Investigando acerca dos movimentos sociais na mídia escrita do Vale do Paraíba-SP (1995 -2004): metodologia de ensino-aprendizagem1 Maria Teresa dos Santos2 [email protected] Modalidade de trabalho: Resultados de investigações Eixo temático: Desafios para a Formação Profissional na América Latina e Caribe Palavras chaves: movimentos sociais, mídia escrita, ideologia, metodologia de ensino-aprendizagem Introdução É comum verificarmos no exame da literatura acerca dos movimentos sociais e mesmo nos veículos de comunicação de massa certa opinião, aparentemente consensual, que existe um refluxo dos movimentos sociais a partir da década de 1990, período que proporcionalmente eclodem as Organizações Não Governamentais - ONGs3. Estudos sobre a interpretação da trajetória dos movimentos sociais enquanto objeto de pesquisa, têm apontado a existência de duas fases a partir da década de 1970. A primeira fase, segundo Cardoso (2004) corresponderia à emergência heróica dos movimentos que iria até o começo da década de 1980. Já a segunda fase, corresponderia ao momento de institucionalização dos movimentos, o que implicou em outro tipo de relação destes movimentos com o Estado. É justamente este momento de institucionalização da participação dos movimentos que é interpretada como refluxo na trajetória destes movimentos. Já autores como Gohn (2001), ao abordar a transição nas lutas sociais na década de 1990, problematiza o futuro dos movimentos sociais, ao afirmar que existe uma crise nesses movimentos 1 Ponencia presentada en el XIX Seminario Latinoamericano de Escuelas de Trabajo Social. El Trabajo Social en la coyuntura latinoamericana: desafíos para su formación, articulación y acción profesional. Universidad Católica Santiago de Guayaquil. Guayaquil, Ecuador. 4-8 de octubre 2009. 2 Professora do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil. 3 A expressão ONG é bastante abrangente e admite muitas interpretações, contudo do ponto de vista jurídico pode-se dizer que toda ONG é uma organização privada não lucrativa. A expressão surgiu em termos mundiais através da Organização das Nações Unidas – ONU, após a Segunda Guerra Mundial para designar as organizações supranacionais e internacionais que não foram estabelecidas por acordos governamentais, cf. informações disponíveis no sítio eletrônico: www.abong.org.br 1 [...] entre as camadas populares os movimentos sociais ainda são uma incógnita quanto aos seus desdobramentos e desenvolvimentos futuros. Certamente continuarão a ocorrer no cenário nacional, pois [...] sempre existiram. Mas na atual conjuntura, estão em crise e buscam outros rumos. (GOHN, 2001, p. 205) Contudo, concordamos com Duriguetto (2007), quando afirma que o que está em refluxo, não são os movimentos sociais propriamente ditos, mas suas formas de expressão mais tradicionais, ao se perceber cada vez mais o declínio de ações de confrontos diretos, tendo como contrapartida o aumento de posturas mais propositivas e busca de negociação com o Estado. As diferentes perspectivas e explicações sobre a trajetória dos movimentos sociais no Brasil nas décadas mais recentes, aliadas à proposta da disciplina de “Desenvolvimento de Comunidade” 4 do Curso de Serviço Social da Universidade de Taubaté, SP, no ano letivo de 2005, motivaram a realização de um estudo de caráter exploratório, de forma articulada e como estratégia pedagógica dessa disciplina, de forma a identificar a presença dos movimentos sociais como notícia na mídia escrita da região do Vale do Paraíba, São Paulo, como trataremos a seguir. O processo de investigação e a metodologia de ensino – aprendizagem Na região do Vale do Paraíba, no eixo Rio – São Paulo, Brasil, os movimentos sociais não têm aparecido com destaque na mídia e não faz parte do cotidiano das classes subalternizadas. Neste sentido, o estudo visou identificar a presença e a configuração dos movimentos sociais na Região do Vale do Paraíba Paulista, situada no leste do Estado de São Paulo, abrangendo um total de trinta e nove municípios agrupados em seis microrregiões a partir das notícias veiculadas nos jornais dessa região, entre 1995 e 2004. Os estudantes foram subdivididos em nove grupos, para coletar os dados de jornais de cinco cidades daquela região: São José dos Campos, Caçapava, Taubaté, Pindamonhangaba e Guaratinguetá. 