RELATÓRIO PIBAGROBRASIL Dezembro de 2012 GPD Agribussines – Brazil Outlook Relatório PIBAgro-Brasil Relatório PIBAgro-Brasil GPD AGRIBUSSINES – BRAZIL OUTLOOK O Relatório PIB Agro – Brasil é uma publicação mensal resultante da parceria entre o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Esalq/USP, e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). O cálculo do PIB do agronegócio é feito pela ótica do valor adicionado, a preços de mercado, computando-se os impostos indiretos líquidos de subsídios. A quantificação dessa medida reflete a evolução do setor em termos de renda real, a qual se destina à remuneração dos fatores de produção: trabalho (salários e equivalentes), capital físico (juros e depreciação), terra (aluguel e juros) e lucros. Considera-se, portanto, no cômputo do PIB do agronegócio tanto o crescimento do volume produzido como dos preços, já descontada a inflação. O agronegócio é entendido como a soma de quatro segmentos: (a) insumos para a agropecuária, (b) produção agropecuária básica ou, como também é chamada, primária ou “dentro da porteira”, (c) agroindústria (processamento) e (d) distribuição. A análise desse conjunto de segmentos é feita para o setor agrícola (vegetal) e para o pecuário (animal). Ao serem somados, com as devidas ponderações, obtém-se a análise do agronegócio. É importante destacar que este relatório considera os dados disponíveis – preços observados e estimativas anuais de produção – até o seu fechamento. Em edições futuras, ao serem agregadas informações mais atualizadas, pode, portanto, haver alteração dos resultados de meses e também de anos passados. Recomenda-se, portanto, o uso do relatório mais atualizado. Os cálculos sobre a variação do volume partem das mais recentes projeções de safra para o ano em curso. Essas quantidades são confrontadas com as projeções de volume correspondentes do ano anterior. A variação obtida entre os dois anos é, então, usada para o cálculo da taxa mensal de variação do volume, bem como da taxa acumulada a partir de janeiro do ano em curso. No final do ano, a taxa acumulada por esse procedimento coincidirá com a taxa de variação do volume (confirmado e não mais projetado) entre o ano corrente e o anterior. Quanto aos preços, a comparação é feita entre a média real do período (número de meses) transcorrido no ano corrente e a média real do mesmo período do ano anterior. Essa variação anual é, então, usada para o cálculo da taxa mensal e da taxa acumulada desde janeiro do ano em curso. Equipe Responsável Geraldo Sant’Ana de Camargo Barros, Ph.D Pesquisador Chefe/ Coordenador Científico do Cepea/Professor titular Esalq/USP Adriana Ferreira Silva, Dra. Arlei Luiz Fachinello, Dr. Pesquisadores do CEPEA Equipe de Apoio Macroeconomia Cepea: Fernanda Ultremare, Ms. e Nicole Rennó Castro, Bel. CEPEA - CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA Page 7 Relatório PIBAgro-Brasil AGRONEGÓCIO RECUA 1,89% EM 2012 O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro estimado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, com o apoio financeiro da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), cresceu novamente em dezembro: taxa de 0,31%. Mesmo assim, o resultado anual ficou negativo em 1,89%. De janeiro a setembro, o agronegócio registrou consecutivos recuos, reflexo do menor ritmo de preços e do cenário de incertezas a respeito da safra de grãos. Apenas nos últimos três meses do ano é que o setor voltou a crescer, impedindo que, no acumulado no ano, a queda negativa fosse ainda mais expressiva. O agronegócio da agricultura cresceu 0,55% no mês, mas, no acumulado do ano registrou decréscimo de 1,27%. Em dezembro todos os segmentos da cadeia voltaram a registrar expansão, mas, no ano, apenas os Insumos cresceram: +0,85%. O segmento primário (Básico) terminou 2012 praticamente sem alteração: taxa de +0,03%. O pior desempenho ficou por conta da indústria que, no ano, recuou 3,04%. No segmento da distribuição, o panorama anual também foi de baixa, porém menos expressiva: taxa de -0,97%. O agronegócio da pecuária decresceu 0,37% em dezembro, elevando para 3,63% a queda no acumulado do ano. Dentre os segmentos deste setor, os piores desempenhos também foram observados na Indústria e na Distribuição que, nos mês, recuaram 1,03% e 0,65%, respectivamente, acumulando baixa de 7,91% (Indústria) e 5,26% (Distribuição). No segmento de Insumos, o cenário também foi de queda: - 0,08% no mês e -0,73% no ano. O segmento primário permaneceu sem mudanças significativas em dezembro, mantendo em 1,49% a retração em 2012. 