Tratamento da hipotensão presumida nos recém-nascidos de
muito baixo peso: efeitos na oxigenação cerebral regional
Treatment of presumed hypotension in very low birthweight neonates:
effects on regional cerebral oxygenation
Arch Dis Child Fetal Neonatal Ed 2013;98:F117-F121
Garner RS, Burchfield D (EUA)
Apresentação: Laís Póvoa, Morgana Pelegrini, Saulo
Floriano
Coordenação: Paulo R. Margotto
Escola Superior de Ciências da Saúde, a Faculdade de
Medicina da Secretaria de Estado de Saúde do Distrito
Federal
www.paulomargotto.com.br
Brasília, 30 de março de 2013
O que é conhecido sobre este tema
Até 40% dos recém-nascidos de muito baixo peso
na UTI neonatal são tratados para a hipotensão,
e a hipotensão está associada com deficientes
resultados do desenvolvimento. Há conflitos de
dados se o tratamento melhora o fluxo
sanguíneo cerebral
Vários estudos documentaram
morbidades do sistema nervoso central
associadas a baixa pressão arterial.
 No estudo de Miall-Allen et al pressão
arterial média (PAM) <30mmHg por mais
de 1 hora versus PAM ≥ 30mmHg nos
recém-nascidos (RN) de muito baixo
peso associou-se com severa
hemorragia intraventricular, lesões
cerebrais isquêmicas ou morte dentro
de 48 horas

Munro et al2, usando o NIRS (near infrared spectroscopy)
nos RN prematuros extremos, mostraram um ponto de
corte aproximadamente de 30mmHg na curva de
autorregulação fluxo cerebral-MAP, sugerindo que sob
MAP <30mmHg, o fluxo sanguíneo cerebral é pressão
passiva, mas acima deste valor, o fluxo sanguíneo
cerebral é mantido
 Já outros autores3,4 sugerem que somente a pressão
arterial é incerta na predição da perfusão cerebral
 No entanto a variabilidade da pressão arterial que
assegura adequado fluxo sanguíneo cerebral e a oferta
de oxigênio é desconhecida nos RN muito prematuros
 Assim,, mais de 40% dos RN de muito baixo peso são
tratados para a hipotensão nos primeiros 3 dias de vida3.


As definições e manuseio da hipotensão nos RN de muito
baixo peso variam ao redor do mundo6, devido a vários
fatores entre os quais:
-somente a pressão arterial avalia deficientemente a
perfusão tecidual, particularmente perfusão cerebral3
-hipotensão7 e baixo fluxo sanguíneo cerebral8 são
riscos para o neurodesenvolvimento
OBJETIVO DE TRATAR A HIPOTENSÃO: RESTAURAR A PERFUSÃO
DO ÓRGÃO, PARTICULARMENTE A PERFUSÃO CEREBRAL e
não simplesmente para aumentar a pressão arterial
Usando clearance de 133Xe para medir o fluxo sanguíneo
cerebral, Lundstrom et al9 mostraram que embora a
dopamina aumentasse a pressão arterial em
comparação com a infusão de albumina, a albumina
levou a maior fluxo sanguíneo cerebral
 Osborn et al10 demonstraram que o o tratamento de
neonatos hipotensivos com dopamina levou a um
aumento da pressão arterial sistêmica sem aumentar o
fluxo sanguíneo cerebral, diferente da dobutamina que
MELHOROU O FLUXO SANGUÍNEO CEREBRAL (ESTIMADO
PELO FLUXO DA VEIA CAVA SUPERIOR) EM
APROXIMADAMENTE 2,5% SEM GRANDES MUDANÇAS NA
PRESSÃO ARTERIAL

A determinação da perfusão cerebral pela
avaliação do fluxo da veia cava superior8 ou
Doppler da artéria cerebral média2 não
podem ser feitos continuamente
 O NIRS (espectroscopia infravermelha) pode
ser usado de forma contínua
OBJETIVO DO PRESENTE ESTUDO: determinar se o
tratamento da hipotensão presumida melhora
tanto a pressão arterial sistêmica (que é o
objetivo comumente requerido quando se tra
a hipotensão arterial) como a oxigenação
cerebral (o mais importante)

Estudo observacional prospectivo
 Critérios de inclusão:

› Neonatos admitidos com idade gestacional
(IG) < 30 semanas, peso ao nascer <1500g e
acesso arterial.

