Elza Carneiro Pereira ATUAÇÃO DO ORIENTADOR EDUCACIONAL JUNTO AOS ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS Rio de Janeiro 2005 2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE ATUAÇÃO DO ORIENTADOR EDUCACIONAL JUNTO AOS ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS OBJETIVOS: Esse trabalho consiste em analisar a atuação desenvolvida pela Orientação Educacional na Educação Especial da rede pública, divulgar o trabalho desenvolvido e identificar as principais dificuldades encontradas no atual contexto. 3 AGRADECIMENTOS Agradeço do mais profundo do meu ser a Deus por todas as dádivas recebidas e a Jesus que é o nosso modelo moral por excelência. A professora Diva Nereida pela orientação nesse trabalho acadêmico. 4 DEDICATÓRIA Dedico esse trabalho a minha mãe Maria Dagmar Carneiro Pereira que foi a primeira grande professora na escola da vida. Também ressalto a participação da minha valiosa amiga Maria da Conceição Freire dos Santos pelo grande incentivo no magistério. 5 RESUMO Na era antiga o abandono era ético, as explicações sobre as causas das deficiências variavam, mas normalmente se justificava como "castigo" ou desejo de Deus por alguma razão. Era normal castigar ou torturar as pessoas que tivessem algum tipo de deficiência. Havia "asilos" que alojavam essas pessoas juntamente com velhos. O deficiente mental era chamado de "idiota". Os filósofos começam a estudar as deficiências e começam a separar os tipos que existem: cegos, surdos, deficiências mentais ou físicas. No entanto a procura das causas parece ser mais importante que o cuidado com as pessoas, os médicos procuram diagnosticar as deficiências, começa o conceito de hereditariedade, onde surgem tentativas de esterilização das pessoas com deficiência ou eliminação das mesmas (Petersen, Kube & Palmer, 1998). O progresso na pesquisa biomédica mostra que deficiência não é hereditária. Procuram-se melhores maneira de tratar o deficiente. Percebe-se que a incurabilidade é diferente da educabilidade e então se inicia um processo de educação para os deficientes. A educação especial começou como assistencial, apenas priorizando o bem estar das pessoas, com acompanhamento médico e psicológico. Depois aparece como instituição de educação escolar e em seguida a busca da integração no sistema geral de ensino. Hoje a proposta é a de inclusão total desses alunos nas salas de aula do ensino regular. O caminho da mudança de nomenclatura passou também por uma história. Os deficientes eram chamados de "idiotas" antigamente e não se pensava em pessoas que poderiam ser ensinadas, e sim excluída. Hoje é usada a terminologia "alunos com necessidades educacionais especiais" ou "portadores de necessidade educacionais especiais". 6 METODOLOGIA A metodologia utilizada destina-se a mostrar a grande carência na rede pública de escolas que atendem especificamente aos portadores de necessidades educacionais especiais e principalmente a dificuldade que a família encontra no ato da matrícula dessas crianças. Estar elaborando projetos direcionados a esta clientela, exige da Orientadora Educacional certa dose de “diplomacia”, para conquistar o apoio da liderança política, no município onde se encontra inserida. Nem sempre, os portadores de necessidades educacionais especiais ocupam o lugar de destaque nesta política educacional. Neste sentido é relevante conhecer um pouco da realidade que envolve o “universo” dos portadores de necessidades educacionais especiais e do trabalho que vem sendo realizado pela Orientadora Educacional. Assim, estaremos identificando os fatores que acabam por perpetuar a exclusão desses alunos, e a possibilidade de revermos conceitos e preconceitos que vivenciamos ao longo da vida em relação aos portadores de necessidades educacionais especiais. Democracia esta, que só poderá ser exercida por cidadãos, que não tenham furtado de si o direito ao acesso a Educação que viabiliza a mesma. Objetivos Gerais • Analisar a atuação que vem sendo desenvolvida pela Orientadora Educacional na efetivação do projeto na Educação Especial. • Identificar as principais dificuldades encontradas pela Orientação Educacional. 7 Objetivos Específicos • Analisar os dispositivos legais previstas na lei 9.394/96, relativos a Educação Especial; • Avaliar o papel da família junto ao trabalho desenvolvido pela Orientadora Educacional; • Divulgar o trabalho que vem sendo realizado pela Orientadora Educacional frente aos portadores de necessidades educacionais especiais; 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 09 CAPÍTULO I DEFININDO O TEMA E O PROBLEMA 11 11 CAPÍTULO II PRINCÍPIO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL 14 14 CAPÍTULO III EDUCAÇÃO ESPECIAL DIREITO ADQUIRIDO COM AMPARO LEGAL 3.1 – O amparo legal que nem sempre é real 3.2 – Revelando o que é Educação Especial 3.3 – A quem se destina 16 16 16 19 22 CAPITULO IV PAIS E ORIENTADORA EDUCACIONAL – UMA RELAÇÃO ESPECIAL 23 23 CAPÍTULO V INCLUSÃO 5.1– O que as pesquisas tem a dizer sobre a inclusão de alunos com Necessidades Especiais nas salas de aula regulares 5.2 – Os benefícios da inclusão para os alunos com Necessidades Especiais 5.3 – Os benefícios da inclusão para os alunos sem Necessidades Especiais 5.4– Inclusão escolar 26 26 CAPÍTULO VI PREVENÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL 6.1 – A prevenção das deficiências e a busca de melhoras para amenizar a deficiência adquirida 33 33 6.2 – Melhoras possíveis para amenizar a deficiência 35 CONCLUSÃO 36 BIBLIOGRAFIA 39 ÍNDICE 40 27 27 29 31 33 9 INTRODUÇÃO “Deus me dê à paciência de me conformar com as coisas que não posso alterar, me dê à coragem de alterar as coisas que posso, e me dê à sabedoria de distinguir entre umas e outras”. (Christoph F. Oetinger) A educação é o principal alicerce da vida social. Ela transforma e amplia a cultura, estende a cidadania, constrói saberes para o trabalho. Mais do que isso, ela é capaz de ampliar as margens da liberdade humana, à medida que a relação pedagógica adote, como compromisso e horizonte ético-político, a solidariedade e a emancipação. No desempenho dessa função social transformadora, que visa à construção de um mundo melhor para todos, a educação escolar tem uma tarefa clara em relação à diversidade humana: trabalhá-la como fator de crescimento de todos no processo educativo. Se o nosso sonho e o nosso empenho são por uma sociedade mais justa e livre, precisamos trabalhar desde a escola, o convívio e a valorização das diferenças, base para uma verdadeira cultura de paz. A história do atendimento ao deficiente através dos tempos deixou marcas que perpetuam até os dias de hoje. O preconceito, os estigmas a não aceitação da pessoa com deficiência no mundo contemporâneo, têm raízes sócio-históricas e culturais. Em todo o mundo, durante muito tempo, o diferente foi colocado à margem da educação, o aluno deficiente era particularmente atendido apenas em separado ou então simplesmente excluído do processo educativo, com base em