A Liderança como Relação Social:
Uma Abordagem a Partir das Categorias Sociológicas Weberianas
Autoria: Antonio dos Santos Silva, Antonio Carvalho Neto
Resumo
Neste ensaio, discutem-se possibilidades de aplicação da sociologia weberiana para estudar
liderança. Extraíram-se de Weber três conjuntos de fatores. O primeiro é constituído pelos
atores da ação social e os determinantes da racionalidade individual. O segundo discrimina o
meio no qual a relação social ocorre, enfatizando o grau de maturidade institucional da
organização: carismático, tradicional ou burocrático. O terceiro elenca um grupo de
condicionantes ambientais que atuam como limitadores da ação individual. Propõe-se esta
abordagem por se acreditar que um distanciamento das abordagens dos estudos da Nova
Liderança pode contribuir na elucidação da confusão teórica que cerca o construto liderança.
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1- INTRODUÇÃO
Neste ensaio pretende-se discutir as possibilidades de se utilizar a sociologia
compreensiva, tal como a entendia Max Weber, para o estudo do fenômeno liderança. O que
significa uma revisão de conceitos sociológicos weberianos e posteriormente a defesa da
aplicação deles para explicitação do construto liderança. Constitui, assim, a defesa de uma
perspectiva baseada nos estudos weberianos para se abordar um fenômeno que apesar do
grande número de artigos publicados e da existência de várias teorias já consolidadas a seu
respeito, permanece polarizando mais dissenso do que consenso.
Algumas questões podem ser formuladas sobre a propriedade de mais um ensaio sobre
o tema: há algum conhecimento a ser perseguido que ainda justifique pesquisas e discussões
sobre liderança? Entende-se que sim. A liderança como relação social e de poder assimétrico
entre líderes e liderados, ainda se apresenta pouco estudada. Ou, colocado sob outro prisma,
que contribuições uma abordagem weberiana poderia oferecer ao entendimento do tema
liderança no início do século XXI, uma vez que se trata de uma teoria centenária a ser
aplicada num tema “da atualidade”? Argumenta-se que, embora os conceitos e princípios
weberianos tenham sido contemplados em vários estudos organizacionais e comportamentais
para explicação de fenômenos sociais, a sua perspectiva teórica sobre autoridade ainda possui
enorme potencial de aplicabilidade em temas atuais, notadamente para o construto liderança.
Ademais, parece incrível que no início dos anos 2000 ainda não se consiga estabelecer
um conceito ou mesmo uma definição clara para o fenômeno liderança ao associá-lo aos
estudos organizacionais (SANT’ANNA et al, 2009; FERREIRA; SANT’ANNA; SARSUR,
2010). Já há algum tempo autores como Burns (1978), advertiam para falta de consenso sobre
o conceito, chegando a listar 130 definições diferentes para o termo liderança. Bennis e Nanus
(1988) falam de 350 definições. Em contraste à produção teórica, no dia a dia as pessoas
tendem a se utilizar do termo liderança com indisfarçável segurança ao se referirem sobre
várias situações do cotidiano em que indivíduos ou organizações se diferenciam dos pares ao
infligir aos demais algum tipo de distinção de ideias e ou ideais (BENNIS; NANUS, 1988).
Estariam as teorias construídas sobre liderança tão distanciadas da prática social, a ponto de
não conseguir discuti-la com propriedade? (YULK et al., 1990; BECKER; HUSELID, 2006).
Ao que parece esses estudos precisam ser oxigenados com outras visões.
Para tanto, assume-se como pressuposto básico deste ensaio que o aparente
esgotamento do tema liderança identificado pelos pesquisadores atualmente (SANT’ANNA;
CAMPOS; VAZ, 2010; FERREIRA; SANT’ANNA; SARSUR, 2010), tem sua origem na
pouca capacidade explicativa que os estudos estão apresentando para o fenômeno por dois
motivos: estarem excessivamente direcionados para análises de viés psicológico de eventos
intraorganizacionais e por não estarem lastreadas em teorias mais abrangentes, como ocorrido
até o final da década de 1970. Isso porque, após esse momento histórico, que marca para as
teorias organizacionais o pós-modernismo, houve uma fragmentação em várias linhas
teóricas, com abordagens bem diferentes sobre a realidade organizacional (NELSON, 2010).
Essa fragmentação é sentida nos estudos sobre liderança pela profusão de adjetivos
adicionados ao termo, que tiveram como efeito a corrosão ainda maior do significado nuclear
do termo. Donde se depreende a necessidade de uma retomada desses estudos sob a ótica de
teorias mais abrangentes.
A proposta recai sobre a sociologia da ação, abordagem compreensiva para estudo de
fenômenos sociais, desenvolvida e aplicada por Max Weber, porque segundo essa teoria, o
interesse do pesquisador tem como foco a relação social e não somente as percepções
psicológicas dos atores sociais. Trata-se do estudo da relação social abrangendo suas possíveis
causas e efeitos numa perspectiva que transcende os limites da organização. Pretende-se, pois,
reforçar, em acordo com Sant’Anna et al (2010), que o estudo do fenômeno liderança deve
2
englobar aspectos para além do âmbito organizacional, considerando também as perspectivas
do indivíduo e da sociedade, como forma de compreendê-lo em suas várias facetas e
interseções.
Não se afirma que os princípios weberianos não tenham sido utilizados em pesquisas
anteriores sobre o tema liderança. É notória a influência desse autor em vários campos de
pesquisa científica, aqui especificamente relacionado à liderança carismática. Cabe
questionar, todavia, se pesquisas em administração não estariam contemplando apenas
parcialmente o legado de conhecimentos dos autores clássicos, o que implicaria em distorção
dos achados e a não assimilação de riquezas das revelações que essas pesquisas poderiam
fornecer. Uma análise a priori, através da literatura sobre epistemologia e metodologia do
trabalho científico, indicaria que as limitações sentidas em pesquisas podem ser consequência
da aplicação indevida dos métodos de pesquisa disponíveis (WEBER, 2006), como: escolha
de visões ontológicas conflitantes com o objeto pesquisado (VAN de VEN; POOLE, 2005);
construção de desenhos de pesquisas e análise deficientes em relação ao objeto em estudo
(NUMAGAMI, 1998), e; consequências indesejáveis de conflitos entre fatos e valores do
pesquisador no curso da avaliação de resultados da pesquisa (WEBER, 2004; 2006). O que,
em tese, justifica revisitar teorias mais robustas quando a confusão conceitual em determinado
fenômeno se estabelece.