Critérios de exclusão:
› Cardiopatia cianótica, suspeita de
viabilidade < 72h
Termo de consentimento livre e
esclarecido foi obtido no período prénatal e logo após o nascimento.
• Estudo aprovado pela University of
Florida´s Institutional Review Board ( IRB)
• Pacientes monitorados por 72h ->
incluídos no estudo caso fossem tratados
para hipotensão
• Foram monitorados : pressão arterial,
saturação arterial e saturação de
oxigênio regional cerebral (
•

Análise dos dados:
‒ Nos pacientes tratados para hipotensão
(pressão arterial média <30mmHg) foram
medidos PAM e rCSO2:
‒ 30 min antes e 30 min depois ( expansão
volêmica)
‒ 30 em 30 minutos (vasopressores)
‒ t-test: determinar mudanças na pressão
arterial e oxigenação cerebral após o
tratamento. Valores significante se p≤0,05.
Foi usado o software SPSS 18 Para a análise
estatística
‒ Cálculo da amostra: 50 pacientes seriam
necessários
57 pacientes possuíam os critérios de
inclusão
• 7 foram excluídos:
•
‒ 4 por idade materna
‒ 2 se recusaram a participar
‒ 1 anomalia congênita
•
•
50 pacientes monitorados por 72h
22 pacientes tratados para hipotensão
– 20 pacientes: infusão em bolus de 10 mL/Kg de
solução salina
– 11 pacientes: solução salina e dopamina
– 2: dopamina
– As características clínicas dos pacientes estão
Tabela 1-Dados clínicos e demográficos
Observamos diferenças somente na idade gestacional entre os grupos
Paciente envolvidos:
Média de IG : 26.5 semanas (± 1.8
semanas)
 Média de peso: 929g ( ± 229 g)
 54% sexo feminino e 46% sexo masculino

Tabela 2- Respostas da pressão arterial média e saturação cerebral regional
à infusão salina
Ocorreu aumento significativo da pressão arterial com o uso de
solução salina
Já a saturação regional cerebral não teve alterações
significativas
Tabela 3- Respostas da pressão arterial média e saturação cerebral regional
à dopamina
Ocorreu aumento significativo da pressão arterial com o uso de
dopamina
Já a saturação regional cerebral não teve alterações
significativas
Tabela 4- Saturações de oxigênio sistêmicas e pressão
Parcial de CO2 antes e após a infusão salina
Não houve significância estatística na avaliação da
saturação de oxigênio sistêmica e da pressão
parcial de dióxido de carbono antes e depois do
tratamento com solução salina
Tabela 5- Saturações de oxigênio sistêmicas e pressão
Parcial de CO2 antes e após a dopamina
Não houve significância estatística na avaliação da
saturação de oxigênio sistêmica e da pressão
parcial de dióxido de carbono antes e depois do
tratamento com dopamina

Foram realizadas ultrassonografias
transfontanela para pesquisa de
hemorragia intraventricular com os
seguintes resultados:
›
›
›
›

14 pacientes: sem hemorragia;
3 pacientes: grau I;
4 pacientes: grau II;
1 paciente: grau III.
Nenhum paciente foi a óbito durante as
72h de observação.



A questão “o que é uma pressão sanguínea
adequada nos RN de muito baixo peso” ainda não
foi respondida
Vários pesquisadores tem descrito valores normais
de pressão sanguínea nos primeiros dias de vida
nos RN de baixo peso ao nascer 14-18.
Outros pesquisadores tem demonstrados efeitos
adversos da baixa pressão sanguínea, tanto a
pressão sanguínea média <30mmHg 1 ou abaixo
do percentil 10 para o peso ao nascer e idade
pós-natal10.
No entanto, os valores dentro dos limites normais
estabelecidos não garante adequada
oxigenação tecidual e tão pouco, a hipotensão
significa garantia de inadequada oxigenação
tecidual.
No presente estudo, demonstrou-se que o tratamento
da hipotensão presumida, embora tenha resultado em
aumento da pressão arterial (PA) sistêmica, não
equivaleu a uma melhora na oxigenação tecidual
 Ausência de relação da PA com a oxigenação
cerebral:
› Pode ser devido à definição usada para a
hipotensão nos RN de muito baixo peso (<30mmHg):
é provável que os RN estejam ainda numa zona de
autorregulação, onde a a perfusão cerebral não foi
comprometida
› Os resultados do presente estudo substanciam os
achados de Bonestroo et al21 que mostraram que o
tratamento da hipotensão, definido como PA
abaixo da idade gestacional, tanto com expansores
de volume como dopamina, não melhoraram a
oxigenação cerebral regional.




