PROPOSIÇÕES DE DAVYDOV E SEUS COLABORADORES PARA O ENSINO E APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA NA ÓTICA DOS INTEGRANTES DO GPEMAHC - GRUPO DE PESQUISA EDUCAÇÃO MATEMÁTICA: UMA ABORDAGEM HISTÓRICO-CULTURAL Ademir DAMAZIO1 Eloir Fátima Mondardo CARDOSO2 Josélia Euzébio da ROSA3 Alexsander Estevam PEREIRA4 Andriele Melo MONTEIRO5 Daiane de FREITAS6 Daniela DAROLT7 Felipe Everaldo dos SANTOS8 Julian da Silva EUZÉBIO9 Juliana da Silva EUZÉBIO10 Lucas Sid Moneretto BURIGO11 Taís S. HUGGENTOBLER12 RESUMO: Apresenta-se a experiência de pesquisa desenvolvida por bolsistas de iniciação científica do GPEMAHC - Grupo de Pesquisa Educação Matemática: Uma Abordagem Histórico-Cultural. O GPEMAHC, desde o seu cadastro na plataforma de grupos do CNPq é composto por pesquisadores de duas instituições: UNESC e UNISUL. Seu líder e mentor é o professor Dr. Ademir Damazio (UNESC). O objeto principal de investigação consiste no processo de ensino e aprendizagem de matemática com base na Teoria HistóricoCultural. Inicialmente, são apresentadas as pesquisas de caráter teórico. Nestas, busca-se compreender algumas proposições para o Ensino de Matemática com base na referida teoria. Na sequência, apresenta-se àquelas que analisam os resultados do desenvolvimento de tais proposições em sala de aula, tanto na ótica do professor, quanto dos estudantes dos dois primeiros anos do Ensino Fundamental. E, finalmente, com base no movimento de pesquisa apresentado anteriormente, apresenta-se uma proposição para o Ensino de Matemática na Educação Infantil. PALAVRAS-CHAVE: GPEMAHC; Davydov; Ensino; Aprendizagem; Matemática. 1 Ademir Damazio: Docente do Programa de Pós-Graduação Extensão da Universidade do Extremo Sul Catarinense. 2 Eloir F. M. Cardoso: Docente da Universidade do Extremo Sul Catarinense. 3 Josélia Euzébio da Rosa: Docente do Programa de Pós-Graduação Extensão da Universidade do Sul de Santa Catarina. 4 Alexsander Estevam Pereira: Acadêmico do curso de Matemática/Bolsista de iniciação científica. 5 Andriele Melo Monteiro: Acadêmico do curso de Matemática/Bolsista de iniciação científica. 6 Daiane de Freitas: Acadêmico do curso de Matemática/Bolsista de iniciação científica. 7 Daniela Darolt: Acadêmico do curso de Psicologia/Bolsista de iniciação científica. 8 Felipe Everaldo dos Santos: Acadêmico do curso de Matemática/Bolsista de iniciação científica 9 Julian da Silva Euzébio: Acadêmico do curso de Matemática/Bolsista de iniciação científica. 10 Juliana da Silva Euzébio: Formada em Pedagogia UNESC. Mestranda na UFSC. 11 Lucas Sid Monerreto Burigo: Formado em Matemática UNESC. Mestrando na UNESC. 12 Tais da Silva Huggentobler: Acadêmico do curso de Matemática/Bolsista de iniciação científica. 1 1. Introdução No presente trabalho apresenta-se a experiência de pesquisa desenvolvida por alguns bolsistas de iniciação científica do GPEMAHC - Grupo de Pesquisa Educação Matemática: Uma Abordagem Histórico-Cultural, com a orientação dos três primeiros autores. O GPEMAHC, desde o seu cadastro na plataforma de grupos do CNPq é composto por pesquisadores de duas instituições: UNESC e UNISUL. Seu líder e mentor é o professor Dr. Ademir Damazio (UNESC). O objeto principal de investigação consiste no processo de ensino e aprendizagem de matemática com base na Teoria Histórico-Cultural. Inicialmente, são apresentadas as pesquisas de caráter teórico. Nestas, busca-se compreender algumas proposições para o Ensino de Matemática com base na referida teoria. Na sequência, apresenta-se àquelas que analisam os resultados do desenvolvimento de tais proposições em sala de aula, tanto na ótica do professor, quanto dos estudantes dos dois primeiros anos do Ensino Fundamental. E, finalmente, com base no movimento de pesquisa apresentado anteriormente, apresenta-se uma proposição para o Ensino de Matemática na Educação Infantil. Daiane de Freitas investigou o movimento conceitual de ascensão do abstrato ao concreto, categorias do