interlocutor para repetir a mensagem. Normalmente, estes sujeitos têm bom
desempenho em Matemática e Computação.
Sinais do Histórico: Problemas de articulação, principalmente dos fonemas /r/
e /l/.
2- Integração: Caracteriza-se pela dificuldade em realizar tarefas que
requerem comunicação interhemisférica, isto é , a troca de informações entre o
Hemisfério Direito e o Esquerdo. A dificuldade pode estar em uma ou mais
23
modalidades e/ ou no cruzamento entre elas. Exemplo: o paciente que tem
dificuldade em integrar funções auditivas e visuais, ou em integrar informação
auditiva baseada em linguagem com informação auditiva não lingüistica, como
na percepção de ritmos e padrões. A curva característica de erros nos testes
dicóticos seqüenciais é da chamada tipo A, com claro déficit de performance no
ouvido não dominante.
Sinais Comportamentais: O sujeito mostra inadequação ao executar tarefas
multimodais, como em escrever um ditado( integração visual x auditiva), em
desenhar uma figura a partir de instruções escritas ou verbais (percepção de
padrões multi sensoriais), em dançar ao ritmo da música, em cantar ou tocar um
instrumento. Há dificuldades no uso de linguagem simbólica, matemática, bem
como inaptidão para lidar com os aspectos prosódicos da fala.
Sinais do Histórico: Algumas vezes estes indivíduos são extremamente lentos
para formular as respostas. Apresentam um tempo de latência dilatado entre a
entrada da informação e a saída da resposta. Algumas vezes há o mesmo tipo
de distúrbio na família.
3-Associação: Tem como característica principal uma inabilidade em aplicar
as regras da linguagem ás informações acústicas que chegam. Assim, o cliente
apresenta, por exemplo, dificuldades em decodificar sentenças na voz passiva
(como em "Um cartão postal me foi mandado pela minha irmã"), e em
compreender
e
memorizar
períodos
compostos
e
outras
mensagens
lingüisticamente complexas. Sob avaliação dicótica, mostra déficit bilateral.
24
Em grau muito severo, pode se manifestar como uma inabilidade em designar
significado lingüístico ás unidades fonêmicas da fala, como ocorre no Distúrbio
Desenvolvimental de Recepção de Linguagem ( Afasia Receptiva Infantil).
Sinais Comportamentais: o paciente pode exibir déficit de linguagem receptiva
para vocabulário, sintaxe, semântica, pragmática e até para comunicação social.
Para alguns, os primeiro ano de escolaridade transcorrem normalmente, mas, à
medida que a demanda lingüística aumenta, em geral ao redor da 3ª série do
primeiro grau, as dificuldades acadêmicas podem se tornar aparentes.
Sinais do Histórico: Em geral, acompanha uma queixa de Distúrbio
Desenvolvimental de Aquisição de linguagem. Outra queixa comum é a de
criança apática, desinteressada pelo ambiente social, que gosta de brincar
sozinha e passa longos períodos isolada.
4- Organização da Saída: Conforme o próprio nome indica, representa uma
inabilidade em seqüenciar ,planejar e organizar respostas. A dificuldade se
encontra na forma de agir sobre a informação que chega. Pessoas com esta
dificuldade têm performance rebaixada em tarefas que requerem o relato de
mais de dois elementos críticos, como nos testes dicóticos, especialmente nos
compostos por frases, em que elementos múltiplos são apresentados. A análise
destes resultados indica um padrão de respostas alto/ baixo para efeito de
ordem, e baixo/ alto para efeito de ouvido; com freqüência aparecem respostas
com inversões dos elementos. Outros sinais característicos são reflexo
estapediano contralateral anormal e habilidades de fala no ruído extremamente
comprometidas.
25
Sinais Comportamentais: Os mais evidentes são dificuldades em
se
organizar, dificuldades em seguir instruções, aparecimento de inversões e fraco
desempenho de habilidades de memória e de resgate de palavras. Erros de
linguagem oral expressiva mais comuns nas respostas preseverativas, nas
quais a palavra chave é substituída por outra previamente ouvida ou do mesmo
campo semântico. Ocorrem, também, erros de seqüencialização e de
organização dos padrões sonoros.
Sinais Acadêmicos: Freqüentemente demonstram boa compreensão da
leitura, apesar do rebaixamento nas habilidades de soletração e escrita,
principalmente inversão da ordem das letras, pois a natureza destas tarefas
envolve a organização de diversos elementos. Atividades que envolvem
planejamento motor, fino ou global, também apresentam resultado rebaixado.
Sinais do Histórico: Esses indivíduos se cansam facilmente quando ouvindo,
pois despendem um grande esforço se monitorando. Podem, então,
desenvolver sentimentos de frustração, especialmente quando cansados,
procurando saídas para evitar a situação de ouvir e de ter que buscar palavras e
organizar pensamentos para responder ao interlocutor Alvarez et al. (1999).
5- Disfunção Não Verbal: Estes indivíduos apresentam dificuldade em
identificar e/ou utilizar as características supra-segmentais de um enunciado, em
resgatar e emitir palavras que representem seus pensamentos e sentimentos e
em reconhecer e utilizar linguagem não verbal.
Podem apresentar dificuldade em entender sarcarmos, palavras e
expressões ambíguas. Alem disso, podem mostrar disfunções visuoconstrutivas e fala monotônica com ausência de marcadores de ênfase.
26
À avaliação auditiva central observa-se scores rebaixados nos testes de
processamento temporal nos dois tipos de respostas: verbal e mímica.
2.3- RELAÇÃO DOS DISTÚRBIOS ARTICULATÓRIOS COM OS DISTÚRBIOS DO
PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL
Defendendo a visão da relação processamento auditivo central com distúrbios
articulatórios, é necessário o conhecimento da percepção da fala através das
fases do processamento auditivo, dos processos lingüisticos, cognitivos , supraliminares e da produção dos sons da fala para o reconhecimento desta. É
preciso destacar que a habilidade principal envolvida na fala é a de
decodificação
auditiva.
Segundo
Stevens
(1980);
Schochat
(1996)
o
processamento auditivo da fala é efetuado pela transformação inicial do sinal
de fala pelo sistema auditivo periférico, informações acústicas sobre a estrutura
do espectro, freqüência fundamental, mudanças na fonte, intensidade e duração
do sinal, assim como da amplitude, são extraídos e decodificados pelo sistema
auditivo.