Espectroscopia infravermelha: permite a contínua
monitorização da oxigenação tecidual. Devemos
ter cuidados com as armadilhas desta
tecnologia22: reflete primariamente a saturação
venosa de oxigênio25 e tem boa correlação com
a saturação venosa de oxigênio na jugular nas
crianças <10kg26.
Portanto, depende da entrega de O2 tecidual e
da extração tecidual de O2
Assim, a interpretação das mudanças na rCSO2
pelo NIRS deve ter em conta eventos agudos que
alteram a extração de oxigênio como:
 Convulsões, anestesia e alterações agudas no
metabolismo



Neste estudo foi monitorizado apenas a rCSO2,
mas pode ser que os pacientes deste estudo
tenham tido comprometimento da entrega de
O2 a outros órgãos, como intestino ou
músculos e que a redistribuição do débito
cardíaco tenha poupado o cérebro de
hipoxia tecidual.
Tal fato sugere que a monitorização nos
demais órgãos seria mais promissor na
tomada de decisão na hipotensão
No entanto, neste estudo não se mostrou
comprometimento da oximetria cerebral
nestes pacientes hipotensos, uma presunção
comumente feita para a correlação entre
hipotensão e deficiente resultado neurológico




No presente estudo, 8 dos 22 pacientes (36%)
apresentaram hemorragia intraventricular
No recrutamento de pacientes para o estudo,
o Centro onde foi feito este estudo relatou
uma incidência de hemorragia intraventricular
de 15.7%
O dobro desta incidência que ocorreu no
presente estudo, provavelmente reflete a
condição mais crítica dos recém-nascidos
recrutados para o estudo
No entanto, não é possível estabelecer se a
hipotensão ou o seu tratamento foram
causadores
• O tratamento baseado só na pressão arterial
<30mmHg pode não melhorar a oxigenação
cerebral, apesar do aumento da pressão
arterial, provavelmente porque estes pacientes
estejam na zona de autorregulação do fluxo
sanguíneo cerebral.
• Corrigir PA sem analisar o comprometimento da
oxigenação tecidual pode gerar
complicações28,29.
• No futuro deverá haver melhora na
monitoração não invasiva para auxiliar as
decisões clínicas no tratamento da hipotensão
O que este estudo acrescenta
Tratar a pressão arterial somente
com base no valor <30mmHg
nos neonatos de muito baixo
peso não aumenta oxigenação
cerebral.
RESUMO
Contexto
Estudos anteriores já haviam relacionado contexto sobre
o pobre desfecho neurológico com a hipotensão.
Tratamento de hipotensão em recém-nascido de muito
baixo peso (RNMBP) é comum e na maioria das vezes se
baseia unicamente na medida da pressão arterial
)PA).Não está esclarecido se o tratamento melhora
oxigenação cerebral.
Objetivo
Determinar se o tratamento de hipotensão arterial em
RMBP resulta em um aumento na oxigenação cerebral.
Pacientes e métodos
Estudo observacional realizado em um único Centro, com
recém-nascidos <30 semanas e <1500 gramas,com
monitorização contínua da pressão arterial e da oximetria
cerebral regional (rCSO2) com espectroscopia no
infravermelho. Todos os dados foram gravados
digitalmente. Para os pacientes tratados por hipotensão
durante os 3 primeiros dias de vida, foram determinados
os efeitos do do tratamento sobre a pressão arterial e a
saturação cerebral regional.
Resultados
Vinte e oito dos 50 pacientes com hipotensão foram
tratados pela equipe médica, dos quais 22 tiveram dados
registrados com precisão para a análise.. O uso da
infusão salina (10 ml / kg) e de dopamina 2,5-5 mcg / kg
por min levou ao aumento significativo da PA, (solução
salina 26,8 ± 3,5 para 28,8 ± 4,2 mmHg, p <0,005;
dopamina 27,6 ± 1,9 a 29,5 ± 3,2 mmHg, p <0,02). Os
valores de rCSO2 na fase de pré-tratamento foram
semelhantes aos valores normais publicados e o
tratamento com solução salina normal ou a dopamina
não teve efeito sobre rCSO2.
Conclusão
Estes resultados sugerem que o tratamento de hipotensão
em RNMBP com base unicamente na medição da PA <
30 mm Hg, apesar do aumento da pressão arterial, não
pode aumentar a oxigenação cerebral, possivelmente
porque muitos desses pacientes estão na zona de
autorregulação para o fluxo sanguíneo cerebral.
Consultem também
Estudando juntos, Aqui e Agora!
Dr. Paulo R. Margotto
www.paulomargotto.com.br
Suporte cardiovascular no recém-nascido pré-termo
extremo
Autor(es): Martin Kluckow (Austrália). Realizado por Paulo R.
Margotto

Estudo randomizado realizado por nós na Austrália, envolvendo 42 RN em 2
Centros Neonatais (estudo publicado no J Pediatr 2002; 140: 183-91), comparou
dobutamina versus dopamina em RN pré-termo com baixo fluxo sanguíneo
sistêmico; 42 RN com baixo fluxo sanguíneo na veia cava superior ( menor que
41ml/Kg/min) nas primeiras 12 horas foram randomizados para receber 10ml/Kg
de solução salina, seguido por 10mcg/kg/min de dobutamina ou dopamina.
Havendo persistência do baixo fluxo sanguíneo ou recorrência, o inotrópico foi
aumentado para 20mcg/Kg/min. O uso de volume produziu significante aumento
do fluxo sanguíneo na veia cava superior (VCS) em 43%. Na mais alta dose de
dobutamina, produziu-se maior fluxo na VCS do que a dopamina (p menor que
0,02). A dopamina resultou no aumento significativamente maior da pressão
arterial média. Com 24 hs de uso do inotrópico, os RN com dobutamina
apresentaram aumento significativamente maior do débito cardíaco direito (295
versus 167ml/Kg/min-p<0,001). Não houve diferenças significativas na
mortalidade ou morbidade.
Este estudo demonstra que a melhora da pressão arterial não
necessariamente melhora o fluxo sanguíneo.

Esta observação é importante. Pelo fato da dopamina ser superior a dobutamina
no efeito pressórico, a dopamina tem sido a droga de escolha. É importante que
se coloque que o aumento da resistência vascular sistêmica é associado com
menor fluxo na VCS, sugerindo que o aumento da PAM seja secundário ao
aumento da resistência vascular durante o primeiro dia, possa ser
contraprodutivo durante o primeiro dia de vida. Pelo fato da dopamina
aumentar e a dobutamina diminuir a resistência vascular sistêmica, especulamos
que o RN prematuro com baixo fluxo sistêmico, com ductus arteriosus fechado
durante o primeiro dia de vida, a dobutamina resultaria em maior melhora no
fluxo sanguíneo sistêmico do que a dopamina.
Hipotensão, terapia anti-hipotensiva e neurodesenvolvimento em
recém-nascidos pré-termos extremos
Autor(es): Batton B et al. Apresentação: Jussara Soares Pereira, Káritas Rios
Lima, Regina Honorato, Paulo R. Margotto

Ao contrário da hipótese inicial, RN com baixa pressão
arterial (PA) nas primeiras 72h, independente de
tratamento, têm mais dano no neurodesenvolvimento
que RN com PA normal
Os resultados não sugerem que a terapia anti-hipotensiva
melhore o desfecho. Há uma tendência de pior desfecho
em RN com baixa PA tratados, quando comparados com
RN com baixa PA não tratados, apesar desses 2 grupos
diferirem em vários aspectos perinatais
 Dempsey et al consideraram que normotensos (PA nunca
menor que a idade gestacional) e RN com hipotensão
permissiva (PA menor que a idade gestacional, mas com
boa perfusão e não foram tratados) tiveram
neurodesenvolvimento similares
 Especulações: Os RN com baixa PA tratada podem ter
evoluído mal porque eles estavam inicialmente mais
doentes
Alternativamente, a pior evolução pode ter ocorrido
porque a terapia anti-hipotensiva foi inefetiva ou
danosa
 Uma recente revisão (Dempsey e Barrington) destaca
que a terapia anti-hipotensiva pode ser tóxica (a
dopamina suprime o funcionamento da pituitária e a
excesso de expansão volumétrica e hidrocortisona
foram associadas com um aumento da mortalidade)
 O deficiente desenvolvimento pode estar relacionado
com a deficiente perfusão cerebral; o baixo fluxo na
veia cava superior pode ser um indicador de má
perfusão cerebral; no entanto, o a correção deste
baixo fluxo com dopamina e dobutamina não
melhorou o neurodesenvolvimento (Osborn D et al)
 Fanaroff et al relataram mais surdez nos NR prematuros
extremos tratados para a hipotensão nas primeiras 72
horas, em comparação com os não tratados

