Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013 A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO SOBRE O PROEJA ANÁLISE DE DISSERTAÇÕES PRODUZIDAS NO ESTADO DO PARANÁ (2007-2013) CAETANO, Sílvia Horwat de Morais (UNIOESTE) ZANARDINI, Isaura Monica Souza (Orientadora/UNIOESTE) 1 O objeto de pesquisa O objeto de nossa pesquisa é o Programa de Integração da Educação Profissional ao Ensino Médio na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – PROEJA enquanto política educacional oferecida e gerida pelo Ministério da Educação (MEC). O que pretendemos é analisar as dissertações defendidas em Programas de PósGraduação em Educação do Estado do Paraná que discutem o PROEJA, procurando identificar as reflexões apresentadas em torno dos pressupostos teóricos, da avaliação da implementação e da política de avaliação, a fim de verificar em que medida consideram os pressupostos políticos, econômicos e sociais em que é produzido e implementado o PROEJA. Ainda é nosso objetivo levantar a produção de dissertações que tratam do PROEJA no Estado do Paraná entre os anos 2007-2013, bem como verificar quais são as dificuldades apontadas no processo de implementação do Programa. A pesquisa abordará, de modo particular, as dissertações que compõe o Projeto Demandas e Potencialidades do PROEJA no Estado do Paraná, mas também analisaremos outras produções defendidas nos Programas de Pós Graduação da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPEG), Universidade Estadual do CentroOeste (UNICENTRO), Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE). 1 Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013 O projeto acima mencionado, iniciado em 2007 e com financiamento vinculado ao Programa de Apoio ao Ensino e à Pesquisa Científica e Tecnológica em Educação Profissional Integrada à Educação de Jovens e Adultos – MEC – Ministério da Educação, CAPES – Fundação Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior e SETEC – Secretaria de Educação Tecnológica, reuniu pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Tecnologia – PPGTE/UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná, do Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE/UFPR – Universidade Federal do Paraná e do Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE/UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná. O projeto de pesquisa interinstitucional Demandas e Potencialidades do PROEJA no Estado do Paraná teve como seu principal objetivo a identificação da procura e potencial do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – PROEJA no Estado do Paraná. Podemos destacar como objetivos específicos do projeto supramencionado: - Diagnosticar as demandas para o PROEJA no Estado do Paraná e as possibilidades de sua articulação com a educação básica e a educação profissional; - Levantar a oferta existente e dimensionar a potencialidade de oferta do PROEJA no âmbito das instituições educacionais da rede pública municipal, estadual e federal, instituições comunitárias e movimentos sociais no Estado do Paraná; - Construir processos formativos direcionados a docentes e gestores da rede pública que permitam a compreensão das especificidades da EJA e sua relação com a Educação Profissional e o Ensino Médio; - Desenvolver metodologias para a elaboração de itinerários formativos nas modalidades do PROEJA, na perspectiva de organização curricular integrada EJA/Ensino Médio/Educação Profissional; - Constituir rede de cooperação acadêmica na pesquisa em educação com vistas à formação de profissionais pesquisadores pós-graduados em educação profissional integrada à educação de jovens e adultos. Num esforço coletivo para o desenvolvimento de redes de cooperação acadêmica com vistas à produção de conhecimento, à formação de pesquisadores e ao exame das 2 Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013 políticas educacionais voltadas para a problemática do ensino médio, da educação profissional e de jovens e adultos no cenário da política educacional brasileira, o Projeto Demandas e Potencialidades do PROEJA no Estado do Paraná deparou-se com questões intimamente ligadas com problemas sociais, sobretudo com os educacionais que não foram resolvidos pela sociedade brasileira ao longo da história. Grande é a dívida da nossa sociedade para com milhares de trabalhadores que não tiveram acesso e/ou permanência garantida nos bancos escolares, desrespeitando, desta forma, a esperança do trabalhador. Entretanto, mesmo inseridos num contexto