PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ ESCOLA DE SAÚDE E BIOCIÊNCIAS CURSO DE PSICOLOGIA CARLA PATRÍCIA RADTKE PAULA ANDREA RAUBER HOMOPARENTALIDADE: O EXERCÍCIO DAS FUNÇÕES PARENTAIS E A CONSTITUIÇÃO SUBJETIVA DA CRIANÇA SOB A ÓTICA PSICANALÍTICA TOLEDO 2011 CARLA PATRÍCIA RADTKE PAULA ANDREA RAUBER HOMOPARENTALIDADE: O EXERCÍCIO DAS FUNÇÕES PARENTAIS E A CONSTITUIÇÃO SUBJETIVA DA CRIANÇA SOB A ÓTICA PSICANALÍTICA Artigo apresentado à disciplina de Aplicações da Psicologia em Campos Emergentes de Atuação I e II, do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Orientadora: Laurindo. TOLEDO 2011 Prof. Msª Michaella Carla CARLA PATRÍCIA RADTKE PAULA ANDREA RAUBER HOMOPARENTALIDADE: O EXERCÍCIO DAS FUNÇÕES PARENTAIS E A CONSTITUIÇÃO SUBJETIVA DA CRIANÇA SOB A ÓTICA PSICANALÍTICA Artigo apresentado à disciplina de Aplicações da Psicologia em Campos Emergentes de Atuação I e II, do curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. COMISSÃO EXAMINADORA _____________________________________ Michaella Carla Laurindo Orientadora. Psicóloga clínica. Especialista em Psicanálise pela Universidade de Marília. Mestre em Filosofia pela PUCPR. Docente do Curso de Pós Graduação em Psicanálise Clínica, UNIPAR/PR. Docente e Orientadora de Estágio em Psicologia Clínica, na abordagem Psicanalítica do curso de Psicologia da PUCPR Campus Toledo. _____________________________________ Alexandre Felipe Pacini Psicólogo, graduado pela PUCPR. Especialista em Psicologia Analítica pela PUCPR. Psicoterapeuta de orientação junguiana e psicólogo judiciário na área da infância e juventude. Docente do curso de Psicologia da PUCPR Campus Toledo. _____________________________________ Miriam Izolina Padoin Dalla Rosa Psicanalista. Graduada em Psicologia pela UNIJUÍ/RS. Especialista em Metodologia do Ensino Superior pela UNIGRAN/MS. Mestre em Educação pela UAA/PY. Especialista em Psicanálise Clínica e Cultura pela UNIPAR/PR. Mestranda em Filosofia pela UNIOESTE/PR. Docente e Orientadora de Estágio no curso de Psicologia da PUCPR/ Campus Toledo. Toledo, 12 de novembro de 2011. 3 HOMOPARENTALIDADE: O EXERCÍCIO DAS FUNÇÕES PARENTAIS E A CONSTITUIÇÃO SUBJETIVA DA CRIANÇA SOB A ÓTICA PSICANALÍTICA HOMOPARENTHOOD: THE EXERCISE OF THE PARENTAL FUNCTIONS AND THE SUBJECTIVE CONSTITUTION OF THE CHILD FROM THE PSYCHOANALYTIC PERSPECTIVE Carla Patrícia Radtke1 Paula Andrea Rauber2 Michaella Carla Laurindo3 RESUMO Considerando que a família homoparental, formada a partir da união de duas pessoas do mesmo sexo, vem sendo amplamente discutida pelas diversas áreas do saber que estudam o ser humano e a sociedade, este artigo propõe uma breve análise utilizando a teoria psicanalítica. Trata-se de uma revisão bibliográfica, que expõe a evolução do conceito de família e os pressupostos teóricos de Sigmund Freud e Jacques Lacan sobre o tema. Propusemo-nos a analisar essa nova configuração familiar e a relação pais e filhos a partir dos conceitos de função materna e função paterna, bem como sobre de que forma se dará a constituição psíquica desta criança no âmbito inconsciente. Partimos da ideia que o ser humano se constitui subjetivamente através do processo de alienação e separação. Este processo está intimamente relacionado ao desempenho das funções parentais, mas é preciso salientar que tais funções dão-se simbolicamente, articuladas ao desejo que o casal nutre pela criança, portanto independem de gênero e vão além do campo biológico. Palavras-chaves: Homoparentalidade. Psicanálise. Funções parentais. Constituição do sujeito. ABSTRACT Considering that the homoparental family, formed by the union of two persons of the same sex, has been widely discussed amongst several areas of knowledge that study human beings and the society, this article proposes a brief analysis using the psychoanalytic theory. It is a literature review, that exposes the evolution of the concept of family and the theoretical assumptions of Sigmund Freud and Jacques Lacan about the subject. We set out to analyze this new family configuration and the relations between parents and children from the concepts of maternal function and paternal function, as well as how will be the psychic constitution of this child. We started with the idea that the human being is subjectively 1 Acadêmica do 4º ano de Psicologia PUC - Pontifícia Universidade Católica – Toledo/PR. Contato: [email protected] 2 Acadêmica do 4º ano de Psicologia PUC - Pontifícia Universidade Católica – Toledo/PR. Contato: [email protected] 3 Orientadora. Psicóloga clínica. Especialista em Psicanálise pela Universidade de Marília. Mestre em Filosofia pela PUC/PR. Docente do Curso de Pós Graduação em Psicanálise Clínica, UNIPAR/Cascavel. Docente e Orientadora de Estágio em Psicologia Clínica, na abordagem Psicanalítica do Curso de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica – Toledo/PR. Contato: [email protected] 4 constituted through the process of alienation and separation. This process is closely related to the performance of parental functions, but it must be emphasized that such functions happens symbolically, articulated to the desire that the couple has for the child, independent of gender and goes beyond the biological field. Keywords: Homoparenthood. Psychoanalysis. Parental functions. Subject constitution. 1 INTRODUÇÃO Quando pensamos em família vários conceitos nos vem à mente, geralmente conceitos que se encaixam no âmbito da tradicional família heterossexual, mas que vêm se modificando com as novas formas parentais e relações familiares. A fim de compreender melhor tais transformações, este artigo discorre sobre as funções paternas e maternas no caso de uma família homoparental, que não necessariamente são desempenhadas pelo pai e mãe biológicos, e que são de grande importância para a constituição subjetiva de uma criança. Este trabalho visa discutir a questão da homoparentalidade e sua relação com as funções parentais e a constituição subjetiva da criança sob a ótica da psicanálise, através de uma revisão da literatura. Atualmente, especialistas de diversas áreas que estudam o homem e a sociedade, tais como a Antropologia, a Sociologia e a Psicologia, visam encontrar respostas sobre as implicações de uma criança ser criada por duas pessoas do mesmo sexo. Profissionais do Direito buscam estudos do gênero para justificarem seus pareces sobre a adoção de crianças por casais homossexuais. O presente trabalho visa desmistificar a ideia de que se necessita de uma pessoa do sexo feminino para exercer a função de mãe e uma pessoa do sexo masculino para exercer a função de pai. As famílias transformaram-se ao longo do tempo, o conceito modificou-se, a família da idade média que tinha como foco garantia de reprodução e manutenção da honra e do patrimônio já não é mais vigente, atualmente priorizam-se os laços afetivos e a formação do sujeito para sua inserção na sociedade. A entrada da mulher no mercado de trabalho, levou homens a exercerem atividades domésticas e auxiliar nos cuidados dos filhos, o que antes era unicamente realizado pelo público feminino. Portanto, se mesmo nas "famílias tradicionais" houve mudança nos papéis, por que não pensar a família e as funções realizadas pelos pais separadamente de orientação sexual? 