materialismo histórico e dialético, proposto no sistema de ensino de Davydov. Nessa teoria, o concreto é considerado ponto de partida e ponto de chegada do processo de apropriação do conhecimento, inicialmente captado na forma sensorial e, por meio do processo de análise mediado por abstrações, resulta na síntese (concreto-pensado). Tal proposição contrapõe-se ao ensino da atualidade, que busca atender apenas as possibilidades já formadas e presentes nas crianças. Assim, o objetivo consiste em investigar o movimento conceitual do Sistema de Ensino de Davydov para o conceito de número no primeiro ano do Ensino Fundamental. A pesquisa, definida como qualitativa na modalidade bibliográfica, foi desenvolvida com base em três tipos de referências: 1) obra de Davydov; 2) proposições comumente utilizadas no ensino brasileiro (BORDEAUX, A. L et al, 2008; D’ ALBERTAS, C et al, 2009); 3) Produção do GPEMAHC (ROSA, 2012). A base do estudo foi às proposições apresentadas nos dois livros didáticos brasileiros do primeiro ano do Ensino Fundamental e as tarefas do sistema de ensino de Davydov. O movimento das proposições brasileiras (BORDEAUX, A. L et al, 2008; D’ ALBERTAS, C et al, 2009); consiste, inicialmente, na observação do objeto dado imediatamente aos órgãos dos sentidos. As características e as propriedades externas são convertidas no conteúdo para aprendizagem durante a seleção e comparação de objetos soltos. Aquilo que é concebido como abstrato, inclusive os símbolos expressos por letras, aparecem somente no final do estudo de um determinado conceito. Estes servem como meio para fixar as propriedades de um determinado material, que são reveladas por meio de muitos problemas particulares. Por outro lado, no Sistema de Ensino de Davydov (ГОРБОВ et al, 2008), o material abstrato é introduzido relativamente cedo, a partir de sistemas de tarefas, com adoção de formas diferentes de representação – objetal, gráfica e literal – das relações entre grandezas. Esse sistema de representações chega-se a níveis de abstrações cada vez mais complexos até atingir a abstração primeira, núcleo gerador do conceito de número. A partir de então, inicia-se o movimento de ascensão do abstrato ao concreto, o que culmina com a contagem resultante do processo de medição em que uma grandeza é unidade de medida da outra. No Sistema de Ensino de Davydov, o movimento conceitual proposto é o de ascensão do abstrato ao concreto. Sendo assim, contraria as proposições brasileiras em que o concreto e o abstrato são entendidos como objetos dados estaticamente, cujo movimento do pensamento 2 consiste apenas na reprodução da imagem visualizada. Em Davydov, o concreto e o abstrato são entendidos como momentos do pensamento. Lucas Búrigo analisou a expressão das significações algébricas, aritméticas e geométricas, nas proposições davydovianas para o ensino do conceito de número no primeiro ano do Ensino Fundamental. No Brasil, o atual ensino de Matemática está organizado de forma fragmentada e linear: inicia com a aritmética, para depois introduzir a geometria e a álgebra. Tal sequência é criticada por pesquisadores adeptos à Teoria Histórico-Cultural (ROSA, 2012). Para estes, o ensino dos conceitos matemáticos deve contemplar, de forma inter-relacionada, as significações algébricas, aritméticas e geométricas tal como propõe Davídov (1987). A pesquisa de Búrigo é definida na modalidade qualitativa em uma de suas especificidades: a bibliográfica. Foram estabelecidos dois tipos de referências com focos conceituais distintos, porém, inter-relacionados. No primeiro, a leitura de Aleksandrov (1976) e Eves (2004), para analisar o objeto de estudo da álgebra, aritmética e geometria. No segundo, a ação principal foi o estudo de como ocorre à inter-relação das significações algébricas, aritméticas e geométricas no livro de orientações metodológicas para o professor do primeiro ano do Ensino Fundamental (ГОРБОВ, 2008). As proposições davydovianas iniciam com