Estes padrões temporais e de espectro do sinal de fala são preservados na
memória sensorial por um breve período de tempo, durante o qual é feita a
análise. O resultado desta análise provê as pistas acústicas da fala, ou seja as
representações auditivas do sinal da fala que é subseqüentemente para a
classificação fonética(Schochat, 1996).
27
♦ FASES DO PROCESSAMENTO AUDITIVO
O estudo das fases do processamento auditivo é importante para
associação com a percepção auditiva da fala. No estudo de Conrado (1997),
sobre estas fases são destacadas as seguintes:
-
Detecção do som: é a percepção do estímulo sonoro em si. É através dela
que se tem a sensação e as características físicas do estímulo
(componentes condutivos e sensoriais).
-
Atenção seletiva : é a capacidade de monitorar estímulos significativos,
mesmo quando a atenção está focada em outro estímulo, da mesma
modalidade sensorial ou distinta. É a capacidade de selecionar estímulos
(sistema reticular e lobo frontal).
-
Discriminação: é o processo de diferenciação entre os padrões de
estímulos sonoros, em seus aspectos de freqüência, intensidade e duração.
Compara e diferencia os padrões sonoros (componente neural ).
-
Localização: é a capacidade de localizar as fontes sonoras em 5 direções,
ocorrendo por volta de 2 anos de idade (componentes sensoriais e neurais).
-
Reconhecimento: é a identificação de determinados dados sensoriais com
base no conhecimento previamente adquirido, envolvendo comparações
posteriores. É uma discriminação ligada ao contexto situacional temporal
(componente neural).
-
Análise e síntese auditiva: é a integração perceptivo-motora com
participação do processamento intelectivo-cognitivo.
-
Seqüencialização: envolve os aspectos temporais.
28
-
Compreensão: depreender o significado da informação auditiva; esperado
por volta de um ano de idade. Já é considerado como integrante do
processo cognitivo geral (componente neural).
-
Memória; é a capacidade de reter, armazenar e recuperar ou evocar as
informações. É a capacidade biológica nata de registrar, catalogar, organizar
e reutilizar informações acústicas do meio (principalmente centros
hipocampais e amígdala).
Nesta perspectiva , na qual Keith (1982); Russo & Behlau (1993) descrevem
a percepção da fala em etapas, iniciando-se com a audibilidade, isto, é com a
detecção do som. A partir da audibilidade temos a recepção da informação sonora,
a discriminação entre os sons de diferentes espectros, o reconhecimento ou a
comparação do que foi ouvido com experiências anteriores, a memória ou retenção
ou evocação de elementos da fala e, finalmente, a compreensão da mensagem
falada.
♦ PROCESSOS LINGUÍSTICOS E COGNITIVOS
Além das etapas acima referidas, Keith (1982) destaca três fatores que fazem
parte do processo lingüístico e cognitivo do indivíduo ao receber o sinal da fala, a
saber: análise- síntese, seqüenciação e fechamento auditivos. A análise- síntese é
decomposição e a integração das informações de fala recebidas simultânea ou
alternadamente; a seqüenciação auditiva é a capacidade de ordenar os estímulos
sonoros e, por fim, o fechamento auditivo é a reconstrução da mensagem sonora,
quando parte desta foi omitida, ou quando o ouvinte realiza suplência mental,
mesmo antes do término da fala.
29
♦ PROCESSOS SUPRA- LIMINARES
Para a efetividade da compreensão da fala depende dos processos supraliminares, diretamente relacionados aos seguintes fatores:• Atenção à mensagem
• Intensidade da mensagem • Intensidade do ruído • tipo de material de fala
• Coarticulação e fatores suprasegmentais • Sensação de freqüência- ("pitch")
• Sensação de intensidade("loudness") • Fatores temporais, ritmo e velocidade
• Qualidade vocal do falante • Articulação e pronúncia.
• Atenção à mensagem
Atenção auditiva envolve a monitorização do sinal acústico, priorizando-o em
relação a outros sinais competitivos (figura e fundo auditivos), com o intuito de
atribuir-lhe um significado. Dessa forma, para que o ouvinte compreenda o sinal de
fala não é suficiente ouvi-lo, mas apresentar uma atitude de escuta, o que
favorecerá a interpretação correta das amostras acústicas recebidas.
• Intensidade da mensagem
A intensidade dos sons da fala varia tanto nos inter-falantes , como intra-falante e
intra-mensagem, o que implica em uma constante modificação no nível de pressão
sonora que atinge o ouvido. Além das variações absolutas, existem alterações em
freqüência, fase e duração dos estímulos, que interferem na percepção da
30
intensidade e modificam o nível da "loudness". Quanto mais fácil de compreender
for a mensagem, menor será o nível de sensação requerido para o ouvinte fazê-lo.
• Intensidade do ruído
A intensidade do ruído ambiental deve ser considerada não somente em termos
absolutos, mas particularmente em relação com a intensidade da mensagem.
Existe um limite de ruído ambiental que favorece uma boa percepção, além do
qual, mesmo na presença de uma mensagem falada suficientemente ampliada, não
haverá compreensão adequada. A situação ideal é um ambiente com ruído máximo
de 30 dBNSP, porém, não é a realidade da situação de comunicação habitual. A
presença de ruído competitivo minimiza a redundância da mensagem falada.
•Tipo de material de fala
Influência do material de fala pode ser observada tanto sob o ponto de vista
microscópico, quanto macroscópico.
Sob o ponto de vista microscópico, devemos considerar os diferentes sons do
código lingüístico, isto é , as vogais e as consoantes da língua. A distinção entre
vogais e consoantes é universal. Vogais são sons únicos por apresentarem as
propriedades acústica de um trato vocal aberto; são sons contínuos, podendo ser
produzidos isoladamente e por um longo período de tempo, sem que se tenha de
mudar a posição do trato. O som básico da composição de uma vogal é produzido
pela vibração quase periódica das pregas vocais, a chamada fonte glótica. Esse
som apresenta uma freqüência fundamental e seus harmônicos, que serão
31
trabalhados nas cavidades de ressonância, que assumem configurações estáveis e
especificas para que cada vocal de cada língua tenha sua identidade sonora.