5 2 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE FAMÍLIA As concepções acerca da família vêm modificando-se com o passar do tempo. Com o advento das novas formações familiares, os parâmetros sobre a constituição da família que anteriormente eram rígidos e inquestionáveis estão sendo repensados pela sociedade. A história é de extrema importância para se compreender melhor tais mudanças. Segundo Ariès (1981), na idade média a família tinha como função a garantia da reprodução, a honra do nome e manutenção do patrimônio. As relações entre os membros familiares passaram a ter maior importância do que tinham até então, começou-se a retratar mulheres e crianças em obras de arte, valorização que o autor denominou de “sentimento de família”. Nesse período não havia a separação entre público e privado, todas as relações se davam dentro da casa, desde as relações de amizade até as de comércio. A partir do século XVIII se dá a separação entre público e privado, há a delimitação de um espaço mais reservado e particular e a criança passa ser um membro indispensável, sobre a qual recai uma preocupação com educação, carreira e futuro. Com isso, o sentimento de casa passa a ser sinônimo de família. Ariès (1981) afirma que o perfil assumido pela família moderna priorizava a autoridade paterna, que estava em plena ascensão naquele momento. Aos poucos, assume o dever de uma formação moral e espiritual, passando a formar os corpos e as almas. A identificação de família costuma estar vinculada ao casamento. Segundo Dias e Souza (2001), para o cristianismo as únicas formações familiares aceitáveis são as decorrentes do casamento entre um homem e uma mulher, o que demonstra o interesse pela possibilidade de procriação. Em contrapartida, Dias (2010a) relata que a formação do núcleo familiar não é resultado exclusivamente dos sagrados laços do matrimônio, ela pode surgir do vínculo de convivência sem que haja conotação de ordem sexual entre seus membros. Sendo assim, “casamento, sexo e procriação deixaram de ser os elementos identificadores. Na união estável não há casamento, mas há família” (DIAS, 2010b). Sequeira (2007) afirma que, no final do século XIX, a mãe se ocupava de seu filho, pois a ideia de infância era ligada ao feminino, sendo o pai responsável pelo registro no cartório, atribuir seu sobrenome e dar ingresso à sociedade. Neste período, cabia à família ditar o destino da prole, a educação se mostrava muito rígida e este modelo era valorizado. Posteriormente, segundo Dias e Souza (2008), juntamente com as mudanças na forma de se constituir a família, modificaram-se também os papéis desempenhados pelo homem e pela mulher. No “modelo novo”, as fronteiras de identidades masculinas e femininas são mais 6 flexíveis e a exemplo disso, Amazonas e Braga (2006) afirmam que a inserção da mulher no mercado de trabalho, gerou uma divisão nas atribuições antes exercidas exclusivamente pela mãe. Fatores como “o declínio do patriarcado, aumento no número de divórcios, controle da natalidade e inserção da mulher no mercado de trabalho, reforçando a ampliação do conceito família” (RODRIGUEZ; PAIVA, 2009, p. 17), ensejaram mudanças no modelo tradicional por nós conhecido, composto por pai, mãe e filhos. Atualmente, segundo Rodrigues e Paiva (2009) há diversas novas formas de organizações como: monoparentais, homoparentais e recompostas, o que tacitamente elimina a ideia de um único modelo. No Brasil, de acordo com Medeiros e Osório (2000) são compreendidas como grupos de parentes, incluindo as filiações não biológicas e alianças conjugais, que se relacionam com alguma regularidade e intensidade, sem serem limitados pelas fronteiras do domicílio. Goldani (1993) relata que não se trata de uma desagregação, nem substituição da família por outras instituições, mas haveria mudanças no sentido de um modelo mais informal ou democrático de relações, onde a interdependência das trajetórias individuais substitui o conceito de dependência e os arranjos familiares tomam novos significados, formas e tamanhos. Bruschini (1989), afirma que os conceitos sobre família ainda não estão definidos e que hoje se faz necessária uma abordagem multidisciplinar para a conceituação. Além disso, o autor defende que é necessário compreendê-la como um todo, considerar seus aspectos biológicos, emocionais e sociais, e onde ocorrem relações de solidariedade, conflitos, tensão e afetos, marcada pela divisão dos papéis sociais. Não obstante, Rodriguez e Paiva (2009, p. 17), entendem família como um “conjunto de indivíduos ligados entre si por uma aliança permeada por afetos, que podem ou não possuir um vínculo consangüíneo”. Com base nestas modificações, a família tradicional dá sinais de reorganização. Segundo Sequeira (2007), a casa é cada vez mais o centro da existência, o lar oferece abrigo, proteção, calor humano, desejando conciliar as vantagens da solidariedade familiar às da liberdade individual. Bruschini (1989) destaca que apesar de existir um modelo familiar nuclear presente na sociedade como um modelo padrão universal, isso não significa que esse seja fixo ou imutável, mas sim passível de transformação. Segundo Dias e Souza (2008), as famílias modernas constituem-se em um núcleo evoluído, derivado da antiga família heterossexual, que era embasada no matrimônio, na hierarquia e na manutenção do patrimônio, que atribuía status ao casal através de uma grande prole. As autoras afirmam que a mudança dos costumes e da moral sexual, aliada à evolução 7 tecnológica e científica, alterou profundamente as representações sociais da família. De acordo com Pereira (2007), sexo, casamento e reprodução se desatrelaram definitivamente, sendo assim não é mais necessário sexo para haver reprodução e o casamento não é mais o legitimador da sexualidade. De fato, em um país crescentemente urbano, surge o estereótipo da família “classe média urbana”, utilizado como molde pela mídia, modelo ainda centrado nas funções reprodutivas, onde a criança ocupa um lugar destacado. Neste modelo assumem maior relevância o individualismo, a privacidade e as relações afetivas entre os membros, dando origem a novos padrões de sociabilidade (GOLDANI, 1993). Sendo assim, de acordo com Dias (2010b), o atual conceito de família prioriza o laço