Situando alguns problemas Qual é a origem da discussão sobre ética? O termo ética vem do vocábuo grego ethos, que significava, na língua grega usual, morada ou abrigo de animais em geral. Dentro do universo humano, essa palavra começou a ser entendida como o modo como o homem organiza a sua habitação, seja quanto à particularidade da sua casa seja quanto ao que se refere ao seu grupo e ao mundo como lugar que o homem habita. Seja na esfera privada, na família, no lar, seja na esfera pública, na cidade, o termo ethos está ligado à dimensão prática da vida: a maneira de compreender e organizar a conduta. Em sua origem na cultura grega, a ética está comprometida com a delimitação específica da realidade humana e com a posição singular do homem no conjunto dos seres. A tomada de consciência do ethos é a apreensão por parte do homem de sua diferença como ser moral. A questão central da ética Como devo agir? Podemos expressar este problema pelas seguintes questões Como uma norma moral pode adquirir validade universal? Por que os valores e os princípios morais variam nas diferentes sociedades? Como posso adequar a liberdade da minha vontade às obrigações determinadas pela lei? Como encontrar um equilíbrio entre a responsabilidade moral e os impulsos, desejos e inclinações que constituem a nossa condição? • De onde nasceram os valores morais e éticos? Qual a sua origem? • Quem pode nos dizer se uma ação é ética ou não? Os poemas de Homero e o surgimento do teatro na Grécia antiga Vários filmes foram baseados em histórias gregas: • Tróia (2003) – Baseado em Ilíada • Os 300 de Esparta – inspirado em um episódio do herói espartano Leônidas e seus companheiros nas guerras contra os persas. No Brasil: Mandala – novela baseada em Édipo Rei Hércules – herói grego A educação na Grécia a.C. Não havia distinção entre educação, religião e ética. A educação após o século de Homero era baseada em seus poemas, cujo ensinamento principal girava entorno dos grandes heróis e suas virtudes. Ex: Astúcia e inteligência de Odisseu ou Ulysses (ficou a deriva no oceano mais de 10 anos após brigar com Poseidom) Coragem e bravura de Aquiles A importância dos textos Gregos • Problematizaram a liberdade e a tomada de decisão frente a uma ordem pré-estabelecida. • Afina, os homens são livres em suas escolhas ou joguetes nas mãos dos deuses? • Não é possível falar em ética sem que haja livre-árbitrio É um problema que enfrentamos até hoje: • Por que resolvi fazer um curso superior? • Por que uso determinada roupa? • Nossas escolhas são livres ou decorrentes da cultura e religião que estamos inseridos? • Nascemos em uma determinada família, com determinadas condições, costumes, religiões. Em uma sociedade que está posta antes de eu nascer. • Quando Homero apresentou seus poemas, ele sugeriu um modelo de homem, um modelo ideal que iria formar e educar os gregos, não como eram na realidade. Assim Aquiles não representa um homem de carne e osso, mas sim um paradigma a ser seguido. • Porém, nos poemas de Homero, os heróis não eram donos de seus destinos nem de suas ações, os deuses participavam de suas trajetórias. • A ética dos poemas de Homero se expressa pela seguinte afirmação: os homens não são nada sem os deuses. É portanto, uma ética religiosa. Ethos e tradição: Antígona e o dever moral • A ética é uma invenção grega como a democracia, a Lógica, a retórica e as ciências de um modo geral. • Ética: vem do grego Ethos que significa casa, morada ou abrigo. Pouco a pouco o termo foi sendo visto como costumes ou ações que são constantemente repetidas. • Costume está ligado à tradição, nas tradições que nos inserimos temos obrigações,tabus, proibições, restringindo assim, nossas possibilidades de ações. • Em comunidades menos complexos a tradição da conta de organizar a sociedade com base nos seus costumes. • Quando as sociedades vão crescendo, se tornando complexas, , nasce a necessidade de crias leis, o Estado e a polícia. O direito nasce quando a ética não é mais o suficiente para direcionar a prática do bem. O direito é pois, a continuidade da ética por outros meios. • “Os heróis das tragédias imitam os homens superiores ao que são na realidade” Aristóteles • O teatro para os gregos apresentava o modelo de ação desejada. As ações de Antígona que desafiava o Estado me nome dos costumes. Assim discutiremos direito consetudinário e direito positivo. • Direito positivo: leis e normas fundamentadas pelo Estado, normalmente escritas. Ex: constituição, códigocivil, código penal. • Direito consuetudinários: fundando nos costumes e tradições, sendo reiterado pela oralidade. Ex: direito Antígona sepultar o irmão. Geralmente o direito positivo é expressão escrita do direito consuetudinário, é criado pra garantir e preservar o direito consedudinário. • Secularização: • Afastamento do aspecto religioso dentro de uma cultura. O estado se torna independente da religião. • Umas das fortes características de nossa