Universidade Camilo Castelo Branco Instituto de Engenharia Biomédica JORGE EDUARDO DE MENEZES SÍNTESE, CARACTERIZAÇÃO E AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DE DERIVADOS DA BOLDINA CHEMICAL SYNTHESIS, CHARACTERIZATION AND EVALUATION OF ANTIOXIDANT ACTIVITY OF THE BOLDINE DERIVADES São José dos Campos, SP 2013 II Jorge Eduardo de Menezes SÍNTESE, CARACTERIZAÇÃO E AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DE DERIVADOS DA BOLDINA Orientador: Prof. Dr. Adjaci Fernandes Uchoa Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós Graduação em Engenharia Biomédica da Universidade Camilo Castelo Branco, como complementação dos créditos necessários para obtenção do título de Mestre em Engenharia Biomédica. São José dos Campos, SP 2013 III IV V DEDICATÓRIA Ao Deus Trino, autor e consumador de minha fé e vida, que por amor, me capacita e acrescenta em conhecimento e sabedoria. À minha mãe Mara Cristina Garolla e meu irmão Júlio César de Menezes, por serem continuamente meus referenciais de vida, exemplos de dedicação, caráter e afeto incondicional, por tudo, minha eterna gratidão, amor e respeito. À minha esposa Viviane Cristina Longuini de Menezes, fonte inspiradora de minha obra e conquistas, por toda compreensão, incentivo, paciência e apoio, o brilho em meus olhos são para você. À minha filha Beatriz, tão pequena e já tão presente, por renovar em mim a certeza de um bom futuro, à você um amor inexplicável. Ao professor Dr. Adjaci Uchôa Fernandes, pelo exemplo de generosidade, humildade e dedicação, tenho a honra de tê-lo como orientador. VI AGRADECIMENTOS Ao longo de nossa vida, encontramos pessoas que se mostram parte fundamental de nossa história, pois em diversos momentos as encontramos próximas, independente de sua própria condição humana, e essas pessoas são capazes de alterar o curso de nossas vidas por isso agradeço a todos, em especial; À Deus, por sua presença constante me fortalecendo e guiando-me, por todas as oportunidades e desafios que me fizeram hoje um ser humano melhor, de valores mais sólidos e olhos focados nos sonhos que Ele mesmo sonhou para mim. À todos os meus familiares queridos, Mãe e Júlio, pelas orações constantes, a fé inabalável e as palavras de encorajamento e carinho que me foram determinantes; Roberto, Zilda, Sérgio, Cris, Pedro Henrique, Andréia, Alex, Giovani pelo incentivo e momentos de descontração, minha esposa Viviane foi sempre a motivação e fonte inesgotável de ânimo em todos os momentos e como esquecer da Belinha sempre aquecendo meus pés nas horas de introspecção. Aos colegas de pós-graduação, em especial à Mirian Arid, Luiz Arrifano, Denilce, Zena e Henrique que sempre dividiram comigo os risos e aflições desse período, sem essa troca meus dias seriam mais cinzas. Aos colegas da Universidade Camilo Castelo Branco, com destaque aos do curso de farmácia, que sempre se mostraram solícitos em contribuir para o desenvolvimento deste trabalho. Aos professores do Instituto de Engenharia Biomédica – Unicastelo, pela oportunidade e dedicação para obtenção deste título, em especial aos sempre presentes Dra. Adriana Barrinha Fernandes, pela inestimável colaboração e ao Dr Antonio Guillermo Jose Balbin Villaverde e Dr. Marcos Tadeu Tavares Pacheco pela dedicação e empenho. Às secretárias de pós-graduação Nídia e Elaine, pela dedicação, auxílio e apoio. Ao Prof. Dr. Roberto Rodrigues Ribeiro, por acreditar no meu potencial e pela disposição em contribuir com esse trabalho, minha mais profunda estima. Ao Dr. Adjaci Fernandes Uchoa, por aceitar compartilhar seus conhecimentos e de forma tão humana ajudar a alicerçar meu perfil profissional, tenho-o com exemplo de pesquisador idôneo, ético e apaixonado pelo seu trabalho. VII EPÍGRAFE “O temor do Senhor é o princípio do conhecimento, mas os insensatosdesprezam a sabedoria e a disciplina.” Provérbios 1:7 “Se algum de vocês tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá livremente de boa vontade; e lhe será concedida.” Tiago 1:5 (Bíblia Sagrada) VIII SÍNTESE, CARACTERIZAÇÃO E AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIOXIDANTE DE ANÁLOGO DA BOLDINA RESUMO A boldina ((S) - (1,10-dimetoxi-2, 9 dihidroxiaporfina), é um alcalóide extraído do Boldo (Peumus boldus), o boldo apresenta as seguintes propriedades, estimulação da digestão, sedação ao sistema nervoso, citoprotetor e anti-inflamatória, anticolinérgica por ação de bloqueio dos receptores adrenérgicos e antagonistas de canais de cálcio, também mostra uma boa afinidade para os receptores dopaminérgicos. Tem-se caracterizado nos últimos anos como um antioxidante que protege as células eficazmente dos diferentes sistemas contra a peroxidação lipídica induzida por radicais-livres ou inativação da enzima. A instalação do estresse oxidativo se dá por meio de um desequilíbrio entre os fatores próoxidantes e antioxidantes, em favor dos primeiros. O sistema de defesa antioxidante tem o objetivo primordial de manter o processo oxidativo dentro dos limites fisiológicos e passíveis de regulação, impedindo que os danos oxidativos se amplifiquem, culminados em danos sistêmicos irreparáveis. Os mecanismos de geração de radicais livres ocorrem, sobretudo, nas mitocôndrias, membranas celulares e no citoplasma. Modificação molecular consiste em dois processos gerais, dissociação e associação molecular com a manutenção do agrupamento de ação da molécula original. Sendo assim objetivou-se com esse trabalho a síntese de análogos da boldina através da reação de esterificação com o anidrido maleico e a substituição nucleofilica do cloreto de palmitoíla afim de alterar sua solubilidade e permitir uma maior biodisponibilidade da boldina nas membranas celulares e lipídicas favorecendo e aumentando sua ação antioxidante. Sendo possível caracterizar o análogo hidrofílico maloil-boldina que apresentou um perfil antioxidante frente ao radical de DPPH mais estável e com capacidade antioxidante total 15% maior e velocidade de inibição do radical 300 vezes maior quando comparado ao protótipo inicial. Palavras-chave: boldina, antioxidante, esterificação, DPPH. IX CHEMICAL SYNTHESIS, CHARACTERIZATION AND EVALUATION OF ANTIOXIDANT ACTIVITY OF THE BOLDINE ANALOG ABSTRACT Boldine ((S )-(1,10- dimethoxy -2,9-dihidroxiaporphine) is an alkaloid extracted from bilberry (Peumus boldus ), the bilberry has the following properties stimulation, digestion, nervous system sedation, cytoprotective and anti-inflammatory anticholinergic action by blocking adrenergic receptor and calcium channel antagonists, also shows a good affinity for dopamine. It has been characterized in recent years as an antioxidant that effectively protects cells against different systems of lipid peroxidation induced by free radicals or inactivation of the enzyme. Installation oxidative stress occurs by means of an imbalance between the factors pro- oxidants and antioxidants in favor of the former. Antioxidant defense system has the primary objective of maintaining the oxidative process within physiological limits and subject to regulation by preventing oxidative damage from spreading, culminating in systemic damage irreparable damage. Mechanisms of free radical generation occur mainly in mitochondria, cell membranes and cytoplasm. Molecular modification consists of two general processes, dissociation and molecular association with the maintenance of the group action of the original molecule. Accordingly, aim with this work aims to synthesize analogues of boldine by esterification with maleic anhydride and nucleophilic substitution of the chloride palmitoíl, in order to change its solubility and allow greater bioavailability of boldine in cell membranes, favoring the increase of its antioxidant action. It was characterized the analog - hydrophilic maloil boldine that showed an antioxidant profile against the DPPH radical more stable, presenting 15% more antioxidant capacity and 300 times faster kinetic velocity when compared with the initial prototype. Key-words: boldine, antioxidant, esterification, DPPH. X LISTA DE FIGURAS Figura 1. Etapas reacionais para redução tetravalente do Oxigênio molecular (O2) nas cadeia respiratória mitocondrial........................................................... 20 Figura 2. Etapas da ionização do ácido ascórbico (1) em ascorbato (2) e posterior oxidação em desihidroascorbato (3) e seus produtos irreversíveis oxalato (4) e treonato (5).................................................................................... 23 Figura 3. Etapas da ionização do ácido úrico (1) em urato (2) e posterior oxidação em radical urato (3) em equilíbrio com ânion radical urato (4) e seu produto de quelação metálica (Me) (5)............................................................... 23 Figura 4. Defesas antioxidantes contra radicais livres....................................... 26 Figura 5. Estrutura geral de substituição e orientação em anel aromático......... 27 Figura 6. Ligações de hidrogênio na espécie neutra de substâncias contendo oxigênio em grupo substituinte........................................................................... 28 Figura 7. Ligações de hidrogênio nas interações intra-moleculares na molécula da wogonina........................................................................................ 28 Figura 8. Estrutura geral de um flavan e em destaque (vermelho) regiões importantes para atividade antioxidante............................................................. Figura 9. Mecanismo das reações de oxidação em 29 espécies fenólicas.............................................................................................................. 