Artigo Original Rev Bras Nutr Clin 2007;22(4):273-9 Idosos hospitalizados: estado nutricional, dieta, doença e tempo de internação Elderly inpatients: nutritional status, diet, disease and duration of hospital stay Ancianos hospitalizados: estado nutricional, dieta, enfermedad y tiempo de internación Natalia Moreno Gaino1 Resumo Vânia Aparecida Leandro-Merhi2 A identificação do paciente idoso desnutrido no ambiente hospitalar e a sua interpretação são fer- Maria Rita Marques de Oliveira3 ramentas fundamentais no processo da terapia nutricional, já que a desnutrição é comum na população geriátrica. O objetivo deste estudo foi avaliar o estado nutricional de idosos internados em uma unidade hospitalar e sua relação com doença, dieta, tempo de internação e serviço de saúde. O estudo foi transversal, com 100 pacientes idosos hospitalizados, sendo analisados o estado nutricional por meio da Miniavaliação Nutricional (MAN), doença, dieta, tempo de internação e tipo de serviço de saúde (público ou privado). Os dados foram expressos por meio de estatística descritiva, com as diferenças entre as distribuições percentuais das variáveis nominais, analisadas pelo teste do qui-quadrado, agrupando-se os valores quando necessário. Em todas as comparações, Unitermos foi adotado como nível de significância p < 0,05. Na população estudada, 42% estavam eutrófi- Idoso; estado nutricional; avaliação nutricional; cos, 36% em risco de desnutrição e 22% desnutridos. Quando analisado o estado nutricional em dieta; tempo de internação relação ao sexo, verificou-se diferença significativa de p = 0,042, observando-se maior prevalência Key words Aged; nutritional status; nutrition assessment; de desnutrição no sexo feminino (31,5%). Quanto ao estado nutricional em relação à faixa etária e tempo de internação, segundo o sexo, não foi constatada diferença entre eles (p > 0,05); no diet; length of stay entanto, a faixa etária em relação ao sexo mostrou diferença estatística com p < 0,05, com maior Unitérminos ao sexo, mostrou diferença significativa (p < 0,05). Pelo fato da população idosa apresentar um Anciano; estado nutricional; evaluación crescimento acentuado, a prestação de cuidados de saúde, incluindo a assistência nutricional por nutricional; dieta; tiempo de internación meio de modelos adequados, deveria ser prática rotineira durante a hospitalização. Endereço para correspondência: Abstract Vânia Aparecida Leandro-Merhi The identification of the malnourished elderly patient in the hospital environment and its inter- Avenida Carlos Grimaldi, 1.171, quadra D, lote 13 – Jardim Madalena Residencial Vila Verde CEP 13091-906 – Campinas/SP E-mail: [email protected] prevalência de idosos a partir dos 70 anos de idade. O estado nutricional em relação a doença e pretation are essential tools in the nutritional therapy process, since malnutrition is common among the geriatric population. The objective of this study was to assess the nutritional status of elderly inpatients in a hospital unit and its relationship with the disease, diet, duration of hospital stay and healthcare service. The study was cross-sectional, with 100 elderly inpatients. Nutritional status was determined by the Mini Nutritional Assessment (MNA) method. Disease, diet, duration of hospital stay and type of healthcare service (public or private) were also inves- Submissão tigated. The data were expressed by descriptive statistics with the differences between the 11 de agosto de 2007 percentage distribution of the nominal variables analyzed by the chi-square test and the values Aceito para publicação grouped whenever necessary. The adopted level of significance for all the comparisons was p < 6 de novembro de 2007 0.05. In the studied population, 42% were well nourished, 36% were at risk of malnourishment and 22% were malnourished. When the nutritional status was analyzed