A Teoria da Atividade como
Abordagem Teórico-metodológica
para o Desenvolvimento e a Análise
de um Curso Virtual para
Docentes Universitários:
“A Internet no Ensino Superior:
Recursos e Aplicações”
Tais Rabetti Giannella
Orientadora: Miriam Struchiner
NUTES/UFRJ
JUNHO/2002
Desafios e
mudanças no
Ensino
Superior
CONTEXTO DO TRABALHO
Novas demandas para o
professor universitário
Potencial das
Tecnologias de
Informação e
Comunicação (TICs)
para os processos
educativos
Pesquisa e
Desenvolviment
o e avaliação de
ambientes
construtivistas de
aprendizagem a
distância
(ACAD)
Objetivos:
- Pesquisar e iniciar o desenvolvimento de um Ambiente Virtual de Tecnologia
Educacional para docentes universitários (AVTE) que ofereça recursos e cursos
de curta duração para docentes interessados na incorporação de novas práticas
pedagógicas e tecnologias no processo de ensino/aprendizagem;
- Desenvolver e oferecer um primeiro curso, neste ambiente virtual, para docentes
universitários da área da saúde sobre as potencialidades pedagógicas da utilização
dos recursos da Internet;
- Integrar a Teoria da Atividade e seus elementos na construção de uma
abordagem teórico-metodológica para o desenvolvimento e a avaliação de
ambientes construtivistas de aprendizagem;
- Avaliar o desenvolvimento da atividade educativa, a partir da análise do perfil
dos participantes, da dinâmica de utilização dos recursos e ferramentas oferecidos
e da avaliação realizada pelos alunos.
Referencial Teórico-Metodológico
A Teoria da Atividade como abordagem norteadora para o desenvolvimento e
a avaliação de ambientes construtivistas de aprendizagem
- Origem na escola histórico-cultural soviética de Psicologia (Vygotsky, Leont`ev e
Luria)
- Relação integrada entre a consciência e a atividade humana: a aprendizagem
consciente emerge da atividade, não é sua precursora.
“A consciência não é um conjunto de atos cognitivos desarticulados (tomada de
decisões, classificação, lembrança etc.) e não significa só a mente; mais do que isso a
consciência se localiza na prática cotidiana e está envolta em uma matriz social
composta de pessoas e artefatos”.
Sistema da Atividade
Princípios básicos da Teoria da Atividade:
1) Princípio da Orientação a objetos: enfatiza que toda atividade é
orientada a objetos. O objeto incorpora o motivo da atividade
“ O objeto representa o material bruto ao qual se direciona a atividade e que
pode ser reconstruído (transformando-o em produtos, ou produção) pelos sujeitos
envolvidos na atividade, com o auxílio de artefatos mediadores. Assim, o objeto
compreende a natureza do conteúdo da atividade e pode ser entendido como
qualquer coisa, material ou mental, que possa ser manipulada, acessada ou
transformada durante a atividade.” (Kuuti, 1996; Kaptelin et al. 1997)
- O objeto é mutável, sendo transformado e (re)construído ao longo da atividade
educativa com a participação de todos os sujeitos envolvidos
2) Princípio da Internalização/Externalização: ressalta que toda atividade
compreende processos de internalização e externalização, que se interrelacionam e se
influenciam dialeticamente, integrando o desenvolvimento individual e as práticas
sociais;
“A TA enfatiza que as atividades internas não podem ser compreendidas se forem
analisadas separadamente das atividades externas, e vice-versa, já que a constante
transformação entre as atividades externas e internas configura a base dos processos
da atividade e da cognição humana.” (Jonassen, 1999)
3) Princípio da Mediação: enfatiza que toda atividade é mediada por artefatos
que podem ser materiais (computadores, livros, etc.) ou imateriais (linguagem,
estratégias de resolução de problemas, teorias etc.).
“Um dos principais pontos levantados pelo conceito de mediação é que o uso dos
artefatos acaba por transformar não apenas o objeto da atividade, mas também o
seu sujeito. Assim, os artefatos influenciam na maneira como o sujeito percebe e
interage com o seu ambiente.” (Kuuti, 1996)
4) Princípio do Desenvolvimento: ressalta que os elementos de uma
atividade se transformam ao longo de seu desenvolvimento e aponta que uma
atividade é um fenômeno dinâmico construído historicamente.
