Simpósio Internacional sobre Interdisciplinaridade no Ensino,
na Pesquisa e na Extensão – Região Sul
Instituindo a interdisciplinaridade na UNILA: um olhar
Luis Eduardo Alvarado Prada
(Instituto de Estudos Avançados do Mercosul – IMEA-UNILA - [email protected])
Eixo temático: Institucionalização da Interdisciplinaridade.
Resumo
A interdisciplinaridade é um dos três pilares da Universidade Federal da Integração Latino-Americana UNILA, junto ao bilinguismo e a integração em America Latina e Caribe. Esta universidade criada em 2010
pelo governo brasileiro tem como missão contribuir para a integração solidaria de America Latina e
atualmente fazem parte da instituição estudantes e professores de mais de 10 países.
É uma universidade em processo de institucionalização, com um regimento (UNIVERSIDADE FEDERAL
DA INTEGRAÇÃO LAINO-AMERICANA, 2013) aprovado em junho de 2013, nele se explicita sua
estrutura, organizada em unidades acadêmicas, que são os Institutos Latino-Americanos, dentro dos que
estão sendo criados os centros interdisciplinares como subunidades acadêmico-cientificas, com
competência própria para o planejamento, organização e execução das atividades de ensino, pesquisa e
extensão e para atuar em cooperação entre si.
Nessa organização, os cursos de graduação e pós-graduação, têm caráter interdisciplinar, estão vinculados a
mais de um centro, sujeitos as decisões dos centros interdisciplinares e lhes compete a organização das
atividades de gestão acadêmica, de ensino, pesquisa e extensão de forma compartilhada com os demais
cursos do mesmo centro interdisciplinar.
Os docentes e técnico administrativos em educação são alocados pelos institutos nos Centros
Interdisciplinares.
Esta organização dos Centros Interdisciplinares e toda a organização da UNILA está em processo de
construção. Mesmo que foi elaborado primeiro o estatuto (UNIVERSIDADE FEDERAL DA
INTEGRAÇÃO LAINO-AMERICANA, 2013) e agora o regimento é necessário o a execução de todo o
definido nestes documentos e os que ainda estão em elaboração como o Plano de Desenvolvimento
Institucional-PDI para entre outros objetivos e procedimentos efetivar a interdisciplinaridade.
A UNILA desde seus origens tem sido concebida interdisciplinar, já a consulta de expertos mundiais para
sua criação foi vem diversificada cobrindo diferentes áreas do saber, inclusive diferentes correntes de
pensamento com respeito à educação superior e mesmo com respeito á políticas e em geral o pensamento de
integração. Esses mesmos consultores recomendaram a interdisciplinaridade como uma das formas para
poder ser uma instituição que contribua à integração.
Ao iniciar as primeiras turmas em 2010 nas grades curriculares se permeava a interdisciplinaridade. O
núcleo comum, denominado America Latina, para todos os cursos, foi composto por três disciplinas:
metodologia, línguas (espanhol, português) e a própria America Latina. No desenvolvimento desta ultima
disciplina as turmas foram conformadas misturando estudantes de vários países e vários cursos. Os
professores de esta disciplina, também foram organizados, de modo a constituir grupos com membros de
diferentes formações nas áreas de conhecimentos.
Palavras-chave: Interdisciplinaridade, Aprendizagem “extracurricular”. Integração. América-Latina.
UNILA.
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Contextualizando a experiência da UNILA1
A ideia de uma universidade Latino-Americana surgiu na década de 60 na União de Universidades da
América Latina (UDUAL), quando se estabeleceram recomendações às Instituições de Ensino Superior
participantes, as quais se constituiriam precursoras das ações para a integração da América Latina, no âmbito
do Mercosul.
O Brasil, décadas depois do surgimento dessa ideia, propôs a criação do Instituto Mercosul de
Estudos Avançados (IMEA), cujas atividades estariam focadas na cooperação interuniversitária em nível de
pós-graduação. Posteriormente, por orientação do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi decidido ampliar
o escopo da proposta com novo Projeto de Lei, a ser encaminhado ao exame do Congresso Nacional, que
propôs a criação da Universidade Federal da Integração Latino-Americana em Foz do Iguaçu, Estado do
Paraná. Essa cidade foi escolhida devido à confluência das fronteiras entre Brasil, Argentina e Paraguai.
