363 CÉLULAS-TRONCO – REVISTA DA LITERATURA CÉLULAS-TRONCO – REVISTA DA LITERATURA STEM CELLS – LITERATURA REVIEW Filipe HILLE * Elaine Dias Do CARMO ** Clóvis MARZOLA *** * Graduação em Odontologia, atuando na área de Clínica Geral e Odontopediatria. Pós-graduando em Odontopediatria realiza tratamento de gestantes e neonatos por meio de pré-natal odontológico e tratamentos preventivos. Curso de extensão universitária em Ciências Forenses aplicada à Odontologia Legal. Auditoria Odontológica através da Universidade de São Paulo. Curso de Odontologia Hospitalar do Hospital Sírio Libanês de São Paulo. Curso de extensão em Bases Moleculares do Câncer. Curso de Urgências e Emergências em Odontologia pela Universidade de São Paulo. Atualmente se dedica à pesquisa científica em Odontologia, atuando nos temas de Ética, Células-tronco de dentes decíduos, Processos Patológicos Gerais, Patologia Bucal, Glândulas Salivares e Metotrexato. ** Possui graduação em Odontologia pela Universidade de Mogi das Cruzes (1998), Mestrado (2004) e Doutorado (2007) em Biopatologia Bucal pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (FOSJC-UNESP). Professora Doutora do curso de Odontologia das Faculdades Metropolitanas Unidas. Realiza projetos nas áreas de carcinogênese e plantas medicinais. *** Professor Titular de Cirurgia Aposentado da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo. Professor dos Cursos de Especialização e Residência da Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas (APCD) Regional de Bauru, do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia Buco Maxilo Facial. Membro Titular Fundador do Colégio Brasileiro de Cirurgia e Traumatologia BMF. Membro Titular e Presidente da Academia Tiradentes de Odontologia. Conselheiro da Câmara Brasileira de Cultura e da Academia de Artes e Ciências da CBC. Membro Titular da Academia Brasileira de Odontologia. HILLE, F.; Do CARMO, E. D.; MARZOLA, C. et al., Células tronco – Revista da literatura. Rev. Odontologia (ATO), Bauru, SP., v. 15, n. 6, p. 363-372, jun., 2015. 364 CÉLULAS-TRONCO – REVISTA DA LITERATURA RESUMO Nos dias atuais com os avanços da engenharia tecidual o intuito da terapêutica com células-tronco é desenvolver a terceira dentição a partir de destas células. O presente trabalho teve como objetivo mostrar por meio da revista da literatura o papel das células-tronco nos avanços da Odontologia em relação à terceira dentição e à regeneração de tecidos bucais. O levantamento bibliográfico evidenciou as metodologias e resultados obtidos de estudos com células-tronco na Odontologia de 2006 a 2014. Estudos dos últimos anos mostraram que célulastronco de polpa dentária e do ligamento periodontal de dentes decíduos e permanentes são capazes de se diferenciar em vários tipos de linhagens celulares, originando tanto os tecidos moles como os tecidos mineralizados de origem odontogênica. Diante disso, pode-se concluir que a terapêutica com células-tronco torna-se uma promissora ferramenta no desenvolvimento da terceira dentição que será um marco na Odontologia do futuro. ABSTRACT Nowadays with the advances in tissue engineering the purpose of stem cell therapy is to develop a third set of teeth from these cells. This work aimed to show through literature review the role of stem cells in advances in dentistry over the third dentition and oral tissue regeneration. The literature survey revealed the methodologies and results of studies with stem cells in dentistry from 2006 to 2014. Studies in recent years have shown that stem cells from dental pulp and periodontal ligament of deciduous teeth and permanent teeth are capable of differentiating into various types of cell lines that originate both soft tissues such as odontogenic mineralized tissues. Thus, it can be concluded that therapy with stem cell becomes a promising tool in the development of the third set of teeth that will be a milestone in the future of dentistry. UNITERMOS: Células-tronco; Engenharia tecidual; Terceira dentição; Polpa dentária. UNITERMS: Stem cells; Tissue engineering; Third dentition; Dental pulp. INTRODUÇÃO A ausência dos dentes pode ser superada pela colocação de implantes e com a confecção de próteses, que tentam ao máximo, devolver a função mastigatória ao indivíduo. Apesar dos avanços da Odontologia, ainda não é possível devolver ao paciente, um elemento dentário capaz de substituir de maneira plena os tecidos biológicos perdidos (HAU; LOPES; BALDANI et al., 2006). Atualmente, há um empenho na área científica, na tentativa de se desenvolver um elemento dental, capaz de ser tão funcional quanto o que foi perdido. Assim como as células se organizam, para formar tecidos, estes mesmos fenômenos ocorrem, quando o objetivo é a formação dos elementos dentários (HAU; LOPES; BALDANI et al., 2006). HILLE, F.; Do CARMO, E. D.; MARZOLA, C. et al., Células tronco – Revista da literatura. Rev. Odontologia (ATO), Bauru, SP., v. 15, n. 6, p. 363-372, jun., 2015. 365 CÉLULAS-TRONCO – REVISTA DA LITERATURA Os dentes possuem um processo de formação muito complexo e minucioso realizado por células especializadas. A formação dos dentes é alvo de muitos estudos e discussões na literatura, devido à sua grande riqueza de detalhes e processos envolvidos. Desta maneira, surgem grandes expectativas, para se criar uma terceira dentição em seres humanos, revolucionando a Odontologia, que começa a ser chamada de Odontologia do Futuro (SARDEMBERG; TELLERMAN; BORGES et al., 2012). O presente trabalho tem como objetivo mostrar por meio da revista da literatura o papel das células-tronco nos avanços da Odontologia em relação à terceira dentição e a regeneração de tecidos bucais. REVISTA DA LITERATURA A pergunta de muitos estudiosos e pesquisadores, envolvidos na área da Biologia Molecular e da Engenharia Tecidual é: - “Se os tecidos são capazes de se desenvolver perfeitamente, a partir de células-tronco, desempenhando função, seria possível desenvolver um novo elemento dental?” (CASAGRANDE; LAUXEN; FERNANDES et al., 2009). As células-tronco são células indiferenciadas ou com baixo grau de diferenciação encontrado em tecidos embrionários ou extraembrionários (SOUZA; LIMA; REIS et al., 2003). Apresentam capacidade de diferenciação e de auto renovação ilimitada, podendo dar origem a uma grande variedade de tipos teciduais (VOGEL, 2000 e CAVALCANTI; CAMPOS; NÖR et al., 2011). Desta maneira, a Engenharia Tecidual está embasada na utilização destas células, de matrizes biocompatíveis e de moléculas bioativas, fatores de crescimento, responsáveis pelos sinais morfogênicos dos tecidos. Atualmente os estudos avançam em busca de uma nova modalidade terapêutica baseada na engenharia de tecidos. (CASAGRANDE; LAUXEN; FERNANDES et al., 2009 e CAVALCANTI; CAMPOS; NÖR et al., 2011). Existem dois tipos de células-tronco, as embrionárias e aquelas adultas. As células-tronco embrionárias são derivadas de embriões, exibindo grande potencial de crescimento e diferenciação celular. (SOUZA; LIMA; REIS et al., 2003; SARDEMBERG; TELLERMAN; BORGES et al., 2012 e MACHADO; SANTOS JÚNIOR, 2013). Há uma grande polêmica na utilização de células-tronco embrionárias, pois para se obtiver, infelizmente, ocorre a destruição do embrião, especificamente de um blastocisto, um embrião de cinco dias. Algumas culturas e religiões atribuem ao embrião humano, desde o momento da fecundação, o status de vida, com todos os direitos de uma pessoa já nascida, sendo sua destruição inaceitável. No Brasil, o uso do embrião humano congelado para fins de pesquisa, foi regulamentado pela Lei 11.105 de 24 de março de 2005. Vale ressaltar que, trabalhar com células-tronco não é uma tarefa fácil e cabe a nós estudar a sua relação com a ética e bioética antes de atuar. (PERIN; DOHMANN; BOROJEVIC et al., 2003 e ODA; GESUALDO; CASTILHO, 2011). As células-tronco adultas, que estão presentes em vários órgãos e tecidos no indivíduo adulto, participam da homeostase tecidual, gerando novas células, devido à sua própria renovação fisiológica, como também em resposta a uma injúria (PEREIRA, 2008). Apresentam um grande potencial terapêutico, no tratamento de diabetes, doenças autoimunes, na hematologia, na oftalmologia e, na regeneração de lesões decorrentes de acidentes (CARMO; SANTOS JR, 2014). HILLE, F.; Do CARMO, E. D.; MARZOLA, C. et al., Células tronco – Revista da literatura. Rev. Odontologia (ATO), Bauru, SP., v. 15, n. 6, p. 363-372, jun., 2015. 