Acredita-se que uma análise mais criteriosa dos aspectos supracitados indicaria a
aplicação parcial, ou visões particulares sobre teorias, mescladas com as análises
comportamentalistas aplicadas aos estudos sobre liderança, cuja revisitação pode esclarecer
pontos obscuros no entendimento do fenômeno. Da mesma forma, se acredita que o uso
corrente das teorias, inclusive a weberiana, em abordagens parciais têm levado a algumas
distorções de entendimento e aplicação dos princípios sociológicos e do método defendidos
por esses autores, distorcendo por fim, análises e conclusões de pesquisas. Talvez por isso, o
quadro atual que apresentam os pesquisadores sobre liderança tem exibido certo ceticismo
quanto aos próprios resultados para explicação do fenômeno. Após terem coletado dados e os
analisado segundo referenciais teóricos sofisticados, quase sempre estabelecendo uma
evolução histórica para o fenômeno, parece que os resultados não os satisfazem plenamente. É
como se algo faltasse (SANT´ANNA et al, 2009)
Dados os conflitos apresentados, pode-se defender que o construto liderança carece de
um retorno ao campo ancorado por teorias e técnicas de pesquisa que se sustentem pela
epistemologia e pelo método, caracterizando unicidade na teoria e na técnica, e
consequentemente, um modo de se elaborar raciocínios bem delimitados sobre fatos, para que
se possa definir o quanto possível suas dimensões.
Nas próximas seções serão apresentados os fundamentos da sociologia compreensiva
weberiana e em seguida a defesa do uso desta abordagem no estudo da liderança.
2- FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Sociologia da ação: fundamentos epistemológicos e metodológicos
A sociologia da ação nasceu na Alemanha com os estudos de Simmel e Max Weber,
tendo como marco a obra Os problemas da filosofia da história, de 1892, do primeiro autor, e
Economia e sociedade (ES) e Ensaio sobre a teoria da ciência, ambas de 1922, do segundo.
Essas obras podem ser consideradas como manifestos fundadores da sociologia da ação,
sendo que ES tornou-se a obra referência para estudos sociológicos com essa perspectiva.
Sociologia é uma palavra com múltiplos significados. No sentido empregado nesse
trabalho e também na obra Weber (2004, p. 3), sociologia é uma ciência que procura
“compreender interpretativamente a ação social” de forma a poder “explicá-la causalmente
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em seu curso e em seus efeitos”.
Em estudos de fenômenos sociais, ou fenômenos da ciência da cultura, como prefere
Weber (2006), o autor opõe-se aos princípios positivistas (que prescrevem a construção de
leis invariáveis, cada vez mais gerais para o objeto em estudo), o que se observa, inclusive,
em sua definição de sociologia, ao dizer da necessidade de se compreender o fenômeno de
forma interpretativa, buscando-lhe as causas e examinando-lhe os efeitos. Assim, a análise
sociológica, no sentido weberiano, torna-se uma análise de um fenômeno particular, em
profundidade, constituindo-se numa possível explicação ao fenômeno, explorando a riqueza
das conexões que o constituem, porém com generalização limitada, porque considera os
fenômenos sociais como dinâmicos, frutos da luta (cultural) entre os atores sociais
(BOUDON, 1995).
Importante dizer que Weber (2004, p. 3) erige sua análise sociológica sobre o
reconhecimento de categorias que considera fundamentos das ciências sociais, os seus pilares.
Donde deriva um elemento importante da definição weberiana de sociologia: a ação social. A
ação é entendida como um comportamento humano, que pode ser um “fazer” externo ou
interno (de omitir ou permitir) que os agentes relacionem com um sentido subjetivo. Ação
social, portanto, é uma ação cujo sentido visado pelo agente refere-se ao comportamento de
outros, sendo este a orientação de seu curso. Não se trata, todavia, de um sentido
objetivamente correto ou verdadeiro, no sentido da ética ou da moral, o que, se observado no
caso específico deste trabalho, redundaria em não se considerar como lideranças aquelas
pessoas cujos efeitos das ações ferissem tais princípios, muito embora pudessem constituir
relações sociais típicas segundo o ponto de vista de uma ação social com sentido. A História é
pródiga de exemplos de pessoas que exerceram liderança com posturas amorais e antiéticas,
como Hitler e Napoleão. Ainda assim, não se pode negar que eles exemplifiquem tipos de
líderes (WHIMSTER, 2009).
Por outro lado, há também nos estudos da Nova Liderança, que serão abordados mais
à frente, um tipo de ação com sentido, porém advindo de um comportamento puramente
reativo, mesmo admitindo-se limites muito fluidos entre essas classes de ações. Essa distinção
ajudaria na compreensão, por exemplo, da liderança Laissez Faire, dentro da abordagem da
Nova Liderança, na qual o líder permite a ação proativa dos liderados, mas, que ainda assim,
exemplifica uma ação com sentido (CARVALHO NETO et al, 2012).
A sociologia da ação estabelece-se sobre dois princípios fundamentais. O primeiro
consiste no fato de que todo fenômeno social é sempre resultado de ações, de atitudes e
convicções, em resumo, de comportamentos individuais. O segundo é um complemento do
primeiro e afirma que o pesquisador que pretende explicar um fenômeno social deve procurar
o “sentido” dos comportamentos individuais que estão em sua origem. Explicar a existência
ou ocorrência de um fenômeno é, portanto, reconstituir a rede de ações que o originou, dando
conta das razões dessas ações. Segundo os adeptos da sociologia da ação, todos os fenômenos
sociais, inclusive as mudanças verificadas nos costumes explicam-se da mesma maneira.
Todavia, se os princípios são relativamente simples, a sua operacionalização em pesquisa não
o é. Pode até ser muito difícil na prática, porque as causas individuais que originam os
fenômenos são, frequentemente, numerosas e o grau de influência dessas causas difícil de
estabelecer. Também, porque pode ser extremamente difícil especificar as razões que levaram
certo ator a determinado ato, ou mesmo ter acesso a ele para entrevistá-lo. Devido às suas
características e princípios, a essa forma de abordagem de fenômenos sociais deu-se o nome
de individualismo metodológico (BOUDON, 2006; ELIAS, 2006).
Os princípios da sociologia da ação refletem na prática os princípios da sociologia
clássica alemã, apresentados por Boudon (2006, p. 32), nesses termos:
1.
O princípio que consiste em tentar explicar os fenômenos macroscópicos
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reduzindo-os às causas microscópicas (no plano do indivíduo);
O princípio segundo o qual estas causas devem ser assimiladas com grande
frequência às razões (implícitas ou explícitas) dos atores;
3. O princípio da simplificação que exige que os atores sejam agrupados por tipos
- Weber dirá por tipos ideais
2.