padrões de normalidade; a educação especial, quando existente, 10 também se mantinha apartada em relação à organização e provisão de serviços educacionais.A adoção do conceito de necessidades educacionais especiais e do horizonte da educação inclusiva implica mudanças significativas. Em vez de se pensar no aluno como a origem de um problema, exigindo-se dele um ajustamento a padrões de normalidade para aprender com os demais, coloca-se para os sistemas de ensino e para as escolas o desafio de construir coletivamente as condições para atender bem à diversidade de seus alunos. Concretamente, esse construir junto requer disposição para dialogar, aprender, compartilhar e trabalhar de maneira integrada no processo de mudança da gestão e da prática pedagógica. Isso quer dizer que o caminho da mudança também deve ser inclusivo, não se restringindo às instâncias educacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, tampouco aos setores responsáveis pela Educação Especial nas diferentes esferas. “Faz parte igualmente do pensar certo a rejeição mais decidida a qualquer forma de discriminação. A pratica preconceituosa de raça, de classe, de gênero ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente a democracia”. (Paulo Freire, 1996, p.39). Estamos certos de que participar do processo educativo juntamente com os demais alunos, contando com os serviços e recursos especiais necessários, é um direto dos alunos que apresentam necessidades educacionais especiais. Empreender as transformações necessárias para que essa educação inclusiva se torne realidade nas escolas brasileiras é uma tarefa de todos. 11 CAPÍTULO I DEFININDO O TEMA E O PROBLEMA A proposta apresentada por este estudo consiste em identificar a função assumida pela Orientação Educacional no cotidiano da Educação Especial. A educação especial parece ser um novo campo de atividade profissional para o estudante que a descobre. Tanto tem acontecido recentemente que mesmo aqueles que têm estado ocupados no trabalho com crianças e com a juventude excepcional durante algum tempo, deixam freqüentemente de perceber a longa história que teve esta fase da Educação. Faz-se necessário considerar que ao pensarmos na finalidade da Educação Especial, torna-se necessário resgatar alguns aspectos sóciohistórico que ajudam a compreender como foi sendo concebida a Educação Especial através dos tempos. Uma vez que permitirão perceber a relação entre o conceito de criança e sua relação com a função assumida pelas instituições de Educação Especial. Compreender as questões relativas ao desenvolvimento e a aprendizagem dos portadores de necessidades especiais contribui para refletir sobre a construção da prática a ser desenvolvida pela Orientação Educacional nesta modalidade de ensino. Assim é que a partir de 1940 começam a surgir novas idéias e contribuições com relação aos profissionais de educação especial, sendo um marco histórico para a educação especial no Brasil. De acordo com a determinação da LDB - Lei de Diretrizes e Bases nº 9.394, de 20 de novembro de 1996, capítulo V, Artigos 58 e 59, os sistemas de ensino asseguram aos educandos com necessidades especiais currículos, 12 métodos, técnicas, recursos educativos e organização específica para atender às suas necessidades, bem como a terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do Ensino Fundamental em virtude de suas deficiências. Durante muito tempo a Escola Especial foi considerada a única opção educacional para os portadores de necessidades especiais, por não se acreditar nas possibilidades de partilharem com os demais alunos o mesmo processo educacional. Atualmente, com a descoberta de que a aprendizagem proporciona o desenvolvimento humano, influenciando inclusive, na arquitetura cerebral, as propostas educacionais precisa superar os modelos mecânicos nos quais estavam pautadas para dar lugar às relações sociais. A nova educação pressupõe que, sendo a escola o local privilegiado da aprendizagem, e nela, respeitando-se a diversidade de culturas e de características individuais que cada indivíduo constitui cooperativamente, novos saberes e formas de se relacionar com as múltiplas realidades. Neste estudo ao analisar a atuação da Orientação Educacional, assinalamos aspectos relativos às dificuldades burocráticas, institucionais, políticas e emocionais, que este profissional depara-se durante sua jornada para a efetivação de seus projetos educacionais na modalidade da Educação Especial. A Educação Especial deve ser capaz de suscitar reflexões, questionamentos e propostas comprometidas com uma política de cidadania democrática e não com um discurso maquiado de inserção universal e suas inócuas práticas decorrentes. Não se trata de sair à busca de novos temas para o debate, mas de inverter a ótica da análise, de buscar caminhos que constituam propostas e trabalhos que colaborem para a qualidade de vida das 13 pessoas. Esta nos parece ser a tarefa instigante: prepará-los para o mundo, no sentido de estarem, de fato, nele. Pessoas portadoras de deficiência Considerando que a terminologia reflete a postura social, a ONU (Organização das Nações Unidas) adotou a nomenclatura "Pessoas Portadoras de Deficiência" (Slee, 1999). Este termo reflete que a deficiência está na pessoa, mas não é a pessoa. Pensando-se assim fica mais fácil atuar na procura de melhora específica do que a pessoa necessita para torná-la capaz de superar os obstáculos que precisa enfrentar. O estudo feito por Halgren & Clarizio (1993) sobre mudanças nos programas e categorias nos serviços de educação especial mostrou que mudança na categoria da deficiência de um indivíduo o levava a tratamentos diferentes, auxiliando a sua melhora, integração e engajamento no trabalho. Todos as críticas sobre a política da Educação Especial e as tentativas de atuação que ocorrem desde 1968 e que se acentuaram nos dias de hoje vem fortalecer e criar maiores discussões e procuras de soluções para um ensino eficaz e adequado para os estudantes com necessidades especiais. Algumas medidas e planejamentos parecem ainda ser utópico perante a realidade existente, no entanto é preciso conseguir a realização de pequenas melhoras, que podem significar muito. 14 CAPÍTULO II PRÍNCIPIO DA EDUCAÇAO ESPECIAL O antigo CENESP (Centro Nacional de Educação Especial), através da Portaria 69, de 26 de agosto de 1986, normatizou os seguintes Princípios da Educação Especial: Participação - "entendida como envolvimento de todos os setores da sociedade no desenvolvimento das atividades educativas para uma ação conjunta na área de Educação Especial”. Integração - "caracterizada como um processo dinâmico e orgânico, envolvendo esforços dos diferentes segmentos sociais, para o estabelecimento de condições que possibilitem às pessoas portadoras de deficiência, com problemas de conduta e superdotadas, tornarem-se parte integrante da sociedade como um todo". Normalização - "definida no sentido de proporcionar às pessoas portadoras de deficiências, com problemas de conduta e superdotadas, condições de vidas similares às das outras pessoas, dando-lhes possibilidades de uma vida tão normal quanto possível". Interiorização - "concebida como expansão do atendimento aos municípios do interior, às periferias urbanas e às zonas rurais, estimulando a implantação de novos serviços e valorizando as iniciativas comunitárias relevantes". Simplificação - "definida como a opção por alternativas simples para os processos de ensino-aprendizagem em Educação Especial, sem prejuízos dos padrões de qualidade". 