366 CÉLULAS-TRONCO – REVISTA DA LITERATURA O sangue de cordão umbilical humano é rica fonte em células-tronco hematopoiéticas e mesenquimais que são elementos de extrema importância na terapêutica para regenerar tecidos e órgãos afetados por doenças hematológicas, cardíacas, ortopédicas, reumatológicas e oncogênicas, principalmente nos casos de pacientes que não apresentam doadores compatíveis. Assim, foram criados os bancos de sangue especializados, devido ao avanço na utilização das células-tronco do cordão umbilical (KAWASAKI-OYAMA; BRAILE; CALDAS, 2008; OLIVEIRA; SILVA; 2009; MACHADO; SANTOS JR, 2013) (Fig. 1). Fig. 1 - Imagem que mostra os elementos necessários para a constituição de uma terceira dentição em seres humanos. Fonte – Acervo do Dr. Filipe Hille. Na área Odontológica, as células-tronco presentes no ligamento periodontal apresentam potencialidade para formar tecido ósseo, cemento e ligamento periodontal, podendo desta maneira, regenerar tecidos periodontais (AMORMINO; COSTA; ALBUQUERQUE et al., 2012). Estudos mostram que as células-tronco da polpa dentária são semelhantes àquelas encontradas no cordão umbilical. Assim, a polpa tem sido alvo de estudos para o desenvolvimento da terceira dentição em humanos, pois fornece células progenitoras podendo se diferenciar em linhagens celulares de origem mesenquimal, como polpa, dentina, osso alveolar, possibilitando assim, a construção de um novo dente (KOLYA; CASTANHO, 2007; CASAGRANDE; LAUXEN; FERNANDES et al., 2009; CAVALCANTI; CAMPOS; NÖR et al., 2011 e MACHADO; SANTOS JR, 2013). Para isso, também, é imprescindível a presença de estruturas tridimensionais de suporte celular chamadas de scaffolds. São matrizes ou arcabouços que criam uma base para orientar a arquitetura tecidual e, a deposição de substâncias indutoras do crescimento e da diferenciação tecidual (DALTOÉ; MIGUITA; MANTESSO, 2010). Os scaffolds podem ser biológicos ou sintéticos, biodegradáveis ou permanentes. Scaffolds contendo componentes inorgânicos, como, hidroxiapatita e fosfato de cálcio, são usualmente empregados na neoformação óssea guiada (JADLOWIEC; CELIL; HOLLINGER, 2005). Matrizes a base de polímeros biodegradáveis serviram para a engenharia de estruturas dentais com características muito similares à coroa de dentes naturais (YOUNG et al., 2002). HILLE, F.; Do CARMO, E. D.; MARZOLA, C. et al., Células tronco – Revista da literatura. Rev. Odontologia (ATO), Bauru, SP., v. 15, n. 6, p. 363-372, jun., 2015. 367 CÉLULAS-TRONCO – REVISTA DA LITERATURA As células mesenquimais indiferenciadas são consideradas um reservatório de onde se derivam as células do tecido conjuntivo da polpa e, de acordo com estímulos, podem originar odontoblastos, fibroblastos, cementoblastos, osteoblastos e, outras células envolvidas no desenvolvimento dentário (LOZANO; INSAUSTI; INIESTA, 2012). O tecido pulpar é também reconhecido devido a sua grande capacidade de reparo, através da formação de uma barreira mineralizada nos locais onde houve exposições pulpares após o capeamento direto. Diversos fatores exercem papel fundamental nos eventos de formação e reparação do complexo dentino-pulpar. As proteínas formadoras da matriz extracelular, como colágeno tipo I, colágeno tipo III, fibronectina, tenascina e, fatores de crescimento exercendo um grande destaque nestes processos (CASAGRANDE; LAUXEN; FERNANDES et al., 2009). As células-tronco são capazes de se diferenciar