Para Weber (2004, p. 15) a ação social pode ser determinada de modo racional
referente a fins “por expectativas quanto ao comportamento de objetos do mundo exterior e de
outras pessoas, utilizando essas expectativas como condições ou meios para alcançar fins
próprios, ponderados e perseguidos racionalmente”. Pode ainda ser determinada de modo
racional referente a valores “pela crença consciente no valor - ético, estético, religioso ou
qualquer que seja sua interpretação - absoluto e inerente a determinado comportamento como
tal, independentemente do resultado”. Já por relação social Weber (2004, p. 16) a entende
como o “comportamento reciprocamente referido quanto ao seu conteúdo de sentido por uma
pluralidade de agentes e que se orienta por essa referência”.
Para esse ensaio, considerar liderança como ação social significa admiti-la como uma
ação dotada de “determinado” sentido subjetivo por parte do agente (o líder) em relação ao
comportamento do outro (o liderado). Propõe-se também estendê-la à categoria de relação
social, por entender que a influência entre líderes e liderados se dá numa via de mão dupla.
Do ponto de vista sociológico, um desenho de pesquisa sob essa perspectiva deve, portanto,
buscar as evidências de sentido na relação líder versus liderado, investigando-lhe suas causas
e seus efeitos. Cabe, então, uma breve discussão sobre interpretação e evidências, segundo a
visão weberiana.
2.2 Questões distintivas da metodologia weberiana
Para Weber (1999; 1995), em clara oposição à crença positivista, jamais será tarefa de
uma ciência empírica produzir normas e ideais obrigatórios, visando deles extrair receitas para
a prática. O alvo do conhecimento seria ir além de um estudo puramente formal das normas legais ou convencionais - da convivência social. Na sua visão, a ciência social é uma ciência
da realidade. Procura-se, através dela, compreender a realidade da vida que nos rodeia, e na
qual nos encontramos situados, naquilo que tem de específico. Por um lado, as conexões e a
significação cultural de suas manifestações na configuração em que se apresenta e, por outro
lado, as causas pelas quais se desenvolveu historicamente de um e não de outro modo. Tratase do esforço de tentar-se descrever de modo exaustivo essas singularidades em todos os seus
componentes individuais, e, muito mais ainda, tentar captá-la naquilo que tem de causalmente
determinado.
Para o conhecimento da realidade, o interesse recai sobre a constelação em que esses
fatores hipotéticos que individualizam o fenômeno se agrupam. Isto porque, para Weber os
fenômenos sociais não exibem nenhum caráter objetivamente intrínseco a eles, não se pode
recorrer a outro meio senão buscar-lhes as causas mediante a atribuição (imputação) dessa
condição a outros fenômenos (ou a um conjunto deles), para em seguida pesquisar se a
relação suposta se confirma. O conhecimento das leis da causalidade, portanto, não poderá
constituir um fim, mas antes o meio do estudo. Ele facilita e possibilita a imputação causal
dos elementos dos fenômenos, tornados importantes para a cultura por sua individualidade.
Para um fenômeno cultural nunca se trata de conexões regulares no sentido estrito das
ciências da natureza, mas de conexões causais adequadas. Para as ciências exatas da natureza,
as leis são tanto mais importantes e valiosas quanto mais geral é sua validade. Para o
conhecimento das condições concretas dos fenômenos históricos (culturais) as leis mais gerais
são frequentemente as menos valiosas, por serem mais vazias de conteúdo. Pois quanto mais
vasto é o campo abrangido pela validade de um conceito cultural genérico tanto mais nos
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afasta da riqueza da realidade, posto que, para poder abranger o que existe de comum no
maior número possível de fenômenos, forçosamente deverá ser o mais abstrato e pobre de
conteúdo. Para Weber no campo das ciências da cultura, o conhecimento do geral nunca tem
valor por si próprio (WEBER, 1999; 2006; GIDDENS, 2003; 2010).
Um exemplo clássico da aplicação da metodologia weberiana encontra-se em A ética
protestante e o espírito do capitalismo, desse mesmo autor (WEBER, 1981). O livro
apresenta uma possível explicação para as raízes do capitalismo através da prática religiosa
das comunidades protestantes europeias. Os objetivos eram conhecer o conteúdo das ideias
primordiais e o modo como a moralidade prática se prendia à ideia de ‘um’ outro mundo, e
rastrear estímulos psicológicos criados pela fé religiosa e pela prática de um viver religioso
que impulsionou a acumulação de capital que viabilizou de muitas formas as práticas
capitalistas modernas. Weber identificou que a vida ascética protestante intramundana agiu
com toda veemência contra o gozo descontraído das posses, estrangulando o consumo,
especialmente o consumo de luxo. A causa desta conduta foi atribuída ao controle psicológico
interno, um autorregulador, que justificava para os protestantes uma vida de frugalidades cujo
objetivo era não perder a predestinação ao paraíso, um dogma baseado no pecado original.
Fato foi que principalmente pelo calvinismo e pelas práticas metodistas, enormes fortunas se
acumularam, sendo mais tarde revertidas para os múltiplos investimentos que propiciaram o
capitalismo moderno. A descrição detalhada de comportamentos e as explicações das origens
teológicas dos diversos fatores intervenientes na conduta protestante pós-reforma luterana
mostra o caminho metodológico de Weber na descrição e explicação desse componente
importante da história ocidental, através de tipos ideais.
No que se refere à investigação, o conceito de tipo ideal propõe-se a formar um juízo
de atribuição. Por tipo ideal entende-se que seja um quadro de pensamento, não da realidade
histórica, e muito menos da realidade autêntica, que não serve de esquema no qual se pudesse
incluir a realidade à maneira exemplar. Tem antes o significado de um conceito limite
puramente ideal, em relação ao qual se mede a realidade a fim de esclarecer o conteúdo
empírico de alguns de seus elementos importantes, com o qual esta é comparada. Não é uma
hipótese, mas pretende apontar o caminho para a formação de pressupostos (WEBER, 1999;
2006).