Assim, vogais são sons sonoros, longos em duração, intensos em energia e com
um padrão de freqüência bem definido. Já as consoantes são ruídos produzidos
pelas inúmeras fontes friccionais, situadas em diversas regiões do trato vocal, que
produzem sons periódicos, cujo espectro inclui uma gama de freqüências, sem
resolução de continuidade, ou seja, não consistem em harmônicos discretamente
espaçadas. O ruído resultante da excitação dessas fontes pode ser um som
contínuo, como as consoantes fricativas, ou som de explosão espontânea, como as
consoantes plosivas. A fonte glótica, quando acoplada a uma fonte friccional, gera
consoantes sonoras. A comunicação, porém, não se restringe a uma somatória de
vogais e consoantes. Assim sendo, o material de fala, sob o ponto de vista
macroscópico, diz respeito `a complexidade do vocabulário empregado, `a
construção sintático-semântica, à familiaridade com o tema exposto, e à
redundância da mensagem.
• Coarticulação e fatores supra-segmentais
Os sons da fala encadeada não são representados separadamente através de
modelos de movimentos independentes dos articuladores; ao contrário, os
movimentos e padrões sonoros de sons adjacentes se sobrepõem, resultando em
uma combinação de efeitos. O fato de que o ouvinte é também alguém que fala e
realiza os movimentos para fazê-lo, talvez contribua para fornecer informações
prévias sobre as mudanças no mecanismo de fala e os meios através dos quais
sons adjacentes interagem.
32
É evidente que não falamos através de um encadeamento sucessivo de sons
isolados; portanto, as configurações para a produção de um som não se realizam e
completamente a cada som. Na mudança dos articuladores há uma sobreposição
de gestos motores que provoca desvios e antecipações de movimentos por parte
da musculatura envolvida, de acordo com o contexto fonético (Stevens & House,
1993). Esse fenômeno é chamado de coarticulação e os efeitos na cadeia de fala
podem ocorrer, tanto da direita para a esquerda (coarticulação antecipatória), como
da esquerda para a direita (coarticulação condutora). Tais efeitos produzem
enorme influência sobre os formantes das vogais vizinhas, assim como essas
influencia as zonas de alta intensidade das consoantes.
Além da coarticulação, os fatores supra-segmentais da fala, tais como: aumento
da duração da última sílaba tônica, queda na freqüência fundamental e nas pausas
do discurso, oferecem informações adicionais. Se uma pausa é introduzida no meio
de uma sentença, como uma vírgula, pode alterar completamente uma mensagem,
passando-a de negativa a afirmativa.
A pausa também serve para enfatizar uma palavra ou , então, para dar um tempo
ao falante para pensar no que dizer a seguir
•Sensação de freqüência ( "pitch").
Estudos têm mostrado que o ouvido humano é sensível as diferenças de
freqüência audíveis de 20 a 20.000 Hz, podendo detectar mudanças de freqüência
de aproximadamente de1%.
33
Os sons do português distribuem-se numa faixa de 400 Hz a 8.000 Hz,
considerando-se as vogais e as consoantes. A maior concentração de energia está
nas vogais, decrescendo em até 30 dB nas consoantes mais agudas.
• Sensação de Intensidade ( "loudness")
A sensação psicofisica relacionada à intensidade, ou seja, como julgamos um
som considerando-o mais forte ou mais fraco, recebe o nome de "laudness"
e sofre influência da intensidade sonora, da freqüência do sinal acústico e da
qualidade vocal, quando consideramos os sons da fala.
A sensibilidade auditiva para mudanças de intensidade é menos precisa do que a
de freqüência. Precisamos de pelo mesmos 1 dB de intervalo para percebemos
diferenças na intensidade sonora, o que corresponde a uma mudança de 10%,
dando-nos cerca de100 intervalos discrimináveis entre o limiar de audição e o de
desconforto.
As vogais são geralmente mais intensas do que as consoantes e sua faixa de
freqüências situa-se exatamente na curva audibilidade humana, o que privilegia
esses sons. Além disso, concentração da energia acústica das vogais situa-se na
faixa de freqüências baixas (400 a 500 Hz), naturalmente mais intensas do que as
altas. Entretanto, a inteligibilidade da mensagem falada depende muito pouco da
contribuição destas, sendo mais dependente dos sons consonantais, cuja a
distribuição de energia é pequena e geralmente alcança freqüências superiores a
20.000Hz. Em outras palavras, a energia de fala concentrada nessas freqüências é
de cerca de 20 a 35dB mais fraca do que a energia concentrada em 500 Hz, fato
este que explica a dificuldade de indivíduos portadores de perdas em freqüências
34
altas apresentarem no reconhecimento da fala, principalmente, em presença de
ruído ambiental.
• Fatores temporais, ritmo e velocidade de fala
Os falantes de uma língua possuem um elaborado sistema de controle temporal,
que governa tanto a duração específica de cada elemento da fala, como o
encadeamento entre eles. Este controle depende da maturação neurológica, das
características anátomo-fisiologicas dos articuladores da fala e do código
lingüístico. Os fatores temporais devem ser respeitados para que a própria unidade
da fala, a sílaba, seja passível de análise. O ritmo e a velocidade da fala dizem
respeito à agilidade de encadear os diferentes ajustes motores necessários;
psicologicamente, relacionam-se à noção de tempo interior e a rapidez mental do
falante, sofrendo grande influência dos aspectos psico-emocionais. Alterações na
velocidade e no ritmo, freqüentemente comprometem a afetividade da transmissão
da mensagem.
• Qualidade vocal do falante
A qualidade vocal relaciona-se à impressão total criada por uma voz e depende
da composição dos harmônicos da onda sonora. Representa a ação conjunta da
laringe e do trato vocal, modificando o ar expiratório. Para uma qualidade vocal
equilibrada, é preciso uma interação adequada entre as forças aerodinâmicas
pulmonares, as forças mioelásticas laríngeas e a dinâmica articulatória. Os desvios
na qualidade vocal, em qualquer uma dessas três áreas, reduzirão as chances do
ouvinte. Isto é facilmente observado quando escutamos vozes roucas, ásperas,
hipernasais, entre outras.