15 Embora elaborados há mais de dez anos, estes princípios continuam norteando as iniciativas atuais em Educação Especial. Na realidade, quando falamos em inclusão, estamos considerando também a existência destes princípios. É interessante notar que os mesmos continuam atuais e necessários à promoção de uma sociedade plural e repleta de diferenças individuais, mas com igualdade de oportunidades. Modalidades em atendimento em Educação Especial Inúmeras são as modalidades de atendimento em Educação Especial, dependendo da realidade do indivíduo portador de necessidade especial, seu potencial e suas limitações, assim como dos recursos do educador e da instituição escolar, se for o caso, já que muitas vezes a educação se dá em casa ou em outras instituições. Eis algumas modalidades: ü Escola Regular, ü Classe Regular, ü Escola Especial, ü Classe Especial, ü Ensino Domiciliar ü Escola Hospitalar, ü Classe Hospitalar, ü Escola Profissionalizante, ü Empresa-Escola. Cada realidade requer um tipo de modalidade de atendimento diferente, ou seja, a Educação Especial atua em função da demanda, do potencial, dos interesses e objetivos do indivíduo a ser atendido. 16 CAPÍTULO III EDUCAÇÃO ESPECIAL DIREITO ADQUIRIDO COM AMPARO LEGAL Este capítulo destina-se relatar os dispositivos legais à cerca da Educação Especial, bem como, o que vem sendo verdadeiramente realizado em relação ao mesmo e uma leve conceituação sobre educação Especial. 3.1- O amparo legal que nem sempre é real “... inserção de todos sem distinção de condições lingüísticas, sensoriais, cognitivas, físicas, emocionais, étnicas, sócio-econômicas ou outros e requer sistemas educacionais planejados e organizados que dêem conta da diversidade dos alunos e ofereçam respostas adequadas às suas características e necessidades”. (PCN, 1998). Sabemos que o direito a educação para todos os brasileiros, data-se desde o Império alicerçado por constituições, e foi garantido posteriormente pela Declaração dos Direitos da Criança e do Adolescente pelo Plano Decenal de Educação para todos. Porém esse direito à educação não abraçava os portadores de necessidades educacionais especiais, somente na conferência Internacional em Salamanca na Espanha (1994), que se passou a fazer referências aos PNEE (Portadores de Necessidades Educacionais Especiais). A partir daí, a Educação Especial foi conquistando seu lugar no cenário da Educação Brasileira, já que com a atual LDB 9.394-96, é dedicado todo o Capítulo V a Educação Especial, no qual, buscamos comentar o que é proclamado e o que é realizado. 17 “Art.58 - Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais”. §1- Haverá, quando necessário, serviços de apoio especificado, na escola regular, para atender às peculiaridades da Clientela de Educação Especial. §2-O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições especificas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns de ensino regular. §3- A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil. Enquanto a lei oferece a permanência para os educandos portadores de necessidades especiais na rede regular de ensino, garantindo serviços de apoio especificado e até mesmo atendimento educacional em classes, escolas ou serviços especializado, quando não forem possíveis a integração nas classes comuns de ensino regular e que esta oferta de educação especial é dever constitucional do Estado para a faixa etária de zero a seis anos. O que constatamos é que essa oferta de permanência pouco se dá na rede regular de ensino, quando muito se destina uma pequena sala, sem recursos e profissionais capacitados, segregando estes educandos que já ultrapassaram a faixa etária da educação infantil, encontrando-se muitos já na adolescência distorcendo a regra e criando variadas e repetidas exceções. “Art 59- Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais”: I- Currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organizações específicas, para atender às suas necessidades; II- Terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas 18 deficiências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para superdotados; III- Professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular, capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns. IV- Educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artísticas, intelectuais ou psicomotora; V- Acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível de o ensino regula. Quanto aos sistemas de ensino, pelo menos na rede municipal, não buscam adequar-se ou organizar-se especificamente para atender aos educandos com necessidades especiais, uma vez que muitos ficam pelo caminho, optando pelo abandono dos estudos. Em sua minoria, encontramos professores especializados adequadamente, capazes de promover a integração desses educandos em classes comuns. O que dificulta e muito sua integração na vida em sociedade, que possibilita a inserção no trabalho. Quanto aos programas sociais suplementares disponíveis, não são nem divulgados e quando são é preciso estar pronto para “driblar” a burocracia para conseguir o acesso. “Art. 60 - Os órgãos normativos dos sistemas de ensino estabelecerão critérios de caracterização das instituições privadas sem os fins lucrativos, 19 especializados e com atuação exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e financeiro pelo poder público”. Parágrafo único -O poder político adotar, como alternativa preferencial, a ampliação do atendimento aos educandos com necessidades especiais na própria rede pública regular de ensino, independente do apoio às instituições previstas neste artigo. Destaca-se quando fazemos a comparação entre o proclamado e o real, que ambos ainda se encontram muito distantes um do outro. É notório que as dificuldades encontradas para a verdadeira efetivação da Lei, depende muito do comprometimento em concretizá-la apesar dos obstáculos. 