FISIOLOGIA E BIOMECÂNICA DA ATIVIDADE MOTORA – AVALIAÇÃO E REABILITAÇÃO Modelos Matemáticos de Avaliação Dr. Luciano Luporini Menegaldo E-mail [email protected] Agrupamento de Sistemas de Controle Divisão de Mecânica e Eletricidade Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo - IPT 1 Tópicos a serem abordados: 1) O que é um modelo 2) Tipos de modelos matemáticos em sistemas biomecânicos 3) Pesquisa em modelagem e simulação de sistemas músculo-esqueléticos: um exemplo 2 1) Modelos matemáticos O que é um modelo? ‣ Uma representação intelectual de um sistema real Exemplos de modelos: Representação dos átomos na química Leis de Newton Lei dos gases perfeitos Fisiopatologia 3 Um bom modelo: Funciona? Até que funciona, na maior parte dos casos. É um conhecimento verdadeiro? É. Não é mentira. É um conhecimento sempre aperfeiçoável? Sem dúvida. 4 Modelo Matemático É um tipo de modelo em que: 1) Propõe-se um sistema físico equivalente ao sistema real 2) Do sistema físico equivalente se estabelecem equações capazes de descrever o comportamento desse sistema 5 Exemplos: 1) Modelos da mecânica respiratória 2) Modelos da contração muscular 3) Modelos de carregamento de ossos 6 Multiplicidade de modelos: Sistemas reais admitem múltiplos modelos Modelos são bons ou ruins para fins específicos Exemplo: modelos de corpos rígidos para controle de movimento e para análise de tensões em ossos. 7 O que se pode fazer com um modelo? Por que fazer modelos? – quantificar relações e comportamentos – projetar intervenções cirúrgicas – projetar tratamentos fisioterápicos (transferência de calor, exercícios etc.) 8 – projetar tratamentos farmacológicos (quimioterapia, tratamentos de distúrbios neurológicos etc.) – projetar dispositivos tecnológicos (respiradores artificiais, próteses anatômicas e neurais, órgãos artificiais, trajes etc.) 9 Tipos de modelos em sistemas biomecânicos • Modelos estáticos – Modelos de distribuição de forças – Modelos de elementos finitos • Modelos cinemáticos – Modelos para laboratório de marcha (cálculo de ângulos articulares em função das coordenadas dos marcadores – Modelos geométricos da anatomia 10 • Modelos dinâmicos – Dinâmica direta e dinâmica inversa – Cálculo de momentos articulares • Modelos lineares e não-lineares • Modelos da mecânica muscular 11 Modelos estáticos • Modelos de distribuição de forças 12 Modelos de elementos finitos Geração da malha 13 Carregamento seção transversal da tíbia 14 Análise de tensões 15 Modelos cinemáticos Modelos para laboratório de marcha (cálculo de ângulos articulares em função das coordenadas dos marcadores 16 Modelos geométricos e antropométricos 17 Modelos dinâmicos • Dinâmica direta e dinâmica inversa • Cálculo de momentos articulares • Modelos lineares e não-lineares • Modelos da mecânica muscular 18 2a. Parte: Pesquisa em modelagem de sistemas biomecânicos Biomecânica e controle da postura humana Objetivo: • Calcular sinais de excitação neuromuscular • capazes de levantar o corpo humano desde uma posição semi-agachada até a postura ereta • minimizando uma função de custo 19 Com que utilidade? • Pesquisas básicas em teoria de controle motor • Estimar o efeito biomecânico e motor de procedimentos cirúrgicos • Determinar as estratégias ótimas de controle motor que deveriam ser