MARIA FERNANDA PEREIRA CONDES DEFICIÊNCIA DE FERRO E FERRITINA EM OBESOS MÓRBIDOS SUBMETIDOS À GASTROPLASTIA COM DERIVAÇÃO EM Y DE ROUX E ANEL DE SILICONE Dissertação apresentada ao Curso de Pós Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Título de Mestre em Ciências da Saúde Área de concentração: Ciências da Saúde São Paulo 2008 MARIA FERNANDA PEREIRA CONDES DEFICIÊNCIA DE FERRO E FERRITINA EM OBESOS MÓRBIDOS SUBMETIDOS À GASTROPLASTIA COM DERIVAÇÃO EM Y DE ROUX E ANEL DE SILICONE Dissertação apresentada ao Curso de Pós Graduação da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo para obtenção do Título de Mestre em Ciências da Saúde Área de concentração: Ciências da Saúde Orientador: Prof. Dr. Carlos Alberto Malheiros São Paulo 2008 FICHA CATALOGRÁFICA Preparada pela Biblioteca Central da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo Condes, Maria Fernanda Pereira Deficiência de ferro e ferritina em obesos mórbidos submetidos à gastroplastia com derivação em Y de Roux e anel de silicone./ Maria Fernanda Pereira Condes. São Paulo, 2008. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo – Curso de pós-graduação em Ciências da Saúde. Área de Concentração: Ciências da Saúde Orientador: Carlos Alberto Malheiros 1. Cirurgia mórbida 2. Gastroplastia 3. Avaliação nutricional 4. Deficiência de ferro 5. Desnutrição 6. Período pós-operatório BC-FCMSCSP/61-08 DEDICATÓRIA Aos meus pais, Dulce e Paulo, exemplo de honestidade, perseverança e de trabalho. Obrigada por me acolherem, me protegerem e me mostrarem sempre o melhor caminho em todos os momentos de minha vida. Obrigada por tudo e por acreditarem em mim. Ao meu “pequeno” grande homem, meu avô, Prof Dr Victor Pereira, pela inesgotável dedicação, apoio e disponibilidade. Dono de um conhecimento inatingível. Não sei como agradecer todos os ensinamentos passados, a clareza das idéias, a minuciosidade das correções feitas e a sua contribuição no meu conhecimento técnico e como ser humano. Exemplo de vida e de referência. Obrigada. Á minha avó, Maria Angélica, por me acolher em sua casa, sempre com conselhos sábios e dados no momento exato. AGRADECIMENTOS Ao Daniel, meu noivo, pela paciência e incentivo dado ao longo deste trabalho e por nunca me deixar desistir nos momentos de fraqueza. Obrigada pela ajuda. À minha irmã, Renata, pelos comentários pontuais e motivo de reflexão. Ao meu orientador, Prof Dr Carlos Alberto Malheiros, pelo incentivo, disponibilidade e contribuição neste trabalho. À Dra Pepita, pela clareza das idéias, pessoa sem a qual os resultados deste trabalho não seriam possíveis. Obrigada pela atenção e disponibilidade Às minhas colegas de trabalho, pela paciência e palavras de conforto nos momentos em que precisei. À Capes, pelo patrocínio deste trabalho. À Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, por acreditar na contribuição deste trabalho na comunidade científica. À centenária Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, que me recebeu no seu quadro de funcionários, tornando possível este trabalho. ABREVIATURAS IBGE = Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IMC = Índice de Massa Corpórea SUS = Sistema Único Saúde SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ...................................................... 1 2. OBJETIVO ............................................................ 7 3. CASUÍSTICA E MÉTODO .................................... 9 3.1 – Casuística ................................................... 10 3.1.1 – Entrevistas ........................................ 10 3.1.2 – Exames laboratoriais ....................... 11 3.1.3 – Métodos e valores de referência...... 11 3.1.4 – Análises estatística ........................... 11 4. RESULTADOS ..................................................... 13 5. DISCUSSÃO ......................................................... 17 6. CONCLUSÃO ....................................................... 24 7. ANEXOS ............................................................... 