sob a direcção de Françoise Gaspard e Jacqueline Heinen guia para a integração da igualdade entre os sexos nas políticas locais Mulher Presidente da Câmara GUIA PARA A INTEGRAÇÃO DA IGUALDADE ENTRE OS SEXOS NAS POLÍTICAS LOCAIS sob a direcção de Françoise Gaspard e Jacqueline Heinen - Este guia foi redigido por investigadores e investigadoras do projecto de investigação europeia ‘Género e Local’, financiado pela Comissão Europeia Contribuíram para a sua redacção : da Bélgica Eliane Gubin Bérengère Marques-Pereira Laurent Vanclaire da Finlândia Anne Maria Holli Eeva Luhtakallio Eeva Raevaara de França Hélène Cettolo Michelle Kergoat Eléonore Lépinard Marylène Lieber Annie Rieu da Grécia Maria Pantelidou-Maloutas de Itália Alisa Del Re Valentina Longo Chiara Sebastiani Renate Siebert de Portugal Anne Cova Vanda Gorjão da Suécia Elisabeth Elgan Tradução : Vanda Gorjão Desenhos: Catherine Beaunez INTRODUÇÃO 1 PRIMEIRA PARTE Assegurar uma participação equilibrada entre mulheres e homens no processo de decisão local Porquê ? - Porque a participação das mulheres na decisão pública é uma exigência democrática internacionalmente reconhecida - Porque a autarquia é o lugar da aprendizagem da democracia, como da experiência das desigualdades e discriminações Como ? - Por uma sensibilização para o tema da igualdade - Pela educação desde a primeira infância - Pelo acompanhamento das candidatas e recém eleitas - Por decisão dos partidos políticos - Pela lei - Atendendo às dificuldades específicas com que se deparam as eleitas no plano local Em que domínios ? - As funções electivas - Os conselhos e comités consultivos nomeados - A administração local 7 10 11 14 15 16 18 21 22 24 25 SEGUNDA PARTE Considerar a dimensão de género nas políticas locais Porquê? - Porque a presença das mulheres nos órgãos de decisão não é só por si suficiente para transformar os modos de gestão - Porque o acesso aos serviços públicos difere segundo o sexo da pessoa 31 32 - Porque os decisores, homens e mulheres, nem sempre se apercebem das discriminações ligadas ao sexo Como? - Realizando o apuramento estatístico das desigualdades entre os sexos - Contemplando o funcionamento da governação no plano local - Criando estruturas políticas e administrativas encarregues do dossier «igualdade entre mulheres e homens» - Procedendo a uma análise dos orçamentos locais para avaliar as discriminações - Adoptando um plano de igualdade dotado de instrumentos de avaliação e acompanhamento - Criando lugares de informação dirigidos especificamente às mulheres - Reforçando os laços e intercâmbios entre organismos da sociedade civil com um ponto de vista feminista 33 33 35 36 39 41 42 44 Em que domínios ? - Os horários e a política dos «tempos das cidades» - O urbanismo - A segurança no espaço público - A ajuda às vítimas de violência doméstica - A mobilidade na cidade - O acolhimento das crianças - O emprego - O desporto - A integração das mulheres estrangeiras - A simbólica urbana e a cultura 47 49 51 52 55 56 58 60 61 63 CONCLUSÃO 65 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 67 ANEXOS 71 INTRODUÇÃO A aprendizagem da democracia, como a experiência das discriminações e das desigualdades, faz-se, antes do mais, onde se vive, ou seja, na autarquia, grande ou pequena, urbana ou rural. As políticas públicas para a igualdade entre mulheres e homens são recentes. Foram impulsionadas por organizações supranacionais a partir dos anos 70, quando emergiram os movimentos sociais feministas ditos de «segunda vaga». Em todos os países da Comunidade Europeia, a cidadania política das mulheres tinha-se tornado a regra. Os direitos formais não estavam, é certo, adquiridos em todo o lado, nomeadamente em matéria de igualdade civil, mas constituíam um horizonte provável. Em contrapartida, a igualdade na prática começava a aparecer como objecto de novos combates. Tornava-se, com efeito, evidente que a proclamação da igualdade entre os sexos no plano legal constituía uma condição necessária mas não suficiente para eliminar as discriminações, nomeadamente, indirectas, que as mulheres podiam sofrer. Para cidadãs de vários dos países membros, a Comunidade Europeia desempenhou um papel ímpar no estabelecimento de regulamentações e de políticas destinadas a lutar contra as discriminações face às mulheres. Em razão das competências comunitárias, de início essas regulamentações diziam respeito apenas à igualdade de salários e à condição das mulheres no mercado de trabalho1. Em graus diferentes, os Estados desenvolveram as suas próprias políticas de igualdade entre mulheres e homens. Nos organogramas dos governos começaram a apareceram, a partir de metade dos anos 70, Ministro(a)s encarregues dos direitos das mulheres e foram 1 O Tratado de Roma comportava um único artigo referente à igualdade entre mulheres e homens, o artigo 119. -1- criadas estruturas incumbidas do dossier. Ao nível da União como dos diversos Estados-membros, a ideia de mainstreaming – ou seja, a integração da dimensão da igualdade em todas as políticas, comunitárias e nacionais – desenvolveu-se, por fim, na última década do milénio. Mas se a União Europeia atende à singularidade territorial dos Estados-membros em muitas das suas políticas, já as autarquias locais só raramente dispõem de políticas globais de igualdade entre mulheres e homens no seu campo específico de competências2. Da mesma forma que o fenómeno generalizado da descentralização levou os municípios a assumir tarefas que, até à altura, relevavam do nível central, deve encarar-se, pois, o plano local da(s) cidade(s) como lugar estratégico de análise das discriminações entre os sexos e de elaboração de políticas destinadas a eliminá-las. Vê-se, através das estatísticas, que as mulheres continuam subrepresentadas nas assembleias locais e que os seus problemas específicos raramente são tidos em consideração, exceptuando eventualmente através da consideração do seu papel de mães. O inquérito conduzido entre 2000 e 2003 numa centena de cidades da União Europeia 3 mostra que os actores locais (eleitos, funcionários municipais, organizações da sociedade civil local) têm dificuldades em introduzir o conceito de género nas suas políticas. Esta ideia, por vezes parece-lhes mesmo contrária à sua missão, na medida em que a cidadania é percepcionada como sendo «neutra». Este guia dirige-se aos eleitos, quer sejam nacionais ou locais, aos funcionários de colectividades locais e nomeadamente dos municípios, assim como aos actores da sociedade civil. Foi 2 Sobre as políticas comunitárias em favor da igualdade veja-se Agnès Hubert, L’Europe et les femmes, Identités en mouvement, Editions Apogée, Rennes, 1998 e Linda Hantrais (ed), Gendered Policies in Europe. Reconciling Employment and Family Life, Mc Millan Press, Londres, 2000. 3 A Bélgica, a Finlândia, a França, a Grécia, a Itália, Portugal e a Suécia. -2- elaborado a partir dos seus testemunhos, das suas práticas, das suas interrogações. Procurámos dar conta não de todos os problemas e contradições que encontrámos no decurso do inquérito (a este respeito ver o relatório da pesquisa 4), mas sobretudo ilustrar exemplos ditos de «boas práticas» no plano local. Tal nem sempre significa, de qualquer modo, que estas «práticas» conduzam a resultados positivos em relação aos seus objectivos. Sucede, inclusive, que revelem as resistências que as políticas para a igualdade encontram no terreno. Nas páginas que se seguem encontraremos mais exemplos relativos às práticas em vigor nos países nórdicos do que nos países do sul da Europa. Sempre que possível, esses exemplos reenviam para as «fontes». Aqui e ali são feitas referências a outros países para além da União Europeia ou, no seio da União, a países que não foram objecto da pesquisa. Mas foi essencialmente à luz desta que se realizou o presente documento. 4 http://www.sh.se/genreetlocal -3- PRIMEIRA PARTE Assegurar uma participação equilibrada entre mulheres e homens no processo de decisão local PORQUÊ ? Porque a participação das mulheres na decisão pública é uma exigência democrática internacionalmente reconhecida No documento final da I Conferência Mundial da ONU sobre os Direitos das Mulheres, que teve lugar em 1975 no México, foi declarada a necessária presença das mulheres nos lugares onde, nomeadamente a paz e o desenvolvimento, se decidem. Todavia, a não ser nos países da Europa do Norte, a participação das mulheres nos centros de decisão não estava na altura inscrita na agenda dos movimentos feministas. Outros combates surgiam então como prioritários, como o combate pelos direitos reprodutivos, a luta contra a violência, ou, em diversos países, o acesso à educação em todos os níveis. Seria necessário esperar cerca de duas décadas para que a questão das «mulheres na tomada de decisão» se tornasse actualidade. -7- Em 1979, a Convenção da ONU acerca da Eliminação de Todas as Discriminações Face às Mulheres (chamada Convenção CEDAW, do seu acrónimo inglês) retomou, sob forma normativa, a exigência da participação feminina na decisão pública. Esta Convenção, relativa à vida cívica, civil, social e cultural, é hoje em dia considerada a Carta Mundial dos Direitos das Mulheres 5. São os Estados que, ao ratificá-la, se comprometem em respeitar os artigos programáticos. Contudo, as autarquias locais podem também tê-la como referência. É interessante invocar o caso de aplicação da Convenção CEDAW em certas cidades dos Estados Unidos. Sendo este país um dos raros a não ratificar a Convenção, alguns Estados e cidades – a exemplo da cidade de São Francisco cujo Conselho Executivo Municipal adoptou, em Abril de 1998, um regulamento prevendo a sua aplicação – decidiram porém concretizá-la6. No fim dos anos 80 e na última década do milénio, as instituições supranacionais, rapidamente seguidas por movimentos de mulheres, puseram em evidência que o quase monopólio masculino nas esferas do poder é produto de uma discriminação estrutural e representa um entrave ao desenvolvimento, além de constituir um problema que leva a interrogar o próprio conceito de democracia. Sem pretensão de exaustividade, convêm mencionar etapas desse caminho. Em 1989, o Conselho da Europa pediu a peritos uma reflexão sobre o conceito de «democracia paritária». Em 1990, o Conselho de Ministros da União Europeia adopta o III Programa Comunitário a Médio Prazo para a Igualdade de Oportunidades entre Mulheres e Homens. Este inclui um novo âmbito de estudo e actuação : o lugar das mulheres nos centros de decisão. É constituída uma rede de peritos europeus que, em Novembro de 1992, organizará, em Atenas, a primeira cimeira europeia «Mulheres ao Poder», onde se encontraram mulheres destacadas em lugares de direcção nos respectivos países. 5 6 Ver Anexos. Ver Iliana Landsberg-Lewis, (dir), L’égalité chez soi, UNIFEM, 1998. -8- Estas mulheres, Ministras e Parlamentares, adoptam uma declaração na qual se postula que «a democracia impõe a paridade na representação das nações». Em 1991, o relatório para a OCDE de um grupo de peritos sobre o lugar das mulheres no desenvolvimento estrutural contribuiu para alargar esse debate. O relatório reconhecia a subrepresentação das mulheres nos centros do poder, nomeadamente nos centros do poder económico, como distribuição imperfeita de recursos humanos, obstáculo à mudança e uma das causas da crise atravessada pelo mundo desenvolvido 7. A preparação da V Conferência Mundial sobre os Direitos das Mulheres em Pequim, representaria finalmente a ocasião para uma mobilização intensa das ONG’s, em numerosas regiões do mundo, acerca do tema da necessária participação das mulheres na decisão política. Posteriormente, questão seria debatida na Conferência Intergovernamental. A palavra «paridade» é rejeitada por diversos países discordantes do que acham ser um carácter demasiado impositivo. Todavia, sob pressão da Delegação da União Europeia, dirigida pela Ministra espanhola Christina Alberdi, no texto final fica claramente expressa a necessidade de uma «presença equilibrada» de mulheres e homens na vida pública. No seguimento da Conferência de Pequim, o Conselho de Ministros da União Europeia adopta, a 2 de Dezembro de 1996, uma Recomendação relativa à participação equilibrada de mulheres e homens nos processos de decisão 8. Por ocasião da sessão extraordinária da Assembleia-geral da ONU, designada «Pequim +5», em Junho de 2000, em Nova Iorque, a ideia de uma tal participação é reafirmada e, como efeito da pressão exercida pelas mulheres eleitas da Organização Mundial das Autoridades Locais (IULA), os Estados comprometem-se a promover a atenção para a igualdade ao nível local. 7 OCDE, Les femmes et le changement structurel, Nouvelles perspectives, Paris, 1991. 8 Ver Anexos. -9- Porque a comunidade é o lugar da aprendizagem da democracia, como da experiência das desigualdades e discriminações Em matéria da representação das mulheres nas assembleias eleitas no plano nacional, existe uma nova atenção face às estatísticas (quantos homens, quantas mulheres no governo e no Parlamento?). Desde 1985, a União Interparlamentar mantém actualizadas estatísticas, produzidas em função do sexo, da composição da quase totalidade dos Parlamentos do mundo. Periodicamente, cimeiras mundiais reúnem as eleitas nacionais, e a União Interparlamentar, sedeada em Génova, fomenta campanhas para que mais mulheres sejam eleitas e não fiquem unicamente acantonadas nas comissões sociais e culturais, e para que os seus direitos, enunciados nas convenções internacionais, sejam objecto de debate no seio do Parlamento 9. A preocupação com a composição segundo o sexo dos conselhos e executivos regionais é porém mais recente. Continua a ser difícil produzir estatísticas europeias dos eleitos locais desdobradas por sexo. Com efeito, este dado não é sistematicamente recenseado em todos os Estados-membros da União. O estudo levado a cabo pelo Conselho dos Municípios e Regiões da Europa (CCRE) no quadro do IV Programa de Acção Comunitária para a Igualdade de Oportunidades entre Mulheres e Homens, fornece dados acerca do lugar das mulheres nos conselhos locais. Em 1998, na Europa dos quinze, um em cinco eleitos locais era mulher. Por toda a Europa as mulheres constituíam excepções à frente das municipalidades. No mesmo ano, a União Internacional das Autoridades Locais (IULA) adoptava uma Carta destinada a sensibilizar os eleitos municipais, em todo o mundo, para a ideia da igualdade entre as mulheres e os homens no plano local 10. 