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Endoscopia Digestiva
ESOFAGOSCOPIA
Definição
Refere-se ao exame do lúmen e da mucosa do esôfago com o equipamento de
endoscopia. A esofagoscopia é mais confiável para diagnóstico de desordens que cursam com
o rompimento da mucosa, obstrução do lúmen como: esofagites, constrições, corpos estranhos
e neoplasias.
Indicações
A esofagoscopia é indicada para animais que apresentam sinais de enfermidade
esofágica como: regurgitação, disfagia, odinofagia e ptialismo. Também é indicado para
avaliação de animais que possam ter corpos estranhos esofágicos.
A esofagoscopia é geralmente indicada para avaliação diagnóstica de pacientes com
regurgitação. A regurgitação é a expulsão retrógrada passiva de conteúdo sólido ou fluido do
esôfago e deve ser diferenciada de vômito o qual é um reflexo central caracterizado por ejeção
explosiva de conteúdo gastroduodenal precedida de hipersalivação, esforços e mímicas de
vômito e contrações abdominais.
Instrumentação
A esofagoscopia pode ser realizada com endoscópio rígido ou flexível. Os endoscópios
flexíveis são mais versáteis por causa de suas ópticas, iluminação, insuflação, modos de
gravação e manuseio superiores. O endoscópio deve ter no mínimo 110 cm e abaixo de
9,8mm de diâmetro, capacidade de sucção e insuflação, canal de 2mm para instrumentos (Ex.:
fórceps de biópsia) e angulação de 180º.
Preparação do Paciente
A esofagoscopia requer anestesia geral e jejum alimentar de 12 horas prévias ao
procedimento. O paciente é posicionado em decúbito lateral esquerdo.
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A inserção do tubo do endoscópio deve ser posteriormente a lubrificação com
lubrificante solúvel em água para facilitar a passagem.
Procedimento e Anatomia
Com o animal com a cabeça e pescoço estendidos o endoscópio é direcionado à
orofaringe (dorsal ao traqueotubo) e então o esfíncter esofagiano cranial é visualizado.
Geralmente este esfíncter está contraído com aparência de estrela. Com a insuflação e
mínima pressão o endoscópio consegue avançar através do esfíncter. Resistência pode ser
sentida quando o endoscópio é posicionado equivocadamente no recesso piriforme localizado
em cada lado da laringe.
O esôfago cervical é normalmente colapsado, assim com a passagem do endoscópio
uma imagem vermelha é vista, obscurecendo a visibilidade. A insuflação de ar deve começar
imediatamente até que o lúmen do esôfago seja visibilizada com clareza.
O esôfago é um tubo reto com exceção de uma flexão na entrada da cavidade torácica.
O endoscópio deve ter pouca ou quase nenhuma resistência na progressão. Na introdução a
angulação do endoscópio deve ser de 0º ou mínima e sempre deve-se manter a insuflação
assim que necessária. O lúmen do esôfago torácico é insuflado facilmente e o pulso da artéria
aorta contra a parede esofágica é visibilizada no nível da base do coração.
Ao nível da junção gastroesofágica o esôfago passa obliquamente através do diafragma
e abre-se internamente no estômago. O esfíncter gastroesofágico não é um esfíncter
anatomicamente dito, mas sim uma zona de alta pressão que mantém o esôfago fechado entre
as deglutidas. Para a introdução do endoscópio nessa região o endoscopista deve angular a
ponta do endoscópio em 30º à esquerda e ligeiramente para cima.
Aquisição de Amostra (Biopsia)
Biopsia esofágica geralmente não é requerida para diagnóstico da maioria das
enfermidades esofágicas. As indicações primárias para biopsia esofágica incluem: presença de
massa ou anormalidades na mucosa indicativas de esofagite. É difícil de obter boa amostra da
mucosa esofagiana quando ela esta aparentemente normal.
