Psicossomática
Alessandra Menke
Ângela Cristina Lamotte
Carolina Tonial
Cibele Vargas Machado
Luciana de Nadal
Mariângela Bragagnolo
Valéria Marchi
Histórico

Psicossomática: termo introduzido na
Medicina em 1818 por Helmholtz com o
sentido, naquela época, de designar as
doenças somáticas que surgiam tendo
como fator etiológico os aspectos mentais.
Denominações
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somatose (um fenômeno clínico que se
expressa no corpo),
psicossomática,
doença psicossomática,
conversão somática,
manifestação somática,
manifestação somatoforme,
transtorno somatoforme,
distúrbio psicossomático,
psicopatologia somática.
DSM-IV
Transtornos Somatoformes : Sugerem uma
condição médica geral, porém não são completamente
explicados por uma condição médica, pelos efeitos
diretos de uma substância ou por um transtorno mental.
-Transtorno de Somatização
-Transtorno Somatoforme indiferenciado
-Transtorno Conversivo
-Transtorno Doloroso
-Hipocondria
-Transtorno Dismórfico
-Transtorno de Somatição sem outra especificação
Transtorno de Somatização
Critérios Diagnósticos:

Uma história de muitas queixas físicas com início antes dos 30
anos, que ocorrem por um período de vários anos e resultam em
busca de tratamento ou prejuizo significativo no funcionamento
social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do
indivíduo.

Cada um dos seguintes critérios deve ter sido satisfeito, com os
sintomas individuais ocorrendo em qualquer momento durante o
curso do distúrbio:
1) Quatro sintomas dolorosos : uma história de dor relacionada a
pelo menos quatro locais ou funções diferentes.
2) Dois sintomas gastrintestinais: deve haver uma história de
pelo menos dois sintomas gastrintestinais


3) Um sintoma sexual: Deve haver uma história de pelo menos
um sintoma sexual ou reprodutivo outro que não dor.
4) Um sintoma pseudoneurológico: deve haver também uma
história de pelo menos um sintoma, outro que não dor, sugerindo
uma condição neurológica.
C) 1) ou 2):
1) Após investigação associada, nenhum dos sintomas no
Critério B pode ser completamente explicado por uma condição
médica geral conhecida ou pelos efeitos diretos de uma substância
2) Quando existe uma condição médica geral relacionada, as
queixas físicas ou prejuízo social e ocupacional resultante excedem
o que seria esperado a partir da história, exame físico ou achados
laboratoriais.
D) os sintomas inexplicáveis no Transtorno de Somatização não
são intencionalmente produzidos ou simulados (como no
Transtorno Factício ou na Simulação).
CID 10
F45 – Transtornos Somatoformes :
Apresentação repetida de sintomas físicos juntamente
com solicitação persistentes de solicitação de
investigações medicas, apesar de repetidos achados
negativos e de reasseguramento pelos médicos de que
os sintomas não têm base física.
F45.0 – Transtorno de Somatização
Os aspectos principais são sintomas físicos múltiplos,
recorrentes e freqüentemente mutáveis os quais em
geral tem estado presentes por vários anos antes que o
paciente seja encaminhado para o psiquiatra.
Diretrizes Diagnósticas

A) Pelo menos dois anos de sintomas físicos
múltiplos e variáveis para os quais nenhuma
explicação adequada foi encontrada;
B)Recusa persistente de aceitar a Informação ou o
reasseguramento de diversos médicos de que não
há explicação física para os sintomas;
C) Certo grau de comprometimento do
funcionamento social e familiar atribuíveis à
natureza dos sintomas e ao comportamento
resultante.

Psicossomática: estudo da pessoa como
ser histórico, que é um sistema único
constituído por três subsistemas: corpo,
mente e social.

A Psicossomática tem seus pilares
assentados sobre os conhecimentos da
Fisiologia (em especial da Psicofisiologia),
da Psicologia Social, da Patologia Geral,
das Psicologias Dinâmicas (notadamente,
a Psicanálise) e das concepções
holísticas. (Rodrigues & Gasparini, 1992)

O fenômeno da somatização está em
correlação negativa com a projeção. A
somatização denota dificuldade na
elaboração projetiva, elaboração esta que
remete às funções relacionais e à
repressão que incide sobre a função do
imaginário, definida pelo sonho e seus
equivalentes. (Sami-Ali, 1993)

Alexitimia
(escola
americana):
características comuns e freqüentes
quanto à maneira de lidar com as
emoções.

Pensamento Operatório (escola francesa):
características comuns e freqüentes
quanto à forma de pensamento.

Os portadores de pensamento operatório têm um
mundo interno pobre e investem intensamente na
realidade externa. São aquelas pessoas que quando
sofrem problemas existenciais, buscam no trabalho ou
outras atividades o seu refúgio.