30 Figura 10. Participação mitocondrial na geração e consumo de radicais livres em relação à idade da célula.............................................................................. 32 Figura 11. Mecanismo das reações de iniciação do processo de peroxidação lipídica................................................................................................................. 33 Figura 12. Mecanismo das reações de propagação da peroxidação lipídica..... 34 Figura 13. Mecanismo das reações de terminação da peroxidação lipídica...... 34 Figura 14. Fórmula estrutural da Boldina........................................................... 38 Figura 15. Reação de síntese da Mono maloil-boldina...................................... 47 Figura 16. Espectro de RMN 1H do produto da primeira reação de síntese da Mono-maloil-boldina em DMSO-d6, 300 MHz.................................................... 49 Figura 17. Reação de síntese solvent-free da maloil boldina............................. 50 Figura 18. Reação de síntese da palmitoil boldina............................................. 50 XI Figura 19. Curva de calibração do DPPH........................................................... 51 Figura 20. Absorbância de DPPH com 2,5% de solução de boldina (padrão) em solução de DPPH 60mM em triplicata.......................................................... 53 Figura 21. Traço cinético da concentração media de DPPH com 2,5% de solução de boldina (padrão)............................................................................... 53 Figura 22. Traço cinético da concentração de DPPH com 2,5% de solução de boldina (padrão) 8 min iniciais............................................................................ 54 Figura 23. Traço cinético da concentração de DPPH com 2,5% de solução de boldina (padrão) de 9 a 25 min.......................................................................... 54 Figura 24. Absorbância de DPPH com 2,5% de solução de Mono-maloilBoldina em solução de DPPH 60mM em triplicata............................................. 55 Figura 25. Traço cinético da concentração de DPPH com 2,5% de solução de Mono-maloil-boldina em triplicata....................................................................... 57 Figura 26. Traço cinético da concentração de DPPH com 2,5% de solução de Mono-maloil-boldina 8 minutos iniciais............................................................... 57 Figura 27. Traço cinético da concentração de DPPH com 2,5% de solução de Mono-maloil- boldina de 9 a 60 min.................................................................... 58 Figura 28. Decaimento comparativo do % DPPH remanescente frente a solução de Boldina e Mono-maloi-Boldina a 20 mM após 60 min..................... 58 Figura 29. Compostos aporfínicos fenólicos e não fenólicos utilizados nos estudos da relação estrutura–atividade antioxidante: boldina [1], clocaurina [2], glaucina [3], norarmepavina [4], aporfina [5], reticulina [6] e grupo 59 farmacofórico [7]................................................................................................. Figura 30. Planejamento da síntese de derivados hidro e lipofílicos da Boldina 60 Figura 31: Mecanismo de reação de produção da maloil-boldina a partir do anidrido maleico [2] e boldina [1]........................................................................ 61 Figura 32. Mecanismo de reação de produção da palmitoil-boldina a partir do cloreto de palmitoíla [2] e boldina [1].................................................................. 64 Figura 33. Reação geral entre o radical DPPH e substratos orgânicos (R)....... 65 Figura 34. Modificação molecular e regiões de estabilização do radical............ 71 Figura 35. Mecanismo para estabilização do radical maloil do protótipo........... 71 Figura 36. Compostos aporfínicos dehidroaporfina [1] e oxiaporfina [2]............ 72 XII LISTA DE TABELAS Tabela 1. Emprego farmacológico do Pneumus boldus Molina em culturas populares......................................................................................................... 37 Tabela 2. Ação farmacológica e efeito da boldina.......................................... 41 Tabela 3. Resultado Rf nos diferentes meios de eluição................................ 47 Tabela 4. Resultado Espectro de RMN 1H do produto da reação da maolilboldina pela 1ª rota......................................................................................... 48 Tabela 5. Resultado da análise em triplicata da absorbância da solução metanólica de Boldina..................................................................................... 52 Tabela 6. Resultado da análise em triplicata da absorbância da solução metanólica de Mono-Maloil-Boldina................................................................ 56 XIII LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ATP - Adenosina Tri Fosfato ROS - Espécies Reativas de Oxigênio RNS - Espécies Reativas de Nitrogênio NADPH - Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo Fosfato Reduzida DNA - Ácido Desoxiribo Nucléico DMF - Dimetilformamida CCD - Cromatografia de Camada Delgada DPPH - 2,2-Diphenyl-1-picryl-hidrazil XIV SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO............................................................................................ 16 1.1. Objetivo geral...................................................................................... 18 1.2 Objetivos específicos............................................................................ 18 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA....................................................................... 19 2.1. Os antioxidantes e os radicais livres celulares.................................... 19 2.2 - Processos oxidativos fisiológicos e patológicos................................. 31 2.3. Fitoterápico.......................................................................................... 35 2.3.1. Boldo e seu alcaloide majoritário Boldina......................................... 35 3. MATERIAL E MÉTODOS........................................................................... 42 3.1. Reagentes e solventes........................................................................ 42 3.2. Síntese dos derivados da Boldina....................................................... 42 3.2.1. Síntese química da Maloil-boldina.................................................... 42 3.2.2. Síntese química da Maloil-boldina (Solvent-free)............................. 43 3.2.3. Síntese química da Palmitoil-boldina............................................... 44 3.3. Análise de Ressonância Magnética Nuclear (RMN 1H)...................... 44 3.4. Análise da atividade antioxidante........................................................ 45 3.5. Análise estatística................................................................................ 46 4. RESULTADOS........................................................................................... 47 4.1 - Síntese e caracterização dos derivados da Boldina.......................... 47 4.1.1 - Síntese e caracterização da Maloil-boldina..................................... 47 4.1.2. Síntese e caracterização da Palmitoil-boldina.................................. 50 4.2. Capacidade antioxidante..................................................................... 51 4.3. Relação estrutura-atividade antioxidante............................................ 59 5. DISCUSSÃO............................................................................................... 60 5.1. Síntese e caracterização dos derivados da Boldina............................ 60 5.1.1. Síntese e caracterização da Maloil-boldina...................................... 61 5.1.2. Síntese e caracterização da Palmitoil-boldina.................................. 64 5.2. Capacidade antioxidante..................................................................... 65 5.3. Relação estrutura-atividade antioxidante............................................ 71 6. CONCLUSÃO............................................................................................. 73 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 74 XV APÊNDICE - Bibliografia consultada.............................................................. 