0,90 0,50 0,10 Insumos Básico Indústria Distribuição Agricultura Pecuária Agronegócio -0,30 -0,70 -1,10 Agropecuária Figura 1 - Taxas de crescimento do PIB do agronegócio em dezembro de 2012 (%) Fonte: Cepea-USP e CNA Page 8 CEPEA- CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA Relatório PIBAgro-Brasil 5,00 2,00 -1,00 Insumos Básico Indústria Distribuição Agronegócio -4,00 -7,00 -10,00 Agropecuária Agricultura Pecuária Figura 2 - Taxas de crescimento acumuladas do PIB do agronegócio de 2012/2011 (%) Fonte: Cepea-USP e CNA INSUMOS: ALTA DAS RAÇÕES E FERTILIZANTES MARCA DESEMPENHO DO SEGMENTO O PIB do segmento de insumos para agropecuária manteve-se em dezembro: taxa de -0,01%. Com isso, no acumulado do ano, o segmento acumulou expansão de 0,29%. Na cadeia agrícola, o segmento de Insumos permaneceu praticamente sem mudanças em dezembro (+0,03%), mantendo em 0,85% a alta acumulada em 2012. No segmento de Insumos para a pecuária, o cenário foi de queda: 0,08% no mês e de 0,73% no ano (Figura 3). Nos fertilizantes, a disposição dos agricultores brasileiros em ampliar a área plantada e melhorar a fertilidade do solo, paralelo à relação de troca favorável em culturas altamente consumidoras deste insumo, como soja e cana-de-açúcar, aqueceu a comercialização do insumo, em especial no primeiro semestre. Com os estoques de passagem em alta, no entanto, a produção de fertilizantes não cresceu, fechando 2012 com baixa 1,40% (Figura 3). Em preços, impulsionados por frete mais caro e custo de produção maior, os fertilizantes seguiram em alta. Com isso, no final de 2012, o preço do insumo acumulou expansão de 2,85% (já descontada a inflação). No grupo de alimentos para animais, a intensa aceleração dos preços ao longo do ano refletiu a seca que atingiu as lavouras de soja, milho e trigo nas principais regiões produtoras brasileiras, além dos problemas climáticos nos Estados Unidos e Rússia. Na comparação entre 2012 e 2011, a alta acumulada nos preços das rações chegou a 6,63%. Essa valorização pesou sobre a comercialização e produção do insumo que, na comparação entre os períodos, registrou baixa de 6,98%. CEPEA - CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA Page 9 Relatório PIBAgro-Brasil Em julho, a Petrobras reajustou em +6% o preço do óleo diesel comercializado nas refinarias da estatal em todo o País. Com isso, o preço do grupo de combustíveis e lubrificantes disparou entre os meses de julho e setembro, mantendo-se em patamar superior a partir de então. Na comparação entre os períodos (2012/2011), a alta de preços foi de 1,33% (já descontada a inflação). Em volume, o cenário também foi positivo, e ainda mais expressivo, com aumento de 4,61%. 8,00% 6,63% 6,00% 4,61% 4,00% 1,33% 1,41% 2,85% 0,00% -1,40% -0,81% -4,00% -8,00% Comb. e Lubrificantes Fertilizantes e Adubos Valor Preço -6,98% Alm para animais Volume Figura 3-Variação acumulada do volume, dos preços e dos valores dos insumos (2012/2011) Fonte: Cepea/USP e CNA (elaborado a partir de dados do IBGE; FGV e ANDA) PREÇOS AGRÍCOLAS ACELERAM, MAS NÃO CONTÊM QUEDA NO FATURAMENTO No primeiro semestre do ano, a combinação de preços e volumes em queda nas atividades primárias do agronegócio refletiu em sucessivas perdas no faturamento do segmento. A partir de julho, a aceleração nos preços de importantes produtos agrícolas voltou a dar fôlego ao segmento, que passou a crescer (Figura 2 e Tabela 5). Ainda assim, no balanço anual, o desempenho foi ligeiramente negativo: taxa de -0,50%. No segmento primário da agricultura, o panorama anual foi composto por queda na produção (-2,19%), mas preços em alta (+4,45%). Daí, o desempenho estável do faturamento: +0,03% no ano. Na Figura 4, são apresentadas as perspectivas para as atividades