9 Encontra-se no site da União Interparlamentar estatísticas constantemente actualizadas da participação das mulheres nos Parlamentos e os textos de referência desta organização internacional: www.iup.org 10 Ver Anexos. - 10 - COMO ? Por uma sensibilização para o tema da igualdade Uma tal política, dizendo respeito ao nível local, pode ser de iniciativa nacional. Pode também ser de iniciativa local e receber o apoio do Estado – e da União Europeia. Pode igualmente ser conduzida por ONG’s ou por associações de eleitas. Entre as razões que explicam a raridade das eleitas, sabe-se que as mulheres, por motivos diversos, aspiram menos espontaneamente do que os homens a ser candidatas nas listas eleitorais. Campanhas de esclarecimento podem ser realizadas pelo Estado para as encorajar a candidatarem-se. Portugal : A Comissão para a Igualdade e os Direitos das Mulheres, criada em 1991, organizou diversas conferências destinadas a um público alargado. Em 1993, a Comissão difundiu spots publicitários na televisão sobre a participação das mulheres na política. No prolongamento desta acção, algumas autarquias, nomeadamente das regiões autónomas dos Açores e da Madeira, retomaram por sua iniciativa um projecto visando a divulgação da lógica do mainstreaming e a sensibilização dos eleitos locais e do poder local para a necessidade de concretizar políticas municipais com vista a encorajar a participação das mulheres na vida política e pública. Contacto : www.cidm.pt Grécia : O Secretariado-geral para a Igualdade desenvolve sistematicamente, antes das eleições, uma campanha incitando o aumento das candidaturas femininas e em favor do voto nas - 11 - candidatas. Relativamente às eleições locais, apoiou activamente a adopção da legislação das quotas nas listas eleitorais. Pelo seu lado, a rede pan-helénica das eleitas locais empenha-se em amparar as conselheiras locais no exercício das suas funções e em favorecer as candidaturas das mulheres aquando das eleições locais. Contacto : www.isotita.gr Itália : A Comissão Nacional para a Paridade e para a Igualdade de Oportunidades entre Mulheres e Homens publicou, em 2001-02, um guia para as candidatas às eleições nacionais e locais – Pari e di più : il Kit della candidata – e, em 2003, uma brochura visando promover as leis eleitorais paritárias à escala regional – Regioni : quali statuti e quali leggi elettorali. Contacto : [email protected] www.palazzochigi.it/cmparita Bélgica : A Direcção para a Igualdade das Oportunidades, criada no seio do Ministério do Emprego e do Trabalho em 1993, realizou diversas campanhas para sensibilizar a opinião pública para a presença das mulheres nos lugares de decisão. Promoveu igualmente um projecto piloto com algumas autarquias belgas. As ONG’s, com o apoio do Estado, organizam seminários de sensibilização e de formação para a política, a fim, nomeadamente, de encorajar as mulheres a apresentarem-se como candidatas. França : A associação Elles Aussi reagrupa, desde 1992, diversas ONG’s e organiza por toda a França seminários de sensibilização com o propósito de incentivar as mulheres a serem candidatas nas eleições locais. Contacto : www.ufcs.org/repres/ellesaussi - 12 - Finlândia : As organizações de mulheres no seio dos partidos políticos coordenam campanhas comuns para promover as mulheres candidatas nas eleições parlamentares e municipais. Desde 1988, NYTKIS, uma rede que agrupa organizações de mulheres de todos os partidos políticos, assim como três associações não partidárias, tem sido particularmente activa neste domínio. Contacto : http://www.nytkis.org/nytkisinfoeng.html Itália : Na Primavera de 2003, existia em Itália, segundo o recenseamento operado pela Comissão Nacional para a Paridade, «Escolas Políticas de Mulheres» em 88 cidades. Uma das primeiras Escolas foi a da cidade de Veneza, fundada sob a iniciativa da Vereadora para a igualdade de oportunidades. Portugal : Em 1993, foi criada uma associação de eleitas locais, a REMA. Nas vésperas das eleições autárquicas de Dezembro de 2001, a REMA tomou a iniciativa de contactar todos os partidos com assento na Assembleia da República, propondo que representantes suas fossem recebidas em audiência parlamentar com o objectivo de discutir, com cada partido, a importância de garantir a concretização da perspectiva paritária na feitura das listas eleitorais autárquicas. Em Março de 2002, a REMA editou um Guia do Poder Local, brochura cujo propósito foi reunir uma série de informações relativas ao poder local. O Guia do Poder Local dirige-se às autarcas portuguesas, mas funciona igualmente como «manual de apresentação» para as mulheres no geral, que ignoram frequentemente tudo o que diz respeito ao sistema político local. Contacto : Rede de Mulheres Autarcas Portuguesas, REMA [email protected] Existem associações de eleitos locais em todos os países europeus. Nelas, a presença das mulheres é minoritária, na medida em que as mulheres são menos numerosas do que os homens nos conselhos eleitos, mas sobretudo porque são - 13 - geralmente os Presidentes de Câmara, quase em 90% homens, que representam as suas localidades neste tipo de organização. Todavia as eleitas mobilizaram-se no plano dos Estadosmembros e ao nível europeu para fazer adoptar a ideia de uma presença equilibrada na representação local. Europa : O Conselho dos Municípios e Regiões da Europa (CCRE) é uma federação de organizações nacionais de eleitos locais e regionais. Tem a vantagem de estar representado no conjunto dos países da União e nos Estados candidatos à adesão. No seio do CCRE, as eleitas iniciaram um debate nos anos 80 sobre o tema «Mulheres, política e democracia». Por altura da V Conferência das Mulheres Eleitas que se realizou em Dublin em 1995 – e na qual participaram mais de 500 eleitas vindas de toda a Europa –, seria confirmada a defesa do conceito de democracia paritária, mesmo se as considerações quanto aos meios para a atingir (pela incitação ou pela lei) divergiram. Faltava que essas mulheres conseguissem que o tema da igualdade fosse considerado pelo conjunto dos eleitos do CCRE. Tal foi conseguido por ocasião dos XX Estados Gerais do CCRE que tiveram lugar em Tessalónica, em 1996. Com o concurso da Comissão Europeia, desenvolveu-se uma rede de eleitas. A Comissão das Eleitas Locais e Regionais tornou-se um lugar privilegiado de encontro, trocas de experiências e divulgação de práticas promotoras de igualdade no plano local. Contacto : www.ccre.org Pela educação desde a primeira infância Por iniciativa dos municípios, realizam-se acções dirigidas a crianças, tanto rapazes como raparigas, destinadas a sensibilizar para a ideia de igualdade entre os sexos e para a importância da sua mobilização e aplicação no plano mais localizado das cidades. - 14 - Suécia : Na cidade de Gävle, numa creche-infantário para crianças de 1 a 6 anos, a igualdade entre os sexos é definida como um dos objectivos da acção pedagógica. Cada criança é encarada por si mesma, enquanto indivíduo e não enquanto reflexo de qualquer estereótipo sexual, devendo poder desenvolver as suas competências singulares. Raparigas e rapazes são encorajados a ultrapassar as qualidades e os defeitos habitualmente associados a cada sexo, e a ambos são demostrados motivos de orgulho com a sua pertença de sexo. Os educadores realizaram um relatório e um filme sobre o modo como trabalham na promoção da igualdade entre os sexos. Contacto : Björntomtens förskola, Tittmyrvägen 16, 805 96 Gävle, Suède, tel +46 26 16 10 20, fax +46 26 16 13 18 www.skola.gavle.se/bjorntomten/ França : Em diversas cidades funcionam, desde finais dos anos 70, Conselhos Municipais de Crianças. Na maior parte dos casos, este conselhos são compostos, tanto quanto possível por igual número de rapazes e raparigas. Mesmo não sendo possível um balanço real, tem-se constatado que várias as raparigas que passaram por essa experiência se envolveram posteriormente na vida política. Fonte : uma pesquisa num motor de pesquisa através do termo «conseils municipaux d’enfants» permite aceder aos sites das cidades que dispõem dessa estrutura. Pelo acompanhamento das candidatas e recém eleitas Visto que possuem experiência da vida municipal, as eleitas podem não só encorajar outras mulheres a serem candidatas, e - 15 - acompanhar as recém eleitas nos conselhos municipais, mas também, e quando estão em lugares de decisão, escolher mulheres para cargos adjuntos. Suécia, Finlândia, Noruega : O sistema de «madrinhamento» (mentoring) é frequente nos países nórdicos. Trata-se de um esquema no qual uma autarca experiente assegura a formação de uma recém eleita, nomeadamente quanto à postura e ao comportamento implícitos no exercício das funções de conselheira municipal, ao mesmo tempo que a acompanha e ampara para evitar desânimos. Por decisão dos partidos políticos Vários partidos estipularam regras internas segundo as quais as respectivas direcções partidárias devem respeitar uma quota de mulheres no seu seio e ficam obrigadas a apresentar uma percentagem mínima de candidatas em todas as campanhas eleitorais. Os partidos sociais-democratas e liberais, nos países nórdicos, foram os primeiros a adoptar e respeitar as quotas para ambos os sexos nas suas instâncias de direcção e nas listas de candidatos a todas as eleições. Os partidos Verdes, desde a sua emergência na cena política, aplicaram geralmente a regra da paridade nas candidaturas para eleições a todos os níveis. Suécia : Na Suécia, país que não possui legislação nacional sobre as quotas, a quase todos os partidos, sob pressão das organizações feministas e de associações de mulheres dos partidos, instauraram nos vários níveis de constituição das listas a adesão ao sistema «fecho-eclair» – um sistema que prevê a alternância entre os sexos em toda a lista, e que assegura - 16 - desta forma o respeito de uma paridade de facto, bem como a certeza de haver mulheres em lugares elegíveis. É na Suécia que a representação feminina, tanto no Parlamento como no seio do Governo, é a mais elevada da União Europeia, o que prova que a solução legislativa não é o único meio de incrementar a presença das mulheres na política e que outras formas de acção, em particular medidas voluntaristas que fixam objectivos numéricos a serem atingidos nas listas que apresentam, podem revelar-se eficazes. Dinamarca : Em 1977, o Partido Socialista Popular dinamarquês decidiu que, nos órgãos de direcção como nas listas de candidaturas às assembleias, cada grupo, de mulheres e homens, devia atingir pelo menos 40%. A medida, de início aplicada às eleições nacionais e europeias, foi concretizada em 1988 nas eleições locais *. Fonte : Monique Leijenaar em colaboração com a rede europeia de peritos «Les femmes dans la prise de décision», Comment créer un équilibre entre les femmes et les hommes dans la prise de décision politique, Communautés européennes, 1997 11. Alemanha : O Partido Socialista alemão (SPD) optou em 1979 por uma estratégia diferenciada e progressiva. Diferenciada, na medida em que as quotas foram inicialmente de 40% de mulheres nos órgãos dirigentes do partido, mas apenas de 33% nas listas de candidaturas. Progressiva, porque se previa que a partir de 1998 a percentagem nas listas eleitorais seria 40%. Nesse país, o Partido os Verdes optou desde os anos 80 pela paridade absoluta das candidaturas. Para uma campanha a favor da presença acrescida de mulheres na política, os Verdes da cidade de Hamburgo apresentaram, em 1986, uma lista composta unicamente por mulheres que teve um sucesso inesperado obtendo 10% dos votos. * 11 A indicação (*) significa que os exemplos mencionados em diversas ocasiões são retirados desse guia. - 17 - Pela lei Em três países da União Europeia, as leis eleitorais obrigam actualmente os partidos a apresentar um mínimo de candidatos de um e do outro sexo nas listas para as eleições locais. A adopção desse tipo de legislação foi em todos os países objecto de controvérsias e de inflamados debates filosóficos. Em 1982, o Parlamento francês tinha adoptado um texto que impunha uma representação mínima de 25% para ambos os sexos nas listas de candidatos às eleições municipais nas autarquias com mais de 3 500 habitantes. Essa lei nunca foi aplicada. Com efeito, seria anulada pelo Conselho Constitucional. Teve de se esperar pelo ano 2000 e pela revisão da Constituição francesa para que a lei impondo a paridade nas autarquias de mais de 3 500 habitantes fosse adoptada e concretizada (veja-se à frente). Também a lei italiana de 25 de Março de 1993 previa um critério de representação máxima de candidatos de um e do outro sexo nas - 18 - listas municipais. Nas autarquias de menos de 15 000 habitantes, este máximo era de 75 % , e de dois terços naquelas com mais de 15 000 habitantes. Esta lei foi aplicada por altura das eleições municipais de 1995, que viram praticamente duplicar o número de eleitas (passou-se de 6 % para 13 %). A Corte Constitucional italiana anulou posteriormente da lei eleitoral os artigos sobre as quotas, em concreto as relativas às autarquias. Nas seguintes eleições, a percentagem de mulheres candidatas e eleitas decresceu. Uma modificação da Constituição, em 2003, permite a futura modificação da lei eleitoral e prevê acções positivas à escala nacional e regional. Bélgica : A lei de 24 de Novembro de 1994 tornou inaceitáveis, para todos os escrutínios, as listas de candidaturas que apresentassem mais de 2/3 de candidatos do mesmo sexo. Esta medida induziu um aumento progressivo do número de eleitas. De 20% em 1994, a percentagem de eleitas locais para a totalidade do país passou para 28% no seguimento das eleições autárquicas de Outubro de 2000 – com ligeiras diferenças nas diversas regiões. Enquanto que em 1994 se contava 18% de mulheres eleitas na região de wallonia, 20% na região flamenga e 28% na região de Bruxelas Capital, em 2000 estes valores eram, respectivamente, 26, 27 e 38%. Note-se igualmente o acréscimo do número de mulheres burgomestres, ainda que mais lento : de 5% na região de wallonia e na região flamenga contra 11% para a região de Bruxelas Capital, a percentagem passou, respectivamente, para 7% nas duas primeiras regiões e para 16 % em Bruxelas – Capital. A revisão constitucional adoptada em Fevereiro de 2002 garantiu a igualdade das mulheres e dos homens e a legitimidade das acções positivas para a atingir. Uma disposição suplementar declara inconstitucional «os governos uni-sexo em todos os níveis do poder». Graças a esta revisão, duas novas leis (17 de Junho e 18 de Julho de 2002) instauraram a paridade entre os sexos nas listas de candidaturas e a alternância nos dois primeiros lugares. Fonte : Vers la démocratie paritaire. Analyse des élections communales et provinciales du 8 octobre 2000, Ministère fédéral de l’Emploi et du Travail, Direction de l’Egalité des Chances, Bruxelles, 2001, p. 74, 81, 90, 96. - 19 - França : A lei de 6 de Junho de 2000, «relativa à igualdade de acesso de mulheres e homens aos mandatos eleitorais e funções electivas», impõe 50 % de candidatos dos dois sexos nas listas municipais de autarquias com mais de 3 500 habitantes, nas quais o escrutínio se processa no quadro da proporcionalidade das listas. Estando as listas «bloqueadas» (os eleitores e eleitoras votam por uma lista sem poder escolher um nome), deviam comportar tantas mulheres como homens por grupos de seis candidatos. São excluídas da competição eleitoral as listas que não respeitam esta regra. As eleições municipais de Março de 2001 viram o número de eleitas passar de 22% para 47,5% nas autarquias submetidas à lei. Por efeito de contágio, mesmo as pequenas autarquias onde a lei não se aplica viram igualmente o número de candidatas e eleitas aumentar. Notese, no entanto, que a percentagem de mulheres Presidentes de Câmara e de Junta teve um aumento pouco significativo (passou de 6,5 à 7,5 %). Fonte : O Observatório da Paridade, estrutura governamental, recenseia os efeitos mas igualmente os limites da lei – consultar www.observatoire-parité.gouv.fr Grécia : Nos termos do artigo 116.2 da Constituição, revista pela lei de Maio de 2001, é obrigatória uma participação equilibrada das candidaturas de cada sexo nas listas eleitorais no plano local e regional. As listas que não contêm pelo menos um terço de mulheres são recusadas. Trata-se contudo de um voto preferencial e não de listas «bloqueadas». Assim, o aumento da percentagem de mulheres eleitas por ocasião das últimas eleições de 2002 foi limitado, passando de 7 % a 12 % (e na medida em que o princípio das quotas não se aplicava para a eleição do Presidente da Câmara ou Junta, continua a existir não mais do que 16 mulheres em 900 Presidentes, contra as precedentes 14). Um dos resultados positivos da adopção de quotas é que o número de conselhos municipais sem qualquer mulher regrediu fortemente, passando de 372 para 116 em 900. - 20 - Atendendo às dificuldades específicas com que se deparam as eleitas no plano local O exercício de um mandato público representa um árduo envolvimento : as horas passadas em reuniões e os encontros com a população vêm juntar-se ao tempo de trabalho profissional e aos outros tempos da vida quotidiana. São as mulheres que assumem hoje em dia, em todos os países da União, o grosso das tarefas domésticas e que, sendo o caso, ainda têm por sua conta os parentes idosos. Eleitas, foram as mulheres que fizeram surgir com peso, no debate público, a exigência de uma organização do trabalho no seio dos conselhos municipais que seja compatível com o conjunto das outras obrigações sociais. Mas dar voz a esta reivindicação pressupõe que as eleitas atinjam um «mínimo crítico» – estima-se que será de pelo menos 30%. Com efeito, menos do que isso defrontam grande dificuldade em fazer entender os constrangimentos que têm de gerir diariamente, e só além desse mínimo conseguem encontrar eco junto das outras autarcas sem risco de serem delegitimadas. Nessas circunstâncias podem então trazer a lume questões até aí ignoradas pelas assembleias compostas por uma presença masculina dominante : tentar, por exemplo, que as horas e a duração das reuniões sejam compatíveis com a vida pessoal e familiar. Suécia : Quase todos os partidos suecos têm federações de mulheres que defendem as reivindicações das mulheres e promovem o lugar das mulheres nos cargos políticos. Para tal, organizam nomeadamente acções de formação para as novas eleitas e lançam as suas candidatas com vista à constituição das listas. O Partido Social-democrata, o maior dos partidos políticos suecos, tem uma federação de mulheres que defende activamente o lugar das mulheres no seio partidário. Há já cerca de uma dezena de anos, esta federação publicou para uso das - 21 - mulheres um guia sobre a maneira de promover e apoiar futuras candidatas. Entre inúmeros concelhos práticos, descrevem-se no guia cinco «métodos autocráticos» usados com frequência pelos homens contra as mulheres quando estas chegam, como recém eleitas, a assembleias até aí só masculinas : ignora-se a interlocutora, não a ouvindo ou não lhe prestando atenção; ridiculariza-se a sua intervenção; retém-se a informação; faz-se uso da dupla penalização (double-edge punishment), fazendose com que as mulheres se sintam culpadas ou falhadas. Este guia foi traduzido em inglês e espanhol. Contactos : Federação das mulheres sociais-democratas : S-kvinnor, Box 70458, 107 26 Stockholm, tel : +46 8 700 26 00, fax +46 8 676 09 26 http://www.s-kvinnor.a.se/ EM QUE DOMÍNIOS ? As funções electivas Em todos os países da União Europeia, as autarquias são administradas por um