3.2- Revelando o que é Educação Especial Definição Há várias maneiras de definir a Educação Especial, dependendo do contexto histórico, cultural e social de cada comunidade. A seguir, apresentamos alguns conceitos básicos: “Conjunto de medidas e recursos (humanos e materiais) que a administração educativa coloca à disposição dos alunos com necessidades educativas especiais: pessoas com algum tipo de déficit, carência, disfunção ou incapacidade física, psíquicas ou sensoriais, que lhes impeça um adequado desenvolvimento e adaptação”. (Ezequiel Ander-Egg, 1997). É importante notar que a Educação Especial é bastante abrangente e ampla, engloba uma imensa diversidade de necessidades educativas especiais, assim como uma equipe multidisciplinar composta pelos mais diversos profissionais e especialistas. Seu objetivo principal é promover uma 20 melhor qualidade de vida àqueles que, por algum motivo, necessitam de um atendimento adequado à sua realidade física, mental, sensorial e social. Este termo é muito genérico, abrange as mais diferentes síndromes tais como: autismo, deficiência mental, apoplético, síndrome de down. Doman definiria como Lesão Cerebral, para muitos de nós são apenas rótulos, o que conta mesmo é o indivíduo com suas particularidades, o amor que sentimos por ele e o que podemos fazer para recuperar e/ou melhorar as condições de vida desta que para nós é uma criança especial. A lei nº 9.394/96 estabelece as diretrizes e bases da educação nacional: Art. 4º, III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino. Para tanto é preciso basear-se na Declaração Mundial de Educação para Todos e Declaração da Salamanca (Espanha – 1994), que com muita propriedade defende a educação inclusiva como forma de integrar a todos na sociedade. Art. 12- Os sistemas de ensino, nos termos da Lei 10.098/2000 e da Lei 10.172/2001, devem assegurar a acessibilidade aos alunos que apresentem necessidades educacionais especiais, mediante a eliminação de barreiras escolares, bem como a de barreiras físicas nas comunicações, provendo as escolas dos recursos humanos e materiais necessários. CNE- Brasília, 14 de setembro de 2001, p.39-40. O Brasil fez opção pela construção de um sistema educacional inclusivo ao concordar com a Declaração Mundial pata Todos, firmada em Jomtien, na Tailândia, em 1990, e ao mostrar consonância com os postulados produzidos em Salamanca (Espanha, 1994) na conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais: Acesso e Qualidade. 21 Desse documento, ressaltamos alguns trechos que criam as justificativas para as linhas de propostas que são apresentadas: “Todas as crianças, de ambos os sexos, têm direito fundamental à educação e que a ela deva ser dada à oportunidade de obter e manter nível aceitável de conhecimento”; “Cada criança tem características, interesses, capacidades e necessidades de aprendizagem que lhe são próprios”; “As pessoas com necessidades educacionais especiais devem ter acesso às escolas comuns que deverão integrá-las numa pedagogia centralizada na criança, capaz de atender a essas necessidades”; “As políticas educacionais deverão levar em conta as diferenças individuais e as diversas situações. Deve ser levada em consideração, por exemplo, a importância da língua de sinais” como meio de comunicação para os surdos, e ser assegurado a todos os surdos aceso ao ensino da língua de sinais de seu país. Face às necessidades específicas de comunicação de surdos e de surdos-cegos, seria mais conveniente que a educação lhes fosse ministrada em escolas especiais ou em classes ou unidades especiais nas escolas comuns”; “Que todas as crianças, sempre que possível, possam aprender juntas, independentemente de suas dificuldades e diferenças”; “Uma pedagogia centralizada na criança, respeitando tanto a dignidade como as diferenças de todos os alunos”; “A inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais, em classes comuns, exige que a escola regular se organize de forma a oferecer possibilidades objetivas de aprendizagem, a todos os alunos, especialmente àqueles portadores de deficiências”. 22 Educar é proporcionar a construção de conhecimentos, e o mesmo acontece na educação especial, o que muda na verdade, é a maneira como essa construção acontece. Somos diferentes, independentes de necessidades especiais ou não, o que é preciso e tratar o educando especial dentro da realidade de suas capacidades e limitações. Sabemos que na educação especial é preciso que um conjunto de conhecimentos tecnológicos, recursos humanos e naturais, bem como materiais didáticos, devem atuar na relação pedagógica para assegurar um bom atendimento educacional, de modo que a atenção especial se faça presente para todos os educandos que dela necessitarem para o seu desempenho escolar em qualquer nível, assim promoverá uma formação voltada para a prática da cidadania, na qual o educador seja ele professor ou orientador, baseia-se na busca de uma cidadania alcançada através da democracia, como nos alerta Paulo Freire (1996 p.115): “Sou professor a favor da decência contra o despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da autoridade contra licenciosidade, da democracia contra a ditadura de direita ou de esquerda”. 3.3- A quem se destina A Educação Especial destina-se aos portadores de necessidades educativas especiais, ou seja, todas as pessoas que precisam de métodos, recursos e procedimentos especiais durante o seu processo de ensinoaprendizagem. Indivíduos portadores de: deficiência sensorial (auditiva ou visual), deficiência motora, deficiência cognitiva alta habilidades, transtornos psicomotores, doenças crônicas, transtornos de personalidade, autismo, psicoses, Síndrome de Down, deficiência múltipla, inadaptação social, dependência química, dentre outros. 23 CAPÍTULO IV PAIS E ORIENTADOR EDUCACIONAL – UMA RELAÇÃO ESPECIAL O presente capítulo vem ressaltar a importância da família junto aos Portadores de Necessidades Especiais e como a Orientação Educacional atua junto às famílias, mantendo uma relação de amizade e afetividade. Acreditamos que educação é um direito irrevogável de todos os cidadãos, e que se exige do educador a aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação, como nos ensina Paulo Freire (1996 p. 39): Unindo forças para uma Educação Especial Segundo Nina Regen e Maria Lúcia Sica Cortez, assistentes sociais da Sorri-Brasil, em seu trabalho desenvolvido sobre Família e Deficiente, em maio de 2002, mostra que a relação, entre pais e Orientação Educacional é um aspecto importante a ser observado e o cuidado para que o atendimento à família não se revista de cunho assistencialista e paternalista, tornando-a dependente do profissional e tratando seus membros como receptores de “benesses”, ao invés de tratá-los como cidadãos, com direitos e deveres. Um grave problema que vemos ocorrer é que as Instituições, ao matricular a criança, não deixam claro aos pais sua função de coresponsabilidade no processo educacional de seu filho, observando-se posteriormente a queixa dos profissionais quanto à falta de interesse e envolvimento da família. Por outro lado, também observamos que quando os pais apresentam críticas ou sugestão, nem sempre essa atitude é sentida pelos profissionais como algo positivo, que possa fazê-los parar e refletir sobre a sua atuação, no sentido de crescer como Orientadora e como ser humano. 