No seu estudo sobre o capitalismo e a ética protestante, Weber (1981) elabora dois
tipos ideais que referenciam sua análise sobre o capitalismo. A partir do texto de Benjamin
Franklin sobre o homem político e panfletário do século XVIII, constrói o tipo ideal do
“espírito do capitalismo”, baseado na prosperidade econômica, no sentido de se fazer
negócios, em princípios de comportamentos. Para Weber o “espírito do capitalismo” se traduz
em quatro ideias simples: i- cada indivíduo tem o dever de fazer crescer o seu capital, e obter
lucro, ganhar sempre mais; o capital constitui um objetivo em si mesmo, e não um meio com
vista a outros fins; ii- este dever se cumpre no exercício da profissão, com ardor, sendo o
trabalho um fim em si mesmo; iii- a perseguição do lucro pela profissão decorre de uma
atuação racional e rigorosa, pelo controle das despesas e pelo investimento; iv- não é preciso
retirar da riqueza outra satisfação do que a de ter cumprido seu dever; usufruir dela e do poder
ou apresentá-la ostensivamente não são comportamentos recomendáveis. Em resumo, o
“bom” capitalista leva uma vida ascética, consagrada ao labor, cujo único uso aceitável da sua
fortuna é o de reinvestir.
Para chegar ao tipo ideal relativo à ética protestante, Weber desenvolve vários estudos
sobre religiões e filosofias asiáticas e das raízes religiosas de onde saiu o cristianismo. Esses
estudos permitiram captar a especificidade e progressivo surgimento da racionalidade
ocidental e compreender o papel da religião nesse processo. Weber identificou nas religiões
ocidentais o rompimento com a magia enquanto explicação dos fenômenos naturais e meio de
salvação, o que chamou de “desencantamento do mundo”. Estuda o conjunto de normas éticas
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desde as adotadas pelos Judeus até as aplicadas à teologia escolástica da idade média, com
seus reflexos em todos os campos do conhecimento, inclusive a arquitetura e a música, e da
conduta humana, na vida social e na reclusão dos monastérios. Já na idade média, identifica
no reformador Martinho Lutero o adversário resoluto da complacência com os traços mágicos,
com os quais se “comprava” a salvação por meio de orações e sacrifícios, e da vida
monástica, que Lutero considerava uma negação egoísta das responsabilidades terrenas. Para
Lutero, o trabalho devia ser considerado uma vocação, a maneira mais segura de agradar a
Deus, adquirindo uma forte significação religiosa.
Dando curso às obras da reforma religiosa, numa linha diversa daquela de Lutero,
Calvino estabelece como dogma principal a predestinação para a salvação, esta concedida
pela graça divina aos escolhidos para herdar o paraíso. O que consistiu num dos pilares de
uma ética favorável ao aparecimento do capitalismo, pela sua capacidade de fazer com que as
pessoas crentes se dedicassem muito ao trabalho. Como esse decreto divino que separava os
salvos dos condenados não trazia qualquer sinal exterior, a incerteza era angustiante, por não
assegurar ao crente qualquer garantia de ser contado entre os eleitos. Não cabia ao indivíduo
modificar a decisão divina, mas viver uma vida de trabalho e poupança do excedente de sua
produção, com uma forte convicção pessoal de estar absorvido por Deus.
Assim, Weber concebe o tipo ideal da ética protestante com os elementos que
disciplinavam a vida ascética intramundana dos protestantes das vertentes calvinista e
luterana. Weber identifica que o ethos compartilhado prescrevia que apenas o trabalho com
dedicação extrema e corretamente efetuado seria agradável a Deus, sendo o seu reflexo
desejado e imediato uma vida austera e o sucesso profissional. Para Weber, cada indivíduo se
encontrava irremediavelmente sozinho perante Deus e seu destino, era obrigado a trabalhar
sem descanso, sem nunca poder usufruir dos frutos de seu perseverante trabalho. Essa visão
de mundo significava o fim entre o antagonismo entre vida espiritual e econômica. O
individualismo prosperou sem limites, porque “conforme a vontade divina”. Destas
características da vida protestante, Weber extraiu os principais traços do tipo ideal da ética
protestante: i- trabalho produtivo sem descanso; ii- ascetismo puritano, e; iii- individualismo.
O passo seguinte foi definir as afinidades eletivas entre os dois tipos ideais, o
capitalismo e a ética protestante. Weber esclarece que o calvinismo legitimou a busca infinita
pelo lucro, não somente tolerando, mas também considerando-a desejável e agradável a Deus,
em desacordo com a crença católica. Desse modo, os protestantes poderiam perseguir a
riqueza com determinação e em paz com suas consciências. O protestantismo proporcionou,
assim, a união das esferas religiosa e econômica, em que o trabalho profissional sem descanso
constitui a forma suprema de ascetismo e a confirmação da eleição do crente. A combinação
desses traços teria produzido os efeitos econômicos refletidos na poupança reinvestida na
formação do capitalismo nascente.
A proposta deste ensaio é defender a utilização deste método weberiano, que tem
como base a sociologia da ação. Certamente, Weber, que é um dos gigantes da sociologia e o
fundador da sociologia das organizações, tem muito a contribuir nos estudos de fenômenos
tão complexos e tão carentes de uma discussão mais rigorosa quanto o é o tema da liderança.
Nas próximas seções apontaremos um caminho que se consideramos viável para a construção
de estudos baseados nas categorias weberianas. Apresenta-se antes a discussão da abordagem
da Nova Liderança, por acreditar que ela faz uma ligação com os construtos weberianos,
ainda que de forma imprecisa.
2.3 A abordagem da Nova Liderança e o uso do conceito weberiano de carisma:
impropriedades do mainstream norte-americano
Uma análise da publicação norte-americana sobre liderança das últimas décadas revela
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que os estudos de cunho behaviorista têm dominado. Também, que publicou uma gama de
trabalhos com conteúdos cada vez mais subjetivos que os estudiosos do tema convencionaram
chamar de Nova Liderança. Os enfoques centraram-se, principalmente, em tipos de
comportamentos dos líderes e em estilos de liderança, ressaltando características de pessoas
influentes e mesmo o que no passado eram relacionadas como virtudes, descrevendo e
afirmando seus efeitos sobre pessoas e grupos (WALTER; BRUCK, 2009). Por exemplo,
Nielsen, Marrone e Slay (2010) associam o tema humildade ao exercício da liderança,
apresentando-o como um elemento moderador da ação de líderes. Segundo eles, a ação de um
líder na ausência desse elemento da personalidade apresentaria tendências de autoritarismo e
autorreferência narcisista, o que provocaria uma sequencia de desmandos em relação aos
liderados.
Pode-se dizer que a subjetividade foi redescoberta pelas correntes teóricas da Nova
Liderança nas várias características comportamentais que tornam um líder eficiente
(NIELSEN; MARRONE; SLAY, 2010). A Nova Liderança considerou elementos das teorias
precedentes (teoria dos traços, comportamental, situacional, por exemplo) e acrescentou a eles
uma análise referenciada em princípios advindos de diversas áreas do conhecimento
(CARVALHO NETO et al, 2012). A antropologia contribuiu com a visão que originou a
vertente da liderança cultural. A liderança visionária baseou-se em traços de personalidade.