“O sujeito trabalha com artefatos, na exploração de um determinado objeto;
neste processo, desenvolve novos objetos e artefatos, transformando a si mesmo e
ao ambiente que o cerca. Esta transformação acaba por gerar novas
necessidades ou desejos, fazendo com que a atividade fique em evolução
constante.” (Burd, 1999; Kuuti, 1996; Nardi, 1996)
Desenvolvimento do Curso Virtual para Docentes Universitários
A partir do modelo conceitual proposto pela TA (ENGESTRÖM, 1987; MWANZA &
ENGESTRÖM, 2005; MWANZA, 2001), o desenvolvimento dos elementos e da
dinâmica do curso foram orientados pela identificação dos componentes fundamentais
da atividade: sujeitos, docentes universitários da área da saúde; comunidade, a
integração entre os alunos (docentes universitários) e os orientadores/tutores e objeto
da atividade, os conteúdos, recursos e atividades disponibilizados no curso,
relacionados ao uso das tecnologias da informação e da comunicação (TICs) no ensino
de ciências e saúde.
A partir dos elementos da TA, o planejamento do curso procurou:
(1) considerar o perfil e as necessidades do público-alvo no desenvolvimento dos recursos
informacionais e das atividades. Assim, tendo em vista o pouco tempo para a realização do curso,
a provável falta de familiaridade com as ferramentas tecnológicas e a necessidade de os docentes
visualizarem uma aplicabilidade imediata dos conhecimentos adquiridos nesta experiência de
formação em suas práticas de ensino, foram oferecidos textos conceituais curtos e atuais,
desenvolvidos propriamente para o curso, assim como foram indicados exemplos de aplicações da
Internet na área do ensino das ciências e saúde. Além disso, todas as atividades tinham como
objetivo o desenvolvimento de algum produto aplicável ao contexto de ensino de cada
participante;
(2) estabelecer uma dinâmica aberta e informal, não prevendo-se a existência de uma tutoria
formal, mas de orientadores para dinamizar as atividades, preferencialmente por meio de espaços
coletivos, como o fórum de discussão
(3) ressaltar a visão do objeto como algo construído coletivamente e que, portanto, se alimenta e
se transforma com as experiências e contribuições da comunidade envolvida. Assim, mais que a
mera transmissão de informações, a dinâmica do curso se baseou em atividades que privilegiavam
a cooperação, explorando as experiências de cada docente na construção coletiva de
conhecimento.
Resultados obtidos com o desenvolvimento do curso piloto
Considerações gerais sobre o curso piloto
- Período: 21 de fevereiro a 25 de março de 2002 (33 dias de duração)
- Docentes Inscritos: 54 docentes de universidades públicas brasileiras + 1 docente da
Universidade Moderna de Portugal + 1 profissional da Organização Pan Americana da
Saúde (N=56).
- Dos 56 docentes inscritos, 19 nunca acessaram o site do curso, resultando em um
número total de 37 participantes.
Análise dos resultados
Modelo de análise
1) Análise dos componentes fundamentais da atividade - sujeito, comunidade e objeto
2) Análise da dinâmica existente entre estes componentes, a partir de seus elementos
mediadores, em três relações: sujeito-ferramentas-objeto, sujeito-regras-comunidade e
comunidade-organização do trabalho-objeto.
Análise dos componentes fundamentais da atividade:
sujeito, comunidade e objeto
Sujeitos participativos (n=6)
Sujeitos observadores (n=18)
Sujeitos visitantes (n=13)
Exploração coletiva do conhecimento
Exploração individualizada do conhecimento
Relações de troca construídas
entre os sujeitos participativos,
os orientadores e os monitores
- metas pouco negociadas
Tendência a comportamento
observador e exploração mais
individualizada do objeto:
- falta de familiaridade com os temas
do curso, com a tecnologia e com
este formato de interação podem ter
sido fatores de inibição.
- Papel de receptor de informação muitas vezes atribuído aos alunos pode ter influenciado
postura dos docentes, quando estes se colocaram no papel de aprendizes:
“Eu me senti motivado a participar durante todo o curso por alguns motivos
principais entre eles boa moderação, suporte muito bom e excelente material.
Mas senti uma falta de engajamento de meus colegas na troca de experiência.