26 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................... 29 RESUMO .............................................................. 33 ABSTRACT .......................................................... 35 1. INTRODUÇÃO 2 A obesidade é doença crônica, universal, de prevalência crescente que atingiu proporções preocupantes em todo o mundo, é considerada problema de saúde pública nos países desenvolvidos e em desenvolvimento (Faria et al, 2002). O indivíduo é considerado obeso mórbido quando seu índice de massa corpórea (IMC) é igual ou superior a 40 kg/m² (Steinbrook, 2004). O IMC é o resultado da divisão do peso em quilograma (kg) pelo quadrado da altura em metros (Steinbrook, 2004). Ou então, pelo critério de peso corporal, aquele com aumento de 100% ou 45 – 50 kg acima do peso ideal. Isso, geralmente inclui homens pesando mais de 120 – 130 kg e mulheres com mais de 100 – 110 kg (Zilberstein et al, 2002). A definição ampla de obesidade mórbida deve obrigatoriamente incluir pacientes com IMC acima de 35 kg/m² e com comorbidades graves, diretamente relacionadas ao excesso de peso, como artropatia mecânica, diabetes tipo II, doença cardíaca e hipertensão (Zilberstein et al, 2002). O excesso de peso dificulta o funcionamento adequado do coração e resulta em aumento da pressão arterial, da arteroesclerose e do risco para doença coronariana (Owens, 2003). O “Estudo de Saúde das Enfermeiras” (Owens, 2003) mostrou que o ganho de peso após os 18 anos é importante fator de risco preditivo para doença cardiovascular, é 1,8 vezes maior para infarto do miocárdio nas mulheres com IMC entre 25 e 29 kg/m², chegando a 3,3 vezes com IMC acima de 29 kg/m² em comparação com a população não obesa (Owens, 2003). 3 Ainda segundo Owens (2003) o diabetes tipo II é muito comum em obesos mórbidos e o risco de desenvolver a doença está aumentado em 10 vezes. Além disso, o diabetes acarreta em menor expectativa de vida, pode causar cegueira, nefropatia, neuropatia e amputações (Pinkney & Kerrigan, 2004). Nas mulheres obesas estão aumentadas às taxas de mortalidade por câncer do endométrio, do colo uterino, ovário e mama e, nos homens obesos, por câncer colo-retal e de próstata (Owens, 2003). A incidência da obesidade aumentou consideravelmente nas últimas décadas. Estima-se que 60% da população européia está acima do peso ideal (Bell, 2004). Nos Estados Unidos 33% da população têm sobrepeso e outros 31% são obesos. Existem duas vezes mais crianças com sobrepeso e três vezes mais adolescentes obesos que há duas décadas, sendo que o número de mortes devido à doença quase duplicou nos últimos 20 anos. A prevalência de adultos com IMC igual ou superior a 30 kg/m² duplicou de 15% para 30%, de 1980 para 2000. O aumento foi maior nos de faixa de peso mais elevada. E no mundo todo um bilhão e 700 milhões de adultos e mais de 22 milhões de crianças são obesos, a assim denominada “globesity” (Mason, 2007). Em Toluca (México) a prevalência da obesidade entre os homens e as mulheres acima de 18 anos atingiu 27,3% e 45,5% respectivamente. Entre os pais foi de 33,3% e nas mães 44,4% (Arrizabalaga-Amarelo & Mendieta-Zerón, 2007). Nas Filipinas estima-se que 20-25% dos naturais do país são obesos e cerca de 1% da população obesos mórbidos. Dados do IBGE dão conta que o Brasil passa por transição nutricional, em que a desnutrição infantil se torna cada vez mais rara e a obesidade, a partir da 4 adolescência, cresceu de forma alarmante de 5,7% em 1974-75 para 16,7% em 2002-03 em todas as regiões e extratos econômicos (Guimarães, 2007). Os tratamentos clínicos para o combate à obesidade têm como base conceitos de dieta: ingestão reduzida, evitar a saciedade precoce e mudança de comportamento com aumento da atividade física. Todavia, a literatura mostra que esses tratamentos não conseguem manter perda de peso significativa. Reconhecese que falham em 85-95% dos doentes (Stubbs, 2006). Por esta razão, o papel da cirurgia bariátrica tornou-se muito