agrícolas, que tomam como base as estimativas de safra e a evolução dos preços em 2012. Entre as lavouras, o faturamento do algodão, da cana, da laranja e da mandioca decresceu em 2012. Pesou neste resultado, o desempenho negativo tanto dos preços quanto do volume. Segundo pesquisadores Cepea, o comportamento do mercado brasileiro de algodão em 2012 foi atípico. A baixa qualidade da pluma disponível, o atraso na colheita e beneficiamento e o grande volume contratado para exportação dificultaram as negociações no mercado interno no decorrer do ano. Em preços, o cenário foi de consecutivas mudanças de tendência, o que, no balanço de 2012, se traduziu em queda de 38,69%, quando comparado a 2011. Na atividade canavieira, os resultados não foram mais desanimadores porque as chuvas ocorridas na segunda metade do ano proporcionaram recuperação da produtividade dos canaviais na região Centro-Sul do Page 10 CEPEA- CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA Relatório PIBAgro-Brasil País, em especial, devido à entrada em produção de áreas renovadas e áreas novas que apresentam produtividade maior. Em preços, porém, o cenário de queda se estendeu durante todo o segundo semestre e, na comparação com 2011, a baixa foi de 3,26%. Para a citricultura, 2012 foi um ano marcado por problemas. Doenças como a pinta-preta, o cancro cítrico e o greening atingiram as lavouras, além que o excesso de estoques nas indústrias dificultou a aquisição das frutas, que, em alguns casos, apodreceram nos pomares. Segundo agentes do setor, a estagnação do mercado europeu e as restrições comerciais impostas pelos EUA agravaram ainda mais a situação, sendo apontadas como responsáveis pelos prejuízos à citricultura nacional. No caso da mandioca, a menor produção (-4,4%) refletiu os efeitos da forte seca sobre a produtividade das principais regiões produtoras. Segundo pesquisadores do Cepea, além do Nordeste do País, as regiões produtoras de mandioca do Paraná, Mato Grosso do Sul e São Paulo também apresentaram problemas por conta da estiagem e, em vários momentos, os trabalhos de colheita foram dificultados no segundo semestre de 2012. A menor oferta de raiz e a demanda crescente por matéria-prima pelas indústrias de fécula e de farinha acabaram elevando fortemente os preços da raiz de mandioca após setembro de 2012. Ainda assim, na comparação do preço médio de 2012 com o de 2011, o cenário foi de baixa: taxa de -13% (já descontada a inflação). As atividades do cacau, do café e da uva também fecharam o ano em queda, mas apenas a queda de preços justifica tal desempenho. No caso do cacau, agentes ligados ao setor afirmam que os baixos preços em 2012 se deveram aos estoques acima da média e às perspectivas de ampla produção frente a um cenário de consumo estagnado em termos mundiais. Embora o consumo de cacau esteja em expansão no Brasil e em alguns outros mercados emergentes, esses ainda representam uma parcela relativamente pequena do consumo global. No café, o primeiro semestre de 2012 foi de preços elevados, tanto para o arábica quanto para o robusta. Neste cenário, as negociações tiveram boa liquidez. Já entre julho e dezembro, os preços desta variedade apresentaram sucessivas quedas e forte retração vendedora. Segundo pesquisadores do Cepea, as justificativas para a desvalorização na segunda metade de 2012 são variadas. A principal é a produção mundial recorde; outra reflete o impacto do cenário econômico internacional sobre os mercados futuros de commodities como um todo. No Brasil, pesa também a redução dos lotes de grãos de boa qualidade. Em relação ao café robusta, a safra no Brasil começou – oficialmente em julho – com preços elevados e até o final do ano houve relativa sustentação, apesar de a produção também recorde na atual safra. O principal suporte tem sido a forte retração dos vendedores brasileiros num contexto de demanda firme, principalmente por parte das torrefadoras nacionais. A mamona, o tomate e o trigo também estão entre as atividades com queda em relação ao ano anterior, sendo que, nestas atividades, os volumes em baixa justificam o desempenho negativo em 2012. No caso do tomate, o atípico