Fatores contextuais influenciaram a liderança carismática tanto direta quanto indiretamente.
Os estudos exploram as características de contexto que podem moldar as características do
líder, exigências e restrições para atuação dos líderes, estabelecendo as condições de contorno
para a viabilidade da liderança carismática e influenciando diretamente a probabilidade de que
líderes se envolvam em tal comportamento (WALTER; BRUCK, 2009).
Particularmente, cada corrente de estudos tem oferecido contribuições importantes
para a compreensão do fenômeno liderança. A liderança cultural ressaltou a importância dos
elementos da cultura na formação de estilos de liderança e relações com subordinados. Nesse
contexto, os trabalhos de Schein (1985) foram fundamentais para se discutir como os
elementos culturais podem condicionar comportamentos distintos, em culturas diferentes, sem
que isso interfira na eficiência relativa dos modos de liderar e na efetividade gerencial. No
Brasil, Carvalho Neto (2010), inspirando-se nos estudos antropológicos de Roberto D’Matta e
Buarque de Holanda, ressalta elementos da formação do povo brasileiro na constituição de um
modo próprio de exercer liderança, explicando porque modelos transplantados da cultura
americana não vingaram em nosso solo.
Já a liderança Laissez Faire, inspirada nos princípios pós-modernos, incentivava
desenvolvimento do espírito de liderança dos subordinados, com o intuito de torná-los
independentes e construtores de seus próprios talentos e motivações. Essa corrente, entendida
pelos autores como uma antiliderança surgiu como alternativa ao paradigma transacionaltransformacional (CARVALHO NETO et al, 2012). De todo o modo, o que se buscava eram
atitudes favoráveis de trabalho, valores, sentimentos positivos, além da identificação de
princípios de inteligência emocional, que pudessem de alguma forma ser associadas à
previsibilidade da ação gerencial.
Das teorias mais recentes interessa, em especial, o que os autores têm entendido como
liderança carismática, porque ela parece conter o elo entre todas as teorias da Nova Liderança:
o carisma. Weber não estudou liderança, todavia o conceito de carisma foi evidentemente
herdado do acervo de conceitos utilizados por ele. Mas, em termos de abrangência, essa
abordagem toma o conceito weberiano de carisma tal como era entendido por esse autor?
Artigos sobre Liderança descrevem os líderes carismáticos como aqueles que discriminam os
objetivos, pintando figuras de linguagem, e que possuem uma habilidade excepcional para
ganhar a devoção e o apoio de seguidores. São destemidos e apresentam suas ideias a
qualquer um que pode ser capaz de ajudá-los, e carregam a fama de possuir excelente poder
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de persuasão e negociação. Inspiram seus seguidores a se identificar com eles e a imitá-los,
pois eles desenvolvem sentimentos intensos sobre eles, e cercam-se de considerável confiança
em seus atos. Os líderes carismáticos atraem intensos sentimentos afetivos (de amor ou ódio)
de seus subordinados. (GIBSON; HANNON; BLACKWELL, 1998).
Sobre as novas correntes teóricas sobre liderança, Walter e Bruck (2009) advertem que
as diversas vertentes de estudos têm apresentado resultados muito próximos, demonstrando
mesmo sobreposição significativa para os resultados atribuídos às lideranças carismática,
transformacional e visionária, geralmente convergindo em muitos pontos comuns. Eles
acreditam que as várias correntes de estudos poderiam ser reunidas em uma única abordagem:
a liderança da personalidade carismática. Seria isso indício de uma fragmentação teórica
desnecessária? Se isso ocorre para o construto liderança, muitos resultados vistos pela ótica de
teorias particulares permaneceriam inconclusivos, exatamente porque os fatores que
contemplam isoladamente são insuficientes para explicar o fenômeno liderança. Os autores
supracitados chegam a afirmar que, embora os estudiosos tenham aprendido muito sobre os
impactos da liderança carismática, as origens desse comportamento têm sido negligenciadas,
o que depõe em favor de uma abordagem mais integradora que considere outros elementos,
além do comportamento do líder.
Uma tentativa integração teórica no campo da Nova Liderança é atribuída a Burns
(1978, 2003) através do paradigma transacional-transformacional. Na teoria transacional os
estudos têm apresentado a relação entre o líder e seguidor como uma troca de recompensas
materiais para o desempenho com base no pressuposto de que as pessoas são unicamente
motivadas por punições e recompensas.
Já os líderes transformacionais seriam capazes de motivar os subordinados para
realizar mais do que seria de esperar de si mesmos. Bass (1985), um dos mais importantes
críticos de Burns, percebia a liderança transformacional como uma alternativa à liderança
transacional, enquanto Burns as entendia como complementares. Para Burns o líder eficaz
deveria apresentar as características dos dois estilos de liderança. Este autor agrupou as duas
propostas teóricas no paradigma transacional-transformacional, o que polarizou as discussões
sobre liderança nas três últimas décadas.
A discussão envolvendo as lideranças transacional e transformacional também ganhou
contornos na questão moral na polêmica entre Burns e Bass. Principalmente, porque Bass
(1985) argumentou que os líderes transformacionais podem promover a concorrência entre
seus subordinados, jogar grupos de subordinados uns contra os outros, e agitar a rivalidade e
ansiedade e desconfiança. Já eram conhecidos os efeitos da liderança negativa. O que também
foi objeto dos estudos de Walter e Bruck (2009). Ao associarem a liderança carismática a dois
tipos de comportamentos dos líderes, eles distinguem liderança carismática socializada da
personalizada. A primeira reflete um comportamento igualitário do líder, que serve a
interesses coletivos e fortalece os seguidores. É vista como uma liderança com
comportamentos positivos, apresentando resultados moralmente benéficos. A segunda, a
liderança carismática personalizada, por outro lado, baseia-se na dominação pessoal e no
comportamento autoritário, serve ao do interesse pessoal do líder e é exploradora dos outros.
Para eles, este segundo tipo de comportamento reflete o lado negro da liderança carismática, e
tem sido associada a comportamentos distintamente nocivos, com consequências moralmente
condenáveis e resultados negativos.
Embora argumentem pela integração de concepções teóricas sobre liderança Walter e
Bruck (2009) reconhecem que uma abordagem fragmentada tem dominado a orientação da
literatura de liderança carismática, com a maioria dos estudos enfocando tipos únicos de
influenciar sem considerar fatores e inter-relações possíveis. Essa é proposta desse ensaio, não
somente para liderança carismática, mas para o fenômeno liderança em si, como será
apresentado na próxima seção.