importante no tratamento da obesidade mórbida. Na Suíça o número de operados duplicou entre 1997-2001 (Giusti et al, 2003). Nos Estados Unidos, em 2005, foram realizadas 171.000 cirurgias. (Weigh Loss, Bariatric Surgery, 2007). Já Tinoco (2003) praticou 700 gastroplastias por via laparoscópica, entre 1999-2004. E Elias (2007) anotou 7000 pacientes operados de 1994 a 2005 pela equipe do Instituto Garrido (São Paulo). A freqüência anual dessas cirurgias partiu de 20 em 1994 e atingiu patamar ao redor de 1000 a partir de 2002. O objetivo do tratamento clínico e do cirúrgico é estabelecer o balanço negativo e assim reduzir o excesso de peso graças à perda de gordura corporal. Balanço negativo, por definição, significa desnutrição ou subnutrição. Basicamente as operações bariátricas são do tipo restritivas, desabsortivas e restritivas-desabsortivas. A operação mais comumente empregada no tratamento da obesidade mórbida no Brasil, e uma das mais populares no mundo, é a gastroplastia vertical às custas da pequena curvatura com derivação gástrica em Y de Roux e aplicação de 5 anel de silicone (Capella). Assim evita-se o contato dos alimentos com as secreções pancreática e biliar por meio de uma alça jejunal de aproximadamente um metro. A pequena câmara gástrica com capacidade reduzida a 30-50 ml permanece funcional e o restante do estomago é excluído do trânsito digestivo. A restrição drástica do reservatório gástrico alimentar induz à saciedade precoce e a aplicação do anel de contenção dificulta o seu esvaziamento. Todas estas alterações e o consumo seletivo de alimentos interferem na ingestão de alimentos e no aporte adequado de macro e micronutrientes. Desta forma, são previsíveis deficiências nutricionais e alterações metabólicas, como conseqüência do tratamento cirúrgico, pelas alterações anatômicas e fisiológicas gastro-intestinais devidas à restrição gástrica, as derivações praticadas e a má-absorção sendo as mais freqüentes: deficiência calórico – protéica, deficiências de vitamina B12, cálcio, vitamina D, folato, vitamina B1 e ferro (Balsiger et al, 2000). Assim, nas gastroplastias redutoras, em particular nas complementadas com a derivação em Y de Roux, são previsíveis deficiência de ferro. Brolin et al (1991) referiram que a deficiência de ferro até o segundo ano de cirurgia é de 45 a 52%. Segundo Cannizzo Jr & Kral (1998), a deficiência de ferro atinge aproximadamente 50% dos pacientes e a anemia 39% das mulheres e 13% dos homens. A deficiência de ferro (< 40 mg/dl) foi encontrada em 47,2% dos pacientes. Kalfarentzos et al (1999) mostraram que a deficiência de ferro é de 13,1% até o vigésimo mês depois da operação. A prevalência do déficit de ferro entre os pacientes submetidos a gastroplastia redutora e derivação em Y de Roux varia de 33% a 50% (Kushner, 2000; Elliot, 2003). Skroubis et al (2002), após cinco anos de 6 acompanhamento de doentes submetidos à gastroplastia vertical em Y de Roux, mostraram que a deficiência de ferro aumentou de 26% no pré operatório para 39% até o quarto ano e depois retornou a 25% no quinto ano de cirurgia. Em relação à deficiência de ferritina houve aumento de 16% no pré operatório para 44% até o quarto ano e voltou a 25% no quinto ano. Em trabalho anterior Condes & Malheiros (2008) não encontraram diferença estatisticamente significante entre as médias dos valores de ferro e ferritina de 33 doentes do pré-operatório e após um ano da operação. Não encontramos na literatura nacional compulsada relatos sobre a deficiência de ferro e ferritina após a cirurgia bariátrica. Assim nos propusemos a fazer esta pesquisa com o intuito de determinar se e quando ocorre à deficiência de ferro e ferritina após a operação para eventuais correções da dieta, suplementação alimentar ou tratamento medicamentoso. 7 2. OBJETIVO 8 Identificar a prevalência do déficit de ferro e ferritina e sua relação com o consumo alimentar de alimentos fontes de ferro em obesos mórbidos submetidos à gastroplastia com derivação em Y de Roux e anel de silicone. 