SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL MEC – SETEC INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MATO -GROSSO CAMPUS CUIABÁ – OCTAYDE JORGE DA SILVA DEPARTAMENTO DE PESQUISA E PÓS -GRADUAÇÃO LUCIANA DANTAS ANDRADE CONCEPÇÕES SOBRE EDU CAÇÃO INCLUSIVA EM U MA ESCOLA REGULAR DA RE DE FEDERAL EM MINAS GERAIS Cuiabá - MT Outubro 2009 INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MATO-GROSSO CAMPUS CUIABÁ – OCTAYDE JORGE DA SILVA CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA INCLUSIVA LUCIANA DANTAS ANDRADE CONCEPÇÕES SOBRE EDU CAÇÃO INCLUSIVA EM U MA ESCOLA REGULAR DA RE DE FEDERAL EM MINAS GERAIS Cuiabá - MT Outubro 2009 Ficha Catalográfica ANDRADE, Luciana Dantas. Concepções sobre Educação Inclusiva em uma escola regular da rede federal em Minas Gerais. Cuiabá -MT, 2009. 114 f. FERREIRA, Bárbara Carvalho. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso. Trabalho de Conclusão do Curso de Especialização em Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva. LUCIANA DANTAS ANDRADE CONCEPÇÕES SOBRE EDU CAÇÃO INCLUSIVA EM UMA ESCOLA REGULAR DA REDE FEDE RAL EM MINAS GERAIS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Pesquisa e Pós-Graduação do Curso de Especialização em Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva do INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE MATO GROSSO CAMPUS CUIABÁ – OCTAYDE JORGE DA SILVA, como requisito para a obtenção do título de Especialista. Orientadora: Prof. MSc. Bárbara Carvalho Ferreira Cuiabá - MT Outubro 2009 LUCIANA DANTAS ANDR ADE CONCEPÇÕES SOBRE EDU CAÇÃO INCLUSIVA EM U MA ESCOLA REGULAR DA REDE FEDE RAL EM MINAS GERAIS Trabalho de Conclusão de Curso de Especialização em Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva, submetido à Banca Examinadora composta pelos Professores do Programa de Pós-Graduação do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso – Campus Cuiabá como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Especialista. Aprovado em: 15 de outubro de 2009. __________________________ ____________________ Prof. MSc. Bárbara Carvalho Ferreira (Orientadora) ______________________________________________ Prof. MSc. Marcelo Leite (Membro da Banca) ______________________________________________ Prof. MSc. Katia Alves Campos (Membro da Banc a) ______________________________________________ Prof. MSc. Janete Otte (Suplente da Banca) Cuiabá - MT Outubro 2009 DEDICATÓRIA Dedico esse momento especial de minha vida aos meus dois grandes amores. Seu incentivo e presença co nstantes são fundamentais para a concretização de todos os meus sonhos. Ao Magnus, companheiro incansável de todas as horas e ao Eduardo, presente de Deus em nossas vidas, meu amor para sempre... AGRADECIMENTOS A Deus, presente em todas as conquistas; Aos meus familiares, especialmente à minha irmã Viviane, pelo apoio incondicional e ao meu irmão Edmundo, por sua imprescindível contribuição; À Helena pelo estímulo; Ao Afrânio pela amizade e paciência; À Bárbara, que além de excelent e orientadora, se mostrou uma grande amiga; Aos funcionários, professores e alunos do IF - Campus Machado que, solícitos, colaboraram com minha pesquisa; Aos amigos que sempre acreditaram em mim; E a todos os demais que compartilharam desta etapa important e da minha vida, o meu muito obrigada. “O senhor… mire, veja: o mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas - mas que elas vão sempre mudando. Afinam ou desafinam, verdade maior. É o que a vida me ensinou. Isso que me alegra montão.“ João Guimarães Rosa. RESUMO A proposta da Educação Inclusiva tem despertado interesse de toda a sociedade por ser uma forma eficaz de inclusão social. A Declaração Universal de Di reitos Humanos (1948), a Constituição Federal (1988), o Estatuto da Criança e do Adolescente (1990), a Declaração de Salamanca (1994) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) garantem a educação como direito de todos indistintamente. Em vista disso, o presente estudo se justifica já que conhecer as concepções dos vários segmentos da comunidade escolar sobre o processo de Educação Inclusiva é a primeira etapa para se definirem os caminhos a serem planejados e trilhados em uma possível interv enção no contexto escolar. Nesse sentido, o objetivo do trabalho foi avaliar e caracterizar as concepções dos diferentes segmentos desta comunidade a respeito dos conceitos e impressões sobre inclusão e escola inclusiva. Participaram da pesquisa 40 alunos, 40 professores e 40 funcionários, que foram selecionados aleatoriamente. O instrumento utilizado na coleta de dados e avaliado previamente por meio de um estudo piloto foi o Questionário de Avaliação da Concepção de Inclusão. O tratamento de dados foi realizado por meio de análises estatísticas descritivas. Os resultados obtidos ao refletirem as concepções da comunidade escolar sobre Educação Inclusiva, propiciaram conhecer a realidade da instituição, configurando -se assim como diagnóstico fundamental para a implementação de um processo inclusivo que vise educação de qualidade para todos. Mas, sobretudo, o trabalho, se constituiu como instrumento eficaz de sensibilização e mobilização da comunidade ao proporcionar uma reflexão mais sistemática sobre o tema. Palavras-chave: Inclusão; Educação Inclusiva; Concepções sobre inclusão; Pessoas com necessidades educacionais especiais. ABSTRACT The proposal of Inclusive Education is interesting the entire society because it is an efficient way of social inclusion. The Human Right Universal Declaration (1948), the Federal Constitution (1988), the Child and Adolescent Statute (1990), the Salamanca Declaration (1994) and the National Education Guidelines and Bases Law (1996) warrant education as a right of all indistinctively. According with this point of view, this survey justifies itself, once knowing the conceptions of the diverse segments of the scholar community about the Inclusive Education process is the first step to define the ways to be planned and fo llowed in a possible intervention in the scholar context. So, this work aimed at evaluating and characterize the conceptions of the different segments of this community concerning the concepts and impressions about inclusion and inclusive school. 40 studen ts, 40 teachers and 40 employees, randomically selected, participated of the survey. The instrument used to collect data and previously evaluated after a pilot survey was the Inclusion Concept Evaluation Questionnaire. Data treatment was made through descr iptive statistical analysis. The obtained results, which had reflected conceptions of the scholar community about inclusive education, allowed to know the institution reality, and because of it became a fundamental diagnostic to the implementation of an in clusive process whose objective is to provide a quality education to everybody. Above all, however, the work itself was an efficient instrument of sensibility and mobilization of the community, by proposing a more systematic reflection about the theme. Key-words: Inclusion; Inclusive Education; Conceptions about inclusion; People with special educational needs. LISTA DE ABREVIATURAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas APAE - Associação de Pais e Amigos dos Excepcio nais CENESP – Centro Nacional de Educação Especial CNE - Conselho Nacional de Educação IBC – Instituto Benjamin Constant IBOPE - Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística INES – Instituto Nacional de Educação de Surdos LDB - Lei de Diretrizes e Bases LDBEN – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional MEC - Ministério de Educação e Cultura NEEs – Necessidades Educacionais Especiais ONU – Organização das Nações Unidas PNE – Plano Nacional de Educação PNEEs – Pessoas com Necessidades Educacion ais Especiais TEC NEP - Programa Educação, Tecnologia e Profissionalização para Pessoas com Necessidades Educacionais Especiais UEP - Unidade Educacional de Produção UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ........................................................................... 13 1.1 Breve histórico da Educação Especial ............................... 13 1.2 Fundamentos da Educação Inclusiva ................................ 1.3 Necessidades Educacionais Especiais .............................. 1.4 Concepções sobre Educação Inclusiva ............................. 22 33 37 2 JUSTIFICATIVA ........................................................................ 42 3 OBJETIVOS .............................................................................. 45 3.1 Objetivo Geral ................................................................... 3.2 Objetivos Específicos ......................................... ............... 45 45 4 MÉTODO ................................. .................................................. 46 4.1 4.2 4.3 4.4 Participantes ....................................................................... Local e Ambiente ................. ............................................... Instrumentos ....................................................................... Procedimentos de Coleta de Dados .................................. 46 47 47 48 5 RESULTADOS ................ ........................................................... 50 6 DISCUSSÃO .............................................................................. 58 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................... 64 8 REFERÊNCIAS .......................................................................... 66 APÊNDICES ............................................................................... 76 ANEXO ..................................................................... ................. 111 1 INTRODUÇÃO Atualmente, em todo o mundo a Educação Especial e mais especificamente a inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais tem despertado interesse de amplos setores da sociedade, uma vez que essa po lítica tem se constituído numa forma eficaz para a inclusão social e consequentemente num importante passo para a diminuição das desigualdades. No Brasil, com o avanço da democracia participativa, a Educação Inclusiva, rompendo com preconceitos, vem se fir mando e hoje passa a ser discutida com responsabilidade sobre bases científicas e respaldo legal. Inúmeros eventos científicos, congressos, seminários são promovidos para estudar a inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais. Da mesma forma pode-se constatar aumento expressivo de pesquisas e trabalhos sobre o tema, desenvolvidos pela comunidade acadêmica brasileira. É também evidente a preocupação com a capacitação de profissionais de educação e com a adaptação física das escolas seguindo as normas estipuladas pela ABNT. O presente trabalho visa contribuir com a bibliografia existente buscando, a partir do estudo das concepções de uma comunidade escolar, possibilitar a construção de bases sólidas para a implementação de um projeto de inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais em uma escola regular. Tendo a finalidade de produção de conhecimento na área, serão abordados quatro tópicos: (1) Breve histórico da Educação Especial; (2) Fundamentos da Educação Inclusiva; (3) Necessi dades Educacionais Especiais; (4) Concepção sobre Educação Inclusiva. 1.1 Breve histórico da Educação Especial Muitos dos mitos, dos estereótipos e das práticas desenvolvidas hoje em dia no que diz respeito às pessoas com necessidades educacionais espe ciais se fundamentam nas primeiras impressões da sociedade em relação a essas pessoas. Quando se pretende conhecer concepções de uma comunidade sobre pessoas com necessidades educacionais especiais, humanizar tratamentos e promover a inclusão 14 educacional se faz necessário contextualizar historicamente esses tópicos para melhor compreendê-los. No decorrer da história da humanidade, pode -se observar que as concepções sobre a deficiência foram evoluindo “conforme as crenças, valores culturais, concepção de homem e transformações sociais que ocorreram nos diferentes momentos históricos” (BRASIL, 2001d, p.25). Povos primitivos e até mesmo em estágio mais avançado de civilização, como os egípcios, gregos e romanos, consideravam as deficiências como manifestações do sobrenatural. O misticismo cristão medieval induzia à concepção metafísica que também relacionava a deficiência ao sobrenatural. Anomalias físicas, mentais ou sensoriais eram explicadas pela crença da direta intervenção divina ou de outros seres superio res, sob a forma de castigo para expiação dos pecados ou de bênção, quando eram atribuídos aos portadores dessas deficiências os dons da clarividência ou da cura (PARANÁ, 2006). Em relação a essas pessoas, as respostas sociais eram ambivalentes: ora de med o e rejeição, ora de respeito ou admiração (BRASIL, 2001d). No início do século XX, apesar dos avanços sociais e científicos, pessoas deficientes eram ainda vistas como perigosas à sociedade, pois eram considerados anormais “todos que ameaçavam a seguran ça da burguesia estabelecida no poder” (JANNUZZI, 2004, p.56). Dessa forma, muitas vezes serem rotulados como anormais tanto criminosos e tarados quanto surdos -mudos, cegos congênitos e deficientes físicos, já que o conceito de deficiência era formulado a partir de um ideal de normalidade correspondente às contingências e expectativas de determinado momento social (JANNUZZI, 2004). Por não se ter clareza quanto à causa das deficiências, usualmente a deficiência mental estava relacionada à hereditariedade e a problemas básicos de saúde, como sífilis, tuberculose e doenças venéreas (JANNUZZI, 2004). A partir de 1948, com a Declaração Universal dos Direitos Humanos, houve uma mudança na concepção sobre pessoas com deficiência, “[...] que passaram a ser vistas como cidadãs, com direitos e deveres de participação social, embora persistisse a ótica assistencial e caritativa e o viés da medicalização em sua educação” (FERNANDES, 2006 apud PARANÁ, 2006, p. 21). Nesse sentido, é importante ponderar que as diversas co ncepções sobre a deficiência permearam todos os períodos históricos, e ainda se refletem nos dias atuais. Somos 15 constantemente surpreendidos pela discriminação das pessoas a partir de sua deficiência como também pela percepção de que a deficiência é uma he rança maldita, doença incurável ou incapacidade generalizada, objeto de maldição ou obra do divino (BRASIL, 2001d). Assim, como as concepções sobre a deficiência foram seguindo uma linha evolutiva, o mesmo aconteceu com o tratamento dispensado às pessoas c om deficiência, o qual variava de acordo com as crenças da comunidade ou com a visão da autoridade religiosa. Na Antiguidade a pessoa com deficiência de qualquer natureza era praticamente exterminada pelo abandono em virtude do medo da doença ou pela crenç a de que a deficiência fosse maldição dos deuses (BRASIL, 2000c). Já na Idade Média o ideário cristão rejeitou o extermínio de pessoas doentes, defeituosas e/ou mentalmente afetadas por serem consideradas também criaturas de Deus, apesar de persistir seu abandono, “[...] dependendo, para sua sobrevivência, da boa vontade e caridade humana” (BRASIL, 2000c, p. 9). No século XVI, com Renascimento, começaram a surgir novas ideias não só quanto à origem das deficiências (causas orgânicas), mas também quanto ao seu tratamento por meio da alquimia, magia e astrologia. Os avanços da Medicina no século XVII fortaleceram a tese da organicidade e consequentemente as ações de tratamento médico às pessoas com deficiência (BRASIL, 2000c). Entretanto, apesar das práticas científicas, continuou predominando a segregação dessas pessoas, com a prática da internação “[...] em instituições, para cuidado, proteção ou tratamento médico, caracterizando o paradigma da institucionalização, que vigorou aproximadamente por oito século s, durante parte da Idade Média até início do séc. XX” (BRASIL, 2004 apud PARANÁ, 2006, p.18). O espírito de filantropia impulsionou, durante todo esse longo período, ações de proteção caridosa e compassiva nas primeiras instituições asilares e hospit alares. Entretanto, segundo Jannuzzi (2004), os deficientes eram segregados da sociedade, enquanto era possível e conveniente. No Brasil, que reproduzia o modelo europeu, também era clara e patente a exclusão das pessoas com deficiência, até mesmo em docum entos oficiais. A Constituição Brasileira de 1824, de acordo com Jannuzzi (2004), excluía o adulto deficiente físico ou moral, privando -o do direito político. 16 No início do século XIX era comum, conforme relatos de Jannuzzi (2004) o abandono de crianças com deficiências físicas ou mentais pelas ruas. As instituições eram vinculadas a hospitais e sanatórios e “[...] pareciam ser destinadas aos indivíduos com níveis mais graves, cujas incapacidades generalizadas eram de maior visibilidade” (MENDES, 2000, p. 10 ). Essas instituições, embora funcionassem precariamente, ofereciam abrigo e alimentação aos deficientes, mas reforçavam a exclusão pelo afastamento do indivíduo da sociedade (JANNUZZI, 2004). Essa foi uma época de institucionalização intensiva já que os d eficientes eram tidos como pessoas perigosas à sociedade. Segundo Mendes (2002), o tratamento das pessoas consideradas desviantes, era usualmente ofertado em asilos e manicômios que funcionavam como uma espécie de prisão dos alienados, visando à proteção d a sociedade. A segregação e a esterilização passaram a ser vistas, então, “[...] como meios de controle para lidar com essa população específica, de modo a evitar a ‘proliferação’, na sociedade, de pessoas atingidas pela deficiência” (BRASIL, 2000b, p.27). As Grandes Guerras do século XX provocaram a necessidade da criação de serviços de reabilitação para atender aos soldados que retornavam dos conflitos apresentando graves deficiências e reivindicando atendimento. Esses serviços passaram a ser usados tamb ém por crianças e outras pessoas com deficiências. No decorrer da década de 1950 os próprios deficientes começaram a se organizar procurando participar de discussões em torno de seus problemas (JANNUZZI, 2004). São reflexos da atuação política das organizações oriundas desse movimento os avanços obtidos nos últimos anos com a definição de políticas adequadas e provimento de serviços de atendimento a pessoas com necessidades educacionais especiais. Observa-se também que a educação, assim como as concepções sobre deficiência, evoluiu de forma significativa. As primeiras iniciativas para se ensinar pessoas deficientes, até então segregadas ou isoladas do convívio social, datam, segundo Mendes, (2002), do Século XVI, quando médicos pedagogos, desafiando os conceitos vigentes, passaram a acreditar na possibilidade de educar esses indivíduos até então, considerados ineducáveis. Somente no século XVIII, conforme Jannuzzi (2004), sob influência das idéias iluministas, foram abertas em vários países, instituições e specializadas para atendimento de deficientes visuais e auditivos. Em Paris, no ano de 1760, foi criado 17 o Instituto Nacional de Surdos -Mudos e em 1784, o Instituto Real dos Jovens Cegos, dando início a educação de surdos e cegos. O trabalho desenvolvido, e m 1800, por Jean Marc Itard, médico francês, é considerado o marco inicial da Educação Especial na Europa. O trabalho mais importante de Itard para a educação de pessoas com deficiência mental foi o que realizou com Victor, um jovem encontrado na floresta, envidando esforços para [...] transformar esse menino selvagem em um homem civilizado, empregando métodos sistemáticos de treinamento de habilidades, tendo como pressuposto que as deficiências do jovem deviam -se à privação ambiental a que foi exposto (MEC, 2000b, p.24). Os estudos de Itard exerceram muita influência entre pesquisadores de todo o mundo, contribuindo, de forma significativa, para o atendimento a pessoas com necessidades educacionais especiais. A partir daí, “passou -se a pensar que as pessoas com deficiência poderiam ser tratadas, treinadas e reintegradas à comunidade como seres humanos produtivos” (BRASIL, 2000b, p. 25). Ainda na Europa, mais especificamente na França, em 1824, Louis Braille criou o Sistema Braille de escrita e leitura para cegos, com caracteres em relevo, usado até hoje. Dessa forma, “[...] o processo de ensino -aprendizagem das pessoas cegas deslancha, possibilitando -lhes maior participação social” (BRASIL, 2001d, p. 27). Já no Brasil, no final do século XVIII e começo do X IX, surge a educação das crianças deficientes, institucionalmente, mas de maneira tímida (JANNUZZI, 2004). O grande impulso ao desenvolvimento histórico da Educação Especial no Brasil, segundo Domingos (2005), se deu no século XIX , inspirado por experiênc ias europeias e americanas, quando os serviços dedicados a esse segmento da população foram trazidos por estudiosos brasileiros que se dispunham a organizar e a implementar ações isoladas e particulares para atender a pessoas com deficiências físicas, ment ais e sensoriais. Sob forte influência europeia, foi c riado, em setembro de 1854, no Rio de Janeiro o Imperial Instituto de Meninos Cegos, atual IBC - Instituto Benjamim Constant. “O IBC foi o primeiro educandário para cegos na América Latina e é a única Instituição Federal de ensino destinada a promover a educação de pessoas cegas e das portadoras de baixa visão no Brasil” (BRASIL, 2001d, p.27). Oferecia, na época de sua criação, ensino literário, com disciplinas científicas, além de se ocupar com a formação para o trabalho. 