9
Na próxima seção será apresentada a defesa da abordagem sociológica weberiana para
o estudo da liderança e também uma metodologia para abordagem do fenômeno.
2.4 A abordagem da Sociologia da Ação weberiana aplicada ao estudo do fenômeno da
liderança
A administração tem se servido de diversas áreas do conhecimento para abordar seus
objetos, e frequentemente, segundo as características exibidas pelo fenômeno de interesse,
prepondera em determinados períodos a contribuição de uma área específica de
conhecimento. Parece residir aí a explicação para o grande número de trabalhos sobre
liderança de fundo comportamental behaviorista a partir da década de 1980 até o presente. Em
alguns casos, torna-se importante fazer a distinção de quais contribuições determinada
abordagem teórica pode oferecer ao conhecimento do objeto. Refletindo sobre os estudos de
liderança desse período que teve em Burns uma figura central, o fenômeno liderança foi
intensivamente descrito através de percepções e comportamentos individuais dos líderes (na
maioria das vezes pessoas influentes da sociedade), ou dos efeitos, também psicológicos, nos
liderados (WALTER; BRUCK, 2009; DUMAS; SANKOWSKY, 1998). Todavia, pode-se
afirmar que essa análise cumpre apenas parte da proposta de compreensão de um fenômeno
social segundo a perspectiva da sociologia da ação weberiana.
Embora o trabalho de Weber tenha despertado o interesse na ideia de carisma aplicado
à liderança, foi apenas nos anos 1970 e início dos 1980 que as forças da concorrência global
despertaram a consciência empresarial para a necessidade de uma discussão mais séria desse
elemento associado à liderança. Como já se discutiu, as disciplinas de comportamento
organizacional e psicologia organizacional desempenharam um papel fundamental neste
processo de transformação ao elucidar elementos de gestão e liderança. (GIBSON;
HANNON; BLACKWELL, 1998). Mas a análise fenomenológica weberiana tem como foco a
relação social de caráter objetivo (BOUDON, 1995). Por exemplo, ao se examinar estudos
como o de Walter e Bruck (2009), que fazem uma revisão dos estudos sobre comportamento
de liderança carismática e propõem um modelo, observa-se que eles examinam apenas os
conteúdos psicológicos associados à liderança carismática, e mesmo quando consideram
elementos contextuais, tendem a relacioná-los a condicionantes ou moderadores dos
comportamentos dos líderes.
De acordo com a sociologia da ação o sentido subjetivo da ação dos indivíduos (do
líder e do liderado) pode ser explicitado por elementos de sua história de vida, agregando
elementos de estado íntimo e coletivo (contextuais e culturais), que lhes resulta numa ética
comportamental, semelhante em determinação àquela identificada por Weber (1981) em Ética
protestante e o espírito do capitalismo, já referida nesse trabalho. Para reflexões que
consideram efeitos coletivos da estrutura organizacional, no caso de identificação de tipos
para relações sociais, à semelhança da liderança cultural, prevalecem estruturações baseadas
em costumes, em estatutos, em leis e na ordem (de natureza cultural). No outro extremo das
reflexões, os valores e crenças individuais tornam-se as referências para racionalidades das
ações (como os exaustivamente descritos pelos partidários da liderança transformacional) ao
tomarem-se os lideres como elementos de mudança a partir de critérios de uma visão própria
da realidade (um tipo de racionalidade cognitiva específica para mudanças) (COVRIG, 2000;
SOSIK, 2000; SELTZER; BASS, 1990). Weber não estudou especificamente liderança, mas
processos de dominação (autoridade). Para exemplificar, entende-se, que a liderança pode ser
estudada segundo princípios weberianos, englobando e transcendendo a análise do paradigma
transformacional-transacional. E que, para dilatar o conhecimento sobre o fenômeno
liderança, será necessário se desvencilhar das amarras de uma análise puramente psicológica,
na direção de uma teoria que integra outros princípios teóricos, donde se propõe um estudo
10
sociológico da relação social entre líder e liderado (GIDDENS, 2003; 2010).
A partir dos escritos de Weber (2004), em ES, extraíram-se três conjuntos de
elementos e fatores da relação social que, ao serem inter-relacionados, podem gerar as
categorias para se analisar um fenômeno social, especificamente neste caso, liderança como
relação de poder.
O primeiro conjunto é constituído pelos atores da ação social e os determinantes da
racionalidade que dão sentido à ação individual; são eles: os atores, o sentido da ação, os
valores individuais, as crenças e a visão de mundo. O segundo conjunto de elementos
discriminam o meio no qual a ação social acorre, dando ênfase ao grau de maturidade
institucional em que esse meio se encontra; esse pode ser: carismático, tradicional ou
burocrático. Salienta-se que essa análise pode ser feita para organizações ou grupos de
indivíduos. Esse é um dos conjuntos moderadores da ação individual. O terceiro conjunto de
elementos elenca um grupo de condicionantes ambientais que atuam como limitadores da
ação individual porque são frutos de estruturações anteriores, refletindo práticas socialmente
aceitas, padrões de conduta, papéis, etc.; são eles: a ordem, que se expressa em dispositivos
legais (externos à organização ou ao grupo, advindo do direito), e em dispositivos normativos
(internos aos grupos e organizações) advindos de convenções e costumes.
Entende-se que os dispositivos de legitimação estejam em boa parte adstritos à
racionalidade dos atores, mas no caso da tradição e da burocracia podem erigir-se dispositivos
socialmente compartilhados. Carece, todavia, um esclarecimento maior sobre legitimidade e
ordem. Dos conceitos utilizados por Weber (2004, pp.19-21), talvez “ordem” seja um dos
mais importantes na presente discussão. Ordens são “máximas” indicáveis para orientação da
ação. Para Weber, toda relação social pode ser orientada pelo lado dos participantes, pela
representação da existência de uma ordem legítima, e à probabilidade que isso ocorra dá-se o
nome de vigência. Pois bem, a legitimidade de uma ordem pode ser garantida: a) “unicamente
pela atitude interna”, de modo afetivo ou racional referente a valores, ou de modo religioso; b)
“também (ou somente)” por interesse, por expectativas de determinadas consequências. Além
disso, uma ordem pode ser denominada convenção ou direito.