80 16 1. INTRODUÇÃO A participação de espécies reativas de oxigênio (ROS) entre elas de oxigênio singletes (1O2), no desenvolvimento de processos patológicos, que podem ser mediados ou não pela radiação luminosa (eventos fotoquímicos), e dentre diversos outros danos provocam em especial o envelhecimento precoce das células e favorecem a peroxidação lipídica tanto em ensaios in vitro quanto in vivo (HALUSKA et al., 2012; UCHOA et al., 2011). O balanço oxidativo envolvendo ROS somados a outros agentes oxidantes como as espécies reativas de Nitrogênio (RNS) e os compostos endógenos ou exógenos com atividade antioxidante está diretamente relacionado com fatores externos, tais como fumo, exposição à radiação ultravioleta e a compostos oxidantes tais como ozônio; o envelhecimento celular também é sendo descrito como responsável pelo aumento dessas espécies em diversos organismos, bem como a inativação ou ineficiência na recuperação de importantes enzimas que atuam em vários momentos na inativação das espécies oxidante (GROß; DURNER; GAUPELS, 2013; JOMOVA et al., 2010; KELLY et al., 1995; SMITH; CAPPAI; BARNHAM, 2007; VALKO; MORRIS; CRONIN, 2005). Dessa maneira, há um desequilíbrio entre as quantidades de ROS/RNS em relação aos compostos antioxidantes, que é definido o termo estresse oxidativo, responsável pelo acometimento de diversas patologias ao organismo de plantas, microorganismo e mamíferos, com destaque as que envolvem a degradação de constituintes lipídicos celulares e os eventos associados à apoptose (GILL; TUTEJA, 2010; LEVINE; KROEMER, 2008); SIES, 1997; SOHAL; WEINDRUCH,1996) Mais recentemente, tem-se verificado que as substâncias antioxidantes são capazes de reverter estados patológicos, como a disfunção endotelial provocada pela hipercolesterolemia e também reduzir o numero de eventos coronários, melhorar a viabilidade fecundativa de espermatozóides na prática clínica, bem como promover uma melhorar significativa em pacientes portadores de diabetes mellitus do tipo 2. (AMINBAKHSH; MANCINI, 1999; FARID et al., 2013; MENEZO et al., 2014). 17 No entanto a ação antioxidante parece ocorrer por ação preventiva em muitos desses processos de melhora fisiológica, tal como consta ser no centro de reação fotossintético onde o oxigênio singlete é suprimido pela presença de carotenóides os quais estão inseridos nas proteínas em posição estratégica, tendo como função suprimir ROS entre outras espécies formadas por eventuais falhas no vazamento da espécie Mix-triplete-singlete do centro de reação fotossintético de Rhodobacter sphaeroides (TANDORI et al., 1996; UCHOA, 2008). Os estudos de novas estruturas antioxidantes para interação com os diversos sistemas onde a sua ação preventiva demonstra atividade estão centralizados nos compostos fenólicos de origem vegetal, pois eles agem como aceptores de radicais livres, interrompendo a reação em cadeia provocada por estes, além de atuarem também nos processos oxidativos catalisados por metais, tanto in vitro, como in vivo. Entretanto, observa-se em diferentes outros compostos naturais com destaque para os alcalóides aporfínicos uma atividade antioxidante e fotoprotetora que os tornam novos protótipos para pesquisa dessas estruturas (CASSELS; ASENCIO; CONGET, 1995; HALLIWELL et al.,1995; SHAHIDI; WANASUNDARA, 1992; SUI; GAO, 2014). O interesse em produtos naturais com atividade antioxidante, visa permitir a substituição dos compostos sintéticos ou promover associações entre eles, com o intuito de otimizar sua eficiência. Isso porque a toxicidade provocada pelo consumo de antioxidantes sintéticos, bem como de seus produtos de degradação ainda não estão bem esclarecidas (PEDRIALI et al., 2008; SIDRA; HUSSAIN; MALIK, 2013). Tendo em vista esse aumento nas pesquisas de produtos naturais com atividade antioxidante, destacam-se para esse fim os flavonóides, compostos derivados dos polifenóis, e alcalóides aporfínicos dentro os quais se destaca a boldina o principal alcalóide do Boldo-do-Chile (Pneumus boldus), representando cerca de 12 a 19% do conteúdo total de alcalóides. Alguns experimentos in vitro e in vivo a fim de conhecer melhor a farmacocinética da boldina descreveram que tanto após administração oral quanto intravenosa, a concentração plasmática de boldina decai rapidamente, indicando aparentemente uma cinética de primeira ordem. Quando administrada por via oral, a boldina foi rapidamente absorvida e concentrada preferencialmente no fígado, sendo encontradas concentrações substancialmente menores no coração e no cérebro (ALMEIDA; MELO; XAVIER, 2000; HIDALGO et al., 2005; KONRATH et al., 2008; O’BRIEN; CARRASCO-POZO; SPEISKY, 2006; YEH et al., 2012; YOUN et al., 2002). 18 Portanto, por possuirmos diversos sistemas fisio-patológicos em que a participação dos antioxidantes demonstra uma redução do estresse oxidativo e consequentemente alterações o estruturais restabelecimento que permitam fisiológico uma desses melhor processos, disponibilidade novas desses antioxidantes à esses sistemas, com destaque para as diferentes solubilidades dos compostos, promovem um interesse crescente na geração de novas estruturas com o menor efeito nocivo à outros sistemas fisiológicos, principalmente associado a metabolização, tendo assim, os produtos de origem natural um papel relevante devido a predição de seus produtos de degradação e interações fisiológicas, tais alterações visam também, aumentar a atividade antioxidante e seu tempo de meia vida, para otimização de seu efeito terapêutico, farmacocinética e farmacodinâmica. 1.1. Objetivo geral Sintetizar derivados do alcalóide boldina, a fim de otimizar sua ação antioxidante, neste sentido foi realizada a esterificação de suas hidroxilas fenólicas por dois diferentes mecanismos. 1.2 Objetivos específicos a) Obter derivados com diferentes solubilidade à partir da Boldina; b) Determinar a atividade antioxidante dos análogos; c) Determinar a relação estrutura-atividade antioxidante entre os análogos da Boldina. 19 2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 2.1. Os antioxidantes e os radicais livres celulares As vias metabólicas celulares utilizam em seus processos catabólicos e anabólicos fisiológicos o oxigênio molecular em seu estado fundamental (O2), por possuir capacidade aceptora de elétrons, sendo desta forma, essencial para catalisação de algumas reações endógenas relacionadas à produção de energia (ATP) a partir dos alimentos da dieta (HALLIWELL, 1994; SOHAL; ALLEN, 1986). Durante esses processos metabólicos ocorre a formação de subprodutos das reações como os ROS, termo que generaliza espécies químicas radicalares livres que possuem como característica a presença de um elétron desemparelhado, tais como, radicais hidroxilas (OH·), oxido nítrico (NO·), radical peroxila (ROO·), ânion radical superoxido (O2·-), como também os que não são radicais livres, como, peróxido de Hidrogênio (H2O2), ozônio (O3), oxigênio singlete (1O2), ácido hipocloroso (HOCl). Radicais são fracamente atraídos para um campo magnético e são considerados paramagnéticos. Muitos radicais são altamente reativos e podem doar um elétron ou extrair um elétron de outras moléculas, portanto, comportando-se como oxidantes ou redutores. Esta elevada reatividade, faz com que a maioria dos radicais possua uma semi vida muito curta (10-6 segundos ou menos), em sistemas biológicos, embora algumas espécies possam se manter por muito tempo (ARUOMA, 1994; HALLIWELL, 1994). Os processos metabólicos ocorrem em organelas celulares especificas tais como as mitocôndrias durante a respiração aeróbia, onde ocorre a conversão do oxigênio molecular em água (Figura 1), nos perisossomas na metabolização de lipídios e outras moléculas orgânicas com a produção de peróxido de Hidrogênio e em processos de degradação enzimática do citocromo P450, visando a metabolização e inativação de substancias químicas com atividade biológica, com o intuito de facilitar sua excreção (SIES, 1997). A redução tetravalente do oxigênio intracelular se dá inicialmente de modo completo, para evitar a formação de derivados monoeletrônicos, sendo esse processo de redução mediado enzimaticamente, via citocromo oxidase, porém estudos mostram que cerca de 5% deste oxigênio segue para a formação de 20 espécies reativas, iniciando com os radicais superoxidos (O2-.), seguido da formação de hidroperoxila (HO2-.) que passa posteriormente a formação de peróxidos de hidrogênio (H2O2) e após recebimento de 1 elétron passa a hidroxila (OH-), estabilizando com a formação final de água (H2O). A figura 1 a seguir demonstra a interação eletrônica ao processo de metabolização do oxigênio intracelular (LIU et al. 1999). O O eHO O O O + e- 2H HO OH + e- H H2O + HO + e- H H2O Figura 1: Etapas reacionais para redução tetravalente do Oxigênio molecular (O2) nas cadeia respiratória mitocondrial. Fonte: Adaptado de Cohen (1990). A geração de radicais livres também pode ocorrer em processos patológicos e fontes exógenas tais como o uso de alguns medicamento e alimentos, exposição à radiação ionizante e ultravioleta, como também associados aos hábitos como fumo, etilismo, poluição, entre outros fatores (EBADI, 2001). O termo antioxidante é empregado como definição de uma substância que, quando presente em baixas concentrações comparadas com o substrato oxidado, decai ou previne significativamente a sua oxidação (HALLIWELL et al.,1995). De acordo com esta definição pode-se classificar em quatro níveis o processo oxidativo nos quais os antioxidantes podem atuar: 1º aprisionamento de radicais de iniciação que podem exercer sua atividade por dois mecanismos, o primeiro está relacionado com a quebra da cadeia de oxidação, mecanismo empregado aos antioxidantes primários, que promovem a doação de um elétron para o radical livre, já o segundo envolve a remoção das espécies reativas (ROS/RNS), por inibir o 21 catalisador inicial da cadeia de oxidação; 2º ligação a íons metálicos, 3º aprisionamento de radicais peroxilas (OH-2) e 4º remoção de biomoléculas danificadas pela oxidação (STAHL et al., 1998). Em tecidos biológicos os antioxidantes podem ainda atuar como co-antioxidantes ou por regulação da expressão genética. Tais processos antioxidantes podem ser mediados por substancias que se apresentam no meio intra ou extracelular e são classificadas como enzimáticas ou não-enzimáticas (KRINSKY, 1992). Evolutivamente o organismo possui um sistema para supressão das espécies oxidantes, para isso possuímos uma família de enzimas, as superoxidos dismutases, que possuem