excesso de chuva no período de desenvolvimento das lavouras reduziu a produtividade na safra de inverno, limitando a oferta em alguns meses do ano. Esse cenário repercutiu sobre os preços. A variedade do tomate salada 2A registrou as maiores altas na Ceagesp, considerando-se a série histórica que começou em 2002. Outras variedades, como o santa cruz e o italiano, também tiveram preços em elevados níveis ao longo do ano. Para 2013, as indústrias de atomatados esperam que a produção volte a crescer, caso contrário, serão obrigadas a aumentar as importações de tomate em pasta para atendar à crescente demanda do mercado nacional. Em sentido contrário, os maiores patamares dos preços do amendoim e da cebola paralelos à expansão da produção anual refletiram em avanço do faturamento. As culturas do arroz, da banana, da batata, do feijão, do fumo e da soja também registraram crescimento, entretanto, nestas atividades, o bom desempenho apenas dos preços é que justifica o avanço do faturamento. Segundo pesquisas do Cepea, 2012 foi marcado por patamares elevados de preços de arroz. O impulso para as altas veio da retração por parte de orizicultores. Além disso, fortes chuvas e granizo prejudicaram a CEPEA - CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA Page 11 Relatório PIBAgro-Brasil produção em parte das regiões do Rio Grande do Sul, reduzindo o volume produzido em localidades como a Depressão Central. No início de outubro, o movimento de alta foi interrompido, e os valores seguiram enfraquecidos até o final de 2012. Conforme pesquisas do Cepea, no início do ano, produtores de soja já temiam significativa quebra na produção diante da forte estiagem. Com isso, no final do primeiro trimestre, os valores da soja nos mercados interno e externo já caminhavam para patamares recordes, comportamento atípico para o período, uma vez que abrange o pico de colheita no Brasil. Em maio, a crise da Grécia levou à expressiva valorização do dólar, influenciando também novos reajustes da soja no Brasil. No princípio do segundo semestre, a expectativa de aumento na safra norte-americana passou a influenciar o mercado internacional. Porém, o clima quente e seco prejudicou o desenvolvimento das lavouras de soja nos Estados Unidos, sendo retomado o cenário do final do primeiro semestre. Com isso, no Brasil, tanto os valores FOB de exportação quanto no interior voltaram a bater recordes. O milho também registrou forte aceleração de preços no segundo semestre de 2012, reflexo da quebra na safra dos Estados Unidos - considerado o maior produtor e também o principal exportador de milho para o mundo. Ainda assim, na comparação com 2011, o preço médio do grão foi 7,17% menor (já descontada a inflação). Por outro lado, a combinação de investimentos, bom clima e quebra de safra no exterior refletiu em expressiva alta (+27%) na produção brasileira de milho, puxando o faturamento da atividade. . Page 12 CEPEA- CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA 50% 30% 10% -10% -30% -50% -70% -90% Valor Preço Quantidade Algodão Amendoim Arroz Banana Batata Cacau Café Cana Cebola Feijão Fumo Laranja Mamona Mandioca Milho Sisal Valor -42,15 31,69 13,08 0,37 14,51 -10,57 -13,14 -8,69 31,08 14,01 6,49 -39,27 -78,52 -16,46 18,02 -39,88 Preço -38,69 1,21 32,71 4,16 31,86 -14,73 -25,69 -3,26 31,01 45,82 26,15 -36,52 -0,17 -12,97 -7,17 -2,02 Quantidade -5,65 30,11 -14,79 -3,63 -13,16 4,88 16,88 -5,61 0,05 -21,81 -15,59 -4,33 -78,49 -4,01 27,13 -38,64 Figura 4 – Variação acumulada do volume, dos preços e dos valores das Lavouras (janeiro a dezembro) – 2012/2011 Fonte: Cepea/USP e CNA (elaborado a partir de dados do IBGE, Conab, IEA/SP, FGV, Cepea e Seagri/BA) Soja Tomate 18,30 -11,15 34,24 7,30 -11,87 -17,20 Trigo -17,46 6,75 -22,67 Uva -11,79 -12,38 0,67 As atividades primárias da pecuária seguiram estáveis em dezembro (taxa de +0,02%). No ano, o segmento registrou queda de 1,49%. Entre as atividades, a bovinocultura de corte amargou o pior desempenho: queda de 6,11% (Figura 5). Este desempenho foi resultado da expressiva baixa nos preços do animal vivo, que atingiram taxa de -12,05% na comparação com 2011. Por outro lado, o