de afetividade que une seus membros, o que oportunizou também a reformulação do conceito de filiação, que se desprendeu da biologia passando a valorizar a realidade afetiva, ou seja, conforme explana Pereira (2007), a família deixou de ser, essencialmente, um núcleo econômico e de reprodução para se tornar um espaço de amor, companheirismo, solidariedade e afeto, um espaço para a construção do sujeito e de sua dignidade. A família continuará sendo o núcleo básico de qualquer sociedade, independentemente das diferentes formas de constituição. Quanto à definição dos tipos de família, é relevante destacar: a) Família Nuclear: segundo Dias (2007), trata-se da família formada por um homem, uma mulher e seus filhos, em geral unidos pelos laços do matrimônio; b) Família Monoparental: é fornada por apenas um ascendente e seus descendentes, como no caso de um dos pais e seus filhos, um dos avós ou um tio e seus sobrinhos. Sendo assim, “a família é monoparental quando o vínculo de filiação é transgeracional entre um ascendente e seus parentes em linha reta descendente” (Dias, 2010c); c) Família Pluriparental: segundo Dias (2007) é caracterizada pela união de um casal, onde ambos possuam filhos de relacionamentos prévios; d) Família Paralela: Souza (2009) afirma que esta configuração se dá quando um dos integrantes participa como cônjuge de mais de uma família, conhecido também como concubinato, segundo Sequeira (2007), este modelo é composto por uma esposa oficial e outras mulheres que também têm um lugar social definido nesta formação. 8 e) Família ou União Homoafetiva: de acordo com Souza (2009) são aquelas decorrentes da união de pessoas do mesmo sexo, mantendo convivência pública e duradoura, tendo como objetivo a constituição de família. Dias (2010c), afirma que todas as situações devem ser analisadas a partir da realidade, que por não considerar só uma forma de ser, é plural. Assim, apesar das mudanças a respeito do modelo tradicional, Rodriguez e Paiva (2009) enfatizam que, atualmente, o modelo ainda vigente na sociedade é mais restrito e considera a família no contexto nuclear-monogâmico, organizada a partir de um casamento heterossexual. O surgimento da família homoparental, na qual ao menos um adulto homossexual assume a responsabilidade parental de uma criança, opõe-se ao modelo tradicional. Esse fato gera discussões nas mais diversas áreas de conhecimento, questionando sobre a capacidade de um homossexual assumir a paternidade de uma criança e sobre como a constituição desta se dará – ou seja – dar-se-á da mesma forma que em um lar heterossexual? É neste contexto que o presente artigo se desenvolve, visando auxiliar na melhor compreensão dos aspectos subjetivos que envolvem essa forma de família, bem como sobre a forma pela qual a criança irá constituir-se subjetivamente em uma relação que envolve especificamente funções parentais materna e paterna e não papéis ligados a gênero. 3 O CONCEITO DE FUNÇÃO PARENTAL E SUA RELAÇÃO COM A CONSTITUIÇÃO PSÍQUICA DA CRIANÇA Preliminarmente, para que se possa discutir sobre os aspectos que envolvem a inserção de uma criança em um lar homoparental se faz necessário abordar as implicações das funções materna e paterna e como se dá a constituição do sujeito sob o auxílio dos pais enquanto aqueles que desempenham estas funções. A teoria psicanalítica entende que não há exclusividade das funções paterna e materna serem exercidas pelos genitores, pois se tratam de funções simbólicas. Borges (2005, p. 24) afirma que a paternidade não está amparada apenas pelo aspecto biológico, mas também, pelos sentimentos que derivam do desejo pelo filho. Deste modo, “as funções maternas e paternas vão além dos papéis de pai e mãe”, entendendo por papel “o cumprimento daquelas tarefas que culturalmente se estabelece que sejam exercidas pelo pai e/ou pela mãe, tais como com cuidados físicos e educação”. Por sua vez, a autora afirma que o termo função implica em uma posição adotada por alguém que deseja a criança. A psicanálise, portanto, pode ser a via para analisar o caso de 9 uma criança criada por um casal homoparental, uma vez que estamos falando sobre a representação de pai e mãe, não referenciando o sexo dos mesmos. A seguir serão abordados os conceitos de função parental numa articulação com a constituição psíquica da criança. Para Elia (2010) o homem é submetido desde o início de sua vida à condição de desamparo fundamental, o que exige a intervenção de um adulto que realize a ação específica necessária para sua sobrevivência. Desde os primeiros momentos da vida de uma criança ela é atravessada pelo campo da linguagem, os objetos e as ações realizadas para satisfazer as necessidades da mesma se ligam a representantes inconscientes, gerando assim significantes. Mesmo antes de nascer o bebê já faz parte do imaginário da mãe ou de quem deseja este filho, sendo inserido desde então aos mundos simbólico, imaginário através da linguagem de quem o deseja. Conforme dito anteriormente, o desamparo vivido pelo bebê e a impossibilidade de suprir as necessidades básicas para sua sobrevivência fazem necessário um agente para responder a estas demandas. De acordo com Ferreira (2000), é este agente quem realiza a função de mãe. Farinha (1999) diz que esta função é realizada por quem cumpre o papel de realizar ações específicas, agenciando respostas específicas com a finalidade de diminuir os impulsos desagradáveis sentidos pela criança. Essas ações específicas, além de suprir suas necessidades fisiológicas, atravessam o campo da linguagem e significação, gerando no bebê marcas referentes às próprias faltas e desejos do agenciador. Tal agenciador é também denominado representante materno. O representante materno é imprescindível para que ocorram os processos de alienação e separação. Durante a alienação o sujeito é representado por um significante e ocorre a formação do eu com a identificação do sujeito à imagem do corpo, que é idealizada pelo desejo alheio. A operação de separação, também situada no processo da lógica da constituição do sujeito, refere-se ao período em que a criança é apresentada à falta, o objeto de seu desejo lhe falta, e a metáfora paterna vem nomear a falta no Outro, estando articulada com a castração materna (FERREIRA, 2000). Toda relação a dois, de acordo com Lacan (2005), é sempre mais ou menos marcada pelo imaginário e para que esta assuma seu valor simbólico é necessário que um terceiro elemento faça a mediação. Hurstel (1999, p. 61) afirma que “o pai é, na teoria psicanalítica, colocado primeiro (mas não exclusivamente) como um princípio separador”, é o pai que fará o corte na relação da criança com a mãe. O Nome-do-Pai é a inserção do Outro do significante da garantia do sujeito. Por isso, trata-se de um operador