a análise das características cor e forma dos corpos geométricos e figuras. Na especificidade da geometria, de acordo com Aleksandrov (1976), o estudo das relações entre os corpos geométricos e as figuras ocorre do ponto de vista da grandeza e da posição. O mesmo ocorre em Davídov (1987), pois todos os conceitos matemáticos estão fundamentados na relação entre grandezas. Em álgebra, conforme Aleksandrov (1976), as grandezas são representadas por letras, assim como propõe Davydov no movimento do geral para o particular. O conceito de número é introduzido por meio das relações entre grandezas de mesma espécie e expresso pelo modelo: A/B = N. O modelo sintetiza as significações geométricas e algébricas, ou seja, a forma genérica das relações entre grandezas. As significações aritméticas a partir da comparação entre duas grandezas da mesma espécie, uma delas tomada como unidade para a medição da outra. Porém, aqui, o resultado é expresso por meio dos numerais. De acordo com Búrigo, nas proposições davidovianas as significações geométricas se referem às formas dos corpos geométricos e das figuras. Essas se relacionam com as significações algébricas, cuja principal característica é a generalidade e ela é utilizada para expressar de forma genérica as relações entre grandezas. As significações aritméticas são decorrentes da inter-relação entre as significações geométricas e algébricas sintetizadas no modelo. Taís Huggentobler tomou como referência os livros didáticos e as orientações metodológicas de Davydov e seus colaboradores. Seu objetivo foi investigar o movimento sugerido por Davydov para o ensino de resolução de problemas que envolvem as operações de adição e subtração. Os dados da pesquisa foram coletados nas orientações específicas para o ensino de resolução de problemas que envolve operações de adição e subtração. Tratou-se de uma pesquisa qualitativa-bibliográfica cujas referências foram: os livros didáticos (ДАВЫДОВА et al, 2008 e 2009) e o livro de orientações ao professor (ГОРБОВ et al, 2008), elaborados por Davydov e seus colaboradores, para o primeiro e segundo ano do Ensino Fundamental. Huggentobler, apoiada em Rosa (2012), constatou que Davydov introduz o ensino de resolução de problemas, que envolvem as operações de adição e subtração, a partir da relação entre o todo e as partes. Tal relação é representada em um esquema, conforme segue (Ilustração 01): 3 Partes Y Z X Todo Ilustração 01 Inicialmente as tarefas sugerem a identificação do todo e das partes, depois, a interpretação da operação a ser realizada. Decorrem as seguintes situações: X = Z + Y; X – Z = Y; e, X – Y = Z, em que X é o todo, Y e Z as partes que o compõe. Davydov propõe histórias que contém todos os dados de uma determinada situação. Como consequência, é possível formular várias situações problemas conforme os dados apresentados na história. Os enunciados são classificados: 1) direto, quando a pergunta do problema está explícita; 2) indireto, se o enunciado apresenta apenas os dados que, ao serem interpretados, possibilitam a identificação da operação a ser realizada. Por exemplo: “Há 11 pinheiros no parque, 2 a mais que as laranjeiras”. Nesse problema, indireto, para saber quantas laranjeiras tem no parque é necessário interpretar, por meio do esquema, as partes e o todo. No modo direto, o problema anterior seria acrescido com perguntas do tipo: “quantas laranjeiras há no parque?” O movimento sugerido por Davydov para o ensino de resolução de problemas que envolvem as operações de adição e subtração segue do geral para o particular. Ou seja, há um esquema geral que possibilita a interpretação e a identificação da operação específica a ser realizada. A compreensão do conceito científico de resolução de problemas com operações de adição e subtração possibilita a interpretação de qualquer problema particular, sendo este de forma indireta ou direta (ROSA, 2012). Felipe Santos teve como objetivo investigar o procedimento de