18 No ano de 1857, também no Rio de Janeiro, foi criado o Instituto Imperial de Educação de Surdos, hoje INES - Instituto Nacional de Educação para Surdos. O IBC e o INES foram considerados, de certa forma, privilegiados, pois estiveram ligados ao poder central até 1973 e contavam com verbas e apoio do governo federal (JANNUZZI, 2004). No Brasil, na segunda metade do século XIX, a defesa da educação de pessoas com necessidades educacionais especiais era argumentada em função da economia dos cofres públicos. Dessa forma, no entendimento de Jannuzzi (2004), seriam evitados manicômios, asilos e penitenciárias, já que essas pessoas seriam incorporadas ao trabalho. O acesso à educação de pessoas com deficiências vai sendo, assim, lentamente conquistado, na medida em que se ampliam as oportunidades educacionais para toda a população (MENDES, 2001). Além da criação de escolas oficiais surgem também iniciativas particulares isoladas, com acentuado caráter assistencialista. A prática do favor e da caridade, comuns no Brasil do final do século XIX, instituía o caráter assistencialista na atenção à pessoa com necessidades educacionais especiais e à Educação Especial. No início do século XX, profissionais ligados à saúde mostraram interesse pela educação de pessoas com deficiência. Na época foram então criadas instituições escolares ligadas a hospitais psiquiátricos, como por exemplo, o Pavilhão Bourneville no Rio de Janeiro, em 1904, anexo ao Hospício da Praia Vermelha, para atender crianças segregad as que estavam sendo atendidas junto com adultos considerados loucos. Segundo Jannuzzi (2004), nesse anexo eram oferecidos às crianças orientação pedagógica e atendimento clínico. Nascidos sob a preocupação médico-pedagógica, segundo a autora supracitada ( 2004), esses pavilhões mantinham a segregação dos deficientes, continuando assim a patentear, a institucionalizar a segregação social embora apresentassem algo esperançoso: a percepção da importância da educação. Embora fossem patentes avanços em relação à conceituação de deficiência e à educação de pessoas com necessidades especiais, a evolução do tratamento médico dispensado a essas pessoas ocorre em ritmo diverso. Somente no século XVII, novos avanços da área da Medicina possibilitaram que a tese da org anicidade favorecesse o surgimento de ações de tratamento médico às pessoas com deficiência. Mas, à medida que a medicina foi evoluindo nesse aspecto, “[...] outras 19 áreas também foram se delineando, acumulando informações acerca da deficiência, de sua etiologia, seu funcionamento e seu tratamento” (BRASIL, 2000c, p. 13). No entender de Jannuzzi (2004), aos poucos o diagnóstico das deficiências vai deixando de ser exclusividade médica passando a ser vinculado a três áreas profissionais: a pedagogia, a medici na e a psicologia. Ainda de acordo com Jannuzzi (2004), em 1909 já se têm informações de fundamentos da psicologia aplicados à educação no Brasil com a criação, pelo professor Clemente Quaglio, de um Laboratório de Psicologia Experimental, em Amparo – SP. Sob influência do ideário do movimento mundial denominado Escola Nova, a participação da psicologia na educação e o uso dos testes de inteligência para identificar deficientes mentais passaram então a ser amplamente difundidos no Brasil (MENDES, 2000). Esse movimento de origem europeia “[...] caracterizou -se por novas propostas pedagógicas que enfatizavam a democracia nas relações escolares, uma educação que respeitasse as diferenças individuais, as aptidões e os interesses das crianças” (ROMANELLI, 2002 apud DOMINGOS, 2005). Decroly e Montessori foram os representantes desse movimento que mais influenciaram os pedagogos brasileiros (JANNUZZI, 2004). Seguindo essa tendência, em 1913 o mesmo professor Quaglio, introduziu a escala métrica de inteligência Bine t-Simon, que estabelecia parâmetros de anormalidade e publicou a primeira amostra estatística de pesquisa realizada com crianças de escolas públicas (Quaglio, 1920 apud Mendes, 2000). Nota-se, então uma maior preocupação no panorama nacional com a identifi cação dos casos leves de “anormalidade da inteligência” nas escolas regulares, uma vez que os casos mais graves já eram, a priori, rejeitados pela escola pública (Jannuzzi, 1992 apud Mendes, 2000). Em 1929, com o trabalho no Brasil da psicóloga russa Hele na Antipoff, foram criados serviços de diagnósticos, classes e escolas especiais. A psicóloga propunha a composição de classes, prevendo inclusive a instalação de classes especiais para pessoas com deficiência mental nas escolas públicas. Essa medida é con siderada ambígua por Jannuzzi (2004), que argumenta: Se por um lado, Antipoff ajudou a firmar a ‘situação’, segregando o excepcional, tornando mais produtivo o ensino nas classes comuns às camadas mais favorecidas, sem a ‘turbulência’, a ‘anormalidade’, o s ‘de difícil aprendizagem’ etc., de outro lado possibilitou o acesso ao ensino público, gratuito também, para crianças com alguns prejuízos orgânicos (JANNUZZI, 2004, p. 134). 20 A partir de 1930, com as mudanças políticas e sociais ocorridas no país, uma nova questão se coloca: a quem caberia o atendimento educacional a pessoas com necessidades educacionais especiais. Enquanto na esfera governamental prosseguia a política de atenção a esses alunos por meio da criação de escolas junto a hospitais e ao ensino regular, a sociedade civil começava a organizar -se em associações de pessoas preocupadas com o problema da deficiência. Segundo Jannuzzi (2004), nesse período “[...] outras entidades filantrópicas especializadas continuavam sendo fundadas e havia surgiment o de formas diferenciadas de atendimento em clínicas, institutos psicopedagógicos e centros de reabilitação, geralmente particulares” (p. 68). Dentre essas iniciativas, destaca -se a Sociedade Pestalozzi, fundada por Helena Antipoff em 1932. As discussões promovidas nessa época por instituições e pedagogos interessados no assunto resultaram em ligeiras, mas importantes conquistas na legislação brasileira. Segundo Jannuzzi (2004), a Constituição de 1934, embora não mencione o excepcional, afirma no artigo 149 que a educação é direito de todos e que deve ser gratuita e obrigatória. Com o final de Segunda Grande Guerra Mundial, aprofundam -se as discussões sobre direitos humanos. Movimentos da sociedade organizada passaram a exigir novas atitudes de apoio às pes soas com deficiência, reforçando a tese de responsabilidade social em relação a elas. Essas influências, nascidas em países mais desenvolvidos, foram sendo gradativamente incorporadas a outros países como, por exemplo, o Brasil. A Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em Paris em 10 de dezembro de 1948 serviu de fonte de inspiração para as políticas públicas e para os instrumentos jurídicos da grande parte dos países, apontando “[...] que a essência dos direitos humanos está no direito a ter d ireitos” (PARANÁ, 2006, p. 21). No Artigo XXVI dessa mesma Declaração, a educação é reconhecida como direito de todos, quando afirma que todas as pessoas têm direito à instrução gratuita e que essa instrução deve ser orientada no sentido do pleno desenvolvimento humano e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e pelas liberdades fundamentais (ONU, 1948). Sob forte influência do movimento mundial em defesa dos direitos humanos e em resposta aos apelos da sociedade que se organizava, o governo br asileiro reconheceu a necessidade de cursos de formação de professores e de técnicos especializados para o trabalho com deficientes sensoriais. Em 1954, “o IBC realizou 21 cursos para professores e inspetores de cegos, recebendo bolsistas de diversos estados” (BRASIL, 1987, p.248 apud JANNUZZI, 2004, p. 82). Jannuzzi (2004) relata que no mesmo ano ocorreu a concessão do direito ao voto aos cegos, como conquista importante para a sua reinserção social. Em 1954 também foi criada no Rio de Janeiro a primeira esco la especial da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – APAE. Essa instituição tornou -se a grande propulsora da Educação Especial, “[...] tentando abranger os diversos problemas da excepcionalidade, englobando as áreas da saúde e educação” (JANNUZZI, 2004, p.87). Além disso, os próprios deficientes já estavam se organizando em torno de seus problemas, sendo criado, também em 1954, o Conselho Brasileiro de Bem -Estar dos Cegos (JANNUZZI, 2004). O setor governamental, sob influência de elementos do ensin o especializado e de associações civis, criou as campanhas de educação do surdo, do cego e do deficiente mental. Essas campanhas “ecoaram na sociedade arregimentando pessoas, tentando evidenciar o problema do deficiente” (JANNUZZI, 2004, p. 136). Segundo Mendes (2000), no início da década de 60, os serviços de ensino oferecidos a pessoas com necessidades educacionais especiais baseavam -se em modalidades segregadoras, com a implantação de classes especiais para portadores de deficiência mental leve nas escol as públicas de ensino regular e de escolas especiais de natureza privada e sem fins lucrativos, para os casos mais graves. Em 1961 passou a vigorar a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. A LDB n. 4024/61 destinava um título à Educação E special, ofertando serviços educacionais às pessoas com necessidades educacionais especiais, dentro do possível no ensino regular, muito embora resguardasse incentivo financeiro às instituições particulares que ofertassem esses serviços. Dessa forma, forta lecia o setor privado na atenção à pessoa com necessidades educacionais especiais. Ao regulamentar a oferta privada, essa lei imprimiu à orientação ao atendimento especializado em nível nacional uma marca difícil de se apagar. A ambiguidade gerada por essa situação não se resolveu nem mesmo com a Constituição do Brasil de 1967, que no seu Artigo 168 referia -se novamente à educação como direito de todos, inspirada no princípio da unidade nacional e nos ideais de liberdade e de solidariedade humana, asseguran do a igualdade de oportunidades. Segundo Kassar (1998, apud PARANÁ, 2006 p.22) essa contradição gerada na promoção de serviços se estende aos dias atuais, já que, “[...] ao mesmo tempo que propõe o atendimento 22 ‘integrado’ na rede regular de ensino, delega às instituições sob a administração particular a responsabilidade de parte do atendimento, por meio da ‘garantia’ de apoio financeiro”. Independentemente dessa discussão, evidencia -se nas últimas décadas do século XX uma gradativa transformação social no t ocante às pessoas com necessidades educacionais especiais - PNEEs. Sentimentos atávicos de medo e rejeição foram dando lugar a atitudes de aceitação e respeito, embora os serviços educacionais, contrariando o diploma legal, ainda não se destinassem a todo s. Por essa época começava a ganhar força “[...] a compreensão de que o lugar da criança com necessidades educacionais especiais não seria em espaços segregados, porém com as demais crianças” (BEYER, 2005, p.28). 1.2 Fundamentos da Educação Inclusiva A partir da década de 70, em resposta aos movimentos dos pais de crianças às quais era negado o ingresso em escolas comuns, crescia, segundo Mendes (2002), o entusiasmo em aceitar a ideia de incorporar crianças e adolescentes com necessidades educacionais es peciais em ambientes com o mínimo possível de restrição. Novas propostas educacionais, portanto, se fortaleceram juntamente com os movimentos de direitos civis de minorias e grupos marginalizados. Esses movimentos organizados exigiam do governo, respostas a suas reivindicações. Como consequência, em 1971, o Ministério de Educação e Cultura resolveu, por meio da Portaria nº 86 criar o Grupo Tarefa Educação Especial, “[...] com vistas a implantar uma sistemática de trabalho educacional dirigida aos excepcionais, em todas as suas formas, em todo o território brasileiro” (BRASIL, 2000c, p. 33). Dois anos mais tarde, em 1973, sob pressão de instituições privadas, foi criado o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP), ligado ao Ministério de Educação e Cultura, que impulsionou ações educacionais aos deficientes mentais, visuais, auditivos e também aos superdotados (BRASIL, 2008). Com a criação do CENESP, os serviços privados cresceram e aumentaram sua visibilidade. Essas ações governamentais reforçavam a id éia de integração como forma de dar fim “à prática da exclusão social a que foram submetidas as pessoas com deficiência por vários séculos” (SASSAKI, 2006, p.30). 23 O conceito de integração ia muito além de colocar ou manter pessoas com necessidades educacionais especiais em classes regulares, defendia a necessidade de se modificar as PNEEs de modo que fossem mais facilmente inseridas no convívio em sociedade (BRASIL, 2000c). Defendia que a pessoa com necessidades educacionais especiais é que deveria se adapt ar à sociedade, preconizando “[...] o investimento principal na promoção de mudanças no indivíduo, no sentido de normalizá-lo” (BRASIL, 2000c, p. 19). Portanto, segundo essa concepção, o problema estava centrado na pessoa com necessidades educacionais espe ciais. A esse modelo de atenção à pessoa com necessidades educacionais especiais, que se caracterizava pela oferta de serviços de avaliação realizada por profissionais, da intervenção baseada na avaliação e do encaminhamento da pessoa com deficiência para a vida em comunidade, se chamou Paradigma de Serviços (BRASIL, 2000c). A integração escolar era, pois, concebida como um processo no qual [...] o sistema educacional proveria os meios mais adequados para atender as necessidades dos alunos. O nível mais adequado seria aquele que melhor favorecesse o desenvolvimento de determinado aluno, em determinado momento e contexto. Percebe -se nessa fase o pressuposto de que as pessoas com deficiências tinham o direito de conviver socialmente, mas que deviam ser, ant es de tudo, preparadas em função de suas peculiaridades para assumir papéis na sociedade (MENDES , 2006, p. 391). Segundo Mantoan (2006), [...] o uso da palavra ‘integração’ refere -se mais especificamente à inserção de alunos com deficiência nas escolas com uns, mas seu emprego dá -se também para designar alunos agrupados em escolas especiais para pessoas com deficiência, ou mesmo em classes especiais, grupos de lazer ou residências para deficientes (p.18). A mesma autora (2006) considera ainda que a integraçã o, ao oportunizar ao aluno vários tipos de atendimento quer seja em escolas especiais, classes especiais em escolas comuns, ensino itinerante, salas de recursos, classes hospitalares ou ensino domiciliar, se caracterizava como uma inserção parcial. Sob a m esma ótica, Enumo (2005) observa que, o modelo de integração, ao adotar as “classes especiais” para alunos com necessidades educacionais especiais (NEEs), acabava por contribuir para a segregação dessas crianças. Para Sassaki (2006) a integração [...] constitui um esforço unilateral tão somente da pessoa com deficiência e seus aliados (a família, a instituição especializada e algumas pessoas da comunidade que abracem a causa da inserção social), sendo que estes tentam torná-la mais aceitável no seio da soc iedade (p.33). Apesar disso, o mesmo autor (2006) reconhece que a integração tinha mérito, por promover a inserção de pessoas com deficiência na sociedade. Marchesi e 24 Martin (1995, apud PARANÁ, 2006) também reconhecem a importância histórica do movimento pela integração das pessoas com necessidades educacionais especiais pela ruptura que promoveu de ideias e práticas cristalizadas acerca da ineficiência e incapacidade dessas pessoas. Ferreira (2008) identifica como dificuldades enfrentadas pelo princípio da integração escolar a falta de recursos, o assistencialismo de muitas instituições e a negação da deficiência pelas famílias. Segundo a mesma autora (2008) o princípio da integração escolar enfrentou algumas críticas, entre elas a que se refere ao fato de que a passagem do aluno de um nível mais segregado para um mais integrado dependia exclusivamente dele e raramente acontecia. A autora (2008) acrescenta ainda que a integração produziu uma estrutura de serviços fragmentados. Com a ampliação da discussão sobre o fato de pessoas com necessidades educacionais especiais serem reconhecidas como cidadãs, não importando o tipo de deficiência e o grau de comprometimento que apresentem, vai se fortalecendo a defesa dos conceitos inclusivistas. Assim, a partir do final dos anos 80 do século XX, “[...]o termo integração começou a perder força, sendo substituído pela idéia de inclusão, uma vez que o objetivo é incluir, sem distinção, todas as crianças, independentemente de suas habilidades” (ENUMO, 2005, p. 336). A década de 80 passou a ser referência, pois inúmeras leis foram aprovadas, organismos internacionais sistematizaram documentos norteadores das políticas, grupos sociais organizaram -se politicamente e ganharam força nas reivindicações em torno da igualdade de direitos e oportunidades, ocasionando uma revolução nos instrumentos jurídicos (PARANÁ, 2006, p. 26.) Nesse contexto, a Organização das Nações Unidas, estimulada por movimentos sociais cada vez mais organizados em prol da questão da Educação Especial, mais especificamente do tema Deficiência, elegeu o ano de 1981 como o Ano Internacional da Pessoa Deficiente. Esse ano ficou reconhecido como o marco a partir do qual, “[...] o conceito de inclusão passou a ser debatido em todo o mundo, através da realização de Congressos, Conferências e da aprovação de Declarações, Convenções, Leis, Decretos e Políticas” (MAZZOTA, 2001 apud SANT’ANA, F. 2005, p. 82). Apenas em 1988, com a promulgação da Constituição Federal, foi oficializado no Brasil um dos princípios inc lusivos: os portadores de deficiências deveriam ser educados preferencialmente na rede regular de ensino (Art. 208). A Constituição de 1988, conhecida como constituição cidadã, foi o instrumento jurídico brasileiro 25 precursor na luta pela inclusão educacion al. Tanto assim que no Art. 205 estabelece que: A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho (BRASIL, 2006, p. 34). Determina ainda o Art. 206, I, da mesma Constituição, a igualdade de condições de acesso e permanência na escola como um dos princípios básicos para o ensino (BRASIL, 1988). Já no Art. 227, § 1º-II, a Constituição de1988 prevê a: criação de programas de prevenção e atendimento especializado para os portadores de deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente portador de deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos e obstáculos arquitetônicos (BRASIL, 2006, p. 36). No âmbito das relações internacionais, o início da década de 90 foi marcado pela aceitação política da proposta de Educação para Todos, produzida em Jomtien, Tailândia, na Conferência Mundial da UNESCO (BRASIL, 2000). O governo brasileiro assumiu nessa conferência o compromisso de construir um sistema educacional, que acolhesse a todos, c om qualidade e igualdade de condições. O Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) - Lei Federal nº 8.069/90 – em consonância com as orientações da UNESCO, dá enfoque específico ao atendimento de pessoas com necessidades educacionais especiais, entre out ras determinações, quando, no seu Art. 54 afirma que “É dever do Estado assegurar à criança e ao adolescente: [...] III - atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino” (BRASIL, 2001b, p.21). O mesmo estatuto prevê ainda, no seu Art. 5º que “nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punindo na forma da lei qualquer atentado por ação ou omissão aos seus direitos fundamentais” (BRASIL, 2001b, p. 10). Em seu Art. 55 dispõe que “os pais ou responsável têm a obrigação de matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino” (BRASIL, 2001b, p. 22). Todos esses dispositivos legais e diplomáticos foram consolidados pela Declaração de Salamanca, documento oficial da Conferência Mundial de Educação Especial, realizada entre 7 e 10 de junho de 1994 e reconhecida como grande marco dos direitos de pessoas com necessidades especiais. Proclama esse docume nto que todos aqueles que têm necessidades educacionais especiais devem ter acesso a escolas regulares. Estas deveriam acomodá -los dentro de uma pedagogia 26 centrada na criança, capaz de satisfazer a tais necessidades. Escolas regulares com orientação inclusiva constituem os meios mais eficazes de combater atitudes discriminatórias, criando -se comunidades acolhedoras, construindo uma sociedade inclusiva e alcançando educação para todos. A partir da Declaração de Salamanca foi averiguada a necessidade da inclusão da Educação Especial na estrutura da Educação para Todos, oficializada em Jomtien. Desde então, o princípio que considera a educação como um direito de todos, tornou-se o fundamento básico da Educação Especial no Brasil (SASSAKI, 2006). Mais tarde a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN, 1996) vem incorporar à legislação brasileira a noção de que o sistema educacional deve estar centrado nos alunos, quaisquer que sejam as suas características (LAPLANE, 2006). A LDBEN, capítulo V, A rt. 58 define “a Educação Especial como modalidade da educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino para educandos portadores de necessidades especiais” (BRASIL, 1996, p. 21). Por sua vez, o Artigo 59 dessa mesma lei estabelece ainda que os sistemas de ensino assegurarão a tais educandos: (a) Currículos, métodos, recursos educativos e organizações específicas para atender às suas necessidades; (b) terminalidade específica àqueles que não conseguirem atingir o nível