GERIATRIA BASEADA EM EVIDÊNCIAS Leitura Crítica de Artigos Científicos Daniel Apolinário O SOFISMA DO “EQUILÍBRIO” NA GERIATRIA Princípios da Princípios da MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS BOA PRÁTICA GERIÁTRICA ● Formular questões clínicas. ● Buscar as melhores evidências disponíveis. ● Estabelecer análise crítica dos conhecimentos atuais. Princípios da Boa às ● Adaptar as evidências Prática Geriátrica particularidades do caso. ● Priorizar a atenção global. ● Valorizar as práticas de comunicação interpessoal. ● Identificar prioridades contemplando os aspectos biopsicossociais. ● Estabelecer condutas individualizadas, equilibrando risco e benefício. OS 4 PASSOS DA MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS 1 2 Formular uma questão clínica adequada Encontrar as melhores evidências disponíveis 4 Integrar as informações com... ● Experiência clínica do médico ● Particularidades do caso ● Valores do paciente ● Circunstâncias sócio-ambientais 3 Avaliar as evidências quanto a... ● Validade Interna ● Validade Externa ● Magnitude de Efeito ● Perfil de Segurança MAUS Exemplos de Medicina Baseada em Experiência “Na minha experiência, o pamidronato é uma boa escolha para o tratamento da dor óssea no idoso com neoplasia de próstata metastática.” “Gosto da venlafaxina para depressão ansiosa em idosos; tenho observado melhor efetividade quando comparada aos outros antidepressivos.” “Ao prescrever mirtazapina, exijo o Remeron, pois não tenho observado bons resultados com as outras marcas.” “Uso sempre a rivastigmina como primeira escolha em pacientes com Alzheimer, pois confere bloqueio duplo, atuando na Buch e Ach.” BONS Exemplos de Medicina Baseada em Experiência “Em idosos com risco intermediário, prefiro o teste de esforço à tomografia de coronárias, já que o TE fornece uma medida de capacidade física.” “Apesar da baixa acurácia para demência leve, o MEEM é utilizado em nosso serviço como forma de linguagem multidisciplinar comum.” “Tenho encontrado baixa aderência à prescrição de exercício resistido em academias, por isso tenho preferido programas baseados no domicílio.” “Nos pacientes com demência moderada, prefiro a memantina como primeira droga, pelo custo e perfil de segurança.” CONCEITOS BÁSICOS POPULAÇÃO X ► Todas as pessoas de um cenário definido. Idosos de São Paulo... institucionalizados... com demência... grave... que usam antipsicóticos... há mais de três meses. POPULAÇÃO AMOSTRA ► Subconjunto de uma população definida. AMOSTRA CONCEITOS BÁSICOS VIÉS ACASO X ► Processo com tendência a produzir resultados que se afastem sistematicamente dos valores verdadeiros. ► Variação aleatória. Pedômetro Relato Acaso Acaso Exemplo: Estudo com promoção de atividade física aeróbica em idosos. Viés 3 5 Km/dia CONCEITOS BÁSICOS VIÉS Deve ser CONTROLADO ►Viés de Seleção ►Viés de Aferição ►Viés de Confusão X ACASO Deve ser QUANTIFICADO CONCEITOS BÁSICOS VALIDADE CONFIABILIDADE X ► Grau com que os dados correspondem ao estado verdadeiro do fenômeno. ► Grau com que repetidas aferições têm resultados semelhantes. Validade CONFIABILIDADE Alta Baixa Alta VALIDADE Baixa MEDIDAS DE EFEITO CENTRAL Média VANTAGENS DESVANTAGENS Adequada para manipulações matemáticas. Afetada por valores extremos. Validade Mediana Não é facilmente afetada por valores extremos Pouco adequada para manipulações matemáticas. Moda Simplicidade de significado. Algumas vezes não há, ou há muitos valores mais frequentes. MEDIDAS DE DISPERSÃO VANTAGENS Intervalo de Variação Inclui todos os valores. DESVANTAGENS Altamente afetado por valores extremos. Validade Desvio-Padrão Adequado para manipulações matemáticas. Supõe distribuição Gausiana. Percentil Descreve a raridade de Não é adequado para um valor sem fazer manipulações suposições sobre a estatísticas. distribuição. 14 12 10 Frequ 8 6 Mini-Exame do Estado Mental (MEEM) Pós-GAMIA (n=49) Intervalo de Variação Média Mediana Desvio Padrão Kolmogorov-Smirnov test 23 a 30 26,83 27 1,81 p=0,133 Validade 4 2 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 MEEM QUESTÃO PRÁTICA ►Ensaio clínico para testar a atorvastatina na prevenção primária de AVC. ► População: idosos ≥ 65 anos ► Idade Média da Amostra (DP): 75,4 anos (± 5,6) “Os achados são válidos para os muito idosos (≥ 85)?” Validade QUESTÃO PRÁTICA ►Ensaio clínico para testar a atorvastatina na prevenção primária de AVC. ► População: idosos ≥ 65 anos ► Idade Média da Amostra (DP): 75,4 anos (± 5,6) “Os achados são válidos para os muito idosos (≥ 85)?” Validade z = (Y – média) DP z = (85 – 75,4) 5,6 Tabela de distribuição Gausiana z = 1,71 Indivíduos com idade ≥ 85 anos = 4,36% DEFINIÇÕES DE ANORMALIDADE VANTAGENS DESVANTAGENS Incomum Definição precisa (ex. 2DP) Estabelece