As bases para a Energia Elétrica do Século 21
Cyro Vicente Boccuzzi *
Estou á frente do Fórum Latino Americano de Smart Grid desde 2008, quando iniciamos a
discussão de novos modelos tecnológicos de produção e uso de energia. Desde então, o Fórum
teve a oportunidade de trazer e debater no Brasil a experiência de mais de 120 lideres e
autoridades internacionais que vem realizando trabalhos destacados na área e sinalizando
uma nova forma de planejar políticas consistentes de energia em seus países.
Todos os profissionais que atuam na área de energia elétrica sabem que o futuro não será a
continuidade do passado. Estamos exatamente atravessando esta transformação tecnológica
neste exato momento, ainda sem perceber.
Uma série de tecnologias avançadas, que trazem a possibilidade de produção local em
pequena escala e de sistemas mais eficientes de uso final de energia, já estão,
silenciosamente, tomando lugar da grande infraestrutura necessária para assegurar conforto à
sociedade moderna e são as bases da energia do século 21.
Em vez de grandes projetos, que possuem custos e riscos muito elevados, além de impactos
ambientais significativos, além de dar oportunidades a altíssimas corrupções, governos e
cidadãos responsáveis vem defendendo e viabilizando, não é de hoje, projetos
descentralizados de geração de energia local, em menor escala, que produzem confiabilidade
superior e perdas reduzidas.
Este movimento, diferentemente dos últimos movimentos realizados na indústria elétrica no
passado, em nível mundial, não vem das empresas concessionárias para os clientes, mas está
surgindo de baixo para cima. Os clientes são os principais agentes desta transformação e
portanto, está fora do controle absoluto das empresas hoje responsáveis pelos serviços.
Sistemas mais eficientes contrariam os interesses de curto das empresas concessionárias, pois
reduzem as vendas e consequentemente seus lucros, no modelo regulatório atual. Mas existe
o interesse coletivo, que precisa ser alinhado com os modelos de negócios em vigor.
A micro geração é uma tecnologia que permite abastecer de forma aceitável sistemas
eficientes, provocando uma segunda e ainda mais forte redução nas vendas, minando o
mercado cativo das concessionárias.
Os mecanismos regulatórios atuais não provêm incentivos para que as empresas
concessionárias invistam em uso eficiente e redução de demanda para os seus cientes. Mas
deveriam existir.
Não é razoável esperar que os reguladores, de forma adequada para a sustentabilidade das
empresas, mudem este quadro apenas por iniciativa própria.
Os mecanismos regulatórios já atualmente disponíveis no Brasil preveem o uso econômico da
micro geração associada à rede, mas isso vai mudar radialmente em muitos poucos anos.
Muitos clientes importantes já estão desenvolvendo estudos aplicados e iniciando a
implantação de soluções de energia autônoma, e esse movimento só tende a crescer, com o
agravamento da crise, com a percepção da fragilidade do serviço e com a evolução dos custos
de fornecimento.
Ainda não viável em grande escala, em poucos anos o armazenamento de energia domiciliar
irá provocar de forma mais radical a desintermediação do consumo e provocará e acelerará a
ruptura tecnológica do mercado cativo, objeto da concessão das empresas de energia....
As concessionárias deveriam, a exemplo do que vem ocorrendo em várias partes do mundo,
passar a estudar a viabilidade de oferecerem a opção de instalar micro geração aos seus
clientes, antes que isso comece a ocorre em grande escala, fora de seu controle, colocando em
risco seu mercado e sua sustentabilidade.
Pensamos ser oportuno ampliar o escopo destas avaliações para propor modelos de oferta
conjunta de serviços de eficiência energética e gerenciamento de demanda a estes clientes,
bem como a proposta de modelo regulatório associado.
Em vários locais do mundo isso já foi feito e vem trazendo benefícios a todos os envolvidos,
não apenas promovendo a busca da eficiência nas crises, como vemos agora o governo
tentando de qualquer forma superar a crise de fornecimento e os altos custos decorrentes.
* CYRO VICENTE BOCCUZZI tem 33 anos de experiência atuando no setor de energia e
eletricidade. Desde 2007 é sócio da ECOEE, empresa de engenharia e consultoria focada em
gestão e tecnologia de energia, sendo a primeira empresa brasileira com expertise em redes e
cidades inteligentes. É Presidente do Fórum Latino Americano de Smart Grid e Diretor da
Divisão de Energia do Departamento de Infraestrutura da FIESP – Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo, Brasil. É também Conselheiro da ABESCO. Foi Vice-Presidente AES
Eletropaulo e da ENERSUL, distribuidoras de energia elétrica, e Diretor Executivo da
consultoria Andrade & Canellas, além de ter ocupado cargos e funções em várias entidades do
setor e também em Conselhos de Administração ao longo de sua carreira. É engenheiro
eletricista, pós Graduado em Administração de Empresas e MBA em Finanças e Controladoria
de empresas.
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