de miséria, de pobreza, de submissão e de conformação à exploração do trabalho capitalista, há vozes que reivindicam o direito de mudarem a si mesmas, o ambiente social em que vivem e a relação entre outras vozes, homens que não temem a história. Silva, Amorim e Viriato (2011) nos chamam a atenção para o fato de que se, por um lado, a escola conforma o homem para servir ao capital, por outro, necessita trabalhar com conhecimentos que, mesmo fragmentados, podem contribuir para a lucidez desses homens. Para os autores, esta é a contradição da escola porque da mesma forma que ela reproduz a ideologia dominante, também explicita a realidade. O PROEJA está inserido no conjunto de reformas pelo qual a educação tem passado, logo percebemos estar frente a um processo de disputa no modo de organizar e de gerir a educação. 2 Considerações acerca de pressupostos que norteiam nossa análise De acordo com os ensinamentos de ROMANOWSKI e ENS, podemos dizer que o presente trabalho trata-se de um “estado do conhecimento” sobre o PROEJA no Estado do Paraná e não um “estado da arte” uma vez que uma pesquisa só poderia receber esta nomenclatura a partir do momento em que “abrange toda uma área do conhecimento” (ROMANOWSKI e ENS, 2006, p.39). O “estado do conhecimento”, segundo as autoras, é o estudo que aborda apenas um setor das publicações sobre o tema estudado. É o caso deste trabalho já que nos restringiremos a analisar a produção acadêmica no âmbito das dissertações produzidas 3 Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013 no Estado do Paraná acerca do PROEJA tentando elucidar em que medida consideram os pressupostos políticos, econômicos e sociais em que o Programa é produzido e implementado. As primeiras inquietações a respeito desta temática enquanto objeto de pesquisa tiveram início quando trabalhei como educadora de Língua Inglesa no PROJOVEM Urbano no município de Umuarama. Foi a partir de então que comecei a me interessar pelas políticas educacionais, sobretudo por aquelas destinadas aos jovens e adultos. Logo após ter sido aprovada no processo de seleção para o Mestrado em Educação, fui convidada a integrar o Grupo de Estudos e Pesquisas em Política Educacional e Social – GEPPES, constituído em 2006 na UNIOESTE – Campus de Cascavel. Depois do ingresso no GEPPES, os estudos acerca das políticas educacionais intensificaram-se. Em princípio, nossa intenção era a de pesquisar a implementação do PROEJA na região noroeste do Estado do Paraná, mas, ao nos depararmos com os números do Programa no Núcleo Regional de Educação em Umuarama, percebemos o quão difícil seria nossa pesquisa, uma vez que as turmas de PROEJA estão acabando e sendo incorporadas pelo PRONATEC. A implantação do PRONATEC iniciou-se em 2012 com parcerias com os institutos federais, rede estadual de educação e as unidades de ensino dos serviços nacionais de aprendizagem (SENAI, SENAC, SENAR e SENAT), e como maior novidade o FIES (Financiamento Estudantil) Técnico e Empresa1. No Núcleo Regional de Educação (NRE) em Umuarama, apenas dois colégios iniciaram a oferta de Cursos Técnicos do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – PROEJA. Em 2008, o Colégio Estadual Hilda Trautwein Kamal com o Curso Técnico em Enfermagem e, em 2009, o Colégio Estadual de Iporã (cidade que fica a 60 quilômetros de Umuarama) com o Curso Técnico em Informática, ambos com a duração de seis semestres. 1 O FIES Técnico tem como objetivo financiar cursos técnicos e cursos de formação inicial e continuada ou de qualificação profissional para estudantes e trabalhadores em escolas técnicas privadas e nos serviços nacionais de aprendizagem – SENAI, SENAC, SENAT e SENAR. No FIES Empresa serão financiados cursos de formação inicial e continuada para trabalhadores, inclusive no local de trabalho. (PRONATEC MEC, 2012). 4 Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013 O Colégio Estadual de Iporã teve somente uma turma e concluiu suas atividades com apenas seis alunos. O nível de evasão foi enorme e, depois disso, o colégio não conseguiu abrir outras turmas de PROEJA. Já o Colégio Estadual Hilda Trautwein Kamal continua ofertando o curso Técnico em Enfermagem em Nível Médio integrado à Educação de Jovens e Adultos PROEJA. Desde 2008, inicia-se uma nova turma todo ano e a média de conclusão fica em torno de 40% dos alunos matriculados. Segundo o departamento responsável pelo Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – PROEJA no Núcleo Regional de Educação (NRE) em Umuarama, um dos fatores apontados pela escola, para o grande número de desistências e reprovas, deve-se ao fato de os alunos chegarem ao curso com a expectativa de que só estudariam disciplinas específicas relacionadas ao curso, o que não acontece uma vez que, não possuindo o Ensino Médio, eles devem cursar toda a Base Nacional Comum. 