freqüência fixa. Associado a Desfechos Negativos Validade Identifica riscos Não implica possibilidade de redução de risco. Tratável Implica necessidade de intervenção. O que se considera tratável muda com o tempo e com o contexto. DEFINIÇÕES DE ANORMALIDADE SENESCÊNCIA (envelhecimento normal) SENILIDADE (envelhecimento patológico) Comprometimento Cognitivo Validade Sarcopenia Osteoporose Hiperplasia Benigna da Próstata Disfunção Erétil Déficits Sensoriais Noctúria Insônia DESFECHOS CLÍNICOS “Eventos de interesse para os pacientes ou para aqueles que se relacionam com eles.” Os Seis Ds ► Desenlace (morte) ► Doença ► Desconforto ► Deficiência funcional ► Descontentamento ► Despesa Validade CUIDADO COM OS DESFECHOS INTERMEDIÁRIOS ! Antiarrítmicos INTERVENÇÃO Ezetimibe Raloxifeno Rivastigmina Rosiglitazona Desfecho Biológico Desfecho Clínico Supressão das Extra-Sístoles ↓ Morte Súbita ? DESFECHO BIOLÓGICO → → → → Perfil Lipídico Densidade Óssea Teste Cognitivo HbA1C → → → → DESFECHO CLÍNICO ? ? ? ? Eventos Fratura de Fêmur Funcionalidade Doença Microvascular TIPOS DE ESTUDO COORTE (Prospectivo e Retrospectivo) Fator de Risco Presente Fator de Risco Ausente Doença Doença Sem Doença Sem Doença ► MEDIDAS: Risco absoluto, risco relativo. VANTAGENS ● Única forma de estabelecer incidência diretamente. ● A exposição é obtida sem viés. LIMITAÇÕES ● Não pode ser usado para doenças raras. ● Necessita inclusão de muitas pessoas e é demorado. TIPOS DE ESTUDO TRANSVERSAIS ► Medidas de fatores de risco e eventos são feitas ao mesmo tempo, sem período de seguimento. ► Descrevem uma associação, sem necessariamente uma relação de causa e efeito. VANTAGENS ● São baratos e rápidos. LIMITAÇÕES ● Só fornecem dados sobre prevalência – são limitados para avaliar prognóstico, história natural da doença e fatores causais a ela associados. TIPOS DE ESTUDO CASO-CONTROLE JÁ ACONTECEU Fator de Risco Presente Fator de Risco Presente Fator de Risco Ausente Fator de Risco Ausente MOMENTO ATUAL CASOS CONTROLES SELEÇÃO DE CASOS E CONTROLES ● Controles devem ser uma amostra aleatória de todos os não casos na mesma população que produziu os casos. ● Alternativas para seleção de controles: AFERIÇÃO DE EXPOSIÇÃO ● O problema do viés de recordatório TIPOS DE ESTUDO CASO-CONTROLE RAZÃO DE CHANCES (Odds Ratio) [A/(A+C) ÷ C/(A+C)] Casos Não-Casos [B/(B+D) ÷ D/(B+D)] Expostos a b AxD Não-Expostos c d BxC ► Chances de um caso ser exposto dividido pelas chances de uma controle ser exposto. ► A razão de chances é aproximadamente igual ao risco relativo somente quando a incidência da doença é baixa (< 1% em pessoas não expostas). TIPOS DE ESTUDO CASO-CONTROLE VANTAGENS ► Gera informações a partir de um número pequeno de casos. ► Pode estabelecer alguma relação causal (não tão óbvia quanto num estudo de coorte). LIMITAÇÕES ► Calcula Razão de Chances (estimativa do RR) e não o próprio RR. ► Não determina prevalência, incidência ou risco atribuível. ► Grande suscetibilidade a vieses. TIPOS DE ESTUDO ENSAIO CLÍNICO RANDOMIZADO 1► Pacientes são selecionados a partir de um perfil de interesse (critérios de inclusão e exclusão). 2► São divididos utilizando randomização em dois (ou mais) grupos idênticos (tabela 1). 3► O grupo experimental é exposto a uma intervenção que se acredita melhor do que as alternativas atuais. 4► O grupo controle é tratado da mesma forma, exceto a exposição à intervenção experimental. 5► A evolução de ambos os grupos é registrada e as diferenças no desfecho são atribuídas à intervenção. HIPÓTESE NULA MEDIDAS PARA DESCARTAR A HIPÓTESE NULA ► Idosos com alto risco para queda ► Exercício resistido ou alongamento ► Seguimento de 12 meses ► Desfecho: queda com necessidade de hospitalização. Desfecho ● Alongamento: ● Resistido: ● Teste de Fisher 15,4% 7,5% p = 0,07 ● Redução de Risco Absoluto 7,9% ● Intervalo de Confiança (95%) -2,2 a 11,1% MAGNITUDE DOS ACHADOS MEDIDAS PARA A MAGNITUDE DOS ACHADOS ► Paciente com evento cardiovascular prévio (n=19.185) ► Clopidogrel 75 mg/d ou AAS 375 mg/d ► Seguimento de 3 anos ► Desfecho: escore composto de eventos Desfecho ● AAS: ● Clopidogrel: 5,83% 5,32% ● Redução de Risco Relativo ● Redução de Risco Absoluto ● Número Necessário a ser Tratado (NNT) * Desfechos intermediários 8,7% 0,51% 196 CONCLUSÕES ROTEIRO PARA ANÁLISE CRÍTICA ► Identificar a “questão” do estudo ► Identificar o tipo do estudo ► Identificar o(s) desfechos ► Analisar os critérios de inclusão e estratégia de recrutamento. ► Analisar os critérios de exclusão e o perfil dos pacientes excluídos. ► Analisar a consistência interna. ► Analisar a consistência externa. ► Avaliar magnitude de benefício e risco. ► Considerar a aplicabilidade dos achados para cada contexto e indivíduo. Bibliografia Sugerida