em fibroblastos, que por sua vez colaboram de forma direta na formação de um novo dente, sendo responsáveis pela elaboração do colágeno, um dos produtos mais abundantes do dente, ricamente encontrado na polpa, dentina, cemento, osso alveolar, ligamento periodontal e, em menores quantidades no esmalte. As células mesenquimais da polpa são capazes de se diferenciar em odontoblastos, responsáveis pela formação do tecido mais abundante do elemento dentário, a dentina. A diferenciação dos odontoblastos ocorre a partir da expressão de moléculas sinalizadoras e fatores de crescimento (ARANA; KATCHBURIAN, 2012). Culturas de células-tronco mesenquimais derivadas de medula óssea, depositadas sobre plataformas de hidroxiapatita e, sobre cerâmica de cálcio, poderiam ser utilizadas no tratamento de defeitos críticos em fêmures de cães (BRUDER et al., 1998). Como resultados de suas pesquisas, constataram rápido desenvolvimento de tecido ósseo ao redor dos implantes e, retorno da função do membro (MONTEIRO et al., 2009). Estudos realizados em roedores mostraram a diferenciação de célulastronco em ameloblastos. Tem sido demonstrado que as células-tronco estão localizadas no germe dentário, tanto no epitélio quanto no ectomesênquima subjacente. Os incisivos de ratos, de crescimento contínuo, mantêm as célulastronco epiteliais na alça cervical, durante toda vida do animal, sendo responsáveis por um sistema regulatório específico e contínuo de produção de esmalte (HARADA; KETUNEN; JUNG, 1999). Foi demonstrada a capacidade de diferenciação celular das célulastronco pulpares, analisando transplantes autógenos de células pulpares de dentes de porcos, cultivadas e associadas com BMP2 recombinante humana, que foi utilizada como sinal morfogenético com a finalidade de estimular a diferenciação dessas células (IOHARA; NAKASHIMA; ITO et al., 2004). As células-tronco do ligamento periodontal implantadas em camundongos germ free são capazes de produzir estruturas similares ao cemento e ligamento periodontal humano. A cementogênese, também, poderá ocorrer a partir da diferenciação de células-tronco em cementoblastos, secretando a matriz cementóide e, recebem depósitos minerais, formando assim, o cemento radicular (SARDEMBERG; TELLERMAN; BORGES et al., 2012). Análises imuno histoquímicas demonstraram que as células-tronco do ligamento periodontal expressam uma série de marcadores cementoblástios e osteoblásticos (SOARES, 2007) e, assim quando estimuladas apropriadamente, podem se diferenciar em HILLE, F.; Do CARMO, E. D.; MARZOLA, C. et al., Células tronco – Revista da literatura. Rev. Odontologia (ATO), Bauru, SP., v. 15, n. 6, p. 363-372, jun., 2015. 368 CÉLULAS-TRONCO – REVISTA DA LITERATURA direção a um fenótipo de osteoblasto ou cementoblasto, promovendo a formação de osso e cemento (BEERTSEN; MCCOLLOCH; SODEK, 1997). O ligamento periodontal humano, também, contém uma população de células-tronco multipotentes pós-natais, que podem ser isoladas e expandidas in vitro. Em meios de cultura apropriados, podem diferenciar-se em células semelhantes a cementoblastos, adipócitos e, células formadoras de colágeno. Quando transplantadas para roedores imuno comprometidos, estas células mostram a capacidade de gerar uma estrutura semelhante a cemento e ligamento periodontal, além de contribuir para o reparo dos tecidos periodontais (SEO; MIURA; GRONTHOS et al., 2004). As estratégias de engenharia tecidual para a regeneração periodontal deve explorar a capacidade regenerativa das células-tronco residentes no periodonto e, seu crescimento em uma estrutura tridimensional, com a subsequente implantação sendo assim, possível criar uma nova estrutura dental que seja totalmente funcional (CASAGRANDE; LAUXEN; FERNANDES et al., 2009). DISCUSSÃO O uso de células-tronco permitirá tratar de condições e doenças da cavidade oral e do complexo craniofacial que atualmente são intratáveis. Para isso, os autores acreditam que clínicos e