Projeto de Lei foi enviado em fins de 2007 ao Congresso Nacional brasileiro, onde foi posteriormente
sancionado pelo Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, como Lei nº 12.189, em 12 de janeiro de
2010 (INSTITUTO MERCOSUL DE ESTUDOS AVANÇADOS, 2009a).
O desenho acadêmico e institucional da UNILA começou a ser esboçado em março de 2008, com a
criação da Comissão de Implantação da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (CI-UNILA)
que teve como desafio subsidiar a criação de uma universidade pública brasileira, vinculada ao Sistema
Federal de Educação Superior, que assegurasse sua vocação inovadora: contribuir para a integração da
América Latina, a partir do conhecimento compartilhado e da cooperação solidária com os governos, suas
instituições educacionais e as universidades latino-americanas.
A primeira seleção de estudantes brasileiros foi realizada com base no ENEM 2009, e os alunos dos
países do Mercosul foram selecionados com o apoio dos Ministérios de Educação e outras entidades dos
respectivos países. A UNILA começou a funcionar com sua primeira turma de estudantes em agosto de
2010, numa sede provisória, situada na Fundação Parque Tecnológico de Itaipu (PTI) – Binacional: Brasil,
Paraguai.
Inicialmente, a UNILA contava com seis cursos de graduação: Ciências Biológicas: Ecologia e
Biodiversidade; Ciências Econômicas: Economia, Integração e Desenvolvimento; Ciência Política e
Sociologia: Sociedade, Estado e Política na América Latina; Engenharia de Energias Renováveis;
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Os dados aqui apresentados estão na memória da maioria de unileros, entretanto para dar algumas referências que permitam
maiores aprofundamentos mencionaremos os seguintes documentos: INSTITUTO MERCOSUL DE ESTUDOS AVANÇADOS.
COMISSÃO DE IMPLANTAÇÃO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA, 2009 a.;
INSTITUTO MERCOSUL DE ESTUDOS AVANÇADOS. COMISSÃO DE IMPLANTAÇÃO DA UNIVERSIDADE
FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA, 2009b; UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LAINOAMERICANA – COMISSÃO DO PROJETO PEDAGOGICO INSTITUCIONAL, 2013.
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Engenharia Civil de Infraestrutura; e Relações Internacionais e Integração. Em 2011, outros seis cursos
foram criados: Antropologia: Diversidade Cultural Latino-Americana; Ciências da Natureza: Biologia,
Física e Química; Desenvolvimento Rural e Segurança Alimentar; História da América Latina; Letras, Artes
e Mediação Cultural; e Geografia - Território e Sociedade na América Latina. Em 2012, a UNILA ofereceu
dezesseis cursos de graduação, sendo que, além dos doze citados anteriormente, iniciaram-se os cursos de
Saúde Coletiva; Arquitetura e Urbanismo; Música; e Cinema e Audiovisual.
A área de pós-graduação tem desenvolvido dois cursos de Especialização, um em 2011 e outro em
2012. Atualmente, estão sendo elaboradas propostas de mestrado para serem enviadas a CAPES.
Por seu turno, as atividades de extensão da UNILA tiveram início no segundo semestre de 2010 e
têm-se desenvolvido em dois anos, quase duas dezenas de programas e mais de meia centena de projetos.
O ano de 2012 foi importante para o desenvolvimento da universidade devido ao início do processo
de institucionalização da UNILA. Em março de esse ano, entrou em vigor o Estatuto da universidade,
elaborado com a participação da comunidade universitária e aprovado pelo Ministério da Educação. Em
2013 se está elaborando o Regimento Geral da universidade e o Plano de Desenvolvimento Institucional –
PDI: 2013-2017.