volume manteve-se em alta (+6,75%), impedindo piores resultados. Conforme agentes consultados pelo Cepea, o mercado do boi gordo em 2012 foi marcado por forte insegurança, quando não por frustração. Os fatores macroeconômicos relacionados à persistência da crise na Zona do Euro e à inflação foram responsáveis pelas maiores dificuldades enfrentadas pelo setor em 2012. As condições desfavoráveis das pastagens, decorrentes da forte seca, e também o desânimo de confinadores até fizeram com que os preços da arroba aumentassem em agosto e em setembro, mas estes não se sustentaram. Em dezembro, com a notícia que trouxe à cena o mal da “vaca louca” em território brasileiro – ainda que a doença não tenha se manifestado no País –, as perspectivas de avanço dos preços foram mais uma vez frustradas. Menor patamar de preços também marcaram as atividades leiteira e de suínos, mas, nestes casos, a expansão na produção compensou as perdas. O resultado anual foi positivo em 1,55% e 3,99%, respectivamente. Vale destacar que, em ambas, os últimos meses do ano foram de aceleração de preços, o que, no caso da suinocultura, refletiu a redução da oferta de animais para abate frente aos elevados custos da alimentação animal. Na atividade leiteira, a recomposição dos preços foi igualmente motivada por restrição na oferta, também decorrente dos custos de produção que subiram em torno de 20% segundo pesquisadores do Cepea. O desempenho positivo tanto em preços quanto em volume marcou as atividades da avicultura e de produção de ovos em 2012 (Figura 5). Com isso, tais atividades acumularam, no ano, crescimento de 4,73% e de 19,22%, respectivamente. Pesquisadores do Cepea destacam que o movimento ligeiramente ascendente dos preços do frango na maior parte do primeiro semestre não foi suficiente para manter produtores animados com a atividade, uma vez que a pressão dos custos era grande. Muitos avicultores chegaram a reduzir o alojamento de pintinhos baixando a oferta nos meses seguintes. Conforme dados do Cepea, o resultado foi o aumento paulatino das cotações ao longo do segundo semestre. Veja na Figura 5 a variação dos preços reais, dos volumes produzidos e do faturamento das atividades da pecuária em 2012 em relação a 2011. 30,0% 19,2% 20,0% 12,3% 10,0% 6,7% 4,7% 2,7% 2,0% 0,0% Boi gordo -10,0% 3,2% 1,5% -1,6% Frango Leite 6,2% Ovos 5,3% 4,0% -1,2% Suínos -6,1% -12,0% -20,0% Valor Preço Quantidade Figura 5. Variação acumulada do volume e dos preços da pecuária (janeiro a dezembro)-2012 Fonte: Cepea/USP e CNA (elaborado a partir de dados da Cepea, FGV e IBGE) Relatório PIBAgro-Brasil RECUPERAÇÃO TARDIA NA AGROINDÚSTRIA NÃO IMPEDE QUEDA NO ANO Refletindo a expansão da demanda no final do ano, o segmento industrial do agronegócio seguiu crescendo em dezembro: +0,54%. Embora o segmento tenha registrado taxas positivas no último trimestre, esta recuperação tardia não foi suficiente para reverter a tendência de queda dos meses anteriores, resultando em: taxa de -3,71% no ano. Na indústria de base agrícola, a renda manteve expansão em dezembro: +0,78%, reduzindo para 3,04% a queda no ano. Este desempenho negativo foi influenciado pela baixa no faturamento anual de quatro das dez atividades industriais acompanhadas (Figura 6). A indústria de Elementos químicos (etanol) fechou o ano com a queda mais expressiva: taxa de -14,33%. O declínio anual foi, em parte, contido pela recuperação dos volumes processados pelo complexo (Figura 6). Em preços, o cenário seguiu preocupando. Segundo pesquisas do Cepea, os preços do etanol oscilaram menos em 2012, mas, sistematicamente, mantiveram-se em patamares menores que os de safras anteriores. No varejo, o consumo de gasolina C aumentou, mas o hidratado, novamente, esteve em desvantagem. O principal motivo foi a perda de competitividade econômica desse combustível frente ao derivado de petróleo. A indústria do açúcar também sofreu consecutivas quedas de preços, prejudicando o faturamento da atividade em 2012: taxa de apenas +0,62%. Pesquisas do Cepea apontam que o principal motivo para o menor patamar dos preços na temporada 2012/13 foi a oferta mais abundante do açúcar. Ao contrário do