35
• Articulação e pronúncia
A articulação diz respeito ao processo de ajustes motores dos órgãos
fonoarticulatórios na produção e formação dos sons e ao encadeamento destes na
fala. Desvios nesse processo geram conseqüentes distorções. Além disso, mesmo
sem alterações articulatórias propriamente ditas o sucesso da compreensão da
mensagem também dependerá do padrão articulatório global do falante; se este for
indiferenciado ou travado, dificultará a tarefa do ouvinte. Já a pronúncia é o
resultado de um condicionamento fonológico decorrente da exposição a um certo
código lingüístico. Um indivíduo pode apresentar alterações que caracterizam um
regionalismo ou um sotaque por aprendizado de segunda língua em período
posterior à aquisição de linguagem. Se o ouvinte não estiver familiarizado com esta
pronúncia, ocorrerá mais uma barreira à efetividade da compreensão da
mensagem falada.
♦ PRODUÇÃO DOS SONS DA FALA
As pesquisadoras Russo & Behlau (1993 ) pormenorizam sobre a produção dos
sons da fala, indicando que para esta a disponibilidade de dois tipos de fontes
sonoras: a fonte glótica e as fontes friccionais.
A fonte glótica produz o som laríngeo pela vibração das pregas vocais. A teoria
que nos parece mais adequada à descrição do som laríngeo é a mio-elásticaaerodinâmica de Van den Berg (1958), que apresenta a fonação como interrelacionamento das forças físicas aerodinâmicas da respiração e das forças
elásticas dos tecidos musculares da laringe. Na produção da voz, podemos
36
imaginar a seguinte seqüência: na inspiração, a laringe discretamente se abaixa e
as pregas vocais são abduzidas em posição máxima, para permitir a entrada do ar;
quando começa a expiração, a laringe discretamente se eleva e os músculos
intrínsecos adutores aproximam as pregas vocais para que a produção do "buzz"
laríngeo seja possível. Os músculos intrínsecos precisam balancear rapidamente
sua força de contração à força da corrente aérea. O fluxo de ar acelera-se a
medida em que passa pela glote em fechamento e , com a concomitante redução
da pressão entre as pregas vocais, ocorre o efeito Bernoulli. Em outras palavras,
neste momento o fechamento e a vibração das pregas vocais são o resultado de
um movimento de sucção das mucosas, causado pela passagem de um fluxo aéreo
veloz pela laringe, provocando uma pressão negativa e, desta forma aproximando
as pregas vocais.
A fonte glótica é a principal fonte de que dispomos e fornece, pela sua vibração, a
"matéria prima" para a produção da fala (o chamado "buzz" sonoro), básica na
produção das vogais. Este som gerado ao nível da glote é de intensidade muito
baixa e composto pela freqüência fundamental da onda sonora e seus harmônicos,
que decrescem em intensidade numa razão de 12 dB por oitava. O sinal sonoro
básico será transmitido pelo trato vocal e amplificado pelos ressonadores, cujo
revestimento mucoso e sua elasticidade têm extrema importância sobre o espectro
do som resultante, sendo influenciado por qualquer condição que altere sua
impedância determinada basicamente pela interação dos fatores de massa e
rigidez.
As fontes básicas na produção das consoantes são as fontes friccionais. As
consoantes diferem das vogais por apresentarem uma constrição acentuada no
37
trato vocal, com pelo menos uma região bem nítida de redução da área do tubo de
ressonância. Nas fontes friccionais de sons aperiódicos, o espectro é o de um ruído
que inclui uma gama de freqüências, sem a resolução de continuidade, ou seja,
não consiste de harmônicos discretamente espaçados, como o espectro da fonte
glótica. O ruído resultante da excitação de uma fonte friccional pode ser um som
contínuo, advindo do atrito do ar na passagem pelo trato vocal- como no som /s/,
ou um som de explosão instantânea, pela soltura imediata de uma oclusão
realizada em um ponto do trato vocal- como no som /p/.
No caso das consoantes surdas, que utilizam somente a fonte friccional, o
espectro é chamado de contínuo. Por sua vez, para a produção das consoantes
sonoras são utilizadas, simultaneamente, duas fontes de som - uma friccional e
outra glótica e, portanto, o espectro resultante é uma mistura dos espectros
discreto e contínuo.
As fontes friccionais produzem basicamente as consoantes surdas, e, de acordo
com a necessidade da fala, o indivíduo pode fazer uso sucessivo ou simultâneo das
fontes glótica e friccional.
Fica claro que os espectros dos sons gerados e suas curvas de ressonância
dependem não somente das características anatômicas e funcionais de um
determinado falante, mas também do código lingüístico e do processo
comportamental vivido por esse indivíduo, durante seu aprendizado de linguagem.
Determinadas opções de amplificação e de características do espectro
representam também opções de qualidade vocal de base psico-emocional,
representando projeções da personalidade que o falante faz através de seu padrão
38
de articulação. Desta forma, o espectro da produção sonora é único, mas existem
características básicas que os identificam.
♦ DECODIFICAÇÃO AUDITIVA
A decodificação auditiva é de competência da segunda unidade funcional
proposta por Lúria (1973), citado por Conrado(1997) Alvarez (1997). Está
Localizada nas áreas posteriores do córtex (parietal, temporal e occipital), é
responsável pelo reconhecimento (decodificação), memória e integração com
outras unidades sensoriais. Tem um papel decisivo na análise e categorização,
codificação e armazenamento das informações, ou seja, na análise de estímulos.
Cada uma dessas regiões corticais possui uma organização hierárquica: uma zona
primária que classifica e registra a informação sensorial; uma zona secundária que
organiza a informação e a codifica, e uma zona terciária onde os dados de
diferentes proveniências se sobrepõem e são combinados (integração). Associada
a esta
unidade têm-se as habilidades de processamento auditivo: detecção do som,
discriminação, memória de curto prazo, seqüencialização sonora, análise e síntese
de sons verbais e não verbais. Machado & Pereira (1997) preconiza também que a
segunda área é um pequeno número de sistemas neurais, geralmente localizados
39
no hemisfério esquerdo e representam fonemas, combinações de fonemas e regras
sintáticas para combinação de palavras. Quando estimulados "internamente", esses
sistemas neurais evocam palavras e elaboram sentenças para serem faladas ou
escritas. Quando ativados por estímulos externos, pela fala ou texto escrito, são
responsáveis pela análise auditiva ou visual dos signos lingüísticos.
♦PERCEPÇÃO AUDITIVA DA FALA
kozlowski (1997) mostra estudos sobre a percepção auditiva da fala, baseados
em distinções na área acústica, na área articulatória e entre as duas áreas,
acústicas e articulatória.
Os diferentes modelos de percepção de fala tem o objetivo de propor uma
explicação do fenômeno que chamamos de categorização fonética.
