A IMAGINOTECA HOSPITALAR COMO UM ESPAÇO DE (DES)ENVOLVIMENTO
ALVES, Fernanda de O.2 VIERO, Francieli C.2 ; GONÇALVES, Camila dos S.3
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Trabalho de Projeto de Extensão _UNIFRA
Acadêmicas do Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria,
RS, Brasil, E-mail: [email protected]; [email protected].
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Professora do Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS,
Brasil, [email protected].
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RESUMO
Este trabalho surge da experiência na participação do projeto de extensão Ludicidade em
Ambiente Hospitalar: uma estratégia multidisciplinar no cuidado da criança, no qual o principal foco é
resgatar em parte a rotina extra-hospital de brincar com as crianças e proporcionar um momento de
desenvolvimento, relaxamento e envolvimento com seu cuidador, através de um ambiente lúdico no
hospital. A prática ocorreu durante um período de três meses, uma vez por semana em que o monitor
interviu no espaço da sala de brinquedos, havendo observação e mediação entre o brincar das
crianças internadas e seus cuidadores. Neste sentido, a participação no projeto possibilitou a
importância do resgate do brincar na relação criança e cuidador dentro do hospital. Entende-se que
esta ação possibilitou a criação de um espaço na ação da criança frente ao seu adoecer.
Palavras-chave: Saúde da Criança; Brincar; Hospitalização.
1. INTRODUÇÃO
A brinquedoteca hospitalar surge com a intenção de proporcionar uma aproximação
da criança internada com suas atividades cotidianas, quebrando a predominância da
característica hospitalar voltada para diagnosticar e intervir no combate a doença. Este
espaço lúdico tenta amenizar o estresse de estar hospitalizado, pois para muitas crianças
estar em um ambiente diferente do habitual pode gerar desconforto. Não estar com seus
colegas e amigos, conviver com pessoas diferentes, movimento de entrada e saída de
enfermeiros e médicos no quarto hospitalar, pode fazer com que a criança não consiga
verbalizar e expressar seus desejos e necessidades. A doença pode vir a gerar uma
fragilização emocional tanto para as crianças como para seus cuidadores. Sendo assim, o
espaço do brincar, onde há interação entre pais, familiares e criança torna-se fundamental,
podendo ajudar no processo de melhora da situação de doença, e no fortalecimento do
vínculo, pois nesse espaço ela volta a fazer coisas que estava acostumada a realizar em
casa, como brincar, rir e interagir com outras crianças (OLIVEIRA, 2007).
O objetivo deste trabalho é apresentar a experiência na participação do projeto de
extensão: Ludicidade em Ambiente Hospitalar: uma estratégia multidisciplinar no cuidado da
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criança, que organizou a sala lúdica no Hospital Casa de Saúde/SM, e a batizou como
“Imaginoteca” . Um dos objetivos do projeto é resgatar a rotina extra-hospital de brincadeiras
com as crianças internadas e proporcionar um momento de relaxamento e envolvimento
com seu cuidador através de um ambiente lúdico no hospital.
2. O BRINCAR
O momento de brincar, além de trazer as crianças para um ambiente diferente do
habitual de um hospital proporciona a elas a capacidade de estarem no controle da situação,
isto desde a escolha de com o que brincar como também como fazem para manusear o
brinquedo, o que imaginam e depositam nele. Oliveira (2007) refere-se ao processo de
autonomia da criança ao dizer que esta
Quando brinca, pode agir e sentir-se bem e forte como aquele que cuida,
que trata, que alimenta, que investiga. Por meio da brincadeira simbólica, ou
do faz de conta, como é chamada, o virtual permite justamente essa
transposição de papéis, deslocando diametralmente a posição passiva, de
quem recebe cuidados, para a ativa, de quem cuida, organiza, delibera
(OLIVEIRA, 2007, p.28).
Pois conforme Levovici e Diatkine (2002) o brinquedo quando presente é sinal de
boa saúde mental da criança, é no brincar que ela expressa como está no momento e como
ela é. Segundo os autores é na contribuição do brincar lúdico que há um desenvolvimento
nas relações e capacidades do sujeito.