diferenciação entre figuras planas e corpos por estudantes do segundo ano do Ensino Fundamental. Para tal, buscou fundamentação teórica na abordagem Histórico-cultural, especificamente, no sistema de ensino Elkonin-Davydov. Este referencial se justifica por oferecer subsídio teórico para a apropriação do conhecimento científico, pressuposto do Projeto Político Pedagógico (PPP) do Colégio Unesc, instituição de ensino em que a pesquisa foi realizada. A preocupação foi desenvolver, desde o primeiro ano escolar, o pensamento teórico dos estudantes. Para isso, os conceitos matemáticos foram desenvolvidos inter-relacionados às significações geométricas, algébricas e aritméticas. A proposta de ensino de matemática, fundamentada no referencial teórico mencionado, desenvolvida durante o ano de 2012, em uma turma com 25 alunos, no 1º ano do Ensino Fundamental do Colégio Unesc da Universidade do Extremo Sul Catarinense, município de Criciúma-SC. Ao seguir as orientações metodológicas do livro didático de Elkonin-Davidov apresentadas por seus seguidores, mais especificamente por Gorbov, Mikulina e Savieliev (Горбов, et al, 2008), adotou-se os seguintes procedimentos metodológicos: a) estudo do livro metodológico do sistema de Elkonin-Davidov e planejamento das aulas com a professora titular da turma; b) preparação do material didático; c) registro das aulas, por meio de filmagem; d) transcrição e análise dos dados obtidos nas filmagens. Na concretização das etapas, foram realizados encontros semanais com a participação do bolsista, professora titular, coordenadora pedagógica do colégio e integrantes do GPEMAHC. Para contemplar as ideias geométricas, algébricas e aritméticas, as tarefas apresentam, de acordo com Rosa (2012), uma sequência para comparação entre grandezas. Os resultados 4 da comparação são representados de forma objetal (por meio de tiras), gráfico (por meio de segmentos) e literal (símbolos e letras). Os alunos com posse de um kit, contendo três tiras, duas com os mesmos comprimentos (altura, largura e espessura) e a outra que se difere pelo comprimento da altura. Para diferenciar figura plana e corpo, os alunos indicavam a igualdade ou a diferença mostrando as tiras iguais ou as diferentes, conforme as características (cor e forma) analisadas. Ao serem comparados dois prismas com espessuras diferentes, alguns alunos mostraram as tiras iguais e outros as diferentes. As respostas se justificavam pelas características consideradas. Para identificação das dimensões do prisma triangular e do triângulo (base do prisma) contornou-se uma das bases na lousa. Desse modo, os alunos diferenciaram o prisma e o recorte como objetos tridimensionais e o triângulo no quadro como figura bidimensional. Juliana Euzébio analisou o desenvolvimento da ação investigativa das crianças a partir das proposições do sistema de ensino de Davydov. A pesquisa foi desenvolvida em um Colégio da Rede Particular de Ensino do Município de Criciúma- SC, no 1° e 2° ano do Ensino Fundamental. Para a execução do trabalho realizaram-se encontros, uma vez por semana, com a participação da bolsista, integrantes do GPEMAHC e professoras responsáveis pelas turmas do referido colégio. Os encontros foram específicos para o estudo do livro metodológico referente à proposta de ensino de Davydov e colaboradores (ГОРБОВ et al, 2008). A elaboração das tarefas e materiais didáticos aconteceu posteriormente às reuniões, pelos bolsistas de iniciação científica do GPEMAHC. O desenvolvimento da proposta de ensino com os estudantes, sujeitos desta pesquisa, ocorreu no horário das aulas: duas vezes na semana, com duração de duas horas/aula. Ao final das aulas, o processo desenvolvido em sala de aula, era registrado em forma de relatório para posterior análise. O ponto de partida da disciplina de Matemática, no sistema de Davydov e seus colaboradores, é a formação e desenvolvimento da ação investigativa das crianças. Estas são orientadas a elaborarem perguntas e