Este fenômeno observável dentro da percepção de fala, pode ser resumido da
seguinte forma: "modificação contínua de uma ou mais dimensões do sinal físico
que não tem conseqüências sobre a identificação do fonema até um certo valor
crítico, a partir do qual a identificação oscila para o conhecimento de um outro
fonema"( Virole, 1994).
As teorias da percepção da fala que tentam explicar este fenômeno podem ser
classificadas, segundo MacDnald & McGurk (1978), em dois modelos principais:
40
a- Os Modelos Passivos de Percepção da Fala.
Os modelos passivos de percepção da fala são baseados na noção de que as
características das ondas acústicas da fala são registradas automaticamente
( Abbs & Sussman,1971).
As células corticais são, então, as responsáveis pela detecção de parâmetros
foneticos-acústicos das ondas sonoras, que são passivamente registrados.
A percepção da fala é então baseada na orientação teórica neuro- fisiologica.
Esta teoria demostra que os aspectos da fala são decodificados por meio de
localizações neurossensoriais receptivas (feature detectors).
Esta localização seria inata e estruturada para detectar e responder aos
diferentes parâmetros físicos dos espectros acústicos.
Podemos definir os feature detectors como:" Configurações organizacionais do
sistema nervoso central mais sensíveis a certos parâmetros de um estímulo
complexo" ( Abbs & Sussman,1971).
Os neurofisiologistas afirmam que os mesmos feature detectors existem dentro
da área auditiva do homem.
O processo de percepção da fala é um mecanismo fonético-acústico baseado nos
feature detectors que funcionam sobre combinações complexas de códigos
acústicos.
Existe um período critico do desenvolvimento da criança onde a aprendizagem do
sistema auditivo da linguagem, fornecido por meio da experiência, é fundamental
para o desenvolvimento da especialidade neuronal para a percepção da linguagem.
41
Os parâmetros físicos estão presentes no sinal acústico da fala e podem ser
reconhecidos de maneira inata. As propriedades espaciais e temporais dos
estímulos acústicos podem ser, então, identificadas.
Os detectores de traços distintivos são biologicamente fundamentados, porque
eles detectam os estímulos fundamentais para a sobrevivência.
Sua detecção faz-se, então, com rapidez máxima a um limite de capacidades
neurológicas do organismo ( Abbs & Sussman,1971).
Os elementos são percebidos
traço por traço e não por meio do ponto
articulatório, como a teoria motriz sugere.
Podemos então concluir que, segundo este modelo, a fala é percebida por meio
de um mecanismo funcional neurofisiológico que é dependente dos parâmetros
físicos do estímulo acústico. Esta é a realidade fisiológica da percepção da fala.
b- Os Modelos Ativos de Percepção da Fala
A orientação ativa dentro das teorias de percepção da fala é representada por
duas variantes: a teoria motora de percepção da fala e o modelo de análise por
síntese.
∗ A Teoria Motora
A teoria motora da fala que o sinal da fala é inicialmente submetido a uma análise
acústica a fim de extrair as características de estrutura espectral, como a
freqüência, a intensidade e a duração.
42
Os sinais neurais decodificam as unidades fonéticas, que estão em relação com
os gestos articulatórios. Então, a percepção estar em relação com a produção da
fala (Libermam & col.,1967).
O auditor, ao ouvir uma mensagem fonética que vem de um locutor reefetua
dentro de um espaço proprioceptivo o gesto articulatório a partir de limiares críticos
de identificação fonética: é a percepção fonética das posições articulatórias.
O processo de percepção da fala é diferente do processo de percepção de sons
que não pertencem a fala.
A percepção da fala é um processo diferente dos outros processos de percepção
auditiva.
Alguns autores( Libermam, 1992) sugerem que existiria um processo especial
para a fala. Estes processadores têm acesso ao mecanismo de percepção por
meio de um sentido motor. Esta é a teoria motriz de percepção por meio de um
sentido motor. Esta é a teoria motriz de percepção da fala.
A percepção da fala é um processo diferente dos outros processos de percepção
auditiva.
A percepção categorial aplica-se ao modo pelo qual cada estímulo pode ser
respondido somente de forma absoluta. A percepção categorial é a evidência para
a teoria motora, a qual atribui à percepção da fala uma mediação pelos gestos
articulatórios, onde a saída é presumidamente categorial.
Esta mediação articulatória é considerada como especial para a fala e não
aparece para outros sinais acústicos. Então, o processo fonético incorpora a união
que existe entre a percepção e a produção. A percepção e a produção da fala são
ligadas biologicamente. A informação fonética é percebida dentro de um sistema
43
biologicamente distinto, um módulo especializado para a identificação. A "chave" do
código fonético está dentro do modo pelo qual ele é produzido.
∗ A Teoria da Análise por Síntese
O segundo modelo ativo de percepção da fala, o modelo da análise por síntese, é
proposto por Stevens & House( 1972).
O modelo de análise por síntese defende a hipótese de que uma análise
preliminar do estímulo acústico pode ser realizada. Num estado inicial, algumas
informações fonéticas são diretamente decodificadas por meio de traços acústicos
invariáveis que estão em relação direta com os segmentos fonéticos.
Então, a hipótese é a de que, em nível neural ou muscular, podem existir as
informações sobre o sinal acústico.
Como na teoria motora, a atividade neuronal corresponde aos comandos
articulatórios necessários para se produzirem os sons supostos.
As variantes da propriocepção e da audição poderão estar integradas dentro da
percepção da fala.
Concluindo a discussão teórica enfatiza-se algumas colocações, segundo Alvarez
(1997).
De posse de novos horizontes fornecidos pela abordagem Neuropsicologica,
voltamos ao diagnóstico de Distúrbio Específico de Desenvolvimento de Fala e dos
critérios de exclusão, onde resolvemos nos deter detalhadamente no item perdas
44
auditivas, abordando-o tanto sob o aspecto quantitativo quanto sob o aspecto
qualitativo.
Concluímos que:
-
Determinadas pessoas, embora exibindo curva audimétrica considerada
normal ou próxima à normalidade, comportam-se como disacúsicas sem o
serem de fato.
-
Grande parte das pessoas acima referidas apresentava problemas de fala.
-
A maior parte das crianças que exibia sintomas compatíveis com o quadro
de Distúrbio Específico de Fala apresentava audimetria tonal normal, no
entanto mostrava disfunções no Processamento Auditivo a qualquer nível.