sociedade é a autonomia política perante a crença religiosa. • Ethos, aqui se funda nos costumes. • Percebe-se que o objeto de estudo dessa disciplina coincide com ações diárias, constantemente julgadas e avaliadas. • Antígona é um modelo ético que representa um ideal grego. O problema do fundamento da ética • Se os costumes sociais apresentam-se como fundamento da ética não cairíamos em um perigoso relativismo ético? • Não teríamos tantas éticas quanto costumes tivermos? • Aceitaríamos escravizar negros africanos ou índios brasileiros? Que as meninas tenham seus clitóris castrados como em tribos da Etiópia? • Em uma sociedade cosmopolita teremos dificuldade para se aceitar diferentes éticas: • Há ethos entre traficantes e presos? • Não estaria o fundamento da ética solapando em sua capacidade de fundar valores na sociedade? • Passaremos portanto, de uma ética social para uma ética racional a partir da filosofia de Sócrates. Sócrates e a descoberta da consciência • Ao contrário da religião, que também define comportamentos e apresentam valores e deveres importantes, mas que dificilmente aceitam críticas, a ética deve ser uma noção constantemente criticada. • Sendo assim, não há respostas prontas aos problemas, mas sim uma disposição racional para o debate. • A filosofia nasce com Tales de Mileto, matemático e físico do século VI a.C. Os primeiros filósofos estavam preocupados em descobrir a origem das coisas, se interrogando logicamente, deixando a religião de lado. • Com Sócrates a filosofia ganha um novo objeto: passará do “objeto” natureza, para o “objeto” homem. • Por não ter deixado nada escrito, faz-se necessário recorrer aos discípulos e contemporâneos de Sócrates para saber o que ele pensou. • O método adotado por Sócrates foi o diálogo vivo, e é por meio desse diálogo que se faz a filosofia. • A filosofia não é uma disciplina teórica que especula sobre os diversos assuntos das demais ciências e da existência humana. É uma maneira de estar no mundo e responder às diversas questões do mundo, posicionando-se diante delas. • Sobre a filosofia afirma o filósofo e professor honorário do Collège de France, Pierre Hadot: “... nunca houve filosofia fora de um grupo, de uma comunidade, em uma palavra, de uma escola filosófica.” ( HADOT, Pierre, 1995,p.17) • O filósofo não é aquele que sabe alguma coisa, mas aquele, que por admitir que nada sabe , coloca-se em busca da verdade. • Sócrates dizia que sua tarefa era fazer com que os outros homens tomem conhecimento de seu nãosaber e que se distanciem das suas convicções infundadas. • Tudo que é humano, e mesmo tudo que é tratado pela filosofia, é sempre passível de dúvida e questionamento. • Duvidar sempre de si mesmo, colocar-se em questão é o caminho para o autoconhecimento. • O estado da dúvida nos prepara para a filosofia. • Para Sócrates o verdadeiro saber não pode ser ensinado por doutrinas ou teorias complicadas, mas deve ser engendrado pelo próprio indivíduo. Sócrates não dá respostas, apenas perguntas para levar seu interlocutor a extrair as verdades do seu próprio pensamento. • Para Pierre Hadot o não saber socrático o conduziu a valores como: o valor da morte, o valor do bem moral e do mal moral. • Afinal o que é o homem para Sócrates? “ O homem é a sua alma, uma vez que é precisamente a alma que distingue o homem de todas as outras coisas.” Disse Sócrates. A descoberta da verdade ou do dever moral é sempre uma descoberta da verdade ou do dever moral é sempre uma descoberta pessoal que vem do interior do homem. Podemos pensar sobre a vida de Édipo Rei, que para saber quem havia matado o rei, chegou a um autoconhecimento, já que investigava a si mesmo. • O verdadeiro homem é, para Sócrates, sua consciência moral. • Nossa identidade é obscurecida pela formação que recebemos na cultura. Os valores sociais e culturais formam nosso caráter, e nessa formação, acabamos de nos esquecermos de nós mesmos. • Sócrates foi condenado à morte, condenado a beber veneno pela sua filosofia. Ele questionava a sociedade grega da época que valorizava a saúde, o vigor físico, a beleza, o poder, ao afirmar que o homem se define por sua alma (consciência). • Dizíamos anteriormente que ética era fundamentada pela sociedade, costumes. Mas percebemos que a ética é a fundamentada pela crítica da sociedade. • Para Platão, Sócrates teria tido a opção de fugir da prisão, proposta feita por seu discípulo Críton, ou aceitar sua condenação. Ele prefere a morte. • Sócrates acreditou que se fugisse prejudicaria toda a sociedade, já que estaria desobedecendo as leis que regiam a vida pública e daria um exemplo perigoso de desobediência. • Sócrates alerta: O dever moral é decorrente de uma tomada de consciência. O seu fundamento está no interior de cada homem. Devemos rever todos os valores e costumes que praticamos. Não a sociedade, mas a RACIONALIDADE deve fundamentar a ética. É nesse sentido que estamos mais próximos de uma ética racional.