formidável que se acrescenta à civilização e permite ao sujeito nela se inscrever (LAURENT, 1997, p. 45). Para 10 Lacan (2005, p. 33), “toda relação analisável, isto é, interpretável simbolicamente, está sempre inscrita em uma relação a três”. O pai enquanto função é chamado a comparecer efetivando a lei. A função do pai só se realiza na medida em que é mediada pela palavra da mãe. É função do desejo-da-mãe a transmissão do Nome-do-Pai, sendo este o primeiro agente de simbolização da criança (LACAN, 1999). Enquanto a criança vem para tamponar a falta materna, o pai respondendo ao desejo da mãe vem para intervir sobre ele e produzir a significação fálica. O desejo diz respeito à falta da mãe não como ideal, mas como objeto (LAURENT, 1997). Neste sentido Jorge e Ferreira (2010) afirmam que a função paterna é simbólica e não real, não há necessidade de ligação com o pai biológico. Lacan (1999) afirma que a função paterna pode ser exercida mesmo na ausência de um pai físico, ele deve ser nomeado pela mãe e no discurso dela mostrar sua força, assim como também à presença de um pai não garante o exercício da função paterna. Segundo Lacan (1999) tal função tem um papel importante na história da psicanálise, estando no centro da questão do Édipo, e tem como objetivo interditar a mãe, promovendo a separação do filho. Essa interdição é realizada pelo Nome-do-Pai, o símbolo do pai morto, responsável por promulgar a lei. Ele é a figura e representante da lei, é o que cria a possibilidade de surgimento do superego na criança, trata-se do agente da castração. Este pai não é um objeto real ou um objeto ideal, “é o pai simbólico”. Lacan (1999, p. 180) denomina a isso de metáfora paterna, “o pai é um significante que substituiu um outro significante”. Sendo assim, “a função do pai no complexo de Édipo é ser um significante que substitui o primeiro significante introduzido na simbolização, o significante materno”. Em concordância com estas ideias Dor (1991 apud BORGES, 2005, p. 39) afirma que o pai “não está preso necessariamente à história cronológica, mas a história mítica”. O autor também ratifica o que foi aqui exposto até o momento, afirmando que “para a possibilidade de desenvolvimento dos seres humanos em geral, as funções materna e paterna podem ser exercidas, enquanto funções simbólicas, não apenas pelo pai ou mãe ‘real’ (genitores) mas por quem as assume efetiva e afetivamente” (DOR, 1991 apud BORGES, 2005 p. 37). Como já visto, Lacan (1995, p. 225) concebe a existência de três níveis de pai: o pai simbólico, o pai real e o pai imaginário. O primeiro advém da necessidade da construção simbólica, situa-se próximo a uma transcendência, é alcançado por uma construção mítica e não está representado em parte alguma. Trata-se de um “significante que jamais se pode falar senão reencontrando ao mesmo tempo sua necessidade e seu caráter”. O pai imaginário refere-se àquele com que lidamos o tempo todo, tendo em vista que tudo se passa no nível do 11 pai imaginário – a agressividade, a dialética, a identificação e a idealização pela qual o sujeito irá ter acesso à identificação ao pai. A representação deste intervém nas fantasias da criança, sendo uma figura ocasionalmente caricata do pai, é apenas uma remota referência ao pai real, ligada à função desempenhada pelo pai imaginário em um dado momento do desenvolvimento. Por outro lado, o pai real é uma coisa sobre a qual só se tem uma remota apreensão, tendo em vista suas fantasias e a exigência da relação simbólica. “Contrariamente a uma função normativa ou típica que se lhe desejaria dar no drama do Édipo, é ao pai real que se defere, efetivamente, a função de destaque no complexo de castração” (LACAN, 1995, p. 226). Segundo Lacan (1999, p. 162), além de tê-lo inscrito no inconsciente, também se faz necessário que o sujeito saiba servir-se dele. Nisto se funda o destino e o resultado de toda a sua história, “o essencial é que o sujeito, seja por que lado for, tenha adquirido a dimensão do Nome-do-Pai”. O autor ainda afirma que a lei é aquilo que se articula no nível do significante, isto é, o texto da lei. Não é a mesma coisa dizer que uma pessoa deve estar presente para sustentar a autenticidade da fala e dizer que há alguma coisa que autoriza o texto da lei. Com efeito, o que autoriza o texto da lei se basta por estar, ele mesmo, no nível do significante. Trata-se do que chamo de Nome-do-Pai, isto é, o pai simbólico. Esse é um termo que subsiste no nível do significante, que, no Outro como sede da lei, representa o Outro. É o significante que dá esteio à lei, que promulga a lei. Esse é o Outro no Outro (LACAN, 1999, p. 152). Mas é digno de nota averiguar que a função de corte ou interdição não é uma noção da modernidade e típica da família burguesa. Freud (1913/1996, v. 21, p. 101), ao fazer uma análise sobre a relação dos povos primitivos com as ideias do totemismo e com os tabus estabelecidos neste momento da civilização, relata que os povos mais primitivos já formulavam deuses ou representações de um poder externo que lhes impunham regras e restrições. Mesmo diante do fato desses elementos não serem tangíveis, eram respeitados, temidos e amados, o que demonstra que desde os primórdios o homem já intencionava “impor as leis que regem a vida mental às coisas reais”. Neste sentido, ao refletir sobre constituição de uma criança e sua relação com o representante paterno, podemos observar que a lei nela introjetada transcende a ideia de um pai real, ou seja, pode ser expressa pela fala do agente materno, pelo seu olhar que se desvia do filho como objeto único de satisfação, por uma idealização da criança ou por algum representante desta função. 12 É impossível falar da função do pai, sem que se fale sobre o complexo de Édipo. Para Lacan (1999, p. 173), não existe a questão do Édipo se não houver o pai, porém relata que o Édipo pode constituir-se muito bem mesmo na ausência de um pai, sendo assim: é perfeitamente possível, concebível, exeqüível, palpável pela experiência, que o pai esteja presente mesmo quando não está, o que já deveria nos incitar a uma certa prudência no manejo do ponto de vista ambientalista no que concerne à função do pai. Mesmo nos casos em que o pai não está presente, em que a criança é deixada sozinha com a mãe, complexos de Édipo inteiramente normais [...] se estabelecem de maneira exatamente homóloga à dos outros casos. O complexo de Édipo compreende a escolha da criança de seu primeiro objeto de amor. Freud utiliza-se da mitologia, através do mito de Édipo Rei, para embasar a construção da teoria. Para ele “o complexo de Édipo revela sua importância como o fenômeno central do período sexual da primeira infância” (FREUD, 1924/1996, v. 13, p. 193). Apesar de Freud não ter como foco o estudo da