direcioná-las primeiro ao professor e depois aos seus colegas. O meio utilizado são as características que permitem diferenciar objetos (cor, forma, tamanho e posição). No processo de operacionalização da pesquisa em sala de aula, inicialmente as professoras pensavam em uma figura e as crianças investigavam a figura pensada. Faziam perguntas do tipo: “É um triângulo? É um quadrado?” Porém, o objetivo era que elas descobrissem a figura pensada pela professora com apenas uma pergunta. No processo, os estudantes conseguiram desenvolver a pergunta “qual é a forma?”, atingindo o objetivo da tarefa. Ou seja, com uma única pergunta as crianças indicavam a figura pensada. O mesmo processo ocorreu com as demais características. Euzébio concluiu que o desenvolvimento das proposições de Davydov fez com que os estudantes se envolvessem em um movimento de busca científica. O foco não era apenas a emissão de respostas, como habitualmente se faz na educação escolar, mas na elaboração de perguntas adequadas para chegar na resposta desejada. Ou seja, era necessário delimitar a pergunta de investigação. Com isso, promove-se o desenvolvimento da capacidade do estudante buscar novos conhecimentos. Daniela Darolt fundamentou-se na teoria Histórico-Cultural com foco para as proposições pedagógicas de Davydov, que faz críticas ao ensino de matemática, organizado para que as crianças se apropriem de conhecimento de base empírica. Isso ocorre pela preocupação de priorizar, em sala de aula, situações de estudo do dia-a-dia das crianças. Em contrapartida, Davídov (1988) e colaboradores propõe um ensino com ênfase aos conceitos científicos para que os estudantes desenvolvam o seu pensamento teórico. Assim, Darolt investigou o pensamento matemático de cinco crianças, do primeiro ano do Ensino Fundamental, ao desenvolverem tarefas concernentes às proposições davydovianas. 5 A base bibliográficas do estudo foi, principalmente, Davídov (1988) e algumas produções do GPEMAHC direcionadas ao objeto de estudo, que subsidiaram a implementação da pesquisa com o grupo de estudantes. Dadas às condições oferecidas pelas tarefas, as crianças elaboram uma forma de pensamento de número em base teórica. Pela análise das tarefas, constatou-se que as respostas das crianças são mediadas pelos seus conhecimentos referente à reta numérica, já no plano mental. Elas não recorrem à representação visual da reta e nem tão pouco à associação com a quantidade discreta de objetos físicos. O pensamento matemático das crianças investigadas expressa o conceito teórico de número. Isso decorre do movimento anteriormente desenvolvido, em sala de aula, a partir do estudo das grandezas e que geraram a síntese do conceito. Nesse estágio de desenvolvimento, o número não está mais diretamente relacionado às grandezas que lhe deram origem. Em vez disso, é mediado por significações matemáticas, como por exemplo, as geométricas, quando as crianças fazem relações com a reta numérica. Andrieli Monteiro investigou a proposição do sistema de ensino de Davydov para um estudante, do segundo ano do Ensino Fundamental (EF), que possui baixa visão. Os objetivos específicos do estudo incidiram em reconhecer as possibilidades de desenvolvimento da proposta de ensino para o estudante, sujeito da pesquisa, e identificar a apropriação do conceito de número centrado na noção de grandeza. A pesquisa foi desenvolvida em um Colégio da rede particular do município de Criciúma. Para a execução do projeto foram realizados, uma vez por semana, encontros para o estudo do referencial mencionado, em que participaram os bolsistas, integrantes do GPEMAHC e a professora responsável pela turma. As tarefas e materiais didáticos foram reelaborados, posteriormente às reuniões, para serem desenvolvidos com a aluna. Os encontros ocorreram duas vezes por semana, no período regular das aulas, com duração de duas horas. As aulas foram gravadas e, posteriormente, transcritas, com as devidas autorizações. Ao