3 Contexto político, econômico e social em que é formulado o PROEJA O Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos – PROEJA foi lançado em junho de 2005 por meio do decreto 5.478/2005. Tal decreto previa a oferta de cursos que fossem vinculados ao programa única e exclusivamente pelos Centros Federais de Educação Tecnológica, Escolas Técnicas Federais, Escolas Agrotécnicas Federais e Escolas Técnicas vinculadas às Universidades Federais. Em 2006, o decreto 5.840/2006 que revogava o anterior, manteve a sigla PROEJA, mas alterou o nome, passando a ser chamado de Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e adultos – PROEJA. Como indicarmos, o Decreto Federal nº 5.478, de 24/6/2005 tinha como intuito inicial ofertar o PROEJA na forma de educação profissional integrada ao ensino médio na modalidade de Educação de Jovens e Adultos (EJA) somente em Instituições Federais de Educação Tecnológica. Ao final do curso, os alunos receberiam certificados 5 Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013 alusivos à formação inicial e continuada de trabalhadores e à educação profissional técnica de nível médio. O decreto 5.840, de 13/7/2006 ampliou a abrangência do Programa ao trazer a possibilidade de sua oferta também nas redes estaduais, municipais e privadas por meio da educação básica, com certificação em cursos de formação inicial e continuada de trabalhadores integrada ao ensino fundamental ou ao ensino médio de forma integrada ou concomitante a cursos de educação profissional técnica de nível médio, o que antes só era possível nas Instituições Federais de Educação Tecnológica. O PROEJA tem sido ofertado, via rede federal, em 23 Estados do Brasil. A implantação através da rede estadual foi pela primeira vez realizada pelo Paraná, o que aconteceu sob a direção da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED). Entendemos o PROEJA como componente integrante de um processo de reivindicações dos profissionais da educação e de vários outros segmentos da sociedade que buscam uma Educação Profissional integrada ao Ensino Médio. 4 Pressupostos Teóricos do PROEJA Segundo Gotardo e Viriato (2011), da mesma maneira como a LDB, ao tratar a Educação de Jovens e Adultos como uma modalidade da Educação Básica, força o Estado a assumir a EJA como seu dever, também o PROEJA busca por essa perenidade, procurando garantir a oferta da educação básica atrelada à profissionalização, para além da continuidade ou não do governo atual. Ainda segundo as autoras, se por um lado, transformar o PROEJA em uma política pública, que continuaria sendo ofertada independentemente do governo seria um avanço, por outro lado, seria a reiteração do fato de que a educação básica não garante o acesso, a permanência e o sucesso para todos os indivíduos que a cursam. Ainda, de acordo com estas autoras, mesmo indicando a necessidade de construir uma sociedade “justa e igualitária” e preocupando-se com a educação básica, ao buscar transformar o PROEJA numa política perene, seu Documento Base (BRASIL, 2006, p.21) aponta a continuidade da nossa sociedade de classes, o que, segundo as autoras, em âmbitos educacionais refletem-se através da “exclusão do sistema de ensino 6 Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013 daqueles que, por distintos motivos, não conseguem aprender no tempo considerado normal”. O PROEJA é um programa do Ministério da Educação (MEC), realizado em parceria com a Secretaria de Estado da Educação. O conjunto de seus princípios norteadores visa à integração entre trabalho, ciência, técnica, tecnologia, humanismo e cultura geral com a finalidade de contribuir para o enriquecimento científico, cultural, político e profissional como condições necessárias para o efetivo exercício da cidadania (BRASIL, 2007, p. 7). As concepções e princípios do PROEJA representam a confluência da Educação em três esferas, a saber: formação para atuação no mundo do trabalho (EPT), a maneira singular de se conceber a educação, levando em consideração as particularidades dos sujeitos jovens e adultos (EJA) e por fim, mas não menos importante, a formação para o exercício da cidadania (Educação Básica). Quando se almeja