RECURSOS NATURAIS RACIONALIZAÇÃO DA ÁGUA: O FUTURO CHEGOU “Um conjunto de posturas adotadas pelos governos estaduais e suas concessionárias torna o sistema de abastecimento público ineficiente e ultrapassado.” Depois do “quase racionamento” de energia elétrica, o Brasil passa por uma situação muito parecida com relação aos abastecimentos de água. A diferença é que no caso da água a solução pode ser bem mais complexa. Os primeiros sinais da crise vieram só do estado de São Paulo. Com o objetivo de reduzir em 20% o consumo de água na região metropolitana de São Paulo (área que engloba 39 municípios vizinhos e conta com uma população de 18,7 milhões de pessoas), o governador Geraldo Alckmin anunciou no dia 10 de março de 2004, na Barragem Jaguari - Jacareí (Sistema Cantareira), o Programa de Incentivo à Redução de Consumo de Água. No programa apresentado, os imóveis terão uma meta a cumprir conforme a média aritmética das contas de água entre os meses de março e setembro de 2003. Essa política, politicamente correta, representa o primeiro passo anterior a uma solução mais dura, como o racionamento de água. O descompasso das ações, mais uma vez, mostra a atuação nos efeitos e não na causa do problema. Os governos Estaduais e também o federal vêm se omitindo por décadas na tomada de decisões importantes. A primeira causa do problema é justamente a inação. Em segundo lugar, vem a política tarifária adotada por quase todas as concessionárias de água do país que, em geral, favorecem o desperdício graças a pelo menos três distorções. A primeira distorção está no subsídio à água de consumo doméstico, com o dinheiro dos consumidores comerciais e industriais que pagam mais pelo mesmo produto. Em alguns casos, o valor pago pelas indústrias chega a ser o triplo. A segunda distorção está na manutenção do chamado consumo mínimo residêncial, que faz com que aquele que consume volumes abaixo do mínimo pague o mesmo daquele que consume o valor-limite. Por fim, a terceira distorção está na falta de implantação de sistemas de micro-medição individual (por apartamento) em edifícios. Um conjunto de posturas adotadas pelos governos estaduais e suas concessionárias torna o sistema de abastecimento público ineficiente e ultrapassado. As campanhas publicitárias são poucos eficazes, pois não educam os consumidores. As concessionárias não conseguem pôr em prática um programa amplo de reuso de efluentes. Não permitem (com raras e honrosas exceções) a participação de investimentos do setor privado, ao mesmo tempo em que não dispõe de recursos suficientes para reverter o quadro atual. Não protegem os mananciais, deixando que ocupações irregulares se proliferem e não conseguem diminuir as perdas físicas de água nos sistemas de distribuíção (adutoras e redes secundárias). Não será uma simples campanha de redução de consumo a solução para os problemas de abastecimento de água do país. O problema deve ser atacado em suas fontes, o mais rápido possível. * Eduardo Pacheco - fonte: www.tratame ntodeagua.com.br