infância, trouxe grandes contribuições para a compreensão da mesma. Foi através dos seus estudos sobre a histeria que ele deu início à psicanálise e suas descobertas sobre a psicossexualidade. Ao analisar pacientes histéricas, Freud descobriu que a base de seus sintomas estava relacionada a traumas referentes às indagações sobre a sexualidade na infância. Em 1905, formula sua teoria da sexualidade infantil e conclui que a mesma está presente já no início da vida do bebê e é introduzida através dos cuidados que o mesmo recebe da mãe ou de quem exerce essa função, pois é através desses cuidados que o corpo da criança será erogenizado. Desta feita, o corpo é um corpo pulsional, um corpo de desejo, o que faz da sexualidade infantil uma sexualidade perverso-polimorfa, ou seja, tem a capacidade de se satisfazer com o próprio corpo. Freud concebe isso ao dizer: salientemos que a pulsão não está dirigida para outra pessoa; satisfaz-se no próprio corpo, é auto-erótica, para dizê-lo com a feliz denominação introduzida por Havelock Ellis [1910] [...] Esta nasce apoiando-se numa das funções somáticas vitais, ainda não conhece nenhum objeto sexual, sendo auto-erótica, e seu alvo sexual acha-se sob o domínio de uma zona erógena (FREUD, 1905/1996, v. 7, p. 170-171). Jorge (2008) afirma que de acordo com a concepção freudiana, a pulsão é especificada por uma fonte pulsional (oral, anal, etc.) e por um alvo, que resulta na resolução de uma tensão interna. A satisfação pulsional ocorre por meio do processo de erogenização das zonas, que não se restringem a determinadas regiões corporais específicas, mas que se espalham por todo o corpo do sujeito, tornando-se desta forma um corpo erógeno ou um corpo pulsional. 13 Inicialmente Freud acreditou haver uma equivalência entre a fase no complexo de Édipo na menina e no menino, supondo que o primeiro objeto de amor dos meninos seria a mãe e das meninas o pai. Entretanto, posteriormente, ele retificou a sua ideia postulando que haveria diferenças entre os processos conforme o sexo. Para o menino, o primeiro objeto de amor é a mãe, mas por conseqüência da ameaça de castração anunciada pelo pai ou pela percepção de que o corpo feminino é despojado de falo, renuncia ao seu objeto de amor. A angústia de perder seu objeto mais estimado, o pênis, trava o caminho do menino em direção ao amor pelo pai, fazendo com que ele se identifique com ele. O complexo de Édipo no menino termina à medida que a angústia de castração termina com a ligação erótica com a mãe e com a ligação amorosa com o pai e ele entra no período de latência. Paralelamente, para a menina, ao constatar a falta de pênis, esta se decepciona com relação à mãe e pressupõe que ela é a responsável por tê-la feito castrada, voltando-se então para o pai. Nas meninas o complexo de Édipo ocorre por tempo indeterminado. Mas é fundamental mencionar que Freud reformula a questão sobre a falta do pênis em termos de representante do falo4. Dessa forma, convém utilizar a teoria lacaniana para melhor compreensão. Enquanto o menino teme pela castração, segundo Lacan (1999), a menina se angustia por já ter sido castrada, mas ambos se interrogam pela falta. Freud (1925/1996, v. 13, p. 285) afirma que “nos meninos, o complexo de Édipo é destruído pelo complexo de castração, nas meninas ele se faz possível e é introduzido através do complexo de castração” somente a partir dessa contradição é possível afirmar que “o complexo de castração sempre opera no sentido implícito em seu conteúdo: ele inibe e limita a masculinidade e incentiva a feminilidade”. Para Lacan (1999), o complexo de Édipo se constitui em três tempos lógicos, sendo que seu início se dá ao mesmo tempo em que o estágio do espelho. Segundo Lacan, o bebê ao ver sua imagem refletida no espelho faz com que o mesmo não se veja mais como um ser em pedaços, fragmentado. Agora o que se tem é a concepção de unidade, e o eu se constitui como objeto. É o que permite ao sujeito se reconhecer assim como reconhecer os objetos. O primeiro tempo lógico do Édipo se dá da seguinte forma: “ser ou não ser o falo”. Nesse momento, a criança se identifica como objeto de desejo da mãe, buscado assim suprir a falta que está na mãe, que também é um ser faltante. O falo é o objeto capaz de suprir sua 4 O falo na teoria freudiana não se trata de uma fantasia, um objeto ou um órgão, ele é um significante. Simboliza o lugar do gozo (KAUFMANN, 1996). 14 falta e a criança vem ao encontro, para supri-la. Ela se coloca no lugar do desejo do Outro, constituindo assim, uma relação triangular: Mãe, Criança, Falo. O segundo tempo lógico do Édipo: “Ter ou não ter o falo”, é marcado pela intervenção do pai nessa relação mãe-criança-falo. O pai assume a posição da lei, ou seja, assume o papel de quem vai interditar a criança de ser o objeto de gozo da mãe. O pai é o quarto elemento a ser inserido na relação criança-falo-mãe, ele vem reorganizar as posições, vem para dar a essa mãe aquilo que ela deseja para além da criança, aquilo que a criança não pode mais suprir, pois ela é apenas um substituto do que falta à mulher (FARINHA, 1999). Desta forma, o pai é visto pela criança como o objeto de desejo da mãe, é o que permite a criança recolher o pai como lei, iniciando-se assim o processo de castração. O terceiro tempo se caracteriza como: “Ter ou não ter o dom”. Nesse terceiro tempo ocorre o declínio do complexo de Édipo, nesse momento há a simbolização da lei, representada pela função paterna, o que permite a identificação. O menino se identifica com aquele que supostamente detém o falo e a menina com a mãe. No complexo de castração, a criança passa a se questionar sobre as diferenças sexuais existentes entre meninas e meninos. A falta do pênis na menina faz supor que ela tinha um pênis e que o mesmo foi castrado. Tais fatos revelam que o desenvolvimento da sexualidade entre meninos e meninas se constitui de forma diferente. Nos meninos [...], o complexo não é simplesmente reprimido; é literalmente feito em pedaços pelo choque da castração ameaçada. Suas catexias libidinais são abandonadas, dessexualizadas, e, em parte, sublimadas; seus objetos são incorporados ao ego, onde formam o núcleo do superego e fornecem a essa nova estrutura suas qualidades características (FREUD, 1924/1996, v. 13, p. 285). O complexo de castração na menina tem como função o desenvolvimento da sua feminilidade. Nesse período a menina tem inveja do pênis, deseja possuí-lo. Esse complexo é superado a partir do momento que a menina substitui o desejo de ter um pênis pelo desejo de ser mãe. Tendo em vista a afirmação feita por Freud de que “a anatomia é o destino”, Poli (2007, p. 16), relata que é delegada à diferença anatômica a responsabilidade pela diferenciação subjetiva entre meninas e meninos, relacionando a elas as escolhas objetais, as identificações e o modo com que se relacionaram com lei e a cultura. Freud (apud POLI, 2007 p. 11), propõe que a anatomia genital é um fundamento natural onde a sexualidade infantil na definição dos destinos no complexo de Édipo se apóia. 