Já o termo "alexitimia" significa
para nomear as emoções".
dificuldade de descrever e
emoções. Não há negação
ausência de sentimento.
"ausência de palavras
Tais indivíduos têm
até de sentir suas
das emoções, mas

Segundo Kristal (1973), o psicossomático tem
dificuldade para cuidar de si mesmo, pois
quando criança o ato de interiorizar o objeto
materno (que traria segurança) seria sentido
como sujeito a castigo. Kristal afirma que ocorre
um bloqueio no desenvolvimento dos afetos,
levando a uma paralisação do desenvolvimento
afetivo normal.

As representações ou percepções carregadas
de afeto são afastadas da mente e as tensões
físicas não encontram caminho para o psíquico,
permanecendo no campo físico.

No pensamento operatório a palavra serve para
descarregar uma tensão, mas ela não
permanece em suspenso o tempo o suficiente
para ser articulada num processo egóico
defensivo ou na produção de sonhos ou
fantasias. (Silva & Caldeira, 1992).
O simbólico na Psicossomática

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Escola de Psicossomática da Sociedade
Psicanalítica de Paris  os fenômenos da
psicossomática não teriam sentido;
neurose atual (Freud)
O simbólico na Psicossomática
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
Atual  ausência de mediação simbólica;
O mecanismo de formação dos sintomas em jogo nas
neuroses atuais seria sintomático e não simbólico;
Não significa, pura e simplesmente, uma descarga da
tensão no corpo, mas a impossibilidade, total ou parcial,
de sua elaboração e transformação em afeto;
Por isso, diz-se que o sintoma ocorre sem nenhum
propósito aparente  não se sabe qual seria sua
intenção;
O simbólico na Psicossomática


Importância da relação mãe-filho: mãe simbólica
 da significados às mensagens corporais do
bebê;
Carência de atividades de representação 
aparelho psíquico precariamente estruturado 
impossibilidade de elaboração da excitação
através dos recursos psíquicos do indivíduo 
energia pulsional liberada diretamente no corpo;
O simbólico na Psicossomática



Mundo interno pobre  investem na realidade
externa;
O que ocorre não tem significado para o sujeito
 é independente de si, algo externo;
Dificuldade de descrever suas emoções e
mesmo de senti-las  “isto é tudo”  doença
não teria uma explicação  seria externa a ele;
Características das
manifestações psicossomáticas:




Não se encontra uma explicação física/biológica
para o sintoma.
É desencadeada por um acontecimento da ordem
da perda ou equivalente (“bem tolerado”).
Carência na representação psíquica.
Expressa representações que não podem ser
conscientes (angústia produzida).
Características das
manifestações psicossomáticas:





Expressa uma comunicação desconhecida do
sujeito.
Solução de conflitos intrapsíquicos.
Pode ser revertido através da palavra.
Discurso típico (equívocos, contradições, etc.).
Correlação
temporal
com
determinados
acontecimentos e datas.
Clínica psicanalítica para as
doenças psicossomáticas


Possibilitar a palavra ao paciente, criando um
campo de produção de significações.
Analista
como
uma
presença
questionadora/ativa (dificuldade de atribuição de
sentidos mesmo na associação livre)
“Corpo: envelope psíquico
da dor”
Lenice Pimentel Cabral
(UFAL)
CASO CLÍNICO
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
Mulher de 62 anos, casada, atividades
domésticas, natural de Pernambuco, 9
filhos, 2º ano primário, católica,
recomendada por dermatologista
Terapia psicanalítica por 2 anos
Queixa principal: crises de erisipela* nos
membros inferiores, com febre e
dificuldade de se locomover
*infecção de pele e tecido subcutâneo com o
comprometimento dos linfáticos

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
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
Crises mais freqüentes de uns tempos
para cá”  os filhos se tornaram
independentes e o marido teve
aposentadoria antecipada
“Vejo meu marido em casa, sentado na
cadeira fazendo carinhos na gata; os
filhos trabalhando e eu nessa mesmice”
Diz sentir falta dos tempos de namoro
com o marido
Em relação à “ser a gata”  “Não tenho
mais idade. Hoje são meus filhos que
namoram. Acho bonito namorar”
Sua vida girava em torno do marido, dos 9
filhos e da casa

Sua preocupação agora é porque as
crises de erisipela estão mais
freqüentes; sente febre e as pernas
ficam muito vermelhas;

“Aí eu não posso andar”; “meu corpo
fica muito quente”

Através da pele, essa paciente
expressa seus conflitos, seus desejos
“quentes”, de uma sexualidade ainda
ativa, mas ambígua na sua expressão

“ ‘escolhia’ a pele, este envelope
psíquico que recobre o corpo, e que
guarda em si uma história” (Ester
Bing, 1991)

“A pele, como rosas vermelhas, se
abria para deixar passar a dor de um
desejo silenciado. Desejo ardente,
carente de reconhecimento, capaz de
incendiar ao simples toque”
Comentários do caso