9 3. CASUÍSTICA E MÉTODO 10 O Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo aprovou a realização deste trabalho, após analisar o modelo do termo de consentimento livre e esclarecido apresentado. 3.1 Casuística Da lista de 307 pacientes obesos operados pelo grupo de Cirurgia Bariátrica do Departamento de Cirurgia da Santa Casa de São Paulo, conseguimos contato telefônico com apenas 50, pois os demais não tinham os dados cadastrais atualizados. Solicitamos à estes para comparecerem a uma entrevista de seguimento, explicando-lhes cuidadosamente os objetivos da mesma. Apenas 26 compareceram, sendo 22 do sexo feminino (84,6%) e quatro do masculino (15,4%). Todos eles obedeciam aos critérios de inclusão: idade superior a 18 anos e tempo superior a dois anos até no máximo 10 anos depois da cirurgia, independentemente do gênero. 3.1.1 – Realizaram-se as entrevistas numa sala de consulta, a elas destinadas, com dia e hora previamente agendados. Obteve-se o termo de consentimento livre e esclarecido. Fez-se o registro do peso e altura para cálculo do IMC atual. 11 Aplicou-se o recordatório alimentar de 24 horas, adaptado do preconizado por Suter et al (2007) (Anexo 1), para avaliação qualitativa da alimentação habitual, em particular dos principais alimentos fontes de ferro: carne vermelha, feijão, espinafre, fígado e couve manteiga. Consideraram-se os seguintes parâmetros quanto à ingestão: - ingestão fácil; - ingestão com alguma dificuldade, por náuseas, vômitos ou sensação de plenitude gástrica ocasionais; - intolerância: náuseas e vômitos imediatos; - consumo zero: não conhece ou não gosta do sabor do alimento. Todos os dados foram coletados pelos pesquisadores. 3.1.2 – Após a entrevista, encaminharam-se os pacientes ao Laboratório de Análises Clínicas do Hospital Central da Santa Casa, para coleta de sangue destinada a determinação das dosagens de ferro e ferritina. 3.1.3 - Métodos e valores de referência adotados pelo setor de Patologia Clínica do Laboratório da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Ferro – método colorimétrico. Valores de referência para o sexo feminino 37-170 mg/dl, e para o masculino 49-181 mg/dl. Ferritina – método imunofluorimétrico. Valores de referência para o sexo feminino 24-155 mg/dl e para o masculino 36-362 mg/dl. 3.1.4 - Análise estatística O Departamento de Medicina Social da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo analisou os resultados dos exames laboratoriais e 12 recordatório alimentar. Utilizou-se o programa Epi-Info versão 6.04. Aplicou-se o teste de Fisher para análise das variáveis qualitativas. Adotou-se p<0,05 para afastar a hipótese de nulidade. Para análise dos resultados, estratificaram-se os dados a cada dois anos após a cirurgia até o máximo de 10 anos e compararam-se com as taxas de ferro e ferritina sanguíneos. Para a análise do consumo alimentar, selecionou-se o consumo de três ou mais alimentos fontes de ferro, tais como: carne vermelha, feijão, espinafre, fígado e couve manteiga e comparou-se com as taxas de ferro e ferritina sanguíneos. 13 4. RESULTADOS 14 No período de dois a 10 anos após a operação, 13 pacientes (50%) apresentaram baixos níveis de ferro sanguíneo e os outros 13 (50%) taxas normais, porém sem significância estatística (p=0,38), conforme descrito na Tabela 1. TABELA 1. Distribuição de 26 pacientes submetidos à gastroplastia vertical em Y de Roux, conforme a taxa de ferro sanguíneo a intervalos de dois anos. São Paulo, 2008. Ferro sanguíneo Baixo Normal 1 4 Intervalo de anos Pacientes(n) 2-l 4 5 4-l 6 13 8 5 6-l 8 5 3 2 8-l 10 3 1 2 Total 26 13 13 P=0,38 Em relação às taxas de ferritina sangüínea no período de dois a 10 anos após a operação, 11 pacientes (73,3%) apresentaram baixos níveis séricos e quatro (26,7%) taxas normais, porém sem significância estatística (p=0,67). Os 11 pacientes restantes não realizaram a determinação de ferritina sanguínea por falta de “kits” disponíveis no período do estudo, conforme descrito na Tabela 2. 