4 Apesar da defasagem do nome da disciplina em relação às atuais diretrizes curriculares do Curso de serviço Social Brasil, seu conteúdo já incorporava os conteúdos concernentes ao estudo de classes e movimentos sociais na sociedade brasileira e regional, tendo como objetivos “a) Apreender e analisar as diferentes estratégias de organização da sociedade civil, especialmente das classes subalternizadas, na perspectiva da construção de um projeto de consolidação da sociedade democrática; b) Identificar as formas organizativas existentes no Vale do Paraíba e as repercussões da ação destes no âmbito societário regional” (CURSO SERVIÇO SOCIAL – UNITAU. Programa da Disciplina de Desenvolvimento de Comunidade. Taubaté-SP: 2005. mimeo.) 2 A realização da investigação implicou na organização dos trabalhos em algumas etapas seqüenciais, mas não necessariamente de forma linear, mas que para fins didáticos aqui apresentamos de forma ordenada a seguir. a) Levantamento bibliográfico sobre pesquisa documental e movimentos sociais e identificação dos jornais – fontes de pesquisa Neste momento do processo os estudantes foram orientados a realizar o levantamento bibliográfico sobre as diferentes modalidades de pesquisa, situando àquela que iriam realizar – a pesquisa documental. Neste sentido, trabalhamos com a concepção de Selltiz sobre pesquisa em veículos de comunicação de massa, visto que os documentos – neste caso os jornais - são importantes porque refletem aspectos amplos do clima social em foram produzidos. Segundo Selltiz, as comunicações de massa constituem-se rica fonte de dados para a pesquisa de diferentes problemas de pesquisa. Nesta perspectiva, os documentos próprios da comunicação de massa [...] permitem que o pesquisador lide com o passado histórico, bem como com a sociedade atual, o que é uma vantagem muito grande, quando se ponderam as consideráveis dificuldades existentes para uma perspectiva histórica na ciência social. (SELLTIZ, 1974, p. 373) Para a apreensão do conceito de movimentos sociais a disciplina desenvolveu paralelamente à organização da pesquisa, a leitura e discussão de bibliografia básica, bem como se valeu de filmes que ajudaram a construir e problematizar o significado desses movimentos, dando suporte ao levantamento, organização e sistematização dos dados5. Considerando como critérios para definição dos jornais, a disponibilidade do acervo para pesquisa e a circulação em cidades do Vale do Paraíba Paulista, foram selecionados os seguintes jornais para a coleta de dados: Jornal ValeParaibano – São José dos Campos - SP Jornal Tribuna do Norte – Pindamonhangaba – SP, Jornal de Caçapava – Caçapava – SP, Diário de Taubaté – Taubaté - SP e Jornal Notícias – Guaratinguetá – SP. b) Trabalho de campo: Coleta de dados Após definição dos jornais que seriam pesquisados, os estudantes saíram a campo, e realizaram o levantamento das notícias registrando e organizando em tabelas 5 Um dos filmes utilizados para a discussão sobre movimentos sociais na atualidade foi o filme “Pão e Rosas”, 2000, Inglaterra, Drama, 110 minutos, Direção de Ken Loach, que trata da mão de obra imigrante sendo explorada nos Estados Unidos e a luta pelos direitos trabalhistas dos trabalhadores clandestinos. 3 os dados coletados: título da notícia data de publicação, página e seção do jornal, município e tipo de reivindicação c) Sistematização das notícias Com as tabelas de notícias em mãos, os estudantes-pesquisadores, procederam a organização dos dados, a partir do título e incidência das notícias. A sistematização das notícias veiculadas pela mídia revelou que a quantidade de notícias veiculada na mídia é proporcional ao porte dos municípios e da própria estrutura do jornal. Neste sentido, a notícias que denotavam a presença de movimentos sociais organizados ou ações de determinados grupos organizados como protestos, reivindicações, manifestações de diversas naturezas apareceram com maior freqüência nas cidades com maior número de habitantes na região, respectivamente: São José dos Campos, Taubaté e. Jacareí. Tomando como referência o jornal com a maior tiragem e circulação da região – o ValeParaibano 6, de um total de aproximadamente 1100 notícias sobre a temática em questão, veiculadas em 10 anos, verificou-se que em média 50% das notícias referiam-se às manifestações coletivas no município de São José dos Campos. A localização estratégica desse município, recortada pela principal rodovia