24 No que diz respeito, às diferenças na motivação, os pais são obrigados a se confrontarem com a deficiência, enquanto a Orientadora quer escolher se confrontar com ela. Sendo assim, os pais sentem-se socialmente desvalorizados e são marginalizados pela sociedade, enquanto que a Orientadora recebe uma valorização social acima do normal. Quanto às diferenças de experiência, a família sofre um desgaste com a convivência diária com esse filho diferente e luta contra o medo do fracasso e do isolamento e, muitas vezes, as cobranças da orientadora os sobrecarregam ainda mais, motivo pelo qual apresentam, às vezes, alguma atitude hostil. Já por parte da orientadora, há uma expectativa de que os pais se envolvam e ficam decepcionados quando isto não ocorre, surgindo atitudes de hostilidade quando os pais não atendem às suas recomendações. Finalmente os pais devem fornecer informações sobre sua intimidade familiar ao Orientador Educacional, tornando-se os interrogados. A Orientadora Educacional para analisar a situação da família e estabelecer um plano de trabalho assumem o papel do interrogador. Sendo assim, os pais apresentam sentimentos de culpa quando não conseguem dar conta de todas as recomendações. A Orientadora Educacional quando descobre falhas na avaliação da evolução da criança, sempre a reputa aos pais, e não ao seu planejamento, com isso aumentando ainda mais os seus sentimentos de culpa. As principais expectativas recíprocas: Os pais esperam: A Orientadora Educacional exige: Compreensão, aceitação. Aceitação de sua autonomia. Consolação. Compreensão. Descarregar sentimentos de culpa. Informação correta. Esperança. Cooperação. Pessoas continentes. Persistência na terapia. Pessoas que escutem. Cooperação em relação aos objetivos. 25 É de extrema importância que a Orientadora Educacional ao trabalhar com famílias, adote uma postura sócio-educativa, de trocas, numa relação horizontal, tendo sempre em mente que: • A realidade social e a dinâmica familiar requerem que o profissional respeito à individualidade de cada família, procurando não fazer julgamentos de valor; • A dimensão técnica não autoriza a tomada de decisões ou escolha de condutas: isto cabe à família; • Os conhecimentos científicos ou os valores moralistas não podem servir de pretexto para julgamento das famílias, mas de base para ações sócioeducativas; • A cultura da tutela e as atitudes paternalistas fortalecem a exclusão das famílias; • A democratização das informações, o saber ouvir, a divulgação dos critérios de atendimento, o esclarecimento quanto ao papel dos pais neste processo são atitudes necessárias e éticas. É preciso que a Orientadora Educacional utilize uma linguagem clara, criando atmosfera aberta e informal que permita aos pais sentirem-se à vontade para se colocar, fazer perguntas e esclarecer dúvidas. Nesse diálogo de discussão de alternativas com a família, estará contribuindo para desenvolver mecanismos de reflexão e assumindo um papel mais de ajudá-la a refletir do que pensar por ela, mais de questionar do que discursar, mais de assessorar do que de decidir, contribuindo assim para o seu desenvolvimento como um ser no mundo. Como mediador, é importante que a Orientadora Educacional se questiona sempre: É esse o mundo que quero para os portadores de necessidades e suas famílias? É possível criar, reinventar, enriquecer o meio ambiente, os modos de vida, a sensibilidade, possibilitando assim alguma transformação em suas vidas? 26 CAPÍTULO V INCLUSÃO Refletir sobre as questões de uma escola de qualidade para todos, incluindo alunos e professores, através da perspectiva sociocultural, significa que nós temos de considerar, dentre outros fatores, a visão ideológica de realidade construída sócio e culturalmente por aqueles que são responsáveis pela educação. Julgamentos de "deficiência", "retardamento", "privação cultural" e "desajustamento social ou familiar" são todos construções culturais elaborados por uma sociedade de educadores que privilegia uma só forma para todos os tipos de bolos. E geralmente a forma de bolo é determinada pelo grupo social com mais poder na dinâmica da sociedade. Não é raro se ver dentro do ambiente escolar a visão estereotipada de que crianças vivendo em situação de pobreza e sem acesso a livros e outros bens culturais e são mais propensas a fracassar na escola ou a requerer serviços de educação especial. Isto porque essas crianças não cabem na forma construída pelo ideal de escola da classe média, ou ainda, porque essas crianças não aprendem do mesmo jeito ou na mesma velocidade esperada por educadores e administradores. Estereótipos perfazem a prática pedagógica e são resultados da falta de informação e conhecimento que educadores e administradores tem a respeito da realidade social e cultural, como também do processo de desenvolvimento cognitivo e afetivo das crianças atendidas pelas escolas. A prática de classificar e categorizar crianças baseadas no que estas crianças não sabem ou não podem fazer somente reforça fracasso e perpetua a visão de que o problema está no indivíduo e não em fatores de metodologias educacionais, currículos, e organização escolar. Aceitar e valorizar a diversidade de classes sociais, de culturas, de estilos individuais de aprender, de habilidades, de línguas, de religiões e etc, é o primeiro passo para a criação de uma escola de qualidade para todos. 27 Educar indivíduos em segregadas salas de educação especial significa negar-lhes o acesso a formas ricas e estimulantes de socialização e aprendizagem que somente acontecem na sala de aula regular devido à diversidade presente neste ambiente. A pedagogia de inclusão baseia-se em dois importantes argumentos. Primeiramente, inclusão mostrou-se ser beneficial para a educação de todos os alunos independente de suas habilidades ou dificuldades. O segundo argumento baseia-se em conceitos éticos de direito do cidadão. Escolas são construídas para promover educação para todos, portanto todos os indivíduos têm o direito de participação como membro ativo da sociedade na qual estas escolas estão inseridas. Toda criança tem direito, a uma educação de qualidade onde suas necessidades individuais possam ser atendidas e aonde elas possam desenvolver-se em um ambiente enriquecedor e estimulante do seu desenvolvimento cognitivo, emocional e social. 5.1 - O Que as Pesquisas Tem a Dizer sobre a Inclusão de Alunos com "Necessidades Especiais" nas Salas de Aula Regulares Pesquisas realizadas nos Estados Unidos revelaram que crianças em demanda por serviços especiais de atendimento apresentaram um progresso acadêmico e social maior que outras crianças com as mesmas necessidades de serviços especiais, mas educadas em salas de aula segregadas (Snell, 1996; Downing, 1996; Hunt, 1994). Isso pode justificar-se pela diversidade de pessoas e metodologias educacionais existentes em sala de aula regulares, pela interação social com crianças sem diagnóstico de necessidade especial, pela possibilidade de construir ativamente conhecimentos, e pela aceitação social e o conseqüente aumento da auto-estima das crianças identificadas com "necessidades especiais". 