15 A presença ou ausência de um pênis (como representante do falo) são marcos referenciais para a posição subjetiva em várias instâncias da vida. Segundo a autora, Freud relaciona os conceitos de masculino e feminino com atividade e passividade pulsional, respectivamente. A ausência de um pênis na mulher implica na troca do objeto de amor (mãe pelo pai) e na mudança de zona erógena (clitóris pela vagina), essas modificações seriam próprias do psiquismo feminino e levariam a mulher a buscar pela maternidade, assim levando a solução do complexo de castração. A mulher então teria como falo o bebê, o que propõe que maternidade e feminilidade são termos que se relacionam. Porém, apesar da atividade pulsional feminina estar ligada à maternidade, a masculinidade não necessariamente estaria ligada à paternidade. Além disso, a passividade ligada ao feminino também se traduz pelo retorno de agressividade contra a própria pessoa. De acordo com Freud (apud POLI, 2007, p. 34-36), na masculinidade a expressão pulsional de atividade se mostra no exercício sexual e nas atitudes agressivas (exteriorização da pulsão de morte), há um horror à passividade, devido ao temor pela castração, entretanto a predominância nas realizações culturais são atribuídas à passividade primária que se apresenta no masculino. Inicialmente, a sexualidade infantil é masculina (em ambos os sexos) pela crença na presença do pênis. A feminilidade apenas irá aparecer quando a menina aceitar que não possui pênis, passar a buscar um homem que o possua e posteriormente desejar a maternidade. O homem teme a feminilidade e conseqüentemente a passividade, sendo que para desenvolver a paternidade necessita de um trabalho psíquico neste caminho. Segundo Freud (1925/1996, v. 13, p. 286), “os indivíduos humanos [...] combinam em si características tanto masculinas quanto femininas, de maneira que a masculinidade e a feminilidade puras permanecem sendo construções teóricas de conteúdo incerto”. Com relação à identidade, Negreiros e Féres-Carneiro (2004), consideram que a contribuição da psicanálise é útil para a compreensão de sua constituição e desenvolvimento por meio da noção de identificação. As autoras entendem que identidade e papel sexual não são dois conceitos diferentes, mas aspectos diferentes de um mesmo conceito. O papel é entendido como expressão da identidade sexual e esta, por sua vez, seria a experiência particular do papel. A identificação engloba o processo por meio do qual se assimila um aspecto do outro e, a partir desta referência, se converte. A identidade se faz e refaz por meio do processo de identificação, é um modo de constituição psicológica a partir de um outro. Freud (apud POLI, 2007, p. 60), apresenta: 16 três níveis de análise para situar a constituição da identidade psíquica: identidade psíquica (atividade/passividade); escolha de objetos; e caracteres sexuais anatômicos, sendo que ele afirma a interdependência entre esses termos e sua não determinação mútua, nem prevalência de algum sobre os demais. Sendo assim, é possível afirmar que é necessário observarmos a enunciação do desejo para compreendermos as identificações e não apenas as bases anatômicas. O falo é um atributo de valor construído e que circula em uma dada estrutura organizada por funções (paterna e materna), estas sendo suportes psíquicos necessários para a constituição do sujeito. Após esclarecermos a visão psicanalítica sobre a constituição do sujeito e a implicação das funções parentais, nas próximas páginas cabe articulá-los ao foco dessa investigação – o casal homoparental. 4 HOMOPARENTALIDADE: UMA POSSIBILIDADE? Como dito anteriormente, atualmente o conceito de família tem se ampliado. Se estendeu para além dos laços biológicos, passou-se a validar os laços afetivos que ligam seus membros e se estabeleceu que a família, além de ser um espaço para a construção do sujeito, deve propiciar a ele elementos como afeto e companheirismo. Segundo Mello (2005, p. 25) “a família é instância fundamental na mediação entre indivíduo e sociedade” e, desta forma, integra as instituições que estão comprometidas com a reprodução de ordem social. A família moderna se destina a socialização amorosa das crianças, tendo como prioridade a intimidade do casal e dos filhos, os cuidados e a educação das crianças, sendo responsabilidade dos pais a transmissão de valores, hábitos e tradições. Tal modelo é marcado por dois pontos fundamentais: “a afirmação da individualidade dos sujeitos na escolha de seus cônjuges, a partir dos ideais do amor romântico e a maior independência dos novos casais em relação a suas famílias de origem” (MELLO, 2005, p. 26). Quando falamos em homossexualidade, entramos em um campo que ainda gera muitas dúvidas e controvérsias, principalmente se falarmos em homoparentalidade. A discussão sobre a possibilidade ou a capacidade de um casal homossexual criar uma criança vem sendo tema de pesquisas e debates há anos, contudo tal discussão tem se acentuado recentemente em virtude da busca realizada por homossexuais pelo direito ao casamento e a possibilidade de terem filhos, seja por meio de adoção, inseminação artificial ou filhos derivados de relacionamento heterossexuais anteriores (UZIEL, 2007). 17 Mello (2005) relata que, a partir da diminuição do preconceito e da intolerância, cada vez mais homossexuais buscam parcerias com pessoas do mesmo sexo. Parcerias estas que estão associadas a experiências de conjugalidade e paternalidade. As uniões homossexuais têm aumentado nos últimos anos, inclusive no Brasil5, originando um novo modelo familiar que tem tido crescente visibilidade em nossa sociedade (GARCIA et al., 2007). Entretanto, a família homossexual ainda é vista com “pavor fóbico” que, segundo Mello (2005), é fundado em preconceito e nas resistências fantasmáticas a uma suposta homossexualização da sociedade. Segundo Dias (2010d), ainda há a crença equivocada de que crianças criadas por casais homossexuais possuem falta de referências comportamentais de ambos os sexos o que pode acarretar seqüelas de ordem psicológica e/ou dificuldades na identificação sexual. A partir desta ideia questiona-se a ausência de modelo do gênero masculino e feminino, o que levaria ao “risco de o adotado tornar-se homossexual”. Devemos aqui fazer uma ressalva quanto a este ponto. Tendo em vista que a homossexualidade não é considerada uma doença, torna-se preconceituoso afirmar que é prejuízo para uma criança vir a ser homossexual, sendo assim o que