que ocorreu nas três safras anteriores, na presente, o volume produzido – tanto na região Centro-Sul do Brasil como em outros importantes produtores mundiais – não foi prejudicado por condições climáticas desfavoráveis e a produção de açúcar no Centro-Sul brasileiro foi superior à prevista no início da safra. Pressionadas pelo crescimento das importações (em especial, da China) e pelos aumentos salariais, decorrentes da aceleração dos serviços, as indústrias Têxtil e de Vestuário recuaram de forma expressiva em 2012: taxa de -10,75% e -13,65%, respectivamente. Em ambas, o desempenho anual negativo envolveu o recuo tanto dos preços quanto dos volumes processados. Vale destacar que, no último trimestre, estas indústrias registraram melhor desempenho. Segundo pesquisadores do Cepea, diferente de anos anteriores, quando as indústrias de fiação já sinalizavam férias coletivas para dezembro, neste ano, as operações tiveram continuidade, apontando para vendas internas firmes. Consideram ainda que a melhora na renda da população e maior taxa de câmbio, que encarece importações, também favoreceram empresas internas do setor. Na indústria de Beneficiamento de produtos vegetais, o desempenho negativo no quantum produzido justifica a baixa no ano: -1,55%. A indústria de Outros alimentos também registrou baixa no volume processado, mas os preços em alta compensaram tal queda e, no balanço do ano, a atividade, ainda que de forma modesta, cresceu 0,78%. Cenário oposto foi observado nas indústrias de Madeira e Mobiliário e Celulose, Papel e Gráfica que, no ano, registraram queda em preços, mas aumento no volume, o que, ao final, refletiu em crescimento de 1,82% e 0,66%, respectivamente. Com crescimento tanto em preços quanto em volume, a indústria do café se destacou com expansão de 11,79%. Para a Associação Brasileira da Indústria de Café (ABIC), o desempenho positivo em 2012 está ligado à conduta do mercado interno de café que, desde o início do ano, veio ganhando força em todas as regiões. A indústria de óleos vegetais também manteve destaque, fechando o ano com alta de 8,84%. Nesta atividade, apenas a ascensão dos preços explica o desempenho positivo, uma vez que, em volume, o cenário foi de baixa, dada a queda no processamento do óleo de soja. Na Figura 6, são apresentadas as variações do volume, dos preços reais e do valor do faturamento das principais agroindústrias em 2012, em relação a 2011. CEPEA - CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA Page 7 Relatório PIBAgro-Brasil 20% 15% 10% 5% 0% -5% -10% -15% -20% Valor Preço Quantidade Figura 6. Variação acumulada do volume, dos preços e valores das Agroindústrias – 2012 /2011 Fonte: Cepea/USP e CNA (elaborado a partir de dados do IBGE, FGV e Cepea) A indústria de base pecuária manteve trajetória de queda em dezembro (-1,03%), levando para 7,91% o recuo acumulado no ano. Essa performance ruim foi condicionada pela queda na renda anual das três indústrias analisadas: Laticínios, Calçados e couro e Abate de animais (Figura 6). A indústria de Laticínios, que desde o início do ano registrou consecutivas baixas, fechou 2012 com o pior desempenho: taxa de -0,62% em dezembro e de -9,51% no acumulado do ano. Este resultado poderia ter sido ainda mais desanimador não fosse a aceleração nos preços dos derivados a partir do segundo semestre. Na avaliação de colaboradores do Cepea, o aumento nas cotações esteve atrelado à redução na oferta de todos os derivados lácteos, por conta da estiagem nos meses anteriores, que limitou a captação da matéria-prima. Paralelamente, pesquisadores do Cepea destacam que o custo do leite ao produtor cresceu mais de 20% em 2012, afetando diretamente a rentabilidade da atividade. A isso, somam-se problemas climáticos, que atrasaram o plantio e a produção de pastagens nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Mesmo com preços em aceleração, a indústria de Abate seguiu em trajetória de queda: taxa mensal de 1,38%, levando para 6,20% a retração anual. De forma geral, a alta nos custos com as rações, que marcou o segundo semestre do ano, fez com que muitos produtores (em especial, de suínos e frango) vendessem