Práticas e Saberes de Extensão Volume II Salienta-se o caráter inovador desse diploma, revogado em 1991, pois, mesmo considerando a extensão como prolongamento da atividade acadêmica de forma a difundir o conhecimento ali produzido, reconhece que a universidade deve atuar junto à sociedade de maneira a contribuir significativamente para seu aperfeiçoamento. Tais ideias coadunam com movimento de relevância nacional que lançou as bases para a criação do Ministério da Educação, o Movimento da Escola Nova. Nesse movimento, surge o manifesto de intelectuais de 1932 (A Reconstrução Educacional no Brasil: ao povo e ao governo), ressaltando a função social da escola, e que estabeleceu um conceito abrangente de universidade, destacando que esta possui função tríplice, qual seja: (a) elaboradora e criadora de ciência, responsável por investigação científica; (b) docência e transmissora de conhecimento (ciência feita) e; (c) popularização por meio da extensão universitária, das ciências e artes (GHIRALDELLI JUNIOR, 2001). O conceito de extensão universitária aparece novamente como atividade universitária no ano de 1961, pela ocasião da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Tendo como base atividades direcionadas à população e executadas pelas instituições de ensino superior na forma de conferências, serviços e cursos, sedimenta-se nessa época certo caráter assistencialista da extensão, desvinculando-se de ações governamentais no sentido de desenvolvimento social. Em temos gerais, pode-se afirmar que a década de 1960 foi responsável por uma concepção pautada no reconhecimento do tripé ensino/pesquisa/extensão como sustentáculos da universidade, sem que essa tríplice relação fosse considerada indissociável, restando de maneira clara a relação entre ensino e pesquisa (FARIA, 1996). É, pois, justamente nessa época que o educador Paulo Freire, então diretor do Departamento de Extensão Cultural da Universidade do Recife, iniciou a primeira experiência de alfabetização popular, em apenas 45 dias, com um grupo de catadores de grama. Essa ação teria sido replicada, se não houvesse o golpe militar, em 20 mil novos grupos distribuídos pelo Brasil. Cabe salientar que a intenção não era somente alfabetizar, mas também conscientizar. Em suas palavras, conquistar a condição de ser mais, “desvelando o mundo da opressão e comprometendo-se, na práxis, com a sua transformação” na medida em que toma consciência de seu inacabamento e rompe com a sua condição de coisificado (FREIRE, 2011, p. 57). 15