como função a catálise da dismutação do radical superoxido em H2O2 e O2 na presença do próton H+, sendo encontrada no citosol com zinco-cobre e na mitocôndria das células aeróbicas com manganês, a isoforma desta enzima com ferro e níquel também já foram encontradas em vegetais superiores (BANNISTER; BANNISTER; ROTILIO, 1987; ZELKO; MARIANI; FOLZ, 2002). Há outras enzimas também encontradas nos seres humanos e que possuem atividades supressoras de espécies reativas, tais como as catalases, uma classe de hemeproteína citoplasmática que catalisa a redução do H2O2 a H2O e O2, compostos menos nocivos às células (CHELIKANI; FITA; LOEWEN, 2004; GAETANI, 1996). O sistema Glutationa reúne um apanhando de enzimas e já foram descritas em diversos vegetais, animais e microorganismos. A glutationa-peroxidase, uma das integrantes deste sistema é responsável por catalisar a redução do H2O2 e peróxidos orgânicos para álcoois pela conversão da glutationa reduzida (GSH) à glutationa oxidada (GSSG). Atualmente quatro isoenzima foram descritas entre as quais destacam-se a glutationa-peroxidase 1 por sua alta eficiência e a glutationaperoxidase 4 por sua participação na prevenção da oxidação dos hidroperóxidos lipídicos. A glutationa-redutase, uma flavoproteína dependente de NADPH recuperadora da glutationa reduzida (GSH), é o tiol mais abundante no meio intracelular, se tornando um dos agentes antioxidantes celulares mais importantes na proteção das células à exposição a agentes como íons ferro, oxigênio hiperbárico, ozônio, radiação e luz ultravioleta (BRIGELIUS-FLOHÉ, 1999; HAYES; FLANAGAN; JOWSEY, 2005; MEISTER; ANDERSON, 1983). Enzimas proteolíticas, como as proteases, proteinases e peptidases presentes no citosol e nas mitocôndrias das células de mamíferos, reconhecem, degradam e removem as proteínas oxidadas, a fim de impedir o seu acumulo. Os 22 sistemas de reparação de DNA, também desempenham um papel importante em todo o sistema de defesa contra o dano oxidativo, vários tipos de enzimas, tais como nucleases, e glicosidases reparam o DNA danificado. Há outra importante função chamada de adaptação em que o sinal para as reações de produção de radicais livres induz a formação e transporte do antioxidante ao local apropriado (LEE; JANG, 2004). Processos não enzimáticos também são descritos na proteção do dano oxidativo celular, os quais são classificados como antoxidantes hidrofílicos e lipofílicos, conforme sua natureza química: O acido ascórbico “vitamina C” é o antioxidante hidrofílico exógeno de maior expressão comercial, trata-se de monossacarídeo encontrado tanto em animais quanto em plantas, não é biosintetizado em humanos e deve ser obtido da dieta, encontrado circulante nos fluídos biológicos sob a forma de ascorbato, sendo mantido na sua forma reduzida, inclusive no meio intracelular por reação com a glutationa, que pode ser catalisada pela proteína dissulfito isomerase e glutarredoxinas. O ácido ascórbico é um agente redutor e pode, assim, neutralizar ROS e nitroaminas carcinogênicas, possuindo um efeito antioxidante direto (MEISTER, 1994; PADAYATTY et al., 2003). O ascorbato possui também propriedades pró-oxidantes, pois os íons Fe2+ e Cu1+ reagem com o peróxido de hidrogênio gerando o radical hidroxila. Indiretamente, o ascorbato pode induzir as reações de radicais livres (Figura 2). Porém, em função do Ferro encontrar-se, na maior parte do tempo, ligado a proteínas de transporte ou armazenamento, em situação fisiológica, as propriedades antioxidantes do ascorbato suplantam suas propriedades pró-oxidantes (HALLIWEL et al., 1995). 23 OH O O OH O OH HO OH O O OH HO OH O OH O O 1 O O O O OH + 3 OH OH O 2 O 4 OH 5 Figura 2: Etapas da ionização do ácido ascórbico (1) em ascorbato (2) e posterior oxidação em desihidroascorbato (3) e seus produtos irreversíveis oxalato (4) e treonato (5). Fonte: Adaptado de Meister (1994). O ácido úrico é responsável por cerca de metade da capacidade antioxidante do plasma. Nos mamíferos, é produto secundário de excreção, derivado das bases purínicas. Na maioria dos tecidos orgânicos encontra-se na forma de ânion urato (pKa1=5,4). O mecanismo antioxidante do urato pode ser resumido pela reação com a maioria dos agentes oxidantes em velocidade superior a das outras purinas. Nessa reação, há formação do radical urato estabilizado devido ao pH, esse se encontra na forma de ânion radical urato, o que facilita a doação de um próton em conjunto com o elétron. O urato possui grande atividade contra os radicais peroxila é a base do seu efeito antioxidante protetor do DNA e lipídios, isso ocorre principalmente, devido o íon estar em meio aquoso, o urato reage com os radicais peroxila antes de esses penetrarem a membrana e iniciarem seus danos. Outra ação relevante do ácido úrico está associada a sua capacidade de inibir a reação que torna o ascorbato uma espécie pró-oxidante, por promover a quelação de íons metálicos (Figura 3) (JAESCHKE et al., 2002; NIETO et al., 2000). H N O H N HO O HN O N H 1 H N N HO - O N N H OH H N N O O N H N N O N N H OH 2 - OH 3 N H + H 4 Me HO N N Me H N HN OH OH Me 5 Figura 3: Etapas da ionização do ácido úrico (1) em urato (2) e posterior oxidação em radical urato (3) em equilíbrio com ânion radical urato (4) e seu produto de quelação metálica (Me) (5). Fonte: Adaptado de Jaeschke et al. (2002). + 24 Um peptídeo de grande importância entre os antioxidantes hidrofílicos é a glutationa, tendo como base estrutural o glutamato, cisteína e glicina é encontrada na maioria das formas de vida aeróbica, sendo sintetizada nas células a partir dos seus aminoácidos constituintes. Possui propriedades antioxidantes devido a presença do grupo tiol da cisteína, é um agente redutor e pode ser oxidado e reduzido reversivelmente. Nas células, a glutationa é mantida na forma reduzida pela enzima glutationa redutase e, por sua vez, reduz a outros metabólitos e sistemas enzimáticos. Devido à sua elevada concentração e papel central na manutenção do estado redox da célula, glutationa é um dos mais importantes antioxidantes celulares em alguns organismos (MEISTER, 1988). Já a melatonina, um hormônio secretado pela glândula pineal, também conhecido quimicamente como N-acetil-5-metoxitriptamina, sendo esta uma indolamina obtida bioquimicamente a partir do triptofano, encontrado em animais e em alguns outros organismos vivos, incluindo algas; possui uma potente ação antioxidante por facilmente atravessar as membranas celulares e a barreira hematoencefálica devido o seu caráter anfifílico, ao contrário de outros antioxidantes, a melatonina não sofre ciclos redox e uma vez oxidada, mediante a reação com os radicais livres, não pode ser reduzido ao seu estado anterior, pois forma vários subprodutos finais estáveis. Por isso, tem sido referido como um antioxidante terminal ou suicida (CANIATO et al., 2003; REITER; CARNEIRO; OH, 1997). Como antioxidantes lipossolúveis destaca-se o acetato de tocoferol, “vitamina E”, por sua potente ação antioxidante na quebra de cadeia e também como sequestrador de radicais livres (ROS/RNS). Ela consiste de 4 tocoferóis e 4 tocotrienóis, o α-tocoferol é o tocoferol mais abundante e mais bioativo in vivo graças a suas altas taxas de biodisponilidade, seguida pelo γ-tocoferol. O grupo cromanol é o responsável pela atividade antioxidante, e a provável função da longa cadeia carbônica é reter a molécula na membrana, justificando sua proteção à peroxidação lipídica de membranas celulares, este pode ser reciclado de volta para a forma ativa reduzida por meio da redução de outros antioxidantes, tais como ácido ascórbico, retinol, ou ubiquinol (HERRERA; BARBAS; VITAMIN, 2001; TRABER; ATKINSON, 2007; WANG; QUINN, 1999). Ubiquinona (2,3-dimetoxi-5-metil-6-multiprenyl-1,4-benzoquinona), ou a coenzima Q, é um composto lipossolúvel constituída por um núcleo quinóide redoxativo e uma cadeia lateral hidrofóbica monoinsaturadas de unidades trans- 25 isoprenóides. Ubiquinol é o produto da redução de dois elétrons da ubiquinona. A forma predominante de ubiquinona em animais e seres humanos é a ubiquinona-10, contendo 10 unidades isoprenóides na cadeia lateral (o que também tem sido chamada de ubiquinona 50 para o número total de átomos de carbono na cadeia lateral). A principal função biológica da ubiquinona é a de funcionar como componente de redox dos sistemas de transporte de elétrons transmembranas, tais como a cadeia respiratória mitocondrial, sendo também sugerido para o transporte de prótons através da membrana mitocondrial interna, por difusão transversal, o que resulta na conservação de energia. Estudos mostram que mostraram que o ubiquinol-6, em contraste com ubiquinona-6, é um bom antioxidante e é ligeiramente mais eficiente do que o α-tocoferol na inibição da peroxidação de hemoglobina catalisada por ácido araquidônico. Eles também demonstraram que a ubiquinona reduzida a ubiquinol inibe fortemente a peroxidação lipídica em mitocôndrias isoladas (DRÖSE; BRANDT, 2012; GOKBEL et al., 2011; ORR et al., 2013). Uma classe de antioxidantes lipofílicos os retinóides, termo genericamente usado para compostos sintéticos ou naturais que atuam como pró-vitamina A e agem sobre radicais peroxilas, incluem também como principais representantes da classe os carotenóides (α- e β-caroteno e criptoxantina) que podem apresentar-se clivados enzimaticamente na mucosa intestinal e no fígado. Entre eles, o β-caroteno é um pigmento encontrado em todas as plantas e é o maior carotenóide precursor de vitamina A (ARUOMA, 