15 TABELA 2. Distribuição de 15 pacientes submetidos à gastroplastia vertical em Y de Roux, conforme a taxa de ferritina sanguínea a intervalos de dois anos. São Paulo, 2008. Ferritina sanguínea Baixo Normal 4 1 Intervalo de anos Pacientes(n) 2-l 4 5 4-l 6 6 4 2 6- l8 2 1 1 8-l 10 2 2 0 Total 15 11 4 P=0,67 Dez pacientes (38,5%) consumiam três ou mais alimentos ricos em ferro, seis pacientes (60%) apresentavam baixas taxas de ferro sanguíneo e quatro (40%) taxas normais. Os outros 16 pacientes (61,5%) não consumiam três ou mais alimentos fontes de ferro, sete (43,8%) apresentavam baixas taxas de ferro sanguíneo e nove (56,2%) taxas normais. Os resultados encontrados não foram estatisticamente significantes (p=0,5), conforme descrito na Tabela 3. TABELA 3. Distribuição de 15 pacientes submetidos à gastroplastia vertical em Y de Roux, conforme consumo de três ou mais alimentos fontes de ferro e taxa do íon sanguíneo. São Paulo, 2008. Ferro sanguíneo Baixo Normal 6 4 3 ou + alimentos Pacientes(n) Sim 10 Não 16 7 9 Total 26 13 13 P=0,5 16 Seis pacientes (40%) consumiam três ou mais alimentos ricos em ferro, cinco (83,3%) apresentavam baixas taxas de ferritina sanguínea e um (16,7%) taxa normal. Os outros nove pacientes (60%) não consumiam três ou mais alimentos fontes de ferro, seis (66,7%) apresentavam baixas taxas de ferritina sanguínea e três (33,3%) taxas normais. Os resultados encontrados não foram estatisticamente significantes (p=0,15). Os 11 pacientes restantes não realizaram exame de ferritina sanguínea por falta de “kits” disponíveis no período do estudo, conforme descrito na Tabela 4. TABELA 4. Distribuição de15 pacientes submetidos à gastroplastia vertical em Y de Roux, conforme consumo de três ou mais alimentos fontes de ferro e taxa da ferritina sanguínea. São Paulo, 2008. Ferritina sanguínea Baixo Normal 5 1 3 ou + alimentos Pacientes(n) Sim 6 Não 9 6 3 Total 15 11 4 P=0,15 17 5. DISCUSSÃO 18 Nesta casuística, não houve dados estaticamente significantes em relação à diminuição da taxa de ferro e ferritina sanguíneos. Porém, 50% dos pacientes apresentaram baixas taxas de ferro sanguíneo e 73,3% taxas de ferritina sanguínea abaixo dos valores de referência, consignados no capítulo método. Na literatura há referência a baixas taxas de ferro e ferritina sanguíneos em pacientes submetidos à gastroplastia vertical em Y de Roux com anel de silicone. Brolin et al (1991) citaram que 49-52% dos pacientes apresentam deficiência de ferro e 25-74% anemia após três anos da operação. Alvarez-Leite (2004) observou baixas taxas de hemoglobina, ferro e ferritina em 44% dos pacientes após quatro anos da cirurgia. Mason et al (2005) referiram que a deficiência de ferro ocorreu em 36,8% dos pacientes submetidos à gastroplastia vertical em Y de Roux. Mizón et al (2007) relataram que a deficiência de ferro estava presente em 33-49% dos operados. Essas deficiências podem estar relacionadas à aplicação do anel de silicone na pequena câmara gástrica, que reduz a sua capacidade e retarda a passagem dos alimentos para a alça jejunal. Stubbs et al (2006) experimentaram anéis de 5,5, 6,0 e 6,5cm e verificaram os efeitos sobre a qualidade e quantidade da alimentação, a necessidade de remoção do anel e a perda de peso após seguimento de no mínimo 12 meses. Constataram também diferença estatisticamente significante entre a 19 qualidade e a variedade de alimentos passíveis de ingestão nos indivíduos com anel de 5,5cm ou 6cm e entre aqueles com anel de 5,5cm ou 6,5cm. Citaram ainda haver diferença significante na freqüência da regurgitação entre os com anel de 5,5cm comparativamente aos com anel de 6,5cm. Concluíram que este último deveria ser utilizado dada à importância na manutenção da perda de peso. Na presente casuística o anel usado media 6,2cm. O anel de tamanho inadequado poderá causar náuseas, vômitos, dificuldade de ingestão, obstrução da pequena câmara gástrica por algum alimento, ulceração. A baixa ingestão de alimentos e/ou