pesquisadores terão que se familiarizar com conceitos básicos de biologia celular e molecular para terem condições de aplicar tecnologias avançadas de tratamento em um futuro próximo. Acredita-se que o terceiro dente será o grande marco que construirá o começo de uma nova odontologia (CAVALCANTI; CAMPOS; NÖR et al., 2011). Estudos têm isolado células altamente proliferativas derivadas da polpa dentária. Foi constatado que estas células são multipotentes, possuindo a capacidade de auto renovação podendo se diferenciar em diversos tipos celulares de origem odontogênica. O estudo de células-tronco relaciona-se com a odontologia a cada dia que passa e novas perspectivas surgem no meio científico (SOARES; KNOP; DE JESUS et al., 2007). As células mesenquimais da polpa dental é foco dos pesquisadores nos dias atuais que buscam desenvolver o terceiro dente biologicamente funcional. A capacidade das células multipotentes do órgão pulpar são magníficas, prometendo revolucionar a Odontologia (LOZANO; INSAUSTI; INIESTA, 2012). Apesar das excelentes perspectivas ainda não foram obtidos ensaios clínicos em humanos sobre o desenvolvimento de um novo dente, porém já se sabe que com os avanços das pesquisas envolvendo células-tronco e, com o aprimoramento de técnicas de manipulação gênica, possa-se desenvolver em breve um dente totalmente funcional baseando-se em células estaminais. O presente trabalho revisou artigos atuais verificando a grande quantidade de novas descobertas (DALTOÉ; MIGUITA; MANTESSO, 2010). Com os avanços das novas tecnologias, em um futuro próximo os pacientes poderão melhorar suas condições de vida e função mastigatória através de novas modalidades terapêuticas a partir de células-tronco. A engenharia tecidual nos últimos anos visa o desenvolvimento de estruturas dentais idênticas àquelas que foram perdidas e, para que isso seja possível, o órgão pulpar assim como o ligamento periodontal são estudados profundamente por cientistas. Já se sabe que as células-tronco destes tecidos são capazes de se diferenciar em todas as linhagens odontogênicas. Do ponto de vista internacional, verificou-se que os HILLE, F.; Do CARMO, E. D.; MARZOLA, C. et al., Células tronco – Revista da literatura. Rev. Odontologia (ATO), Bauru, SP., v. 15, n. 6, p. 363-372, jun., 2015. 369 CÉLULAS-TRONCO – REVISTA DA LITERATURA cientistas se preocupam em desenvolver novas estratégias para estudar as célulastronco e aplicá-las na odontologia baseada em evidências (CASAGRANDE; LAUXEN; FERNANDES et al., 2009). A regeneração de um novo dente não é algo tão simples, uma vez que os processos que envolvem a neoformação dentária são de natureza complexa e, não totalmente compreendida por estudiosos (CARMO; SANTOS JR, 2014). Em um estudo in vitro, células-tronco mesenquimais de medula óssea e polpa dental se diferenciaram em linhagens osteogênicas, condrogênicas (SOARES; KNOP; DE JESUS et al., 2007). Estudos in vitro, também, foram efetuados e verificaram que, células da polpa dental de terceiros molares são capazes de se diferenciar em linhagens odontogênicas e miogênicas. Observa-se ainda nesse trabalho que, a polpa dental é um tecido rico e valioso para os estudos com células-tronco. (ZHANG; WALBOOMERS; SHI et al., 2006). Pesquisas foram efetuadas com a polpa apical de terceiros molares e, com isso, pode verificar in vitro, a capacidade de se diferenciar em adipócitos, condroblastos e células neurais. A maior parte do elemento dental é constituída por dentina, um tecido de natureza colagenosa com elevado conteúdo orgânico rico em terminações nervosas e prolongamentos de odontoblástos (SUCHÁNEK; SOUKUP; IVANCAKOVÁ et al., 2007). Pesquisas in vitro mostraram que as células-tronco de dentes decíduos esfoliados podem originar uma nova linhagem odontoblástica (CASAGRANDE; LAUXEN; FERNANDES et al., 2009). As células do ligamento periodontal e sua capacidade de manutenção foram estudadas e, observaram que o ligamento periodontal