1994; BARBER; HARRIS, 1994). Outros produtos naturais que se destacam como agentes antioxidantes são os flavonóides, são derivados fenólicos compreendem um grande grupo de compostos químicos caracterizados por um esqueleto de carbono C6-C3-C6, onde C6 são estruturas de anéis aromáticos, e com a presença de um anel oxigenado em C3, apresentam-se como flavonóide reduzido e flavonóide oxidado previnem a peroxidação lipídica através do aprisionamento de radicais de iniciação da peroxidação lipídica, entre eles os ROS, por ligação a íons metálicos, podendo complexarem-se com íons de ferro e suprimir a reação de Fenton e ainda inibição do sistema enzimático responsável pela produção de radicais livres (ACKER et al., 1996; AFANAS’EV et al., 1989). O papel geral das defesas antioxidantes frente à cadeia de geração das diferentes espécies de radicais livres está ilustrado na figura 4, onde observa-se a ação antioxidante de substancias endógenas e exógenas divididas segundo a 26 natureza de seus compostos. As enzimas têm sua ação na catálise da quebra de espécies de radicalares livres, geralmente no meio intracelular. As proteínas ligamse a metal de transição, tais como ferro e cobre, impedindo a interação desses metais com peróxido de hidrogênio e superóxido para a posterior formação de radicais hidroxila altamente reativos. Os antioxidantes de quebra de cadeia são doadores de elétrons poderosos e reagem preferencialmente com os radicais livres, passando a ser oxidado, gerando os radicais antioxidantes, e estes eventualmente serão regenerados ou substituídos. Por definição, o radical antioxidante é relativamente inerte e incapaz de atacar outras moléculas, de modo a impedir que moléculas de estruturas importantes, tais como lipídios, proteínas e ácidos nucléicos sejam danificados (O'CONNELL,1986; YOUNG; WOODSIDE, 2001). Enzimas antioxidantes Superóxido dismutase Catalase Glutationa peroxidase Produção de Radicais Livres O2-, H2O2 Metais de Transição Fe2+, Cu+ Antioxidantes de Quebra de Cadeia Antioxidantes diretos Antioxidantes secundários Fase Lipídica Tocoferóis; Coenzima Q10 Carotenóides Flavonóides Fase Aquosa Ácido Ascórbico Ácido Úrico Sistema glutationa Outros Tiois Proteínas ligadas a metais Transferrina Ferrina Lactoferrina OH- Danos Teciduais Mecanismos de Reparo Figura 4: Defesas antioxidantes contra radicais livres. Fonte: Adaptado de Young e Woodside (2001). A relação estrutural para determinação da atividade antioxidante já vem sendo estudada a algumas décadas, o estudo das relações estrutura-atividade de um composto-protótipo e seus análogos auxilia na determinação de quais partes da molécula são responsáveis pela atividade biológica, ou seja, o grupo farmacóforo (THOMAS; STOCKER, 2000). 27 As relações estrutura-atividade geralmente são elaboradas alterando-se parte da estrutura química do protótipo e observando-se qual influência na atividade sob o ponto de vista qualitativo e quantitativo. Pode-se alterar a dimensão e a conformação do esqueleto de carbono, a natureza e o grau de substituição, a estereoquímica ou ainda a solubilidade (THOMAS; STOCKER, 2000). A atividade antioxidante está altamente relacionada à capacidade de doação de elétrons. A etapa de transferência do hidrogênio tem se destacado, mas a atividade antioxidante não depende apenas força de energia da ligação O-H. A estabilização das espécies cátion-radicalar e radicalar formadas também deve ser considerada (CAO et al., 2005; WRIGHT; JOHNSON; DILABIO, 2001). Muitos fatores influenciam a atividade antioxidante dos compostos de natureza fenólica, em especial a posição de substituição e o número de grupos hidroxila (OH), as propriedades de outros grupos substituintes e a possibilidade de formação de ligações de hidrogênio. Inicialmente a posição de substituição da hidroxila no anel fenólico, considerada em relação a uma posição fixa, influencia diretamente a atividade antioxidante. Compostos contendo a hidroxila em para são mais ativos do que aqueles substituídos em orto devido ao impedimento ou meta desfavorecia pela ressonância (Figura 5). Entre os compostos naturais polifenólicos, notamos que os compostos com dois (mais comum) ou três substituintes hidroxilas no anel benzênico possuem maior atividade antioxidante do que os monohidroxilados, demonstrando haver uma relação direta entre a posição e quantidade das hidroxilas frente à ação antioxidante (CHENG et al., 2002; CHENG et al., 2003; PANNALA et al., 2001). Figura 5: Estrutura geral de substituição e orientação em anel aromático. Fonte: Adaptado de Cheng et al. (2002). 28 Na presença de grupo hidroxila substituído em posição orto e/ou para em anel contendo heteroátomo nitrogênio ou oxigênio, a atividade antioxidante é potencializada por efeito de ressonância entre o par de elétrons do tipo π do heteroátomo e o radical fenóxi formado, para exemplificar o mecanismo desta atividade temos na figura 6 moléculas que possuem atividade antioxidante comprovada por apresentarem heteroátomo oxigênio em orto (PANNALA et al., 2001, WANG; QUINN, 1999). Figura 6: Ligações de hidrogênio na espécie neutra de substâncias contendo oxigênio em grupo substituinte Fonte: Adaptado de Pannala et al. (2001). As ligações de hidrogênio no composto na forma neutra não aumentam a atividade antioxidante, mas após a abstração do hidrogênio fenólico, estabilizam o radical, favorecendo a ação. Um exemplo disso é a baixa atividade antioxidante na wogonina, molécula representada na figura 7, que possui uma OH (em destaque), se deve à estabilização do composto que se encontra em equilíbrio químico estabelecido entre os anéis conjugados. De forma análoga, encontra-se o equilíbrio entre os grupos O-CH3 e OH (PANNALA et al., 2001). Figura 7: Ligações de hidrogênio nas interações intra-moleculares na molécula da wogonina Fonte: Adaptado de Pannala et al. (2001). 29 Posteriormente por meio de estudo cinético, foi avaliada a capacidade antioxidante de substâncias derivadas de flavonóides, os quais apresentam as seguintes características estruturais em relação à estrutura protótipo apresentada na figura 8 (CHENG et al., 2002; CHENG et al., 2003; WANG; QUINN, 1999). Figura 8: Estrutura geral de um flavan e em destaque (vermelho) regiões importantes para atividade antioxidante Fonte: Adaptado de Wang e Quinn, (1999). A relação estrutura-atividade antioxidante de polifenóis conjugados podem ser resumidas quanto às seguintes características: - a posição do grupo hidroxila no anel B: em posição para (R²) favorece atividade, em posições orto e meta essa atividade será reduzida ou ausente e a presença de um segundo grupo hidroxila no anel B (R¹) potencializa a atividade antioxidante; - a presença de dupla ligação (em destaque) conjugada ao grupo oxo, no anel C: essencial à atividade antioxidante; - a presença de grupo hidroxila na posição R do anel heterocíclico C: contribui na atividade antioxidante porém não é essencial; - grupos hidroxila no anel A: são de menor importância dado a posição desses grupos (CHENG et al., 2003). Outro estudo analisou comparativamente a atividade potencial antioxidante de 15 moléculas, por modelagem molecular, observaram a reatividade do ácido gálico e pirogalol. Entretanto, ressaltaram também a elevada atividade pró-oxidante em 30 soluções de pirogalol e ácido gálico devido à pró-oxidação em espécies quinóides, como mostrado no figura 9 (PANNALA et al., 2001). Figura 9: Mecanismo das reações de oxidação em espécies fenólicas Fonte: Adaptado de Pannala et al. (2001) A redução do Fe III ao Fe II provocada por estes compostos em incubação, foi reportada em estudos influenciando na reação de Fenton (Equação 1) e formação de radicais OH•. Ocorre, também, auto-oxidação, produção de H2O2, aumentando a concentração de radicais hidroxila segundo a reação de Fenton e ciclo Haber-Weiss (Equação 2). Fe²+ + H2O2 → Fe³+ + OH● (Equação 1) Fe³+ + ●O2 → Fe²+ + O2 (Equação 2) Às propriedades eletrônicas soma-se a lipofilicidade (CHENG et al., 2002; GHOSE; PRITCHETT; CRIPPEN, 1988), que representa a afinidade de uma molécula ou de um fragmento por ambiente lipofílico (GHOSE; PRITCHETT; CRIPPEN, 1988; LEACH, 2001). O cálculo de propriedade lipofílica é adicional aos processos de cálculos de energia e análise conformacional. Esta propriedade está relacionada ao coeficiente de partição (LogP). O coeficiente de partição é definido pela razão entre a concentração da substância na fase orgânica e sua concentração na fase aquosa em um sistema de dois compartimentos sob condições de equilíbrio, podendo ser obtido por método experimental, como por determinação por shakeflask, ou ainda por método teórico, como o desenvolvido por Ghose-Pritchett-Crippe, disponível nos programas de Modelagem Molecular (GHOSE; PRITCHETT; CRIPPEN, 1988). A Modelagem Molecular pode ser utilizada como ferramenta, calculando propriedades físico-químicas de compostos em estudo, como a lipofilicidade, 31 entalpia de formação, dentre outras. Assim, podem-se empregar programas de Modelagem para obtenção teórica do parâmetro de lipofilicidade de substâncias (THOMAS; STOCKER, 2000). 