Deve-se recolher de seis a dez fragmentos, geralmente esse número é suficiente para se
fechar o diagnóstico histopatológico. As biopsia devem ser retiradas de áreas viáveis do tumor
de das bordas deste.
Cuidados e Complicações Pós-Procedimento
Geralmente os pacientes se recuperam da anestesia e são liberados no mesmo dia do
procedimento. Comida e água podem ser oferecidos horas após o término do procedimento
quando o paciente está totalmente recuperado da anestesia.
Complicações relacionadas com a esofagoscopia são raras e primariamente limitadas a
aspirações inadvertidas de secreções orofaríngeas ou refluxo gastroesofágico.
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Muitos pacientes não requerem medicação pós esofagoscopia. Medicações pós são
recomendadas para controle da dor e da esofagite em animais que cursaram com presença de
corpos estranhos.
Esofagite é tratada com inibidores da bomba de prótons (Ex.: omeprazol), sucralfato
como protetor de mucosa e metoclopramida ou cisaprida como procinéticos para aumentar o
tono do esfíncter gastroesofágico para prevenir o refluxo ácido.
Figura 1. A – Esfíncter esofágico cranial fechado. B. Esfíncter esofágico cranial aberto.
Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.
Figura 2. A e B – Esfíncter esofágico cervical normal em um cão.
Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.
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Figura 3. C e D – Esôfago de um felino o qual apresenta anéis (padrão em espinha de peixe).
Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.
Figura 4. Esôfago de cães da raça Chow-Chow e Shar Pei, as quais apresentam-se pigmentadas
normalmente.
Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.
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Figura 5. Esfíncter gastroesofágico em um cão normal. Geralmente o esfíncter está contraído
(fechado), porém pode estar aberto/relaxado dependendo do protocolo anestésico. Verifica-se pregas
mucosas radiais nessa porção.
Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.
Figura 6. Junção gastroesofágica interna (cárdia) normal vista por retroflexão do endoscópio em um
canino (A) e em um felino (B).
Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.
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Enfermidades Esofágicas
MEGAESÔFAGO
Megaesôfago é um termo que refere-se ao esôfago flácido e dilatado resultado
de uma hipomotilidade difusa. A regurgitação associada com o transporte de alimentos
deficiente pelo esôfago é o principal sinal clínico. Perda de peso ou pobre ganho de peso
e broncoaspiração levando a pneumonia podem ser complicações.
O exame radiográfico simples ou contrastado confirma o diagnóstico na maioria
dos casos e é mais confiável que o exame endoscópico. O exame endoscópico não é
rotineiramente necessário para a confirmação do megaesôfago e raramente é benéfico
para determinar a causa base, entretanto, a esofagoscopia pode auxiliar a descartar
causas obstrutivas como: anormalidades vasculares, constrições e tumores.
Aparência na Esofagoscopia
O esôfago está marcadamente dilatado, flácido, estendendo-se desde região
cervical até a região do esfíncter gastroesofágico contendo líquido ou alimento não
digerido. A dilatação de todo esôfago distingui megoesôfago de dilatações segmentares
ou saculações. A mucosa geralmente está aparentemente normal no megaesôfago mas
pode-se verificar esofagite secundária demonstrando eritema, erosões e mucosa friável.
Figura 7. Megaesôfago demonstrando aparência ‘cavernosa’.
Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.
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DIVERTÍCULO
Divertículos são grandes saculações da parede esofágica que interferem com o
movimento ordenado da ingesta através do esôfago. O divertículo é incomum e pode ser
congênito ou adquirido. Quando ocorre geralmente está localizado no mediastino
cranial.
O divertículo pode ser diagnosticado com radiografias ou endoscopias.
Radiografia demonstra ar, fluido e alimento preenchendo o local e pode ser melhor
visualizado com a adição de contraste. Esofagoscopia revela uma saculação na parede
esofágica e frequentemente pode-se verificar esofagite erosiva na borda da saculação.