integrar o ensino fundamental e a formação inicial para o trabalho é de extrema importância o conhecimento das particularidades que envolvem estas duas esferas. A fim de tentar elucidar esta questão, o Documento Base traz alguns pressupostos importantes para a implantação do PROEJA, tais como: - O jovem e adulto como trabalhador e cidadão; - O trabalho como princípio educativo; - As demandas de formação do trabalhador; - Relação entre currículo, trabalho e sociedade. Neste Programa os cursos de educação profissional de nível médio são integrados ao Ensino Médio e duram em média três anos letivos. A idade mínima para participar do programa é de 21 anos e não há idade máxima. De acordo com o Documento Base de 2007, os dados apresentados pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) indicavam que, em 2003, 68 milhões de jovens e adultos trabalhadores brasileiros com mais de 15 anos não concluíram o ensino fundamental e, apenas, 6 milhões (8,8%) estavam matriculados em EJA. Como objetivo proclamado, O PROEJA pretende contribuir para a superação deste quadro da educação brasileira. 7 Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013 Diante destes expressivos números, o Governo Federal, como já indicamos, estabeleceu na esfera federal o primeiro Decreto do PROEJA nº 5.478, de 24 de junho de 2005 que seria substituído pelo Decreto nº 5.840, de 13 de julho de 2006 que, por sua vez, introduziria novas diretrizes que ampliariam a abrangência do primeiro com a inclusão da oferta de cursos PROEJA para o público do ensino fundamental da EJA. A partir deste contexto, o PROEJA tem como perspectiva a proposta de integração da educação profissional à educação básica buscando a superação da dualidade trabalho manual e intelectual, assumindo o trabalho na sua perspectiva criadora e não alienante. Conforme o Documento Base de 2007, isto impõe a construção de respostas para diversos desafios, tais como, o da formação do profissional, da organização curricular integrada, da utilização de metodologias e mecanismos de assistência que favoreçam a permanência e a aprendizagem do estudante, da falta de infra-estrutura para oferta dos cursos dentre outros. Segundo o Art. 4º do Decreto nº 5840, 13 de julho de 2006, os cursos de educação profissional técnica do PROEJA deverão contar com carga horária mínima de duas mil e quatrocentas horas, assegurando-se cumulativamente: I – a destinação de, no mínimo, mil e duzentas horas para a formação geral; II – a carga horária mínima estabelecida para a respectiva habilitação profissional técnica e; III – a observância às diretrizes curriculares nacionais e demais atos normativos do Conselho Nacional de Educação para a educação profissional técnica de nível médio, para o ensino fundamental, para o ensino médio e para a educação de jovens e adultos. De acordo com o Decreto nº 5840, de 13 de julho de 2006, os Documentos Baseados do PROEJA e a partir da construção do projeto político pedagógico integrado, os cursos do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos podem ser oferecidos das seguintes formas: 1- Educação profissional técnica integrada ao ensino médio na modalidade de educação de jovens e adultos. 2- Educação profissional técnica concomitante ao ensino médio na modalidade de educação de jovens e adultos. 8 Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013 3- Formação inicial e continuada ou qualificação profissional integrada ao ensino fundamental na modalidade de educação de jovens e adultos. 4- Formação inicial e continuada ou qualificação profissional concomitante ao ensino fundamental na modalidade de educação de jovens e adultos. 5- Formação inicial e continuada ou qualificação profissional integrada ao ensino médio na modalidade de educação de jovens e adultos. 6- Formação inicial e continuada ou qualificação profissional concomitante ao ensino médio na modalidade de educação de jovens e adultos. 