final de cada aula, foram produzidos pela bolsista, relatórios dos dados empíricos obtidos, bem como, a análise dos mesmos à luz da teoria que fundamentou esta pesquisa. O desenvolvimento da proposta de ensino buscou contemplar um dos pressupostos da Abordagem Histórico-Cultural para a matemática, qual seja: a inseparabilidade dos conceitos algébricos, geométricos e aritméticos na elaboração do conceito de número. A tarefa, aqui considerada como exemplo, teve como objetivo verificar quantas vezes a medida tomada como unidade se repetia na grandeza a ser comparada, além disso, descrever o processo por meio de um esquema. Primeiramente, o estudante necessitou manipular o material para identificar a unidade de medida e o que seria medido. Tratava-se de duas superfícies quadradas: uma a grandeza (B) a ser medida e a outra a unidade de medida (A). O objetivo era que a criança indicasse quantas vezes A caberia em B. No processo de comparação, medida, o estudante demonstrou dificuldades na identificação da grandeza a ser medida. A intervenção da pesquisadora, nesse momento, contribuiu para a superação do problema. Assim, repetiu o movimento da comparação e contagem para obter o resultado. Na representação, considerou-se o movimento conceitual de número do sistema de Elkonin-Davidov, qual seja: representação objetal, gráfica, literal e aritmética. A representação do esquema (Ilustração 02) foi transcrita após argumentação oral da aluna “a medida A cabe cinco vezes em B”. A 5 B Ilustração 02 6 Monteiro concluiu que os obstáculos decorrentes da baixa visão, não impediram que a aluna se apropriasse dos conceitos matemáticos trabalhados com a mesma complexidade alcançada pelos alunos com visão normal. Para isso, o uso de materiais em alto relevo, a escrita e a leitura em braille foram primordiais, uma vez que, o tato se tornou essencial para a análise e interpretação das tarefas. Alexsander Pereira investigou as contribuições do sistema educacional de Davydov para a atividade pedagógica profissional de uma professora que se propôs a estudar e desenvolver, na íntegra e de forma inédita no Brasil, a proposta desse autor no Ensino Fundamental. O referido sistema de ensino se diferencia daqueles convencionalmente adotados nas escolas, atualmente, por visar o desenvolvimento do pensamento teórico matemático dos estudantes. Constituiu-se como sujeito da pesquisa uma professora do segundo ano de uma escola da Rede Municipal de Ensino de Criciúma-SC. Os dados empíricos foram coletados por meio de filmagens, na seguinte ordem: acompanhamento das reuniões de estudo sobre as proposições para o ensino de matemática do Sistema de Davydov; planejamento das tarefas de ensino e entrevista semiestruturada. O foco foi para a análise do processo de apropriação do sistema de Davidov, por parte do sujeito, com base em categorias da atividade pedagógica, conforme Kuzmina (1987) e o método experimental de Vygotsky (1994). Além desses autores, a revisão bibliográfica focou as obras de Davydov e autores da mesma perspectiva teórica. As categorias extraídas na trajetória pessoal e profissional da professora, relativas à atividade pedagógica, foram: etapas preparatórias, motivações, dificuldades, estrutura dos componentes fundamentais e capacidades. Seguindo uma ordem cronológica dos fatos e segundo as categorias citadas, identificou-se a insatisfação com os resultados da aprendizagem dos alunos na disciplina de matemática, atribuídas pelo sujeito da pesquisa sobre sua própria formação. O descontentamento levou a professora a estudar e desenvolver um novo sistema de ensino. Nesse processo, a professora supera as dificuldades referentes à sua formação em matemática pela apropriação de conceitos científicos. Como consequência, ocorre uma mudança na estrutura fundamental da atividade pedagógica em relação à metodologia de ensino e dos conteúdos matemáticos ensinados. Ao final desse processo, observa-se uma preocupação em relação às suas capacidades