exclusão do sítio habitual de absorção podem estar relacionadas às baixas taxas de ferro e ferritina sanguíneos. O duodeno e a parte inicial do jejuno são locais primários de absorção do ferro. Apenas quantidades insignificantes são absorvidas no estômago, íleo e cólon (Davenport,1971). Cannizzo & Kral (1998) concluíram que a absorção dos micronutrientes é multifatorial, está sujeita ao estado da mucosa intestinal, às condições normais de pH, à atividade enzimática e a sua quantidade na alça alimentar. Elliot (2003) chamou a atenção para o fato do piloro e duodeno estarem fora do trânsito alimentar e portanto considerar a possibilidade de “dumping” como fator de desnutrição. Além disso, ainda pode ocorrer diminuição da quantidade de secreção clorídrica da pequena câmara gástrica que dificulta a conversão do ferro férrico em ferroso, sendo este melhor absorvido pelo nosso organismo. Assim, são previsíveis deficiências nutricionais, dentre elas a deficiência de ferro, em conseqüência do tratamento cirúrgico, pelas derivações praticadas e má-absorção. 20 Ademais, os operados devem comer devagar, mastigar cuidadosa e repetidamente os alimentos, ingeri-los em quantidades adequadas à pequena capacidade da câmara gástrica e em rapidez condizente a sua vazão. Alguns não conseguem adaptar-se a estes hábitos, vomitam repetidas vezes, eventualmente têm diarréia e desenvolvem desnutrição calórico-protéica, com redução quantitativa de todos os micronutrientes (Elliot, 2003; Quadros et al, 2007). É prudente lembrar, também, que problemas psicológicos podem levar ao consumo alimentar menor do que o habitualmente recomendado. Assim, graves déficits nutricionais têm sido relatados, embora raros (Faintuch et al, 2004). A maioria dos pacientes informa qualidade de vida muito melhor no seguimento, com a regressão da maioria das comorbidades (Faintuch et al, 2002). Em relação ao consumo alimentar e as taxas de ferro e ferritina sanguíneos, 61,5% dos pacientes desta amostra não consumiam três ou mais alimentos fontes de ferro, porém apresentaram taxas normais de ferro sanguíneo. Por outro lado, 38,5% os consumiam, mas mostraram baixas taxas de ferro. Quanto as taxas de ferritina sanguínea, 40% dos pacientes consumiam três ou mais alimentos fontes de ferro e 60% não o consumiam e todos os pacientes tiveram baixas taxas de ferritina. Isto pode ter ocorrido devido à quantidade e qualidade dos alimentos fontes de ferro ingeridos ter sido diferente e talvez pela dificuldade de sua ingestão. Kushner (2000) consignou que a partir do sexto mês após a operação, o total calórico ingerido cresce proporcionalmente à ampliação da capacidade da pequena câmara e da maior rapidez do seu esvaziamento. Isto ocorrerria devido ao 21 aumento do diâmetro da anastomose gastro-jejunal, que permite consumo de alimentos sólidos pela maioria dos pacientes. Todavia, constatou grande dificuldade para consumo de alimentos, em especial para alguns com alto teor de ferro, como por exemplo, a carne vermelha. Mas vale ressaltar que nem sempre o consumo alimentar aumenta e a dificuldade de ingestão pode permanecer por períodos superiores a seis meses. Quadros et al (2007) verificaram intolerância alimentar em 46,7% de 165 pacientes, 78% do sexo feminino e 22% do masculino, principalmente no primeiro ano pós-operatório. Os sintomas mais referidos foram vômitos, “dumping”, diarréia, obstipação. Dentre os alimentos menos tolerados, estavam a carne, e em particular, o arroz e os doces em geral. Com o decorrer do tempo, salienta-se que a intolerância alimentar pode persistir pelo receio do doente em voltar a ter sintomas desagradáveis após a ingestão. Além dos fatores citados anteriormente que interferem nas taxas de ferro e de ferritina devemos também considerar o exposto a seguir. É fundamental estabelecer protocolos que permitam avaliar a ingesta habitual dos doentes, a qualidade e quantidade dos alimentos e avaliações regulares no pós-operatório. Entretanto, os protocolos de investigação do recordatório alimentar em obesos mórbidos existentes na literatura não fornecem dados adequados quanto à quantidade, qualidade dos alimentos, assim como a combinação destes. 