animais mais leves quando as cotações estavam em baixa, apontam pesquisas do Cepea. Essa medida refletiu diretamente sobre a oferta no fim do ano, o que impulsionou os preços. No caso da carne bovina, o aumento das cotações combinado ao nível de endividamento da população inibiu o consumo e dificultou a sustentação dos preços da carne. A indústria de Calçados cresceu no último trimestre do ano, reduzindo para 5,91% o declínio no ano. O ritmo das importações de calçados pesou duramente sobre o faturamento da atividade. De janeiro a dezembro, o setor calçadista brasileiro registrou redução de 16% no faturamento em dólar com as exportações e aumento de 20% no valor gasto com importações. Como observado no setor têxtil, os produtos de origem chinesa são os principais concorrentes dos calçados nacionais. Apesar de crescer nos últimos meses, o ano de 2012 também foi de recuo para o segmento de distribuição (comércio e transporte) do agronegócio brasileiro: taxa de -2,16%. No setor agrícola, o desempenho do segmento foi positivo em dezembro (+0,77%), reduzindo para apenas 0,97% a queda no ano. Já o segmento de distribuição do setor pecuário decresceu 0,65% no mês, acumulando no ano taxa de -5,26%. Page 8 CEPEA- CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA Relatório PIBAgro-Brasil CONCLUSÕES O desempenho do agronegócio em 2012 foi marcado por diferentes cenários ao longo do ano. Nos primeiros meses, a expectativa de desaceleração da economia chinesa e a crise na Grécia e na Espanha geraram preocupações e cautela no comportamento dos agentes. Em maio, a recapitalização dos bancos europeus e a entrada de mais dólares na economia norte-americana reaqueceram os ânimos no mercado de commodities. Paralelamente, as dificuldades de produção na Rússia e a seca nos Estados Unidos prejudicaram a safra de grãos, o que refletiu em aumento nas cotações internacionais, espalhando-se para outros mercados. No Brasil, problemas climáticos adversos – seca no período de desenvolvimento das culturas e excesso de chuva na época da colheita – também seguiram prejudicando a produtividade de diversas lavouras, reaquecendo os preços e, por conseguinte, a preocupação com a inflação. No segundo semestre, o desempenho do agronegócio melhorou, tendo em vista a alta nos preços dos grãos e oleaginosas – em volume, as estimativas de baixa na produção de diversas cultura foram mantidas. Paralelamente, impulsionados pelo frete mais caro e custo de produção maior, os preços dos fertilizantes seguiram em alta, comprometendo a renda dos produtores. Para a pecuária, a aceleração no preço dos grãos resultou em aumento no custo das rações. A atividade leiteira e a suinocultura foram as que mais sofreram com esse cenário, uma vez que também enfrentaram menores patamares de preços em relação a 2011. Com a avicultura não foi diferente e, embora tenha conseguido repassar parte da alta dos custos ao preço do animal, esse aumento não chegou a repor os maiores gastos com os custos de produção. No caso da bovinocultura de corte, muitos produtores desistiram do confinamento em função do aumento dos custos para alimentar os animais. A agroindústria, por sua vez, seguiu pressionada pelas importações e pelos aumentos salariais. O peso dos produtos asiáticos foi sentido com intensidade pelas indústrias calçadista, têxtil e de vestuário. Diante desse cenário negativo, o governo federal anunciou uma série de medidas, visando aumentar a competitividade do setor. Entretanto, o pacote adotado foi duramente criticado, uma vez que, para os agentes ligados à indústria, tais medidas podem até ser positivas em alguns aspectos, mas ainda não resolvem o problema nacional, que é a falta de competitividade. A concorrência com a China é difícil de ser batida. Além da mão de obra mais barata, a diferença tributária entre Brasil e China prejudica o produto brasileiro. O efeito dos problemas climáticos tanto internamente, por conta da seca, quanto pelo aumento dos preços internacionais de importantes commodities foi sentido no bolso do consumidor. Segundo o IBGE, o grupo de despesas com alimentos foi o principal responsável pela inflação em 2012, registrando