exigido para a conclusão de ensino fundamental em função de suas deficiências; (c) aceleração de conteúdo para alunos superdotados para conclusão antecipada do programa escolar; (d) professores especializados para sua inclusão em classes comuns (BRASIL, 1996). A partir daí, a Educação Especial deixa de ser vista como subsistema, paralelo e distanciado das práticas do contexto geral de educação, já que a nova Lei de Diretrizes prevê a articulação e interatividade da Educação Especial com os demais níveis e modalidades de ensino. Em caráter complementar e subsidiário à LDBEN, em 1998, o Ministério da Educação instituiu os Parâmetros Curriculares Nacionais, que “[...] vieram nortear e orientar os profissionais da Educação quanto à relação professor e aluno, no desenvolvimento de um processo de ensino e aprendizagem eficaz e significativo” (BRASIL, 2000c, p. 26). A garantia de locomoção e acesso de pessoas com necessidades educacionais especiais também recebeu a atenção dos legisladores. O Congresso 27 Nacional aprovou e o Pres idente da República promulgou em 19 de dezembro de 2000 a Lei nº 10.098/00, que “estabelece normas gerais e critérios básicos para promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida e dá outras providências” (BRASIL , 2001c, p. 13). A Resolução CNE/CEB n° 02/2001, que instituiu as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, representou um avanço na perspectiva da universalização do ensino e um marco da atenção à diversidade na educação brasileira. Determinava essa lei, no seu artigo 2º que “os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizar -se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma ed ucação de qualidade para todos” (BRASIL, 2001c, p. 69). Ainda em 2001, o Plano Nacional de Educação – PNE, Lei nº 10.172/2001 destacava que o grande avanço que a década da educação deveria produzir seria a construção de uma escola inclusiva que garantisse o atendimento à diversidade humana (BRASIL, 2008). O PNE estabelecia como metas: o desenvolvimento e a ampliação de programas educacionais em todos os municípios brasileiros, parcerias com saúde e assistência social, ações preventivas nas áreas auditiva e visual, atendimento aos alunos tanto na educação infantil quanto no ensino fundamental, atendimento na rede regular de ensino ou em classes e escolas especiais, educação continuada dos professores em exercício e formação de professores no ensino superior. Mas, segundo Laplane (2006, p. 704), “[...] o documento tem sido criticado por pesquisadores e profissionais da área, dentre outros motivos, por retirar a ênfase da provisão de educação preferencial em classe comum e ampliar a possibilidade de atendimento em escola ou classe especial”. Reforçando as propostas de inclusão de pessoas com necessidades especiais, no ano de 2002, segundo BRASIL (2008), foram regulamentadas leis importantes para a educação inclusiva: - Resolução CNE/CP nº1/2002, que estabeleceu as Diretrizes Curriculares para a Formação de Professores da Educação Básica, definindo que as instituições de ensino superior oferecessem formação docente voltada para a atenção à diversidade; - Lei nº 10.436/2002, que reconheceu a Língua Brasileira de Sinais como meio legal de comunicação e expressão de pessoas surdas; e, 28 - Portaria nº 2.678/2002, que aprovou diretriz e normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do Sistema Braille em todas as modalidades de ensino. Dando continuidade à política educacional, em 2003 o MEC criou o Programa Educação Inclusiva: direito à diversidade. Esse programa objetivava a transformação dos sistemas de ensino em sistemas educacionais inclusivos, garantindo o acesso de todos à escolarização, a organização do aten dimento educacional especializado e a promoção da acessibilidade (BRASIL, 2008). Com a aprovação pela ONU da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência em 2006, o Brasil, um dos Estados signatários, reconhece o direito das pessoas com deficiência à educação se comprometendo a assegurar um sistema de educação inclusiva em todos os níveis de ensino, como expresso no Artigo 24 desse documento (ONU, 2006). Ainda em 2006 foi lançado o Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, pela Secretaria dos Direitos Humanos, Ministério da Educação, Ministério da Justiça e UNESCO onde está previsto entre suas ações fomentar, no currículo da educação básica, temas relativos às pessoas com deficiência e desenvolver ações afirmativas que possibilitem inclusão , acesso e permanência na educação superior (BRASIL, 2008). Dessa forma, a partir da observação das diversas leis aprovadas e declarações firmadas durante esse período tanto no plano nacional quanto no internacional, pode se depreender, uma evolução que v ai da superação da segregação, passa pela institucionalização, sinalizando uma política de inserção de pessoas com necessidades educacionais especiais por meio da integração e posteriormente da inclusão. Muitas vezes os conceitos de Integração e Inclusão s e confundem por defenderem o direito à igualdade de acesso ao espaço comum da vida em sociedade para pessoas com necessidades educacionais especiais. Porém, embora tenham significados semelhantes, “integração” e “inclusão” são termos usados para expressar situações de inserção diferentes (MANTOAN, 2006). Como traços distintivos entre os dois processos, podem -se enumerar: A Integração escolar, segundo Ferreira (2008): - buscava a integração progressiva da pessoa com necessidades educacionais especiais ao c onvívio com pessoas consideradas normais, de modo que esta fosse aceita na escola e na sociedade; 29 - focalizava a deficiência da pessoa, propondo, primeiramente, uma “preparação” do aluno em classes especiais (integração parcial) com vistas à sua posterior “integração total” na classe comum; - entendia que o aluno com necessidades educacionais especiais tinha que se adequar à escola, que se mantinha inalterada; - impedia que a maioria dos alunos com NEEs alcançassem os níveis mais elevados de ensino já que a integração total na classe comum só era permitida àqueles alunos que conseguissem acompanhar o currículo ali desenvolvido. Por sua vez, a Inclusão escolar, na visão da mesma autora (2008): - estabelece que as diferenças humanas são normais ao mesmo tem po que reconhece que a escola atual tem provocado ou acentuado desigualdades associadas à existência das diferenças de origem pessoais, sociais, culturais e políticas. Por isso, prega a necessidade de reestruturação do sistema educacional para prover uma educação de qualidade para todos os alunos; - procura o problema no meio e nos recursos da escola; - aponta para a escola o desafio de ajustar -se a padrões de anormalidade para atender à diversidade de seus alunos; - enfatiza a ação da escola e da educação como transformadoras da realidade. Sassaki (2006), comparando os princípios, define inclusão social como sendo “o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas com necessidades especiais e, simultane amente, estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade” (p.39). No entender do autor (1997, apud SASSAKI, 2006), a inclusão social seria “um processo bilateral envolvendo pessoas ainda excluídas, e sociedade. Juntas, buscariam equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidades para todos” (p.39). Reforçando esse ponto de vista, Pires (2006) afirma que a ética da inclusão como um dos imperativos do direito da cidadania, garante às pessoas com necessidades educacionais especiais tomar parte ativa na sociedade com oportunidades iguais às da maioria da população. O autor defende uma sociedade para todos, onde todos os cidadãos possam ter qualidade de vida, garantidos o respeito às diferenças e a valorização da divers idade. 30 Para Sant’Ana, F. (2005), o termo inclusão [...] tem sido utilizado para expressar a convicção de que todos os indivíduos devem, de forma democrática, participar ativamente na organização da sociedade, de modo que possibilite o acesso às oportunidades de desenvolvimento sociocultural, levando sempre em conta as suas características individuais (p. 89). A inclusão prevê intervenções decisivas e afirmativas no processo de desenvolvimento do sujeito ao mesmo tempo em que exige o reajuste da realidad e social. Prevê ainda o trabalho direto com o sujeito, mas [...] adota, como objetivo primordial e de curto prazo a intervenção junto às diferentes instâncias que contextualizam a vida desse sujeito na comunidade, no sentido de nelas promover os ajustes (f ísicos, materiais, humanos, sociais, legais, etc) que se mostrem necessários para que a pessoa com necessidades educacionais especiais possa imediatamente adquirir condições de acesso ao espaço comum da vida na sociedade (BRASIL, 2000c, p.19). A opção do Brasil pela política de inclusão também no âmbito escolar, acompanha o movimento mundial de inclusão social, que, como já foi dito, tem como princípio básico a igualdade de direitos e de oportunidades entre todos os membros da comunidade. Embora não tenha s e iniciado no contexto da Educação Especial, refere-se também a ela, na medida em que as pessoas por ela atendidas fazem parte da população historicamente excluída da escola e da sociedade, conforme afirma a Secretaria de Educação do Paraná (PARANÁ, 2006). Dessa forma, a Educação Inclusiva vem questionar não somente as políticas e a organização da Educação Especial, mas também o próprio conceito de integração, garantindo a todos os alunos, o acesso ao ensino regular e a permanência nele. O princípio fundamental da Educação Inclusiva consiste em ensinar a todos os alunos juntos, independentemente das dificuldades e das diferenças que apresentem, de maneira que possibilite oferecer aos alunos, caso seja necessário, respostas educacionais adequadas às suas pec uliaridades individuais (PARANÁ, 2006). Mantoan (2006) afirma que a inclusão “prevê a inserção escolar de forma radical, completa e sistemática. Todos os alunos, sem exceção, devem frequentar as salas de aula do ensino regular” (p. 20). A inclusão implica uma mudança de perspectiva educacional, porque não atinge apenas os alunos com deficiência e os que apresentam dificuldades de aprender, mas todos os demais, para que obtenham sucesso na corrente educativa geral. Os alunos com deficiência constituem uma grande preocupação para os educadores inclusivos. Todos sabemos, porém, que a maioria dos que fracassam na escola são alunos que não vêm do ensino especial, mas que possivelmente acabarão nele (MANTOAN, 2006, p. 19). 31 Uma escola inclusiva é, portanto, “[...] aquela aberta à diversidade, onde os alunos são respeitados nas suas diferenças e aprendem juntos, em classes regulares, possibilitando a interação e o desenvolvimento mútuo” (SANT’ANA, F. 2005 p. 96). A Declaração de Salamanca (1994), no item 35, concebe a inclusão como responsabilidade coletiva da comunidade escolar ao afirmar que todos são responsáveis [...] pelo sucesso ou fracasso de cada estudante. O grupo de educadores, ao invés de professores individualmente, deveria dividir a responsabilidade pela educação de crianças com necessidades especiais. Pais e voluntários deveriam ser convidados a assumir participação ativa no trabalho da escola (UNESCO, 1994, p. 09). No entanto, Lacerda (2007) alerta para problemas encontrados no processo inclusivo brasileiro afirmando que, [...] o discurso contradiz a realidade educacional brasileira, caracterizada por classes superlotadas, instalações físicas insuficientes, quadros docentes cuja formação deixa a desejar. Essas condições de existência do sistema educacional levam a questionar a própria idéia de inclusão como política que, simplesmente, insira alunos nos contextos escolares existentes (p. 261). Sassaki (2006) afirma que estamos vivendo uma fase de transição entre integração e inclusão, e que acertos e re definições serão ainda necessários durante esse processo para se alcançar a inclusão de fato. O mesmo autor (2006) pondera, entendendo ser “compreensível que, na prática, ambos os processos sociais co-existam por mais algum tempo até que, gradativamente, a integração esmaeça e a inclusão prevaleça” (p. 41). Complementando e reconhecendo a urgência da inclusão, Pires (2006) lembra ainda que “[...] todos estamos conscientes que se trata de um processo que depende de mudanças sociais, que são lentas, por natur eza, e as mudanças de atitudes das pessoas, pelo fato de deverem ser incorporadas à seus hábitos pessoais, são ainda mais lentas” (p. 48). A figura a seguir representa as diversas etapas presentes no decorrer da história da Educação Especial. Na ilustraçã o que representa o período da Exclusão está presente somente um grupo definido, o das “pessoas normais”. Ao representar a Separação os dois grupos são definidos, mas não estabelecem nenhuma relação entre si. Na representação da Integração o grupo menor, de PNEEs, está dentro do grupo maior, de “pessoas normais”, mas os subgrupos não se relacionam, ambos preservando seu espaço. Já a Inclusão é representada por um grupo grande, definido, no qual todos os sujeitos interagem. 32 Figura 1- Aproximação de PNEEs com a escola regular (BEYER, 2006). Segundo Beyer (2006), no processo de inclusão não pode haver “[...] alunos com e sem deficiência, com e sem distúrbios, com e sem necessidades especiais” (p. 280). O projeto pedagógico inclusivo admite ape nas a existência de alunos que apresentam as mais diversas necessidades . O mesmo autor (2006) afirma que muitas dessas necessidades [...] são compartilhadas por vários alunos e compõem as necessidades gerais do alunado da escola. Porém, há um grupo de alun os que apresentam algumas necessidades diferenciadas dos demais, singulares, que demandam metodologias e procedimentos pedagógicos apropriados, para que seu processo de aprendizagem não seja prejudicado (p. 280). A partir, então, do novo projeto educaci onal que propõe o atendimento às singularidades de cada aluno como fundamental ao seu processo de aprendizagem, é importante que fique bem claro o conceito de necessidades educacionais especiais. O próximo tópico pretende abordar o tema, tanto do ponto de vista legal, apontado nos documentos oficiais, quanto por meio do entendimento de estudiosos da Educação Inclusiva. 33 1.3 Necessidades Educacionais Especiais As diversas denominações atribuídas a pessoas com deficiência foram evoluindo em consonância com as transformações sociais ocorridas nos diferentes momentos históricos. Os termos utilizados para designar pessoas com deficiência, segundo Carvalho (2008), geralmente carregavam significados negativos sendo que a palavra deficiência, por si só, já tem um ca ráter estigmatizante, discriminatório e ameaçador. Tanto é verdade que na primeira década do século XX era comum que pessoas com necessidades educacionais especiais fossem denominadas idiotas, anormais e retardadas. Documentos oficiais brasileiros anterior es a 1985 passaram a fazer referências a essas pessoas tratando -as como excepcionais. A partir daí tornou-se usual o termo pessoas portadoras de deficiência, abandonado somente após a Declaração de Salamanca, quando se passou a usar a designação pessoas com necessidades educacionais especiais. Muito embora hoje a dificuldade de aceitação do diferente no seio familiar ou no social ainda possa determinar sua exclusão, é inegável que aumenta a consciência de que somos todos diferentes uns dos outros e que a di versidade constitui a base do desenvolvimento das relações humanas. Ser diferente não faz de ninguém melhor ou pior como pessoa e/ou cidadão (BRASIL, 2000c). Na educação o convívio com o diferente nem sempre se deu de forma tranquila. Por muito tempo acr editou-se que a Educação Especial paralela à educação comum “[...] seria mais apropriada para a aprendizagem dos alunos que apresentavam deficiência, problemas de saúde, ou qualquer inadequação com relação à estrutura organizada pelos sistemas de ensino” ( BRASIL, 2008, p. 14). A Educação Inclusiva, no entanto, propõe que a Educação Especial passe a constituir a proposta pedagógica da escola, de forma articulada com o ensino comum, orientando para o atendimento às necessidades educacionais especiais de seus alunos (BRASIL, 2008). Dessa forma, a identificação das necessidades educacionais especiais torna-se fundamental para nortear o planejamento do ensino, pois sem isso não há como efetivamente propiciar um atendimento de qualidade (BRASIL, 2000c). O termo necessidades educacionais especiais foi usado pela primeira vez na Declaração de Salamanca (1994) e refere -se “[...] a todas aquelas crianças ou jovens cujas necessidades educacionais se originam em função de deficiências ou de dificuldades de aprendizagem” (UNESCO, 1994, p.3). A partir dessa Declaração, o 34 conceito de necessidades educacionais especiais passou a ser amplamente disseminado, ressaltando “[...] a interação das características individuais dos alunos com o ambiente educacional e social, chamando a atenção do ensino regular para o desafio de atender as diferenças” (BRASIL, 2008, p. 14). O conceito de necessidades educacionais especiais não se restringe, portanto, apenas aos problemas de aprendizagem decorrentes de quadros orgânicos vinculados a deficiências ou distúrbios. Deverão ser igualmente considerados, aqueles advindos de condições socioculturais diversas e econômicas desfavoráveis (PARANÁ, 2006). Além dos educandos que apresentam necessidades educacionais especiais, deverão ser contemplados ta mbém nessa proposta inclusiva os indivíduos de etnias diversas e os de baixa renda, que, em muitos contextos, continuam marginalizados e, principalmente, excluídos do contexto escolar (SANT’ANA, F. 2005). Sassaki (2006) define pessoas com necessidades especiais como sendo aquelas que: [...] em caráter temporário, intermitente ou permanente – possuem necessidades especiais decorrentes de sua condição atípica e que, por essa razão, estão enfrentando barreiras para tomar parte ativa na sociedade com oportunidades iguais às da maioria da população (p. 15). O mesmo autor (2006) reconhece como condições atípicas: deficiências intelectual, física, auditiva, visual e múltipla; autismo; dificuldades de aprendizagem; insuficiências orgânicas; superdotação; problem as de conduta; distúrbio de déficit de atenção com hiperatividade, distúrbio obsessivo compulsivo, síndrome de Tourette; distúrbios emocionais e transtornos mentais, estendendo consequentemente o conceito de inclusão. Também o documento intitulado Parâmet ros Curriculares Nacionais (BRASIL,1998) utiliza a expressão necessidades educacionais especiais associada a dificuldades de aprendizagem e não necessariamente às deficiências. Mas aqui, amplia-se o conceito ao se referir a crianças e jovens cujas necessid ades decorrem não só de suas dificuldades, mas também de sua elevada capacidade para aprender. O termo necessidades educacionais especiais passou a ser utilizado com [...] o propósito de deslocar o foco do aluno e direcioná -lo para as respostas educacionais que eles requerem, evitando enfatizar os seus atributos ou condições pessoais que podem interferir na sua aprendizagem e escolarização. É uma forma de reconhecer que muitos alunos, sejam ou não portadores de deficiências ou de superdotação, apresentam n ecessidades educacionais que passam a ser especiais quando exigem respostas específicas adequadas (BRASIL, 1998, p. 23). 