empregadas pelo SNC depois de uma cirurgia, e sugerir procedimentos de fisioterapia • Determinar padrões ótimos de ativação para Estimulação Elétrica Funcional (FES) 20 Modelo biomecânico a) Sistema de múltiplos corpos rígidos 21 b) Modelo geométrico do membro inferior Modelo de domínio público desenvolvido por Scott Delp (Univ. Stanford), utilizado no SIMM (Musculographics Inc.), com 40 músculos e 5 articulações 22 Articulação Quadril Joelho Tornozelo, subtalar e metatarsofalangeal Características Junta esférica com três graus de liberdade (Delp et al., 1990) Junta plana de um grau de liberdade, baseada em Yamaguchi e Zajac (1989). Leva em conta o ponto de contato variável da articulação tíbiofemoral, a cinemática patelo-femoral e o efeito do aumento do braço de momento do tendão do quadríceps (Delp et al., 1990) Modeladas como juntas tipo pino (com um grau de liberdade), com eixos localizados e orientados segundo Inman (1976) com pequenas alterações na orientação da articulação metatarso-falangeal (Delp et al., 1990) 23 Referenciais posicionados e dimensionados segundo acidentes anatômicos Transformações cinemáticas: p / referencial inercial no quadril, as coordenadas das origens e inserções musculares são expressas através de uma seqüência de transformações (3 rots., 3 desloc. p/ cada articulação) 24 Funções cinemáticas Exemplo: deslocamento dx da tíbia em função do ângulo de flexão do joelho -3 x 10 6 4 dx, ref. tibial 2 0 -2 -4 -6 -1 2 0 -1 0 0 -8 0 -6 0 -4 0 -2 0 0 â ng ulo d o jo e lho 25 –Parâmetros antropométricos e coordenadas de origens e inserções determinados a partir de vários cadáveres • Calculo dos torques musculares r F 26 – Relação entre as forças musculares e os torques articulares r11 r12 r21 r22 r 31 r32 F1 r1n F2 r2 n r3n Fn – Comprimento do atuador músculo-tendíneo calculado como distância entre origem e inserção considerando os pontos de contorno 27 Ajuste de curvas de regressão múltipla para os braços de momento e comprimento dos atuadores - músculos agrupados segundo sua dependência das mesmas coordenadas generalizadas Grupos 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 n. de coord. generalizadas 3 1 3 1 2 1 2 1 2 2 2 1 2 3 Músculos gmed1, gmed3, gmin1, gmin3, addlong, tfl gmed2, gmin2, semimem, semiten, bifemlh, sar, gra bifemsh, vasint, vaslat, ligpat adbrev, amag1, pect, gmax1, gmax2, gmax3 iliacus, psoas, quadfem, gem, peri rf medgas, latgas sol tibpost, tibiant, perbrev, perlong, pertert flexdig, flexhal, extdig, exthal 28 – Geração automática em Matlab dos arquivos de entrada para o SIMM: 20 pontos para cada amplitude de movimento por coordenada generalizada (para 3 coordenadas, 8000 pontos) – Ajuste de curvas por mínimos quadrados 29 Equações de regressão propostas: 30 Seleção das equações com mínimo erro Musculo gmed1 gmed2 gmed3 gmin1 gmin2 gmin3 semimem semiten bifemlh bifemsh sar addlong addbrev amag1 amag2 amag3 tfl pect LMT 2 1 2 2 1 2 2 2 1 1 1 2 4 4 4 4 2 4 r1 2 1 2 2 1 2 1 1 1 1 1 2 4 4 4 4 2 4 r2 2 x 1 2 x 1 2 2 2 x 2 1 1 1 1 4 2 4 r3 2 x 2 1 x 1 1 1 1 x 1 1 x x x x 2 x 31 Comprimento do rectus femoris. Real (branco); ajustada (cinza) 32 Braço de momento do rectus femoris (em relação ao quadri) 33 c) Modelo da mecânica muscular Kpe: elemento elástico paralelo B: amortecimento C: elemento