De antemão, pode-se dizer que há estreita relação entre os tipos de legitimação
descritos por Weber e as duas principais escolas da Nova Liderança. A teoria
transformacional poderia, sem prejuízo, ser explicada pela legitimidade da atitude interna,
donde derivam todos os comportamentos irracionais ou racionais dos líderes referenciados por
valores, e pela ação carismática do líder. A efetividade da liderança transformacional não
poderia ser interpretada de outra forma, nem se entende o porquê de a tentarem explicar
apenas por dispositivos psicológicos, quando um acervo de conceitos muito mais pertinente já
se encontrava disponível. Também a teoria transacional pode ser relacionada à segunda forma
de legitimação. As questões de interesses e expectativas são exploradas na teoria transacional,
contudo falta entender-lhes a racionalidade, o que só é possível através da análise sociológica,
ao se estudar o sentido subjetivo das ações tanto de líderes quanto dos liderados, que se
materializa na relação social e na distribuição de poder (BURNS, 1978; WEBER, 2004;
WALTER E BRUCK, 2009).
A figura 1, a seguir, esquematiza uma abordagem de pesquisa do fenômeno liderança
como relação social, enfatizando seus elementos e fatores condicionantes. Trata-se um
modelo de abordagem teórica de um objeto. Mesmo porque um estudo qualitativo deve
apresentar ressalvas entre uso de modelos teóricos de abordagem da realidade para uso de
modelos de realidade (ou, modelagem da realidade). Em modelos de abordagem da realidade
se inserem as diversas técnicas de estudo qualitativo, inclusive o weberiano, mas o uso deles
nesse trabalho não visa ou pressupõe a modelagem da realidade (WEBER, 2006). É antes um
esquema de relação de elementos para análise compreensiva. O único objetivo é sustentar
teoricamente as categorias de análise da pesquisa proposta, uma vez que a modelagem da
11
abordagem resume, em grau de importância, os elementos sobre os quais a coleta de
informações se dará.
Figura 1: Elementos e fatores intervenientes para estudo do fenômeno liderança como
relação social
Fonte: Elaborado pelos autores do ensaio a partir de Weber (2004)
A partir dos pressupostos da sociologia da ação, acredita-se que o fenômeno liderança
poderá ser mais bem compreendido através da investigação de categorias decorrentes dos
elementos constituintes que comporiam o quadro de influências e de manifestação da relação
social. São elementos que, nas suas áreas de interferência, originam as condições
predominantemente culturais (no sentido weberiano), históricas e estruturais, para a
ocorrência do fenômeno. Predominantemente, porque se admite a influencia dos demais eixos
na formação do sentido da ação do ator social. Um indivíduo não age deslocado do meio
social, da estrutura ou alheio de sua história. Todos os elementos que compõem os círculos de
interferência são conceitos já explicitados e utilizados por Weber (2004) na sociologia da ação
em ES, donde se retiraram os seus significados.
Note-se que as convergências dos círculos de interferências têm papel de grande
importância por explicitar as relações de cada elemento. As convergências originam os três
eixos nos quais podem ser realizadas as análises do fenômeno liderança. Entende-se que no
decorrer das análises de cada eixo as premissas das teorias da Nova Liderança devem
aparecer, sendo corroboradas, refutadas ou complementadas. Por exemplo, se estivermos
falando de um líder com determinados valores e crenças, círculo acima, sua ação pode ser
influenciada por elementos do círculo à esquerda que representa a fase organizacional e
também da direita, que representa os fatores condicionantes. Se a organização estiver na fase
burocrática, por certo essa influência se fará sentir na atuação do líder, diferentemente se
estiver na fase carismática. Da mesma forma, quanto mais institucionalizados forem os
procedimentos internos na organização, círculo à direita, maiores restrições se observará à
ação individual. A interação desses fatores geram categorias da sociologia compreensiva
weberiana, cujos exemplos são apresentados por Weber (1999) no livro Metodologia das
ciências sociais, segundo volume, capítulo VIII.
12
Por outro lado, em concordância com os princípios do individualismo metodológico, a
ação do indivíduo pode constituir o ambiente em que atua. Sendo assim, um líder que se
imponha sobre as instituições poderá, inclusive, gerar mudanças estruturais e escrever um
novo capítulo da história organizacional, conforme se observa nas descrições do paradigma
transacional-transformacional. O que se propõe é dar um passo além e estudar a relação social
entre líderes e liderados, compreendendo-lhe o sentido sob a ótica sociológica. O modelo
teórico de abordagem do fenômeno liderança precisa ainda ser testado empiricamente e
receber críticas para ser validado, mas seu potencial parece promissor.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste ensaio reconhece-se que a corrente de estudos denominada Nova Liderança deve
ser o contraponto da abordagem aqui proposta. Reconhece-se também que as técnicas de
pesquisa que ressaltam a abordagem psicológica ainda se demonstram viáveis em muitos
casos de estudos organizacionais sobre liderança, definindo perfis, intenções e percepções.
Contudo, afirma-se que a abordagem sociológica também pode oferecer contribuições
importantes ao debate. Ao se estudarem as ações dos atores envolvidos naquilo que
apresentam de concreto (de realizado), os princípios sociológicos podem abrir novas vertentes
de entendimento que não se poderiam alcançar apenas pela análise psicológica, ou pela
sucessão e causalidade entre fatos, da análise histórica. Isto porque as relações sociais tornamse as referências para explicação do fenômeno, podendo essas ser discutidas em termos de
valores, sentido e fins, e segundo a racionalidade que as veiculou. É uma análise de causas e
efeitos de um fenômeno, tendo como referencia as ações perpetradas por seus atores,
relacionando-as aos fatores condicionantes da ação social.
Quando se busca compreender o fenômeno liderança como relação social, certamente
o que seria um bom suporte teórico é aquele concebido especificamente para estabelecer
conceitualmente essas relações para fenômenos sociais - a sociologia da ação na perspectiva
weberiana. Defende-se, portanto, que a integração de ideias sobre o construto liderança
poderá ocorrer tendo como referência teorias mais abrangentes com epistemologia e
metodologia bem delimitadas, para que esse emaranhado de pontos de vista que povoa o
campo possa ser corroborado e ou refutado.
Porque não se trata de se escolher apenas a porção da teoria que interessa ao
pesquisador na tentativa de validar visões particulares sobre o objeto de estudo, como se tem
feito indiscriminadamente. Por exemplo, Downton (1973) argumentou que Weber estava
errado ao afirmar que autoridade carismática constitui um dos três tipos principais de
liderança (juntamente com o tradicional e a autoridade racional-legal). Ele observou que o
domínio carismático é apenas um dos três principais subtipos ou bases de liderança pessoal. O
erro de Downton foi acreditar que Weber estaria estudando liderança enquanto ele estudava
formas de dominação. Da mesma forma que o mainstream norte-americano usa categorias
como carisma, como conceito isolado, dissociado dos demais fatores que lhe dão sustentação.
