Com a devida vénia transcrevemos artigo publicado na edição do Jornal de Negócios FMI está para ficar em Portugal Rui Peres Jorge | [email protected] Instituição manterá vigilância reforçada e provavelmente estará envolvida num programa cautelar. Apesar de críticas e empurrões, o FMI está para ficar em Portugal por vários anos. O Pais permanecerá sob vigilância reforçada do Fundo pelo menos até ao início da próxima década e a probabilidade de alguma participação num eventual programa cautelar após Junho de 2014 é elevada, especialmente se esse for o caminho escolhido pela Irlanda - o que também parece provável. A discussão sobre a saída do FMI de Portugal tem sido alimentada por altas figuras da política nacional, do Presidente da República ao líder do parceiro júnior da coligação, e acompanha uma discussão europeia mais alargada sobre as deficiências e as divergências entre a troika - a qual se intensificou após um polémico relatório do FMI onde se lêem várias críticass à Comissão Europeia no primeiro resgate grego. A razões que levam atores como Cavaco Silva, Paulo Portas e até altos responsáveis socialistas a propor a saída do FMI poderão estar relacionadas com o provável recurso a um programa cautelar no próximo ano que, sendo financiado pelos parceiros europeus, permitiria argumentar que o País se livraria da troika no final do atual programa. Esta é, por exemplo, a leitura de Ricardo Santos, economista no BNP Paribas que acompanha Portugal: "Estes comentários parecem antecipar de alguma forma um segundo pacote de assistência financeira. Um programa cautelar, muito provável em 2014, dependerá essencialmente dos parceiros europeus e do BCE e não contará com o envolvimento direto do FMI. Esse segundo programa, desta vez precaucionário, poderá não ser referido com um novo resgate", diz ao Negócios. Contudo, o cenário de uma saída rápida do FMI da Europa, e ainda mais dos países já intervencionados com dinheiro de Washington, parece pouco provável em termos substantivos, conclui-se das interpretações de várias fontes ouvidas pelo Negócios e das regras de funcionamento desvarios instrumentos e instituições envolvidas nos resgates Por um lado, os programas do FMI da dimensão do português implicam uma vigilância reforçada do Fundo até ao pagamento da quase totalidade dos 26 mil milhões de euros emprestados desde o Verão de 2011, o que só acontecerá bem para lá da viragem para a próxima década. Esta vigilância traduz-se em pelo menos duas avaliações anuais pós-programa. Em segundo lugar, a probabilidade do Fundo participar num programa cautelar pós-Junho de 2014 é elevada. "Foi o FMI que inventou os programas cautelares e não fará muito sentido, pelo menos nos países que já receberam dinheiro, que o acompanhamento passe a ser feito de forma independente entre a Comissão e o FMI, mesmo que o FMI seja um parceiro júnior", diz uma fonte comunitária com experiência nos resgates europeus. Acresce que o envolvimento do FMI está previsto nas regras europeias para os programas cautelares, um caminho que começa a desenhar-se para a Irlanda, que sai do seu programa seis meses antes de Portugal: "Se as autoridades [irlandesas] considerarem procurar uma linha precaucionaria do MEE, segundo as regras do MEE também deverão procurar apoio do FMI", lê-se no último relatório da instituição sobre a Irlanda, onde se anuncia uma decisão sobre o tema para o Outono. Teresa Ter-Minassian, que trabalhou no FMI durante mais de 30 anos, foi a chefe de missão para Portugal nos programas dos anos 80 e dirigiu o departamento de Assuntos Orçamentais, também não vê o FMI a sair da Europa tão cedo: "a Europa é um parceiro tão importante para o Fundo e um jogador na economia internacional que não vejo o FMI a parar o seu envolvimento financeiro na Europa assim tão cedo", afirma em entrevista ao Negócios. Os últimos resgates europeus contaram com uma menor participação do FMI, mas nunca com a sua exclusão. Em Chipre, a troika mantém-se e o FMI entrou com cerca de 10% do empréstimo. Em Espanha, onde o MEE emprestou à banca, o Fundo participa nas avaliações como consultor independente. 2013-06-25