contrátil kT: rigidez do tendão LT: comprimento do tendão LST: comprimento do tendão relaxado : ângulo de empenamento ~ T ~ T ~ MT ~ M (1a. eq.) F k v v cos 34 Cálculo da rigidez no tendão ~T k 35 Rigidez normalizada do tendão: T E 1 1,2GPa 1 37,5 ~T k M ~T ~T ~ T 0 L s 32MPa L s Ls 36 Cálculo de ~v M • relações f - l e v - l 37 ~ PE ~ DE ~ CE ~ T cos F F F F Hipérbole de Hill: lembrando que ~ M* 2 a aF M ~ ve ~ M * 4F a * ~ M F M* 1 ~ ve 1 5 4 a 4 16 a M M ~ ~ ve v ~ M a fl aF M ~ ve ~ M 4 F afl 2 38 M), Isolando as forças nos elemento contrátil (~ F de rigidez em paralelo e de amortecimento ~v M e substituindo em (*), calcula-se através da solução de uma eq. algébrica de 2o. grau MT ~ v é imposto pelo movimento 39 2a. equação: dinâmica da ativação da dt (u a )( k 1u k 2 ) onde Tact=1/(k1+k2) e Tdeac=1/k2. 40 Equações dinâmicas x4 x5 x 6 x 1 x 7n 2 r r r x 11 12 x2 1n 4 x 7 n 1 1 2 x M ( x , x , x ) [D] r r r [C( x1 , x 2 , x 3 )] x 5 g( x1 , x 2 , x 3 ) 1 2 3 21 22 2n 3 x2 r r r x4 3 n 6 31 32 x 72n x 5 a 1 f1 (u1 , a1 ) x 6 a f ( u , a ) 2 2 2 2 x 7 x 8 a f ( u , a ) n n n n ~ ~ ~ ~ T MT T T T M F g ( a , L , F , k , L , F ,...) 1 1 1 s 0 x ~MT ~ T ~ T ~T M 7 2 n F T g (a , L , F , k , L s , F0 ,...) 2 2 2 ~MT ~ T ~ T ~T M F T g (a , L , F , k , L s , F0 ,...) n n 41 n 2) Problema de controle ótimo - Malha aberta / malha fechada - Controle ótimo 42 Controle da postura em malha aberta utilizando controle ótimo Objetivo: levar o modelo proposto de uma condição inicial do agachamento até a postura ereta, minimizando uma função de custo Os controles obtidos correspondem às excitações de cada músculo ao longo do tempo de simulação Principal vantagem do controle ótimo: solução do problema da redundância de atuadores 43 b min f ( u, ) g o ( , x ( b)) l o ( t, x , u ) dt OCP ( u , )Lm , 2 [ a , b ]x n a x h( t, x, u ) equações dinâmicas x (a ) condições iniciais t [a , b ] j j u min ( t ) u j ( t ) u max ( t ), j 1,..., m vínc. de controle g ei (, x (b)) 0, q ei vínculos de desigualdade g ee (, x (b)) 0, q ee vínculos de igualdade x(t) é n x 1, u(t) é m x 1, l e g são escalares 44 Solução do Problema de controle ótimo Utilização de Algoritmos de controle ótimo baseados na Teoria das aproximações consistentes (RIOTS) Diversos problemas numéricos precisaram ser resolvidos 45 6. Alguns resultados Modelo com 10 atuadores musculares nãolineares Hipóteses simplificadoras: 1. Contração isométrica 2. Relação força x comprimento constante 3. Seleção de 10 grupos musculares, agrupando os músculos de função e morfologia semelhantes, eliminando músculos com r muito pequeno 46 47 Músculo grupos LM0 LST gmed1 gmed2 gmed3 gm 1 semimem semiten bifemlh gm2 bifemsh gm3 gmax1 gmax2 gmax3 gm4 iliacus psoas gm5 rf gm6 vasmed vasint vaslat gm7 medgas latgas gm8 sol tibpost gm9 tibant perlong extdig exthal gm10 1 1 1 0.0535 0.0845 0.0643 0.0681 0.0800 0.2010 0.1090 0.1108 0.1730 0.1730 0.1420 0.1470 0.1440 0.1448 0.1000 0.1040 0.1018 0.0840 0.0840 0.0890 0.0870 0.0840 0.0857 0.0450 0.0640 0.0507 0.0300 0.0310 0.0301 0.0980 0.0490 0.1020 0.1110 0.1006 8.0 0.0 19.0 9.9344 15.0 5.0 0.0 7.5027 23.0 23.0 5.0 0.0 5.0 3.0026 7.0 8.0 7.4496 5.0 5.0 5.0 3.0 5.0 4.3788 17.0 8.0 14.3097 25.0 12.0 23.6436 5.0 10.0 8.0 6.0 6.0362 0.0780 0.0530 0.0530 0.0595 0.3590 0.2620 