2.2. Processos oxidativos fisiológicos e patológicos Os processos oxidativos vêm sendo descritos nos últimos anos como papel extremamente relevante na patologia de diversas doenças, as espécies com maior relevância nesses processos são o radical hidroxila, radical ânion superóxido, peróxido de hidrogênio, oxigênio singlete, o hipoclorito, os radicais de óxido nítrico, e radical peroxinitrito, o qual é formado a partir de óxido nítrico e de superóxido. Estas espécies são altamente capazes, de reagir em nível nuclear, em membranas celulares, danificando as moléculas biologicamente relevantes, tais como o DNA, proteínas, carboidratos e lipídios, dentre eles, lipídios, ácidos nucleicos e proteínas, são os principais alvos, desta forma os radicais livres atacam macromoléculas importantes e conduzem a danos celulares e perturbações da homeostase (CHEESEMAN; SLATER, 1993; LEVINE; KROEMER, 2008). Os radicais livres mais importantes em muitos estados de doença são derivados de oxigênio, particularmente o radical superóxido e radicais hidroxilas, a formação de radicais no organismo ocorre através de vários mecanismos, que envolvem tanto os fatores endógenos quanto ambientais (GIORGIO et al., 2007). Os radicais livres são derivados de processos metabólicos fisiológicos essenciais aos seres humanos ou a partir de fontes externas, tais como a exposição aos raios X, ozônio, cigarros, os poluentes do ar, e produtos químicos industriais, a formação de radicais livres ocorre de forma contínua nas células como consequência de reações tanto enzimáticas quanto não enzimáticas. As reações enzimáticas, que servem como fonte de radicais livres, incluem aqueles que estão envolvidas na cadeia respiratória, na fagocitose, na síntese de prostaglandina, e no sistema de citocromo P-450. Os radicais livres podem também ser formados em reações não enzimáticas, onde temos de oxigênio como substituinte em um composto orgânico, bem como as iniciadas por reações ionizantes (KELLY et al., 1995; McCAUGHAN, 1999; POURCELOT et al.,1999). 32 Figura 10: Participação mitocondrial na geração e consumo de radicais livres em relação à idade da célula. Fonte: Adaptado de Sohal e Weindruch (1996). O estresse oxidativo é definido como sendo um desequilíbrio entre oxidantes e antioxidantes em favor dos oxidantes (SIES, 1997) como consequência do aumento desses radicais livres é a reação dessas espécies com ácidos graxos poliinsaturados (PUFA) presentes nas membranas celulares e nas lipoproteínas, iniciando um processo em cadeia conhecido como peroxidação lipídica ou lipoperoxidação que pode ser avaliado e utilizado como um indicador do estresse oxidativo celular (ANDERSON; KATUNGA; FILIPE et al., 2013; WILLIS, 2012; SHOEB et al., 2014). A membrana é o componente celular mais atingido pela peroxidação lipídica, acarretando alterações em sua estrutura e permeabilidade e, além disso, podemos ter as seguintes situações: (a) perda de seletividade na troca iônica, (b) liberação do conteúdo das organelas, como as enzimas hidrolíticas dos lisossomas, (c) formação de produtos citotóxicos, como o malonaldeído, (d) morte celular (CHANDRA et al., 2003; GUÉRAUD et al., 2010; JELVEH et al., 2013). Nos sistemas biológicos a lipoperoxidação pode ocorrer principalmente por uma via enzimática envolvendo as ciclo-oxigenases e lipoxigenases e por outra via 33 não enzimática envolvendo a participação das espécies reativas do oxigênio, metais de transição e outros radicais livres, ao que se atribui em especial o processo de envelhecimento de diversos órgãos e tecidos (JANERO, 1990; PORTER; CALDWELL; MILLS, 1995). A membrana é o componente celular mais atingido pela peroxidação lipídica, conforme ilustrado na figura 10, acarretando alterações em sua estrutura e permeabilidade e, além disso, podemos ter as seguintes situações: (a) perda de seletividade na troca iônica, (b) liberação do conteúdo das organelas, como as enzimas hidrolíticas dos lisossomas, (c) formação de produtos citotóxicos, como o malonaldeído, (d) morte celular (CHANDRA et al., 2003; GUÉRAUD et al., 2010; JELVEH et al., 2013). O processo da lipoperoxidação pode ser dividido em três etapas, a fase de iniciação representa o início da peroxidação (Figura 11), em que o ácido graxo poliinsaturado sofre ataque de uma espécie que é suficientemente reativa para abstrair um átomo de hidrogênio a partir de um grupo metileno (-CH2-), formando um radical de carbono. Este radical é estabilizado por um rearranjo molecular para formar um dieno conjugado, ou seja, duas duplas ligações intercaladas por uma ligação simples (CADENAS; SIES, 1985). Figura 11: Mecanismo das reações de iniciação do processo de peroxidação lipídica. Fonte: Adaptado de Hsieh e Kinsella (1989). Em meio aeróbio, o radical alquila inicialmente formado se combina com o oxigênio formando o radical peroxila, o qual pode abstrair um hidrogênio alílico de outro ácido graxo, gerando outro radical de carbono e promovendo a etapa de propagação (Figura 12). Essa reação do radical peroxila com o átomo de hidrogênio abstraído gera um hidroperóxido lipídico. Peróxidos cíclicos também podem ser formados, quando o radical peroxila reage com uma dupla ligação na mesma cadeia de ácido graxo, o que também pode propagar a lipoperoxidação (CADENAS; SIES, 1985). 34 Figura 12: Mecanismo das reações de propagação da peroxidação lipídica. Fonte: Adaptado de Hsieh e Kinsella (1989). A fase de terminação é regida pela aniquilação dos radicais formados originando produtos não radicalares (Figura 13), a velocidade do processo de lipoperoxidação é limitada pelas fases de iniciação e propagação (HSIEH; KINSELLA, 1989). Figura 13: Mecanismo das reações de terminação da peroxidação lipídica. Fonte: Adaptado de Hsieh e Kinsella (1989). Os radicais peroxila e alcoxila também podem: sofrer dismutação ou clivagem beta formando aldeídos; formar uma ligação covalente com resíduos de aminoácidos ou sofrer um rearranjo formando produtos secundários da lipoperoxidação 35 (derivados hidroxi-, ceto-, cetohidroxi- e epoxi-hidroxi-ácido graxo) (SPITELLER; SPITELLER, 1998). O resultado da peroxidação lipídica é observado com o aumento da quantidade de produtos de radicais livres, especialmente os marcadores da peroxidação em fluidos corporais. É importante lembrar, no entanto, que a peroxidação lipídica é um acompanhamento inevitável da morte celular. Na maioria dos casos, a peroxidação é um fenômeno secundário e, portanto, não indicam diretamente um papel importante na causa de doenças. As observações, no entanto, apontam para o aumento do estresse oxidativo através de um mecanismo plausível gerando o aumento da produção de radicais livres ou uma ineficiência das espécies antioxidante, para que sua relação com a geração de patologias seja demonstrada. Além disso, a prova de esforço oxidativo deve ser detectável antes do aparecimento dos danos no tecido e o aumento das defesas antioxidante numa fase inicial deve prevenir ou reduzir significativamente os danos aos tecidos (ROSENFELD, 1998; STEFANIS; BURKE; GREENE, 1997). Um dos papeis do estresse oxidativo tem sido postulado por sua participação em diversos processos patológicos, incluindo arteriosclerose, algumas condições inflamatórias e certos tipos de câncer. Sendo atualmente pensado em relação a sua contribuição significativa para todas as doenças inflamatórias (artrite, vasculite, glomerulonefrite, o lúpus eritematoso, síndrome de doenças respiratória do adulto), doenças isquêmicas (doenças cardíacas, acidente vascular cerebral, isquemia intestinal), hemocromatose, síndrome da imunodeficiência adquirida, enfisema, transplante de órgãos, úlceras gástricas, hipertensão e pré-eclampsia, perturbações neurológicas (doença de Alzheimer, doença de Parkinson, distrofia muscular), alcoolismo, doenças relacionadas com o tabaco, e muitos outros, graças a mudanças estruturais em diversas macromoléculas, alterando assim sua função (GUÉRAUD et al., 2010; LOVELL et al., 1995). 2.3. Fitoterápico 2.3.1. Boldo e seu alcalóide majoritário Boldina Peumus boldus Molina pertence à família Monimiaceae da ordem Laurales, subordem Monimiineae. É considerada uma pequena família, com cerca de 450 36 espécies e 32 gêneros e é originário das montanhas do Chile (ALONSO, 1998) No Brasil, está representada por 6 gêneros e cerca de 84 espécies (BARROSO, 1978), sendo que o gênero Peumus possui apenas esta espécie. O Peumus boldus, conhecido popularmente como boldo ou boldo-do-chile, é um arbusto ou árvore pequena de, em média, 5 a 6 metros de altura, dióica, em cujas populações a relação de indivíduos masculinos e femininos é de 1:5 respectivamente (HOFFMANN, 1981). Possui uma copa arredondada e tronco curto com ramificações cilíndricas e abundantes. As flores são unissexuais, pistiladas e estaminadas, brancas a branco-amareladas, dispostas em inflorescências do tipo racemosa com 3 a 15 flores, terminais ou axilares. Os frutos são drupas carnosas e doces, ligeiramente amarelos, aromáticos possuindo entre 4 a 8 mm de comprimento podendo permanecer na planta até a próxima temporada, com um invólucro seco de coloração negra (MARTÍN; DOLI, 1998). A etnofarmacologia desta espécie é descrita sendo muito empregada pelas comunidades indígenas dos Andes chilenos, sobretudo pelas etnias qollahuayas e mapuche, que o aplicavam em casos de luxações e dores reumáticas, já na medicina tradicional, preparações contendo boldo são geralmente indicadas para o tratamento de doenças dos sistemas digestivo e hepatobiliar (SPEISKY; CASSELS, 1995). Nacionalmente utiliza-se a planta na forma de tintura, obtida pela maceração ou percolação em etanol a 60% (VV), com um teor de 10% (PV) de Pneumus boldus Molina expressos com no mínimo 0,01% em alcaloides (Boldina) (BRASIL, 2010) ou em infusão de 1 a 2 gr. de suas folhas secas em 150 mL de água possuindo ambas apresentações indicação como antidispéptico, colagogo e colerético (BRASIL, 