O corpo docente da UNILA esta conformado por 230 contratados de 2010 até 2012, na sua maioria
recém-doutores, poucos estrangeiros, alguns são concursados e outros visitantes por dois ou quatro anos. Os
estudantes são atualmente 1.200 matriculados em 16 cursos vigentes, se planeja em cinco anos ter 10.000
estudantes, sendo uma metade brasileira e outra metade de outros países da América-Latina e Caribe.
Espera-se que a proporção de professores seja também, metade brasileiros, metade estrangeiros.
Na atualidade o campus definitivo da Universidade encontra-se em fase de construção, mas, por sua
dimensão monumental, levará cerca de cinco anos para a sua conclusão e completa utilização. Está prevista
sua progressiva ocupação e possivelmente será utilizado de forma parcial em mediados de 2014. Trata-se de
uma obra desenhada por Oscar Niemeyer e que será a segunda maior da história da região - precedida
apenas pela Usina Hidrelétrica de Itaipu binacional, está projetada para ser um símbolo para a cidade.
Entanto que o prédio fica pronto as atividades da são realizadas em três locais provisórios. O principal onde
começo a funcionar a UNILA dentro das instalações do Polo Tecnológico (PTI) de ITAIPU - Binacional
(área de segurança pelo que é essa usina), o segundo prédio localizado na área central de Foz de Iguaçu
(chamado de UNILA-Centro) composto por salas de aula para os cursos de ciências humanas, e o terceiro na
avenida Tancredo Neves (chamado Rio Almada) onde atualmente funciona a reitoria. Em setembro de 2012,
um novo espaço, no centro da cidade (4 mil m2), foi obtido pela UNILA, mediante cessão pela Caixa
Econômica Federal para estabelecer uma interação permanente com a comunidade iguaçuense e toda a
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região tri-nacional (denominado Centro Cultural da UNILA/CEF) e será destinado a atividades culturais,
artísticas e de ensino, bem como sede do Conselho Consultivo UNILA e a Fronteira Tri-nacional.
Do anterior, se deriva que a UNILA está em construção no no sentido institucional, mas em todas as
partes que a constituem, inclusive em seu espaço físico. Fato de grande importância para quem participa
desse processo, pois esta aprendendo, a relacionar os diversos seres que contribuem para a construção
institucional e o desenvolvimento da integração da América-Latina. Nesse sentido de construção da
realidade (BERGER & LUKMAN, 1978), é que enunciamos alguns temas ou situações que, acontecem no
cotidiano das diversas instancias da universidade, nas quais os estudantes vivencia oportunidades de interrelacionar conhecimentos e desenvolver processos de aprendizagem, mesmo e estando fora da sala de aula e,
as vezes, não constando nos planos de aula dos cursos que realizam.
Uma pergunta que orienta a observação dessas aprendizagens é: como os temas objeto de conversa,
discussão e análise dos estudantes e as situações vivenciadas por eles em seu cotidiano relacionam os
diversos saberes possibilitando atividades de aprendizagem, no sentido de Leontiev, (1983) e também de
Assmann, (1998), como formação para contribuir à integração da América-Latina e Caribe?
As possibilidades de diversas aprendizagens, particularmente as de relacionar diversos saberes
(interdisciplinaridade) e as para a integração Latino-americana, as estamos
evidenciando no processo de
construção da UNILA, mediante observações diretas dos estudantes, professores e em geral das diferentes
pessoas que constituem a instituição; no convívio de seu cotidiano; dentro e fora do campus universitário;
em conversas informais e formais sobre algumas das temáticas que depois são enunciadas neste texto; em
eventos formais como aulas, seminários, palestras, oficinas; e em diferentes situações inclusive de ócio e
diversão. Complementam essas evidencias, dados de um processo de avaliação institucional da UNILA,
utilizando alguns elementos metodológicos da pesquisa coletiva (ALVARADO PRADA, 2006, 2008),
mediante a qual os estudantes, professores e corpo técnico administrativo manifestaram, individual e
coletivamente, seus comentários avaliativos sobre a universidade e inclusive fizeram propostas de algumas
mudanças.