35 As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (BRASIL, 2001c) reafirmam esse conceito amplo de necessidades educ acionais especiais, acrescentando que essa nova concepção: [...] em vez de focalizar a deficiência da pessoa, enfatiza o ensino e a escola, bem como as formas e condições de aprendizagem; em vez de procurar, no aluno, a origem de um problema, define -se pelo tipo de resposta educativa e de recursos e apoios que a escola deve proporcionar lhe para que obtenha sucesso escolar; por fim, em vez de pressupor que o aluno deva ajustar-se a padrões de “normalidade” para aprender, aponta para a escola o desafio de a justar-se para atender à diversidade de seus alunos (BRASIL, 2001c, p.33). A atenção à diversidade, conforme sugerem os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), está focalizada no direito de acesso à escola visando à melhoria da qualidade de ensino e apre ndizagem para todos, irrestritamente, bem como as perspectivas de desenvolvimento e socialização. “A escola, nessa perspectiva, busca consolidar o respeito às diferenças, conquanto não elogie a desigualdade. As diferenças vistas não como obstáculos para o cumprimento da ação educativa, mas, podendo e devendo ser fatores de enriquecimento” (BRASIL, 1998, p. 23). A identificação de alunos com necessidades especiais nem sempre é destituída de controvérsias. Entende -se que todo e qualquer aluno pode apresentar, ao longo de seu processo de aprendizagem, alguma necessidade educacional especial, temporária ou permanente. As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (BRASIL, 2001c) sob essa ótica consideram como educandos com necessidades educ acionais especiais os que, no processo educacional apresentarem: - dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações para acompanhar as atividades curriculares (não vinculadas a uma causa específica, ou relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências); - condições de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando uso de linguagens e códigos aplicáveis; - altas habilidades ou superdotação . De acordo com a Declaração de Salamanca (UNESCO, 1994, p.1) o princípio fundamental das escolas inclusivas consiste em todos os alunos aprenderem juntos, independentemente das dificuldades e das diferenças que apresentem. Comentando esse princípio Mendes (2002) afirma que a inclusão estabelece que as diferenças humanas são no rmais, mas ao mesmo tempo reconhece que a escola atual tem provocado ou acentuado desigualdades associadas à existência de diferenças de origem pessoal, 36 social, cultural e política, e é nesse sentido que ela prega uma educação de qualidade para todas as cr ianças (p. 64). Em contraponto, reportando -se à realidade brasileira a própria Mendes (2000) reconhece que a rede de serviços de ensino especial para educandos com necessidades educacionais especiais no Brasil, parece direcionar seu atendimento muito mais àquelas crianças que, pelos mais variados motivos, não conseguem atender as exigências acadêmicas das escolas regulares, do que aos indivíduos com maiores prejuízos e que continuam à margem do sistema educacional. Diante disso a autora conclui que: [...] é muito provável que o conceito de deficiência seja em parte obscurecido, ou confundido, com os problemas sociais referentes à pobreza, e particularmente relacionados à questão do fracasso escolar, uma vez que a clientela composta por alunos pobres e com h istória de repetência, que tem mobilizado mais a Educação Especial em nosso país (MENDES, 2000, p.24). Fica evidente, portanto, que para atender às necessidades educacionais de seu alunado é preciso que o sistema educacional brasileiro se transforme, torna ndose um projeto válido, socialmente justo e necessário. Assim sendo, caberá à escola, nesse momento, “[...] atender a uma parcela social que até então esteve excluída de seus projetos e planos de trabalho, ainda que estivesse presente em suas dependências, seja na classe especial, na classe de recurso ou na classe comum” (MENDES, 2002, p. 76). Para que essa proposta se efetive, Omote (2004) deixa claro que as adaptações necessárias para tornar a escola acessível, acolhedora e adequada para alunos com qualquer espécie de deficiência [...] não se limitam a aspectos físicos – como o ambiente arquitetônico, os recursos didático-pedagógicos, o mobiliário e o acervo de laboratórios e bibliotecas – nem aos aspectos educacionais – como o currículo, os objetivos instrucionais e a avaliação. Mais do que essas adaptações, sem dúvida necessárias, são essenciais as mudanças que precisam ocorrer no meio social, representado principalmente pelos diretores, professores, alunos e famílias desses alunos. Todos precisam estar disponíveis para enfrentarem juntos o desafio da convivência na diversidade (p. 1). Portanto não se admite em hipótese alguma, que em uma escola inclusiva as necessidades educacionais especiais de cada aluno não obtenham resposta satisfatória. Para que o aluno seja efetivamente incluído e alcance sucesso acadêmico são necessárias adaptações variadas da escola que vão desde a modificação em sua estrutura física, passando pelo provimento de recursos e apoios especializados e, principalmente, por modificaçõ es atitudinais de toda a comunidade escolar. 37 1.4 Concepções sobre Educação Inclusiva A inclusão escolar da pessoa com necessidades educacionais especiais é um tema de grande relevância já que promove, segundo Ferreira (2007), a participação das minorias sociais em ambientes antes reservados apenas àqueles que se enquadravam nos ideários preestabelecidos e perversos de força, beleza, riqueza, juventude, produtividade e perfeição. Assim sendo, o tema “[...] vem ganhando espaço cada vez maior em debates e dis cussões que explicitam a necessidade de a escola atender às diferenças intrínsecas à condição humana” (SILVEIRA e NEVES, 2006, p. 79). Todas as vezes que são feitas referências à Educação Inclusiva são suscitados os mais variados sentimentos: desde incert ezas e angústias até entusiasmos e paixões. Esses sentimentos antagônicos, segundo Souza (2005) são perfeitamente compreensíveis tanto por estarmos inseridos em uma sociedade que mantém cristalizadas concepções tradicionais e preconceituosas, quanto pela “novidade desafiadora” proposta pela Educação Inclusiva. Complementando , SILVA e ARANHA (2005) afirmam que [...] a mudança de um sistema educacional, que se caracterizou tradicionalmente por ser excludente e segregatório, para um sistema educacional que se comprometa efetivamente a responder, com qualidade e eficiência, às necessidades educacionais de todos, inclusive às dos alunos que apresentam necessidades educacionais especiais, exige um processo complexo de transformação tanto do pensar educacional, co mo da prática cotidiana do ensino (p. 374). Segundo FERREIRA (2007), a história das tentativas de mudanças pedagógicas [...] tem centrado a inovação educacional na reforma de métodos, técnicas e programas, deixando intocadas as práticas, a estrutura da in stituição, as relações escolares, as posturas profissionais, os tempos e espaços onde se processa a educação do aluno e, ainda, os rituais que dão concretude aos conteúdos intelectuais e formativos da escola (p.545). Ainda que inicialmente as pessoas mudem seu discurso na direção do politicamente esperado e considerado correto, Silva e Aranha (2005) observam que, não raro, as mesmas continuam mantendo um padrão de comportamento tradicional e conservador, que destoa da proposta inovadora da educação inclusiv a. Inúmeras críticas são feitas à proposta de Educação Inclusiva no Brasil. São comuns os questionamentos referentes à escola regular, sua infra -estrutura física e o despreparo de recursos humanos (TESSARO et al., 2005). A política educacional, não respondendo às demandas históricas (condições de trabalho dos professores, questão salarial, carga horária de trabalho, reconhecimento social desse profissional, 38 além do número excessivo de alunos por sala de aula, da desmotivação docente e do pouco apoio dos gestores educacionais), faz crer “que basta a ‘boa vontade’ dos professores para que os problemas educacionais se resolvam” (MICHELS, 2006, p. 414). O grande desafio proposto pela inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais nas escolas regula res em nosso país, segundo BEYER (2005), dependerá de um esforço coletivo que envolva os próprios alunos, os professores, as equipes diretivas e pedagógicas, os funcionários e os gestores do projeto político-pedagógico. As mudanças operacionais necessárias para que as escolas se tornem inclusivas de fato só acontecerão [...] quando as instituições reconhecerem suas responsabilidades com cada aluno, abolindo as discriminações e as preferências, oferecendo ao professor melhores condições de atuarem na inclus ão do aluno com necessidades educacionais especiais. Isto envolve capacitação, conscientização da comunidade escolar sobre deficiências e deficientes, material pedagógico, adaptação curricular, apoio técnico, entre outros (SOUZA, 2005, p. 98). Observa-se, a partir dessas ponderações, que é longa a distância que separa a educação praticada hoje daquela proposta pelos defensores da inclusão. Silva e Aranha (2005) entendem que, embora seja evidente o aumento no número de matrículas de alunos com deficiência em classes regulares do ensino comum, a mera inserção desses alunos não configura, por si só, uma prática inclusiva de ensino. Na mesma linha, Santos (2001 apud Tessaro et al., 2005) aponta que ainda hoje, erroneamente, muitos entendem a inclusão como a s imples prática de colocar pessoas com deficiência estudando com outras que não possuem qualquer deficiência. Entretanto, embora não se possa ainda afirmar que todas as iniciativas de inclusão no país sejam exatamente processos de inclusão vitoriosos, tamb ém não se pode negar que, “[...] a educação inclusiva é algo que vem se efetivando, mesmo que a duras penas, buscando superar toda uma história de isolamento, discriminação e preconceito” (TESSARO et al., 2005, p. 107). É importante salientar também que i números estudos e pesquisas têm sido desenvolvidos no sentido de identificar os vários fatores dificultadores do processo de inclusão. Análises de alguns destes estudos serão feitas aqui, objetivando fundamentar a pesquisa proposta neste trabalho. Em estudo sobre a interação entre professoras e alunos em salas de aula de uma escola estadual com proposta inclusiva, SILVA e ARANHA (2005) ressaltaram 39 que a educação para todos implica “[...] um sistema educacional que reconhece, respeita e responde, com eficiên cia pedagógica, a cada aluno que nele se encontra inserido” (p. 377). No mesmo estudo as autoras (2005) identificaram como avanço educacional um maior espaço de participação dos alunos nas aulas, especialmente no caso dos alunos com necessidades educaciona is especiais. Destacaram, no entanto, que embora tivessem sido constatados resultados positivos, não se poderia considerar plena a inclusão pois, “apesar do avanço atitudinal e mesmo metodológico observados, ainda não se pôde detectar a prática do ensino individualizado e flexível” (p. 392). Em outro estudo, Tessaro et al. (2005) efetivaram uma pesquisa para verificar a visão que alunos sem necessidades educacionais especiais apresentavam sobre a inclusão escolar. Os principais resultados desse estudo indi caram que a maioria dos alunos pesquisados se mostrou favorável à inclusão escolar, demonstrando credibilidade nesse processo. Os participantes expressaram também, várias dificuldades envolvidas no sistema regular de ensino, destacando -se a discriminação social e a falta de preparo dos profissionais. Os sentimentos relatados em relação à inclusão foram predominantemente positivos. As mesmas autoras (2005) ressaltaram ainda que esse processo requeria não apenas a aceitação e a credibilidade das pessoas, mas também que as escolas se estruturassem “tanto no âmbito físico como de recursos humanos para receber um aluno com necessidades educativas especiais” (p. 113). Ampliando o público-alvo, o Integração/Inclusão escolar (GEPEI), Grupo de Estudos e Pesquisa em cadastrado no CNPq e localizado na Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), realizou um estudo buscando analisar os posicionamentos de professores, alunos e pais diante da proposta de inclusão escolar. Beyer (2005) relato u essa pesquisa em seu livro “Inclusão e avaliação na escola: de alunos com necessidades educacionais especiais”. Os professores pesquisados apontaram a inclusão como um desafio que implica prática e formação continuada, atuação da equipe pedagógica, inter câmbio entre professores além de infra -estrutura escolar favorável. Os alunos destacaram a importância da atenção pedagógica diferenciada ao colega com necessidades educacionais especiais, porém sem discriminação e afirmaram que a convivência em sala de aula representava a oportunidade de aprendizagem recíproca. Os pais posicionaram-se positivamente e suas respostas refletiram a importância da 40 participação efetiva de todos como colaboradores, divulgadores e incentivadores do processo de inclusão. Nessa mesma perspectiva, SILVEIRA e NEVES (2006), ao pesquisarem as concepções de pais e professores sobre a inclusão escolar de crianças com deficiência múltipla detectaram a formação profissional como [...] questão central para a implantação da escola inclusiva. Acima de tudo, a predisposição para perceber o aluno como ser cognoscente e se perceber como peça-importante no desenvolvimento do aluno, de forma a co responsabilizar-se pelas mudanças que urgem serem realizadas no processo educacional, se traduz como uma questão urgente a ser enfrentada no trabalho com os professores (p. 84). As autoras citadas, a partir dos discursos de pais e professores, levantaram questões pertinentes à necessidade de todos desenvolverem ações de tolerância à diversidade humana. Citaram ainda como responsabilidade do poder público [...] propiciar maior investimento em materiais pedagógicos, próteses e órteses e recursos de adaptação para as escolas inclusivas, a fim de se garantir meios que facilitem acomodação, comunicação e aprendi zagem dos alunos com necessidades educacionais especiais, assim como se deve questionar a eficácia dos treinamentos e cursos destinados aos professores que lidam com esses alunos (SILVEIRA e NEVES, 2006, p. 84). Já Sant’Ana, I. (2005), argumentando que pro fessores e diretores, por apresentarem funções essenciais na estrutura e funcionamento do sistema educacional, poderiam fornecer importantes subsídios para a compreensão dos projetos desenvolvidos, estudou as concepções desses profissionais sobre Educação Inclusiva. Os participantes dessa pesquisa reconheceram a importância de uma educação democrática, que atendesse à totalidade dos educandos embora identificassem obstáculos à proposta de inclusão. A autora (2005) relatou ainda que o principal obstáculo à p roposta de inclusão parecia ser a falta de preparo do professor para atuar com esses alunos, reconhecendo como graves as dificuldades apresentadas pelos educadores nesse estudo e que estas demandavam urgentes ações governamentais. Por sua vez, consultando os vários segmentos ligados à educação na pesquisa do tema “O enigma da inclusão: das intenções às práticas pedagógicas”, FERREIRA (2007) concluiu que “[...] a proposta de educação atual vigente ainda não oferece nem garante condições satisfatórias para s er considerada efetivamente inclusiva” (p. 549). Apesar disso, a mesma autora (2007) constatou que a inclusão de todos na escola, independente de seu talento ou deficiência, traz benefícios para todos, pois: 41 - o contato das crianças entre si “reforça atitu des positivas, ajudando-as a aprender a serem sensíveis, a compreender, a respeitar e a crescer, convivendo com as diferenças e as semelhanças individuais entre seus pares”; - os alunos com deficiência, em ambientes inclusivos, “podem apresentar melhor desempenho no âmbito educacional, social e ocupacional. Eles aprendem como atuar e interagir com seus pares no mundo real”; - o benefício maior para os professores “[...] é a co -participação na transformação da escola, por meio do apoio cooperativo e aprimor amento das habilidades profissionais” (FERREIRA, 2005, p. 555). Em outras palavras, SOUZA (2005) alerta que embora saibamos das necessidades de ajustes do sistema educacional às condições das pessoas com necessidades educacionais especiais, não podemos negar os benefícios sociais que o processo inclusivo traz como resultado, desde que bem instrumentalizado e operacionalizado (p. 48). Os trabalhos acima analisados evidenciam alguns pontos que merecem atenção especial. Em primeiro lugar, parece consensual q ue, embora sua efetiva implementação seja ainda muito questionada, a inclusão educacional no Brasil tem avançado em termos quantitativos. Pode -se dizer ainda que apesar dos diversos entraves a sua efetivação, a idéia de inclusão tem encontrado apoio nos vá rios segmentos ligados à educação. Por fim, constata -se que tanto as experiências realizadas quanto os estudos desenvolvidos e os questionamentos levantados têm contribuído para que o processo de inclusão aconteça de forma mais criteriosa e responsável. E é essa a intenção do presente trabalho de pesquisa: contribuir para o enriquecimento do debate por meio das opiniões e sugestões daqueles mais diretamente envolvidos no assunto. 42 2 JUSTIFICATIVA A Declaração Universal de Direitos Humanos (ONU, 1 948, Artigo XXVI) e a Constituição Federal (BRASIL, 1988, Artigo 205) reconhecem a educação como direito de todos indistintamente. Da mesma forma, o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Declaração de Salamanca e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, asseguram atendimento educacional a todas as pessoas, inclusive àquelas com necessidades educacionais especiais. Daí, poder -se afirmar que o presente estudo atende aos interesses particulares da referida escola e gerais da sociedade brasileira par a quem a Educação Inclusiva tornou -se um projeto político-pedagógico de especial relevância. A Educação Inclusiva, segundo Glat (2007), [...] é hoje política educacional garantida pela legislação em nível federal, estadual e municipal. Cabe aos órgãos gov ernamentais e às instituições públicas e privadas implementá -la de forma satisfatória, considerando o contexto e as peculiaridades locais (p.188). É fundamental, portanto, que se promova efetivamente a construção de um sistema educacional brasileiro em co nsonância com as propostas da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL,1996). SILVA e ARANHA (2005) acreditam que, ao se favorecer a formação de cidadãos críticos e responsáveis, possibilitando o acesso ao saber científico e à sua utilização crítica e funcional rotineira, estaremos construindo uma sociedade mais igualitária e humana. Com o fortalecimento do movimento - atualmente amparado por lei - pela construção de sistemas educacionais inclusivos, houve aumento considerável no número de alunos com deficiência matriculados e que frequentam classes regulares no ensino comum. Tanto é verdade que recente notícia veiculada no jornal Folha de São Paulo (GÓIS, 2008) divulga que, no Brasil, houve um grande aumento no número de alunos com necessidade s educacionais especiais no ensino fundamental. Segundo a mesma matéria esse número duplicou, passando de 221.652 para 463.856 estudantes, no período de 2000 a 2007. Embora sejam importantes esses números, é preciso lembrar que a simples inserção desses alunos nas classes regulares, não representa uma real prática inclusiva de ensino, como alerta SANT’ANA, I. (2005) ao afirmar que 43 o fato de esses alunos estarem no mesmo ambiente com os demais não quer dizer que estejam incluídos, realmente, no contexto es colar. A inclusão implica práticas escolares que favoreçam relações significativas dentro da perspectiva de aprendizagem colaborativa (Thosand & Villa, 1991), capazes de remover barreiras ao acesso e à participação dessas pessoas na aprendizagem e na sociedade (Santos, Souza, Alves & Gonzaga, 2002) (p. 231). Na verdade, o que se verifica na prática, é que [...] mesmo aquelas crianças que se encontram inseridas no sistema regular de ensino, continuam sendo isolados dos seus companheiros de turma não deficientes. Pesquisas têm demonstrado que esses alunos encontram -se incluídos fisicamente, mas não social e emocionalmente. (BATISTA; ENUMO, 2004; MARCHESI; ECHEITA; MARTIN, 1995; FERREIRA, NUNES, 2003 apud ENUMO, 2005, p. 337). E, ainda que as políticas públic as garantam o acesso de todas as crianças à escola, sabe-se que “enquanto o número de alunos matriculados nas escolas cresce consideravelmente, aumentam, na mesma proporção, os índices de fracasso escolar” (WEISS e CRUZ, 2007, p. 65). Após a Declaração de Salamanca começaram as discussões referentes à educação das pessoas com necessidades educacionais especiais. A partir daí, a inclusão dessas pessoas no sistema de ensino regular tem sido objeto de pesquisas e de eventos científicos que abordam desde os pre ssupostos teóricos político filosóficos até as formas de implementação das diretrizes estabelecidas pelo referido documento (SANT’ANA, I., 2005). Isso porque, apesar de assegurada legalmente, a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais na escola regular, embora venha ocorrendo de forma gradual e contínua, ainda provoca constantemente questionamentos, incertezas e frustrações das pessoas envolvidas com esse alunado hoje presente em nossas escolas (GLAT, 2007). A sociedade brasileira, segundo SOUZA (2005), ainda se encontra presa a concepções tradicionais e preconceituosas que sobreviveram e se fortaleceram com o passar dos anos. Por ser a Educação Inclusiva uma proposta recente, um processo em construção, exige planejamento e execução cuidado sos além de avaliações constantes. Sabe -se que a implementação de um sistema de Educação Inclusiva não é tarefa simples e que para se oferecer um ensino de qualidade a todos os educandos, inclusive aos que têm alguma deficiência ou problema de aprendizagem, “[...] a escola precisa reorganizar sua estrutura de funcionamento, metodologia e recursos pedagógicos, e principalmente, conscientizar e garantir que seus profissionais estejam preparados para essa nova realidade” (GLAT e BLANCO, 2007, p. 30). 44 Claro está que inclusão não significa apenas transferir o aluno da escola ou da classe especial para a classe comum. Por isso, antes de se planejar e implementar qualquer processo de inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais (NEEs) em escolas regul ares é importante saber quais as concepções que a comunidade escolar tem a respeito da inclusão desses alunos, os recursos e os déficits que apresentam para a proposição de uma educação inclusiva de qualidade para todos. Conhecer as concepções que os vário s segmentos que compõem a comunidade escolar têm sobre a Educação Inclusiva configura -se, portanto, como prioridade. Esse é o ponto de partida para se saber quais os caminhos a serem trilhados e planejados para uma futura intervenção responsável no contexto escolar. É imprescindível aprofundar o conhecimento sobre os vários aspectos da inclusão. Não basta apenas pesquisar o que a comunidade escolar sabe sobre a acessibilidade (Lei 10.098), mas, principalmente, conhecer suas expectativas em relação ao processo de inclusão, o que pensa acerca das dificuldades envolvidas nesse processo. É preciso saber as angústias e as necessidades apontadas pela comunidade escolar assim como o potencial por ela apresentado. A avaliação criteriosa permitirá ao pesquisador ter acesso ao repertório de alunos, professores e funcionários possibilitando, então, a construção de bases sólidas que poderão garantir que a inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais no ensino regular aconteça efetivamente, eliminando -se barreiras para a aprendizagem propiciando assim a participação de todos. Apesar do crescente número de pesquisas na área de Educação Inclusiva verificou-se que as mesmas são feitas a partir de um projeto de inclusão em execução ou de situações isoladas de in clusão. Em toda a bibliografia pesquisada não foi encontrado, porém, trabalho que enfocasse os passos preliminares fundamentais para a implementação de qualquer projeto de Educação Inclusiva. 