Portanto tais disfunções seriam, também, desenvolvimentais.
-
Foram raros os casos encontrados onde o distúrbio articulatório tivesse
somente causas motoras ou de tônus.
-
As crianças que tardavam a automatizar os novos sons apresentavam
disfunções em duas, ou mais, modalidades perceptivas.
-
A maior incidência de distúrbios articulatórios e déficit no P.C.A . ocorreu no
sexo masculino.
-
É de vital importância a análise qualitativa dos testes dicóticos e dicóticos
seqüenciais, uma vez que fornecem direções importantes para o conteúdo
das estratégias de instrumentalização ( tipos de erros: omissão, substituição
fonêmica ou semântica).
45
2.4- PRINCIPAIS ORIENTAÇÕES PARA PORTADORES DE DISTÚRBIOS DO
PROCESSAMENTO AUDITIVO CENTRAL(DPAC)
A- RECOMENDAÇÕES GERAIS A PROFESSORES FRENTE AOS ALUNOS
COM DPAC.
Pereira e Schochat (1997) sugerem modificação em sala de aula, melhorando a
relação fala/ruído e aumentando a clareza da fala primária e as condições
acústicas para o ouvinte, sugerindo o seguinte:
-
Evitar salas com divisórias não acústicas, com eucatex e assemelhados;
-
Sentar a criança longe do corredor, do ruído da rua e não mais de três
metros do professor;
-
Permitir uma flexibilidade no posicionamento da criança na sala, para melhor
prestar atenção e participar das atividades da aula.
Matkins (1982), Katz e Wilde (1989) priorizavam a melhora nas condições de
compreensão e aprendizado em sala de aula, orientando o professor segundo
vários aspectos, tais como:
-
Ganho de atenção – antes de ensinar, chamar a criança pelo nome ou por
toques gentis.
-
Avaliação da compreensão – perguntas relativas à matéria devem ser feitas
periodicamente, avaliando sua compreensão, pois a criança pode mostrar
relutar-se em mostrar suas dúvidas.
-
Reformulação – caso a mensagem não tenha sido compreendida, reduzir a
complexidade lingüistica de vocabulário.
46
-
Uso de instruções curtas.
-
Preparação – familiarizar a criança com novos conceitos e vocabulários que
serão utilizados em aula.
-
Lista do vocabulário chave – escrever na lousa palavras-chave do novo
assunto da aula.
-
Escrever as instruções – a criança com DPAC freqüentemente necessita de
anotações organizadas e de lembretes.
-
Auxílio visual – associações audiovisuais podem ajudar a criança a
memorizar o novo aprendizado.
-
Ajuda individual – para preencher as lacunas do aprendizado. Há escolas
que oferecem mais assistência do tipo “plantão de dúvidas”. Nestes casos,
os professores responsáveis por este atendimento também devem ser
orientados.
-
Fazer intervalos mais freqüentes, pois a criança com DPAC despende mais
esforços em prestar atenção e discriminar. Insistir no ensino de uma criança
cansada implica na frustração do professor e do aluno.
B- RECOMENDAÇÕES GERAIS AOS PAIS FRENTE AOS FILHOS COM DPAC
A modificação dos hábitos e de estratégias de comunicação se faz preponderante
para o estabelecimento de condições favoráveis ao desenvolvimento do processo
de aquisição da linguagem. Estas estratégias verbais são propostas por TyeMurray (1993):
47
- Objetivando AUMENTAR A COMPREENSÃO DA FALA PELA CRIANÇA:
1. Repita. Diga a mensagem novamente.
2. Simplifique: usando palavras mais conhecidas e mais simples.
E x: Pegue o casaco azul e vermelho na terceira gaveta. Pegue a roupa na
Gaveta.
3. Modifique a frase usando palavras diferentes.
E x: João faltou a aula.
João não veio hoje.
4. Palavra-chave. Fale uma palavra importante da frase.
E x: Os meninos vão jogar futebol.
Futebol.
5. Elaboração: repetir a palavra-chave fornecendo uma pequena informação a
mais.
E x: Eu quero uma bala. Vou levar para o meu filho.
6. Delimite. Limite a resposta, isto é, torne a atividade fechada.
E x: Aonde você vai? (aberta)
Você vai ao cinema ou ao parque? (fechada)
7. Fale do conhecido. Reestruture a mensagem.
E x: Pegue para eu o casaco verde no quarto.
O casaco está no quarto. Pegue para mim .
8. Peça “feedebak”, um retorno. Peça para o ouvinte repetir o que ele entendeu da
mensagem. Diga-me o que você entendeu!
48
II- Objetivando UMA COMUNICAÇÃO MAIS EFICAZ COM A CRIANÇA:
1. Fale sobre o aqui e sobre os objetos presentes na sala.
2. Fale durante as experiências rotineiras, como levar a criança para a cama,
limpar a cozinha etc.
3. Use palavras conhecidas e sentenças simples.
4. Espere seu filho responder de acordo com que ele é capaz.
5. Tente estabelecer um contexto antes de falar.
6. Encoraje a criança a olhar para você.
7. Perceba o interesse da criança. Fale o que ela está interessada naquele
momento.
8. Não fale demais. Encoraje a criança a virar-se em sua direção quando você
fala, falar, ouvir e falar novamente. Deixe a criança ter responsabilidade de
dirigir a conversa.
49
3-CONSIDERAÇÕES FINAIS
Foi proposto com este estudo uma correlação do processamento auditivo
central com os distúrbios articulatórios, visando uma reflexão do tratamento destes
distúrbios que tanta dificuldades são apresentadas por alguns indivíduos
independentemente da idade, da inteligência, da acuidade auditiva, e da
discriminação fonética. Nesta perspectiva, me detive na conceituação do
processamento auditivo central na visão de vários autores e no seu processamento
através das informações auditivas aferentes e eferentes do sistema nervoso
central. Enfatizando também a conceituação, etiologia, classificações dos distúrbios
deste processamento, sua relação com os distúrbios articulatórios e as principais
orientações para professores e pais de portadores de DPAC.
É preciso destacar, que muitos indivíduos que passam por fonoaudiólogos sem
embasamento para diagnosticar as alterações auditivas centrais, tornam-se
frustrados e frustrantes no processo terapêutico, se setindo culpado ou nos
culpando
de
não
finalização
do
tratamento.