do país – a Via Dutra – e próxima o suficiente de um dos principais portos do país – o de São Sebastião no litoral norte paulista e a alocação de indústrias multinacionais de grande porte e de tecnologia de ponta repercutiram diretamente na conformação política local, no sentido de favorecer diretamente o processo de acumulação de capital, gerando um fluxo migratório exemplar: de um lado um segmento altamente qualificado e que usufruiu dos recursos locais para se qualificar (vide a instalação do Instituto Aeronáutico Espacial – ITA ) e inserir-se no mercado de trabalho local, e de outro um grande contingente de trabalhadores sem qualificação que consideravam São José dos Campos o “eldorado”, e que acabaram por constituir um grande bolsão de pobreza na maior cidade do Vale do Paraíba paulista. Confirmando esta tendência, pesquisa divulgada em junho de 2001 pela Fundação Sistema Estadual de Sistema de Dados – SEADE apontava a região administrativa de São José dos Campos como a segunda colocada em volume de investimentos 6 O Jornal ValeParaibano foi fundado em 1952, está sediado em São José dos Campos – SP com sucursais em outras quatro cidades. Desde o ano 2000 o jornal circula em quarenta e uma cidades do Cone Leste Paulista que corresponde às cidades do Vale do Paraíba, Serra da Mantiqueira e Litoral Norte Paulista. Em 2004 a tiragem do jornal correspondia a aproximadamente trinta mil jornais aos domingos. 4 anunciados em 2000, ficando atrás apenas da região metropolitana de São Paulo. Analistas da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados - SEADE atribuem o desempenho da região à boa infra-estrutura local e “a existência de centros de pesquisa e treinamento, oferta de mão-de-obra e grande potencial de consumo, possibilitando uma qualidade de vida que pode ser considerada como boa”.7 A realidade das cidades mais industrializadas do Vale do Paraíba, como São José dos Campos, Jacareí e Taubaté, é de alto índice de desemprego, que ocorre como conseqüência das novas formas de acumulação de capital das grandes empresas da região, totalmente em sintonia com a reorganização das formas de produção, organização do trabalho e repressão ao movimento sindical. No Vale do Paraíba e particularmente em São José dos Campos, o período entre 1950 e 1970 foi marcado pela instalação de diversas indústrias. Contudo, a partir da década de 1980 a o que se assistiu foi o fechamento de outras tantas. Exemplo disso é que, em 1990, após trinta e três anos de atividades, a empresa Alpargatas encerrou sua produção, assim como, em 1993, fecharam-se as portas da Tecelagem Parayba, após setenta anos de atuação no município. As privatizações das empresas estatais também trouxeram como resultado direto para a população joseense a queda no nível de emprego nas indústrias do município. Em 1992 foram privatizadas: a maior empresa do ramo aeronáutico do País – a EMBRAER –, e, em 1995, a Rodovia Presidente Dutra, uma das estradas federais de maior circulação de veículos do país, pois liga as capitais de São Paulo e Rio de Janeiro. Considerando tal contexto o teor das notícias pesquisadas no período refletiu a organização dos trabalhadores das indústrias privadas e órgãos públicos da região como denota alguns títulos em destaque: “Greve dos empregados da GM paralisam Dutra” (ValeParaibano, 06/04/1995, p. 3); “Empregados paralisam produção da Vision” (ValeParaibano, 15/02/1996, p. 8); “Metalúrgicos da Ford e Volks ameaçam greve” (ValeParaibano, 07/05/1999, p. 8); “Funcionários da Embraer entram em estado de greve por reajuste” (ValeParaibano, 09/06/1999, p. 10); “Greve por salários paralisa obras e limpeza em Jacareí” (ValeParaibano, 27/12/2000, p. 4); “Crise no emprego – grupo invade a Volex para tentar greve” (ValeParaibano, 10/08/2001, p. 8). Outro segmento organizado presente na realidade valeparaibana a partir dos anos de 1990, foi os trabalhadores sem terra que ocuparam terras improdutivas nos municípios 7 Folha de São Paulo, caderno Folha Vale, pp. C-1: “Vale bate Campinas em investimentos”, em 08 de junho de 2001. 