45 3 OBJETIVOS 3.1 Objetivo geral Considerando que é de extrema importância que a comunidade escolar conheça sua realidade, o presente trabalho tem como objetivo geral verificar as concepções de uma comunidade escolar a respeito dos conceitos e impressões sobre inclusão e escola inclusiva, avaliando e caract erizando as concepções de diferentes grupos dessa comunidade – alunos, professores e funcionários - a respeito da inclusão. Só dessa forma serão criadas estratégias de atuação desenvolvendo ao máximo a potencialidade apresentada pela comunidade escolar. 3.2 Objetivos específicos Como objetivos específicos podem ser elencados: Investigar o conhecimento que a comunidade escolar tem sobre conceito de inclusão; averiguar se os educadores participaram de alguma capacitação para acolher, conviver e trabalhar c om PNEEs; averiguar se os educandos receberam alguma orientação para acolher PNEEs e conviver com elas; fazer um levantamento das reais condições da escola em questão e dos problemas relativos à inclusão e, escolar. identificar as dificuldades e o potencial sina lizados pela comunidade 46 4 MÉTODO A pesquisa foi realizada em uma escola da rede federal de ensino 1, que oferece os cursos: Médio e Técnico em Agricultura e Zootecnia, entre outros. Os cursos pesquisados contam com 306 alunos matriculad os, 134 funcionários e 44 professores (dados informados em outubro/2008). A escola, situada em uma fazenda, tem suas salas de aula distribuídas por vários prédios, em locais diversos. As aulas do ensino Médio são ministradas em um único prédio pedagógico, enquanto que as do ensino Técnico acontecem em vários prédios e UEPs (Unidades Educacionais de Produção). A escola, objeto deste estudo, está localizada em uma cidade de pequeno porte, com 37.015 habitantes, localizada no Sul de Minas Gerais e é de extrem a importância para a comunidade local e regional, graças a sua vocação econômica essencialmente agrícola. 4.1 Participantes Foram pesquisadas 120 pessoas pertencentes à comunidade escolar. São eles: 40 alunos do Curso Técnico em Agricultura e Zootecnia (2 0 do sexo masculino e 20 do sexo feminino, com idade entre 15 e 24 anos), 40 funcionários (20 do sexo masculino e 20 do sexo feminino, com idade entre 19 e 65 anos) e 40 professores (29 do sexo masculino - oito do Ensino Médio e vinte e um do Ensino Técnic o; e 11 do sexo feminino – seis do Ensino Médio e cinco do Ensino Técnico, com idade entre 22 e 58 anos). A caracterização da amostra pelos dados do nível socioeconômico, obtido por meio do Critério Brasil (Anexo), constata uma maior concentração de estuda ntes e funcionários na faixa C (42,5% e 40%, respectivamente), seguido pela distribuição na faixa B2 para ambos os subgrupos (32,5% dos estudantes e 35% dos funcionários) . Para o grupo dos professores houve uma maior concentração na faixa B1 (51,3%). 1 No dia 29 de dezembro de 2008 a escola em questão, assim como as outras escolas agrotécnicas federais, passou a constituir Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia em conformidade com a Lei nº 11.892. 47 Primeiramente, foi feito um pedido de autorização à direção da escola para a realização da pesquisa (Apêndice A). Logo após a anuência da mesma foram iniciados os trabalhos com a realização de um estudo piloto do questionário que seria aplicado aos participante s (Apêndices B, C, D e E). Em seguida, após o levantamento do nome de todos os 306 alunos (250 do sexo masculino e 56 do sexo feminino), de todos os 134 funcionários (97 do sexo masculino e 37 do sexo feminino) e de todos os 44 professores da escola (31 do sexo masculino e 12 do sexo feminino), foram excluídos os 40 participantes do estudo piloto. De posse desses dados, foi feito um sorteio para definir, de forma aleatória, os participantes da pesquisa retirados da nova listagem. A pesquisadora teve o cuida do de sortear, entre alunos e funcionários, igual número de participantes do sexo masculino e do feminino. Entretanto, com os professores a proporção não pôde ser mantida devido a predominância, entre eles, do sexo masculino e também por todos terem participado da pesquisa (quatro do estudo piloto e os outros 40, da pesquisa em si). É importante ressaltar que constaram na listagem utilizada para os sorteios tanto funcionários e professores efetivos quanto contratados ou substitutos. 4.2 Local e Ambiente A coleta de dados de todos os alunos e de alguns funcionários foi feita em uma sala da Coordenadoria Geral de Assistência ao Educando, com a presença exclusiva de pesquisado e pesquisadora. A coleta de dados dos demais funcionários e dos professores ocorreu no prédio em que os mesmos trabalham. Isso porque havia a necessidade de agilização do trabalho em razão da época da coleta (final de ano letivo, véspera de férias) e também devido à grande extensão da escola. Alguns cuidados, entretanto, foram tomados pa ra que o resultado fosse o melhor possível: a coleta foi feita sempre em uma sala fechada, com boa iluminação, livre de ruídos e, geralmente, da presença de outras pessoas. 4.3 Instrumentos A realização do estudo piloto foi fundamental pois permitiu a id entificação das dificuldades encontradas pelos participantes ao responder o questionário e o consequente aprimoramento do instrumento, com as correções necessárias. O questionário elaborado e posteriormente aprimorado teve como objetivo o levantamento das concepções, conhecimentos, dúvidas e opiniões da comunidade 48 escolar em estudo sobre a inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais nas escolas regulares em geral assim como na escola em questão. O instrumento usado foi exatamente o mesmo par a os três segmentos pesquisados. Foram usados como referência para a elaboração do questionário livros, artigos e documentos oficiais sobre o tema. Foram consultados, entre outros, basicamente os livros: Inclusão e avaliação de alunos com necessidades espe ciais, de Hugo Otto Beyer; Inclusão escolar. O que é? Por quê? Como fazer?, de Maria Teresa Eglér Mantoan; e Inclusão. Construindo uma sociedade para todos, de Romeu Kazumi Sassaki. Os artigos pesquisados foram: Sobre identidades e diferenças nas escolas, de Maria Teresa Eglér Mantoan e Educação Inclusiva: concepções de professores e diretores, de Izabella Mendes Sant’ana. Foram ainda utilizados para estudo os seguintes documentos oficiais: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Diretrizes Nacionai s para Educação Especial na Educação Básica e Política Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. O questionário definitivo aplicado aos participantes foi dividido em quatro partes. No início foi reservado um espaço para a identifi cação do pesquisado, constando de dados pessoais – nome, idade, função e tempo de atuação na escola, - além da data de preenchimento do questionário (Apêndice F). Na Parte I do questionário propriamente dito as questões eram referentes à conceituação de inclusão, conhecimentos sobre o tema e Educação Inclusiva em geral. Essa parte constava de oito perguntas, sendo cinco fechadas (com opções de resposta), e outras três com questões abertas. A Parte II, constando de quatro perguntas - duas fechadas (com opç ões de resposta) e duas questões abertas, referia -se especificamente à escola pesquisada. Na Parte III usou-se o Critério Brasil (IBOPE, 2003) para se realizar um levantamento sócio-econômico do participante, por meio da posse de itens (bens) e o grau de instrução do chefe de família. 4.4 Procedimentos de Coleta de Dados Foi realizado o levantamento de todos os nomes de alunos, funcionários e professores da escola. A partir disso, foram retirados da primeira listagem, os nomes de funcionários e professores afastados nesse período tanto por licença médica, quanto para conclusão de mestrado e os dos 40 participantes do estudo -piloto. De 49 posse da relação atualizada foi realizado o sorteio dos participantes - alunos, funcionários e professores. Após a seleção a leatória, todos os selecionados foram procurados pela pesquisadora e consultados sobre sua disponibilidade e disposição em participar da pesquisa. A partir daí, seguindo os procedimentos de praxe das pesquisas científicas, foram expostas a cada um dos part icipantes as questões éticas constantes no Termo de Consentimento, não havendo nenhuma recusa ou questionamento por parte dos pesquisados constantes da lista. Com o objetivo de obter o necessário consentimento dos pais para a participação de seus filhos na pesquisa, e informá-los das questões éticas pertinentes e dos objetivos da pesquisa, foi entregue aos alunos menores de idade o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Todos os menores de idade selecionados participaram desse estudo com o consentiment o dos pais, que concordaram em assinar o referido termo. Os horários e locais para responderem o questionário foram prévia e individualmente acertados de acordo com a disponibilidade dos participantes. Houve uma dificuldade um pouco maior de contatar os p rofessores pois a coleta de dados foi feita no final do ano letivo, época de muitos compromissos pedagógicos. Quando do preenchimento do questionário, era reafirmado aos participantes o objetivo do estudo. Para os alunos com mais de 18 anos, os funcionári os e professores o Termo de Consentimento era entregue e depois de lido, assinado; dos menores era recolhido o documento de autorização assinado pelos pais (Apêndices G e H). A coleta de dados foi feita no período de 27/10/2008 a 08/12/2008. Em média, foram gastos pelos participantes 20 minutos para responder o questionário. O mesmo procedimento de coleta de dados foi adotado com os alunos, funcionários e professores: ao apresentar o questionário, a pesquisadora mostrava e explicava as partes constantes do mesmo. A pesquisadora procurou estar presente durante os procedimentos para esclarecer eventuais dúvidas. Em algumas ocasiões, quando solicitado, pesquisado e pesquisadora conversavam sobre questões relacionadas à inclusão e à viabilidade de sua implement ação na escola em questão. Ao final, a pesquisadora agradecia ressaltando a importância da participação do pesquisado para o trabalho de conclusão de curso e para a escola. 50 5 RESULTADOS As concepções de funcionários, professores e alunos de um Institut o Federal de Educação, Ciência e Tecnologia a respeito da inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais na escola regular, assim como a avaliação da capacitação para o trabalho de inclusão e do conhecimento e condições referentes ao processo de educação inclusiva na escola pesquisada serão apresentadas com base em análise de dados por meio de estatísticas descritivas. Essa análise foi aplicada aos resultados obtidos por meio do questionário, conforme listagem a seguir: (1) Concepções sobre inclusã o: Funcionários, alunos e professores; (2) Avaliação da capacitação; (3) Conhecimentos e condições referentes à escola pesquisada. O tópico (1) refere-se aos dados resultantes do conhecimento da comunidade sobre inclusão, a saber: o significado do termo Educação Inclusiva; as variáveis para sua consecução; a função da escola regular no processo de inclusão de PNEEs; o conhecimento da inclusão de PNEEs nas escolas regulares; o que consideram como necessidades educacionais especiais e a importância de acompanhament o pedagógico e de avaliação diferenciada para alunos com necessidades educacionais especiais. O tópico (2) traz os dados sobre a capacitação e orientação de professores, funcionários e alunos para trabalhar e conviver com PNEEs na escola estudada. E, por fim, o tópico (3) pesquisa as condições da escola em relação ao processo inclusivo – das estratégias utilizadas aos problemas e dificuldades encontrados; do conhecimento de atendimento de algum aluno com NEEs pela escola em questão às principais dificuldad es identificadas para permanência desses alunos nessa escola. (1) Concepções sobre inclusão: Funcionários, alunos e professores Os resultados apresentados a seguir visam caracterizar as concepções dos funcionários, alunos e professores a respeito da inclusã o de alunos com necessidades educacionais especiais na escola regular, ou seja, caracterizar o 51 conhecimento da comunidade escolar a respeito do conceito de inclusão. A Tabela 1 apresenta as concepções a respeito do significado do termo “Educação Inclusiva” . Tabela 1. Porcentagem e frequência obtidas no item de avaliação da concepção do significado do termo “Educação Inclusiva” Funcionários Alunos Professores (n=40) (n=40) (n=40) Item/Concepção % Freq. % Freq. % Freq. Inclusão de todos, independentemente de 72,5% 29 77,5 % 31 67,5% 27 suas deficiências e dificuldades. Modificação de pessoas com deficiência para 30% 12 27,5% 11 12,5% 5 o convívio social. Garantia de ingresso e permanência de pessoas com deficiência nas escolas 65% 26 55% 22 70% 28 regulares. Oferecer facilidades de acesso a pessoas 77,5% 31 70% 28 50% 20 com dificuldade de locomoção. Oferta de educação de qualidade sem excluir 80% 32 57,5% 23 75% 30 nenhum aluno. Pelos dados da Tabela 1 é possível observar que o item indicado com maior frequência, na perspectiva dos funcionários e professores, foi a concepção de que a Educação Inclusiva significa a “ Oferta de educação de qualidade s em excluir nenhum aluno” (80% dos funcionários e 75% dos professores). Já na perspectiva dos alunos, o item apontado com maior freqüência foi “ Inclusão de todos, independentemente de suas deficiências e dificuldades” (77,5% dos alunos). Esses dados indicam uma coerência quanto à concepção do que significa Educação Inclusiva para os três grupos avaliados. O item apontado com menor frequência, pelos funcionários, alunos e professores foi “Modificação de pessoas com deficiência para o convívio social ” (30% de funcionários, 27,5% de alunos e 12,5% de professores). Essa concepção, minoritária, mas ainda assim expressiva, diferentemente das demais, não apresenta coerência com os pressupostos da Educação Inclusiva, em que o aluno com necessidade educacional especi al deve se adequar ao convívio social e, consequentemente, a escola regular. Outra concepção sobre Educação Inclusiva que merece destaque, considerando as variáveis para sua consecução, pode ser verificada na Tabela 2. 52 Tabela 2. Porcentagem e frequênc ia obtidas no item de avaliação das variáveis de consecução da “Educação Inclusiva” Funcionários Alunos Professores (n=40) (n=40) (n=40) Item % Freq. % Freq. % Freq. Não acontece, por falta de condições do aluno com alguma deficiência em acompanhar aulas 35% 14 27,5% 11 25% 10 e desenvolver atividades requeridas pelos cursos. Não acontece, por falta de conscientização e capacitação de professores e funcionários e 87,5% 35 72,5% 29 82,5% 33 por falta de adequação da estrutura física da escola. Não acontece, pois escola regular (comum) é mais apropriada para atender alunos sem 40% 16 30% 12 27,5% 11 deficiência. Não acontece, pois a escola especial (APAE) é a mais apropriada para ate nder alunos com 20% 8 32,5% 13 27,5% 11 deficiência. Acontece, pois a escola regular (comum) já está apropriada para atender e educar alunos 17,5% 7 12,5% 5 7,5% 3 com deficiência. Na Tabela 2, pode-se observar que houve uma concordância na avaliação realizada pelos funcionários, alunos e professores quando indicam que a Educação Inclusiva não ocorre “Por falta de conscientização e capacitação de professores e funcionários e por falta de adequação da estrutura física da escola” (87,5% dos funcionários, 72,5% dos alunos e 82,5% dos professores). Houve também concordância quanto ao item menos apontado que indica que a Educação Inclusiva “Acontece, pois a escola regular (comum) já está apropriada para atender e educar alunos com deficiência” (17,5% dos funcionários, 12,5% dos alunos e 7,5% dos professores). Ainda quanto à concepção de Educação Inclusiva, 20% dos funcionários, 32,5% dos alunos e 27,5% dos professores consideram que esta proposta de educação “ Não acontece, pois a escola especial (APAE) é a mais apropriada para atender alunos com deficiência ”. Foi pesquisada também a concepção sobre a função da escola regular no processo de inclusão dos indivíduos com necessidades educacionais especiais. Os dados sobre essa concepção encontram-se na Tabela 3. 53 Tabela 3. Porcentagem e frequência obtidas no item de avaliação da concepção “Escola Regular” Funcionários Alunos (n=40) (n=40) Item % Freq. % Freq. Deve se adequar às necessidades educacionais especiais do aluno com 97,5% 39 97,5% 39 deficiência. Não deve se adequar às necessidades educacionais especiais do aluno com deficiência, pois é o aluno que deve se 2,5% 1 2,5% 1 adequar às normas, atividades e cu rrículo da escola. sobre a Professores (n=40) % Freq. 95% 38 5% 2 Verificou-se, a partir desses dados, que 39 funcionários, 39 alunos e 38 professores concordam com o ideal da Educação Inclusiva, ao apontar que a escola regular deve se adequar, em termos de modificações pedagógicas, curriculares e físicas, às necessidades educacionais especiais do aluno com necessidades educacionais especiais. Quando questionados sobre se tinham algum conhecimento sobre Educação Inclusiva ou inclusão de pessoas com necessida des educacionais especiais nas escolas regulares, 75% dos professores (30 docentes) apontaram que sim, assim como 62,5% dos funcionários (25 técnicos). A porcentagem mais baixa foi encontrada entre os alunos. Somente 45% dos alunos (18 estudantes) indicara m ter esse tipo de conhecimento. Na mesma questão, quando solicitado aos entrevistados que relatassem essas situações, 17 professores, 14 funcionários e dois alunos responderam conhecer alunos com necessidades educacionais especiais (NEEs) matriculados na escola em questão; sete professores, seis funcionários e 13 alunos informaram conhecer alunos com NEEs estudando em outras escolas regulares; quatro professores e dois alunos declararam conhecer escolas regulares com propostas inclusivas e, por fim, um p rofessor e quatro funcionários afirmaram possuir familiares com necessidades educacionais especiais incluídos em escolas regulares. Foi avaliada também a concepção dos funcionários, alunos e professores a respeito do que consideram como necessidades educac ionais especiais. Esses dados estão dispostos na Tabela 4. 