5.2 - Os benefícios da inclusão para os alunos com Necessidades especiais 28 Na Perspectiva do Professor: Diversos pesquisadores acadêmicos nos Estados Unidos documentaram os aspectos positivos da prática de inclusão dos indivíduos com "necessidades especiais" através de dados coletados com os professores destes alunos. Giangreco e seus colegas (1993) entrevistaram 19 professores de salas de aula regulares que tinham no mínimo um aluno com "necessidades especiais” em suas classes. Estes professores afirmaram que os alunos diagnosticados com "necessidades especiais" aumentaram suas capacidades de atenção, de comunicação e de participação em atividades educativas em um espaço de tempo consideravelmente menor do que se estes fossem educados em salas de aula segregadas-especiais. Janzen e seus colegas (1995) entrevistaram cinco professores de educação especial e cinco professores de educação regular sobre os benefícios de inclusão para os alunos com e sem "necessidades especiais", e o resultados destas entrevistas apontaram para o fato de que os alunos, antes educados em segregadasespeciais salas de aulas, desenvolveram mais amizades na sala de aula regular e construíram um círculo de amigos que os ajudavam e ajudavam aos professores também na inclusão de todos os alunos nas atividades da sala de aula. Downing, Eichinger e Williams (1996) entrevistaram nove professores de educação regular e nove professores de educação especial sobre a percepção deles dos benefícios de inclusão para todos os alunos. Os professores neste estudo afirmaram que os ambientes ricos em situações de aprendizagem característicos das salas de aula regulares possibilitaram os alunos com profundo retardamento mental a construírem comportamentos socialmente apropriados, a fazerem amizades com as crianças normalmente educadas em classes regulares e a desenvolverem habilidades de participação ativa em atividades escolares. Na Perspectiva do Aluno: York (1992) entrevistaram alunos de quarta e quinta séries que tinham colegas com "necessidades especiais" nas suas salas de aula. Esses alunos afirmaram que em um ano os alunos com "necessidades especiais" tinham se tornado mais sociais, mais comunicativos e tinham reduzido significantemente os comportamentos considerados inapropriados 29 para a cooperativa participação na sala de aula regular, como, por exemplo, balançar o corpo ou as mãos ou fazer sons e ruídos. Na Perspectiva dos Pais: Davern (1994) entrevistou vinte e um pais de alunos com profunda e leve deficiência que estavam sendo educados em classes regulares. Estes pais reportaram que os benefícios da inclusão dos seus filhos eram visíveis na comunicação e sociabilidade que eles passaram a demonstrar. Os pais neste estudo também disseram que se sentiram muito mais encorajados pela escola a participar da educação de seus filhos quando estes foram incluídos em salas de aulas regulares. Em um outro estudo desenvolvido por Ryndack e seus colegas (1995) entrevistas com treze pais de alunos com profunda física-motora e mental deficiências educados em classes regulares, indicaram que estes alunos desenvolveram habilidades sociais, acadêmicas e comunicativas, como também um senso de auto-aceitação e autovalorização. 5.3- Os benefícios da inclusão para os alunos sem Necessidades especiais Na Perspectiva do Professor: York (1992) entrevistas com professores sobre os benefícios de inclusão para os alunos sem "necessidades especiais" concluíram que esses alunos tornaram-se mais sensíveis às questões de discriminações que acontecem no cotidiano e muito mais críticos sobre as formas de estereótipos produzidas socialmente. Os 19 professores entrevistados por Giangreco e seus colegas (1993) afirmaram que os estudantes sem "necessidades especiais" desenvolveram habilidades de aceitação e flexibilidade que são consideravelmente importantes para a vida em sociedade democrática. Downing (1996) entrevistando professores sobre esta questão confirmou os achados dos estudos anteriores e também acrescentou que os professores perceberam que os alunos sem "necessidades especiais” educados em conjunto com alunos com "necessidades especiais" desenvolveram uma habilidade maior para liderança e cooperação. 30 Na Perspectiva do Aluno: Helmstetter, Peck e Giangreco (1994) fizeram uma Pesquisa envolvendo 166 alunos do segundo grau nas escolas Americanas dos Estados Unidos para saberem o que eles tinham a dizer sobre ter colegas com profunda física mototra ou mental deficiência em salas de aula. Os resultados destas pesquisas apontaram para a mudança de atitude destes jovens em relação às pessoas pela contribuição que elas tem a dar, passaram a ser mais tolerantes com existência de “diferenças”, e passaram a valorizar a diversidade da condição de ser humano. Staub (1994) estudou por três anos o desenvolvimento de uma amizade entre quatro alunos com Syndrome de Down e Autismo e quatro alunos sem deficiências. Este estudo demonstrou que só foi possível a criação destes laços afetivos de amizade entre indivíduos com o sem deficiências porque estes foram incluídos em um processo ativo e cooperativo de aprendizagem. Na Perspectiva dos Pais: Peck, Carlson e Helmstter (1992) pesquisaram a visão dos pais de 125 crianças na pré-escola consideradas sem deficiências que tinham colegas na sala de aula com profunda física-motora ou mental deficiências, os resultados destas pesquisas indicaram que os pais destas crianças aprovaram entusiasmadamente a proposta de inclusão, pois eles observaram as seguintes mudanças nos seus filhos: • Mais aceitação em relação a diferenças individuais; • As crianças se tornaram mais conscientes a respeito das necessidades dos outros; • As crianças se tornaram mais confortáveis na presença de pessoas que usam cadeiras de rodas, aparelhos de surdez, braile, ou outro qualquer necessário instrumento que facilite a participação destas crianças nas atividades de sala de aula; • Estas crianças se mostraram mais voluntárias em ajudar os outros; 31 • Estas crianças desenvolveram uma postura crítica contra preconceitos às pessoas com deficiência. Todos estes estudos nos mostram que inclusão é possível e que inclusão aumenta as possibilidades dos indivíduos identificados com necessidades especiais de estabelecer significativos laços de amizade, de desenvolverem-se físico e cognitivamente e de serem membros ativos na construção de conhecimentos. Portanto, a pergunta inicial deste texto - "Por que Inclusão?" - pode ser respondida simplesmente desta forma: "Porque inclusão funciona”.O principal ponto da pedagogia de inclusão é que todas os indivíduos podem aprender uma vez que nós professores identificamos o quê estes indivíduos sabem, planejamos em torno deste prévio conhecimento, e conhecemos o estilo de aprender e as necessidades individuais dos nossos alunos. Todos os alunos podem se beneficiar das metodologias de inclusão, e podem descobrir juntos que existem diferentes ingredientes para diferentes bolos. Escolas devem se tornar um lugar de aprendizagem para todos. Nós não podemos nos dar ao luxo de criar currículos e programas educacionais que somente favorecem uma parcela privilegiada da sociedade, seja em termos econômicos ou em termos de habilidades físicas e cognitivas. Nós precisamos ter currículos e programas que proporcionem uma educação de qualidade para todos. Aos educadores devem ser dados os instrumentos necessários para que eles possam ver a todos os alunos, incluindo os alunos com deficiência, com um potencial ilimitado de aprender. 