Do anterior, tomamos para apresentam neste texto, algumas temáticas ou situações observadas na
instituição e que se tem constituído em objeto de diálogo, descrição, análise, narrativa, nas que as pessoas da
instituição concordam, discordam, defendem, atacam, comparam, etc. Essas temáticas para serem
apresentadas, neste texto, se agrupam em históricas, política cientifica, de saúde, agrícola, de meio ambiente,
culturais, educativas, de transporte, assuntos econômicos, a cultura, e o multilinguismo. O conteúdo de cada
grupo está formado por uma lista de temáticas ou situações que podem possibilitar as aprendizagens já
mencionadas.
A seleção de tais possíveis aprendizagens, para este texto, é realizada, entendendo que a
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interdisciplinaridade, implica entre outros elementos, o desenvolvimento de processos de aprendizagem que
acontece no cotidiano, nas praticas cotidianas de dialogo, onde os estudantes colocam ou ocultam consciente
ou inconscientemente, suas intencionalidades, realizado confronto de múltiplos saberes, ideologias;
concepções teóricas e metodológicas; praticas de vida cotidiana; pontos de vista; experiências; óticas ou
focos de interesse; necessidades; possibilidades; preocupações; formas de ser, agir e pensar.
As temáticas que aqui focalizamos são as relacionadas com a aprendizagem da interdisciplinaridade,
e a de integração de América-latina.
Algumas temáticas e/ou situações de aprendizagens interdisciplinares e da integração de AméricaLatina e Caribe na UNILA.
Neste
texto,
são
enunciados
tópicos
relacionados
com
temáticas
ou
experiências
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“extracurriculares” que ao serem discutidas ou vivenciadas no cotidiano evidenciam possibilidades de
aprendizagem sobre a interdisciplinaridade e a integração da América-Latina e Caribe. A seguir são
apresentadas listagens de alguns desses temas ou situações que possibilitam tais aprendizagens.
A história latino-americana: expressada nas narrativas, nas quais os jovens estudantes têm sido parte
nas duas ultimas décadas, isto é desde quando nasceram. Algumas narrativas anteriores ao seu nascimento
foram conhecidas por eles quando transmitidas na escola, cursando os currículos oficiais de cada país.
Junto às narrativas dos processos históricos são enunciados, nos diálogos dos unileros, assuntos
relacionados com os limites territoriais (nas divisas) de alguns países.
Tais limites ou divisas, como consequência de disputas, tratados e por outras razões, têm mudado na
história recente. Entre outros casos, podemos enunciar o do Paraguai com o Brasil e a Argentina; a
Colômbia com o Panamá; Uruguai com Paraguai e Argentina; e este último país com as Malvinas. Também
são enunciados, discutidos, informados e explicados assuntos pouco conhecidos de geografia, tais como, a
localização da Colômbia no norte da América do Sul, sendo o único país sul-americano com litorais nos dois
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Colocamos o termo “extracurricular” entre aspas, entendendo que as aprendizagens referidas pouco são explicitadas como
conteúdos ou metodologias de aprendizagem nos planos de ensino das disciplinas que compõem os cursos da universidade,
embora em documentos relacionados coma a missão, os princípios, objetivos da instituição e em alguns planos de ensino sejam
explicitados como objetivos ou pretensões de formação interdisciplinar e para a integração da América-Latina e Caribe. Essas
aprendizagens, mesmo não estando explicitamente formuladas nos documentos institucionais, fazem parte do imaginário do
querer ser institucional. Para realizar esse imaginário são criados institucionalmente alguns espaços e organizadas situações para
os estudantes brasileiros e estrangeiros de vários países conviverem em Foz do Iguaçu. Essa convivência é a que, em nosso
entendimento, proporciona situações que podem gerar aprendizagens interdisciplinares e sobre a integração, à que estamos
fazendo referência.
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oceanos, o Atlântico e o Pacífico, o que por sua localização geográfica gera uma situação importante para a
defesa e o comércio mundial.