Nesta
ótica,
é
necessário
conhecimentos científicos orientando nossa formação profissional clínica, como
estes autores propostos abaixo:
Alvarez; Caetano & Nastas (1997) definem o processamento auditivo central
como: uma série de operações que o sistema auditivo, como um todo, realiza para
50
receber, detectar, atender, reconhecer, associar, integrar os estímulos acústicos e,
a partir disso, resgatá-los para planejar e emitir respostas.
Azevedo et al. (1995) mencionam a definição de D PAC Segundo a Association
of Children and Adults With Learning Disabilites (ACLD) como: "a inabilidade
ou impedimento da habilidade de atender, discriminar, reconhecer ou compreender
as informações apresentadas auditivamente mesmo em indivíduos com acuidade
auditiva e inteligência normais".
Ferre ( 1987 e 1992); Ferre & Bellis (1996); Alvarez, Caetano & Nastas (1996)
classificam os DPAC em quatro categorias : Decodificação auditiva, Integração,
Associação e Organização da Saída e Disfunção Não Verbal. Sendo descrita a
categoria de Decodificação Auditiva por relacionar-se diretamente com o nosso
tema. Na decodificação auditiva o dado mais relevante encontrado nesta categoria
é a dificuldade em efetuar tarefas de fechamento auditivo, categorizado por
performance rebaixada nos testes monoaurais de baixa redundância e nos de fala
no ruído. Nos testes dicóticos seqüenciais, observa-se o efeito de ordem baixo/
alto, e o efeito de ouvido alto/baixo. Exemplo do tipo de erro: o indivíduo repete
"quem" ao ouvir "tem".
Sinais Acadêmicos: Com freqüência as manifestações se exprimem em
dificuldades de leitura, substituição de letras na escrita, vocabulário rebaixado e
sintaxe simplificada.
Sinais
Comportamentais:
O
paciente
pode
demostrar
dificuldade
em
compreender a fala em ambientes ruidosos, pedindo constatemente ao interlocutor
para repetir a mensagem. Normalmente estes sujeitos têm bom desempenho em
Matemática e Computação.
51
Sinais do Histórico: Problemas de articulação, principalmente dos fonemas /r/ e
/l/.
Os estudos de Stevens (1980); Schochat (1996) relatam que o processamento
auditivo da fala é efetuado pela transformação inicial do sinal de fala pelo sistema
auditivo periférico, informações acústicas sobre a estrutura do espectro, freqüência
fundamental, mudanças na fonte, intensidade e duração do sinal, assim como da
amplitude, são extraídos e decodificados pelo sistema auditivo. Estes padrões
temporais e de espectro do sinal de fala são preservados na memória sensorial por
um breve período de tempo, durante o qual é feita a análise. O resultado desta
análise provê as pistas acústicas da fala, ou seja as representações auditivas do
sinal da fala que é subseqüente para a classificação fonética ( Schochart, 1996 ).
Nesta perspectiva, na qual Keith (1982 ); Russo & Behlau (1993) descrevem a
percepção da fala em etapas, iniciando-se com a audibilidade isto é com a
detecção do som. A partir da audibilidade temos a recepção da informação sonora,
a discriminação entre os sons de diferentes espectros, o reconhecimento ou a
comparação do que foi ouvido com experiências anteriores, a memória ou retenção
de elementos da fala e, finalmente, a compreensão da mensagem falada.
Além das etapas acima referidas, Keith (1982 ) destaca três fatores que fazem
parte do processo lingüístico e cognitivo do indivíduo ao receber o sinal da fala, a
saber: análise-síntese, seqüenciação e fechamento auditivo. A análise-síntese é
decomposição e a integração das informações de fala recebidas simultânea ou
alternadamente; a seqüenciação auditiva é a capacidade de ordenar os estímulos
sonoros e, por fim, o fechamento auditivo é a reconstrução da mensagem sonora,
52
quando parte desta foi omitida, ou quando o ouvinte realiza suplência mental,
mesmo antes do término da fala.
Para a efetividade da compreensão da fala depende dos processos supraliminares, diretamente relacionados aos seguintes fatores: - Atenção à mensagem intensidade da mensagem - intensidade do ruído - tipo de material de fala coarticulação e fatores suprasegmentais - sensação de freqüência ( "pitch") sensação de intensidade ("loudness") - fatores temporais, ritmo e velocidade qualidade vocal do falante - articulação e pronúncia.
A decodificação auditiva é de competência da segunda unidade funcional
proposta por Lúria (1973), citado por Conrado (1997) e Alvarez (1997). Está
localizada nas áreas posteriores do córtex (parietal, temporal e occipital), é
responsável pelo reconhecimento (decodificação), memória e integração com
outras unidades sensoriais. Tem um papel decisivo na análise e categorização,
codificação e armazenamento das informações, ou seja, na análise de estímulos.
Cada uma dessas regiões corticais possui uma organização hierárquica: uma zona
primária que classifica e registra a informação sensorial; uma zona secundária que
organiza a informação e a codifica, e a zona terciária onde os dados de diferentes
proviniências se sobrepõem e são combinados (integração). Associada a esta
unidade têm-se as habilidades do processamento auditivo: detecção do som,
discriminação, memória de curto prazo, sequencialização sonora, análise e síntese
de sons verbais. Machado & Pereira (1997) preconiza também que a segunda área
é um pequeno número de sistemas neurais, geralmente localizados no hemisfério
esquerdo e representam fonemas, combinações de fonemas e regras sintáticas
para combinação de palavras. Quando estimulados “internamente”, esses sistemas
53
neurais evocam palavras e elaboram sentenças para serem faladas ou escritas.
Quando ativados por estímulos externos, pela fala ou texto escrito, são
responsáveis pela análise auditiva ou visual dos signos lingüisticos.
Kozlowski
(1997)
apontou
para
existência
de
um
período
crítico
do
desenvolvimento da criança onde a aprendizagem do sistema auditivo da
linguagem,
fornecido
por
meio
da
experiência,
é
fundamental
para
o
estabelecimento da especialidade neuronal para a percepção da linguagem.
Os parâmetros físicos estão presentes no sinal acústico da fala e podem ser
reconhecidos de maneira inata. As propriedades espaciais e temporais dos
estímulos acústicos podem ser, então, identificadas.