concelho municipal eleito por sufrágio universal. Os modelos do escrutínio diferem contudo de um país para o outro, e por vezes, num mesmo país, segundo a região ou a escala das autarquias. A regra dominante é, para o concelho municipal, a eleição por escrutínio da lista. A lista pode ser «bloqueada» (não se pode mudar a ordem dos candidatos nem riscar o nome de alguns). Ou pode tratar-se de um modo de escrutínio dito «preferencial» e/ou de «panachage», possibilitando ao eleitor escolher entre os candidatos, votando em várias listas. Na maior parte dos países, os Presidentes e os executivos camarários são eleitos por sufrágio universal directo ou indirecto (para o concelho municipal). Noutros, o Presidente é - 22 - designado pelo Estado e/ou as instâncias políticas municipais são, não eleitas, mas nomeadas pelo Presidente. Mencionámos atrás diferentes métodos que estimularam o crescimento do número de mulheres nas assembleias eleitas. De qualquer forma, também as medidas implementadas por alguns Presidentes, homens ou mulheres, podem ser importantes, mesmo se é verdade que enquanto decisões tomadas a título individual possam ser anuladas pela pessoa que venha a sucede-los nessa função. Bélgica : Após as eleições municipais em Outubro de 2000 em Mons, o novo Burgomestre favoreceu a entrada de eleitas no executivo municipal a ponto de se ter triplicar a sua presença nesta instância; sendo que a percentagem de eleitas no concelho ultrapassava a barreira dos 35% (28 membros em 45). Fonte : Vers la démocratie paritaire. Analyse des élections communales et provinciales du 8 octobre 2000, Ministère fédéral de l’Emploi et du Travail, Direction de l’Egalité des Chances, Bruxelles, 2001 Itália : Após ser eleita, a Presidente de Cosenza, na Calábria, nomeou quatro Vereadoras sustentando que a lei lhe conferia o direito de nomear as pessoas que lhe pareciam convir às funções da vereação, sem ter em conta o equilíbrio desejado pelos diversos partidos da coligação que apoiaram a sua campanha. France : A lei municipal sobre a paridade não obriga os conselhos municipais a designar um executivo paritário. Todavia alguns Presidentes tendem a procurar que os executivos sejam o mais possível paritários. - 23 - Os conselhos e comités consultivos nomeados Assumindo propósitos de democratização e de escuta da sociedade, os eleitos nacionais, mas também locais, fazem cada vez mais apelo a conselhos e comités consultivos encarregues de os aconselhar. Os pareceres destes órgãos têm um peso importante no debate público e conduzem a reorientações de decisão. O seu modo de designação é variável segundo os países e também por gabinete. As leis que foram votadas dizem geralmente respeito a órgãos consultivos nacionais. Dinamarca : Uma lei de 1985 estipula que a representação de mulheres e homens nos organismos cujas actividades têm um alcance político na sociedade deve ser equilibrada e que as organizações habilitadas a propor pessoas para uma designação devem apresentar pelo menos um candidato e uma candidata *. Finlândia : A lei de 1987 sobre a igualdade estipula que as mulheres e os homens devem ter assento nas comissões e comités consultivos segundo uma base tão igualitária quanto possível. Uma lei, que entrou em vigor em 1995, institui uma quota mínima de 40% de cada sexo nas instâncias locais e nacionais, com excepção do Conselho eleito. Ao nível local, as quotas aplicam-se assim ao comité executivo municipal nomeado, tal como aos comités que desempenham um papel importante nos processos de tomada de decisão local. A municipalidade de Raahe, que conta apenas com 16% de mulheres no conselho municipal, compreende 40% no seu executivo. A obrigação de uma representação equilibrada dos dois sexos aplica-se ainda às empresas semi-públicas no seio das quais as municipalidade estão representadas, em órgãos que são constituídos por pessoas nomeadas 12. 12 A nossa pesquisa demonstrou no entanto que as mudanças operadas desde há uma - 24 - Suécia : O programa governamental adoptado em 1987 com a designação «partilha de poder, influência e responsabilidade em todas as esferas da sociedade», previa que a percentagem de mulheres nos conselhos e comissões públicas deveria atingir os 30% em 1992, 40% em 1995, e a paridade em 1998. * Itália : Em Modena, em Emilia-Romagna, a Vereadora adjunta do urbanismo fez aprovar no seio do departamento municipal uma decisão para impor uma representação mínima de 40% de mulheres (ou de homens) na Comissão dos Edifícios Públicos. A administração local A descentralização, generalizada por todo o lado, e a necessidade de mobilizar competências progressivamente década na gestão das municipalidades finlandesas, contribuíram para manter desigualdades flagrantes entre homens e mulheres, quer porque estas últimas continuam a ver-se amplamente excluídas dos cargos de responsabilidade administrativa mais elevados quer pela influência crescente dos grupos de gestão não oficiais – que intervêm a montante das estruturas eleitas. - 25 - exigentes, contribuíram para aumentar o papel da administração local. Mas tal como na função pública nacional, constata-se que os postos mais elevados da hierarquia são maioritariamente ocupados por homens e, além do mais, que as mulheres que ocupam funções de direcção permanecem maioritariamente acantonadas em domínios sociais, escolares e eventualmente culturais (como de resto se passa com as mulheres eleitas nos executivos autárquicos). Deve ter-se, pois, uma atenção particular às modalidades de recrutamento e de gestão da carreira dos funcionários locais. França : O cargo de «delegada para a igualdade de oportunidades» foi criado no seio da administração municipal de Rennes, em 1995. A reflexão desenvolvida debruçou-se sobre acções concretas em diversos domínios da administração : formação e qualificação permitindo às mulheres aceder a melhores empregos, júris mistos para os recrutamentos, mobilização de mulheres para domínios até aí masculinos, desaparecimento progressivo dos tempos incompletos que eram essencialmente um peso para as mulheres e desenvolvimento do tempo parcial semanal ou anual. O género é tido em conta na Gestão dos Recursos Humanos. Bélgica : O Decreto-real de 27 de Fevereiro de 1990, recomenda a criação, a nível comunal, de órgãos de concertação para a igualdade de oportunidades. A maior parte das municipalidades criaram esse serviço. Na Antuérpia, a municipalidade criou um «Serviço de Emancipação», composto por três funcionários a tempo inteiro, dispondo de um orçamento próprio e de uma comissão interna de acompanhamento. Relatórios que esse serviço publica habitualmente demostraram como a percentagem de mulheres aumentou sensivelmente de 1990 a 2000 e como a sua condição estatutária melhorou por comparação com a dos homens (mesmo se é verdade que, globalmente, o recurso aos contratos temporários tem vindo a acentuar). A segregação vertical diminuiu : as mulheres - 26 - representam actualmente perto de um terço dos quadros de categoria A (contra menos de 10% dez anos antes). Contacto : [email protected] Suécia : A Federação das Municipalidades Suecas (Svenska kommunförbundet) desenvolveu, em 2003, uma forte campanha para alargar o número de mulheres técnicas superiores das municipalidades. Como constata a Federação, se na administração local 79% dos empregados e funcionários municipais são mulheres, elas constituem, no entanto, apenas 13% dos directores gerais. Face à necessidade de dirigentes administrativos competentes, afirma-se, concomitantemente, que as municipalidades devem garantir os meios de promover e recrutar tanto as mulheres como os homens. Com base num inquérito científico, e graças a uma série de seminários onde tais questões são tratadas, a Federação pretende clarificar os factores que contribuem para o recrutamento de mulheres dirigentes e que as induzem a desenvolver carreira nas municipalidades. Contacto : Lena Lindgren, responsável pela campanha, tel: +46 8-452 7610 ou +46 70-319 7610, [email protected] Ingrid Tollgerdt-Andersson, autora do relatório, tel: +46 431-366 110, +46 70-810 4910 As cidades Jönköping e Växjö, feminizaram a ocupação dos cargos públicos mais qualificados. As duas municipalidades recorreram a serviços de recrutamento ou a redes mais informais com o objectivo de recrutar mulheres. Calcula-se que uma mulher directora de uma administração tem efeitos positivos no recrutamento de outras mulheres. Em Jönköping, a administração local reorganizou-se para permitir que dactilógrafas, antes agrupadas num pólo de bases de dados, pudessem integrar outras equipas de trabalho e beneficiar de formações que permitem mais qualificação e aumentos salariais. Por sua vez, a autarquia de Växjö instiga os funcionários, mulheres e homens, a fazer carreira no seio da administração municipal e procura assim assegurar uma base de recrutamento de mulheres dirigentes. Foi realizado um vídeo em que empregados, eleitos e funcionários municipais, assim - 27 - como outros protagonistas locais, apresentam diversas discriminações de que são muitas vezes vítimas as mulheres no quadro das tomadas de decisão. Os novos empregados e funcionários são incentivados a visionar este filme. Contacto : O vídeo de Växjö, legendado em inglês, e a brochura que o acompanha podem ser obtidos telefonando ou escrevendo para: Jämställdhetskommittén, Växjö kommun, Box 1222, 351 12 Växjö, Suécia, tel +46 470 413 74 fax + 46 470 256 08 [email protected] http://www.vaxjo.se/vaxjowww/utsidan/index.asp http://www.jonkoping.se/ Relativamente a Jönköing, pode enviar-se um e-mail ao comité executivo : [email protected] Uma vez que as condições de trabalho e as facilidades concedidas na gestão dos horários desempenham um papel importante enquanto factores profissionais, certas medidas podem facilitar a carreira das mulheres na administração local. Bélgica : A municipalidade de Huy comprova que a adopção de uma maior flexibilidade nas horas de trabalho permitiu aos funcionários autárquicos gerir o seu tempo de trabalho em função das suas necessidades, ao mesmo tempo que respeitam o seu horário de 35 horas por semana. Estas medidas que se dirigiram ao conjunto do pessoal permitiram às mulheres progredir na carreira : a possibilidade de seguir cursos de formação durante as horas de trabalho (quando anteriormente estes cursos eram ministrados em período pós-laboral), faz parte dos dispositivos susceptíveis de ajudar as mulheres a progredir na carreira. - 28 - SEGUNDA PARTE Considerar a dimensão de género nas políticas locais PORQUÊ ? Porque a presença das mulheres nos órgãos de decisão não é só por si suficiente para transformar os modos de gestão Quando as mulheres chegam às assembleias eleitas ou acedem a funções de responsabilidade das quais se viam até aí excluídas, são confrontadas com regras, usos, uma cultura que foi elaborada sem elas. Em razão da sua história, das suas experiências, das tarefas específicas de que estão incumbidas, conhecem múltiplas dificuldades ao depararem-se com um sistema instituído pelos homens e ajustado a certas formas de retórica ou muito simplesmente a métodos de trabalho cujos horários não têm em conta as exigências da vida quotidiana. Ora, esta questão remete para o próprio funcionamento da democracia. Quem é escutado e considerado na altura dos debates ? Frequentemente, em razão da inexperiência, quando recém chegados às assembleias, ou da contestação, a voz das mulheres mas também a dos jovens (e ainda mais a das mulheres jovens) é pouco tida em conta. Muitas vezes as mulheres sofrem para decifrar aquilo que são regras não escritas do funcionamento das assembleias, sendo alvo de diversas formas de misógenia. A democracia subentende idealmente que os representantes encarregues de tomar decisões em nome de todos sejam capazes de considerar a diversidade das necessidades sociais. O que pressupõe não apenas a possibilidade de ouvir tais necessidades mas também a efectividade da sua análise colectiva no seio das instâncias deliberantes e da administração. - 31 - Porque o acesso aos serviços públicos difere segundo o sexo da pessoa A cidade não é um espaço neutro. É antes produto de uma história e reflexo de uma cultura. Permanece, desde logo, marcada por uma concepção de separação entre o que é privado e o que é público, uma concepção fortemente ligada à ideia de complementaridade e não de igualdade entre os sexos. Se as fronteiras entre o privado e o público se alteraram através da história, o primeiro foi considerado como sendo assunto das mulheres e o segundo como o dos homens. Através do seu urbanismo, das possibilidades de deslocação que oferece, da segurança dos cidadãos no espaço público, a cidade não se revela igual para todos. Como sublinha uma autarca Verde, na Finlândia um homem de 50 anos recorreu muitos menos a serviços municipais do que uma mãe de três crianças de cerca de trinta anos – daí a importância de que mulheres encarregues de crianças pequenas façam parte das instâncias políticas locais para fazer valer o seu ponto de vista, fundado sobre a experiência que têm das necessidades de uma família no quotidiano. Podem declinar-se, é certo, numerosas desigualdades ao distinguir os jovens dos velhos, as pessoas dotadas de mobilidade e os deficientes, os nacionais ou tidos como tal e as pessoas olhadas como estrangeiras, os heterossexuais e os homossexuais, etc., mas em todas estas categorias as mulheres são susceptíveis de discriminações múltiplas ligadas à idade, deficiência, origem étnica, orientação sexual. - 32 - Porque os decisores, homens e mulheres, nem sempre se apercebem das discriminações ligadas ao sexo Os eleitos, tal como outros funcionários e responsáveis associativos – homens e mulheres – interrogados sobre a dimensão de género nas políticas municipais ficam geralmente surpreendidos. Eles e elas dizem trabalhar para o «interesse comum». O único domínio no qual concebem uma política dirigida às mulheres é geralmente a guarda das crianças, sobretudo das mais pequenas. Portanto, são as mães que são consideradas como implicadas – sem que se pense nos pais. Através da Europa constata-se, porém, que nas cidades e mesmo nas comunidades rurais começam a surgir outras interrogações, com o(a)s eleito(a)s a procurar alcançar com a actividade política meios de lutar contra discriminações de que as mulheres são vítimas. COMO ? Realizando o apuramento estatístico das desigualdades entre os sexos Quantas mulheres e quantos homens ? A pergunta não diz unicamente respeito às instâncias eleitas, aos conselhos e comités consultivos ou à administração local. Está, na verdade, na base de um levantamento de desigualdades e possíveis discriminações que acontecem no espaço da cidade. Ela pressupõe antes de mais que se proceda ao seu equacionamento. Mas as estatísticas desagregadas por sexo, preâmbulo obrigatório de uma análise acerca das desigualdades entre mulheres e homens, permanecem ainda raras no plano local. - 33 - Noruega : Em 2001, O Gabinete Central de Estatística norueguês publicou um relatório intitulado Os homens e as mulheres na Noruega, ano 2000, que continha, nomeadamente, um índice da igualdade dos sexos, no qual eram classificadas, por grau de igualdade, as 435 municipalidades do país. Esse índice contempla dados referentes a investimentos efectuados em creches, número de mulheres ocupando cargos de responsabilidade nas municipalidades, número de mulheres com idades compreendidas entre os 20 e os 39 anos, nível da sua qualificação relativa, tipos de emprego ocupados e salários. A perspectiva que inspirou essa iniciativa foi que o índice podia ser utilizado nas actividades locais em favor da igualdade dos sexos. Fonte : Sexto relatório da Noruega ao Comité CEDAW, CEDAW/C/NOR/6. www.un.org/womenwatch/daw/cedaw/ Portugal : As Câmaras e Juntas de Freguesia das autarquias da Grande Lisboa (Amadora, Cascais, Lisboa, Loures, Oeiras, Sintra e Vila Franca de Xira) financiaram a edição de monografias relativas à evolução da presença feminina nas municipalidades respectivas: Protagonistas do Poder Local. Estas monografias incluem dados estatísticos e informações acerca da situação económica e social das mulheres em cada localidade. Contacto: [email protected] Bélgica : Na Antuérpia, o «Serviço Emancipação », que coordena as políticas de igualdade de oportunidades na municipalidade e trabalha com a Universidade da Antuérpia, produz estatísticas desagregadas por sexo e organiza sessões de informação sobre o assunto. - 34 - Contemplando o funcionamento da governação no plano local Quem decide o quê na cidade e como resultado de que método de consulta ou de debate no seio da instância eleita ? A questão raramente é colocada, a não ser pelas insatisfações expressas por eleitos, cidadãos e ONG’s que dizem não ser ouvidos e atendidos. Trata-se em particular do caso das mulheres. Os exemplos de «boas práticas» nesta matéria não são numerosos, mas alguns devem de qualquer modo ser destacados, além disso é de sublinhar a criação em 2003, por iniciativa de Estugarda, de