5 de Tremembé, São José dos Campos e Jacareí. A presença do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra - MST na região também foi amplamente noticiada pelo Jornal ValeParaibano, como exemplificado abaixo: Data Página Título da Notícia 16/12/97 03 MST cria “Central de Invasões no Vale” 17/12/97 03 Vale é usado como ‘laboratório’ do MST 30/07/98 06 MST aponta cinco áreas para invasão 12/05/99 04 MST bloqueia estrada de São José para protestar contra liminar 21/07/99 04 MST promete intensificar invasão de fazendas no Vale 16/09/01 03 Reforma Agrária: famílias do MST invadem área de Jacareí pela 3ª. vez 29/11/02 10 Sem terra fazem protesto no Center Vale Quadro 1: Exemplos de títulos de notícias sobre o MST no Jornal ValeParaibano Fonte: Jornal ValeParaibano – São José dos Campos – SP O quadro acima e as notícias citadas anteriormente demonstram o caráter ideologizado na formação da opinião do leitor pelo jornal. O caráter ideológico está implícito nos títulos que evidenciam, generalizam e exacerbam um estereótipo dos movimentos sociais como aqueles que não cumprem a lei, que ameaçam a propriedade privada, já que “invadem” fazendas, bloqueiam estradas, protestam em locais não permitidos como Shopings Centers. Dessa forma, criam-se vícios de raciocínio que reforçam os estereótipos e que, na medida em que a notícia não aprofunda as causas estruturais da desigualdade social, acaba por induzir ou reforçar preconceitos. Cabe ainda destacar, que para além das manifestações de movimentos sociais tradicionalmente reconhecidos como o movimento sindical e na década de 1990 o movimento dos trabalhadores sem terra, houve também relevante incidência de noticias relativa à necessidade de infraestrutura urbana, como: transporte, postos de saúde, escolas, além dos serviços de segurança pública. d) Divulgação dos resultados A proposta pedagógica inicial previa que após a organização dos dados coletados, caberia a cada grupo selecionar as notícias mais recorrentes para a devida análise. No entanto, a exigência de adequação do tempo da investigação ao ano letivo, não permitiu que esse aprofundamento fosse realizado. Ainda assim, dos 09 grupos que realizaram a pesquisa, 05 conseguiram produzir artigos acerca dos resultados preliminares da pesquisa, que foram apresentados no X Encontro de Iniciação Científica da Universidade de Taubaté no ano de 2005. 6 Sobre jornais, movimentos sociais e ideologia Os jornais como veículos disseminadores de notícias procuram demonstrar isenção ao apresentar as posições divergentes nos conflitos sociais, no entanto, a ideologia como uma forma de ver o mundo está sempre presente. Nos dizeres de Marcondes Filho (1994, p 18) a ideologia “[...] é uma forma de tomar partido; significa sempre estar favorecendo uma coisa e não outra, optando por isso e não por aquilo”. O jornal ideologiza a informação, ao veicular notícias sobre movimentos sociais associadas à idéia de “baderna”, reforçando simbolicamente o estereótipo de movimento social como ameaça à ordem estabelecida. O jornal constitui-se, assim, num importante instrumento ideológico de afirmação do status quo na sociedade capitalista, como enfatiza Marcondes Filho: A função política efetiva do jornal na sociedade de classes não é a de noticiar, divulgar fatos que interessam à classe ou a setores dominantes, mas a de moldá-los, esticá-los e comprimi-los, reproduzir assim a vida pública e privada conforme parâmetros ideológicos de seus produtores. Trata-se, portanto, de montar uma segunda natureza dos fatos sociais, diferente, e em muitos casos, oposta à verdadeira natureza das coisas. (MARCONDES FILHO, 1989, p. 50) Conforme o mesmo autor, o aparelho reprodutor da classe hegemônica, o jornal, utiliza-se de variados mecanismos de distorção da realidade, colocando em prática um verdadeiro jogo com o texto da notícia, como: a) a fragmentação da realidade, em que a lógica dos fatos é quebrada; b) a personificação de processos sociais como processo de intimização das coisas públicas; c) falseamento de registros históricos, muitas vezes com a alegação de necessidade de preservar a segurança nacional ;d) a distorção da notícia quando se enfatiza o aspecto positivo ou negativo dos fatos, dependendo da concepção de sociedade presente; e) seleção de fontes que favorecem determinados setores em detrimento de outros; f) a saturação como forma de "bombardeio" noticiosa, como forma de influenciar a opinião pública pelos meios de comunicação de massa, e g) a polarização de conceitos, que força o leitor a escolher sempre entre dois extremos, por exemplo: liberdade ou socialismo. Outra característica do tratamento da notícia pelo jornal, diz respeito à pulverização da noção de movimento