Segundo Winnicott (1993) o brincar é o que nos vincula com o simbólico, possibilita o
acesso à criatividade. O brincar favorece a ludicidade, que é tão importante para a saúde
mental do ser humano, resgatando um espaço para a expressão mais genuína do ser, é o
espaço do exercício da relação afetiva com o mundo, com as pessoas e com os objetos
(WINNICOTT, 1993).
2.1 A Sala lúdica – A Imaginoteca
No espaço da imaginoteca utilizam-se muitos brinquedos visíveis às crianças,
causando assim uma excitação e ansiedade nestas ao entrarem na sala, pois existem
muitas opções de com o que brincar. Para Cunha (2001), a brinquedoteca pode existir até
mesmo sem brinquedos, desde que outros estímulos às atividades lúdicas sejam
proporcionados. Essas atividades estão ligadas aos jogos de correr, cantigas de roda,
esconde-esconde, entre outros. Em síntese, trata-se de um espaço caracterizado por uma
variedade de brinquedos, ou poucos brinquedos, ou até mesmo sem brinquedos, mas, que o
principal objetivo é oferecer a criança um ambiente agradável, cheio de magia, alegre e
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colorido, onde mais importante que o brinquedo é o ato lúdico que proporciona ao público
infantil.
Conforme Cunha (2001) podem ser estabelecidas inúmeras razões para a criação de
brinquedotecas, algumas de ordem prática, outras de caráter educacional e até mesmo de
caráter
terapêutico.
Nesse
caso,
destacam-se
importantes
finalidades
em
uma
brinquedoteca, tais como o favorecimento do equilíbrio emocional, a oportunidade de
expansão de potencialidades, o desenvolvimento de criatividade e sensibilidade, permitir
experiências e descobertas através do brincar, valorizar a ludicidade no desenvolvimento
psicológico, emocional, intelectual e social da criança e ainda proporcionar um espaço de
brincadeiras sossegadas, sem que a criança sinta-se pressionada, interrompida ou que
alguém lhe diga que esta atrapalhando. Justamente pelo fato das crianças estarem em
tratamento médico, as atividades nas quais é necessário maior esforço físico ficam restritas,
assim foca-se a atenção nos brinquedos manuais.
Pode-se entender a brinquedoteca como um espaço que tem o papel de holding no
desenvolvimento. Segundo Winnicott (1991) o conceito de holding significa sustentação, é a
mãe que deve praticá-lo para que crie boas condições para um bom desenvolvimento da
criança, este conceito pode estender-se as famílias. E sabendo que significa um ambiente
que sustente, que suporte a ajude no desenvolvimento, é possível caracterizar a
brinquedoteca hospitalar neste papel.
Com isso, observa-se que o brincar pode ser visto como mais uma ferramenta capaz
de contribuir no processo de reabilitação e cura da criança, uma vez que, a brincadeira é
uma atividade essencial para que as crianças possam equilibrar suas tensões, trabalhar
suas necessidades cognitivas e psicológicas, dando suporte para a criação de
conhecimento e de desenvolvimento das estruturas mentais, na medida em que estabelece
uma relação com o brinquedo e a atividade lúdica.
Em seu trabalho, Kishimoto (1993) indica que as brinquedotecas em hospitais têm
extrema importância no processo de recuperação da criança hospitalizada, pois ao utilizar o
jogo ou o brinquedo nos quais representam os problemas vividos e presentes em todo o
processo de internação as crianças encontram mecanismos para enfrentar os seus medos e
angústias. Entende-se que não há generalizações no fato de que todas as crianças passam
pelos mesmos sentimentos ao estarem em um hospital, porém todas elas tendem a usar do
brinquedo como objeto de projeção de sentimentos e momentos de vida.
3. METODOLOGIA
Relato de experiência das práticas realizadas em projeto de extensão. A participação
se caracterizava pela monitoria em sala lúdica no Hospital. As práticas ocorreram durante
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um período de três meses, com frequência semanal. Os participantes das atividades eram
as crianças internadas no hospital e seus cuidadores.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES
O que fora observado e vivenciado no decorrer das atividades desenvolvidas no
hospital, com relação aos pais ou cuidadores, foi que por vezes estes parecem ter certa
dificuldade de interagirem com as crianças nas brincadeiras, seja elas em grupo ou
individual.