uma rede de cidades europeias empenhadas em analisar tal questão. Suécia : A Federação das Municipalidades da Suécia propôs um método de trabalho para uma política local de igualdade de sexos – método concretizado, sob seu impulso, por diversas comissões municipais de diferentes cidades suecas. O método consiste em analisar quer o número de homens e mulheres entre decisores, executantes e utilizadores dos serviços municipais, quer a repartição dos recursos (ajudas, verbas, subsídios, tempo, serviços, espaços, etc.) em função do sexo, quer ainda as possibilidades de transformar essa realidade. Contactos: www.svekom.se/jamstalldhet/pdf/verkstan(eng).pdf www.svekom.se/jamstalldhet/index.htm Portugal : Em 1997, O Guia do Poder Local no Feminino, com uma tiragem de 20 mil exemplares, foi publicado graças ao apoio financeiro de um vasto leque de parceiros, compreendendo as Câmaras Municipais de Lisboa e da Amadora, várias Juntas de Freguesia, uma instituição bancária e uma editora de dois jornais. O objectivo deste guia era «tornar mais visível a participação feminina no poder autárquico» e reflectir sobre o protagonismo das mulheres na política local. Constituiu um - 35 - documento de consulta e referência para autarcas, políticos e outros actores sociais empenhados na paridade, indicando possíveis caminhos a seguir e medidas exequíveis a implementar no domínio da igualdade de oportunidades, tal como propostas, iniciativas e programas já concretizados a nível municipal. Contacto : [email protected] França : O projecto «Rennes igualdade de oportunidade», financiado pelo Fundo Social Europeu (FSE) no quadro do Programa NOW permitiu dar um novo impulso às acções concretizadas por esta cidade, contribuindo para legitimar os programas em favor das mulheres. No quadro do Projecto Europeu Equal, a vertente relativa à cidade debruça-se sobre a questão do tempo das mulheres quadros superiores e das mulheres trabalhadoras dos serviços : horários demasiado pesados para umas e atípicos para as outras permitem dificilmente articular a vida profissional e a vida privada. O projecto interroga-se acerca dos apoios a organizar para que sejam adoptadas medidas que favoreçam maior implicação das mulheres nos assuntos da cidade. Criando estruturas políticas e administrativas encarregues do dossier «igualdade entre mulheres e homens» As políticas locais em matéria de igualdade são geralmente iniciadas por decisão da assembleia municipal nomear no seu seio um ou uma eleito(a) encarregue do dossier. Este acto marca o reconhecimento de uma vontade política. Acompanha-se por vezes da criação, sob égide desse eleito, de uma comissão ou gabinete no seio da assembleia municipal – uma estrutura consultiva para a qual são convidados os membros das organizações da sociedade civil local com trabalho na área. Em diversas municipalidades existe ainda uma célula administrativa - 36 - encarregue do dossier e que, nas melhores situações, se encontra apta a interceder no sentido de que as decisões políticas, em todos os domínios, tomem em consideração o impacto em termos de género. Finlândia : Desde finais dos anos setenta (1979) até inícios dos anos oitenta, experiências voluntárias de Comités de Igualdade de Oportunidades realizaram-se em certas localidades finlandesas. De quinze em 1981, os comités passaram a trinta em 19851986, sendo catorze actualmente, essencialmente em grandes cidades. No total, à volta de quarenta municipalidades finlandesas ensaiaram a experiência, o que representa perto de 10% de todas. Sem serem organizados numa base de obrigatoriedade, estes comités encontraram rapidamente obstáculos : insuficiência de recursos, falta de interesse, falta de apoio dos eleitos municipais, fraca actividade pelo seu próprio lado… Foi em parte como resultado das reformas institucionais a nível local que progressivamente os comités desapareceram, o que teve como consequência um tratamento menos activo (por vezes mesmo inexistente) da questão da igualdade entre os sexos. A iniciativa local, quando não obedece a enquadramento formal, fica sujeita a flutuações políticas ou sociais que põe em causa a perenidade desses conselhos e a sua eficácia, e coloca graves problemas no funcionamento dos comités : a ausência de um estatuto estável e reconhecido, a nomeação de membros que não têm uma posição influente no seio do seu partido político ou na política local em geral. As cidades de Helsínquia e Oulu desenvolveram Comités de Igualdade de Oportunidades «operacionais» que, ainda que por vezes em conflito com as autoridades municipais, realizaram acções na promoção da igualdade homens/mulheres. Contactos : O site comum das três instâncias estatais que trabalham na promoção da igualdade de oportunidades : http://www.tasa-arvo.fi/www-eng/index.html. E o site da Associação finlandesa do poder local e regional, formado por cidades e comunas finlandesas : http://www.kuntaliitto.fi/ - 37 - Portugal : No seio da Assembleia Municipal de Lisboa, foi criada uma Comissão Permanente para a Igualdade de Oportunidades, tendo o executivo municipal decidido que a igualdade das mulheres e dos homens é uma questão que deve ter o mesmo estatuto que outros domínios da intervenção municipal. Cabe ao Presidente da Câmara Municipal assegurar a coordenação e presidir ao conselho consultivo nomeado para o efeito – no qual têm lugar representares de associações de mulheres, conselheiro(a)s para a igualdade de oportunidades da Câmara, um(a) representante da comissão permanente da assembleia municipal e consultores para os direitos das mulheres. Cada departamento da Câmara nomeia um(a) conselheiro(a) para a igualdade, encarregado(a) de assegurar a coordenação com organizações sindicais, o respeito pela igualdade de acesso das mulheres e dos homens à promoção, bem como de representar uma ponte junto do conselho consultivo municipal. Este sistema permite assegurar uma política integrada e transversal da igualdade de oportunidades, e a consciência de homens e mulheres, em todos os níveis da administração e ao nível político, da dimensão de género. Fonte : Anna Coucello, «La parité au Portugal», in Les femmes dans la prise de décision en France et en Europe, sous la direction de Françoise Gaspard, Paris, L’Harmattan, 1997. Contacto : Conselho Municipal para a Igualdade de Oportunidades entre Homens et Mulheres, Pelouro da Acção Social, Câmara Municipal de Lisboa, 1100-365 Lisboa Itália : As leis de 1990 e 1991 criaram diversas instituições para a igualdade de oportunidades, não só a nível nacional, mas também local, entre as quais se deve distinguir : a) os Comités de Igualdade de Oportunidades nas empresas públicas e nas instituições locais, que defendem os direitos das empregadas e dependem do Comité Nacional junto do Ministério do Trabalho ; b) a Comissão de Igualdade de Oportunidades – cujo papel é sobretudo político – composta por representantes de diversas instâncias locais (sindicais, associações femininas, conselho municipal); c) os Conselheiros da Paridade, encarregues de - 38 - arbitrar discriminações específicas; d) os Conselhos dos Eleitos, fazendo parte do Conselho Municipal, que têm uma função consultiva relativamente à igualdade de oportunidades. Todavia, o peso muito relativo destas instituições, cujos recursos financeiros são parcos, está estreitamente dependente do envolvimento das mulheres que nelas participam e da formação da classe política feminina. Procedendo a uma análise dos orçamentos locais para avaliar as discriminações Uma análise dos orçamentos que permita medir a locação dos recursos financeiros em função do género (gender budgeting) tem por objectivo avaliar as verbas atribuídas maioritariamente aos homens ou às mulheres, ou indiferentemente aos dois sexos. Os modelos de análise são recentes, mas municípios há que já os tomaram em conta para reformular as suas políticas. Suécia : Um dos conselhos municipais de bairro de Gotemburgo, na Suécia, analisou o modo como o município subvencionava as ONG’s do sector social. Deu-se conta que as associações - 39 - dominantemente femininas não recebiam mais do que um quinto dos subsídios municipais para o domínio associativo – sem contar com os centros de acolhimento. Na verdade, parecia que os centros de acolhimento de mulheres vítimas de violência recebiam subsídios ligeiramente mais elevados do que as associações de homens que geriam centros de cura de alcoolismo. Mas considerando que as mulheres acolhidas estão na maior parte do tempo acompanhadas com os filhos, a verba destinada aos homens era de facto mais avultada. Depois desta análise, o conselho municipal de bairro em questão reequilibrou os subsídios, não sem antes examinar o interesse social e a necessidade de cada actividade. Contacto : [email protected] ou escrever a SDF Lundby, Box 22006, 400 72 Göteborg, Suède, tel: +46 31- 366 70 00. www.lundby.goteborg.se/ (unicamente em sueco) França : O balanço social publicado anualmente pelo município de Rennes contem estatísticas desagregadas por sexo relativamente ao pessoal municipal, sendo um dos objectivos localizar os elementos que atrasam ou bloqueiam a carreira das mulheres e solucionar esse tipo de situações. Itália : Experiências de Orçamentos de Género (gender budgeting) estão em curso nas províncias de Modena, Siena e Génova, com uma ligação em rede dessas iniciativas. A região de Emilia Romagna encomendou um estudo de viabilidade dessa opção para definir o impacto diferenciado das despesas municipais sobre os homens e as mulheres, e determinar os domínios menos dotados à escala local numa óptica de género – nomeadamente os relativos ao acolhimento de crianças de menos de três anos, aos subsídios de família e aos transportes colectivos. Contacto : Università degli Studi di Modena e Reggio Emilia Dipartimento di Economia Politica, 51 Viale Berengario, 41100 Modena. - 40 - Adoptando um plano de igualdade dotado de instrumentos de avaliação e acompanhamento Adoptar um plano de igualdade entre mulheres e homens para a cidade constitui um pré-requisito para a consciência das discriminações em razão do sexo. Um tal plano não se pode elaborar sem uma análise fundamentada das estatísticas. Mas é evidente que se esse plano deve ser dotado de meios financeiros e humanos, também não será eficaz a não ser que seja munido de dispositivos de acompanhamento, ou seja de uma avaliação periódica. Finlândia : A lei de 1995 prevê três tipos de obrigações das municipalidades. A primeira diz respeito à composição sexuada dos órgãos político-administrativos das municipalidades, com uma quota de 40% no mínimo por cada sexo. As municipalidades são, por outro lado, compelidas a promover a igualdade de forma sistemática. Por fim, é exigido às municipalidades, enquanto empregadoras, actuar em favor da igualdade dos sexos na esfera profissional A lei estipula que os empregadores com mais de trinta pessoas devem introduzir medidas para promover a igualdade. Tal implica a introdução de medidas de igualdade de oportunidades no recrutamento, nas oportunidades de carreira, nas condições de trabalho ou medidas visando refrear o assédio sexual. Os dois últimos artigos da lei revelam-se de mais difíceis avaliação 13. Suécia : O Comité para a Igualdade dos Sexos, no município de Växjö tem o estatuto de delegação municipal e gere o seu próprio orçamento. A sua Presidente é Vereadora e faz parte do comité 13 Note-se contudo que em 2003, cerca de oito anos depois da adopção da lei, apenas duas das cidades sobre as quais a pesquisa se debruçou tinham elaborado um plano de acção visando promover a igualdade dos sexos – uma terceira estava em vias de o fazer. - 41 - executivo da municipalidade. O programa para a igualdade dos sexos diz respeito à municipalidade quer enquanto empregadora quer enquanto instância de iniciativa política. O plano é detalhado e dirigido a objectivos muito precisos. Foi traduzido em várias línguas e é difundido entre os cidadãos. Contacto : Jämställdhetskommittén, Växjö kommun, Box 1222, 351 12 Växjö, Suède, tel +46 470 413 74 fax + 46 470 256 08 [email protected] Criando lugares de informação dirigidos especificamente às mulheres Já não é necessário demonstrar a importância de existirem lugares visíveis e facilmente acessíveis para as mulheres desejosas de obter informações sobre os seus direitos ou ajuda nos passos a empreender em caso de dificuldades na vida profissional ou familiar. Itália : Em Modena, Veneza e Granarolo, foram criados «Guichets Mulheres» para informar e guiar as mulheres nos seus percursos profissionais e familiares e dar-lhes em particular informações sobre as oportunidades de emprego ou de formação a nível local. Contactos : -www.comune.granarolodellemilia.bo.it/granarolo/ avvisi/sportello_donna.html -www.comune.modena.it/informadonna/archivio.html -www.provincia.venezia.it/lavoro/donne.html Portugal : Em ligação com o projecto «Bem me quer», e em partenariado com municipalidades portuguesas, «Espaços de Informação Mulher», integrados nas estruturas municipais, foram criados em Sintra e no Montijo. Para além da sua função no domínio do emprego, esses espaços dispõe de centros de documentação. Em colaboração com iniciativas locais, públicas e privadas, - 42 - incitam à criação de redes para facilitar o conhecimento dos quadros de vida da população feminina nas respectivas autarquias – o que pode ser plenamente utilizado pelo próprio poder local – e contribuem para destacar a importância da acção das próprias mulheres no desenvolvimento económico, social e cultural das localidades. Esta experiência inscreve-se no programa europeu Rede Europeia de Acompanhamento de Mulheres em Fase de (Re)inserção profissional – REDA, e constitui uma das iniciativas da Comissão para a Igualdade e os Direitos das Mulheres (CIDM.) Contacto : Comissão para a Igualdade e os Direitos das Mulheres – CIDM, Av. Da República, 32, 1º, 1050-193 Lisboa. tél.: 217983000, fax: 217983098 www.cidm.pt Finlândia : A casa das raparigas da cidade de Helsínquia é uma casa exclusivamente para as jovens. Esta estrutura foi criada por iniciativa de investigadoras que reparam que as actividades das casas de jovens eram, no geral, determinadas pelos rapazes e que as raparigas não se sentiam à vontade. O objectivo era que estas pudessem encontrar-se umas às outras, sem serem incomodadas, ou mesmo assediadas, como parece frequente no caso de espaços mistos. A casa das raparigas não substitui as outras casas de jovens, mas oferece actividades diferentes às suas utilizadoras que se juntam em «grupos de raparigas»: grupos de composição estável, em que raparigas da mesma idade se encontram para falar da sua vida, fazer teatro, dança, desenho – ou qualquer outra actividade escolhida pelos membros que, com a ajuda do pessoal da casa, decidem o que gostariam de fazer e empenham-se nisso. Existem também os «grupos da tarde» onde as raparigas podem ir depois da escola, tal como locais de acesso livre, com café, computadores, etc. Eventos especiais são organizados em certas ocasiões, como o 8 de Março. As raparigas que o desejam podem marcar encontros para discutir os seus problemas com um(a) adulto(a), e a casa trabalha em cooperação com as escolas para dar cursos de educação sexual aos(às) adolescentes. Contacto : http://www.tyttojentalo.net - 43 - Grécia : Por iniciativa do KETHI (Centro de Investigação sobre as Questões de Igualdade) e em ligação com o Secretariado Geral para a Igualdade, foram criados Centros de Informação e Consulta para Mulheres nas seguintes municipalidades : Atenas, Salónica, Patras, Heraklion e Vólos. Esses centros guiam as mulheres em particular nos processos de procura de emprego. Contactos : www.Kethi.gr [email protected] Reforçando os laços e intercâmbios entre organismos da sociedade civil com um ponto de vista feminista Diversas iniciativas relativas à promoção da igualdade de oportunidades foram tomadas sob pressão de organizações, grupos ou redes defendendo um ponto de vista feminista; em primeiro lugar daquelas associações que travam um combate continuado pelo reconhecimento dos direitos das mulheres ou agem activamente fornecendo-lhes ajuda, quer seja nos campos de intervenção tradicional (formação, família) ou não (ajuda às mulheres estrangeiras, prostituição…). Não é mera coincidência o facto dos exemplos mais incisivos contidos neste guia provirem de municípios em que os poderes públicos estruturaram dispositivos para assegurar uma ligação permanente com o sector associativo, e com as iniciativas feministas em particular. Itália : Em Modena, uma «Convenção para as mulheres», adoptada em 1999 por iniciativa de diversos organismos da sociedade civil, permitiu induzir uma dimensão sexuada no Pacto para a Cidade, tomando em consideração as necessidades específicas das cidadãs. Em Veneza, o Centro de Mulheres goza de uma posição privilegiada, sendo gerido pela municipalidade que - 44 - trabalha com instituições de investigação externas, com a Escola de Política para as Mulheres e com outras diversas associações, entre elas o