As narrativas mais enunciadas se referem a fatos como os golpes militares, desenvolvimento dos
partidos políticos, grupos de esquerda e de direita, a guerrilha, os paramilitares, os processos democráticos,
as formas de eleições, as formas de organização e representação política, o presidencialismo,
parlamentarismo, câmara de vereadores, constituições de cada país e suas reformas, reformas das leis,
participação do cidadão nas reformas constitucionais e outros hábitos da vida dos cidadãos.
As narrativas da própria historia de vida dos estudantes, também são frequentes, nelas é comum
escutar como souberam da UNILA, o que os motivou para vir a essa universidade, os impactos pelas
diferenças culturais quando chegaram e encontraram colegas de outros países, as diferenças que observaram
em assuntos econômicos, educativos, as dificuldades com a língua, a moradia, a comida, etc.
Políticas educativas: Organização e níveis da educação, eleições de diretores escolares, reitores e
outros cargos dentro do "sistema” educativo, titulação, nomes do curso de graduação (diferenças e
semelhanças) sua homologação binacional, os diferentes níveis de educação, educação infantil, formação
universitária ou ensino superior, a pós-graduação (“diplomado”, especialização, mestrado, doutorado),
estágio como requisito para obter o título, trabalho e remuneração do estagio, formação continuada de
professores, carga horária dos cursos, requisitos para titulação, currículo dos cursos, formas e critérios de
avaliação, acesso a universidade e aos diferentes níveis de educação, transporte escolar, bolsas e
financiamentos, subsídios para educação, custos da educação nos diferentes níveis, a educação privada e a
pública, custos da universidade para as classes mais pobres em cada país, educação de jovens e adultos,
analfabetismo, educação popular e de movimentos sociais, educação de diversos setores da população, tais
como: artesões, terceira idade, motoristas, faxineiros(as), ajudantes em geral, desempregados, viciados em
droga, portadores de deficiência e doenças transmissíveis.
Políticas cientificas: Financiamento da pesquisa, dados sobre produção de conhecimento, incentivo e
patrocínio à pesquisa social, entidades financiadoras de pesquisa, valorização social dos pesquisadores,
patentes, pesquisa e educação no desenvolvimento tecnológico, as TICs e o desenvolvimento da pesquisa.
Um assunto comumente narrado é a formação dos pesquisadores e o desenvolvimento da pesquisa em
relação com América Latina e, especificamente nas áreas de conhecimento que professores e estudantes
pesquisam.
Políticas de saúde: Saúde publica, seguro de saúde pago antecipado ou medicina pré-paga, serviço
de saúde para os estudantes e trabalhadores universitários, crianças e pessoas de diferentes fases de idade,
custo da saúde para o Estado e para cada cidadão em particular, pronto socorro, remédios, genéricos,
medicina popular, saúde e esportes, gravidez precoce, aborto, cuidado de mães adolescentes, cuidados de
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pessoas portadoras de necessidades especiais, odontologia e saúde bucal, campanhas de prevenção, saúde do
trabalhador, seguro de saúde internacional dos professores e dos estudantes.
Políticas agrícolas: Produtos agrícolas de cada país, situação alimentar da população em geral e
alguns grupos oficiais em particular, variedades de determinados produtos (exemplo: batatas, bananas, frutas
em geral, verduras, plantas medicinais, flores, etc.), consumo, exportação e importação de produtos
agrícolas, mercado agrícola, tecnologia para cultivo no campo, genética agrícola (transgênicos), agricultura
familiar, financiamento e subsídios agrícolas, cultivos ilícitos, uso de pesticidas e outros produtos na
agricultura, cooperativas e mercados agrícolas, organização de camponeses, movimentos pela propriedade
da terra.
Políticas de meio ambiente: Educação para o cuidado do meio ambiente, práticas de cuidado com o
meio, exploração de recursos mineiros e agressão ao meio, coleta e tratamento do lixo, poluição sonora e
química (exemplo: disposição de água reutilizada, agentes químicos contaminantes, uso de detergentes),
queima e classificação do lixo, utilização da água, reflorestamento, cuidado dos rios e suas nascentes,
educação ambiental.