in relation to gender, a significant difference of p = 0.042 was verified with malnourishment being more prevalent among females (31.5%). Regarding the nutritional status in relation to age group and duration of hospital stay, according to gender, a significant difference was not found among them (p > 0.05); however, the age group in relation to gender presented a statistical difference with p < 0.05, with a higher prevalence among elderly at or above 70 years of age. The nutritional status in relation to disease and gender also presented a significant difference (p < 0.05). Since the geriatric population is growing substantially, the delivery of healthcare services, including nutritional assistance by adequate models, should be a routine practice during hospital stay. Nutricionista, curso de Nutrição, Universidade Metodista de Piracicaba (Unimep) 1 Resumen La identificación del paciente anciano desnutrido en el ambiente hospitalario y su interpretación Professora doutora do curso de Nutrição da Unimep e Faculdade de Nutrição da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) son herramientas fundamentales en el proceso de la terapia nutricional, ya que la desnutrición es Professora doutora do curso de Nutrição da Unimep dos en un hospital y su relación con enfermedad, dieta, tiempo de internación y servicio de salud. 2 3 común en la populación geriátrica. El objetivo fue evaluar el estado nutricional de ancianos interna- Gaino NM, Leandro-Merhi VA, Oliveira MRM Estudio transversal con 100 pacientes ancianos hospitalizados, analizándose el estado nutricional por medio de la mini evaluación nutricional (MAN), enfermedad, dieta, tiempo de internación y tipo de servicio de salud (público o privado). Los datos se muestran por medio de estadística descriptiva, con las diferencias entre las distribuciones porcentuales de las variables nominales, analizadas por el teste qui-cuadrado, agrupándose los valores cuando necesario. En todas las comparaciones ha sido adoptado como nivel de significancia p < 0,05. En la población estudiada 42% estaban eutróficos, 36% en riesgo de desnutrición y 22% desnutridos. Cuando analizado el estado nutricional en relación al sexo se ha verificado diferencia significativa de p = 0,042, observándose mayor prevalencia de desnutrición en el sexo femenino (31,5%). En lo referente al estado nutricional en relación a la franja de edad y tiempo de internación, según el sexo, no ha sido constatada diferencia entre ellos (p > 0,05), sin embargo, la franja de edad en relación al sexo mostró diferencia estadística con p < 0,05, con mayor prevalencia en ancianos a partir de los 70 años de edad. El estado nutricional en relación a enfermedad y el sexo, indicó diferencia significativa (p < 0,05). Dado que la población anciana presenta un crecimiento acentuado, la prestación de cuidados con la salud, incluyendo la asistencia nutricional por medio de modelos adecuados, debería ser práctica rutinaria durante la hospitalización. Introdução No Brasil e em diversos outros países em desenvolvimento, o aumento da população idosa vem ocorrendo de forma muito rápida. A Organização das Nações Unidas (ONU) considera o período de 1975 a 2025 como a era do envelhecimento, diante do crescimento marcante da fração de indivíduos considerados idosos¹. A população de idosos no Brasil engloba cerca de 14,5 milhões de pessoas, sendo que a Região Sudeste (Rio de Janeiro, Espírito Santo, São Paulo e Minas Gerais) é a que apresenta maior concentração (9,3% da população)². Segundo Chaimowicz3, estimase que, no Brasil, a população de idosos crescerá 16 vezes, contra cinco vezes o crescimento da população geral. Em termos absolutos, em 2025, isso significará a sexta maior população de idosos do mundo, ou seja, 32 milhões de indivíduos idosos. O processo rápido do envelhecimento da população brasileira, apesar de recente, vem sendo ressaltado na produção científica e nos fóruns de discussão sobre o assunto. Tal processo não é discutido apenas por suas implicações sociais, mas também pela necessidade de estruturação de um modelo assistencial que contemple o segmento idoso de forma integral, superando os desafios representados por novas demandas sociais e de saúde4. Tem sido crescente a atenção aos estudos de utilização de serviços de saúde por idosos, uma vez que grande parte dos gastos vem sendo realizada por essa população, por consumirem maior quantidade de serviços e de alto custo. Apesar disso, o conhecimento sobre o padrão de utilização de serviços de saúde por idosos ainda é limitado5. Segundo Huisman et al.6, existem ainda poucos estudos que buscam investigar a presença de desigualdade social em saúde e na utilização dos serviços médicos entre os idosos, sobretudo análises comparativas entre os países menos desenvolvidos. A maior parte desses trabalhos foi realizada em países com economias mais avançadas e se constitui em uma extensão da literatura que enfoca todos os grupos de idade e a população em idade ativa. Nesses países desenvolvidos, a evidência empírica constata a presença de desigualdades sociais na utilização dos serviços médicos, favorecendo aos idosos que pertencem a grupos sociais privilegiados. 274 Nos idosos, o processo da doença pode contribuir com a piora do estado nutricional e submeter o organismo a diversas alterações anatômicas e funcionais, com repercussões nas condições de saúde e nutrição do idoso7. A determinação do diagnóstico nutricional e a identificação dos fatores que contribuem para tal diagnóstico no indivíduo idoso são, portanto, processos fundamentais, mas complexos. A complexidade se deve à ocorrência de diversas alterações, tanto fisiológicas quanto patológicas, além de modificações de aspectos econômicos e de estilo de vida, entre outros, com o avançar da idade8. Tem sido aplicado instrumentos diferentes na avaliação de idosos, como por exemplo, o novo índice de risco nutricional geriátrico (GNRI), cuja validade tem sido observada quanto ao risco de complicações relacionadas ao estado nutricional9. A antropometria tem se mostrado um importante indicador do estado nutricional. Além de fornecer informações das medidas físicas e de composição corporal, é um método não invasivo e de execução fácil e rápida. No caso de idosos, as medidas antropométricas mais utilizadas são: peso, estatura, perímetros e dobras cutâneas10. A avaliação do estado nutricional possibilita identificar os pacientes com risco aumentado de apresentar complicações associadas ao estado nutricional e, com isto, promover uma terapia nutricional adequada, além de monitorar a eficácia da intervenção dietoterápica11. Um dos métodos utilizados para diagnosticar risco de desnutrição em idosos e identificar aqueles que possam se beneficiar de intervenção precoce é a Miniavaliação Nutricional (MAN)12. A MAN é um método simples, de baixo custo e não invasivo, podendo ser realizado à beira do leito12. A soma dos escores da MAN permite diferenciar os seguintes grupos de pacientes idosos: os que têm estado nutricional adequado; os que correm risco de desnutrição e os que apresentam desnutrição declarada. A sensibilidade desta escala é de 96%, a especificidade de 98% e o valor do prognóstico para a desnutrição é de 97%, considerando o estado clínico como referência12. Um estudo recente desenvolvido por Izawa et al., utilizando a MAN, mostrou que a população de idosos com maior necessidade de cuidados está associada com uma prevalência maior de desnutrição13. Idosos hospitalizados: estado nutricional, dieta, doença e tempo de internação Os fatores de risco, que predispõem à permanência prolongada do paciente no hospital estão associados com a má evolução clínica e aos custos elevados. Embora o tempo de internação possa ser afetado por políticas de alta hospitalar, por diferentes tipos de práticas e administração dos leitos, a permanência prolongada de pacientes hospitalizados pode afetar negativamente o estado de saúde, aumentando o risco de infecções, complicações e, possivelmente, a mortalidade. Também afeta a disponibilidade de leitos e poderá resultar em cancelamento de procedimentos cirúrgicos eletivos, levando a longos períodos de espera e tempo perdido na enfermaria antes da internação14. A permanência prolongada de pacientes internados é mais freqüente naqueles gravemente enfermos na admissão e está associada a um índice mais alto de mortalidade hospitalar14. Assim, esse estudo teve por objetivo avaliar o estado nutricional de idosos hospitalizados e sua relação com as diversas doenças, dietas, tempo de internação e serviços de saúde públicos e privados. Casuística e métodos Foi realizado um estudo transversal com 100 (n = 100) pacientes idosos (≥ 60 anos) nos meses de agosto e setembro de 2006, sendo analisados o estado nutricional, doença, dieta, tempo de internação e tipo de serviço de saúde (público ou privado), em pacientes internados nas enfermarias clínicas e cirúrgicas da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Piracicaba, SP. Este trabalho foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa com seres humanos da instituição, de acordo com a resolução nº. 196/96 do Ministério da Saúde. Os critérios de inclusão adotados para este estudo foram pacientes com idade igual ou superior a 60 anos e com necessidade de cuidados especiais de nutrição devido ao estado nutricional debilitado, sendo o trabalho iniciado após todos os pacientes concordarem em participar do estudo, informados da finalidade do mesmo e depois da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. A entrevista foi realizada sempre que possível com o próprio idoso, ou então, quando não possível com este, com um membro da família maior de 21 anos, ou qualquer outro acompanhante. Iniciou-se a coleta de dados por meio da aferição da circunferência do braço (CB) e da circunferência da panturrilha (CP). A CB e a CP foram aferidas com o auxílio de uma fita métrica plástica em centímetros com precisão para milímetros. Foi utilizado a MAN baseada no modelo de Guigoz & Garry15, que envolvia diversas questões como, por exemplo, diminuição da ingestão alimentar, perda de apetite, dificuldade de locomoção, estresse psicológico, percentil (da CB), dentre outros que fazem parte da triagem. A MAN envolveu também a avaliação global, que continha questões sobre a moradia do paciente (se reside na própria casa ou não), os tipos de medicamentos utilizados diariamente, lesões de pele, o número de refeições diárias e o que é consumido nestas refeições, ingestão de líquidos, modo de se alimentar, autopercepção de saúde e medidas de CB e de CP. O estado nutricional (eutrofia, risco de desnutrição e desnutrição) obtido pela MAN foi anotado em questionário previamente estabelecido contendo dados de identificação pessoal, setor (Sistema Único de Saúde (SUS) ou convênio), tempo de internação, motivo da internação (doença) e dieta prescrita na internação. Os dados foram processados pelo programa Excel, sendo expressos por meio de estatística descritiva. As diferenças entre as distribuições percentuais das variáveis nominais foram analisadas pelo teste do qui-quadrado, agrupando-se os valores quando necessário. Em todas as comparações foi adotado como nível de significância p < 0,05. A análise estatística foi feita inicialmente por meio de descrições tabulares e gráficas do perfil da amostra e da freqüência percentual obtida para cada uma das questões16. A seguir foram feitas tabelas de contingência17, cruzando as freqüências percentuais das principais variáveis ilustrativas com as variáveis ativas, e utilizado o teste do qui-quadrado de Pearson para avaliar o grau de independência entre as variáveis. χ 2obs = ∑ ij ( y ij − e ij ) 2 e ij onde eij = freqüência esperada de ocorrências do cruzamento das variáveis na amostra, se estas forem independentes. 2 Essa estatística tem distribuição de χ com (I-1)(J-1) graus de liberdade (I = número de níveis da variável X e J = número 2 de níveis da variável Z), ou seja, o valor de χ observado foi comparado com um valor tabelado a um nível p de erro e os graus de liberdade associados às duas categorizações. Assim, se χ 2obs > χ 2tab (5%) (p ≤ 0,05), rejeitou-se a hipótese de independência (ou de relação) entre as variáveis com nível de 5%. Resultados A população estudada foi composta por 46% dos pacientes do sexo masculino e 54% do feminino. Destes, 42% estavam eutróficos, 36% em risco de desnutrição e 22% desnutridos. Quando analisado o estado nutricional em relação ao sexo, verificouse diferença significativa de p = 0,042 (p < 0,05), observando-se maior prevalência de desnutrição no sexo feminino (31,5%). Quanto ao estado nutricional em relação à faixa etária e ao tempo de internação, segundo o sexo, não foi constatada diferença entre eles (p > 0,05); no entanto, a faixa etária em relação ao sexo mostrou diferença estatística com p < 0,05, com maior prevalência de idosos a partir dos 70 anos de idade (Tabela 1). O estado nutricional em relação à doença e ao sexo mostrou diferença significativa (p < 0,05, Tabela 2), não sendo verificado a mesma diferença quando analisado apenas o sexo em relação ao 275 Gaino NM, Leandro-Merhi VA, Oliveira MRM tipo de doença (p > 0,05). A relação entre o estado nutricional e o tipo de dieta, segundo o sexo, também não foi significativa (p > 0,05), nem o sexo em relação ao tipo de dieta, conforme observado na Tabela 3, sendo observado aqui que os pacientes desnutridos ou em risco de desnutrição, foram os que receberam dieta enteral durante a internação e apenas os desnutridos receberam dieta líquida. A dieta geral e geral modificada, que normalmente são as mais utilizadas na prática dietética hospitalar, foi prescrita em 80,9% dos pacientes com eutrofia, em 69,4% dos pacientes com risco de desnutrição e em 22,7% dos pacientes com desnutrição. A relação entre o setor (SUS ou convênio) e o tipo de doença (Tabela 4), não foi significativa (p > 0,05). e à capacidade funcional. Este trabalho mostrou que a freqüência de desnutrição foi elevada, independente do método adotado. A desnutrição em pacientes idosos é muito comum nos hospitais e, dependendo dos grupos de pacientes considerados, a prevalência da mesma pode chegar em até 60% deles18. Um trabalho realizado recentemente com uma população japonesa apontou, de acordo com a aplicação da MAN, 39,9, 51,2 e 8,9% de pacientes com eutrofia, risco de desnutrição e desnutrição, respectivamente13. O presente estudo apresentou índices elevados de desnutrição (22%) e de risco de desnutrição (36%). Em estudo realizado por Isenring et al.19, a maioria dos pacientes avaliados era do sexo masculino (85%) e, por meio da avaliação subjetiva global, 65% estavam eutróficos, 28%, com desnutrição moderada e apenas 7% apresentavam desnutrição grave. De acordo com Christensson et al.20, conforme pontuação final da MAN, 23% estavam desnutridos e 56%, em risco de desnutrição, sendo a MAN um método adequado para o diagnóstico de desnutrição e risco de desnutrição Discussão A população estudada refere-se aos idosos hospitalizados e submetidos ao cuidado nutricional durante o período. A MAN podia ser utilizada em todos os pacientes, apesar da heterogeneidade no que diz respeito à idade, à doença, ao tipo de tratamento Tabela 1 - Estado nutricional em relação à faixa etária e ao tempo de internação, segundo o sexo (n = 100). Estado nutricional Sexo Eutrofia Risco desnutrição Desnutrição Total M F M F M F M F N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) 20 (22%) 12 (11%) Faixa etária 60-69 anos 12 (26%) 5 (13%) 5 (14%) 5 (14%) 3 (30%) 2 (6%) p = 0,078 70-79 anos 7 (15%) 10 (26%) 9 (25%) 5 (14%) 2 (20%) 5 (14,7%) χ² = 9,879 ≥ 80 4 (9%) 4 (11%) 4 (11%) 8 (22%) - 10 (29%) GL = 5 8 (9%) 22 (20%) 18 (19,5%) 20 (18,5%) p = 0,023 χ² = 5,157 GL = 1 Tempo de internação Até três dias 19 (41%) 15 (40%) 15 (41,5%) 14 (39%) 2 (20%) 8 (23,5%) p = 0,226 36 (39%) 37 (34%) p = 0,292 4-6 dias 3 (7%) 2 (5%) 2 (5,5%) 2 (5,5%) 2 (20%) 4 (14,7%) χ² = 12,951 7 (7,5%) 8 (7,5%) χ² = 2,456 7-9 dias 1 (2%) 2 (5%) - 1 (2,7%) - 2 (6%) GL = 10 1 (1%) 5 (4,5%) GL = 2 - - 1 (3%) 1 (2,7%) 1 (10%) 3 (9%) 2 (2%) 4 (3,5%) ≥ 10 GL = graus de liberdade; para efeito de comparação das diferenças entre o estado nutricional, os dados ≥ 80 com 70-79 anos e ≥ 10 com 7-9 dias foram somados. Tabela 2 - Estado nutricional em relação ao tipo de doença, segundo o sexo (n = 100). Estado nutricional Sexo Eutrofia Risco desnutrição Desnutrição Total M F M F M F M F N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) Doença AVC - - - - - 5 (29%) p = 0,003 - 5 (9%) p = 0,176 DCV 5 (22%) 5 (26%) 3 (17%) 1 (5,5%) 1 (20%) 1 (6%) χ² = 29,687 9 (20%) 7 (13%) χ² = 8,940 Diabetes mellitus 2 (9%) 2 (11%) 1 (5,5%) 2 (11%) 2 (40%) - GL = 12 5 (11%) 4 (7,5%) GL = 6 Doenças urológicas 5 (22%) - 2 (11%) - - - 7 (15%) - Doenças respiratórias 1 (4%) 1 (5%) - 1 (5,5%) - 2 (12%) 1 (2%) 4 (7,5%) Neoplasias 1 (4%) 1 (5%) 7 (39%) 2 (11%) 1 (20%) 2 (12%) 9 (20%) 5 (9%) Doenças TGI e glândulas anexas 1 (4%) 2 (11%) 3 (16,5%) 4 (22,5%) 1 (20%) 1 (6%) 5 (11%) 7 (13%) Trauma e cirurgia 6 (26%) 5 (26%) 1 (5,5%) 7 (39%) - 2 (12%) 7 (15%) 14 (26%) Outras 2 (9%) 3 (16%) 1 (5,5%) 1 (5,5%) - 4 (23%) 3 (6%) 8 (15%) AVC = acidente vascular cerebral; DCV = doença cardiovascular; doenças TGI = doenças do trato gastrintestinal; GL = graus de liberdade; para efeito de comparação das diferenças entre estado nutricional, os dados de homens e mulheres foram agrupados, assim como foram somadas as doenças AVC com DCV e doenças urológicas com outras. 276 Idosos hospitalizados: estado nutricional, dieta, doença e tempo de internação em idosos, possibilitando a identificação dos fatores de risco para a desnutrição. No Brasil, num trabalho com idosos hospitalizados, 83% dos pacientes apresentaram redução entre moderada e grave da reserva adiposa pela antropometria e 91,5% pela avaliação nutricional subjetiva global, sugerindo, segundo os autores, que a avaliação nutricional subjetiva global pode ser considerada uma ferramenta complementar do diagnóstico21. Tavares e Anjos22 relatam que a freqüência de magreza, inclusive as mais intensas, aumenta nas últimas faixas de idade, com ligeira predominância em mulheres, quando comparadas aos homens até a faixa de 70 a 75 anos. O grupo feminino apresentou prevalências maiores de formas moderadas e graves de magreza em quase todas as faixas etárias, sendo a desnutrição crônica comum entre as mulheres de países pobres. Neste trabalho, nenhuma associação foi encontrada entre tempo de internação e o estado nutricional, segundo o sexo. Entretanto, Siqueira et al.23 verificaram associação signi- ficativa entre maior comprometimento do estado nutricional e período de hospitalização prolongada. Os idosos utilizam os serviços hospitalares de maneira mais intensiva que os demais grupos etários, envolvendo custos maiores e implicando em tratamento mais prolongado e em recuperação mais lenta e complicada. A hospitalização é considerada de grande risco especialmente para as pessoas mais idosas. O retrato da morbidade do idoso no Brasil apresenta características distintas daquelas vividas pelas faixas etárias mais jovens. As freqüências de internações e as taxas de utilização mostram que esse consumo é bastante diferenciado entre as faixas etárias e entre os sexos24. Nos últimos tempos, ocorreu um processo de mudança no perfil de saúde