Tratamento da hipotensão em recém-nascidos pré-termos: quando
e com o que: uma revisão crítica e sistemática
Autor(es): EM Dempsey and KJ Barrington. Apresentação:Carina Lassance,
Hans Stauber Vanessa Cândidoe Paulo R. Margotto






Não há nenhum valor de hipotensão que prediga um pior prognóstico
na literatura
Definir critérios que estabeleçam qual criança tem mais risco pela
hipotensão é algo que precisa ser melhor estudado
Estudos precisariam mostrar se crianças com hipotensão tratadas
teriam menores lesões cerebrais e a partir de qual nível pressórico essas
lesões seriam maiores
96% dos neonatologistas do Canadá recomendam uso de fluidos para
hipotensão. Há um grande número de complicações inerentes à
ressuscitação volêmica
A resposta a inotrópicos varia em função da diferença entre receptores
e da complexa resposta cardiovascular
Esta revisão crítica e sistemática revela que não há evidências para
suportar um consenso na intervenção da hipotensão em RN.
Tratar o bebê somente com base na baixa PA deveria ser revisto
A combinação de baixa PA com sinais clínicos de baixa
perfusão parece esteve mais fortemente relacionado com o
prognóstico

Consultem também.....
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Hipotensão Permissiva: Ponto de vista
Autor(es): Paulo R. Margotto