Políticas de transportes: Público, particular, qualidade do transporte urbano, intermunicipal,
interestadual, internacional, formas de transporte aéreo, terrestre, ferroviário, fluvial, estado das vias de
comunicação (estradas), acidentes e educação para o trânsito, preços das passagens, habilitação ou licença
para dirigir, validade da licença em cada país, normas de condução internacionais, estaduais e municipais,
custo e qualidade do transporte público para o estado, privatização das vias de transporte, licencias para
transporte de carga internacional, indústria de transporte, comercio de alimentos e transporte, turismo e
transporte.
Os assuntos relacionados com economia enunciados pelos estudantes se referem aos planos
econômicos, as crises financeiras nos países, as relações do estado com o comercio informal, os bancos e o
sistema financeiro, as dívidas internas e externas dos países, o preço interno e externo dos produtos, as
atividades econômicas mais importantes de cada país, os investimentos em saúde, educação e outros setores
da sociedade, as moedas que circulam em cada país, cambio de moedas nos países, na tríplice fronteira:
Argentina (Puerto Iguazu - Peso argentino), Brasil (Foz do Iguaçu- Real), Paraguai (Ciudad del Este –
Guarani); o dólar americano como referência comercial e de câmbio em Ciudad del Este, onde são vendidos
produtos de todo o mundo, principalmente de informática e eletrodomésticos. Também são utilizadas outras
moedas que circulam entre mais de um milhão e meio de turistas de todo o mundo, visitantes das cataratas
do Iguaçu e, entre os estudantes e professores da UNILA provenientes agora de mais de dez países, e em um
futuro próximo de toda America Latina e Caribe.
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Políticas culturais: Concepções e práticas culturais e interculturais, educação intercultural,
valorização dos saberes e a cultura popular, incentivo as artes, as letras e a música, financiamento do
desenvolvimento cultural, patrimônio cultural e artístico, museus, ensino das artes, arte popular, indústria da
arte, produção artesanal, valorização social do artesão, cinema local e nacional, direitos autorais dos
compositores de músicas, as comunicações e a rádio na difusão e desenvolvimento da cultura, os espetáculos
culturais e a participação das comunidades, a poesia, as novelas, as danças, as festas populares, cultura e
esportes, as datas e locais comemorativos.
Um tanto diferente das politicas culturais, mas ainda sobre os temas de cultura, ou melhor, da
interculturalidade, encontramos referencias aos costumes, valores e atitudes que trocam em sua forma de
falar, de expressar-se com seus movimentos, de linguagem verbal e não verbal, formas e costumes de vestir
(para o que é determinante o clima, como o frio das alturas andinas ou o calor das praias de vários países),
forma de comer, cumprimentar e despedir-se. São também tratados assuntos sobre poesia, novela, literatura
em geral, telenovelas, música, teatro, diversa danças, instrumentos e grupos musicais. Diversas formas de
expressão de afeto e de protesto. Diversos costumes e cultos religiosos.
Um elemento cultural, continuamente explicito, nas conversas e relações cotidianas dos unileiros, é o
relacionado com as comidas de cada país e/ou região. Ao respeito, existem diversas conversas e
questionamentos sobre: o que se come e se bebe, como e quando, onde, quais as comidas típicas de cada
região. É presente o diálogo sobre a cultura do milho, batata, mandioca, o churrasco (assado, parrillada), o
chimarrão, o café, o mate, o chá, a cerveja, o vinho, o aguardente (pisco sauer, tequila, pinga). Os costumes
enquanto as comidas produzem trocas de receitas, reuniões para cozinhar ou preparar e degustar alguns
pratos de comida, convites para comer. Existe a demanda de produtos originais de cada país para o preparo
das comidas típicas, se fazem tentativas de “importação” de produtos, e se ensaiam receitas com produtos
(encontrados no mercado local) que funcionam como substitutos dos originais.