5 Considerações sobre o Trabalho como Princípio Educativo: um dos princípios orientadores do PROEJA Podemos distinguir o homem dos animais pela consciência, pela religião ou por qualquer coisa que se queira. Porém, o homem se diferencia propriamente dos animais a partir do momento em que começa a produzir seus meios de vida, passo este que se encontra condicionado por sua organização corporal. Ao produzir seus meios de vida, o homem produz indiretamente sua própria vida material (MARX e ENGELS, 1974, p. 19). O trabalho como princípio educativo é, sem dúvida, um dos temas mais complexos quando se trata, sobretudo, daqueles que vivem da venda de sua força de trabalho (às vezes em subempregos ou trabalhos precários) e até mesmo daqueles que estão desempregados. Este fato já é suficiente para nos perguntarmos: Como algo que é explorado e que quase sempre acontece sem condições mínimas de escolha pode ser educativo? Se fazemos parte da natureza e dela somos dependentes para reproduzir nossa vida, é pelo trabalho que transformamos o que há na natureza em meios de vida. Neste sentido, o trabalho como princípio educativo é inerente ao homem. O homem constitui sua vida social quando estabelece relação com os outros homens, quando produz conhecimentos, normas culturais e aprimora sua própria existência. A sobrevivência do ser humano depende de ações sobre a natureza. É assim que ele produz aquilo do que precisa para viver. 9 Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013 O trabalho, como criador de valores de uso, como trabalho útil, é indispensável à existência do homem – quaisquer que sejam as formas de sociedade – é necessidade natural eterna de efetivar o intercâmbio material entre o homem e a natureza, e portanto, de manter a vida humana (MARX, 1982, p. 50). Como nos ensina Frigotto (2004), “o trabalho como atividade fundamental da vida humana existirá enquanto existirmos” O que muda é a natureza, as formas de trabalhar, os instrumentos de trabalho, as formas de apropriação do produto do trabalho, as relações de trabalho e de produção que se constituem de modo diverso ao longo da história da humanidade. Portanto, enquanto existirmos, também haverá ações sobre os recursos naturais, ou seja, o trabalho. Podemos facilmente identificar duas vertentes distintas sobre como o trabalho é concebido, sentido e vivenciado pelo ideário de nossa sociedade. Numa perspectiva religiosa, é o trabalho que disciplina o homem e eleva seu espírito. Assim, há o entendimento de que o trabalho dignifica o homem. Por outro lado, temos a herança de um sistema escravocrata que nos remete à ideia de um trabalho como resultado de opressão, de divisão de pessoas: as que mandam e as que trabalham. IANNI define o trabalho como aquilo que [...] efetiva-se, concretiza-se, em coisas, objetos, formas, gestos, palavras, cores, sons, em realizações materiais e espirituais. O ser humano cria e recria os elementos da natureza que estão ao seu redor e lhes confere novas formas, novas cores, novos significados, novos tons, novas ondulações. De modo que o trabalho é o fundamento da produção material e espiritual do ser humano para sua sobrevivência e reprodução (IANNI apud FRIGOTTO, 2004, p.32) Ainda neste sentido, Frigotto, Ciavatta e Ramos explicitam essa ideia quando afirmam que Se essa é uma condição imperativa, socializar o princípio do trabalho como produtor de valores de uso, para manter e reproduzir a vida, é crucial e “educativo”. Trata-se, como enfatiza Gramsci, de não socializar seres humanos como “mamíferos de luxo”. É dentro desta perspectiva que Marx sinaliza a dimensão educativa do trabalho, mesmo quando o trabalho se dá sob a negatividade das relações de classe existentes no capitalismo. A própria forma de trabalho capitalista não é natural, mas produzida pelos seres humanos. A luta histórica é para superá-la. 10 Universidade Estadual de Maringá 12 a 14 de Junho de 2013 Em meio à luta do capital contra os trabalhadores, um fato nos chama a atenção: a descaracterização enquanto classe social. Em outras palavras, os sujeitos são tratados como indivíduos e a sociedade, por sua vez, seria a soma destes indivíduos ou, no máximo, a soma de camadas sociais. O propósito desta negação da existência de classes é tentar fragmentar e mascarar as relações de poder e dominação. Desta forma, quando o somatório de riquezas é apresentado, de fato, não se pode haver uma relação direta com aquilo que resulta da exploração, mas sim, com o mérito de cada um daquele que o conquista. Algumas ideias ao longo da história tentam nos levar a pensar que não há, efetivamente, porque falarmos em classes sociais. Como exemplo disso, podemos citar a teoria do capital humano (amplamente difundida nos anos 60) e, hoje, a sociedade do conhecimento, o incentivo ao empreendedorismo, a pedagogia embasada nas competências, a flexibilidade e a empregabilidade. Desta forma, “oportunidades idênticas legitimam as diferenças como conquistas e derrotas individuais” (JACOMELI, M. R. M e XAVIER. M. E. S. P. A, 2005). 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