2011). Outras aplicações tradicionais do boldo por culturas populares estão descritas na tabela a seguir (Tabela 1): 37 Tabela 1: Emprego farmacológico do Pneumus boldus Molina em culturas populares. Emprego Farmacológico Referencia Estimulante de secreções gástricas GUPTA, 1995; THE COMPLETE, 1998; DUKE, 2000 Antidispéptico THE COMPLETE, 1998; PDR, 2000; BRUNETON, 2001 Colerético e colagogo PDR, 2000; NEWALL et al., 2002; Antiespasmódico PDR, 2000 Disfunções intestinais, perda do apetite e tensão muscular DUKE, 2000 Associado a alcachofra é utilizado para ardores esofágicos e epigástricos BRUNETON, 2001; Associado com cáscara sagrada são usadas em constipação BRUNETON, 2001; Diurético BISSET et al., 1994; NEWALL et al., 2002 No tratamento de cálculos biliares, dor hepática, cistite, reumatismo e colelitíase NEWALL et al., 2002 Fitoquimicamente as folhas de Peumus boldus são caracterizadas pela presença de taninos (1,2%), óleos essenciais (2-3%), cumarinas (0,5%), alcalóides (0,1-0,7%) e flavonóides (BLUMENTHAL; GOLDBERG; BRINCKMANN, 2000; NEWALL; ANDERSON; PHILLIPSON, 2002). A composição química do óleo essencial, apresenta cerca de 46 componentes diferentes, em sua maioria compostos monoterpenos (90,5% do total) com maior expressão em limoneno (17%), p-cimeno (13,6%), 1,8-cineol (11,8%), βfelandreno (8,4%), sabineno (6,3%), α-pimeno (5,3%), terpine-4-ol (5,3%), αterpineol (5,2%) e ascaridol (1,0%) (VILA; VALENZUELA, L; BELLO, 1999). Em flavonóides estão descritos a presença de cinco glicosídeos flavônicos o pneumosídeo (ramnetina-3-arabinosídeo-3’-ramnosídeo), boldosídeo (isoramnetina 3-glucosídeo-7-ramnosídeo), fragosídeo (isoramnetina diramnosídeo), campferol-3glucosídeo-7-ramnosídeo e isoramnetina-3-arabinosídeo-7-ramnosídeo (SPEISKY; CASSELS, 1995). 38 Os alcalóides são os responsáveis pelas atividades farmacológicas do boldo. A boldina ((S) - 1,10-dimetoxi-2, 9 dihidroxiaporfina), com estrutura elucidada na figura 14, é um alcalóide benzilisoquinolínico extraído do Boldo (Peumus boldus Molina), e foi o primeiro alcalóide isolado, logo, foram identificados outros alcaloides isoboldina (II) um isômero da boldina, a isocoridina (III), a norisocoridina (IV), a isocoridina N-óxido (V), a nmetilaurotetanina (VI), a laurotetanina (VII), a laurolitsina (VIII) e a reticulina (IX). Também foram isolados alguns alcalóides não-aporfinóides como a coclaurina, laudanosina e laudanosolina (SPEISKY; CASSELS,1995). A presença desses alcalóides, principal o de maior expressão (mínimo de 1% P;P) a boldina, nas preparações da droga vegetal, atribui-se as atividades antioxidantes, a qual promove um efeito antitumoral, citoprotetor, anti-inflamatório, anticolinérgica por ação de bloqueio dos receptores adrenérgicos e antagonistas de canais de cálcio, também mostra uma boa afinidade para os receptores dopaminérgicos. Tem-se caracterizado nos últimos anos como um antioxidante que protege as células eficazmente contra a peroxidação lipídica induzida por radicaislivres ou inativação de enzimas antioxidantes. A capacidade de supressão de oxigênio singlete da boldina e de um de seus análogos, a glaucina (X) foi avaliada em diversos solventes apresentando um melhor rendimento. OH O O HO N Figura 14: Fórmula estutural da Boldina. Fonte: Adaptado de Hughes, Genest e Skakum (1968). Alguns alcalóides benzilisoquinolínicos fenólicos inibiram a LPO induzida por Fe2+/cisteína (como produção de substâncias reativas ao tiobarbitúrico ou TBARS) de membranas microssomais de fígados de ratos, sendo observado efeito similar com a boldina, utilizando o mesmo modelo experimental (MARTÍNEZ et al., 1992). Outra propriedade destes alcalóides consiste na proteção da desoxirribose contra a degradação induzida por Fe3+ - EDTA na presença de peróxido de hidrogênio, 39 agindo como seqüestrador de radicais hidroxil (HO●) (JANG et al., 2000; UBEDA et al., 1993; YOUN et al., 2002). A boldina (Figura 14) mostrou também inibição contra a oxidação de Lipoproteínas de Baixa Densidade (LDL) in vitro e da aterosclerose in vivo em ratos (SANTANAM et al., 1991) e atividade antioxidante em ensaio de peroxidação lipídica, onde se mostrou seis vezes mais potente que o padrão catequina (SCHMEDA-HIRSCHIMANN et al., 2003). Já em baixas concentrações (IC50 = de 5 x 10-6 a 15 x 10-6 M) a boldina mostrou proteger efetivamente membranas de células plasmáticas vermelhas contra o AAPH (2,2’ – azobis [2-amidinopropano]), gerador hidrossolúvel de radicais alquilperoxil em condições de decomposição térmica, ficando evidenciado também sua capacidade de inibição da autoxidação espontânea de lipídios de membrana de células cerebrais determinada pela produção de TBARS e quimioluminescência (SPEISKY et al., 1992). Assim como também se mostraram capazes de proteger hepatócitos contra danos induzidos pela t-BOOH, confirmando sua ação hepatoprotetora através de testes in vitro e in vivo. Porém, não se confirmou a possível ação colerética em ratos, mencionada em indicações tradicionais da planta (LANHERS et al., 1991). Enquanto que posteriormente constatou-se o efeito preventivo da boldina na peroxidação não-enzimática de lipídios microssomais do fígado humano iniciado por Fe3+- ATP com NADPH ou NADH como cofatores ou iniciado por CC14 e NADPH como cofator. Além disso, a boldina demonstrou prevenir a peroxidação e inativação do citocromo P4502E1 (KRINGSTEIN; CEDERBAUM, 1995). Contra danos oxidativos mitocondrial em ratos diabéticos induzido por estreptozotocina (STZ), a boldina demonstrou um efeito protetor inibindo os efeitos causados pelo dano e alterando a atividade antioxidante da enzima pela decomposição de ROS e pela inibição da produção de óxido nítrico e redução da formação do produto de peroxidação. Além disso, pode atenuar o desenvolvimento de diabetes em ratos provocado por STZ e interferir no estresse oxidativo, uma das patogêneses do diabetes mellitus (LEE et al., 2002). Seus efeitos quimioprotetores foram investigados com a modulação in vitro de enzimas metabolizantes de fármacos em linhagens de células Hepa-1 de hepatomas de ratos e microssomos hepáticos de ratos, observando-se atividade inibitória no microssomo hepático e estimulo da atividade de células Hepa-1, podendo decrescer 40 a ativação metabólica de outros xenobióticos incluindo mutações químicas. Estas descobertas sugerem a possibilidade que, em adição a sua atividade sequestrante de radicais livres, a boldina pode também proteger componentes de células vitais, não só pelo decréscimo da ativação metabólica de xenobióticos potencialmente tóxicos, mas, também, por aumentar a sua remoção (KUBÍNOVÁ et al., 2001). Os efeitos protetores da boldina foram analisadas em apresentações comerciais como a tintura de Peumus boldus, onde em células sangüíneas vermelhas e proteínas do plasma (REINIGER, 1999a) e em células bacterianas (REINIGER, 1999b) apresentou proteção contra o Tenécio-99, na injúria neuronal associada com oxidação da catecolamina, apresentou um potencial efeito protetor neuronal (YOUN et al., 2002). Além disso, o extrato aquoso de Peumus boldus mostrou atividade antioxidante pela descoloração de uma solução metanólica de 1,1-difenil-2-picrilhidrazil (DPPH) (SCHMEDA-HIRSCHIMANN et al., 2003). Considerando a atividade anti-inflamatória, a boldina se mostrou muito efetiva em reduzir edema em pata de cobaias induzido por carragenina e na prevenção do aumento da temperatura retal em coelhos tratados com pirogênios bacterianos isso pode ser atribuído à ação antioxidante do alcalóide, já que moléculas que podem interferir na geração de ROS podem, também, possuir propriedades antiinflamatórias (BACKHOUSE, 1994). A boldina apresentou foto-instabilidade quando submetida a comprimentos de ondas maiores que 300 nm, o que levou a investigação de suas propriedades fotoprotetoras, que evidenciou que a aplicação da boldina (25 mM) em uma área de 12 cm2 protegeu a pele contra a formação de eritemas, na mesma extensão de um fotoprotetor com fator de proteção solar 5 (HIDALGO,1998; RANCAN, 2002). As atividades farmacológicas da boldina, portanto podem ser divididas conforme evidencia-se a atividade anti-oxidante, a tabela 2 traz os principais mecanismos de ação dessas atividades. 41 Tabela 2: Ação farmacológica e efeito da boldina. Ação Farmacológica Efeito Referencia Redução e Prevenção de edema Prevenção de ROS in vitro por Neutrofilos Polimorfonucleares Backhouse, et al., 1994 Antipirético Prevenção da hipotermia Backhouse et al., 1994 Antidiabético Prevenção da hiperglicemia e perda de peso Redução de TBARS e níveis de carbonil em vários tecidos Normalização das enzimas antioxidantes mitocondriais Jang et al., 2002 Antiaterogênico Inibição da oxidação de LDL humana isolada Inibição da oxidação de plasma ex vivo Redução de lesões ateroscleróticas aorta Santanam et al., 2004 Antiplaquetária Inibição da agregação Youn et al., 2002 Anti-tumoral Inibição induzida por TPA de regulação negativa Prevenção do aumento oxidativo celular induzido por TPA e na translocação de PKC Hu et al., 1995 Fotoproteção Prevenção de aumento de temperatura da pele Prevenção da formação de eritema cutâneo Prevenção de danos no fígado GPT (plasma) Hidalgo et al., 1998 F. Rancan et al., 2002 Lanhers et al., 1991 Anti-inflamatória Milian et al., 2004 42 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1. Reagentes e Solventes Boldina P.A. (sigma aldrich); Anidrido Maleico P.A. (cinética); Dimetilformamida (DMF) (labsynth); Tolueno (labsynth); Propanona (labsynth); Etanol 92% (labsynth); Éter Etílico (labsynth); Cloreto de Palmitoíla; Sílica Gel 60G 70~230 Mesh; Clorofórmio (labsynth); Acetato de Etila (labsynth); n-Hexano (labsynth); DPPH (2,2-Diphenil-1-picril-hidrazil) (sigma aldrich). 