social, já que a notícia é apresentada ao receptor de forma fragmentada, despolitizando o real e contraditoriamente explicitando a ideologia do não-conflito (MARCONDES FILHO, 1989). Por outro lado e ao mesmo tempo, é preciso destacar que a mídia tem um importante papel na divulgação dos movimentos sociais, ao dar visibilidade aos fatos. A cobertura da imprensa às ações dos movimentos sociais nem sempre é favorável às lutas 7 populares, mas é imprescindível para tornar conhecidas essas lutas, como afirma Antonio da Silva Câmara: Contrariando a sua definição ideológica de relatar a realidade imediata, a imprensa o divulga, recria e reinventa os fatos relativos aos movimentos sociais, adquirindo o caráter de um falso sujeito social. [...], pois ao revelar certos aspectos das lutas sociais, outros são ocultados; [...] em função tanto de interesses mercadológicos quanto de compromissos políticos dos proprietários dos meios midiáticos. (CÂMARA, 2003, p.1) Assim a relação dos movimentos sociais com a mídia escrita não ocorre sem conflitos e contradições. Percebe-se uma estreita relação entre o campo político e os veículos de comunicação de massa, quando o jornal, como acima mencionado, assume o caráter de ‘sujeito-jornal’ na medida em que “sustenta determinados discursos como manifestação de suas posições” (GUIMARÃES, 2001, p. 31), particularmente nas elaborações de seus editoriais, que no entanto, não foram objeto deste estudo. Conclusões Na trajetória da pesquisa, o caminho foi se fazendo. O importante era instigar os estudantes à descoberta do universo dos movimentos sociais a partir da mídia escrita, envolvendo-os num processo de construção do conhecimento e de aproximação à realidade pela experiência da pesquisa. Nesse sentido, a partir de alguns recortes analíticos fomos descobrindo, coletivamente, aspectos interessantes, óbvios de uma certa forma, pois aparecem reiteradamente em dados quantitativos e perceptíveis “a olho nu” acerca dos movimentos sociais ou manifestações de segmentos organizados ou não da população, mas cujo sentido, nem sempre ficam tão explícitos assim. Ao examinarmos o tratamento que a imprensa regional dispensou às manifestações sociais foram necessários alguns cuidados na análise – ainda que preliminar - dos dados, procurando transcender os aspectos imediatos da realidade tal como foram apresentados pelo jornal, para buscar a relação com a mediaticidade dos fatos, tendo a notícia como mediação desse processo. A construção do conhecimento deve ter como “[...] verdadeiro ponto de partida a realidade” (LUKÁCS apud ALMEIDA, 1997, p. 68), razão pela qual nessa investigação tivemos a preocupação de não adotar a realidade apresentada pelo jornal como a “verdadeira” realidade, mas entendê-la como manifestação do imediato. A pesquisa não desconsiderou que os veículos de comunicação de massa fazem parte da indústria cultural, o que faz com que a notícia nesse contexto adquira o caráter de mercadoria. Assim, nossa preocupação na análise dos dados também se voltou para a 8 compreensão do processamento da notícia, enquanto um produto para venda e ao mesmo tempo seus componentes ideológicos, que contribuem privilegiadamente para a difusão da ideologia capitalista. Não obstante, pode-se concluir numa primeira aproximação que é irrefutável a presença de movimentos sociais na região ainda que venha ocorrendo mudanças na forma de mobilização e organização de tais movimentos. Pode-se concluir ainda, que a metodologia de ensino adotada pela disciplina que buscou articular o ensino e a pesquisa, foi fundamental para a apreensão pelos estudantes da importância da pesquisa no processo de formação profissional, aliando os ganhos da aprendizagem do saber fazer investigação, com os conhecimentos adquiridos sobre a relação entre movimentos e classes sociais, particularizada na região do Vale do Paraíba, contribuindo desta forma para o alcance dos objetivos da disciplina e da própria construção do conhecimento. 9 Referências ALMEIDA, José Luís Vieira de. Educadores de rua do Estado de São Paulo: as representações que informam a sua prática educativa. 1997. 252 f. Tese (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997. CAMARA, Antonio da Silva. Imprensa e movimento dos sem-terra. Comciencia Revista Eletronica de Divulgação Científica, São Paulo, v. 45, 2003. 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