pedagógicas, o que confere o êxito no ensino de matemática (KUZMINA, 1987). Pereira concluiu que o sistema de ensino proposto por Davydov contribuiu para a atividade pedagógica da professora uma vez que passou adotá-lo como referência na organização do ensino dos conceitos matemáticos. Além disso, no processo de estudo e desenvolvimento em sala de aula da referida proposta, se apropriou de conceitos científicos matemáticos ausentes em sua formação. Esse tipo de apropriação, conforme Kuzmina (1987) expressa a transformação de suas capacidades pedagógicas para o ensino de matemática nos anos iniciais do ensino fundamental. Julian Euzébio desenvolveu um trabalho decorrente de uma investigação maior sobre os princípios teórico-metodológicos da Teoria Histórico-Cultural desenvolvidos por integrantes de dois grupos de pesquisa, o GPEMAHC (Grupo de Pesquisa em Educação Matemática: uma Abordagem Histórico-Cultural) e o GEPAPe (Grupo de Estudo e Pesquisa sobre a Atividade Pedagógica). Seu objetivo foi investigar as possibilidades de elaboração de um sistema de tarefas com base em Davydov para o processo de ensino e aprendizagem de matemática na educação infantil, a partir de uma história virtual. A história utilizada é a terceira versão de uma história elaborada por Lanner de Moura (1995) chamada “O Curupira”, depois reelaborada pelos integrantes do GEEAMI – Grupo de Estudos do Ensino e Aprendizagem de Matemática na Infância (2010) com o título “Menino Verde” e, por fim, agora, com o titulo “Verdim e seus amigos” (DAMAZIO et al, 2012). 7 No decorrer da pesquisa, as ações foram: 1) Participação dos encontros semanais do GPEMAHC para estudos do referencial teórico; 2) Participação dos encontros semanais dos pesquisadores via skype; 3) Levantamento teórico bibliográfico sobre os conceitos matemáticos na educação infantil 4) Estudo das proposições davydovianas para o ensino de Matemática; 5) Revisão da literatura; 6) Elaboração de um sistema de tarefas. O principal resultado obtido na pesquisa foi a objetivação das possibilidades didáticas das proposições davydovianas para a Educação infantil, no que se refere à Matemática. O sistema de tarefas elaborado contemplou a comparação entre os personagens da história com base nas características: cor, forma e tamanho. No processo de comparação, conclui-se que as grandezas podem ser maiores, menores ou iguais umas as outras. Tal conclusão é representada, na ilustração 03, nas formas: objetal (figura 1), gráfica (figura 2) e literal (figura 5). São introduzidas ideias de adição e subtração – a em seu caráter genérico (figuras 3 e 4), equação e inequação: y=ax+b, y=ax, x<y, y>x, y≠x. A introdução das significações aritméticas ocorre a partir do modelo algébrico de comparação entre comprimento dos passos dos personagens (Figura 5) e o geométrico (Figura 6). Ilustração 03 O número em sua significação aritmética é idealizado como quociente entre duas grandezas. Esses resultados apresentam situações que indicam a possibilidade da história virtual desencadear um sistema de tarefas com fundamentos na teoria de Davydov (1982), que contemplam ideias de vários conceitos, entre outros: comparação, medida, contagem, números, adição, subtração, multiplicação, divisão, equação, reta, função. Além das pesquisas apresentadas anteriormente há também no grupo outras pesquisas concluídas, tais como: um trabalho de conclusão de curso (EUZÉBIO 2011); cinco monografias (ALVES, 2013; CRESTANI, 2013; DORIGON; 2013 MATOS, 2013; SILVEIRA, 2013) uma dissertação de mestrado (MADEIRA, 2012); uma tese de doutorado (ROSA, 2012). Há, também, outras pesquisas em nível de iniciação científica, mestrado e doutorado em andamento. Referências ALEKSANDROV, A. D. Visión General de la Matemática. In: ALEKSANDROV, A. D., et al. La Matemática: su contenido, métodos y significado. Madrid. Alianza Universidad. 1976.1 ed. 2ª reimpresión. p. 17-91. ALVES, E. S. B. 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