54 Tabela 4. Porcentagem e frequência obtidas no item de avaliação do necessidades educacionais especiais Funcionários (n=40) Item % Freq. Deficiência física 72,5% 29 Deficiência visual 87,5% 35 Deficiência auditiva 82,5% 30 Deficiência mental 75% 30 Deficiência múltipla 80% 32 Dificuldades acentuadas de aprendizagem 60% 24 Superdotação/Altas habilidades 27,5% 11 Problemas acentuados de comportamento 37,5% 15 que consideram como Alunos (n=40) % Freq. 42,5% 17 47,5% 19 42,5% 17 57,5% 23 60% 24 50% 20 10% 4 27,5% 11 Professores (n=10) % Freq. 70% 28 85% 34 85% 34 75% 30 72,5% 29 72,5% 29 67,5% 27 40% 16 De acordo com a Tabela 4, 87,5% dos funcionários indicaram com maior frequência a deficiência visual como uma necessidade educacional especial, seguida pela deficiência auditiva (82,5%) e defici ência múltipla (80%). Para os alunos, a maior porcentagem estava na deficiência múltipla (60%), seguida pela deficiência mental (57,5%). Já os professores apresentaram maior porcentagem na concepção de que a deficiência visual e auditiva são necessidades e ducacionais especiais (85% e 85%). Houve concordância entre os funcionários e alunos sobre a alternativa de resposta menos apontada como uma necessidade educacional especial, Superdotação/Altas habilidades (27,5% dos funcionários e 10% dos alunos), seguid a por problemas acentuados de comportamento (37,5% e 27,5%, respectivamente). Na perspectiva dos professores, problemas acentuados de comportamento foi a opção menos indicada como uma necessidade educacional especial (40%), seguida pela opção “Superdotação /Altas habilidades” (67,5%). Ainda investigando as concepções a respeito da inclusão, na questão que sondou a importância atribuída ao acompanhamento pedagógico aos alunos com necessidades educacionais especiais, 100% dos funcionários, 97,5% dos alunos e 95% dos professores, apontaram esse acompanhamento como importante. Dos 92,5% dos professores, 77,5% dos alunos e 52,5% dos funcionários que consideram importante o emprego de formas diferenciadas de avaliação para alunos com necessidades educacionais esp eciais, 11 funcionários, 20 alunos e 22 professores indicaram que as avaliações devem atender às necessidades específicas dos alunos. Dez professores e sete funcionários apontaram para a 55 necessidade de se respeitar o “ritmo próprio” de cada aluno; três pro fessores apontaram que existem formas diferenciadas de avaliar o desempenho acadêmico dos alunos; dois funcionários apontaram para a possibilidade de se avaliar o rendimento médio dos alunos com NEEs; oito alunos argumentaram que, por apresentarem algum tipo de NEE, têm mais dificuldades e, dois alunos indicaram a deficiência como uma “barreira” ao aprendizado acadêmico. (2) Avaliação da capacitação Os resultados a seguir apresentam os dados sobre a capacitação dos professores, funcionários e alunos para trab alhar com indivíduos com necessidades educacionais especiais na escola estudada: 20% dos professores e 20% dos alunos (oito docentes e oito estudantes) indicaram ter recebido alguma orientação para conviver e estudar e/ou capacitação para trabalhar com ind ivíduos com necessidades educacionais especiais. Entre os funcionários, a porcentagem dos que receberam capacitação foi de 7,5% (três técnicos). Referente ainda aos dados de orientação e capacitação para trabalhar com pessoas com necessidades educacionais especiais, dois professores indicaram que no curso de licenciatura tiveram uma orientação “superficial” sobre inclusão e os demais (seis docentes) informaram ter participado de palestras e mini -cursos, terem lido sobre o assunto ou obtido conhecimento por meio da experiência profissional. Quanto aos funcionários, um indicou que estava cursando uma Pós -Graduação em Educação Inclusiva; um indicou que participou de um curso de iniciação promovido pelo programa TECNEP (Educação, Tecnologia e Profissionalização para Alunos com Necessidades Educacionais Especiais) e outro relatou ter trabalhado na APAE. Quanto aos alunos, quatro informaram ter recebido orientação familiar para conviver com colegas com necessidades educacionais especiais e outros dois indicaram te r capacitação e/ou orientação para trabalhar com equoterapia. (3) Conhecimentos e condições referentes à escola pesquisada Os dados que serão dispostos a seguir visam caracterizar as condições da escola em relação ao processo inclusivo, em termos das estraté gias presentes e dos problemas e dificuldades vigentes. Nesse sentido, um item do questionário investigou se os participantes já tinham presenciado algum processo de inclusão de alunos com necessidades 56 educacionais especiais na escola que trabalham ou est udam. 70% dos alunos (28 estudantes) apontaram que sim, sendo que seis avaliaram esse processo de inclusão como sendo excelente, 15 como bem sucedido, cinco como parcialmente bem sucedido e dois como mal sucedido. A porcentagem dos professores que já acompanharam ou presenciaram a inclusão de algum aluno com necessidades educacionais especiais na presente escola foi de 60% (24 docentes). Esse processo foi avaliado como excelente por dois professores, como bem sucedido por oito, parcialmente bem sucedido por 11 docentes e mal sucedido por três. Já entres os funcionários, 72,5% deles (29 técnicos) indicaram que sim, sendo que seis avaliaram como excelente, 14 como bem sucedido, seis como parcialmente bem sucedido e três como mal sucedido. Foi avaliada também por meio do questionário a percepção das dificuldades para permanência de alunos com necessidades educacionais especiais na escola em estudo. 75% dos professores (30 docentes), 65% dos alunos (26 estudantes) indicaram que há dificuldades, seguidos por 32,5 % dos funcionários (13 técnicos) com a mesma percepção. Dentre as principais dificuldades identificadas para permanência de alunos com necessidades educacionais especiais nessa escola foram indicadas: Falta de capacitação de professores e funcionários – apontada por 28 professores e 15 funcionários; inadequação física da escola – apontada por seis professores e dois funcionários; pouca acessibilidade e dificuldade de locomoção devido à distância – apontada por 21 alunos e três professores e, falta de sensibilização dos demais alunos para acolherem aqueles com necessidades educacionais especiais – apontada quatro alunos e dois funcionários. Quando perguntados se já tinham verificado alguma modificação e/ou adaptação na estrutura física da escola, 100% dos pro fessores apontaram que sim, enquanto os percentuais para os funcionários e alunos foram, respectivamente, 95% e 80%. A modificação mais evidente foi a construção de rampas citada por 33 professores, 33 funcionários e 31 alunos. Foram relatadas ainda: Adaptação de banheiros – apontada por 14 funcionários, oito professores e oito alunos; 57 utilização de material didático específico – apontada por quatro professores; instalação de corrimãos – apontada por cinco funcionários e, melhorias efetuadas no calçamento – apontada por um aluno. O conhecimento a respeito do atendimento, atualmente, de algum aluno com necessidades educacionais especiais na escola foi verificado em outro item do questionário. 65% dos funcionários (26 técnicos), 57,5% dos professores (23 docentes) e 47,5% dos alunos (19 estudantes) indicaram ter esse conhecimento. 58 6 DISCUSSÃO A partir dos dados obtidos nesta pesquisa foi possível estabelecer um diagnóstico bastante nítido da escola estudada em relação à inclusão. A verificação dos conceitos da comunidade escolar permitiu conhecer a realidade da instituição e mostrar caminhos que podem levar à implementação de um processo inclusivo eficaz, construído sobre bases sólidas e que vise ao acesso e permanência de todos com a garantia de uma educação de qualidade. Assim, analisando-se os resultados referentes ao Tópico (1) - Questões relativas à conceituação de Educação Inclusiva – constatou-se que a maior parte dos professores, funcionários e alunos apresentou concepções co erentes com os pressupostos de Inclusão e Educação Inclusiva. Isso se evidencia quando, para a maioria dos entrevistados, Educação Inclusiva seria oferecer educação de qualidade a todos os alunos. Relevante também o fato de índices significativos apontarem que a escola regular deveria se adequar às necessidades educacionais especiais do aluno com deficiência. Outro dado importante foi quanto à menor indicação, pelos três segmentos, de que a Educação Inclusiva acontece porque a escola regular já está prepar ada para atender e educar alunos com NEEs, ou seja, a maioria dos professores e funcionários e alunos observa que a Educação Inclusiva ainda não acontece de fato. Constata-se a partir disso, que, para a comunidade escolar, está bem claro que a escola regular deve se adequar para atender alunos com e/ou sem necessidades educacionais especiais, embora reconheça que não seja esta a realidade em muitos contextos escolares. No entanto, alguns entrevistados demonstraram acreditar que inclusão poderia ser a modificação das pessoas objetivando um convívio social harmonioso. Dessa forma, apontam que não é a escola que deve se adequar às necessidades educacionais especiais do aluno, mas sim que o aluno que deve se adaptar a ela. Essa resposta, portanto, denota certa contradição com os princípios da inclusão, evidenciada também em outra questão, quando foi citado por alguns entrevistados que as escolas especiais são mais apropriadas para atender alunos com deficiência. Isso demonstra falta de clareza das diferenças ent re os conceitos de inclusão e 59 integração. Tanto a modificação de PNEEs com o intuito de “normalizá -las” quanto a institucionalização dessas pessoas em escolas especiais são preceitos da integração ao passo que a inclusão deve possibilitar às PNEEs educação de qualidade juntamente com os demais, respeitando -lhes suas dificuldades e diferenças (PARANÁ, 2006). Essa dificuldade em distinguir os conceitos de inclusão e integração tem sido relatada também em outros estudos como os de SANT’ANA, I. (2005), ANTUNES (2007) e SOUZA (2007). Outro aspecto que retrata conceituações conflitantes ficou evidente quando foi solicitado aos entrevistados que indicassem os itens por eles considerados como Necessidades Educacionais Especiais. As alternativas mais apontadas foram as que faziam referência às deficiências: visual, auditiva, múltipla, mental e física. No entanto, o conceito de necessidades educacionais especiais não é sinônimo de deficiência. Para Glat e Blanco (2007, p.26), “o conceito de deficiência se reporta às condições orgânicas do indivíduo, que podem resultar em uma necessidade educacional especial, porém não obrigatoriamente”. Antunes (2007) amplia ainda mais o conceito de necessidades educacionais especiais, ao afirmar que ele não se refere apenas às pessoa s com deficiência, mas a todas as pessoas que, por diversos motivos, em algum momento de suas vidas, necessitam de algum tipo de atendimento especial. Sendo assim, entende -se que as NEEs podem ser transitórias e não necessariamente definitivas, um conceito que já aparece em 1998, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998). E mais, entendem-se como necessidades educacionais especiais, além das dificuldades oriundas de deficiências e/ou comprometimentos orgânicos ou resultantes de situações temporárias, também aquelas consequentes de diversas situações que possam interferir no processo de aprendizagem dos educandos, seja pela sua condição étnica, sócio -econômica, cultural ou outra característica qualquer que os diferencie dos demais. Sousa (2007) enriquece a discussão sobre NEEs afirmando que “[...] as diferenças – características próprias de cada indivíduo e dos grupos aos quais ele pertence – precisam ser vistas como fonte de recursos para transformações, ao invés de obstáculos ao desenvolvimento” ( p. 26). Ainda quanto às concepções sobre NEEs, outro resultado importante foi a relativa desconsideração pela comunidade escolar das dificuldades de aprendizagem e dos problemas acentuados de comportamento como necessidades educacionais especiais. Essa posição, que permeia arraigadamente a educação 60 tradicional, atribui os problemas de aprendizagem e comportamento a causas diversas como falta de interesse e preguiça, por exemplo. Observa -se, segundo Carvalho (2008), que os alunos bem comportados são conside rados ideais e aqueles que apresentam dificuldades de aprendizagem acabam ficando à margem do processo, relegados a espaços segregados e segregadores, muitas vezes no interior das próprias salas de aula. Outra necessidade educacional especial pouco indicad a pelos funcionários e alunos, e identificada corretamente por um número expressivo de professores foi Superdotação/Altas Habilidades. Nesses casos, há que se considerar que as três situações relatadas – dificuldades acentuadas de aprendizagem, problemas acentuados de comportamento e Superdotação/Altas habilidades - são NEEs, pois exigem da escola e dos educadores um atendimento diferenciado, condizente com o repertório de cada aluno. Os resultados referentes às NEEs remetem a uma necessária revisão com a comunidade escolar sobre conceituação de NEEs: que não são somente as deficiências visíveis e que todo aluno no decorrer de seu processo de escolarização pode apresentar alguma necessidade educacional especial, requerendo por parte da escola estratégias de orientação inclusiva como adaptações curriculares, novos critérios de avaliação e parcerias com instituições, dentre outras. Entre os alunos verificaram -se percentuais notadamente baixos de identificação das NEEs. As respostas a esse item sinalizam para a necessidade de desmistificação dos conceitos que esse segmento tem de NEEs e de informações mais claras do processo inclusivo. No item que trata das avaliações, índices notadamente elevados apontaram, por razões diversas, a importância de se estabelecer em formas diferenciadas de avaliação para alunos com NEEs. Esses resultados são condizentes com a proposta de Educação Inclusiva para a qual a avaliação deve estar sempre voltada para compreender as necessidades educacionais especiais de cada educando. Sob esse novo enfoque, Oliveira (2008) comenta este conceito recente no âmbito da educação aponta para ações muito distintas em relação à avaliação, e que se distanciam dos procedimentos tradicionais que se preocupavam em selecionar os alunos em condições de escolarização formal, decidindo também o grau de participação, se integrado ou segregado (p. 71). A mesma autora (2008) em sua pesquisa reconhece a avaliação como uma das práticas pedagógicas que mantêm as maiores resistências à mudança e 61 relaciona essa resistência ao fato da avaliação se configurar como instrumento de poder dos professores. No Tópico (2), que aborda a avaliação da capacitação e orientação da comunidade escolar para conviver e trabalhar com PNEEs – um aspecto merece estudo mais aprofundado. Os professores, os funcionários e os alunos apontaram, na sua maioria, estarem despreparados para lidar com PNEEs. Esse julgamento evidenciado tanto pelo número reduzido de pessoas que se disseram capacitadas quanto pelo tipo de orientação recebida, in formada como “superficial” é um indicativo de obstáculos para permanência de PNEEs na escola, como será visto no próximo tópico. Já o Tópico (3) – que investiga os conhecimentos e condições referentes à escola pesquisada – aponta os fatores dificultadores para a permanência de PNEEs. Além da já citada falta de capacitação de professores e funcionários, são consideradas: a inadequação da estrutura física da escola, a distância e a dificuldade de locomoção e, a falta de sensibilização dos alunos para acolher as PNEEs. Os índices referentes à falta de capacitação denotam que, tanto professores quanto funcionários se consideram despreparados para acolher, conviver e trabalhar com PNEEs. Vários estudos realizados no Brasil confirmam esse dado, destacando a falta de capacitação do professor e da equipe pedagógica em lidar com alunos que apresentam necessidades educacionais especiais. Ao pesquisar sobre a orientação e a capacitação de professores e funcionários para trabalhar e conviver com PNEEs, Michels (2006, p. 412) constata que “a falta de preparo dos professores brasileiros é apontada, pelos órgãos oficiais, como uma das causas mais relevantes do insucesso escolar dos alunos”. Nesse sentido outros estudos também podem ser citados como os de MARTINS (2006), SAN T’ANA, I. (2005), BEYER (2005) e ainda os de BUENO, 1999a; CARNEIRO, 1999; MAGALHÃES, 1999; GLAT, 2000; GLAT & NOGUEIRA, 2002 e 2003; FERREIRA, GLAT, FERREIRA, OLIVEIRA & SENNA, 2003; BRAUN, SODRÉ & PLETSCH, 2003 apud PLETSCH, (2005). No presente trabalho, apesar da consciência de sua insuficiente capacitação denunciada pelos entrevistados, merece destaque o fato de essas mesmas pessoas apresentarem em suas respostas concepções adequadas sobre o processo de Educação Inclusiva. Esse fenômeno é observado tam bém em estudo realizado por 62 Antunes (2007), no qual o autor conclui que os discursos geralmente reproduzem concepções dispostas nos documentos oficiais sobre a política de inclusão. Por sua vez, a indicação da falta de adequação, da distância e da dificu ldade de locomoção encontradas na escola estudada, também relatadas pelos entrevistados como um dos fatores dificultadores da permanência de PNEEs, está condizente com os resultados de vários trabalhos científicos concluídos recentemente. Embora a comunida de escolar perceba melhorias na estrutura física adaptação de banheiros, material didático específico, instalação de corrimãos e melhorias no calçamento, ela tem clareza de que muito ainda precisa ser feito para que a escola seja acessível. É importante observar que, a partir de 2004 vêm sendo feitas paulatinamente modificações na estrutura física e equipamentos da escola para que se atenda aos parâmetros técnicos fixados na NBR 9050 (ABNT). Estão sendo feitas adaptações nas áreas já construídas – adaptação de banheiros, construção de rampas, instalação de corrimãos, reserva de vagas no estacionamento, sinalização horizontal - e as novas construções são planejadas seguindo os critérios de acessibilidade previstos nas mesmas normas. Cabe ressaltar aqui que as barreiras arquitetônicas, mais visíveis e fáceis de serem resolvidas, não são as únicas existentes. Mas, muitas vezes, como alerta Glat (2007, p. 57) essas barreiras “[...] se tornam uma ‘justificativa’ da escola para a sua não-inclusão, com a alegação de que ‘não está preparada para receber esses alunos’, o que se configura como uma forma explícita de exclusão”. Outra questão pesquisada coloca como fator dificultador a falta de sensibilização dos demais alunos para acolher PNEEs percebida pelos funcio nários e denunciada pelos próprios alunos. Quanto a isso, Souza (2005) propõe que seja feito um trabalho efetivo de conscientização educacional, envolvendo pais, alunos e todos que trabalham na escola, iniciativa que possibilitaria um melhor atendimento às necessidades educacionais especiais do aluno a ser incluído. A respeito desse tópico é importante ressaltar que os aspectos levantados não se constituem pontos excludentes, mas fatores que se complementam na construção de uma escola realmente inclusiva. N esse sentido Omote (2004) afirma: “As adaptações que precisam ser introduzidas para tornar a escola acessível, acolhedora e adequada para alunos com qualquer espécie de deficiência não se limitam a aspectos físicos – como o ambiente arquitetônico, os recur sos didáticopedagógicos, o mobiliário e o acervo de laboratórios e bibliotecas – nem aos aspectos educacionais – como o currículo, os objetivos essenciais as mudanças que precisam ocorrer no meio social, representado principalmente pelos diretores, 63 professores, alunos e famílias desses alunos. Todos precisam estar disponíveis para enfrentarem juntos o desafio da convivência na diversidade” (p. 1). 64 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente trabalho, por me io deste estudo, que avaliou as concepções de professores, funcionários e estudantes sobre Educação Inclusiva em uma escola regular da rede federal em Minas Gerais, buscou reunir dados que possam contribuir para a construção de bases sólidas para a impleme ntação de um projeto de inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais em uma escola regular . Assim, os resultados obtidos neste estudo permitiram responder aos objetivos inicialmente propostos. Nesse sentido, foi possível verificar as concep ções da comunidade escolar estudada a respeito dos conceitos e impressões sobre inclusão e escola inclusiva; verificar o conhecimento que essa comunidade tem sobre conceito de inclusão; averiguar se os educadores obtiveram capacitação para acolher, conviver e trabalhar com PNEEs e se os educandos receberam orientação para acolher PNEEs e conviver com elas; levantar as reais condições da escola e dos problemas relativos à inclusão e, identificar as dificuldades e o potencial sinalizados por essa mesma comuni dade escolar. Os dados coletados indicaram a necessidade de capacitação, não só para professores e funcionários, mas, principalmente para os alunos, e ainda a importância de se desenvolverem estratégias de acessibilidade em todas as unidades da instituição pesquisada. Como pontos relevantes desse trabalho podem ser ressaltados: A seleção aleatória dos participantes tanto no estudo piloto quanto na sondagem final que resultou numa amostragem mais fidedigna das concepções da comunidade escolar; a realização de estudo piloto, programado para detectar as dificuldades encontradas pelos pesquisados, corrigi -las e aprimorar o questionário utilizado; a oportunidade de ouvir os vários segmentos da comunidade envolvida sem distinção, valorizando sua contribuição, dan do-lhes o mesmo grau de importância e tornando-os co-participantes do processo e, 65 a utilização da pesquisa para coleta de dados que se constituiu num instrumento eficaz de sensibilização e mobilização da comunidade escolar ao propor e proporcionar uma refl exão mais sistemática sobre o assunto. Embora os resultados desse trabalho enfatizassem itens notáveis, persistiram algumas limitações: As famílias dos alunos da escola, que fazem parte da comunidade escolar, não participaram da pesquisa; a sondagem dos participantes, em especial dos professores, sobre as estratégias de acompanhamento pedagógico não foi prevista o que poderia resultar em contribuições importantes para implementação futura da Educação Inclusiva; a falta de uma pesquisa sobre o histórico d as experiências de atendimento aos alunos com NEEs na instituição. Essa investigação possibilitaria parâmetros para uma melhor avaliação, pela comunidade escolar, do processo de Educação Inclusiva por ela vivenciado e, a omissão das NEEs transitórias (gra videz, doenças infecciosas, incapacidades temporárias de locomoção entre outras) não abordadas nas questões propostas e, consequentemente não apontadas nas respostas. Pesquisas futuras A partir das questões levantadas neste estudo várias outras investi gações se justificam como forma de complementação e/ou aprofundamento do tema, tais como: Mapeamento da provável clientela com necessidades educacionais especiais da instituição estudada. Elaboração de programa específico para minimizar os fatores dificult adores da inclusão, identificados na escola pesquisada. Avaliação das concepções sobre Educação Inclusiva nas demais unidades que compõem o atual Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia. 66 8 REFERÊNCIAS ANTUNES, K. C. V. Uma leitura sociológica da construção do espaço escolar à luz do paradigma da Educação Inclusiva. 2007. 98 p. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, jul. 2007. Disponível em: < http://www.eduinclusivapesq uerj.pro.br/teses/pdf/katiucia_dissert.pdf >. Acesso em: 21 abr. 2009. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT, Rio de Janeiro. 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Quem cabe no seu TODOS? 2. ed. - Rio de Janeiro: WVA, 2002. 