implantado em camundongos produziu estruturas similares ao cemento e ligamento periodontal humano (SARDENBERG; TELLERMAN; BORGES et al., 2012). A polpa de dentes decíduos foi estudada in vitro e, apontaram a presença de células-tronco que se diferenciavam em células de origem epitelial (NAM; LEE, 2009). As células-tronco de dentes decíduos podem se diferenciar em odontoblastos maduros, adipócitos e células neurais (SOARES; KNOP; DE JESUS et al., 2007). Estudos in vitro e in vivo, demonstraram que a polpa dental de terceiros molares humanos apresentam células-tronco com alta capacidade proliferativa, originando por completo o complexo dentina-polpa (GRONTHOS et al., 2000). Trabalhos foram realizados com células-tronco localizadas no epitélio odontogênico e mesênquima não odontogênico e, como resultado obtiveram dentes histológica e clinicamente iguais aos dentes naturais que continuaram o desenvolvimento quando implantados em diastema interincisivo de rato (MODINO; SHARPE, 2005). Ao realizar estudos in vitro, foi verificado que a polpa dentária e ligamento periodontal de camundongo e linhagem de células epiteliais apresentam células-tronco que originaram uma estrutura semelhante a dentes (esmalte e ameloblastos) (CAI; HUANG; LEUNG et al., 2013). A polpa dentária de dentes de murinos foi averiguada e, comprovaram que tais células são capazes de originar uma mistura de células de sistema nervoso central e sistema nervoso periférico (ELLIS; CARROLL; LEWIS et al., 2014). Ainda não se sabe quando, porém, através de estudos recentes podese ter a certeza de que uma nova modalidade terapêutica a partir de células-tronco está mais próxima do que se pode imaginar, proporcionando aos pacientes melhor qualidade de vida, além de promover ainda mais a Odontologia. HILLE, F.; Do CARMO, E. D.; MARZOLA, C. et al., Células tronco – Revista da literatura. Rev. Odontologia (ATO), Bauru, SP., v. 15, n. 6, p. 363-372, jun., 2015. 370 CÉLULAS-TRONCO – REVISTA DA LITERATURA Artigo Tipo de estudo Localização das células Polpa de terceiros molares após criopreservação Estruturas formadas Linhagens de células odontogênicas, osteogênicas, condrogênicas e miogênicas ZHANG, 2006 Experimental in vitro SUCHÁNEK et al., 2007 Experimental in vitro Polpa apical de terceiros molares Adipócitos, condroblastos e células neurais LI et al., 2008 Experimental in vivo Papila dentária de dentes de ratos Cemento e ligamento periodontal NAM; LEE, 2009 Experimental in vitro Polpa de dentes decíduos Células epiteliais CASAGRANDE, 2010 Experimental in vitro Células-tronco de dentes decíduos esfoliados Odontoblastos DE JESUS et al., 2011 Experimental in vitro Tecido pulpar de dentes decíduos Deposição de cálcio em meio osteogênico e acúmulos lipídicos em meio adipogênico SARDEMBERG et al., 2012 Experimental in vivo Ligamento periodontal implantadas em camundongos Produzem estruturas similares cemento e ligamento periodontal humano. CAI et al., 2013 Experimental in vitro Estrutura semelhante a dentes (esmalte e ameloblastos) ELLIS et al., 2014 Experimental in vivo Polpa dentária e ligamento periodontal de camundongo e linhagem de células epiteliais Polpa dental de murino Mistura de células de sistema nervoso central e sistema nervoso periférico Tabela 1 - Achados bibliográficos dos últimos dez anos. Fonte – Acervo do Dr. Filipi Hille. CONCLUSÕES Estudos dos últimos anos mostraram que células-tronco de polpa dentária e de ligamento periodontal de dentes decíduos e dentes permanentes são capazes de se diferenciar em vários tipos de linhagens celulares, que originam tanto os tecidos moles como os tecidos mineralizados de origem odontogênica. Diante disso, pode-se concluir que a terapêutica com células-tronco torna-se uma promissora ferramenta no desenvolvimento da terceira dentição que será um marco na Odontologia do futuro. REFERÊNCIAS * AMORMINO, S. A. F.; COSTA, L. C. M.; ALBUQUERQUE, B. 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