Os detectores de traços distintivos são biologicamente fundamentados, porque
eles detectam os estímulos fundamentais para a sobrevivência.
Sua detecção faz-se, então, com uma rapidez máxima a um limite das
capacidades neurológicas do organismo ( Abbs & Sussman, 1971).
Os elementos são inicialmente percebidos traço por traço e não por meio do
ponto articulatório, como a teoria motriz sugere.
Podemos concluir que, segundo este modelo, a fala é percebida por meio de um
mecanismo funcional neurofisiológico que é dependente dos parâmetros físicos do
estímulo acústico. Esta é a realidade fisiológica da percepção da fala.
Alvarez (1997) conclui que de posse de novos horizontes fornecidos pela
abordagem Neuropsicológica, voltamos ao Diagnóstico de Distúrbio Específico de
Desenvolvimento de Fala e dos critérios de exclusão, onde resolvemos nos deter
detalhadamente no item perdas auditivas, abordando-o tanto sob o aspecto
quantitativo quanto sob o aspecto qualitativo.
54
Concluímos que:
-
Determinadas pessoas embora exibindo curva audiométrica normal ou
próximo à normalidade, comportam-se disacúsicas sem o serem de fato.
-
Grande parte das pessoas acima referidas apresentava problemas de fala.
-
A maior parte das crianças que exibia sintomas compatíveis com o quadro
de
Distúrbio
audiometria
Específico
tonal
do
normal.
Desenvolvimento
No
entanto,
de
Fala
mostrava
apresentava
disfunções
no
processamento Auditivo a qualquer nível. Portanto, tais disfunções seriam,
também, desenvolvimentais.
-
Foram raros os casos encontrados onde o distúrbio articulatório tivesse
somente causas motoras ou de tônus.
-
As crianças que tardavam automatizar os novos sons apresentavam
disfunções em duas, ou mais, modalidades perceptivas.
-
A maior incidência de distúrbios articulatórios e déficit no P.C.A . ocorreu no
sexo masculino.
-
É de vital importância a qualitativa dos testes dicóticos e dicóticos
seqüenciais, uma vez que fornecem direções importantes para o conteúdo
das estratégias de instrumentalização (tipos de erros: omissão, substituição
fonêmica ou semântica ).
Quero deixar uma dúvida : Os Distúrbios Articulátorios da Fala ,considerando
toda sua etiologia, podem ser transformados em Distúrbios Fonológicos ?
Segundo a argumentação aqui apresentada cheguei as seguintes conclusões:
-
As dificuldades específicas das habilidades da fala estão intimamente
ligadas as dificuldades de captação e produção desta, por meio de
55
habilidades que envolvam a percepção dos processos auditivos periféricos e
principalmente os centrais.
-
Na avaliação dos distúrbios articulatórios é obrigatória a avaliação do
sistema auditivo periférico e central. O primeiro evidenciado, principalmente
nos
testes
de
audiometria
tonal
limiar,
impedânciometria
e
de
logoaudiometria. O segundo é realizado com a eliminação de déficit no
sistema auditivo periférico e a constatação de inteligência e de
desenvolvimento neurológico normais, sendo realizado através de testes
especiais.
-
Quando os indivíduos apresentam alterações no processamento auditivo
central estas podem gerar dificuldades na percepção e na produção do
processo articulatório, principalmente envolverem a decodificação auditiva.
-
Na avaliação da fala devem ser levadas em consideração o processamento
de outras funções que interagem concomitantemente com a auditiva como: a
visão, a propriocepção, a cinestesia.
A realização desta pesquisa, nos trouxe subsídios para uma avaliação e uma
melhor compreensão dos processos que envolvem a fala e seu íntimo
desenvolvimento com o processo auditivo. Constatando que as áreas de
Motricidade Oral e Audiologia, embora vistas como independentes, são áreas
complementares, devendo todos fonoterapeutas terem maior conhecimento desta
área.
56
4- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
§
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é isto?" - Revista Fono Atual - 1; 17 - 18 - 1997.
§
Alvarez, A .; Caetano, A .;Nastas, S.: "Processamento Auditivo Central:
Avaliação e diagnóstico"- Revista Fono Atual - vol. 2; 34 - 36 - 1997.
§
Almeida, C; Macedo, L;Gardel, M; Costa.:Influência do nível socio-ecônomico,
cultural e da estimulação Auditiva nas habilidades do Processamento Auditivo
Central - Revista fono Atual.
§
Azevedo, M; Pereira, L; Vilanova, L & Goulart, A .- Avaliação do
processamento Auditivo Central: Identificação de Crianças de Risco para
Alteração de Linguagem e Aprendizado Durante o Primeiro Ano de Vida Tópicos em Fonoaudiologia Clínica - São Paulo - Lovise - 1995
§
Conrado, C.:" Processamento Auditivo e Distúrbios Articulatórios em Crianças
com Respiração Bucal". Monografia de Conclusão do Curso de Especialização
em Motricidade Oral do CEFAC. São Paulo- 1997.
§
Carvalho, ; Alvarez, A; Caetano, A: "Perfil de habilidades fonológicas"- Editora
Via Lettera- São Paulo- 1998.
§
Kozlowski, L. - A Percepção Auditiva e Visual da Fala- Rio de Janeiro, Livraria
e Editora Revinter L.T.D.A ., 1997. 107p.
§
Netter, F. : Fisiologia e Neuroanatomia funcional - Seleção de temas do
Sistema Nervoso Central- fascículo 2 - Lemos Editorial - s/data.
§
Pereira, L. D.; Schoschat, E.:" Processamento Auditivo Central; manual de
avaliação". - Editora Lovise - SP- 1997.
57
§
Pereira & Cavadas- Processamento Auditivo Central- Em Frota S.Fundamentos em Fonoaudiologia - Audiologia. Rio de Janeiro, Guanabara
Koogan, 1998. 180p.
§
Russo, I. C. P. & Behlau, M. S.- Percepção da Fala: Análise Acústica do
Português Brasileiro. São Paulo- Lovise- 1993. 57p.
§
Schoschat,
E.
-
"Processamento
Auditivo"-
Série
Atualidades
em
Fonoaudiologia - Editora Lovise- São Paulo - 1996.
§
Ganança, M. & Colaboradores (prelo)– “Audiologia Básica e Avançada” –
Editora Atheneu – São Paulo – 1999.
58
Download

o processamento auditivo central nos distúrbios articulatórios