240 p. 76 APÊNDICES APÊNDICE A- Autorização da direção da escola APÊNDICE B- Estudo piloto APÊNDICE C- Questionário de Avaliação da Concepção de Inclusão (Estudo piloto) APÊNDICE D- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Entrevistados menores de idade – Estudo piloto) APÊNDICE E- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Entrevistados maiores de idade – Estudo piloto) APÊNDICE F- Questionário de Avaliação da Concepção de Inclusão APÊNDICE G- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Entrevistados menores de idade) APÊNDICE H- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Entrevistados maiores de idade) 77 APÊNDICE A. Autorização da direção da escola 78 79 APÊNDICE B. Estudo Piloto 80 ESTUDO PILOTO A pesquisa foi realizada em uma escola da rede federal de ensino, que oferece, dentre outros, os cursos: Médio e Técnico em Agricultura e Zootecnia. Esses dois cursos em estudo contam com 309 alunos matriculados, 138 funcionários e 39 professores (dados de agosto/2008). Por estar situada em uma fazenda a escola tem suas salas de aula distribuídas por vários locais. As aulas do ensino Médio são ministradas em um único prédio pedagógico, enquanto que as do ensino Técnico acontecem em vários préd ios e UEPs (Unidades Educacionais de Produção). A escola está localizada em uma cidade de pequeno porte, com 37.015 habitantes, localizada no Sul de Minas Gerais. Graças a sua vocação econômica essencialmente agrícola a escola é de extrema importância par a a comunidade local e regional. 1 Justificativa e Objetivos - Identificar as dificuldades encontradas pelos participantes ao responder o questionário; - corrigir o texto de acordo com as dificuldades encontradas; - aprimorar o questionário. 2 Participantes Participaram do estudo-piloto 24 pessoas, que fazem parte da comunidade escolar em estudo, sendo 10 alunos do Curso Técnico em Agricultura e Zootecnia (sete do sexo masculino e três do sexo feminino, com idade entre 15 a 21 anos), 10 funcionários (seis do sexo masculino e quatro do sexo feminino, com idade entre 25 e 53 anos) e 4 professores (dois professores do Ensino Médio e dois do Ensino Técnico, sendo três do sexo masculino e uma do sexo feminino, com idade entre 23 e 50 anos). Após levantamento do nome de todos os alunos (309 no total, sendo 253 do sexo masculino e 56 do sexo feminino), dos 138 funcionários e dos 39 professores da escola, foi feito um sorteio para definir, de forma aleatória, os 81 participantes deste estudo. Cabe ressaltar aqui que c onstaram na listagem tanto funcionários e professores do quadro efetivo quanto contratados ou substitutos. 3 Local e ambiente A coleta de dados de todos os alunos foi feita em uma sala da Coordenadoria de Assistência ao Educando, fechada e sem ruídos. Na mesma sala, três funcionários responderam o questionário. Já a coleta de dados dos demais funcionários e dos professores ocorreu no prédio em que trabalham, sempre em uma sala fechada, com boa iluminação, livre de ruídos e da presença de outras pessoas. 4 Instrumento O questionário foi elaborado com o objetivo de levantar as concepções, conhecimentos, dúvidas e opiniões da comunidade escolar em estudo sobre a inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais nas escolas regulares em geral e tamb ém na referida escola. Os enunciados das questões assim como as opções das respostas foram retirados de livros, artigos e documentos oficiais. Foram consultados os livros: Inclusão e avaliação de alunos com necessidades especiais, de Hugo Otto Beyer; Inclusão escolar. O que é? Por quê? Como fazer? , de Maria Teresa Eglér Mantoan; e Inclusão. Construindo uma sociedade para todos, de Romeu Kazumi Sassaki. Os artigos pesquisados foram: Sobre identidades e diferenças nas escolas, de Maria Teresa Eglér Mantoan e Educação Inclusiva: concepções de professores e diretores, de Izabella Mendes Sant’ana. Foram utilizados os seguintes documentos oficiais: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica e Po lítica Nacional de Educação Especial na perspectiva da Educação Inclusiva. O questionário consta inicialmente de um cabeçalho de identificação do participante. Após a identificação, se divide em duas partes: na Parte I as questões são referentes à conceitu ação de inclusão, conhecimentos sobre o tema e Educação Inclusiva; na Parte II foi usado o Critério Brasil (IBOPE) para se realizar um levantamento sócio-econômico do participante. A Parte I do questionário consta de 13 perguntas, sendo 8 fechadas (com opções de resposta), e outras 5 com questões abertas. 82 A Parte II – Critério Brasil se refere ao levantamento do perfil sócio -econômico do entrevistado por meio da posse de itens (bens) e o grau de instrução do chefe de família. Critério Brasil (IBOPE, 2003). Para caracterizar a amostra foi utilizada a escala de avaliação socioeconômica, cuja pontuação é baseada na quantidade de bens duráveis, no grau de instrução do chefe de família e em outros fatores como a presença de empregada doméstica. Essa escala divi de a população em cinco classes, cujo percentual populacional, em cada classe, é o seguinte (da classe de maior poder aquisitivo para a de menor): A1: 1%, A2: 4%, B1: 7%, B2: 12%, C: 31%, D: 33%, e E: 12%. 5 Procedimentos de coleta de dados Foi realizado o levantamento de todos os nomes de alunos, funcionários e professores da escola. A partir disso, foram retirados da primeira listagem, funcionários e professores afastados nesse período tanto por licença médica ou eleitoral, quanto para conclusão de mestr ado. Em seguida, foi feito o sorteio dos participantes (alunos, funcionários e professores). Após a seleção aleatória, todos os selecionados foram procurados pela pesquisadora e consultados se poderiam participar deste estudo piloto. Nesta ocasião foram ex plicitadas aos mesmos as questões éticas constantes no Termo de Consentimento. Não houve nenhuma recusa por parte dos participantes. Aos alunos menores de idade foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido que teve como objetivo informar os pa is sobre a participação de seus filhos na pesquisa, além das questões éticas pertinentes e dos objetivos da pesquisa. Como poucos são da cidade onde se desenvolve a pesquisa, os alunos levaram o termo de consentimento para casa no final de semana. Todos os alunos menores de idade selecionados participaram desse estudo, visto que seus pais concordaram em assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os horários e locais para responderem o questionário foram previamente acertados de acordo com a disp onibilidade dos participantes. Por ocasião da coleta de dados propriamente dita, era reafirmado o objetivo do estudo. Para os alunos com mais de 18 anos o Termo de Consentimento era entregue e depois de lido, assinado. 83 O mesmo procedimento de coleta dados foi adotado com os alunos, funcionários e professores. Durante esse procedimento estavam presentes somente a pesquisadora e o participante. Ao apresentar o questionário, a pesquisadora mostrava e explicava as partes constantes do mesmo. Nesse momento, a pesquisadora comunicava ao participante que ficaria presente o tempo todo observando, esclarecendo dúvidas e fazendo anotações. Após a coleta de dados, em algumas ocasiões, pesquisado e pesquisadora conversavam sobre questões relacionadas à inclusão e à viab ilidade de sua implementação na escola em questão. Ao final, a pesquisadora agradecia demonstrando a importância de sua participação para o trabalho de conclusão de curso e para a escola. 6 Tratamentos de dados Os dados foram organizados em planilhas no aplicativo SPSS 15.0 for Windows (Statistical Package for Social Ciências ) e, tratados por meio de estatística descritiva (frequência e porcentagem). 7 Resultados As concepções de funcionários, professores e alunos de uma escola agrotécnica federal a r espeito da inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais na escola regular, serão apresentadas com base em análises estatísticas descritivas. Essa análise será aplicada aos resultados obtidos por meio do questionário. Concepções sobre inclusã o: Funcionários, professores e alunos Os resultados apresentados a seguir visam caracterizar as concepções dos funcionários, professores e alunos a respeito da inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais na escola regular. A Tabela 1 apresen ta as concepções a respeito do significado do termo “Educação Inclusiva”. 84 Tabela 1. Porcentagem e frequência obtidas no item de avaliação da concepção do significado do termo “Educação Inclusiva” Alternativa/Concepção Inclusão de todos, independentemente de suas deficiências e dificuldades. Modificação de pessoas com deficiência para o convívio social. Garantia de ingresso e permanência de pessoas com deficiência nas escolas regulares. Oferecer facilidades de acesso a pessoas com dificuldade de locomoção. Oferta de educação de qualidade sem excluir nenhum aluno. Funcionários Professores (n=10) (n=4) % Freq. % Freq. Alunos (n=10) % Freq. 80% 8 50% 2 80% 8 40% 4 0% 0 40% 4 80% 8 25% 1 50% 5 80% 8 50% 2 70% 7 90% 9 75% 3 80% 8 Pelos dados da Tabela 1 é possível observar que o item indicado com maior freqüência, na perspectiva dos funcionários e professores, foi a concepção de que a Educação Inclusiva significa a “ Oferta de educação de qualidade sem excluir nenhum aluno” (90% dos funcionários, 75% dos professores e 80% dos alunos). Além deste item, os alunos apontaram com maior freqüência o item “ Inclusão de todos, independentemente de suas deficiências e dificuldades ” (80% dos alunos). Já o item apontado com menor freqüência, pelos funcionários, professores e alunos foi “Modificação de pessoas com deficiência para o convívio social ” (40% funcionários, 0% de professores e 40% dos alunos). Esses dados indicam uma coerência quanto à concepção do que significa Educação Inclusiva para os três grupos de avaliados. Uma outra concepção sobre Educação Inclusiva, considerando as variáveis para sua consecução, pode ser verificada na Tab ela 2. 85 Tabela 2. Porcentagem e frequência obtidas no item de avaliação das variáveis de consecução da “Educação Inclusiva” Alternativa Não acontece, por falta de condições do aluno com alguma deficiência em acompanhar aulas e desenvolver atividades requeridas pelos cursos. Não acontece, por falta de conscientização e capacitação de professores e funcionários e por falta de adequação da estrutura física da escola. Não acontece, pois escola regular (comum) é mais apropriada para atender alunos sem deficiência. Não acontece, pois a escola especial é a mais apropriada para atender alunos com deficiência. Acontece, pois a escola regular (comum) já está apropriada para atender e educar alunos com deficiência. Funcionários Professores (n=10) (n=4) % Freq. % Freq. Alunos (n=10) % Freq. 40% 4 0% 0 10% 1 90% 9 100% 4 60% 6 20% 2 50% 2 50% 5 10% 1 25% 1 30% 3 10% 1 0% 0 30% 3 Na Tabela 2, pode-se observar que houve uma concordância na avaliação realizada pelos funcionários, professores e alunos quando indicam que a Educação Inclusiva não ocorre “Por falta de conscientização e capacitação de professores e funcionários e por falta de adequaç ão da estrutura física da escola ” (90% dos funcionários, 100% dos professores e 60% dos alunos). Os itens menos apontados foram: Funcionários - “Não acontece, pois a escola especial é a mais apropriada para atender alunos com deficiência ” (10% dos funcionários) e “Acontece, pois a escola regular (comum) já está apropriada para atender e educar alunos com deficiência” (10% dos funcionários); Professores – “Não acontece, por falta de condições do aluno com alguma deficiência em acompanhar aulas e desenvolver atividades requeridas pelos cursos ” (0% dos professores) e “ Acontece, pois a escola regular (comum) já está apropriada para atender e educar alunos com deficiência ” (0% dos professores); Alunos – “Não acontece, por falta de condições do aluno com alguma deficiência em acompanhar aulas e desenvolver atividades requeridas pelos cursos” (10% dos alunos). 86 Os dados quanto a concepção sobre escola regular encontram -se na Tabela 3. Tabela 3. Porcentagem e frequência obtidas no item de avaliação da concepção so bre a “Escola Regular” Alternativa adequar às especiais do Deve se necessidades educacionais aluno com deficiência. Não deve se adequar às necessidades educacionais especiais do aluno com deficiência, pois é o aluno que deve se adequar às normas, atividades e currículo da escola. Funcionários Professores (n=10) (n=4) % Freq. % Freq. Alunos (n=10) % Freq. 100% 10 100% 4 90% 9 0% 0 0% 0 10% 1 Verificou-se a partir desses dados que os funci onários, professores e alunos concordam com o ideal da Educação Inclusiva, ao apontar que a escola regular deve se adequar, em termos de modificações pedagógicas, curriculares e físicas, às necessidades educacionais especiais do aluno com deficiência. Quando questionados sobre se tinham algum conhecimento sobre Educação Inclusiva ou inclusão de pessoas com necessidades educacionais especiais nas escolas regulares (comuns), 75% dos professores apontaram que sim, seguido por 70% dos funcionários. A porcentage m mais baixa foi encontrada entre os alunos. Somente 40% dos alunos indicaram ter este tipo de conhecimento. Os pesquisados que responderam afirmativamente a questão (100%), apontaram que a presença de ex -alunos e alunos com necessidades educacionais especiais na escola estudada como conhecimento sobre educação inclusiva ou inclusão. As respostas de dois dos 10 funcionários indicam a presença desses alunos na escola. As respostas de três dos quatro professores foram diversas: um relatou conhecer aluno matr iculado na escola, um já trabalhou com alunos com necessidades educacionais especiais e tem conhecimento sobre inclusão por meio de literatura, e outro professor declarou ter conhecimento de crianças da comunidade que estudaram em escolas regulares. As res postas de quatro dos 10 alunos questionados ficaram assim distribuídas: um tem conhecimento de colega com necessidades educacionais especiais na escola, um relatou ter conhecimento 87 de “ajuda” oferecida à aluno disléxico, um percebeu adaptações na estrutura física da escola para receber alunos cadeirantes e um afirma ter estudado com aluno cadeirante em sua escola anterior. Perguntou-se ainda quanto à capacitação e orientação para conviver, estudar e trabalhar com alunos com necessidades educacionais espec iais e os dados indicaram que 100% dos professores e funcionários não receberam qualquer tipo capacitação e orientação, seguido por 80% dos alunos. Um outro item do questionário estava interessado em pesquisar se os participantes já tinham presenciado alg um processo de inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais na escola que trabalham ou estudam. 70% dos funcionários e alunos apontaram que sim, enquanto a porcentagem de professores foi de 50%. A avaliação desse processo para cada grupo indi cou que, 40% dos funcionários e alunos avaliaram como bem sucedido e 50% dos professores como parcialmente bem sucedido. Foi avaliada também por meio do questionário a percepção das dificuldades para permanência de alunos com necessidades educacionais espe ciais na escola em que freqüentam. 50% dos funcionários e professores indicaram que há dificuldades, seguido por 40% dos alunos com a mesma percepção. As principais dificuldades identificadas pelos pesquisados foram: a aceitação/acolhimento de alunos com n ecessidades especiais pela comunidade escolar, a falta de pessoal capacitado para trabalhar com esses alunos e difícil acesso às Unidades Educacionais de Produção. Um professor acredita que a escola não está preparada para receber alunos com necessidades e ducacionais especiais e outro coloca como dificuldade a inadequação do currículo. As respostas dadas pelos funcionários indicaram: dois vêem dificuldade na aceitação e acolhimento desses alunos pela comunidade escolar e dois detectaram a falta de capacitaç ão de professores e funcionários. As respostas de dois alunos fizeram alusão ao difícil acesso às UEPs devido à distância. Quanto às dificuldades identificadas no processo de inclusão referente especificamente à escola em estudo, foram elencadas: falta de capacitação de docentes e de técnico-administrativos (10 funcionários e três professores) e dificuldade de locomoção devido a distância (cinco alunos). 88 Quando perguntados se já tinham verificado alguma modificação na estrutura física da escola, 100% dos f uncionários apontaram que sim, enquanto os números para os professores e alunos foram, respectivamente, 75% e 90%. A modificação mais evidente foi a construção de rampas citada por três professores, 10 funcionários e nove alunos. Foram relatados ainda por um professor os corrimãos e por outro, banheiros adaptados. As respostas de três funcionários fizeram referência a banheiros adaptados e as de dois deles, a corrimãos. Dois alunos perceberam também a adaptação em banheiros. O conhecimento a respeito do at endimento, atualmente, de algum aluno com necessidades educacionais especiais na escola foi verificado em outro item do questionário. 80% dos funcionários e alunos indicaram ter este conhecimento. Já o número de professores que indicaram ter este conhecime nto foi de 50%. A informação sobre o que os participantes consideram como deficiência é apresentada na Tabela 4. Tabela 4. Porcentagem e frequência obtidas no item de avaliação do que consideram como necessidades educacionais especiais Alternativa Deficiência física Deficiência visual Deficiência auditiva Deficiência mental Deficiência múltipla Dificuldades acentuadas de aprendizagem Superdotação/Altas habilidades Problemas acentuados de comportamento Funcionários (n=10) % Freq. 90% 9 90% 9 70% 7 80% 8 80% 8 70% 7 20% 2 20% 2 Professores (n=4) % Freq. 75% 3 75% 3 75% 3 75% 3 100% 4 50% 2 25% 1 50% 2 Alunos (n=10) % Freq. 80% 8 90% 9 90% 9 90% 9 80% 8 50% 5 0% 0 100% 10 De acordo com a Tabela 4, 90% dos funcionários consideram como deficiência a física e a mental. Já a maior porcentagem para os professores está na deficiência múltipla (100%) e para os alunos nos problemas acentuados de comportamento (100%). A alternativa que os três grupos de avaliadores menos apontaram como uma necessidade educacional especial foi Superdotação/Altas habilidades (0% dos alunos, 20% dos funcionári os e 25% dos professores). 89 No item sobre acompanhamento pedagógico aos alunos com necessidades educacionais especiais, 100% dos participantes, dos três grupos, apontaram como importante. Mas quando perguntados a respeito da necessidade de se estabelecerem diferentes formas de avaliação para o aluno com alguma deficiência, somente todo o grupo de professores apontou que sim, seguido pelos funcionários (90%) e alunos (70%). Das pessoas que consideram importante formas diferenciadas de avaliação para alunos com necessidades educacionais especiais, 12 delas defenderam a necessidade de avaliações individualizadas, sendo quatro professores e oito funcionários, e quatro alunos argumentaram que, por serem especiais, esses alunos têm mais dificuldades. 8 Discussão 8.1 Dificuldades A maior dificuldade encontrada na aplicação do questionário foi relativa ao enunciado das questões 7 e 8. Os entrevistados em geral, não conseguiram diferenciar muito bem “permanência” de “processo de inclusão” além de relatarem que as respostas para estas questões podem ser as mesmas. Foram detectadas outras dificuldades. Vários entrevistados não sabiam o que era Deficiência Múltipla. Outros demonstraram dificuldades nas definições de escola regular e escola especial. Alguns deles precisar am de esclarecimento para responder ao Critério Brasil. Os alunos de um modo geral se mostraram apreensivos no início da aplicação do questionário. Em algumas ocasiões foi necessário tranqüilizá -los, informando que não se tratava de uma avaliação onde hou vesse respostas “certas” ou “erradas”. 8.2 Impressões O estudo piloto do questionário aconteceu de forma muito satisfatória. Os entrevistados ficaram atentos durante toda a sua aplicação, demonstrando interesse e responsabilidade. Ao final, alguns pesqu isados sugeriram alterações no enunciado de questões, fizeram comentários e/ou pediram esclarecimentos sobre o tema. 90 8.3 Conclusões, aprimoramentos e modificações O estudo piloto foi fundamental para identificar as dificuldades encontradas pelos participantes ao responder o questionário, corrigir o texto de acordo essas dificuldades e dessa forma, aprimorar o questionário. Como foram identificadas dúvidas sobre escola regular e especial definiu -se por apresentar exemplos, entre parênteses de escola espe cial (por exemplo, APAE) e regular (alguma escola estadual da cidade ou a própria escola em estudo). A questão 4 deverá ser modificada pois permitiu várias interpretações. Assim as respostas obtidas serão mais precisas. As questões 7 e 8, alvo da maior di ficuldade identificada pelos participantes, terá novo enunciado, embora continue com a opção aberta possibilitando -lhes a descrição dos obstáculos para permanência de alunos com deficiência na escola. Com relação ao Critério Brasil optou -se por não acrescentar nenhum enunciado de caráter elucidativo por se tratar de levantamento elaborado e utilizado pelo IBOPE em várias pesquisas. Decidiu -se que, se necessário, a pesquisadora esclarecerá as possíveis dúvidas. Algumas alterações serão feitas a partir de o bservações feitas pela pesquisadora e pela orientadora. Na questão 11 o termo “deficiência” será alterado para “Necessidades educacionais especiais” por ser mais adequado. Ainda nessa questão, o termo usado “deficiências múltiplas” deverá ser corrigido par a “deficiência múltipla”. Como alguns participantes tiveram dúvidas sobre o que seria deficiência múltipla, serão acrescentados nessa opção exemplos entre parênteses. No Termo de Consentimento deverão ser atualizados os dados de identificação da orientador a. 91 APÊNDICE C. Questionário de Avaliação da Concepção de Inclusão (Estudo Piloto) 92 Ministério da Educação Secretaria da Educação Profissional e Tecnológica Escola Agrotécnica Federal d e Machado-MG Rodovia Machado Paraguaçu Km 03 - Bairro Santo Antonio Coordenadoria Geral de Assistência ao Educando -CGAE Questionário de Avaliação da Concepção de Inclusão Nome:_____________________________________________________________________ Idade: _____________________________________________________________________ Função: ( ) Estudante – Série ________________________________________________ ( ) Professor – Disciplina_____________________________________________ ( ) Funcionário. – Função ____________________________________________ Há quanto tempo trabalha/estuda na EAF -Machado? _____________________________ Data: ___/ ___/ 2008. - PARTE I 1- Para você, educação inclusiva significa: (Assinale com um X todas as afirmações que você considera corretas.) ( ) A inclusão de todos, independente de suas deficiências ou dificuldades; ( ) A modificação de pessoas com deficiência para o convívio social; ( ) A garantia de ingresso e perm anência de pessoas com deficiência nas escolas regulares (comuns); ( ) Oferecer facilidades de acesso à pessoas com dificuldade de locomoção com a construção de rampas, banheiros especiais, etc; ( ) A oferta de educação de qualidade sem excl uir nenhum aluno. 