da população, com predomínio das doenças crônicas. A desnutrição no grupo de idosos começa a despertar o interesse, pelo número expressivo de óbitos observados a cada ano, principalmente entre os mais idosos25. De acordo com Nunes24, as duas causas mais freqüentes de internação em idosos de ambos os sexos são a insuficiência Tabela 3 - Estado nutricional em relação ao tipo de dieta prescrita, segundo o sexo (n = 100). Estado nutricional Sexo Eutrofia Risco desnutrição Desnutrição Total M F M F M F M F N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) N (%) Geral 10 (44%) 9 (48%) 7 (39%) 4 (22%) - 5 (29%) p = 0,097 17 (37%) 18 (33%) p = 0,869 Geral Modificada 7 (30%) 8 (42%) 6 (33%) 8 (45%) 1 (20%) 3 (18%) χ² = 22,389 14 (30%) 19 (35%) χ² = 0,715 Leve 3 (13%) - 3 (17%) 4 (22%) 2 (40%) 4 (23%) GL = 15 8 (18%) 8 (15%) GL = 3 Leve Modificada 1 (4%) 1 (5%) 1 (5,5%) - 1 (20%) 1 (6%) 3 (7%) 2 (4%) Líquida - - - - 1 (20%) 2 (12%) 1 (2%) 2 (4%) Enteral - - 1 (5,5%) 1 (5,5%) - 2 (12%) 1 (2%) 3 (5%) Jejum 2 (9%) 1 (5%) - 1 (5,5%) - - 2 (4%) 2 (4%) Dieta Prescrita GL = graus de liberdade. Para efeito de comparação das diferenças entre estado nutricional, os dados de homens e mulheres foram agrupados, assim como foram somadas as dietas leves, liquidas e enterais, enquanto, o jejum não foi considerado. Tabela 4 - Setor (SUS ou convênio) em relação ao tipo de doença, segundo o sexo (n = 100). Setor SUS Convênio M F M F N (%) N (%) N (%) N (%) AVC - 3 (13%) - 2 (6%) p = 0,084 DCV 1 (10%) 2 (9%) 8 (22%) 5 (16%) χ² = 11,128 Diabetes mellitus 3 (30%) 3 (13%) 2 (6%) 1 (4%) GL = 6 - - 7 (19%) - Sexo Doença Doenças Urológicas Doenças Respiratórias - 2 (9%) 1 (3%) 2 (6%) Neoplasias 3 (30%) 4 (17%) 6 (17%) 1 (4%) Doenças TGI e vias anexas 2 (20%) 1 (5%) 3 (8%) 6 (19%) Trauma e Cirurgia 1 (10%) 4 (17%) 6 (17%) 10 (32%) - 4 (17%) 3 (8%) 4 (13%) Outras AVC = acidente vascular cerebral; DCV = doença cardiovascular; doenças TGI = doenças do trato gastrintestinal; GL = graus de liberdade; para efeito de comparação das diferenças entre estado nutricional, os dados de homens e mulheres foram agrupados, assim como foram somadas as doenças AVC com DCV e doenças urológicas com outras. 277 Gaino NM, Leandro-Merhi VA, Oliveira MRM cardíaca e coronariana e as doenças pulmonares, que se revezam como a primeira e segunda causas. O acidente vascular cerebral (AVC) agudo, a crise hipertensiva, as enteroinfecções, a desnutrição, a desidratação, a anemia, o diagnóstico e o primeiro atendimento estão sempre presentes como causas intermediárias, tanto para homens quanto para mulheres. As outras causas de internação apresentam um comportamento mais heterogêneo, contrariando o presente estudo, que teve como causas mais freqüentes de internação casos como fratura de fêmur, cirurgia da bacia, hérnia inguinal, dentre outras – aqui classificadas como trauma e cirurgias. Já Laurenti et al.26 verificou em seu estudo uma redução no total de internações de 20,9% (passou de 15.617.080 para 12.351.464). A redução de internações por doenças do aparelho circulatório foi de 27,1% (de 1.613.070 para 1.176.300) e a de doenças isquêmicas do coração de 29,8% (de 168.216 para 118.090). Observou-se redução na internação para todos os grupos, sendo menores aquelas referentes a causas mal definidas (5,3%), doenças do aparelho respiratório (14,2%) e anomalias congênitas (14,7%). Reduções maiores que aquelas por doenças isquêmicas do coração foram observadas apenas para as doenças infecciosas e parasitárias (34,6%), neoplasias (32,3%), doenças do aparelho geniturinário (37,3%) e doenças osteomusculares (33,5%). Pacientes idosos hospitalizados apresentam, em sua maioria, estado nutricional inadequado, sendo a alimentação considerada um fator circunstancial à desnutrição hospitalar, pelas mudanças alimentares, troca de hábitos e horários alimentares. O presente estudo não