alta de 9,86% e respondendo por quase metade da taxa total do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). CEPEA - CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA Page 9 Relatório PIBAgro-Brasil Tabela 5 - Variação do PIB do agronegócio nacional (%) AGROPECUÁRIA 2011/2012 Insumos Básico (A) Indústria Distribuição Agronegócio Global(B) 0,43 0,22 -0,22 Dezembro 0,25 -0,04 -0,85 Janeiro -0,17 -0,35 -0,66 Fevereiro -0,25 -0,20 -0,57 Março -0,05 -0,45 -0,86 Abril -0,53 -0,68 -0,54 Maio 0,08 0,03 -0,82 Junho 0,11 0,15 -0,44 Julho 0,43 0,22 -0,53 Agosto 0,08 0,20 -0,62 Setembro -0,02 0,09 0,17 Outubro 0,37 0,45 1,43 Novembro -0,01 0,11 0,54 Dezembro 0,29 -0,50 -3,71 Acum. no Período (2012) Obs.: (A) Somente a agropecuária; (B) Todo o Agronegócio da Agropecuária. 0,09 -0,40 -0,31 -0,25 -0,55 -0,41 -0,41 -0,21 -0,38 -0,28 0,05 0,59 0,39 -2,16 0,08 -0,36 -0,41 -0,33 -0,56 -0,54 -0,35 -0,14 -0,16 -0,20 0,09 0,77 0,31 -1,89 AGRICULTURA 2011/2012 Insumos Básico (C) Indústria 0,20 -0,37 -0,16 Dezembro 0,37 -0,08 -0,92 Janeiro -0,29 -0,56 -0,64 Fevereiro -0,34 -0,31 -0,52 Março -0,07 -0,65 -0,88 Abril -0,78 -1,06 -0,52 Maio 0,19 0,09 -0,86 Junho 0,28 0,44 -0,41 Julho 0,67 0,49 -0,39 Agosto 0,28 0,51 -0,62 Setembro -0,05 0,25 0,17 Outubro 0,58 0,76 1,75 Novembro 0,03 0,15 0,78 Dezembro 0,85 0,03 -3,04 Acum. no Período (2012) Obs.: (C) Somente a agricultura; (D) Todo o Agronegócio da Agricultura. Distribuição Agronegócio Global(D) 0,05 -0,46 -0,25 -0,15 -0,59 -0,42 -0,43 -0,11 -0,18 -0,19 0,06 0,99 0,77 -0,97 -0,11 -0,45 -0,47 -0,34 -0,65 -0,64 -0,39 -0,04 0,00 -0,12 0,13 1,15 0,55 -1,27 PECUÁRIA 2011/2012 Dezembro Janeiro Fevereiro Page 10 Insumos 0,78 0,03 0,06 Básico 1,05 0,02 0,04 (E) Indústria -0,62 -0,44 -0,78 Distribuição Agronegócio Global(F) 0,17 -0,24 -0,45 0,51 -0,14 -0,25 CEPEA- CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA Relatório PIBAgro-Brasil -0,07 0,01 -0,88 Março -0,03 -0,10 -0,73 Abril -0,09 0,01 -0,68 Maio -0,10 -0,09 -0,58 Junho -0,20 -0,38 -0,63 Julho 0,00 -0,28 -1,39 Agosto -0,29 -0,38 -0,60 Setembro 0,04 -0,21 0,15 Outubro -0,01 -0,15 -0,59 Novembro -0,08 0,02 -1,03 Dezembro -0,73 -1,49 -7,91 Acum. no Período (2012) Obs.: (E) Somente a pecuária; (F) Todo o Agronegócio da Pecuária. Fonte: CEPEA-USP e CNA -0,53 -0,46 -0,40 -0,35 -0,46 -0,89 -0,52 0,00 -0,46 -0,65 -5,26 -0,32 -0,31 -0,25 -0,25 -0,42 -0,61 -0,44 -0,05 -0,30 -0,37 -3,63 Tabela 6 - Variações Mensais e Acumulada no ano (%) da Agroindústria 2012 INDÚSTRIA 2011/2012 Dezembro Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Acum. no Período (2012) Madeira e Mobiliário -0,69 0,13 0,08 0,56 0,33 0,37 0,00 0,00 -0,16 -0,29 0,49 0,34 -0,03 1,82 Celulose, Papel e Gráfica -0,07 -0,37 -0,25 -0,18 0,06 -0,02 0,10 0,27 0,09 0,33 0,16 0,69 -0,23 0,66 Elementos Químicos -1,33 -3,23 -3,71 -3,33 -3,98 -3,25 -4,09 -2,28 -0,85 -3,42 1,09 9,89 2,67 -14,33 Têxtil Vestuário Café -2,57 -1,96 -2,25 -2,14 -2,06 -1,66 -1,01 -0,57 -0,48 -0,14 0,43 0,14 0,43 -10,75 -1,51 -0,32 -0,92 -0,76 -1,25 -1,74 -1,98 -1,27 -1,90 -1,58 -1,27 -2,03 0,47 -13,65 1,93 2,36 2,09 1,82 1,61 0,87 0,84 0,08 0,20 -0,03 -1,01 -1,22 3,69 11,79 INDÚSTRIA 2011/2012 Dezembro Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Beneficiamento de Produtos Vegetais Açúcar Óleos Vegetais Outros Alimentos Calçados 2,30 -0,71 1,95 1,13 -1,15 0,87 -0,77 -0,26 -1,62 -1,03 -1,12 -0,63 0,03 -1,18 -2,85 -3,44 -0,92 -1,81 -1,58 -0,72 0,28 0,50 0,67 1,18 0,37 0,19 0,32 0,41 0,41 0,21 0,28 0,15 -1,19 -0,76 -0,69 -0,66 -0,67 -1,13 -0,80 -0,55 CEPEA - CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA Abate de Laticínios Animais -0,68 -0,36 -0,76 -0,91 -0,66 -0,72 -0,37 -0,11 -0,32 -0,52 -0,86 -0,90 -0,89 -0,46 -0,98 -1,80 Page 11 Relatório PIBAgro-Brasil Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Acum. no Período (2012) Fonte: CEPEA-USP e CNA Page 12 -1,94 0,90 -0,24 -0,52 -0,74 -1,55 -1,82 -5,95 1,88 10,66 7,17 0,62 1,84 0,80 -0,81 -0,29 8,83 8,84 0,07 -0,27 0,01 -0,28 -0,74 0,78 -0,96 -0,77 0,50 0,19 0,24 -5,91 -1,05 -0,66 0,17 -0,89 -1,38 -7,43 -2,28 -0,44 -0,01 -0,17 -0,62 -9,51 CEPEA- CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA