ALFABETIZAÇÃO CIENTÍFICA ATRAVÉS DAS “TIRINHAS”: um exemplo de
trabalho para uma educação cidadã no ensino de ciências
PESSOA, R. S., Msc. em Ensino das Ciências UFRPE- Profa. Multiplicadora do
NTECI/SEDO/OLINDA [email protected]
Introdução
É sabido que toda criança gosta de ler estórias em quadrinhos e esse gostar deveria ser mais
explorado como ferramenta didática pelo professor como uma forma de alfabetizar
cientificamente seus alunos. A definição de alfabetização científica pode ser entendida
como a capacidade do indivíduo ler, compreender e expressar opinião sobre assuntos que
envolvam a ciência. Isto, parte do pressuposto de que o indivíduo já tenha interagido com a
educação formal, dominando, desta forma, o código escrito (Lorenzetti e Delizoicov, 2001).
Entretanto, complementarmente a esta definição, e num certo sentido a ela se contrapondo,
partimos da premissa de que é possível também desenvolver uma alfabetização científica
nas séries iniciais do Ensino Fundamental, mesmo antes do aluno dominar o código escrito.
O uso das “Tirinhas” começou a ser feito em agosto de 1999, como atividade do programa
de Vocação Científica de Luisa Daou, jovem estudante do ensino médio. Perspicácia,
motivação, habilidade e senso de humor são ingredientes fundamentais para o sucesso das
“Tirinhas”. Hoje, as “Tirinhas” já estão sendo utilizadas por vários professores em várias
cidades e escolas públicas do Brasil.
O emprego das tirinhas nas aulas de ciências traz como benefício a motivar a criação do
espírito crítico-reflexivo que conduza os alunos a divulgarem os conhecimentos aprendidos.
Referencial Teórico
Quando falamos em alfabetização lembramos o método de alfabetização de Paulo Freire.
Uma forma desafiadora de alfabetizar cientificamente nossas crianças é usarmos as estórias
em quadrinhos e as “Tirinhas”. Se pensarmos nos desafios da alfabetização científica é
lógico pensarmos na necessidade inerente de desenvolver um material ligado ao dia-a-dia
de nossas crianças. Paulo Freire (1992) apud Lima (2004) ressalta que a idéia de que
qualquer esforço de educação deve possibilitar, através da problematização do homem-nomundo ou das relações deste homem com o mundo e com os homens. Os sujeitos devem ter
a oportunidade para que aprofundem o nível de consciências da realidade na qual e com a
qual estão inseridos. Lima (2004), ainda destaca que essas citações sobre as idéias
alfabetizadoras de Paulo Freire são extremamente importantes quando se pensa em práticas
educativas, porém, essas práticas educativas aqui referidas não estão somente identificadas
nas ações realizadas nas escolas. Muito pelo contrário, cada vez mais há referência de
práticas pedagógicas em tudo que se faz, ou seja, nas atitudes e ações realizadas em todos
os lugares.
Em relação aos conteúdos das disciplinas acredita-se que tudo quanto for aceito no
programa escolar precisa ser realmente prático, capaz de influir sobre a existência social no
sentido do aperfeiçoamento do homem. O reforço disso está presente em um texto de
Arroyo (1994, p.31), que defende a presença na escola de temas emergentes de um
currículo plural. Tal autor escreve que se o objetivo é o desenvolvimento integral do aluno
numa realidade plural, é necessário que se passe a considerar as questões e problemas
enfrentados por homens e mulheres de nosso tempo como o objeto do conhecimento.
Metodologia
Esta investigação teve caráter qualitativo dividido em três etapas: investigação, elaboração
e avaliação. Em todas elas levou-se em consideração dos fenômenos humanos. Foi
observado alguns elementos que permitiram apresentar e/ou refletir sobre o tema.
Basicamente o método foi estar sensível ao outro e ao mundo, pois estar em sala de aula é
está em contexto sociocultural, de muitas múltiplas facetas, onde perceber o indivíduo e o
individual torna-se tão importante quanto trabalhar os conteúdos.
O local escolhido foi uma escola da qual a autora deste estudo lecionou. A população,
assim como também a amostra pesquisada, consistiu de uma turma de 40 alunos da 5ªB,
compreendidos na faixa etária entre 10 e 14 anos. A escolha da turma ocorreu
intencionalmente pela escolha do tema “água potável”.
Na primeira etapa, o trabalho consistiu em uma leitura coletiva de um texto retido da
Internet sobre a importância das chuvas. Em seguida os alunos foram estimulados a
expressarem as suas opiniões sobre o texto. Para registrar as concepções dos alunos sobre o
tema, foi elaborado pela professora um questionário com questões abertas e fechadas o qual
os alunos foram convidados a preenchê-lo. No primeiro momento, eles apenas conversaram
sobre o tema; relataram suas dúvidas e levantaram algumas questões sobre a relação entre
água doce e água salgada. Após a discussão, foi solicitado o registro escrito em forma de
desenhos ou da elaboração de um pequeno resumo. Em seguida foi solicitada aos alunos
uma pesquisa em jornais, livros, revistas e mesmo em alguma outra fonte ou material de
propaganda exibida nos diversos meios de comunicação, internet ou pela na televisão sobre
o tema estudado. O objetivo agora era que o aluno aumentasse o repertório de informações
sobre o assunto e conhecer o modo de divulgação das diferentes mídias. Na aula seguinte,
foi promovido um novo debate resgatando o conteúdo abordado da aula anterior, no qual os
alunos agora teriam de interpretar os seus próprios textos, fazendo uma leitura em voz alta
do mesmo. O texto serviria para a confecção das estórias em quadrinhos e para as tirinhas.
Resultados
Dentre as várias estórias escritas pelos alunos uma delas foi também ilustrada por um pai de
aluno o qual resolveu confeccionar um banner de TNT. O pai teve a preocupação de
colocar apenas no banner o desenho, sem a história ou o título. A proposta é que o
espectador ao se aproximar do desenho consiga entender a história e só depois lhe é exibido
o diálogo entre os personagens pelo autor.
Durante todo o processo de elaboração e produção do material na sala de aula, os alunos
foram acompanhados pela professora. Na avaliação continua das atividades sugeridas,
verificou-se a importância que o educador tem, de planejar de forma adequada, as
atividades a serem realizadas com os alunos. Cada etapa foi considerada importante, desde
a elaboração da estória até produção dos desenhos e o desfecho culminando com a
apresentação na sala de aula. Considerou-se o nível de desenvolvimento e maturidade das
crianças que participaram do trabalho para que houvesse o alcance dos objetivos propostos.
Considerações Finais
Entre as fontes de pesquisa mais utilizadas pelos alunos, o livro didático ainda é o mais
citado. Isso denota a responsabilidade do livro e reforça um centro grau de cientificidade
nas respostas dos questionário dos alunos. Um ponto a ser destacado foi o apoio de alguns
pais que procuraram a escola para tomar conhecimento do projeto. Esta ação resultou no
envolvimento direto, originando a aproximação da família com a as atividades da escola.
Este fato além de valorizar o trabalho do professor, conduz aos envolvidos a uma
motivação mais significativa para continuar a vislumbrar novos encaminhamentos para os
próximos projetos. Durante a execução da pesquisa, observou-se a importância cada vez
maior de utilizarmos os recursos das tecnologias, como as mídias tanto para a informação e
comunicação como estratégia educacional. Na obtenção das informações, quanto na
divulgação dos conhecimentos aprendidos. Esta prática possibilita a transmissão de
mensagens positivas e eruditas aos alunos e ajuda-os a enfrentar os desafios sociais e para a
conservação da vida no planeta.
Observou-se também que alunos que tem a chance de participar deste tipo de trabalho e se
este trabalho for bem conduzido, provavelmente irão enfrentar com menos dificuldades as
situações de seu cotidiano, exteriorizando seus sentimentos e tendo uma maior liberdade de
expressão de todos os seus atos tornando-se cidadãos mais conscientes e crítico-reflexivos.
Referências
ARROYO, Miguel. Escola plural. Proposta pedagógica. Rede municipal de Belo
Horizonte,Belo Horizonte SMED,1994.
LIMA, Irenilda de Souza. Prática Extensionista: complexidade educativa e agir
comunicacional. http://www.eca.usp.br/alaic/trabalhos2004/g1/irenildasouza.htm
Acesso 23/09/2006.
LIMA, Irenilda de Souza. Mídia educativa: o uso do vídeo no ensino técnico agrícola em
Pernambuco. 202 p.Tese (doutorado em Ciências da Comunicação), ECA – Universidade
de São Paulo.2002.
LORENZETTI, L. & DELIZOICOV, D. Alfabetização científica no contexto das séries
iniciais. Revista Ensaio e Pesquisa em educação em ciências. – vol. 3, no. 1, Junho de 2001.
MORAN, José Manoel – http://www.eca.usp.br/prof/moran/midias/educ.htm
Acesso 18/07/2006
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