Centro Contra a Violência. Na Calábria, as associações de mulheres desempenharam um papel decisivo na luta para a renovação política e contra a máfia, nomeadamente em Reggio di Calabria e em Lamezia. Contactos : www.comune.venezia.it/c%2Ddonna/index.htm www.comune.modena.it/associazioni/cddonna/casa.html França : Em Rennes, as ligações entre a municipalidade e o meio associativo são historicamente estreitas. As instituições constituem interlocutores privilegiados para os eleitos, nomeadamente em matéria de inovação e de reflexão no domínio social ou dos direitos humanos, nomeadamente dos direitos das mulheres. O Vereador da Igualdade, eleito em 2001, impulsionou o Comité «Mulher na Cidade», que congrega mulheres de todos os horizontes (profissional, universitário, sindical, político, associativo). Este Comité «Mulher na Cidade» reúne todos os dois meses e dispõe de um site na internet. As ligações com gabinetes e departamentos de estudos femininos ou de estudos de género das universidades revelam-se igualmente estratégicas para fomentar as reflexões dos eleitos locais quanto a políticas a concretizar a partir de uma visão informada da realidade das relações homens/mulheres à escala local, e mais particularmente para fazer surgir questões até aí pouco tratadas. Suécia : Em Växjö, todos os anos é organizada pela cidade uma grande conferência internacional onde intervêm investigadores, políticos e actores profissionais próximos deste domínio. Contacto : Jämställdhetskommittén, Växjö kommun, Box 1222, 351 12 Växjö, Suède, tel +46 470 413 74 fax + 46 470 256 08 [email protected] - 45 - França : Em cidades como Rennes ou Toulouse, a reflexão sobre a igualdade provém quer de universidades, reitorias e outros institutos académicos, quer de associações feministas. Em Rennes, investigadoras e eleitas trabalharam sobre a questão das competências das mulheres na política e dos obstáculos que persistem no seu caminho – o pessoal da administração frequentou estágios de esclarecimento dos seus direitos. Desde de 1990, a autarquia encomenda a uma titular da cadeira de estudos feministas da Universidade de Rennes II, um estudo sobre a situação das mulheres-quadro na cidade de Rennes para compreender as discriminações e obstáculos que persistem no acesso aos mais altos cargos de direcção. Itália : Em Itália existe uma equipa proposta pela Universidade em ligação com as eleitas locais. A Vereadora para a Igualdade de Oportunidades em Veneza, propôs a professores da universidade uma «Escola Política de Mulheres» que, durante dois anos, teve muito sucesso junto de administradoras locais e mulheres que queriam entrar na política. Em Emilia-Romagna, as relações com os universitários permitiram que um inquérito sobre a segurança encomendado para a região englobasse a questão do género em dois aspectos : as mulheres emigrantes e a prostituição. Contactos : www.comune.venezia.it/c%2Ddonna/segnalazioni Fonte: Del Re Alisa (2000). A scuola di politica. Milano : Franco Angeli; Quaderni di Città sicure, 1999, n° 16 et 17, et 2000, n° 19. EM QUE DOMÍNIOS ? As competências das autarquias variam de um Estado para outro. Pode pensar-se no entanto que todas as decisões tomadas no quadro local são susceptíveis de ter incidências diferentes sobre os cidadãos, em particular em função do sexo. Além disso, as políticas a nível local podem tomar em consideração as discriminações de que as mulheres são vítimas. - 46 - Os horários e a política dos «tempos das cidades» Foram mulheres que entraram em força nos conselhos municipais, ou frequentemente associações de mulheres no plano local, que chamaram a atenção para uma das discriminações que as atinge: a gestão do seu tempo que não é idêntico ao dos homens na medida em que são elas que continuam, em todos os países da União, a assumir a maior parte das tarefas domésticas e familiares. Eleitas, as mulheres têm de enfrentar um sistema político que nasceu sem elas e em que o tempo dos debates estava desligado de outras funções familiares, asseguradas pelas esposas. Para além da contestação face aos horários de deliberação do conselho - 47 - municipal, a questão do acesso ao conjunto dos serviços da cidade conduz a questionar, de forma global e complexa, as desigualdades dos sexos. É necessário no entanto reconhecer que as medidas preconizadas pelas feministas, que visavam uma melhor articulação dos diferentes tempos da vida (tempos de trabalho, tempos de família, tempos pessoais), permitindo uma melhor consideração colectiva do tempo da reprodução, tendem a ser perdidas de vista em proveito de objectivos de racionalização e de flexibilização dos serviços administrativos. Itália : No seguimento do debate iniciado pelas feministas e pelos eleitos municipais, durante um período no final dos anos 80, a municipalidade de Modena introduziu uma política de harmonização dos tempos da cidade que favorecia a concertação entre utilizadores e prestadores de serviços. Esta experiência pode ser lida como arquétipo de outras experiências que estiveram na origem da lei nacional sobre a coordenação do tempo das cidades, adoptada em Março de 2000, uma lei que estabeleceu uma ligação explícita entre a coordenação do tempo e o apoio à maternidade e à paternidade, assim como com os direitos aos cuidados e à formação. As mudanças implicadas pela lei não tiveram no entanto mais do que um alcance limitado, contentando-se as municipalidades envolvidas, a maior parte das vezes, a introduzir uma flexibilização nos horários de abertura dos departamentos da administração municipal. Todavia, em Modena foram recentemente introduzidas algumas mudanças nos horários das secções do conselho municipal, por forma a torná-las mais compatíveis com a vida familiar. França : Em Saint-Malo, os horários das reuniões do conselho municipal foram revistos com a preocupação de conciliação dos tempos, a fim de facilitar a organização do tempo das eleitas. Desde as últimas eleições municipais em 2001, a questão do tempo foi inclusivamente trazida para a ordem do dia por diversas cidades francesas, nomeadamente Rennes, Poitiers e Paris – uma das principais dificuldades é não perder de vista os - 48 - objectivos iniciais ligados ao tempo dos cidadãos, numa óptica de género. Espanha : O Presidente da localidade de Torredonjimeno, na Andaluzia, interditou os homens de sair quinta-feira entre as 21 horas e as 2 horas da manhã. O objectivo é que eles se ocupem pelo menos uma noite por semana das tarefas domésticas. As mulheres podem assim dispor de todos os espaços públicos, distrair-se, encontrar-se, em suma descontrair. Os homens que não respeitam a interdição de sair a lugares públicos quintafeira à noite são passíveis de ser multados. A colecta desse dinheiro é destinada a um organismo que se ocupa de mulheres vítimas de violência doméstica Fonte : El Pais, Madrid, citado no Courrier International, 9/15 oct. 2003. O urbanismo O tema do urbanismo é ainda raramente abordado sob o prisma das relações de sexo porque, tanto do ponto de vista dos eleitos como do pessoal municipal, permanece um domínio antes do mais masculino. As poucas mulheres responsáveis no plano político ou administrativo sublinham a cultura machista que reina a maioria das vezes no meio profissional, tal como nos serviços locais encarregados dessa questão. Sabe-se, todavia, a importância de que se reveste, para facilitar ou não a vida no quotidiano, tanto a planificação dos bairros e dos serviços públicos, como a concepção que preside à construção dos grandes conjuntos habitacionais. Suécia : A maioria política das municipalidades de Växjö e de Jönköping decidiu, no seguimento de um incremento de mulheres na política em 1994, nomear mulheres para presidir comissões - 49 - ditas «técnicas», antes disso totalmente dominadas por homens. A decisão de colocar mulheres com experiência de outros sectores da política foi tomada com o objectivo de romper com o olhar «tecnocrático» que prevalecia nos domínios do urbanismo, dos transportes e da segurança pública. A primeira Presidente da Comissão Urbanística de Jönköping levou a cabo um grande projecto de renovação urbana em concertação com os cidadãos. Esse projecto compreendeu a criação de novos espaços públicos de convívio concebidos de modo a serem atraentes e seguros para todos – de qualquer idade, origem étnica, sexo, capacidade física, etc. Isso implicou actuar no domínio da iluminação pública, dos transportes públicos e privados, da estética da cidade, e inclusive da responsabilidade de proprietários de restaurantes e bares nocturnos quanto ao que se passa em frente dos seus estabelecimentos, etc. Contactos : [email protected] sobre Växjö: Stadsbyggnadskontoret, Box 1222, 351 12 Växjö, tel: +46 470 - 436 00 fax: +46 470 - 75 38 27 Itália : Várias municipalidades, sobretudo em Veneto, lançaram nos últimos anos projectos inovadores em matéria de urbanismo, mais especificamente projectos relativos às políticas da «cidade à escala das crianças» e, de maneira mais geral, relativos à criação de espaços verdes, passagens reservadas a peões, parques públicos, ciclovias, etc. Estas políticas favoreceram as mulheres não apenas nas tarefas de cuidar das crianças, de pessoas idosas ou dependentes, mas também na necessidade de dispor de espaços públicos para si mesmas. Pensar a cidade a outra escala que não apenas a dos «trabalhadores» ou «cidadãos» concebidos como neutros, permite encontrar mais facilmente soluções de urbanismo que reflectem as necessidades de todos. Contactos : www.comune.venezia.it/legambiente/home.asp www.comune.verona.it/pib/prima.html - 50 - A segurança no espaço público A questão da segurança é quase invariavelmente pensada como não sexuada. No entanto, uma abordagem em termos de género pode ser aplicada nas políticas de prevenção com vista a aumentar a segurança e o sentimento de segurança das mulheres, particularmente nas suas deslocações no meio urbano. Canadá : A cidade de Montreal tem uma perspectiva diferenciada segundo o sexo acerca da questão da segurança. Dois tipos de acções aplicaram-se em concreto nos transportes: - a criação de um serviço «Entre duas paragens», que admite que à noite mulheres e raparigas possam sair do autocarro não nas paragens regulares, mas entre elas, para encurtar o caminho que têm de fazer ou permitir que utilizem outro mais iluminado. - a integração de critérios de prevenção, sob o ponto de vista das mulheres, na renovação de várias saídas de metro. Estes critérios são : ver e ser vista; saber para onde se vai; ouvir e ser ouvida; poder fugir ou obter socorro; viver num meio condigno. Várias estações de metro são, assim, totalmente em vidro a fim de evitar recantos e alargar o campo de visão de todos e de cada um; existem vários mapas e os nomes das ruas estão claramente indicados; estão disponíveis telefones de apoio. Outras acções que, de modo mais geral, dizem respeito à segurança das mulheres no espaço público : - os percursos exploratórios, que são levantamentos de terreno conduzidos por cinco ou seis habitantes do bairro que tentam identificar elementos do planeamento urbano que podem causar insegurança. As propostas são, de seguida, enviadas aos serviços municipais responsáveis. Esta acção permite desenvolver uma democracia participativa e favorecer a apropriação dos espaços públicos pelas mulheres. - os auto-colantes que comerciantes podem pôr nas montras mencionando claramente que partilham a preocupação com a segurança das mulheres. As mulheres sabem que esses - 51 - comerciantes as ajudarão em caso de necessidade. Todas estas acções foram tornadas possíveis graças à existência de dados estatísticos desagregados por sexo e a um partenariado entre grupos de mulheres e os poderes públicos. Existe uma «Caixa de Ferramentas» que descreve todas as acções e iniciativas relativamente à segurança das mulheres realizadas em Montreal. Contactos : Anne Michaud, programa mulheres e cidade [email protected] www.femmesetvilles.org (primeiro seminário internacional sobre a segurança das mulheres) www.cafsu.cq.ca (comité de acção para as mulheres e a segurança urbana) Itália : A cidade de Vicenza, em Veneto, organiza cursos de autodefesa que podem acolher até 136 mulheres, enquanto que existe a Rubano, perto de Pádua, cursos sobre a segurança doméstica, pessoal e económica, geridos pelos próprios participantes. Geralmente, equipas de voluntários – mulheres e homens – intervêm em Veneto durante a noite nos lugares de prostituição para tentar, graças a um trabalho de diálogo e troca de informação, limitar a propagação de doenças sexualmente transmissíveis e dar às mulheres envolvidas a possibilidade de saírem da prostituição se desejarem. Contactos : www.comune.venezia.it/prostituzione/home.asp www.rubano.it Ajuda às vítimas de violência doméstica As mulheres são as principais vítimas de violência no espaço privado. E foram as associações de defesa das mulheres que, desde os anos setenta, concorreram para introduzir a questão como devendo fazer parte das políticas públicas. Se as iniciativas que levaram a cabo contribuíram para sensibilizar os Estados, foi - 52 - mais ao nível local que essas associações agiram, colaborando na emergência de políticas decorrentes das municipalidades. Os exemplos citados não esgotam as numerosas experiências desenvolvidas nesta área, mas servem para incentivar a troca de informação acerca de boas práticas. Itália : Em Bolonha, a Casa das Mulheres Contra a Violência, surgiu de modo informal em meados dos anos 80. A ideia foi oferecer às mulheres vítimas de violência sexual a possibilidade de serem acolhidas numa casa que lhes pertencesse. Um estágio no estrangeiro e trocas de contactos com redes de mulheres europeias permitiu a este projecto ganhar corpo e fazer escola. Hoje em dia, existe à escala nacional uma rede contra a violência, apoiada pelo Ministério da Igualdade de Oportunidades no quadro do Programa Europeu Urban que congrega nove cidades : Veneza (piloto da rede), Catania, Cosenza, Foggia, Lecce, Nápoles, Paleroe, Reggio di Calabria e Roma. Um Departamento Contra a Violência está aberto em Cosenza junto a escolas primárias. Contactos : www.women.it/casadonne [email protected] www.comune.venezia.it/nelmondo/progetti/ www.comune.venezia.it/c%2Ddonna/antiviol.html Finlândia : Um centro ligado ao programa nacional «Tukinainen», situado em Helsínquia, oferece apoio às mulheres e raparigas vítimas de violação e violência sexual, graças a serviços de terapia e de assistência jurídica às vítimas. Esse centro procura, além do mais, influenciar as práticas profissionais e jurídicas, tal como a opinião pública, para prevenir e diminuir a violência contra as mulheres. O centro emprega advogados, terapeutas e assegura atendimento telefónico permanente. Organiza grupos de diálogo entre pessoas vítimas de diversos tipos de violência – abuso sexual durante a infância, violação … – ou pessoas próximas das vítimas. Todos os empregados do centro são mulheres, e os serviços de apoio às vítimas são integralmente gratuitos. O centro foi fundado pela Unioni, uma associação feminista - 53 - nacional, e é financiado, no essencial, pela associação dos jogos e da lotaria. Contacto : www.tukinainen.fi/ As cidades finlandesas – Rovaniemi, Raahe, Oulu, Imatra, Helsínquia, Vantaa, Turku, Lahti, Tampere, Pori, Jyväskylä, Vaasa e Kokkola – abriram refúgios e centros de protecção maternal e infantil, cuja organização depende da Liga Nacional de Casas-refúgio e cujo financiamento é assegurado, em parte, pelos serviços sociais da municipalidade. O objectivo destes centros é garantir a segurança das mulheres vítimas de violência, oferecendo-lhes refúgio em condições de privacidade, e assistir as crianças vítimas ou testemunhas das violências ou das ameaças de violência familiar, protegendo-as contra o medo. Uma mulher grávida ou com um recém-nascido pode alojar-se nos centros por um dado período : encontrará ajuda para aprender a lidar com os problemas do quotidiano com uma criança. Os centros organizam igualmente grupos de ajuda para homens violentos com vontade de romper o círculo vicioso da violência, tal como espaços de partilha para pais divorciados, mulheres sofrendo de problemas de depressão pós-parto, etc. Contactos : http://www.ensijaturvakotienliitto.fi/ http://www.turvakoti.net/ Grécia : As municipalidades de Atenas, Pireu e Salónica criaram Casas de Protecção para as mulheres vítimas de violência, onde elas podem obter a ajuda necessária – tanto no plano psicológico como jurídico – mas também encontrar um refúgio. - 54 - A mobilidade na cidade Os transportes constituem um exemplo particularmente emblemático das desigualdades entre os sexos. Quem decide a política dos transportes urbanos ? Quem utilisa esses transportes ? Os estudos disponíveis sobre a questão indicam que os decisores são homens, que os homens são - 55 - maioritariamente utilizadores de carro e que os passageiros habituais dos transportes colectivos são mulheres. Ora, os transportes colectivos revelam-se muitas vezes inadaptados