5.4 - Inclusão Escolar Atualmente a inclusão é considerada para os alunos com necessidade educacionais especiais. Com certeza é certo procurar incluir todos os alunos no ensino regular, no entanto, é preciso viabilizar e suprir algumas necessidades e em alguns casos avaliar qual o melhor atendimento para esse aluno. 32 A inclusão significa educação gratuita e apropriada, em ambientes sem restrições, com crianças da mesma idade.As classes especiais ou algum outro tipo de escolarização separada devem ocorrer apenas em casos em que as limitações ou severidade impossibilitem ou que possa surtir melhores efeitos que a classe comum (Brasil, 1998). Os pais deveriam ter direito de escolher o mais adequado para seu filho, mas para isso é preciso esclarecimentos e opções para os mesmos. Infelizmente no Brasil de cada grupo de 100 alunos que ingressam na 1ª série do Ensino Fundamental 59 alunos, conseguem terminar a 8ª série e os outros 41 alunos, param de estudar no meio do caminho. Para aqueles que entraram no ensino médio, a expectativa de conclusão é maior: 74% conseguem terminá-lo (Kuno & Gouvêa, 2001).Muitos desses alunos que ingressam na escola e não terminam são crianças consideradas com necessidades educacionais especiais, mais especificamente os alunos com dificuldade de aprendizagem, muitos deles encaminhados a salas especiais e ficando nelas por vários anos sem nenhuma melhora, até sua desistência do aprender abandonando a escola. É preciso pensar na Educação Brasileira como algo sério, precisam ser tomadas decisões na procura de soluções para diminuir o número de alunos que não conseguem alfabetizar-se e deixarem de ser excluídos do ensino regular. Assim como os indivíduos com necessidades especiais, que precisam ser incluídos na educação regular e participarem dessa inclusão. Apesar de a integração de crianças portadoras de deficiência na rede regular de ensino ser um direito garantido pela Constituição Federal, para que ela realmente se efetive é necessário que a comunidade escolar se disponha a aceitá-la. Esse processo, portanto, não pode ser algo imposto de cima para baixo, mas deve começar pela atuação dos dirigentes e professores que, como líderes, devem tornar-se agentes modificadores da situação atual de segregação desses alunos. 33 CAPÍTULO VI PREVENÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL Quando repetimos o dito popular "é melhor prevenir do que remediar", não o fazemos à toa. A prevenção pode evitar o surgimento de determinadas deficiências, síndromes ou enfermidades, ou, ao menos, minimizar suas conseqüências. É tarefa vital da Educação Especial informar sobre a prevenção e encaminhar as pessoas necessitadas aos órgãos competentes, para que tenham os devidos atendimentos no âmbito social e da saúde. Quanto mais trabalharmos na prevenção, menos precisaremos atuar no aspecto curativo. Por exemplo, uma gestante que tenha acompanhamento prénatal, provavelmente, terá, assim como a criança que nascerá, melhores condições de vida antes, durante e até depois do parto. Embora o acompanhamento pré-natal não impeça totalmente o surgimento de determinados problemas, certamente, contribuirá bastante para a melhoria das condições pré e pós-natais tanto para a mãe como para a criança. 6.1 – A Prevenção das Deficiências e a Busca de Melhoras para Amenizar a Deficiência Adquirida Quando pensamos em pessoas com necessidades especiais fica claro que é preciso discutir terminologia, instrução, formação, atendimento e infraestrutura para que a deficiência não impeça o indivíduo de viver em todos os aspectos de uma maneira confortável e prática. No entanto, é preciso primeiro investir na promoção da saúde para prevenir que possíveis deficiências ocorram, pois muitas são geradas por problemas que podem ser evitados. Muitos fatores podem facilitar a prevenção da deficiência, entre eles estão: 34 • Saneamento básico e educação sanitária, isso pode evitar diversas doenças que causam danos irreversíveis ou mesmo a morte. • Proteção contra-acidentes, muitos destes podem e devem ser evitados com orientações e materiais adequados de proteção. Como exemplo, podemos citar o caso dos protetores auriculares, que devem ser utilizados nas industrias onde o nível de ruído está acima do nível permitido, afetando a audição dos operários. Os danos mais freqüentemente causados por acidentes no trabalho são deficiência física e surdez; • Evitar doenças contagiosas através de vacinação, orientação e divulgação; • Tratar da cura das doenças o mais cedo possível, buscando-se diagnósticos precoces, podendo assim evitar conseqüências irreversíveis; • Exames realizados no nascimento dos bebês podem servir para a descoberta de alguma anormalidade com necessidade de tratamento, a qual descoberta a tempo e tratada pode evitar uma futura deficiência. Como por exemplo, o teste do "pezinho", ou testes que podem diagnosticar uma futura surdez ou cegueira. Mas é preciso que todos tenham direitos a esses exames e que haja uma orientação e principalmente informação para que todos, além do acesso, estejam cientes que é preciso realizá-los. A orientação aos pais sobre o pré-natal e os cuidados básicos que devem ter com o bebê pode evitar que ele se torne um futuro portador de alguma deficiência. É necessário investir primeiro nos aspectos que podem evitar a deficiência. Alertar para os cuidados, precauções e principalmente informações à população. No entanto, esses fatores e a falta de informação para a população são falhos, mas estão melhorando. A vacinação e alguns testes têm evitado deficiências antes comuns. Uma vitória alcançada é a erradicação da poliomielite, graças a grandes campanhas de informação e o esforço das autoridades. 35 Nem toda deficiência pode ser prevenida e evitada. Mas podemos diminuir o número de casos com vacinas, cuidados e precauções. 6.2 - Melhoras Possíveis para Amenizar a Deficiência Quando a deficiência existe e não há mais nada a fazer para solucionar o problema do indivíduo, é preciso então buscar alternativas para amenizá-la. Muito se pode fazer para bebês e crianças que têm algum tipo de deficiência, para que possa ter alternativas de melhora no desenvolvimento físico e intelectual. Os esclarecimentos aos pais da deficiência que seu filho possuí, e o que eles podem fazer é muito importante. Em alguns casos, onde os pais sentemse incapazes ou perdidos é preciso oferecer apoio, isso pode ser fundamental para conseguir que eles aceitem e entenda a deficiência, para poder trabalhar melhor com seus filhos. No caso dos adultos que adquirem alguma deficiência, o treinamento e a reeducação são necessários para possibilitar a máxima utilização das capacidades restantes, ensinando-os a alcançar os melhores resultados. A intervenção precoce pode ajudar o desenvolvimento dos bebês. A fisioterapia, a linguagem e a estimulação podem ser trabalhadas com profissionais e também com os pais que devem ser orientados no que for preciso. 