queremos tratar aqui é da constituição do sujeito e não da suposta influência que pais homossexuais teriam sobre o destino da orientação sexual do filho. Quanto aos pontos relacionados aos modelos de gênero, é possível afirmar que esta criança irá conviver com homens e mulheres e a eles reconhecerão como tais e que as funções desempenhadas pelos pais não se referem exclusivamente ao sexo destes, mas sim ao exercício dessa função. No campo da psicanálise, ao tratarmos das funções parentais como simbólicas e não biológicas, bem como diante da afirmação de que estas não necessariamente devam ser exercidas por um homem e uma mulher, vemos que quando falamos no exercício dessas funções por um casal homossexual elas se fazem possíveis. Conforme vimos, a função materna é exercida pelo parceiro que deseja, anseia pela criança; que irá cuidar e promover a simbolização, a erogenização do corpo infantil e transmitirá a ela os primeiros significantes por via do seu desejo, dando início ao processo de alienação. Por sua vez, a função paterna será desenvolvida pelo que procederá a separação da mãe e filho, que mostrará a falta e será 5 Não é nosso objetivo aqui tratar de aspectos jurídicos com relação à homossexualidade, mas é importante comentar que temos alguns avanços no campo jurídico quanto à questão da união de casais homossexuais. No dia 05 de maio de 2011 os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceram a união civil entre homossexuais e com esta decisão os casais homossexuais passam a ter o mesmo direito que casais heterossexuais, como pensão e herança. 18 portadora da lei, introjetando esta na criança. Estes são operadores simbólicos, que marcarão a criança independente do sexo dos agentes. Assim, as funções materna e paterna estão firmadas na ideia de adultos que desejem a criança e que possuam atributos que os tornam capazes de serem responsáveis pelos cuidados físicos e psíquicos do filho, ou seja, adultos que possam atender e interpretar de forma particularizada as demandas da criança (BORGES, 2005). Podemos hipotetizar uma situação para melhor ilustrar tais pressupostos. Supomos um casal homossexual Rafael e Bruno6, que decidem pela adoção de uma criança. Juntos há 5 anos, adotam um recém-nascido: Felipe. Rafael e Bruno sempre quiseram ser pais, a ideia da adoção foi de Rafael, pois ele acreditava que estava no momento da relação dos dois se tornar mais seria, e que um filho serviria para uni-los ainda mais. No primeiro ano Rafael foi quem mais cuidou de Felipe, quando ele completou dois anos, o casal decidiu que era hora do menino frequentar uma creche e que Rafael deveria voltar a trabalhar tendo em vista que ele havia deixado o trabalho para cuidar do filho. Bruno também começa a se queixar que o parceiro aparenta sempre cansaço, o que tem dificultado a relação conjugal. Neste breve relato, podemos ver que as funções estão sendo exercidas: por Rafael a de cuidador, realizando as ações específicas necessárias para a vida do bebê, exercendo a função materna onde o filho toma a posição de falo e representante do amor de um homem. Já Bruno, que faz exigências para obter mais atenção, bem como o trabalho, vem para delimitar esta relação, produzindo a interdição que separa o bebê do agente materno. Podemos afirmar que o desejo de Rafael pelo parceiro e pelo trabalho aponta que o filho não supre sua falta, é o que pode exercer a função do Nome-do-pai. Corroborando com o que vimos até então, Lacan (1999) propõe que as funções de pai e mãe, calcadas na relação de desejo, são responsáveis pela constituição subjetiva da criança e que a função da mãe caracteriza-se por um interesse particularizado no cuidado desta, marcado por suas próprias faltas subjetivas, enquanto aquele (ou aquilo) que exerce a função de pai carrega consigo o vetor da encarnação da lei no desejo. Dessa forma, podemos conjecturar nem mesmo a presença de Bruno seria necessária para que a lei fosse introduzida. A criança irá formar sua identidade a partir de uma sucessão de processos mentais inconscientes influenciados por sua compreensão do mundo, a partir de suas próprias interpretações subjetivas que estão no campo simbólico, o que nos leva a afirmar que as figuras paternas não se estabelecem de forma tão simples, onde um homem ou uma mulher 6 Personagens fictícios. 19 irão representar as funções parentais, mas irão passar pela significação da criança para que sejam tais funções sejam introjetadas. Segundo Elia (2010) o tempo do inconsciente é a posteriori, ou seja, o sujeito pode ter uma experiência que só em um segundo momento produzirá significação e será então reconhecido no nível da constituição do sujeito. Desta forma, ao pensarmos na possível influência de uma família homoparental sobre a constituição subjetiva de uma criança, no que concerne a sua identificação sexual ou escolha de objeto amoroso, pode-se afirmar que não necessariamente ela terá como objeto um par homossexual, ainda que tenha sido criada por homossexuais, pois trata-se de uma escolha realizada na puberdade de acordo com os significantes que particularizaram sua história. Faz-se necessário salientar a diferença entre significado e significante: o primeiro está no campo da consciência, sendo assim refere-se às relações imaginárias, enquanto o segundo aborda o campo inconsciente e refere-se às relações simbólicas, que são apreendidas pelo sujeito de diferentes formas. A sexualidade freudiana é regida por outra lógica: articula-se no inconsciente, não se fundamenta em processos bioquímicos visando a reprodução da espécie, não é baseada no instinto, tendo exigido a criação de outra categoria – a pulsão – para articulá-la. É, enfim, a sexualidade do falante, que se estrutura através do significante (ELIA, 2010, p. 64). Segundo Lacan (2003, p. 369), a “distância entre a identificação com o ideal de eu e a parte tomada do desejo da mãe, se ela não tiver medição (aquela que normalmente a função do pai assegura), deixa a criança aberta a todas as capturas fantasmáticas.” Desta forma, ela torna-se o objeto da mãe, realizando assim a presença do objeto fantasmático, objeto de gozo para a mãe. Neste sentido, com relação à importância do exercício das funções parentais, deve-se atentar à alienação da criança ao representante materno, pois quando a simbiose não se dissolve, a díade mãe-filho se mantém, tornando a criança tão somente um objeto de gozo para a mãe e tamponando assim sua própria falta, fato que ocorre sem distinção entre casais homossexuais ou heterossexuais. Elia (2010, p. 66-67) afirma que “não há inscrição dos dois sexos no inconsciente”, assim, em psicanálise se falará em sexo e sexuação, mas não em gênero. O autor entende que o sujeito irá se situar como homem ou mulher de acordo com a forma com