O artigo Hipotensão Permissiva que se encontra na página
(www.paulomargotto.com.br) foi uma reprodução da Conferência do Dr.
Barrington (Canadá), ocorrida no Rio de Janeiro por ocasião do 6º Simpósio
Internacional de Neonatologia1. Este autor também publicou em 2008 um artigo
sobre o tema e com a minha colega, Dra. Márcia Pimentel, traduzimos e
também colocamos na página. Sobre estes dois artigos, digo que não fiquei
confuso, pois eles mostraram que existe um certo abuso nas UTI Neonatais do uso
de inotrópicos (há UTIS em que 98% dos RN são hipotensos!). Agora mesmo, aqui
na UTI Neonatal do Hospital Planalto (Unimed-Brasília), tenho a informação que
um meu prematuro (29 semanas) estável está com pressão arterial média de
26mmHg. Vou introduzir inotrópico? Lógico que não. A pressão arterial não é um
bom parâmetro para se avaliar a hemodinâmica do bebê e na verdade, é o
único que a maioria das UTIs Neonatais do país dispõe. Em outro estudo
conduzido por Barrington no Canadá em que ele aplicou um questionário, a
grande maioria dos neonatologistas canadenses considera a hipotensão arterial
quando a pressão arterial encontra-se abaixo da idade gestacional (que
segundo ele é um critério sem muito sentido) e mais importante ainda, os
neonatologistas canadenses agregam outras informações, como a perfusão e
a diurese para valorizar o tratamento. Ou seja, não se deve tratar somente a
hipotensão arterial e sim o bebê.
Outro grande problema nas UTI Neonatais, é o excesso de expansão volêmica. É
lógico que a expansão volêmica tem a sua importância nos momentos certos.
Estudo de Ewer AK et al evidenciou a maior mortalidade nos RN expandidos.
Lembrar que os RN prematuros demoram 6-8 horas para urinar1.
Portanto, na minha visão, quando um tema é polêmico, com várias controversas,
é fundamental que conheçamos as controversas para que possamos agir o mais
certo possível frente a uma situação difícil e não "sair atirando para tudo quanto
é lado". Devemos sempre lembrar que o nosso prematurinho na UTI Neonatal
encontra-se em um período de intenso desenvolvimento cerebral e devemos
fazer de tudo para que este desenvolvimento seja preservado, mesmo dentro
das condições adversas das nossas UTIs Neonatais
Apesar da ausência de evidências sólidas no
manuseio do RN pré-termo com hipotensão
arterial e enquanto aguardamos estudos
especificamente desenhados com o objetivo
de avaliar melhor, a curto e a longo prazo, o
prognóstico clínico, é importante que se
tenha na UTI Neonatal um norte (“a ausência
da evidência não é a evidência da
ausência”)
Na Unidade de Neonatologia do HRAS/SES/DF, elaboramos
um Protocolo de Intervenção frente aos RN que apresentam
hipotensão arterial de difícil controle, principalmente naqueles
casos de choque séptico. Como foi citado no presente artigo,
não se basear somente no valor da PA, mas combiná-la com
sinais clínicos de má perfusão. Assim é importante que o RN
seja continuamente monitorado. O aumento da dose ou a
introdução de nova droga deve ser sempre seguido após
criteriosa avaliação
Apesar de não haver consenso na definição de hipotensão
arterial, consideramos hipotensão quando a pressão arterial
média está abaixo de 30 mmHg (ou abaixo da idade
gestacional, pelo menos nos 3 primeiros dias de vida).
A seguir o Protocolo de Manuseio dos RN com Choque
Séptico
Unidade de Neonatologia do Hospital Regional da Asa Sul
PROTOCOLO DE MANUSEIO DO RECEM-NASCIDO COM CHOQUE SÉPTICO
Equipe necessária: 1 médico, 1 enfermeira e 2 auxiliares de enfermagem
Atuação da equipe: pelo tempo necessário para promover estabilidade
hemodinâmica do paciente
Avaliações diagnósticas necessárias: medida da pressão arterial não-invasiva,
controle da diurese, medida da pressão venosa central (PVC)
Primeira Etapa (60 min)
n
Medir a PA (pressão arterial) a cada 10 min; valorizar a PAM (pressão arterial
média) (prioridade para instalação de monitor de pressão arterial não-invasiva
disponível no setor)
n
Aplicar fase rápida (FR) com soro fisiológico, 10 ml/kg, em 20 min para o
recém-nascido pré-termo (RNPT) e em 10 min para o recém-nascido a
termo(RNT), repetindo as etapas até normalização da PAM (> 30mmHg)
n
Iniciar Dopamina, na dose de 7,5 mcg/kg/min, e somente reduzir a dose se
houver hipertensão arterial (consultar tabelas)
n
Avalie o paciente a cada 10 min para decidir o passo seguinte, que nessa
fase são as infusões:
Obs. 1: Corrija hipoglicemia, hipocalcemia, acidose metabólica pura e anemia
documentadas
Obs. 2: Avaliar e garantir suporte ventilatório
Segunda Etapa (30 min) – se PAM < 30 mmHg
n Aumentar a Dopamina para 10 mcg/kg/min
n Iniciar Dobutamina, na dose de 10 mcg/kg/min
n
Medir PVC para avaliar novas necessidades de expansões,
que devem ser continuadas se PVC < 8 cmH2O ou, na ausência de
PVC, avaliando perfusão periférica e diurese (que tem que ser > 1,2
ml/kg/hora)
n
Aumentar a Dobutamina, de 5 em 5 mcg/kg/min, a cada 10
min, até 20 mcg/kg/min, se PAM< 30 mmHg, se PVC< 8 cmH2O
e/ou saturação venosa central < 70 mmHg
Segunda Etapa (30 min) – se PAM < 30 mmHg
n Aumentar a Dopamina para 10 mcg/kg/min
n Iniciar Dobutamina, na dose de 10 mcg/kg/min
n
Medir PVC para avaliar novas necessidades de expansões,
que devem ser continuadas se PVC < 8 cmH2O ou, na ausência de
PVC, avaliando perfusão periférica e diurese (que tem que ser > 1,2
ml/kg/hora)
n
Aumentar a Dobutamina, de 5 em 5 mcg/kg/min, a cada 10
min, até 20 mcg/kg/min, se PAM< 30 mmHg, se PVC< 8 cmH2O
e/ou saturação venosa central < 70 mmHg
Terceira Etapa – se PAM < 30 mmHg
n
Iniciar Adrenalina, 0,1 mcg/kg/min e, a cada 20
min, aumentar 0,1 mcg/kg/min até 0,5 mcg/kg/min
Obs. 1: Ao iniciar Adrenalina, avaliar redução das
doses da Dopamina
Obs. 2: Se houver necessidade de aumentar a
Adrenalina acima de 0,2 mcg/kg/min,
iniciar Hidrocortisona na dose de 1
mg/kg/dose de 8/8h
Obs. 3: Considerar uso de corticóide em fases
anteriores se hipoglicemia resistente
Quarta Etapa
n
Ampliar a discussão com outros colegas da
Unidade para tomar condutas adicionais
n
Considerar avaliação ecocardiográfica da
função miocárdica
n
Considerar uso de outras drogas (Milrinona)
conforme situação apresentada
Equipe de Neonatologia do Hospital Regional da Asa
Sul (HRAS)/SES/DF/2006
OBRIGADO!
Ddra. Joseleide G. Castro, Dr. Sérgio H. Veiga (Neurologista), Dda. Morgana
Pelegrini,
Ddra. Lais Póvoa, Ddo Saulo Floriano e Dr. Paulo R. Margotto
ESCS!
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efeitos na oxigenação cerebral regional