Parte deve ser porque todo mundo é meio novato nesta área de aprender e
ensinar a distância e outra parte não deve ser isso! A outra parte é mais
suposição e ACHO que possa ser um motivo: (...) será que a energia da escola
tradicional ainda flui em nossas veias com muita força? (...) tanto entre alunos e
professores-alunos o problema costuma estar no mesmo ponto: o tipo de aprendiz
que estamos sendo na atividade e como encaramos a aprendizagem. Professores
ou não, somos aprendizes. Na hora que eu assumi isto e comecei a cultivar a
filosofia do aprendiz ativo me tornei um professor melhor do que era. Aqui dentro
e lá fora somos aprendizes” (M.G.B., Data: 27/03/2002. Hora: 06:00)
Análise da relação “sujeito-ferramentas-objeto”
- Difícil operacionalização
das ferramentas ABC e
OPC: configuração das
ferramentas como objeto
da aprendizagem
- Potencial das ferramentas
comunicacionais para a troca
entre os sujeitos
“participativos” e orientadores
Possíveis motivos para este quadro: falta de familiaridade com os recursos
tecnológicos oferecidos; pequeno período de tempo para o aprendizado das
ferramentas e inibição dos docentes para assumir e expor suas dificuldades com o
uso das novas tecnologias e das ferramentas propostas.
Futuros trabalhos: (1) oferecer maior suporte e orientação no uso de ferramentas
tecnológicas e (2) compatibilizar o tempo de conhecimento, compreensão e
utilização das ferramentas às reais possibilidades do público alvo.
Relação “sujeito – regras – comunidade”
Quadro de pequena negociação e questionamento das regras
- negociação para prolongamento dos prazos dos módulos (regra explícita);
- mudança da função dos formulários (regra implícita)
Possíveis motivos para este quadro: curto período de tempo para o estabelecimento dos
contatos iniciais e para a construção da identidade da comunidade; grupo de docentes de
diferentes especialidades de ensino; limitações das ferramentas de comunicação para a
dinamização de atividades que exigem uma relação mais rápida e espontânea e postura
mais passiva diante do contexto de aprendizagem
Futuros trabalhos: (1) enfatizar a importância de um período inicial suficiente para a
ambientação e socialização dos participantes; (2) experimentar a utilização de ferramentas
síncronas como o Chat e a videoconferência, para algumas atividades que exijam um
retorno mais direto, com a participação ativa de todos os participantes (mesmo
reconhecendo os problemas de acesso que estas ferramentas síncronas podem oferecer).
Relação “comunidade - organização do trabalho - objeto”
- Pouco intercâmbio de papéis entre os
sujeitos
- Relações de troca e colaboração entre
sujeitos participativos e os orientadores
- Pouca identificação das possibilidades de
cooperação entre os participantes
Possíveis motivos para este quadro:
temática ainda pouco familiar;
dificuldade de se integrar
experiências e conhecimentos devido
às diferentes especialidades de ensino
dos docentes e uma série de valores
em relação à aprendizagem e ao
conhecimento que os docentes podem
ter transferido para suas próprias
experiências como aprendizes neste
curso:
“(...) estou em dúvida se a diversidade de profissionais não contribuiu para a
dispersão. E se professores de odontologia trabalhassem em grupo, por exemplo, a
troca de experiências não seria maior?” (B.U).
“Na verdade, os alunos deste curso não são alunos, mas curiosos” (J.P.M.
questionário de avaliação).
“Nesse módulo, acabei assumindo um papel de "olheira" por não ter nenhuma
experiência com o uso das ferramentas/recursos/estratégias de EAD. Ao acompanhar
o debate, vi que é preciso fazer o exercício da humildade e da coragem para (me)
expor e colocar minhas questões (...) Acho que participar dos fóruns tem sido o mais
interessante e desafiador dessa experiência”(A.L.V., Fórum Integrando, Data:
11/03/2002, Hora: 09:00).
Futuros trabalhos:estudar experiências de formação com docentes de
especialidades mais afins, no sentido de analisar se o domínio de resolução de
problemas de uma área de formação comum pode potencializar a cooperação (por
exemplo, por carreira da área da saúde).
- Difícil operacionalização das ferramentas
ABC e OPC: configuração das ferramentas
como objeto da aprendizagem
- Potencial das ferramentas comunicacionais e
da monitoria para a troca entre os sujeitos
“participativos” e orientadores
Sujeitos participativos
Sujeitos observadores
Sujeitos visitantes
Exploração coletiva do conhecimento
Exploração individualizada do conhecimento
Conhecimentos, habilidades e
materiais sobre a integração dos
recursos da Internet no ensino
Quadro de pequena negociação
e questionamento das regras
- negociação para
prolongamento dos prazos dos
módulos (regra explícita);
- mudança da função dos
formulários (regra implícita)
Relações de troca construídas
entre os sujeitos participativos,
os orientadores e os monitores
metas pouco negociadas
Pouco intercâmbio de papéis entre os
sujeitos
Pouca identificação das possibilidades de
cooperação entre os participantes
Relações de troca e colaboração entre
sujeitos participativos e os orientadores
Download

Objetivos - (LTC) de NUTES