apresentou relação direta entre o estado nutricional do idoso e o tipo de dieta hospitalar oferecida, sendo esta última importante por garantir o aporte de nutrientes ao paciente internado e, preservando assim, seu estado nutricional. Pouca atenção tem sido dada à alimentação do paciente hospitalizado, apesar da preocupação com o aspecto nutricional. A preocupação com a alimentação hospitalar infelizmente não se compara à intensa produção científica sobre o impacto da hospitalização no estado nutricional e sobre suporte nutricional27. O envelhecimento populacional tornou-se tema da atualidade, principalmente quando a discussão atinge a questão do preparo dos sistemas de saúde para acolher essa demanda crescente23. O presente estudo não apresentou diferença significativa entre os sistemas de saúde SUS e convênio. Existem ainda poucos estudos que buscam investigar a presença de desigualdade social em saúde e na utilização dos serviços médicos entre os idosos28. Na América Latina, os estudos existentes indicam que, quanto melhores as condições sociais dos indivíduos ou das localidades, melhor é o estado de saúde e o acesso aos serviços, considerando todos os grupos etários. Portanto, estudos adicionais são necessários para explicar as interações entre os sistemas de saúde e a presença de desigualdades sociais em saúde28. Apesar das dificuldades para se avaliar a prevalência, está muito claro que pacientes desnutridos permanecem hospitalizados por mais tempo, requerem mais prescrições de drogas e estão mais susceptíveis a desenvolverem infecções hospitalares; no entanto, seria obscuro afirmar aqui se estes eventos resultam na desnutrição ou da gravidade da doença, considerando ainda ser impossível separar uma condição da outra. Nossos dados sugerem que é extremamente difícil obter uma avaliação exata da situação, mas o que quer que prevaleça, é claro que a desnutrição tem um resultado clínico ruim e que os custos resultantes do serviço de saúde não podem ser ignorados. Com base nas evidências anteriores, é possível que os resultados encontrados nos pacientes idosos hospitalizados possam ser, em parte, decorrentes do processo de desnutrição e que a terapêutica nutricional durante o período de internação possivelmente melhore o estado nutricional e também contribua para a melhora da qualidade de vida e para a redução de custos hospitalares. Assim, os dados do presente trabalho permitem concluir é necessária a identificação de pacientes de risco nutricional, utilizando-se rotineiramente um conjunto de indicadores como modelo de diagnóstico nutricional, pois, diagnósticos e tratamentos precoces podem evitar, em muitos casos, longos períodos de internação e complicações. Esta população em amplo crescimento deve ser alvo de estudos que contribuam para um envelhecer saudável e com qualidade. A prestação de cuidados com a saúde do idoso, incluindo o monitoramento e a vigilância, deveria ser prática constante dos serviços, com vistas a prevenir as doenças, e promover e recuperar a saúde dos idosos. Pelo fato da população idosa apresentar um crescimento acentuado, a prestação de cuidados de saúde, incluindo a assistência nutricional por meio de modelos adequados, deveria ser prática rotineira durante a hospitalização. Referências bibliográficas 278 1. Cançado FAX. Noções práticas de geriatria. Belo Horizonte: Coopmed/Health CR Ltda, 1994. 4. Veras RP. Aspectos demográficos. In: Caldas CP (Org). A saúde do idoso: a arte de cuidar. Rio de Janeiro: UERJ/UnATI, 1998. p. 49-50. 2. Santos LC, Silva JAFS, Freitas SN, Nicolato RLC, Cintra IP. Indicadores do estado nutricional de idosos institucionalizados. Nutrição Brasil 2004;3(3):168-73. 5. Pinheiro RS, Travassos C. Estudo da desigualdade na utilização de serviços de saúde por idosos em três regiões da cidade do Rio de Janeiro. 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