Algumas datas importantes para cada país, por exemplo, as denominadas “festas pátrias”, também
são motivos de comemorações e intercâmbios culturais entre os estudantes de vários países. Tais
comemorações são motivos de eventos, inclusive acadêmicos, nos que são realizadas palestras,
manifestações públicas com participação de vários países, exposições de amostras culturais e ciclos de
cinema. Também se comemoram os aniversários de colegas com participação “multinacional”.
O multilinguismo é uma vivência cotidiana entre professores, estudantes e, de modo geral, das
pessoas da universidade que criam e recriam formas de comunicação; seja dialogando ou conversando no
processo de desenvolvimento do ensino-aprendizagem dentro da sala de aula; seja nos corredores e nos
outros lugares da universidade ou fora dos prédios dela, onde acontece o dia-a-dia dos unileiros falantes de
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guarani, quéchua, português ou espanhol. Essas pessoas se comunicam, cada uma, falando e ou escrevendo
em sua língua nativa.
Deste modo, a universidade é bilíngue, as pessoas em sua convivência diária, progressivamente se
compreendem, criam e recriam formas de comunicação como falar portunhol. Os estudantes e professores
falam, escutam, escrevem, leem português e/ou espanhol na sala de aula ou em suas residências, nos locais
onde moram, se divertem, comem, ou onde ocasionalmente se encontram e “batem papo”. Os falantes de
espanhol trocam suas diferenças linguísticas e de sotaques. E é bem notória a diversidade do espanhol
colombiano, chileno, argentino, peruano, equatoriano, boliviano, uruguaio, paraguaio, salvadorenho,
venezuelano, ainda há essas diferenças dentro de cada país, por exemplo; entre os que vem dos altiplanos
andinos e os que vem dos litorais Atlântico e Pacifico.
A interculturalidade é uma vivência cotidiana na UNILA, está no currículo oculto, aquele que nem
sempre está formulado em documentos oficiais ou pedagógicos, mas está presente nos conteúdos e no sentir
de um abraço de pessoas de diferentes países, nas suas formas de vestir, em seus gestos, em suas expressões
de afetos, em sua apresentação pessoal em geral, no fenótipo, no “sotaque”, em seus pensamentos, na
expressão de suas ideias de democracia, participação, economia, política, nas descrições que fazem sobre
música, arte, ciência, em seu discurso sobre literatura, em suas expressões escritas, cantadas, tocadas,
representadas, faladas, etc.
Algumas considerações e possíveis propostas
Inúmeras evidências da diversidade intercultural presente no convívio cotidiano dos unileros
(professores, estudantes, corpo técnico administrativo, outros) têm sido enunciadas ao longo deste texto.
Delas se derivam muitas possibilidades de aprendizagens interdisciplinares e para a interdisciplinaridade e a
integração de América-Latina, muitas criações, recreações culturais, estimuladas pela diversidade de
relações interpessoais, intergrupais, internacionais. Os saberes, de cada jovem estudante, trazidos para
UNILA na sua vagagem de história de vida, lhe permitem a leitura das histórias dos outros. Disso resultam
possibilidades de aprendizagens que constituem bases para fundamentar e estruturar uma crescente
construção cultural da complexa rede da integração de América Latina e Caribe.
Essa dinâmica de criação cultural é uma possibilidade de aprender integração integrando e
vivenciando a diversidade, compreendendo a singularidade das culturas para que em movimentos de
interação e recriação cultural sejam desenvolvidos elementos integradores. Neste sentido, esses movimentos
são um caminhar tendendo a formação do pensamento (Petraglia, 1995) de integração a curto e longo prazo.
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É também um caminho para alcançar os objetivos da UNILA, quais são, a formação, mediada pelos próprios
unileiros, de um pensamento de integração da América Latina e Caribe nos diversos setores sociais.