93 2 – Para você, a educação inclusiva: ( Assinale com um X as alternativas que considerar corretas.) ( ) Não acontece, por falta de condições do aluno com alguma deficiência em acompanhar aulas e desenvolver atividades requeridas pe los cursos; ( ) Não acontece, por falta de conscientização e capacitação de professores e funcionários e por falta de adequação da estrutura física da escola. ( ) Não acontece, pois a escola regular (comum) é mais apropriada para atender alunos s em deficiência; ( ) Não acontece, pois a escola especial é mais apropriada para atender alunos com deficiência; ( ) Acontece, pois a escola regular (comum) já está apropriada para atender e educar alunos com deficiência. 3- Para você, a escola regular (comum): (Assinale com um X a alternativa que achar correta, somente uma.) ( ) Deve se adequar as necessidades educacionais especiais do aluno com deficiência; ( ) Não deve se adequar as necessidades educacionais especiais do aluno com def iciência, pois é o aluno que deve se adequar as normas, atividades e currículo da escola. 4- Você tem algum conhecimento sobre educação inclusiva ou inclusão de pessoas deficientes em escolas regulares (comuns)? ( Assinale com um X a alternativa que achar correta.) ( ) Sim. ( ) Não. - Em caso positivo/afirmativo, que tipo de conhecimento? ___________________________________________________________________________ _____________________________________________ ______________________________ 94 5- Você já participou, acompanhou ou presenciou algum processo de inclusão de alunos com deficiência na Escola Agrotécnica Federal de Machado? ( ) Sim. ( ) Não. - Em caso positivo/afirmativo, como você avalia o processo dessa experiência de inclusão? ( ) Excelente. ( ) Bem sucedido. ( ) Parcialmente bem sucedido. ( ) Mal sucedido. 6- Você teve alguma orientação ou capacitação para conviver, estudar e/ou trabalhar com pessoas deficientes? ( ) Sim. Quais? ____________________________________________________________ ( ) Não. 7- Você percebe dificuldades para permanência de alunos com deficiência na Escola Agrotécnica Federal de Machado? ( ) Sim. Quais? ____________________________________________________________ ( ) Não. 8- Para você, quais são as dificuldades no processo de inclusão de alunos com deficiência na EAF-Machado? ______________________________________________________ _____________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 95 9- Você verificou/percebeu se a EAF -Machado fez alguma modificação na estrutura física para receber alunos com deficiência? ( ) Sim. Quais? ____________________________________________________________ ( ) Não. 10- Você tem conhecimento se a Escola Agrotécnica Federal de Machado atende atualmente alunos com alguma deficiência? ( ) Sim. ( ) Não. 11- O que você considera como deficiência? (Assinale com um X todas as afirmações que você considera corretas.) ( ) Deficiência física; ( ) Deficiência visual; ( ) Deficiência auditiva; ( ) Deficiência mental; ( ) Deficiências múltiplas; ( ) Dificuldades acentuadas de aprendizagem; ( ) Superdotação/Altas habilidades (grande facilidade de aprendizagem); ( ) Problemas acentuados de comportamento. 12- Você considera importante o acompanhamento pedagógico aos alunos com alguma deficiência? ( ) Sim. ( ) Não. - Em caso positivo/afirmativo, qual tipo de acompanhamento pedagógico? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ____________________ _______________________________________________________ 96 13- Você considera necessário estabelecer diferentes formas de avaliação para aluno com alguma deficiência? ( ) Sim ( ) Não - Por quê?______________________________________________________ ____________ ___________________________________________________________________________ - PARTE II – Critério de Classificação Econômica Brasil 1 – Posse de itens: Quantidade de itens 0 1 Televisão em cores Rádio Banheiro Automóvel Empregada mensalista Aspirador de pó Máquina de lavar Videocassete e/ou DVD Geladeira Freezer (aparelho independente ou parte de geladeira duplex) 2- Grau de Instrução do chefe de família: Analfabeto / Primário incompleto Primário completo / Ginasial incompleto Ginasial completo / Colegial incompleto Colegial completo / Superior incompleto Superior completo 2 3 4 ou mais 97 APÊNDICE D. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – Estudo Piloto (Entrevistados menores de idade) 98 Ministério da Educação Secretaria da Educação Profissional e Tecnológica Escola Agrotécnica Federal de Machado -MG Rodovia Machado Paraguaçu Km 03 - Bairro Santo Antonio Coordenadoria Geral de Assistência ao Educando -CGAE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Você, pai e/ou responsável, _________ _______________________________________ está sendo convidado juntamente com seu filho (a) ___________________________________________ a participar da pesquisa “Concepções sobre educação inclusiva em uma escola regular da rede federal em Minas Gerais”. O objetivo deste estudo é o levantamento das concepções da comunidade escolar sobre a educação inclusiva. A participação de seu filho (a) não é obrigatória. A pesquisa será na forma questionário preenchido individualmente pelo seu filho. Você deve compreender que a contribuição de seu filho(a) a essa pesquisa é totalmente voluntária. Você tem total liberdade para recusar que seu filho(a) participe do trabalho proposto, e que, mesmo concordando e autorizando a participação dele (a), poderá retirar seu consentime nto a qualquer instante, sem que haja qualquer prejuízo para a sua pessoa nem para de seu filho(a) em função desta decisão. A sua autorização para a participação de seu filho(a) não acarretará desconfortos, gastos financeiros ou riscos de ordem psicológica , física, moral, acadêmicas ou de outra natureza. Além disto, a identidade e informações pessoais de seu filho(a) serão mantidas em sigilo e anonimato. Você deve estar ciente que os resultados serão utilizados para o estudo piloto da pesquisa acima citada, sob orientação da Psicóloga Bárbara Carvalho Ferreira e que a identidade de seu filho(a) será resguardada. Os dados coletados durante o estudo serão analisados e apresentados sob a forma de relatórios, e eventualmente, serão divulgados por meio de reuniõ es científicas, congressos e/ou publicações, e o anonimato de seu filho(a) estará garantido. Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone e o endereço dos pesquisadores, podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto e a participação, agora ou a qualquer momento. Declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios da participação de meu filho (a) na pesquisa e concordo em deixá -lo (a) participar. Luciana Dantas Andrade Aluna do Curso de Especialização em Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva – CEFET-MT Contato: Rua Coronel Jacinto, 585 apto. 03 – Centro 37750-000 – Machado - MG Telefones: (35) 3295-9723 ou (35) 3341-1985 Bárbara Carvalho Ferreira Aluna do Curso de Pós-graduação em Psicologia da UFSCar Contato: Avenida Professor Luiz Augusto de Oliveira, 289, Vila Celina 13566-340 – São Carlos - SP Telefone: (16) 3361-9890 Local e data:_____________________________________________________________ Assinatura: ______________________________________________________________ 99 APÊNDICE E. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – Estudo Piloto (Entrevistados maiores de idade) 100 Ministério da Educação Secretaria da Educação Profissional e Tecnológica Escola Agrotécnica Federal de Mach ado-MG Rodovia Machado Paraguaçu Km 03 - Bairro Santo Antonio Coordenadoria Geral de Assistência ao Educando -CGAE TERMO DE CONSENTIMEN TO LIVRE E ESCLARECI DO Eu, ________________________________________________ estou sendo convidado a participar da pesquisa “Concepções sobre educação inclusiva em uma escola regular da rede federal em Minas Gerais”. O objetivo deste estudo é o levantamento das concepções da comunidade escolar sobre a educação inclusiva. Minha participação não é obrigatória. A pesquisa será na forma questionário preenchido individualmente por mim. Eu compreendo que minha contribuição a essa pesquisa é totalmente voluntária. Tenho total liberdade para me recusar a participar do trabalho proposto, e que, mesmo concordando, poderei retirar meu consentimento a qualquer instante, sem que haja qualquer prejuízo para a minha pessoa em função desta decisão. A minha autorização para a participação não acarretará desconfortos, gastos financeiros ou riscos de ordem psicológica, física, moral, acadêmica ou de outra natureza. Além disto, minha identidade e informações pessoais serão mantidas em sigilo e anonimato. Eu devo estar ciente que os resultados serão utilizados para o estudo piloto da pesquisa acima citada, sob orientação da Psicóloga Bárbara Carvalho Ferreira e que minha identidade será resguardada. Os dados coletados durante o estudo serão analisados e apresentados sob a forma de relatórios, e eventualmente, serão divulgados por meio de reuniões científicas, congressos e/ou publicações, e meu anonimato estará garantido. Eu receberei uma cópia deste termo onde constam o telefone e o endereço dos pesquisadores, podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto e a participação, agora ou a qualquer momento . Declaro que entendi os objetivos, riscos e bene fícios de minha participação na pesquisa e concordo em participar. Luciana Dantas Andrade Aluna do Curso de Especialização em Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva – CEFET-MT Contato: Rua Coronel Jacinto, 585 apto. 03 – Centro 37750-000 – Machado - MG Telefones: (35) 3295-9723 ou (35) 3341-1985 Bárbara Carvalho Ferreira Aluna do Curso de Pós-graduação em Psicologia da UFSCar Contato: Avenida Professor Luiz Augusto de Oliveira, 289, Vila Celina 13566-340 – São Carlos - SP Telefone: (16) 3361-9890 Local e data:_____________________________________________________________ Assinatura: ______________________________________________________________ 101 APÊNDICE F. Questionário de Avaliação da Concepção de Inclusão 102 Ministério da Educação Secretaria da Educação Profissional e Tecnológica Escola Agrotécnica Federal de Machado -MG Rodovia Machado Paraguaçu Km 03 - Bairro Santo Antonio Coordenadoria Geral de Assistência ao Educando -CGAE Questionário de Avaliação da Concepção de Inclusão Nome:_____________________________________________________________________ Idade: _____________________________________________________________________ Função: ( ) Estudante – Série _______________________ _________________________ ( ) Professor – Disciplina_____________________________________________ ( ) Funcionário. – Função ____________________________________________ Há quanto tempo trabalha/estuda na EAF -Machado? _____________________________ Data: ___/ ___/ 2008. - PARTE I 1- Para você, educação inclusiva significa: (Assinale com um X todas as afirmações que você considera corretas.) ( ) A inclusão de todos, independente de suas deficiências ou dificuldad es; ( ) A modificação de pessoas com deficiência para o convívio social; ( ) A garantia de ingresso e permanência de pessoas com deficiência nas escolas regulares (comuns); ( ) Oferecer facilidades de acesso à pessoas com dif iculdade de locomoção com a construção de rampas, banheiros especiais, etc; ( ) A oferta de educação de qualidade sem excluir nenhum aluno. 103 2 – Para você, a educação inclusiva: ( Assinale com um X as alternativas que considerar corretas.) ( ) Não acontece, por falta de condições do aluno com alguma deficiência em acompanhar aulas e desenvolver atividades requeridas pelos cursos; ( ) Não acontece, por falta de conscientização e capacitação de professores e funcionários e por falta de adequação da estrutura física da escola. ( ) Não acontece, pois a escola regular (comum) é mais apropriada para atender alunos sem deficiência; ( ) Não acontece, pois a escola especial (APAE, por exemplo) é mais apropriada para atender alunos com deficiência; ( ) Acontece, pois a escola regular (comum) já está apropriada para atender e educar alunos com deficiência. 3- Para você, a escola regular (comum): (Assinale com um X a alternativa que achar correta, somente uma.) ( ) Deve se adequar as necessidades educacionais especiais do aluno com deficiência; ( ) Não deve se adequar as necessidades educacionais especiais do aluno com deficiência, pois é o aluno que deve se adequar as normas, atividades e currículo da escola. 4- Você tem algum conhecimento sobre educação inclusiva ou inclusão de pessoas com necessidades educacionais em escolas regulares (comuns)? ( Assinale com um X a alternativa que achar correta.) ( ) Sim. ( ) Não. - Em caso positivo/afirmativo, que tipo de conhecimento? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ _____________________________________________________________ ______________ ___________________________________________________________________________ 104 5- O que você considera como necessidades educacionais especiais? (Assinale com um X todas as afirmações que você considera corretas.) ( ) Deficiência física; ( ) Deficiência visual; ( ) Deficiência auditiva; ( ) Deficiência mental; ( ) Deficiência múltipla (surdo -cegueira, por exemplo); ( ) Dificuldades acentuadas de aprendizagem; ( ) Superdotação/Altas habilidades (grande f acilidade de aprendizagem); ( ) Problemas acentuados de comportamento. 6- Você considera importante o acompanhamento pedagógico aos alunos com alguma deficiência ou necessidade especial? ( ) Sim. ( ) Não. 7- Você considera necessário estabelecer diferentes formas de avaliação para aluno com alguma deficiência ou necessidade especial? ( ) Sim ( ) Não - Por quê?__________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ 8- Você teve alguma orientação ou capacitação para conviver, estudar e/ou trabalhar com pessoas com deficiência ou necessidade especial? ( ) Sim. Quais? ______________________________ ______________________________ ( ) Não. 105 - PARTE II – 9- Você já participou, acompanhou ou presenciou algum processo de inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais na Escola Agrotécnica Federal de Machado? ( ) Sim. ( ) Não. - Em caso positivo/afirmativo, como você avalia o processo dessa experiência de inclusão? ( ) Excelente. ( ) Bem sucedido. ( ) Parcialmente bem sucedido. ( ) Mal sucedido. 10- Você percebe dificuldades para permanência de alunos com necessidades educacionais especiais na Escola Agrotécnica Federal de Machado (dificuldades no processo de inclusão desses alunos na escola)? ( ) Sim. ( ) Não. - Em caso positivo/afirmativo, que tipo de dificuldade? ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ________________________________________________ ___________________________ 11- Você verificou/percebeu se a EAF -Machado fez alguma modificação na estrutura física para receber alunos com necessidades especiais? ( ) Sim. Quais? __________________________________________________________ __ ( ) Não. 12- Você tem conhecimento se a Escola Agrotécnica Federal de Machado atende atualmente alunos com alguma necessidade especial? ( ) Sim. ( ) Não. 106 CRITÉRIO DE CLASSIFICAÇÃO ECONÔMICA BRA SIL 1 – Posse de itens: Quantidade de itens 0 1 Televisão em cores Rádio Banheiro Automóvel Empregada mensalista Aspirador de pó Máquina de lavar Videocassete e/ou DVD Geladeira Freezer (aparelho independente ou parte de geladeira duplex) 2- Grau de Instrução do chefe de família: Analfabeto / Primário incomplet o Primário completo / Ginasial incompleto Ginasial completo / Colegial incompleto Colegial completo / Superior incompleto Superior completo 2 3 4 ou mais 107 APÊNDICE G. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Entrevistados menores de idade) 108 Ministério da Educação Secretaria da Educação Profissional e Tecnológica Escola Agrotécnica Federal de Machado -MG Rodovia Machado Paraguaçu Km 03 - Bairro Santo Antonio Coordenadoria Geral de Assistência ao Educando -CGAE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Você, pai e/ou responsável, ________________________________________________ está sendo convidado juntamente com seu filho (a) ___________________________________________ a participar da pesquisa “Concepções sobre educação inclusiva em uma escola regular da rede federal em Minas Gerais”. O objetivo deste estudo é o levantamento das concepções da comunidade escolar sobre a educação inclusiva. A participação de seu filho (a) não é obrigatóri a. A pesquisa será na forma questionário preenchido individualmente pelo seu filho. Você deve compreender que a contribuição de seu filho(a) a essa pesquisa é totalmente voluntária. Você tem total liberdade para recusar que seu filho(a) participe do trabal ho proposto, e que, mesmo concordando e autorizando a participação dele (a), poderá retirar seu consentimento a qualquer instante, sem que haja qualquer prejuízo para a sua pessoa nem para de seu filho(a) em função desta decisão. A sua autorização para a participação de seu filho(a) não acarretará desconfortos, gastos financeiros ou riscos de ordem psicológica, física, moral, acadêmicas ou de outra natureza. Além disto, a identidade e informações pessoais de seu filho(a) serão mantidas em sigilo e anonimato . Você deve estar ciente que os resultados serão utilizados para o estudo piloto da pesquisa acima citada, sob orientação da Psicóloga Bárbara Carvalho Ferreira e que a identidade de seu filho(a) será resguardada. Os dados coletados durante o estudo serão analisados e apresentados sob a forma de relatórios, e eventualmente, serão divulgados por meio de reuniões científicas, congressos e/ou publicações, e o anonimato de seu filho(a) estará garantido. Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefo ne e o endereço dos pesquisadores, podendo tirar suas dúvidas sobre o projeto e a participação, agora ou a qualquer momento . Declaro que entendi os objetivos, riscos e benefícios da participação de meu filho (a) na pesquisa e concordo em deixá-lo (a) participar. Luciana Dantas Andrade Aluna do Curso de Especialização em Educação Profissional e Tecnológica Inclusiva – CEFET-MT Contato: Rua Coronel Jacinto, 585 apto. 03 – Centro 37750-000 – Machado - MG Telefones: (35) 3295-9723 ou (35) 3341-1985 Bárbara Carvalho Ferreira Psicóloga, Mestre em Educação Especial e Doutoranda pelo Programa de Pós -graduação em Psicologia da UFSCar Contato: Avenida Professor Luiz Augusto de Oliveira, 289, Vila Celina 13566-340 – São Carlos - SP Telefone: (16) 3361-9890 Local e data:_____________________________________________________________ Assinatura: ______________________________________________________________ 109 APÊNDICE H. Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Entrevistados maiores de idade) 110 Ministério da Educação Secretaria da Educação Profissional e Tecnológica Escola Agrotécnica Federal de Machado -MG Rodovia Machado Paraguaçu Km 03 - Bairro Santo Antonio Coordenadoria Geral de Assistência ao Educand o-CGAE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido Eu ___________________________________________________________________, RG ___________________________, abaixo assinado, estou ciente de que faço parte de uma amostra de pesquisa sobre as concepções a respeito da inclusão educacional de portadores de necessidades educacionais. Contribuirei com dados por meio das respostas aos questionários. Declaro estar ciente: a) do objetivo do projeto; b) da segurança de que não seremos identificados e de que será mantido caráter confidencial das informações relacionadas com nossa privacidade; c) de aceitar que os dados obtidos sejam utilizados na divulgação deste trabalho em artigos, congressos, entre outros meios de comunicação e d) de ter a liberdade de recusar a participar da pesquisa. Machado, ______ de ____________________ de 2008. ______________________________________ Assinatura 111 ANEXO. Critério de Classificação Econômica Brasil 112 113 114 115