Crises dermatológicas associadas às tensões
vividas na família
As crises se agravaram quando os filhos
começaram a se tornar independentes e foram
saindo de casa; o marido, doente do coração,
foi aposentado
“Parada, não andando para lá e para cá, em
busca do que fazer, ela se deixava
observar/tocar pelos familiares” seu corpo
“transportava” nas pernas o desejo que não
mais se deslocava  As feridas “abriam”
caminho para o olhar do Outro
Com a terapia...
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Ganhos secundários com as crises
“É incrível, mas acho que a minha tristeza tem
também um pouco de inveja. Vejo minhas filhas,
sobretudo elas, namorando, se divertindo, indo
para festas, dançando, e eu aqui, sozinha. O
marido, adoentado, perdeu um pouco o fogo”
Representação-coisa  representação-palavra
Nomeação, simbolização
“A maior tristeza que eu tive foi quando descobri
que tinha parado de sonhar” (chora)
Supletivo, outras realizações
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


“Parece que não estou tendo tempo nem
para ficar doente”
Ela recobrou sua auto-estima
Ao se dirigir para o mundo externo pôde
aumentar sua capacidade de se perceber
no papel de dona-de-casa e ressignificar o
espaço doméstico com o seu olhar
Antes as pernas não a deixavam andar;
agora elas lhe transportam para o mundo
“Imagine, passeamos de mãos dadas
como se fôssemos namorados. Sabe, até
chorei de emoção”




O acompanhamento medicamentosos foi
gradativamente sendo dispensado, à
media que ela ia usando a linguagem para
expressar o seu psiquismo
Do foco inicial, restaram apenas algumas
manchas nos membros inferiores
Seu ego bastante saudável e sua
estrutura mental foram muito importantes
para que o tratamento tivessem esse
resultado
Terapia com efeitos duradouros na vida da
paciente
Perspectivas


Freud (1905): “Toda enfermidade é
intencional”, pois o sujeito, de uma forma ou
de outra, adquire ganhos secundários com as
enfermidades
- o sintoma é um enigma que precisa ser
decifrado, com valor de comunicação para
quem decifra
Cabral: no caso apresentado, a dor somática
foi a via para o encontro com a dor psíquica;
“na dor, densa, surda e muda, a paciente
descobriu os gemidos de sua alma que
ansiava por vida”

Guyton (1992): a dor como algo que
invade o soma para proteger o indivíduo

Joyce McDougall (1991): no corpo da
paciente estava se encenando toda uma
história de vida que havia se distanciado
da fala

Uma grande dor surge sempre de um
transtorno do eu (fibromialgia, erisipela,
etc)

Lacan: A lesão de órgão é devida à função
paterna (emassamento de S1 e S2) –
foraclusão da função paterna, ou função
paterna mal-constituída; no caso, a
dificuldade da paciente em metaforizar,
em deslocar, em quebrar a bolha de
isolamento narcísico que a relação com a
mãe estabelecia, que a distanciava do
mundo e da experiência da cultura 
dificuldade em se constituir enquanto ser
de desejo
- a comunicação na somatose é um ato,
um fazer no corpo


Joyce McDougall: somatoses  despertar
para si e para os limites (físicos, psíquicos);
adoecer para alcançar a sensação de existir,
ter limites e poder se cuidar sozinho
 O diálogo de surdos entre soma e psique é
o que define o corpo psicossomático
PSICANALISTA: representar as palavras que
faltam e tentar fazer com que a lesão seja
nomeada; fazer com que o analisando
retome a palavra de algo compacto, que
simbolize a lesão, que encontre um sintoma
novo no seu lugar.
Referências bibliográficas:
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Psicologia, 13, 47-58.
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Eva, A. C., Vilardo, R. & Kubo, Y. (1994). Psicossomática e nossa prática psicanalítica. Revista
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Filho, O. C. S. (1994). Psicanálise do paciente psicossomático. Revista Brasileira de
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Hisada, S. (2000). Transtornos psicossomáticos: uma visão winnicottiana. Mudanças:
psicoterapia e estudos psicossociais, 8, 81-88.
Marcantonio, A. P. F. Um estudo sobre a Somatose Infantil em pacientes portadores de
Leucemia. Dissertação apresentada para a obtenção do grau de Mestre em Psicologia do
Desenvolvimento pela UFRGS.
Rodrigues, A. & Gasparini, A. (1992). Uma perspectiva psicossocial em Psicosomática: via
estresse e trabalho. Em Mello Filho, J. (Org.) Psicossomática Hoje. Porto Alegre, RS: Artes
Médicas.
Sami-Ali (1993). Corpo Real, Corpo Imaginário. Porto Alegre, RS: Artes Médicas.
Silva, A. & Caldeira, G. (1992). Alexitimia e pensamento operatório. A questão do afeto na
Psicosomática. Em Mello Filho, J. (Org.) Psicossomática Hoje. Porto Alegre, RS: Artes
Médicas.
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