São evidentes possibilidades de aprendizagens, entretanto, para que sejam melhores ou reais
aprendizagens precisam, estas precisam ser vislumbradas no planejamento institucional da universidade, de
tal forma que mesmo fora da sala de aula sejam intencionadas e possibilitadas situações de aprendizagem,
tais como: tempos e espaços para encontros interdisciplinares intra e inter países, de modo que as atividades,
da sala de aula, sejam estendidas para fora dela e vice-versa, as atividades extra sala e extramuros da
universidade sejam integradas aos conteúdos de aula. Também é importante a realização permanente de
eventos envolvendo todos os estudantes dos países presentes na universidade, de tal forma que eles, dentro e
fora de sala de aula, reflitam sobre cultura, música, arte, política, educação, história, ciência, economia e
outros assuntos relacionados com seu próprio país e os países de seus colegas.
Ainda é importante oportunizar no cotidiano institucional da universidade, a cada estudante, a grupos
e a coletivos deles, vivências, reflexão e análise da diversidade, a interculturalidade, o confronto de saberes,
a solidariedade entre a pluralidade, e outras situações que contribuam às releituras do sujeito e a sua
subjetivação individual e coletiva, tendo como base sua cultura anterior ou de origem e a viabilização da
construção de nexos ou então recriações culturais que visem a integração solidária.
Diante o anterior, consideramos como fundamental para aprendizagem sobre a integração de
América Latina e Caribe, por parte dos estudantes da UNILA e a sociedade dos países da região
mencionada, a aprendizagem continuada dos professores, tanto sobre a integração, como sobre as próprias
metodologias de aprendizagem interdisciplinar com a diversidade cultural de seus estudantes.
O papel da universidade e, concretamente de seus docentes, é mediar as aprendizagens, deles
mesmos e de seus estudantes. Essas aprendizagens, mesmo que fora da sala de aula, precisão ser
intencionada institucionalmente para ultrapassar o acaso e constituísse em uma procura consciente. A
realização do Projeto de Desenvolvimento
Institucional (PDI) e, em geral, a missão e objetivos da
universidade, no concernente à integração Latino-América será possível se o componente docente está
preparada teórica e metodologicamente e a instituição em geral tem as condições para a vivencia e
aprendizagem de forma interdisciplinar da integração. Ao final a interdisciplinaridade é um sonho, é um
processo, é um resultado, é uma realidade se é vivenciada.
REFERÊNCIAS
ALVARADO PRADA, L. E. INVESTIGACIÓN COLECTIVA: aproximaciones teórico-metodológicas.
ESTÚDIOS
PEDAGÓGICOS
v.
xxxix,
n.1,
Valdivia,
2008.
disponível
em:
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http://www.scielo.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0718-07052008000100009&lng=es&nrm=iso.
Consultada em 12-07-2013
ALVARADO PRADA, L. E. Pesquisa Coletiva na Formação de Professores. In: Revista de Educação
Pública. Vol. 15, Nº 28, Cuiabá 2006.
ASSMANN, H. Reencantar a educação: rumo à sociedade aprendente. Petrópolis: Vozes, 1998.
BERGER, P e LUCKMANN, T. A construção social da realidade: tratado de sociologia do conhecimento.
Petrópolis, RJ: Vozes, 1978.
INSTITUTO MERCOSUL DE ESTUDOS AVANÇADOS. COMISSÃO DE IMPLANTAÇÃO DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA. UNILA Consulta
Internacional. Foz do Iguaçu, UFPR-IMEA, 2009a.
INSTITUTO MERCOSUL DE ESTUDOS AVANÇADOS. COMISSÃO DE IMPLANTAÇÃO DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LATINO-AMERICANA. A UNILA em Construção.
Foz do Iguaçu, UFPR-IMEA, 2009b.
LEONTIEV, A. N. Actividad, conciencia, personalidad. La Habana: Editorial Pueblo y Educación, 1983.
PETRAGLIA, Isabel Cristina. Edgar Morin: A educação e a complexidade do ser e do saber. Petrópolis RJ.
Vozes, 1995.
UNIVERSIDADE FEDERAL DA INTEGRAÇÃO LAINO-AMERICANA – comissão do projeto
pedagógico institucional. Foz do Iguaçu, UNILA, 2013. (Documento de Trabalho).
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