0.3410 0.3363 0.1000 0.1000 0.1250 0.1270 0.1450 0.1333 0.0900 0.1300 0.1080 0.3460 0.3460 0.1260 0.1360 0.1570 0.1407 0.4080 0.3850 0.4011 0.2860 0.3100 0.2885 0.2230 0.3450 0.3450 0.3050 0.2649 2 2 2 3 4 4 4 5 5 6 7 7 7 8 8 9 9 10 10 10 10 F0M 546 382 435 1363 1030 328 717 2075 402 402 382 546 368 1296 429 371 800 779 779 1294 1365 1871 4530 1113 488 1601 2839 1270 4109 603 754 341 108 1052 Fr0M1 -6.825 -8.595 -10.875 -26.295 -56.65 -21.32 -46.605 -124.58 -15.28 -27.30 -25.76 -68.34 15.44 12.61 28.05 36.61 36.61 F0M r2 F0Mr3 -41.20 -13.78 -39.435 -94.415 -20.10 -20.10 22.98 22.98 40.89 40.95 57.06 139.90 -16.69 -6.10 -22.79 -43.96 -19.76 -63.72 -109.02 -12.70 -121.72 25.69 6.03 13.64 4.54 43.87 LMT 0.12 0.13 0.11 0.1191 0.42 0.47 0.45 0.4398 0.21 0.21 0.20 0.21 0.24 0.2191 0.20 0.26 0.2270 0.45 0.45 0.23 0.25 0.26 0.2464 0.41 0.41 0.41 0.30 0.35 0.3052 0.30 0.40 0.44 0.40 0.3539 48 trajetória resp13-12-3 3 2 x, xp (rad) 1 0 -1 perna coxa tronco vel. perna vel. coxa vel. tronco -2 -3 0 0.05 0.1 0.15 0.2 t(s) 0.25 0.3 0.35 0.4 49 controle ótimo resp13-12-3 1 0.8 0.6 0.4 u(t) 0.2 0 -0.2 -0.4 -0.6 -0.8 0 0.05 0.1 0.15 0.2 t(s) 0.25 gmed sm,st,bflh bfsh gmax ilipsoas rf vas gas sol,tip ta,pl,exd,exh 0.3 0.35 0.4 50 ativações resp13-12-3 0.7 gmed sm,st,bflh bfsh gmax ilipsoas rf vas gas sol,tip ta,pl,exd,exh 0.6 0.5 a(t) 0.4 0.3 0.2 0.1 0 0 0.05 0.1 0.15 0.2 t(s) 0.25 0.3 0.35 0.4 51 forças resp13-12-3 2500 gmed sm,st,bflh bfsh gmax ilipsoas rf vas gas sol,tip ta,pl,exd,exh 2000 F(N) 1500 1000 500 0 0 0.05 0.1 0.15 0.2 t(s) 0.25 0.3 0.35 0.4 52 53 Resultados com tf = 1.0s e gravidade variável - Gravidade: 2 m/s2 4 m/s2 6 m/s2 8 m/s2 9 m/s2 9.81 m/s2 - Tempo total de 1 s de simulação: +- 30 dias de CPU e 490 MB RAM Pentium 600 MHz 54 trajetória resp8-1-1 2 perna coxa tronco vel. perna vel. coxa vel. tronco 1.5 x, xp (rad) 1 0.5 0 -0.5 -1 -1.5 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 t(s) 55 controle ótimo resp8-1-1 0.5 gmed sm,st,bflh bfsh gmax ilipsoas rf vas gas sol,tip ta,pl,exd,exh 0.45 0.4 0.35 u(t) 0.3 0.25 0.2 0.15 0.1 0.05 0 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 t(s) 56 ativações resp8-1-1 0.5 gmed sm,st,bflh bfsh gmax ilipsoas rf vas gas sol,tip ta,pl,exd,exh 0.45 0.4 0.35 a(t) 0.3 0.25 0.2 0.15 0.1 0.05 0 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 t(s) 57 forças resp8-1-1 2500 gmed sm,st,bflh bfsh gmax ilipsoas rf vas gas sol,tip ta,pl,exd,exh 2000 F(N) 1500 1000 500 0 0 0.2 0.4 0.6 0.8 1 t(s) 58 59 -Padrões de excitação semelhantes ao caso anterior -Níveis de u(t), a(t) e F(t) mais baixos -Velocidades máximas inferiores -Queda no início do movimento mais pronunciada -Oscilação maior do tronco 60 Trabalhos futuros 1. Novas funções de custo como, por exemplo, a maximização da altura do centro de massa. 2. Realizar estudos do movimento de levantar de uma cadeira e da marcha 61 3. Introduzir no modelo biomecânico expressões de momento passivo gerado por ligamentos do joelho 4. Formulação de protocolos para levantamento de parâmetros antropométricos individuais 62 3) Projetos em andamento 1. Comprovação experimental dos resultados através de laboratório de marcha e análise de padrões EMG (Temático FAPESP / IOT) 2. Nova versão do RIOTS: CAOS (Consistent Approximations Optimal control Solver) 63