a um uso que associa as crianças ou tarefas como as compras domésticas. Finlândia : Em Helsínquia, as pessoas que viajam com crianças pequenas em carrinhos de bebé estão livres de qualquer pagamento. Não têm necessidade de bilhete para o autocarro, o eléctrico, o metro ou o comboio regional. Esta prática foi concretizada para assegurar, em primeiro lugar, a segurança das crianças, uma vez que perigosas situações são criadas quando um adulto entra num autocarro com um carrinho de bebé que tem de abandonar para comprar ou obliterar o bilhete. Este sistema favorece os pais de crianças pequenas também a nível económico, sendo a maioria dos beneficiários mulheres. Por outro lado, muitos autocarros foram já substituídos por autocarros «baixos», sem escadas, portanto facilmente acessíveis para os carrinhos. «Linhas de serviço», linhas de «minibus», foram especificamente concebidas para pessoas com problemas de mobilidade, designadamente idosos. Os autocarros circulam na proximidade de centros de saúde, centros de planeamento familiar, bibliotecas, lares, etc., e o número de paragens foi multiplicado. Pessoal assistente viaja nesses autocarros. Contacto : http://www.hel.fi/HKL/ O acolhimento de crianças Aquilo a que se chama «conciliação» dos diferentes tempos das pessoas (tempos do trabalho, das tarefas domésticas, dos cuidados e atenção com as crianças, das actividades voluntárias, dos lazeres…) diz respeito a todos os indivíduos, homem ou mulheres. De todas as maneiras, não é pouco frequente que - 56 - pesem muito maioritariamente sobre as mulheres os constrangimentos impostos pela presença de crianças pequenas. Mesmo se o Estado pode ajudar neste campo através de incentivos financeiros, quase sempre são as autarquias que criam e gerem – directamente ou através de associações – as modalidades de guarda das crianças que ainda não entraram no ensino obrigatório, e fora do tempo escolar. Não se trata aqui de recensear todos os sistemas existentes, mas convém assinalar algumas experiências inovadoras. Finlândia : Em Helsínquia, existem parques vigiados para as crianças (60 no total, dos quais alguns para crianças deficientes). Durante algumas horas, os pais podem deixar as crianças nesses parques, gratuitamente ou por uma soma módica. Pessoas contratadas pela municipalidade vigiam as crianças, organizando actividades do seu agrado. Durante o Verão, é servida uma refeição às crianças. Algumas actividades de lazer mais regulares são organizadas por certos parques, como os «clubes da tarde», que incluem um lanche para os alunos por uma soma módica. Refira-se que está a ser ponderada a suspensão deste serviço por razões financeiras, o que irá trazer necessariamente grandes problemas aos pais visto que os cursos da escola primária (dos 7 aos 12 anos) só duram geralmente durante a manhã. Contacto : www.hel.fi/sosv/english/service/playgrou.htm Itália : Reggio di Calabria construiu um infantário e uma creche para os filhos dos empregados da câmara e das instituições autárquicas e regionais situadas na proximidade da sede do Conselho regional. O exemplo mais eficaz de gestão inovadora das creches municipais encontra-se em Emilia Romagna, na cidade de Reggio Emilia. Contacto : www.municipio.re.it/retecivica/urp/retecivi.nsf/htmlmedia/asili.html - 57 - Portugal : No Alandroal, a autarquia paga a uma professora primária que tem um posto itinerante a tempo inteiro, deslocando-se regularmente a fim de assegurar o ensino pré-primário em aldeias isoladas que não têm alunos suficientes para que se criem classes permanentes. França : As comunas do departamento de Rhône, dispõe de um serviço de diagnóstico especializado a fim de precisar as necessidades em termos de guarda de crianças. Este serviço encarrega-se de recolher dados por departamento e suporta as iniciativas à escala comunal. Reúne ainda parceiros incumbidos do diagnóstico e da formulação de propostas aos eleitos. Pela mesma ordem de ideias, numa óptica de igualdade de oportunidades e com firmada preocupação com o bem-estar das crianças, foi conduzido um inquérito em Rennes junto dos pais com filhos nas creches colectivas para conhecer as suas necessidades. Mantes-la-Jolie, por seu lado, caracteriza-se por uma oferta ponderada em função das diferentes componentes comunitárias da municipalidade : «espaços de convívio» para pais e filhos, ateliers de tempos livres que favorecem a ligação com a escola primária e o acolhimento de urgência direccionado para a população de Val Fourré, um bairro problemático. O emprego As políticas de emprego dirigidas às mulheres são geralmente de iniciativa nacional. As municipalidades limitam-se, a maior parte das vezes, a favorecer ou apoiar essas políticas, por vezes no quadro de projectos co-financiados pela União Europeia. Há municípios, no entanto, que tomam iniciativas específicas exemplares. - 58 - Suécia: A cidade de Växjö considera que a igualdade entre os sexos faz parte do direito ao trabalho. A câmara municipal procurou concretizar uma nova maneira de avaliar as competências e os custos dos diferentes postos de trabalho nos serviços municipais com a finalidade de atribuir salários mais iguais às mulheres e aos homens, por forma a pôr em causa a tradição que defende que as profissões ditas «masculinas» sejam melhor remunerados do que as profissões ditas «femininas». O seu plano de igualdade é revisto regularmente. Contacto : Jämställdhetskommittén, Växjö kommun, Box 1222, 351 12 Växjö, Suède, tel +46 470 413 74 fax + 46 470 256 08 [email protected] Itália: Em colaboração com o delegado regional do trabalho e da formação profissional, o município de Reggio di Calabria assegura a formação em profissões do turismo a uma quinzena de mulheres com idades superiores a 40 anos, desempregadas com baixas qualificações, tendo em vista a sua reinserção no mercado de trabalho num sector onde existem oportunidades de emprego. Este município organizou um curso dirigido a uma vintena de mulheres desejosas de se tornarem profissionais dos transportes públicos – formação que lhes assegura saídas no sector. Em 2002, o município organizou igualmente um programa específico dirigido às mulheres com deficiências, tendo por objectivo permitir-lhes ultrapassar os obstáculos com que se defrontam, através da oferta de cursos de formação e da constituição de uma rede de apoio para as ajudar a encontrar um emprego. Contacto: www.comune.reggio-calabria.it/intranet/Rete/pari-Oppor Portugal: Diversas autarquias portuguesas – Covilhã, Loures, Montalegre, Montemor-o-Velho, Odemira, Sintra, Moura – intervêm junto de mulheres em fase de (re)inserção profissional, por via de serviços ligados aos «Espaços de Informação Mulheres» acima evocados. O objecto é informá-las e ajudá-las na procura de emprego ou na reconversão de carreira. Fazendo de gabinete - 59 - de mediação com organismos públicos e privados ao nível local, esses serviços são dirigidos por equipas de uma a três pessoas, na sua maioria funcionários da administração pública local ou regional com uma formação e um perfil adequados e que foram previamente sensibilizados para a problemática da igualdade de oportunidades. Estes serviços organizam igualmente acções de informação e de formação para as mulheres que o desejam, encorajando-as a serem autónomas e a adquirirem as competências ou qualificações necessárias para poderem reinserir-se no mercado de trabalho – nomeadamente, criando o seu próprio emprego. Contacto: www.cidm.pt Finlândia: Nas cidades de Helsínquia, Savonlinna et Joensuu, foram elaborados projectos que obtiveram financiamento europeu para apoiar as mulheres empresárias. Em Savonlinna, o objectivo é ajudar as desempregadas de diversos sectores de serviços (social, saúde, comércio, gestão, artesanato, economia doméstica, alimentação, turismo) a estabelecerem a sua empresa por via de formações e de financiamentos que lhes permitem iniciar-se. Trata-se igualmente de apoiar novas formas de empresa (colectivas, por exemplo), assim como o espírito de iniciativa de pessoas que querem mudar de profissão, diminuindo a taxa de desemprego da cidade e evitando o despovoamento das zonas urbanas circundantes. Em Helsínquia, existe desde 1996 uma associação de empresárias que informa, organiza cursos e mantém um programa de «madrinhamento» (mentoring) para novas empresárias. Contacto: www.naisyrittajyyskeskus.fi/inenglish.html tél.+358 9 5422 4466 ; fax +358 9 5422 4455 O desporto As aspirações da maioria das raparigas em matéria de lazer são muitas vezes diferentes das dos rapazes. Não é inevitável, por - 60 - exemplo, que os programas postos em prática em muitas autarquias durante o Verão tendo como destinatários os jovens que não puderam partir em férias se baseiem quase exclusivamente em equipamentos desportivos voltados na sua grande maioria para os rapazes (campos de futebol, salas de boxe, etc.), sem terem em conta o uso e a frequência mistos e as necessidades particulares das raparigas. Para modificar este estado de coisas, importa, nomeadamente, recensear as práticas existentes. Suécia: A Federação das Câmaras Municipais da Suécia pôs a funcionar em 1997 um método de análise das actividades municipais que poderiam servir de base a uma política antidiscriminatória local. No domínio do desporto, a análise incide sobre as questões seguintes: qual é a repartição por sexo dos utilizadores dos campos de futebol e dos pavilhões de gelo? Qual é a subvenção municipal para os equipamentos desportivos utilizados na sua maioria respectivamente por homens e mulheres? Quais são os horários de treino atribuídos às raparigas e aos rapazes no campo de patinagem e no pavilhão de gelo? Etc. Contactos: www.svekom.se/jamstalldhet/pdf/verkstan(eng).pdf www.svekom.se/jamstalldhet/index.htm A integração das mulheres estrangeiras As mulheres estrangeiras têm com grande frequência tendência a acumular desvantagens de um ponto de vista económico, social e cultural. Não apenas as que trabalham são mais frequentemente obrigadas a ocupar empregos e serviços mal remunerados e não qualificados (desempenhando tarefas que relevam da esfera doméstica na casa de outras mulheres melhores qualificadas e remuneradas), mas muitas entre elas são isoladas da sociedade onde vivem, em virtude de tradições - 61 - culturais que defendem que fiquem em casa. Podem ser, contudo, tomadas medidas para as ajudar a saírem da célula familiar e lhes permitir inserirem-se na colectividade. Finlândia: O centro de cultura internacional da cidade de Helsínquia, Caisa, organiza diferentes cursos – língua finlandesa, informática, sociedade finlandesa – destinados às mulheres imigrantes para facilitar o seu acesso ao ensino. São organizados debates e seminários sobre temas que dizem respeito à vida das mulheres imigrantes na sociedade finlandesa. A orientação do programa é feminista e tem por objectivo suscitar uma reflexão feminista sobre as condições de vida das mulheres, bem como facilitar a comunicação entre mulheres estrangeiras e finlandesas. Na escola primária de Meri-Rastila, que acolhe crianças dos 7 aos 12 anos e se situa num dos bairros da cidade onde a proporção da população imigrada é elevada, revelou-se que o problema das famílias imigradas – frequentemente famílias refugiadas – era o facto de as mães terem mais dificuldades de integração na sociedade finlandesa do que as crianças e os homens. Com efeito, os seus maridos proibiam-nas frequentemente de seguir os cursos de língua oferecidos pelos programas do Estado ou da municipalidade, controlando estreitamente as suas saídas e todas as actividades fora da casa, o que as impede igualmente, num grande número de casos, de encontrar trabalho. As actividades da escola e a participação das mulheres nessas actividades, em função da sua ligação às tarefas «maternais», são, em contrapartida, melhor aceites pelos homens. Por outro lado, a escola criou um módulo de cursos gratuitos para as mães das crianças imigradas – cursos de costura, mas também cursos de finlandês e sobre a sociedade finlandesa. As mulheres puderam, desde logo, sair da casa, encontrar-se e informarem-se sem provocar assim tensões familiares demasiado pesadas de suportar. No início, os cursos eram organizados na base do voluntariado dos professores. Contacto: http://kulttuuri.hel.fi/caisa/index_en.html http://www.kontu.la/mamu/ - 62 - Bélgica: A cidade de Antuérpia desenvolveu um projecto específico de alfabetização das mães imigrantes, denominado PAM, para lhes permitir uma melhor integração social e um «nivelamento» com a escolarização dos seus filhos. Contacto: [email protected] Itália: A cidade de Veneza é uma das cidades italianas onde as autoridades locais se mostraram mais atentas aos problemas que levantam as políticas de reagrupamento familiar, assim como às dificuldades com que as mulheres imigradas que chegam do seu país de origem defrontaram. Foram desenvolvidas acções para lhes permitir orientarem-se e para as ajudarem a encontrar um emprego. A simbólica urbana e a cultura Na Europa, os lugares públicos têm geralmente nomes de personagens ligados à história nacional e local. Por razões históricas, mas também porque as mulheres foram remetidas para a invisibilidade nas nossas histórias culturais e políticas, os homens dominam. Voltar a dar a mulheres, com demasiada frequência esquecidas, um nome que marca o espaço urbano constitui não apenas uma reparação mas o meio, tanto para as mulheres como para os homens, de se inscreverem localmente numa história que reintegra a dimensão sexuada da nação e da cidade. Os espaços culturais das produções artísticas podem e devem também integrar a dimensão do género, o que nem sempre é o caso. Portugal: Diversas autarquias portuguesas publicaram livros, catálogos ou brochuras dando destaque a parte de memória consagrada a figuras de mulheres no espaço municipal, nomeadamente por - 63 - via de nomes de ruas ou de monumentos que evocam personagens femininos que fazem parte da história do país. Fonte: Cidade com nomes de Mulher, Catálogo da exposição realizada na Casa da Cerca, Galeria Municipal de Arte de Almada, 8 de Março de 2001. A Mulher na Toponímia de Lisboa, Edição da Câmara Municipal de Lisboa, Comissão de Toponímia. Itália: Em Stefanaconi, na Calábria, abriu em Junho de 2000 uma Villa municipal – Villa Elena – aberta ao público, consagrada nomeadamente à arte feminina. A Villa tornou-se um ponto de encontro e de socialização, sobretudo para as mulheres. Para além das exposições que valorizam a arte feminina, esse espaço desempenha funções de centro social e cultural, e encoraja a participação feminina nos assuntos da cidade. Em Soverato, outra cidade da Calábria, nasceu em 1996 uma biblioteca das mulheres, por iniciativa de um grupo de uma vintena de mulheres desejosas de dispor de um espaço de comunicação e de interacção. Lugar simultaneamente de documentação e de trocas intelectuais, o seu objectivo é, antes de tudo, constituir um fundo documental que contribua para a consolidação da memória sobre o lugar das mulheres na história. França: Em muitas cidades francesas, associações de mulheres estabeleceram a estatística dos nomes de ruas e de lugares consagrados aos homens e às mulheres, e recomendaram junto do conselho municipal nomes de mulheres que deveriam ser dadas a novas ruas. - 64 - CONCLUSÃO O inquérito que serviu de base à redacção deste guia mostrou que, se existe nos países da União Europeia um desenvolvimento de acções locais visando especificamente a população feminina, são muito raras as cidades que tomam em consideração a dimensão do género numa perspectiva global de eliminação das discriminações entre os sexos. Apesar de se constatar em quase todos os países um aumento do número de eleitas locais, as mulheres permanecem em todo o lado minoritárias nos conselhos e raras são as que estão à frente das câmaras municipais. É verdade que um número elevado de eleitas não é condição suficiente para que as desigualdades em função do sexo sejam tomadas em consideração. Seja como for, e como pudemos constatar, o aumento das mulheres nos conselhos é em si mesmo uma conquista democrática susceptível de fazer emergir novas questões na agenda política. As políticas postas em prática continuam a ser, a maior parte das vezes, parciais, em vez de serem concebidas numa óptica de conjunto. Além do mais, elas surgem muitas vezes frágeis, submetidas à descontinuidade e com demasiada frequência dotadas de meios materiais e humanos insignificantes. Todavia, um dos principais obstáculos à emergência de autarquias locais exemplares em matéria de igualdade das mulheres e dos homens é, sem dúvida, menos o dinheiro do que a competência. Pensar uma sociedade, e designadamente uma municipalidade sensível ao género supõe, de facto, para além de uma vontade política, a aquisição de utensílios conceptuais. As desigualdades nem sempre são imediatamente percepcionadas. Atacá-las supõe, antes de mais, dar-lhes visibilidade, como se constatou em matéria de transportes ou de análise dos orçamentos. Verifica-se a esse respeito tomadas de consciência e evoluções. Convém, por outro lado, que essas práticas e técnicas se difundam. É a esse propósito encorajador constatar que, de ora avante, as cidades trabalham em rede e as questões ligadas a todas as formas de discriminação são objecto de trocas e de «boas práticas». Desejamos que este guia seja um contributo e que, num futuro próximo, possa ser enriquecido. - 65 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bélgica Carton Luc (1994). Les territoires de la démocratie : l’enjeu communal. Bruxelles, Vie Ouvrière. Humblet Patrick et al. (1999). Code de l’égalité. Recueil de législation en matière d’égalité des chances entre hommes et femmes. Bruxelles : Ministère fédéral de l’Emploi et du Travail, en collaboration avec le Conseil de l’égalité des chances entre hommes et femmes. Marques-Pereira Bérengère (1998). “ La citoyenneté politique des femmes ”. Courrier Hebdomadaire du CRISP, n° 1597. Peemans-Poullet Hedwige (ed.) (1998). La démocratie à l’épreuve du féminisme. Bruxelles : Université des Femmes. Finlândia Bergman Solveig (2002). The politics of feminism. Autonomous feminist movements in Finland and West Germany from the 1960s to the 1980s. Åbo: Åbo Akademi University Press. Bergqvist Christina et al. (eds.) (1999). Equal Democracies? 