Devido a parede do divertículo ser fina e frágil, deve-se ter cuidado extremo para não
ocasionar perfuração.
Figura 8. Divertículo esofágico. (A) antes da remoção do tricobezoar e (B) após a remoção do
concremento.
Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.
ANORMALIDADES VASCULARES (ANÉIS VASCULARES)
Anormalidades vasculares são malformações congênitas dos grandes vasos ou de
suas ramificações e causam sinais clínicos de obstrução esofágica. A persistência do
arco aórtico direito corresponde a 95% das anormalidades vasculares.
São reportadas em várias raças, mas raças como: Pastor Alemão, Setter Irlandês
e Labrador são predispostas.
Pode ser diagnosticada com o exame radiográfico simples e contrastado e
esofagoscopia. A esofagoscopia distingui compressão extraluminal causada por
anormalidades vasculares de contrições e outras causas de obstrução esofágicas.
Pulsações podem ser visibilizadas na região de constrição pelo anel vascular.
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A constrição se dá ao nível da base do coração e pode levar a uma dilatação do
esôfago cranial com acúmulo de ingesta nesse local e até putrefação do conteúdo.
Figura 9. Ilustração demonstrando a constrição ocasionada por
anormalidade vascular.
Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.
Figura 10. Constrição esofágica por anormalidade vascular.
Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.
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ESOFAGITE
A esofagite é caracterizada por inflamação aguda ou crônica do esôfago,
geralmente resultado de injúria mecânica, química ou por refluxo gástrico. Esofagite
moderada pode ser autolimitante ou tratada com medicamentos, entretanto, esofagite
severa pode ter complicações como: necrose, perfuração e constrições.
Figura 11. Esofagite caracterizada por grave eritema da mucosa esofágica.
Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.
Figura 12. Esofagite erosiva caracterizada por grave erosão da mucosa esofágica.
Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.
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Figura 13. Esofagite eosinofílica em um felino. Verifica-se esôfago espessado, irregularidade difusa
da mucosa e granularidade.
Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.
CONSTRIÇÕES ESOFÁGICAS
Constrições esofágicas são causadas por inflamação e injúria severa que se
estende para camadas da submucosa e muscular do esôfago, resultando em cicatrização
intramural e fibrose.
Aproximadamente 65% das constrições esofágicas são atribuídas ao refluxo
gastroesofágico associado com a anestesia. Em felinos a administração de doxiciclina e
clindamicina é um importante fator. Outras causas incluem: vômito, trauma por corpos
estranhos, tricobezoar esofágico em felinos e refluxo gastroesofágico associado a hérnia
hiatal.
A esofagoscopia é o método diagnóstico mais confiável para esta enfermidade.
Aproximadamente 80 a 90% das constrições em caninos e felinos são localizadas no
esôfago intratorácico, caudalmente à base do coração.
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Figura 14. Constrição esofágica, notar tecido esbranquiçado ao redor da constrição demonstrando
fibrose regional.
Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.
INTUSSUSCEPÇÃO GASTROESOFÁGICA
A intussuscepção gastroesofágica é uma invaginação do estômago para dentro
do lúmen esofágico. Como na hérnia hiatal pode ser causada pelo relaxamento do hiato
esofágico.
Na esofagoscopia verifica-se as pregas da mucosa do estômago protruída no
esôfago. O endoscopista deve usar insuflação máxima e ocluir a região cranial do
esôfago, e com a ponta do endoscópio empurrar a parte estomacal protruída, assim
pode-se reposicionar o estômago normalmente.
Figura 15. Intussuscepção gastroesofágica demonstrados pregas estomacais protruídas.
Fonte: TAMS e RAWLINGS, 2011.
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Referências Bibliográficas
SCHERDING R.G. JOHNSON S.E. Esophagoscopy. In; TAMS T.R. RAWLINGS
C.A. Smal Animal Endoscopy. 3 ed. Mosby: United States, 2011.
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