Como discutir carisma sem referir-se a ordem, ou examinar-lhe os dispositivos de
legitimação? Ou, como estudar liderança sem discutir as construções sociais relacionadas
como tradição, burocracia, estatutos, costumes, leis, ordem compartilhada, ou, ainda, os
significados culturais da relação líder versus liderado e as racionalidades predominantes dos
atores sociais em questão?
Propõe-se que se deve considerar a construção teórica em sua abrangência, como
concebida pelos autores, ou, pelo menos, não ocultar da análise os elementos relacionados à
teoria que possam mudar o curso da compreensão do fenômeno. Assim procedendo, não se
afirma que os teóricos da nova liderança não sejam capazes de gerar teorias para se
compreender o fenômeno, mas que, assim como os autores da sociologia clássica (Marx,
13
Weber, Durkheim, Simmel, entre outros) dialogaram com os pais da filosofia grega e com os
primeiros autores da modernidade, Kant, Descartes e Pascal, por exemplo, um diálogo mais
estreito entre os pós-modernos e os clássicos se faz necessário. Acredita-se que o avanço na
compreensão do referido fenômeno, como tantos outros que nos desafiam, não virá com o
rompimento ou com a afirmação parcial de conceitos e definições dos autores modernos, mas
com um debate respeitoso com, sobre e através de suas teorias, rompendo com a ideia absurda
de que essas teorias estão ultrapassadas. Passaram-se quase três mil anos e o pensamento
grego continua influenciando os rumos da civilização ocidental. Será um século tempo
suficiente para desconsiderar as contribuições teóricas desses gigantes da sociologia
ocidental?
A partir dos apontamentos construídos neste ensaio, entende-se que o fenômeno
liderança como relação social é passível de ser delimitado conceitualmente. O que resta é
determinar que tipo de relações sociais podem consideradas como expressão de liderança.
Não se entende que obediência irrestrita de um ator em relação ao outro é sinal de ocorrência
do fenômeno, quando essa relação não atende aos princípios propostos por Weber para o
conceito de dominação (WHIMSTER, 2009), que discrimina que o ator objeto da ação social
deve legitimar o ato de obediência. Portanto, muito do que se tem aceitado por atos de
liderança corresponde muito mais ao uso da força (coerção) e da aplicação de regulamentos
para imposição da vontade de um ator sobre o outro (comando). A rigor, entende-se que
liderança é um processo mais tênue e subjetivo, como tem sido exposto por pesquisadores da
nova liderança, mas que carrega em si as marcas da interação social que não pode ser captada
apenas pela análise psicológica. A discussão de Weber sobre estatutos é bem clara, quando
afirma que a coesão de grupos acontece em “média”, e que o estabelecimento de regras para
conduta de agrupamentos é delegado àqueles que detêm o poder de comando. Portanto, nem
toda ação social com sentido subjetivo pode ser classificada como ato de liderança. Mais
ainda, a expressão exterior que discrimina um ato de liderança tanto pode vir em tom de
ordem, como de pedido, de súplica, de encorajamento, ou até mesmo de prostração. Um
comandante muito amado, no leito de morte, sem articular uma única palavra, pela sua
entrega à causa, pode ser mais eloquente que centenas de generais discursando, se não
houverem se constituído os dispositivos adequados de legitimação. O estudo da relação social
parece ser o meio adequado de se reconstituir esses mecanismos.
Revendo as abordagens teóricas anteriores sobre liderança, o centro da discussão
quase sempre recaiu sobre a figura central do líder, a situação ou a contingência. Muito pouco
se discutiu da relação ou do papel dos liderados ou fatores externos da relação como
evidências do fenômeno. O que muda nessa abordagem é a expressão de um distanciamento
momentâneo das teorias organizacionais mais usuais, para discutir o tema liderança no plano
de fenômeno cultural envolvendo organizações e sociedade, sem desconsiderar os fatores que
condicionam a ação individual, como era prática dos principais autores clássicos.
Se a opção for buscar ancorar-se em grandes autores da sociologia, não se pode
esperar consenso, nem na prática nem em seus achados, uma vez que são concepções teóricas
distintas e até conflitantes em alguns aspectos, tanto em termos metodológicos como
epistemológicos. Trata-se de se explorar múltiplas visões de um único objeto. Mas, se por um
lado enfrenta-se o risco dos conflitos mencionados, por outro se abre um leque enorme de
perspectivas de revisitação a um fenômeno tão intrigante para os pesquisadores sociais e
organizacionais da atualidade. As apropriações mais importantes são o enorme legado de
metodologia de análise social desses autores e suas concepções de mundo e de ciência,
sancionadas há muito pelos estudiosos.
Por fim, um distanciamento das abordagens utilizadas nos estudos da nova liderança
pode revelar que a causa da confusão teórica que cerca o construto liderança (principalmente
para teorias transformacional e transacional) pode ser explicada pela adoção parcial de teorias
14
sociais, como a de Weber, por exemplo, porque o foco não estava em conhecer
profundamente a manifestação do fenômeno, mas gerar recursos controláveis para aumentar a
eficiência organizacional, desconsiderando em muitos casos os elementos culturais que
condicionam a ação dos líderes e liderados. Buscava-se a todo custo solucionar problemas que
fustigavam a gerência.
Uma revelação, ainda, pode brotar de um estudo com essas características: não é que
não se saiba o que é liderança, fala-se dela o tempo todo, mas o que tem se buscado é a
compreensão de uma liderança particular. Aquela que possa ser controlada segundo alguns
princípios gerenciais, que, em muitos casos tem o liderado apenas como um dado da variável
produtiva e a relação social como objetiva e direcionada. Para esse caso, não interessaria uma
visão ampla do fenômeno, mas apenas aquela porção que tornasse a relação líder versus
liderado no interior das empresas mais “administrável”. Neste caso, ao se estender os
horizontes para estudos que utilizem como diretrizes as teorias de Weber, poderia se resgatar
a compreensão do fenômeno liderança na sua integralidade, na sua essência, inclusive
lançando luzes para alguns pontos que permanecem obscuros no interior das organizações e
para sociedade, como é o caso do papel dos liderados. O que, em última análise, significaria
considerar matizes importantes do fenômeno liderança como tendo suas origens a se
estenderem para além dos muros organizacionais, referenciada pela visão de mundo dos
atores e mediada pelos fatores condicionantes da relação, que são frutos vivos das construções
sociais dos envolvidos.
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