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Buone prassi nelle amministrazioni locali, Bologna. Regione Emilia Romagna. - 68 - Timpanaro Daniela, Piva Toniolli Paola, Consoli Maria Teresa (2000) Il percorso delle pari opportunità: donne e uomini nei comuni italiani. Rapporto di ricerca, Roma, Grasso. Zajczyk Francesca (a cura di) (2003) Chi comanda non è donna. Il ruolo della donna nell’odierno sistema istituzionale lombardo, Milano, Guerini e Associati. Portugal Albertina Jordão e Orlando César (1997). Guia do Poder Local no Feminino, Amadora, Regimprensa. Encontro Nacional de Mulheres Autarcas (1994). Lisbonne, Commission pour l’Egalité et les Droits des Femmes, Présidence du Conseil des Ministres. Espaços de Informação Bem Me Quer. Estruturas de Apoio à População e ao Desenvolvimento Local – Actas (1995). Colecção Bem-Me-Quer n.º5, Lisboa, Commission pour l’Egalité et les Droits des Femmes, Présidence du Conseil des Ministres. Igualdade de Género. Portugal 2002 (2002). Commission pour l'Egalité et les Droits des Femmes, Présidence du Conseil des Ministres. Organisation des Femmes Communistes (2003). As Mulheres e o Poder Local, Lisboa, Edições Avante. Suécia Active work for Gender Equality: Gender mainstreaming and the 3Rmethod in local government (2002). Svenska kommunförbundet. http://www.svekom.se/jamstalldhet/pdf/verkstan(eng).pdf Cahiers du Genre (2000). Suède : L’égalité des sexes en question, n° 27, Paris : L’Harmattan. Elgán, Elisabeth (2003). « The Political Success of Scandinavian Women », in Political and Historical Encyclopedia of Women, Christine Fauré (ed.), New York and London: Routledge. Endgendering Statistics: A Tool for Change (1999). Statistiska Centralbyrån (Statistics Sweden), Örebro. - 69 - Just Progress : Applying Gender Mainstreaming in Sweden (2003). Ministry of industry, Employment and Communications, Stockholm. http://www.naring.regeringen.se/inenglish/pdf/N2001_052.pdf - 70 - ANEXOS I. Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres Adoptada pela resolução no 34/180 da Assembleia Geral das Nações Unidas, em 18 de Dezembro de 1979 Em vigor desde 3 de Setembro de 1981, em conformidade com o disposto no Artigo 27 (1) Extractos Artigo 4.º 1 - A adopção pelos Estados-membros de medidas temporárias especiais visando acelerar a instauração de uma igualdade de facto entre os homens e as mulheres não é considerada como um acto de discriminação, tal como definido na presente Convenção, mas não deve por nenhuma forma ter como consequência a manutenção de normas desiguais ou distintas; estas medidas devem ser suprimidas quando os objectivos em matéria de igualdade de oportunidades e de tratamento tiverem sido atingidos. 2 - A adopção pelos Estados-membros de medidas especiais, incluindo as medidas previstas na presente Convenção que visem proteger a maternidade, não é considerada como um acto discriminatório Artigo 7.º Os Estados-membros tomam todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra as mulheres na vida política e pública do país e, em particular, asseguram-lhes, em condições de igualdade com os homens, o direito: a) De votar em todas as eleições e em todos os referendos públicos e de ser elegíveis para todos os organismos publicamente eleitos; b) De tomar parte na formulação da política do Estado e na sua execução, de ocupar empregos públicos e de exercer todos os cargos públicos a todos os níveis do governo; - 71 - c) De participar nas organizações e associações não governamentais que se ocupem da vida pública e política do país. Artigo 18.º 1 - Os Estados-membros comprometem-se a apresentar ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, para exame pelo Comité, um relatório sobre as medidas de ordem legislativa, judiciária, administrativa ou outra que tenham adoptado para dar aplicação às disposições da presente Convenção e sobre os progressos realizados a este respeito: a) No ano seguinte à entrada em vigor da Convenção para o Estado interessado; b) Em seguida, de quatro em quatro anos, e sempre que o Comité o pedir. 2 - Os relatórios podem indicar os factores e dificuldades que afectam o modo como são cumpridas as obrigações previstas pela presente Convenção. II. Participação equilibrada das mulheres e dos homens nos processos de tomada de decisões (Síntese da Legislação) 1) OBJECTIVO Definir medidas e acções que visem promover a participação das mulheres no processo de tomada de decisões nos sectores público e privado. 2) ACTO COMUNITÁRIO Recomendação do Conselho de 2 de Dezembro de 1996, relativa à participação equilibrada das mulheres e dos homens nos processos de tomada de decisões. 3) TEOR 1. O Conselho recomenda aos Estados-membros que adoptem uma estratégia integrada de conjunto que vise promover a participação equilibrada das mulheres e dos homens nos processos de tomada de - 72 - decisões e que desenvolvam ou criem com esse objectivo as medidas adequadas, sejam elas legislativas, regulamentares ou de estímulo. 2. O Conselho recomenda aos Estados-membros: • • • • • que sensibilizem todas as pessoas envolvidas no processo educativo e na formação para a importância de uma imagem isenta de preconceitos e de estereótipos discriminatórios das mulheres na sociedade, de uma partilha mais equilibrada das responsabilidades profissionais, familiares e sociais entre as mulheres e os homens e de uma participação mais equilibrada de mulheres e de homens no processo de tomada de decisões; que encorajem as raparigas e as mulheres a participarem e a expressarem-se nas actividades educativas e formativas de modo tão pleno e activo como os rapazes e os homens; que encorajem e apoiem os esforços das associações e organizações que visem promover o acesso das mulheres aos processos de tomada de decisões; que encorajem e apoiem os dos parceiros sociais destinados a promover uma participação equilibrada das mulheres e dos homens nas respectivas actividades; que concebam, lancem e promovam campanhas públicas destinadas a sensibilizar a opinião pública para a utilidade e as vantagens para a sociedade de uma participação equilibrada das mulheres e dos homens no processo de tomada de decisões; 3. O Conselho recomenda aos Estados-membros: • • • que promovam e melhorem a recolha e a publicação de dados estatísticos que permitam conhecer a participação relativa das mulheres e dos homens a todos os níveis nos processos de tomada de decisões; que apoiem, desenvolvam e suscitem estudos quantitativos e qualitativos sobre os obstáculos jurídicos, sociais ou culturais que entravam o acesso de pessoas de um ou outro sexo aos processos de tomada de decisões. que apoiem e suscitem iniciativas que criem exemplos de boa conduta nos diferentes domínios da tomada de decisões. 4. O Conselho recomenda aos Estados-membros: - 73 - • • • que promovam um melhor equilíbrio entre as mulheres e os homens a todos os níveis das funções governamentais; que prevejam, apliquem ou desenvolvam um conjunto coerente de medidas que favoreçam a igualdade na função pública; que encorajem o sector privado a reforçar a presença das mulheres a todos os níveis decisionais nomeadamente através da adopção ou no âmbito de planos de igualdade e programas de acção positiva. 5. O Conselho pede à Comissão: • • • que estimule e organize no âmbito do programa de acção comunitário a médio prazo para a igualdade de oportunidades entre mulheres e homens (1996-2000), o intercâmbio sistemático de experiências e a avaliação das políticas aplicadas a fim de obter um melhor equilíbrio entre as mulheres e os homens no processo de tomada de decisões; que intensifique os esforços de informação, sensibilização, estímulo à investigação e de promoção de acções-piloto a fim de implementar a participação equilibrada das mulheres e dos homens no processo de tomada de decisões; que apresente um relatório ao Conselho no prazo de três anos após a adopção da recomendação, relativamente aos progressos realizados na aplicação da mesma, com base nas informações que lhe serão fornecidas pelos Estados-membros. 4) PRAZO FIXADO PARA A APLICAÇÃO DA LEGISLAÇÃO NOS ESTADOS-MEMBROS Não aplicável. 5) DATA DA ENTRADA EM VIGOR (caso não coincida com a data anterior) 6) REFERÊNCIAS Jornal Oficial L 319 de 10.12.1996 7) TRABALHOS POSTERIORES 8) MEDIDAS DE APLICAÇÃO DA COMISSÃO - 74 - III. Déclaration mondiale de IULA sur les Femmes dans le Gouvernement Local Préambule 1. 2. 3. 4. 5. 6. Le Comité exécutif mondial de l'Union Internationale des Villes et Pouvoirs Locaux (IULA), l'association mondiale de gouvernements locaux, réuni au Zimbabwe en novembre 1998 ; Rappelant la Déclaration mondiale de l'autonomie locale adoptée au 31ème Congrès mondial de IULA à Toronto en 1993 ; Rappelant la Convention sur l'élimination de toutes les formes de discrimination envers les femmes (CEDAW), et la Déclaration des Nations Unies sur les femmes et le Programme d'action adoptés à Beijing en 1995 ; en particulier le principe, reconnu dans l'article 344 du Programme d'action de Beijing, selon lequel les organisations internationales telles que IULA ont un rôle important à jouer dans la mise en oeuvre du Programme d'action des Nations Unies ; Reconnaissant que les raisons pour lesquelles les femmes ne sont pas représentées de manière égale dans le gouvernement local sont multiples, que les femmes et les hommes dans le monde entier vivent dans des conditions différentes et que les femmes n'ont ni le même accès, ni le même contrôle sur les ressources économiques et politiques que les hommes ; Considérant que le gouvernement local, partie intégrante de la structure nationale de gouvernance, est le niveau de gouvernement le plus proche des citoyens et, par conséquent, le mieux à même d'impliquer les femmes dans le processus de décision concernant leurs conditions de vie et de mettre à profit leurs connaissances et compétences dans la promotion du développement durable ; Soulignant que la mission de IULA ne peut être réalisée sans l'intégration égale et systématique des femmes dans le processus de décision démocratique local, et que la démocratie ne peut être réalisée sans une adéquate représentation, participation et intégration des femmes dans le processus de gouvernance locale; NOUS, MEMBRES DE IULA, REPRÉSENTANT LES GOUVERNEMENTS LOCAUX DE PAR LE MONDE, CROYONS FERMEMENT QUE : 7. L' autonomie locale démocratique a un rôle essentiel à jouer pour assurer la justice sociale, économique et politique pour tous les citoyens de chaque communauté du monde, et garantir que tous les membres de - 75 - la société, femmes et hommes, doivent être inclus dans le processus de gouvernance; 8. Les femmes et les hommes, en tant que citoyens, ont les mêmes droits humains, devoirs et opportunités, ainsi qu’un même droit à les exercer. Le droit de vote, d'être éligible et d'exercer une fonction publique à tous les niveaux sont des droits humains qui s'appliquent également aux femmes et aux hommes ; 9. Les problèmes et défis auxquels l'humanité est confrontée sont globaux mais interviennent et doivent être traités au niveau local. Les femmes ont un droit égal à être libérées de la pauvreté, de la discrimination, de la dégradation environnementale et de l'insécurité. Pour combattre ces problèmes et répondre aux défis du développement humain durable, il est crucial que le pouvoir des femmes soit renforcé et qu’elles soient impliquées dans le gouvernement local, en tant que responsables, planificatrices et gestionnaires ; 10. Le gouvernement local est dans une situation privilégiée pour contribuer à la lutte globale pour l'égalité entre les sexes. En tant que niveau de gouvernance le plus proche des citoyens, prestataire de services et employeur, il peut avoir un impact fort sur la condition des femmes et la situation de l'égalité entre les sexes dans le monde ; 11. L'intégration systématique des femmes renforce le fondement démocratique, l'efficacité et la qualité des activités des collectivités territoriales. Si le gouvernement local entend répondre aux besoins tant des femmes que des hommes, il doit s'appuyer sur les expériences tant des femmes que des hommes, à travers une représentation égale à tous les niveaux et dans tous les domaines de décision, recouvrant la large palette de responsabilités des gouvernements locaux ; 12. Afin de susciter des gouvernements locaux durables, équitables et démocratiques, au sein desquels femmes et hommes jouissent d’une égalité d’accès à la prise de décision et aux services, et d’une égalité de traitement devant ces services, l’approche en termes d’ égalité entre les sexes doit être intégrée à tous les secteurs de politique publique et de gestion locaux. Le gouvernement local comme prestataire de services et garant de conditions de vie décentes 13. Les femmes ont droit à une égalité d'accès et de traitement devant les services des gouvernements locaux, ainsi que droit d’influer sur la mise en place, le développement, la gestion et le contrôle des services. La fourniture de services tels que l'éducation, la protection et autres - 76 - 14. 15. 16. services sociaux par les collectivités territoriales, devrait chercher à rendre les femmes et les hommes également responsables pour les questions relatives à la famille comme à la vie publique, et éviter la perpétuation des stéréotypes sur les femmes comme sur les hommes ; Les femmes ont un droit égal à des conditions de vie décentes en ce qui concerne l’environnement, le logement, la distribution d'eau et l'hygiène publique ainsi que les transports publics. Les besoins et les conditions de vie des femmes doivent être révélées et prises en compte à tout moment dans la planification ; Les femmes ont droit à un accès égal au territoire et à l'espace géographique des collectivités territoriales - du droit à la propriété foncière au droit de se déplacer librement et sans crainte dans les lieux et les transports publics ; Le gouvernement local a un rôle à jouer pour garantir les droits des femmes liés à la reproduction, de même que leur droit à être libérées des violences domestiques et autres formes d’abus et violences physiques, psychologiques et sexuels ; Le gouvernement local comme employeur et stratégiquement placé pour influencer la société locale 17. Les femmes ont un droit égal à l'emploi dans le gouvernement local et à l'égalité dans les procédures de recrutement. En tant qu'employés du gouvernement local, femmes et hommes ont droit à une égalité de salaire, d'accès aux avantages sociaux, à la promotion et à la formation ainsi que le droit à l’égalité dans les conditions et l'évaluation de leur travail ; 18. La charge de travail, rémunéré ou non, des femmes, souvent lourde, entrave leur capacité à prendre part au processus de decision. Le gouvernement local a un rôle important à jouer pour fournir des services sociaux abordables, professionnels et sûrs pour les enfants, les personnes âgées et les handicapés -de manière directe ou en partenariat avec le secteur privé ou associatif- et pour promouvoir le partage des tâches domestiques entre les femmes et les hommes sur une base équitable. Les hommes ont un droit et une responsabilité égale pour s'occuper de leurs enfants et parents, et devraient être encouragés à le faire ; NOUS, MEMBRES DE IULA, REPRÉSENTANT LES GOUVERNEMENTS LOCAUX DE PAR LE MONDE, NOUS ENGAGEONS A : 19. Assurer que les conditions au sein de nos collectivités locales et associations permettent aux principes énoncés dans ce document d'être réalisés ; - 77 - 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. Renforcer nos efforts pour rendre égal le nombre de femmes et d'hommes dans les organes décisionnaires à tous les niveaux et dans tous les secteurs de politique publique, et nos efforts pour assurer la participation qualitative des femmes aux conseils, comités et autres groupes liés au processus de décision au sein du gouvernement local ; Mettre en oeuvre le principe de “mainstreaming” en intégrant systématiquement la question de l’égalité entre les sexes à toutes les politiques, programmes et activités de prestation de services dans les gouvernements locaux individuels et leurs associations representatives aux niveaux national, regional et international, et en développant des méthodes pour contrôler et évaluer ce travail de “mainstreaming” ; Rechercher de nouvelles façons d'assurer que les femmes, par des moyens formels comme informels, sont représentées et participent activement au processus de gouvernance locale; Renforcer la coopération nationale et internationale entre collectivités territoriales, avec le soutien de leurs associations nationales, régionales et internationales, afin de faciliter les échanges d'expériences ; élaborer et développer également des méthodes, politiques et stratégies qui aident à contre-balancer les obstacles à la participation des femmes dans le processus décisionnel local ; Souligner, mettre en oeuvre et superviser des plans d'action pour promouvoir l'égalité des chances sur le lieu de travail municipal, l'égalité des chances dans le recrutement, la promotion, la rémunération et les conditions de travail ; Travailler à un changement des attitudes sur les questions liées à l’égalité des sexes en faisant naître une prise de conscience dans le système éducatif et au sein de la structure politique et administrative des collectivités territoriales ; Travailler activement avec d'autres acteurs de la société civile, y compris les organismes nationaux traitant des questions d’égalité entre les sexes, le secteur privé, les organisations non gouvernementales, les groupements professionnels, les groupes de femmes, les instituts de recherche et les syndicats, pour atteindre les buts de cette déclaration ; NOUS EN APPELONS AUX ETATS POUR : 27. Reconnaître que les pouvoirs locaux ont un rôle clef à jouer dans la création de démocraties durables et de sociétés traitant les hommes et les femmes de manière égale ; et, par conséquent, d’accorder aux autorités locales l'autonomie constitutionnelle, légale et financière leur permettant de faire face à leurs responsabilités démocratiques ; - 78 - 28. 