22 Além disso, é consenso na literatura que o obeso mórbido é o mais problemático dos pacientes na adesão ao seguimento desejável, tanto no tratamento clínico como no cirúrgico. Marema et al (2005) referiram adesão ao seguimento de 50% dos pacientes após cinco anos e de 22% com 10 anos após a operação. Elias (2007) verificou perda do seguimento de cerca de 50% dos pacientes. Acresce que os pacientes têm alta médica habitualmente após seis meses da operação e a partir de então é raro retornarem as consultas nos serviços de nutrição e psicologia. Neste trabalho foram selecionados 307 pacientes para avaliação, porém só localizamos 50. Não obstante o entusiasmo e o agradecimento pela atenção que lhes era dispensada no contato telefônico, apenas 26 (52%) compareceram à consulta agendada. Todos os nossos doentes são institucionais, dependentes de atendimento pelo SUS, de baixo nível cultural e, principalmente, econômico, o que torna extremamente difícil seguirem as prescrições alimentares tidas como necessárias e adequadas antes e após a operação. Reconhecidamente, a avaliação alimentar em obesos é tradicionalmente controversa. O recordatório de 24 horas não é endossado por todos os autores. Alguns preferem registros mais pormenorizados como o de 72 horas ou protocolos caseiros preenchidos pelos pacientes durante cada refeição ou lanche (Dias et al, 2006). Entretanto, este tipo de investigação de consumo alimentar não se aplicaria a nossa casuística, pois muitos não sabem ler nem escrever, fato que dificultaria ou impossibilitaria o seu preenchimento. Não obstante, há razões para aceitar o recordatório de 24 horas como válido no seguimento pós-operatório, pelo fato dos pacientes nessa ocasião estarem menos motivados a burlar ou subestimar sua ingesta (Dias et al, 2006). O grupo de 23 Cirurgia Bariátrica do Departamento de Cirurgia da Santa Casa de São Paulo observa em alguns pacientes complicações que dificultam ou até impedem a alimentação oral. Por outro lado, há pacientes que aprenderam a aumentar a ingestão calórica com líquidos ricos em carboidratos, leite condensado, sorvetes e lanches repetidos ou o que mais lhes venha à mente após a alta hospitalar. Utilizou-se o modelo de protocolo com base no adotado por Suter et al (2007). Todavia, não se julgaram confiáveis os dados obtidos em razão de tudo antes citado e, particularmente, pela complexidade do questionário aplicado. Percebeu-se que os pacientes tinham dificuldade em compreender os critérios estabelecidos: ingestão fácil, ingestão com alguma dificuldade, intolerância ou consumo zero do alimento. No nosso entendimento é fundamental a elaboração de recordatório alimentar específico para pacientes submetidos a gastroplastia vertical em Y de Roux adequado às condições sociais, econômicas e culturais da nossa população institucional. Acreditamos também que um estudo prospectivo com seguimento regular após a operação nos daria resultados mais seguros quanto à deficiência de ferro e ferritina. 24 6. CONCLUSÃO 25 Concluiu-se que a prevalência de deficiência de ferro e ferritina no presente estudo foi de 50% e 73,3% respectivamente, porém sem relação com o consumo alimentar. 26 7. ANEXOS 27 ANEXO 1. Recordatório Alimentar NOME DATA DE NASCIMENTO SEXO IMC CIRURGIA MÊS / ANO EXAME LABORATORIAL PRÉ OPERATÓRIO FERRO FERRITINA HEMOGLOBINA FAZ USO DE SUPLEMENTO? QUAL? QUANTO? QUANTAS REFEIÇÕES FAZ AO DIA? QUAIS? ( X ) Desjejum Lanche manhã Almoço Lanche tarde Jantar Lanche noite QUAL A REFEIÇÃO PRINCIPAL? ( X ) Almoço Jantar VOCÊ COME TODOS OS TIPOS DE ALIMENTOS? ( X ) Sim Não PESO ATUAL ALTURA PÓS OPERATÓRIO SUPERIOR 2 ANOS 28 O QUE VOCÊ COSTUMA COMER? ( X ) COM FACILIDADE CARNE VERMELHA FRANGO FÍGADO BOVINO FEIJÃO LENTILHA BATATA MANDIOCA BRÓCOLIS COUVE MANTEIGA ESPINAFRE ACELGA AGRIÃO ALFACE ESCAROLA VOCÊ VOMITA OU REGURGITA? ( X ) Diariamente Mais que duas vezes / semana Raramente Nunca ALIMENTAÇÃO ATUAL COM ALGUMA DIFICULDADE NÃO TOLERA 29 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 30 Alvarez-Leite JI. Nutrient deficiencies secondary to bariatric surgery. [Review] Curr Opin Clin Nutr Metab Care. 2004; 7:569-75. Arrizabalaga-Amarelo R, Mendieta-Zerón H. Obesity among parents and children from an indigenous rural community in Mexico. [Letter] Sao Paulo Med J. 2007; 125:370-1. Balsiger BM, Kennedy FP, Abu-Lebdeh HS, Collazo-Clavell M, Jensen MD, O'Brien T, et al. 