36 CONCLUSÃO Com essa pesquisa buscamos analisar a atuação da Orientadora Educacional, apresentando suas dificuldades e planejamentos para efetivação do mesmo, e que através de projetos prioriza a participação dos portadores de necessidades educativas especiais da rede pública junto à sociedade, proporcionando a eles o pleno exercício da cidadania. Acreditamos, que a necessidade de atenção, reformas, materiais didáticos e professores especializados que são dispensados para qualquer escola de ensino regular, não deve ser diferente, principalmente, para aquelas que formam cidadãos portadores de necessidades educacionais especiais visando sua plena independência em relação a sua vida na sociedade. Com isso, a partir de leituras e análises, ressaltamos que hoje, frente a um novo paradigma educativo, a escola deve ser definida como uma instituição social, que tem por obrigação atender todas as crianças sem exceção e ser aberta, pluralista, democrática e de qualidade. Portanto, deve manter suas portas abertas a todos, conter em seus projetos educativos a idéia da unidade na diversidade, promovendo desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo, moral e social do aluno com necessidades especiais ou não. E ao mesmo tempo facilitar-lhes a integração na sociedade. Mas, para que isto aconteça, é importante que eles sejam vistos como sujeitos eficientes, capazes, produtivos e principalmente aptos a aprender. Educação Especial é muito mais do que escola especial. Como tal, sua prática não precisa (nem deve) estar limitada a um sistema paralelo de educação, e sim fazer parte da educação como um todo, acontecendo nas escolas regulares e constituindo-se em mais um sinal de qualidade em 37 Educação, quando oferecida a qualquer aluno que dela necessite, por quaisquer que sejam os motivos (internos ou externos do indivíduo). Faz-se necessário então oferecer a Orientadora Educacional e aos demais profissionais de educação, subsídios que possam se tornar instrumentos teóricos e práticos, permitindo-lhes tanto uma reflexão sobre o redesenho da escola de acordo com esse novo paradigma, como um melhor desempenho de sua atividade. Este novo desenho da escola implicará na busca de alternativas para que garanta o acesso e permanência de todas as crianças. Cabe, portanto, aos que possuem consciência a este respeito, manter este estado constante de vigília, para que a luta por um mundo cada vez mais justo e democrático jamais esmoreça. Mais do que nunca a escola está a exigir profissionais competentes, para tanto, há que se rever os conteúdos que fundamentam a formação de professores e especialistas em educação. A Orientadora Educacional faltaram e ainda faltam muitos conteúdos, mas acreditamos, hoje mais do que nunca, que a formação de um profissional é uma construção permanente. O Orientador Educacional precisa estar preparado para desafios e saber associar à reflexão uma atitude de busca constante de solução para questões do dia-a-dia da escola e da vida na sociedade. A Educação especial vem assumindo, a cada ano, maior importância no sistema educacional brasileiro, considerando as crescentes exigências de uma sociedade em processo de renovação e em busca da democracia. Faz-se necessário, portanto, uma política educacional de qualidade, em que todos os alunos recebam a ajuda particular requerida por suas necessidades individuais de aprendizagem. 38 Ao longo desta pesquisa, verificou-se a necessidade de se reestruturar os sistemas de ensino que devem organizar-se para dar respostas às necessidades educacionais de todos os alunos. Sabemos que o caminho é longo, mas aos poucos estão surgindo novas mentalidades cujas conseqüências deverão ser alcançadas pelo esforço de todos, no reconhecimento dos direitos dos cidadãos. O principal direito referese à conquista da dignidade como seres humanos, como cidadãos. 39 BIBLIOGRAFIA BOFF, Leonardo. O despertar da Águia. RJ: Vozes, 1999. ______________. Saber Cuidar: Ética da humana compaixão pela terra. SP: Vozes, 1999. BRASIL. LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação nacional: texto na íntegra Lei nº 9394, de 20 dezembro de 1996, Editora Saraiva. ________. Parâmetros Curriculares Nacionais – Adaptações Curriculares. Estratégias para a Educação de Alunos com necessidades Educacionais especiais – Brasília 1999. BRASIL, Secretaria de Educação Especial - Educação Especial no Brasil: Série Inst.2/ MEC/SEESP, Brasília, 1994. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança. Um reencontro com a pedagogia do oprimido. RJ. Paz e Terra, 1992. _______________. Pedagogia da Autonomia. Saberes necessários à prática educativa. RJ. Paz e Terra, 1999. GRINSPUN, Mirian P. S. Zippin. A prática dos Orientadores Educacionais. São Paulo: Cortez, 2001. KANAPP, Robert H. Orientador Educacional na escola primária. São Paulo: Livro Técnico, 1967. •KUNO, P.R.; GOUVÊA, S.F. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. 2001. UNESCO. Declaração de Salamanca e Linha de Ação sobre Necessidades Educativas Especiais. Brasília: CORDE, 1994. 40 ÍNDICE INTRODUÇÃO 09 CAPÍTULO I DEFININDO O TEMA E O PROBLEMA 11 11 CAPÍTULO II PRINCÍPIO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL 14 14 CAPÍTULO III EDUCAÇÃO ESPECIAL DIREITO ADQUIRIDO COM AMPARO LEGAL 3.1 – O amparo legal que nem sempre é real 3.2 – Revelando o que é Educação Especial 3.3 – A quem se destina 16 16 16 19 22 CAPITULO IV PAIS E ORIENTADORA EDUCACIONAL – UMA RELAÇÃO ESPECIAL 23 23 CAPÍTULO V INCLUSÃO 26 26 5.1– O que as pesquisas tem a dizer sobre a Inclusão de alunos com Necessidades Especiais nas salas de aula regulares 5.2– Os benefícios da inclusão para os alunos com Necessidades Especiais 5.3 – Os benefícios da Inclusão para os alunos sem Necessidades Especiais 5.4 – Inclusão escolar 27 27 29 31 CAPÍTULO VI PREVENÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL 33 33 6.1 – A Prevenção das Deficiências e a Busca de Melhoras para amenizar a Deficiência Adquirida 6.2 – Melhoras Possíveis para Amenizar a Deficiência 33 35 CONCLUSÃO 36 BIBLIOGRAFIA 39 ÍNDICE 40 41 FOLHA DE AVALIAÇÃO UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE Pós-Graduação “Lato Sensu” Título do livro: Atuação do Orientador Educacional junto aos alunos com necessidades educacionais especiais Autor: Elza Carneiro Pereira Orientador: Diva Nereida Data da Entrega: 18/06/05 Auto Avaliação: _____________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________ Avaliado por: ________________________________________Grau ______________ ___________________________________,_________ de ________________de 2005.