29. 30. 31. 32. 33. Soutenir, encourager et créer des conditions et des moyens pour les pouvoirs locaux de travailler pour et de promouvoir l'égalité entre les sexes ; Reconnaître les associations nationales de pouvoirs locaux comme des partenaires importants du développement, de la promotion et du soutien à l'égalité entre les sexes au niveau local et dans l'échange d'expériences aux niveaux national, régional et international ; Travailler en partenariat avec les associations de pouvoirs locaux et leurs adhérents pour mettre en oeuvre le Programme d’action de Beijing et la Convention sur l'élimination de toutes les formes de discrimination envers les femmes (CEDAW) ; Garantir et mettre en application le droit des femmes à une capacité juridique identique à celle des hommes et les mêmes possibilités pour exercer cette capacité en assurant l'égalité et la non discrimination, devant la loi et en pratique ; Garantir et mettre en application le droit des femmes à participer au système démocratique en leur assurant un égal droit de voter, d'être éligible et d'exercer des fonctions publiques ; Développer et augmenter la connaissance sur la question de l’égalité entre les sexes, en assurant que les statistiques relatives aux individus sont sériées en fonction du sexe et analysées avec une approche en termes d’égalité entre les sexes, et dégager des ressources pour les recherches universitaires qui développent une approche en termes d’égalité entre les sexes et peuvent être utiles au développement de l'égalité entre les sexes dans le gouvernement local; NOUS EN APPELONS A LA COMMUNAUTÉ INTERNATIONALE POUR : 34. 35. 36. 37. Mettre en oeuvre le Programme d'action de Beijing, la Convention sur l'élimination de toutes les formes de Discrimination envers les femmes (CEDAW) et la présente déclaration ; Reconnaître l’échelon local comme le niveau de gouvernance le plus proche des citoyens, investi d'un rôle capital à jouer pour atteindre les objectifs d'égalité entre les sexes approuvés par les Etats à travers les Nations Unies et, par conséquent ; Travailler avec le gouvernement local et ses institutions à tous les niveaux pour promouvoir l'égale participation des femmes et des hommes à la prise de decision sous toute ses formes, formelle et informelle ; Soutenir les programmes initiés par les gouvernements locaux et leurs associations tendant à accroître la représentation des femmes dans le gouvernement et les fonctions de direction locaux. Harare, novembre 1998 - 79 - Declaración Mundial de IULA sobre las Mujeres en el Gobierno Local Preámbulo 1. 2. 3. 4. 5. 6. El Comité Ejecutivo Mundial de la Unión Internacional de Autoridades Locales (IULA), la asociación mundial de gobiernos locales, reunido en Harare, Zimbabwe, en noviembre de 1998; Recordando la Declaración Mundial de Autonomía Local, adoptada en el Trigésimo Primer Congreso Mundial de IULA en Toronto, en 1993; Recordando la Convención sobre la Eliminación de Todas las Formas de Discriminación en Contra de la Mujer (CEDAW) y la Declaración de las Naciones Unidas sobre la Mujer y la Plataforma de Acción adoptadas en Beijing en 1995, y en particular, el principio reconocido en el Artículo 344 de esta última, que establece que las organizaciones internacionales no gubernamentales, como IULA, juegan un papel importante en la implementación de la Plataforma de Acción de las Naciones Unidas; Reconociendo que son múltiples las razones por las cuales las mujeres no son representadas en forma igualitaria, que las mujeres y los hombres en el mundo viven en condiciones diferentes, y que las mujeres no tienen las mismas oportunidades que los hombres para acceder y controlar recursos económicos y políticos; Considerando que el gobierno local, como parte integral de la estructura nacional de gobierno, es el ámbito más cercano a los ciudadanos y ciudadanas y que por ello disfruta de una posición ideal para involucrar a las mujeres tanto en la toma de decisiones que conciernen a sus condiciones de vida, como para aprovechar sus conocimientos y capacidades en la promoción de un desarrollo sustentable; Subrayando que la misión de IULA no puede realizarse sin la integración, equitativa y sistemática, de las mujeres en la toma de decisiones democráticas en el ámbito local, y que la democracia no puede ser alcanzada sin una representación, participación e inclusión adecuada de las mujeres en el proceso de gobernabilidad local. NOSOTROS, MIEMBROS DE IULA, REPRESENTANDO A LOS GOBIERNOS LOCALES DEL MUNDO, CREEMOS FIRMEMENTE QUE: 7. La autonomía democrática local juega un papel esencial para asegurar la justicia social, económica y política para todos los ciudadanos y ciudadanas de cada comunidad del mundo, y que todos los miembros de la sociedad, tanto mujeres como hombres, deben ser incluidos en el proceso de gobernabilidad. 8. Mujeres y hombres, en su calidad de ciudadanos y ciudadanas de una comunidad, tienen los mismos derechos humanos, - 80 - obligaciones y oportunidades, así como el mismo derecho a ejercitarlos. El derecho a votar, a ser elegido y a ejercer un cargo público a todos los niveles, son derechos humanos aplicables equitativamente a hombres y mujeres. 9. Los problemas y desafíos a los que se enfrenta la humanidad son globales, pero transcurren y deben ser tratados en el ámbito local. Las mujeres tienen igual derecho a superar la pobreza, la discriminación, la inseguridad y el deterioro ambiental. Para combatir estos problemas y superar los desafíos del desarrollo sustentable, es fundamental que se dote a las mujeres de competencias y que participen en el gobierno local como tomadoras de decisiones, planificadoras y gestoras; 10. El gobierno local se encuentra en una posición excepcional para contribuir en la lucha global por la igualdad de género y para llegar a tener un gran impacto en la situación de las mujeres y en el statu quo de la igualdad de género en el mundo en su capacidad de ámbito de gobierno más cercano a los ciudadanos y ciudadanas y como proveedor y facilitador de servicios y empleo. 11. La integración sistemática de las mujeres vigoriza los cimientos democráticos, la eficiencia y la calidad de las actividades de los gobiernos locales. Para que los gobiernos locales puedan satisfacer las necesidades de las mujeres y de los hombres, deben basarse en las experiencias de ambos géneros, a través de una representación equiparable en todos los niveles de decisión, abarcando el amplio espectro de responsabilidades de los gobiernos locales; 12. Con el fin de crear gobiernos locales sustentables, igualitarios y democráticos, en donde mujeres y hombres puedan participar en forma equitativa en la toma de decisiones, y para que tengan acceso equiparable a los servicios, y reciban igual trato en éstos, la perspectiva de género debe ser integrada transversalmente en todos los sectores de definición de políticas y de gestión de los gobiernos locales. El Gobierno Local Como Proveedor de Servicios y de Condiciones de Vida Aceptables 13. Las mujeres tienen el mismo derecho que los hombres de acceder a los servicios de los gobiernos locales, así como el derecho de ser tratadas con igualdad y de poder influir en el inicio, desarrollo, gestión y seguimiento de dichos servicios. Al prestar servicios como educación, salud y otros servicios sociales, los gobiernos locales deberán considerar igualmente a las mujeres y a los hombres como responsables de las cuestiones relativas a la familia y a la vida pública, y deberán evitar los estereotipos de las mujeres y de los hombres; - 81 - 14. Las mujeres tienen derecho equitativo a condiciones de vida aceptables incluyendo vivienda, distribución de agua y servicios sanitarios así como asequible transporte público. Las necesidades y condiciones de vida de las mujeres deben ser conocidas y tomadas en cuenta en cada momento de la planificación; 15. Las mujeres tienen el mismo derecho que los hombres a acceder al territorio y espacio geográfico de los gobiernos locales, yendo esto desde la posesión de terreno al derecho a desplazarse libremente y sin temor, en los espacios públicos y el transporte; 16. Los gobiernos locales han de jugar un papel importante en asegurar los derechos reproductivos de las mujeres, así como su derecho a ser libres de violencia doméstica y otras formas de abuso y de violencia tanto físicas como psíquicas. El Gobierno Local como generador de empleo y jugando un papel clave en la comunidad local 17. Las mujeres tienen igual derecho al trabajo en los gobiernos locales así como el derecho a la igualdad de trato en los procedimientos de selección de empleo. Siendo empleados de los gobiernos locales, tanto las mujeres como los hombres tienen derecho al mismo salario, a los mismos beneficios, promoción y capacitación así como el derecho de trabajar bajo las mismas condiciones y de recibir la misma evaluación del trabajo; 18. El doble trabajo que realizan las mujeres—pagado y no pagado—es una de las barreras que les impide participar de los procesos de decisión. Los gobiernos locales juegan un importante papel en la provisión de servicios accesibles, profesionales y seguros para los niños, las personas de la tercera edad, y para los incapacitados, bien directamente o en conjunto con el sector privado o de voluntarios. Asimismo, juega un importante papel fomentando que se compartan las tareas domésticas equitativamente entre los hombres y las mujeres. Las mujeres y los hombres son responsables de sus hijos y de otros miembros de la familia. Los hombres tienen el mismo derecho y responsabilidad sobre el cuidado de sus hijos y familia, y deberán ser incentivados en este respecto; NOSOTROS, LOS MIEMBROS DE IULA, REPRESENTANDO A LOS GOBIERNOS LOCALES DEL MUNDO, NOS COMPROMETEMOS A: 19 Asegurar que las condiciones dentro de nuestros gobiernos locales y asociaciones permitan que nuestros principios, mencionados en este documento, sean realizados; 20 Aumentar nuestros esfuerzos para igualar la cantidad de mujeres y hombres en los órganos de decisión en todos los campos y - 82 - asegurar la participación cualitativa de las mujeres en todos los concejos, comités y otras agrupaciones relacionadas con la toma de decisiones en los gobiernos locales. 21. Aplicar el principio de transversabilidad a través de la integración de la perspectiva de género en todas las políticas, programas y servicios de los gobiernos locales y de sus asociaciones representativas en el ámbito nacional, regional e internacional, y desarrollar metodologías para monitorear y medir el trabajo transversal de género. Buscar nuevas formas para asegurar que las mujeres estén representadas y que participen activamente, tanto formal como informalmente, en el proceso de administración local; 22. Fortalecer la cooperación internacional y nacional entre los gobiernos locales, con el apoyo de asociaciones nacionales, regionales e internacionales de gobiernos locales, a fin de fomentar el intercambio de experiencias, así como identificar y desarrollar métodos, políticas y estrategias que ayuden a eliminar las barreras a la participación de las mujeres en la toma de decisiones locales; 23. Delinear, implementar y supervisar los planes de acción para promover la igualdad de oportunidades laborales en el campo municipal, incluyendo la igualdad de trato en los procesos de selección, promoción, remuneración, así como igualdad en las condiciones de trabajo; 24. Trabajar activamente con el objetivo de lograr cambios de actitud con respecto a los temas de género mediante de una concientización en los sistemas educativos y en las estructuras políticas y administrativas de los gobiernos locales; 25. Trabajar activamente con otros actores de la sociedad, incluyendo las organizaciones que tratan temas de género, el sector privado, organizaciones no gubernamentales, agrupaciones profesionales, organizaciones de mujeres, institutos de investigación y sindicatos, para alcanzar los objetivos de esta declaración; CONVOCAMOS A LOS ESTADOS A: 26. Reconocer que los gobiernos locales juegan un papel clave en el desarrollo de la democracia sustentable y de sociedades con igualdad de género y como consecuencia apelamos a que concedan a los gobiernos locales la autonomía constitucional, legal y financiera que les permita cumplir con sus responsabilidades democráticas; 27. Apoyar, incentivar y crear oportunidades y recursos para que los gobiernos locales trabajen y promuevan la igualdad de género; 28. Reconocer a las asociaciones nacionales de gobiernos locales como aliadas importantes en el desarrollo, promoción y apoyo de la - 83 - igualdad de género en el ámbito local y en el intercambio de experiencias en el ámbito internacional, nacional y local; 29. Trabajar con asociaciones de gobiernos locales y sus miembros para implementar la Plataforma de Acción de Beijing y la Convención sobre la Eliminación de Todas las Formas de Discriminación en Contra de la Mujer (CEDAW); 30. Garantizar y velar el derecho de las mujeres de poseer competencias legales idénticas a las de los hombres y las mismas oportunidades a ejercitarlas asegurando la igualdad y la nodiscriminación ante la ley y en la práctica; 32 Garantizar y velar los mismos derechos a las mujeres de participar en el sistema democrático asegurando su derecho a voto, a ser elegibles en las elecciones, y a ocupar cargos públicos; 33. Desarrollar e incrementar el conocimiento en el campo de género asegurando que la recopilación de datos estadísticos sobre individuos sean desagregados y analizados desde la perspectiva de género, y proporcionar los recursos necesarios para realizar investigaciones en el ámbito académico con perspectiva de género, que pueda ser utilizado para el desarrollo de la igualdad del género en los gobiernos locales; CONVOCAMOS A LA COMUNIDAD INTERNACIONAL A: 34. Implementar la Plataforma de Acción de Beijing, la Convención sobre la Eliminación de Todas las Formas de Discriminación en Contra de la Mujer (CEDAW) y esta declaración; 35. Reconocer el nivel local como el ámbito del gobierno más cercano a los ciudadanos y ciudadanas con un papel de gran importancia en el alcance de los objetivos de equidad de género acordados por los Gobiernos Nacionales a través de las Naciones Unidas, y por ello; 36. Trabajar con los gobiernos locales y sus instituciones en todos los niveles para promover la participación equitativa de mujeres y hombres en la toma de decisiones en todas sus formas, tanto formales como informales; 37. Apoyar programas iniciados por los gobiernos locales y sus asociaciones que tengan como objetivo incrementar la representación de las mujeres en ellos y en funciones de liderazgo en el ámbito local. Harare, Noviembre de 1998 - 84 -