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São previsíveis deficiências nutricionais e alterações metabólicas, como conseqüência do tratamento cirúrgico, pelas alterações anatômicas e fisiológicas gastro-intestinais devidas à restrição gástrica, as derivações praticadas e a má-absorção, dentre elas a deficiência de ferro. O objetivo do trabalho foi identificar à prevalência de déficit de ferro e ferritina e sua relação com o consumo alimentar de alimentos fontes de ferro em obesos mórbidos. Da lista de 307 pacientes obesos operados pelo grupo de Cirurgia Bariátrica do Departamento de Cirurgia da Santa Casa de São Paulo, conseguimos contato telefônico com apenas 50, pois os demais não tinham os dados cadastrais atualizados e destes apenas 26 compareceram para coleta de sangue para análise das dosagens sanguíneas de ferro e ferritina e aplicação de um recordatório alimentar. Apesar de 50% dos pacientes apresentarem baixas taxas de ferro sanguíneo e 73,3% baixas taxas de ferritna, os resultados não foram estatisticamente significantes. Não se julgaram confiáveis os dados obtidos do recordatório alimentar devido à complexidade do questionário aplicado, em particular quanto à ingestão de alimentos ricos em ferro. Um novo modelo de recordatório alimentar, adequado às condições sociais, culturais e econômicas da nossa população institucional deve ser elaborado e também instituir rigoroso seguimento dos obesos operados. Descritores: Obesidade. Obesidade mórbida. Cirurgia bariátrica. Gastroplastia. Desnutrição. Avaliação Nutricional. Deficiência de ferro pósoperatória. 35 ABSTRACT 36 Condes MFP. Iron and ferritin deficiency in obeses patients after Roux-en-Y gastric bypass. Obesity is a chronic, pan-endemic increasing pathology occuring worldwide, considered as a problem of Public Health in both developed and developing countries. The surgical treatment has been shown to be effective in achieving durable long-term weight loss for morbid obeses, who are well informed about the surgery and aware of the risks of pre, intra and postoperative complications. Patients have to be highly motivated to follow the treatment appropriately. Nutritional deficiencies and metabolic changes are predictable as a result of the surgical treatment, anatomical and functional alterations in the gastrointestinal tract due to the restriction of the gastric pouch and malabsortion, among them, iron deficiency. The aim of the study was to identify the prevalence of iron and ferritin deficit in morbid obese patients. Fifty out of 307 patients who underwent Roux-en-Y gastric bypass surgery were evaluated by serum iron and ferritin levels and a dietary intake questionnaire. There were no statistically significant data in relation to the decrease of iron and ferritin blood rates. Nevertheless, 50% of the patients had low iron rates and 73,3% presented ferritin levels below reference rates. Owing to the complexity of the used questionnaire the results were not reliable particularly in relation to iron food intake. It was concluded that, not only should a new type of dietary intake questionnaire, suitable to social, cultural and economical conditions of our population be elaborated but also a careful and strict clinical and nutritional follow-up is highly recommended to prevent potential dangerous complications. Key words: Morbid Obesity. Bariatric Surgery. Malnutrition. Nutritional Evaluation. Postoperative Iron Deficiency.