Durante todo o tempo de participação no Projeto tentou-se resgatar dos pais esse
potencial de brincar com seus filhos, de se envolverem no processo de construção do
mundo real a partir do simbólico experienciado pelas crianças através dos jogos e
brincadeiras por elas realizadas. Na prática observou-se que a criança brinca com mais
facilidade quando alguém se junta a ela para isto.
O que alguns adultos não assimilam e que parece inibir no brincar é o fato de
justamente o brinquedo ser algo da criança, porém brincar não é ser criança, parte-se do
pressuposto que crianças sabem diferenciar isto, porém nada impede a interação de idades,
a própria criança parece se divertir ao brincar com alguém que não brinca.
Visto isto, acredita-se que seja também função da brinquedoteca fazer com que o
brincar tenha significado para os adultos, e fazer com que estes percebam que também tem
o direito a brincadeira, pois brincar, contudo, não é só coisa de criança.
Na prática, é muito perceptível a surpresa com que as crianças reagem ao entrar na
sala pela primeira vez, pois existem tantos estímulos visuais que elas se encontram em
dúvida, estão em uma situação que devem escolher com o que brincar, e por haver tantas
coisas, muitas hesitam ao pegar os brinquedos. Aquelas que já haviam ido ao ambiente
antes, costumam agir com mais confiança.
Durante o processo de adentrar a brinquedoteca nenhuma criança é obrigada a
nada. Se, porventura, durante uma atividade ela quiser ficar parada, respeita-se esta
decisão, apenas usa-se de motivação para que este sujeito comece a brincar. A escolha do
brinquedo deve partir da livre opção da criança, nesse caso, faz-se apenas uma préseleção, distribuindo o brinquedo de acordo com a faixa etária das crianças, para que
possam brincar a vontade e descobrir maneiras de manejar os brinquedos.
5. CONCLUSÃO
Todo processo de desenvolvimento é formado a partir de relações que se dão com
as pessoas e com seu mundo pessoal, o brincar é extremamente importante neste
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processo, pois proporciona formas de participação ativa e de autonomia, a partir disso podese expressar sentimentos através do contato que se faz com os brinquedos e com a
imaginação da brincadeira.
Além do bem que foi perceptível que a brinquedoteca traz as crianças e aos
familiares, ela também proporciona novas formas de ver, de conhecer, de entender e de
esperar os processos de construção e desenvolvimento das crianças e das suas relações. É
preciso que haja um olhar para além da internação e da doença da criança, é preciso que
haja interação/envolvimento entre ela e entre as coisas que lhe dão prazer. Nesta
experiência, percebe-se o quanto a troca e o doar-se ao outro é tão importante para que
haja um (des)envolvimento entre as pessoas e seus sentires e fazeres.
Pode-se concluir este trabalho sobre a experiência na imaginoteca hospitalar com as
palavras de Nogueira (1991) ao se referir ao trabalho dos Doutores da Alegria, grupo de São
Paulo que intervém pelo lúdico com crianças nos hospitais:
Se eu for acreditar na primeira imagem que vejo quando entro no hospital,
então é melhor ficar lá fora! Porque os fios, as ataduras, a enfermidade,
tudo isso a gente já viu, é o externo, agora buscar o que está bom, que está
lá dentro, e trazer para fora, isso é a essência do que a gente faz
(NOGUEIRA, 1991, p. 75).
6. REFERÊNCIAS
CUNHA,N. H S. Brinquedoteca: Um mergulho no brincar. 3 ed. São Paulo: Vitor, 2001.
KISHIMOTO, T. M. Jogos Infantis: O jogo, a criança e a educação. 9ª ed. Petrópolis-RJ:
Vozes, 1993.
LEBOVICI, S.& DIATKINE, R. Significado e função do brinquedo na criança. 3 ed. Porto
Alegre: Artes Médicas, 2002.
NOGUEIRA, W.Doutores da alegria: O lado invisível da vida. Nova York: Mixer, 1991.
OLIVEIRA, V. B. de. O Lúdico na realidade hospitalar. In VIEGAS, D. (org). Brinquedoteca
hospitalar: isto é humanização. Rio de Janeiro: Wak, 2007.
WINNICOTT, D. Holding e Interpretação. 1.ed São Paulo: Martins Fontes, 1991.
WINNICOTT, D. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro, Imago,.1993.
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