que passará pelo processo de castração, pois esta não é uma “dádiva natural ou divina”. A psicanálise trata da identificação do sujeito com as posições passivo/ativo sem 20 correlacioná-las apenas com as características biológicas. Também é possível afirmar que esta identificação não irá direcionar a escolha do objeto amoroso do sujeito, tendo em vista que esta se dá a partir das apreensões particulares e suas experiências de satisfação pulsional. Freud (1905/1996, v. 7, p. 189) afirma que a escolha de objeto se dá em dois tempos. O primeiro tempo ocorre entre dois e cinco anos, seguidos pelo período de latência em que há caráter infantil em seus alvos sexuais. O segundo ocorre com o início da puberdade e é o tempo que determina os objetos definitivos da vida sexual, “a escolha de objeto da época da puberdade tem de renunciar aos objetos infantis e recomeçar como uma corrente sensual”. Por vezes, a não convergência dos dois objetos leva à impossibilidade de conjugá-los em um único objeto, um dos ideais da vida sexual. “Homossexualidade refere-se ao exercício da sexualidade. Funções parentais não exigem o exercício da sexualidade” (UZIEL, 2007. p. 78). 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A temática trazida por este artigo se mostra muito mais abrangente do que a possibilidade de se trabalhar neste momento. Procurou-se se restringir ao estudo da Psicanálise durante a pesquisa realizada, para que dados não se mostrassem inconsistentes diante das diferentes formas de se compreender o ser humano. O campo da psicanálise se mostra aberto a estudos relacionados à constituição subjetiva como aqui tratado. Durante a pesquisa realizada, muitas questões foram suscitadas para a elaboração do artigo com a finalidade de atender a demanda que a atual sociedade nos traz, na busca de soluções simplistas e racionais que respondam sobre o homem como se ele fosse uma fórmula matemática, porém tal demanda é impossível de ser atendida, não há a possibilidade de ditar o que é certo ou errado, pois a partir daí criar-se-ia um padrão. Não há uma única resposta ou respostas simples sobre a constituição do sujeito ou sobre os caminhos que a subjetividade percorre. Inicialmente fez-se necessário realizar uma breve análise sobre a evolução do conceito de família, pois é a partir desta evolução que surgem os conceitos de homoafetividade e homoparentalidade. A sociedade sofreu mudanças em suas estruturas e formas de relacionamento interpessoal e automaticamente as famílias foram se transformando. As prioridades financeiras e de perpetuação do nome e honra da família, presentes nos séculos XIX e XX, são substituídas pelo afeto e pela individualidade. 21 Após, tratamos da criança como um sujeito em plena constituição abordando os aspectos inconscientes e, portanto subjetivos que envolvem o seu aparelho psíquico e que determinam a forma como será, agirá e sobre como se darão suas escolhas posteriores, inclusive objetais. A criança é fruto de um desejo, de uma falta existente no agente materno, este agente realiza funções específicas a fim de suprir as necessidades primárias de seu bebê, um ser que não consegue sobreviver na ausência de alguém que realize tarefas básicas para sua sobrevivência como alimentação e asseio - essa necessidade primária logo se transforma em demanda de amor. Em contrapartida o representante materno vai enlaçar seu desejo e inscrever na criança suas próprias faltas subjetivas. O pai é o representante que exerce a função de corte, de acordo com Lacan (1999), carrega consigo o vetor da encarnação da lei no desejo, é o Nome-do-Pai que interdita a mãe, promulgando a lei e possibilitando o surgimento do superego na criança, é o responsável pela castração. A função paterna, tanto independe da orientação sexual da pessoa que a realizará, quanto ocorre também na ausência de um pai físico. É pelo discurso do representante materno que o Nome-do-Pai mostra sua força, e é por isso que a presença de um pai não garante o exercício da função paterna, seja homossexual ou heterossexual. Ceccarelli (2002, p. 95) relata que o essencial para que o sujeito se constitua é ser simbolicamente reconhecido pela palavra do Outro, é este reconhecimento, responsável pela inscrição do sujeito na função fálica, que transformará a criança em ser falante, seja homem ou mulher. “O complexo de castração traduz as restrições que o processo civilizatório impõe à criança para que ela se constitua como sujeito”. O autor afirma que o que vai diferenciar as crianças criadas por um casal homossexual das outras “é o que diferencia os seres humanos entre si: a particularidade do trajeto identificatório e as escolhas de objetos de cada um” (CECCARELLI, 2002, p. 96). Para a psicologia, como a ciência que estuda o comportamento humano, suas relações e os fenômenos psíquicos, é importante observar as mudanças que vêm ocorrendo nas configurações familiares, os conceitos de funções relacionadas à parentalidade e sua necessidade por tratarem da constituição de uma criança. Grande parte das discussões referentes às novas estruturas familiares, possui o objetivo de apontar o que é “certo ou errado” nestas novas configurações, buscando assim culpabilizá-las pela falta referencial e de limites por parte de crianças e jovens. Deste modo, sendo esses pontos discutidos pela sociedade como um todo, buscamos não apontar o que é formular num sentido idealizador ou um melhor modelo de família, mas 22 sim apontar que as relações familiares se constroem além de suas estruturas: pai, mãe e filhos. Ao conjecturar o que é certo ou ideal, excluir-se-iam inúmeras possibilidades no campo das "relações erradas", que na verdade estão mais ligadas ao registro imaginário e que não é o que define a estruturação psíquica. Tentou-se demonstrar de que não há garantia nas funções exercidas pelos casais heterossexuais e nem homossexuais, pois é a posteriori o resultado, o que há são funções que precisam de alguém para exercê-las e que estão para além de questões vinculadas ao sexo ou gênero. Tendo em vista que este tema é polêmico e atualmente é amplamente discutido, este trabalho buscou contribuir para esta reflexão sob a ótica psicanalítica. REFERÊNCIAS AMAZONAS, M.C.L.A.; BRAGA, M.G.R. Reflexões acerca das novas formas de parentalidade e suas possíveis vicissitudes culturais e subjetivas. Ágora, Rio de Janeiro, v. 9, n. 2, p. 177-191, 2006. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S151614982006000200002&script=sci_arttext>. Acesso em: 23 mar. 2011. ARIÈS, P. A Família. In: ARIÈS, P. História Social da Criança e da Família. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1981. BORGES, M.L.S.F. Função materna e Função paterna, suas vivências na atualidade. 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