3.2. Síntese dos derivados da Boldina 3.2.1. Síntese química da Maloil-boldina A síntese foi realizada utilizando uma solução de boldina, obtidos dissolvendo 0,1 g em 10 mL de DMF (0,305 mmol), em balão de fundo redondo, posteriormente foi adicionado em excesso de anidrido maleico uma solução preparada por 0,3 g de anidrido maleico em 10 mL de DMF (3 mmol) e transferida quantitativamente para o balão volumétrico, essa mistura foi mantida sob agitação magnética constante, por 4 horas, sendo protegida da umidade por um tubo secante. Decorrendo esse período o solvente foi removido por rotaevaporação e o precipitado lavado sucessivamente com éter etílico (frações de 20 mL) com o objetivo de purificarmos o produto formado, do excesso de anidrido empregado na síntese. 43 O grau de pureza foi determinado por cromatografia em camada delgada (CCD) utilizando sílica-gel GF254 eluido com tolueno/propanona/etanol (54:40:6) na fase móvel, seguida de visualização em câmara escura com luz ultravioleta (λ= 365 nm), obtendo Rf de 0,3. A CCD foi realizada em cuba específica aplicando sob a placa de sílica-gel pequenas frações de Boldina solubilizada na solução eluente como padrão e a uma distancia de 1 cm o produto da síntese, a uma altura de 0,5 cm do inicio da placa, foi demarcada uma altura final na placa de 5 cm para a corrida cromatográfica. Iniciouse a corrida com o eluente na cuba em uma altura inferior à 0,5 cm. O termino se deu quando o eluente atingiu a marca de 5 cm de altura na placa. Sendo retirada a placa da cuba, seca à temperatura ambiente e lida em câmara escura. O mesmo procedimento cromatográfico foi seguido com as alíquotas de éter etílico da lavagem do precipitado, após não identificarmos outra mancha na CCD, fora o padrão, o produto cristalizado foi caracterizado por RMN ¹H. 3.2.2. Síntese química da Maloil-boldina (Solvent-free) Inicialmente o anidrido maleico (0,3 g - 3 mmol) em excesso foi fundido em um banho de óleo a uma temperatura de 53 + 2 ºC sob agitação magnética constante em balão de fundo redondo, acoplado a um condensador para evitar entrada de umidade, assim toda a massa de anidrido passou para o estado líquido foi adicionado no balão a boldina (0,1 g - 0,305 mmol) e mantida a agitação por 24 horas. Posteriormente foi resfriado à temperatura ambiente, em dessecador, e os cristais foram purificados através de lavagens sucessivas com éter etílico (frações de 20 mL) com o auxílio de banho de ultrassom. O grau de pureza foi determinado por CCD utilizando sílica-gel GF254 eluido com tolueno/propanona/etanol (54:40:6) como fase móvel, seguida de visualização em câmara escura com luz ultravioleta (λ= 365 nm), obtendo Rf de 0,15. O mesmo procedimento cromatográfico descrito no item 3.2.1 foi seguido para o produto desta síntese tanto para definir seu Rf quanto para acompanhamento da purificação do precipitado, após não identificarmos outra mancha na CCD, fora o padrão, o produto cristalizado foi caracterizado por RMN ¹H. 44 3.2.3. Síntese química da Palmitoil-boldina Inicialmente o cloreto de palmitoíla (0,3 g – 1,090 mmol) em excesso foi solubilizado em DMF sob agitação magnética constante em balão de fundo redondo, acoplado a um condensador para evitar entrada de umidade, posteriormente foi adicionado no balão a boldina (0,1 g - 0,305 mmol) e mantida a agitação por 24 horas. Posteriormente foi removido o solvente por rotaevaporação e o precipitado solubilizado em uma mistura de n-Hexano/Acetato de Etila (70:30) e submetido à purificação em coluna cromatográfica com sílica-gel 60G 70~230 Mesh, e teve como fase móvel a mistura de n-Hexano/Acetato de Etila (70:30). O grau de pureza foi determinado por CCD utilizando sílica-gel GF254 eluido com n-Hexano/Acetato de Etila (70:30) como fase móvel, seguida de visualização em câmara escura com luz ultravioleta (λ= 365 nm), obtendo Rf de 0,7. O procedimento para realização da CCD, seguiu os mesmos princípios descritos no item 3.2.1 para o produto desta síntese tanto para definir seu Rf quanto para a purificação e seu acompanhamento, após não identificarmos outra mancha na CCD, fora o produto de interesse, o solvente foi rotaevaporado e o produto cristalizado foi caracterizado por RMN ¹H. 3.3. Análise de Ressonância Magnética Nuclear (RMN 1H) Os espectros de RMN 1 H foram realizados no Laboratório de Processos Fotoinduzidos e Interfaces (LPFI) do Instituto de Química da Universidade de São Paulo, utilizando espectrômetro de Ressonância Magnética Nuclear, modelo Varian a 300 MHz. O solvente utilizado foi DMSO-d6, sendo posteriormente inspecionados em software MestRe-c. A técnica de RMN baseia-se na propriedade de alguns núcleos apresentarem momentos magnéticos (spin) não nulos. O número quântico de spin I, está ligado ao número de massa e atômico, os núcleos mais frequentemente estudados na RMN são: 1H, 2H(D), 11B, 13C, 14N, 17O, 19F e 31P. Ao submeter um núcleo a um campo magnético externo forte, o seu momento magnético tende a se alinhar com o campo, havendo uma mudança de energia. O núcleo não se alinha completamente com o campo, mas sofre o movimento de precessão. 45 Para átomos com I=1/2, há dois números quânticos possíveis, +1/2 e -1/2 que representam as duas orientações possíveis dos campos. Fazendo-se uma varredura na frequência de radiação eletromagnética, aparecem transições em frequências definidas, onde há absorção de energia, causada pela ressonância. Elas também podem ser obtidas variando o campo magnético. Ao aplicarmos uma frequência constante, nem todos os núcleos apresentam ressonância no mesmo campo magnético. Se o núcleo é o próton, o valor onde a ressonância aparece é diferente para cada próton, dependendo de seu ambiente químico. No caso do Hidrogênio (1H) as variações do campo magnético estão na ordem de até 15 ppm. O deslocamento químico (δ)1 é definido como a blindagem do núcleo pelos elétrons dividido pelo campo aplicado, e é sempre medido a partir de uma referência que neste método foi o tetrametilsilano (TMS). 1- δ = [(νalor da amostra – νalor da referência)/frequência do espectrômetro]x106 (ppm). 3.4. Análise da atividade antioxidante As leituras de absorbância foram realizadas em Espectrofotômetro UV-Vis, Shimadzu, modelo UV-1201, cubeta de quartzo com 1 cm de caminho óptico. A partir de uma solução inicial de DPPH (60 µM), preparada dissolvendo 2,4 mg de DPPH em um balão volumétrico de 100 mL com álcool metílico, homogeneizado com auxilio de banho ultrassom e transferido para um frasco de vidro âmbar, limpo e seco para armazenamento, a solução foi preparada e utilizada apenas no dia da análise. Para construção da curva de calibração preparou-se soluções variando a concentração de 10 µM a 50 µM, a partir da solução inicial em balões volumétricos de 10 mL, obtendo-se as absorbâncias relativas a cada concentração em comprimentos de onda (l) de 515 nm, utilizamos como branco álcool metílico, para calibrar o espectrofotômetro. Foram preparadas soluções com os produtos sintetizados a 2,5% (20 µM) utilizando álcool metílico como solvente. Na ausência de luz, transferiu-se uma alíquota de 0,1 mL da solução de cada produto da síntese e da boldina para tubos de ensaio com 3,9 mL do radical DPPH 46 (60 µM) e homogeneizou-se em agitador de tubos. Utilizou-se 0,1 mL da solução controle de álcool metílico com 3,9 mL do radical DPPH. As leituras (515 nm) foram monitoradas a cada minuto, a fim de observarmos a redução da absorbância até sua estabilização. A leitura da absorbância final para o cálculo da quantidade de amostra necessária para reduzir em 50% a concentração inicial do radical DPPH (EC50), foi feita após a estabilização da absorbância (tempo EC50). 3.5. Análise estatística Os ensaios apresentados neste trabalho foram realizados em triplicata e seus resultados apresentados a partir da média de três repetições (n=3) com a determinação do desvio padrão. Foram considerados estatisticamente diferentes os resultados de atividade antioxidante que apresentaram probabilidade de ocorrência de hipótese de nulidade menor que 5% (ρ < 0,05) aplicando-se o teste T de student. Os cálculos e gráficos serão gerados com auxílio do software MS-Excel versão 2002. 47 4. RESULTADOS 4.1. Síntese e caracterização dos derivados da Boldina 4.1.1. Síntese e caracterização da Maloil-boldina Os resultados colhidos nas cromatografias de camada delgada dispostos na tabela 3 demonstram a obtenção do produto pretendido pela reação ilustrada na figura 15. Figura 15: Reação de síntese da Mono maloil-boldina. Tabela 3: Resultado Rf nos diferentes meios de eluição. Produto Boldina Maloil Boldina Maloil Boldina Solvent-free Palmitoil Boldina Eluente 1 - tolueno/acetona/etanol (54:40:6) Eluente 2 - n-Hexano/Acetato de Etila (70:30) Eluente 1 Eluente 2 0,50 0,30 0,15 - 0,0 0,7 48 A primeira rota de reação para produção da Mono-maloil-boldina gerou os resultados espectrais descritos na tabela 4 quando submetido a espectroscopia de ressonância magnética nuclear de 1H, a atribuição desses resultados pode ser vista na figura 16. 1 Tabela 4: Resultado Espectro de RMN H do produto da reação da maolil-boldina pela 1ª rota. Próton Deslocamento Químico (PPM) Integral NCH3 [18] 2,599 3,17 CH3 [20,26]* 3,783 3,03 CH [27,28] 6,081 2,01 CH [13] 6,634 1,00 CH [14] 6,787 1,00 CH [17] 7,666 1,00 OH [30] 9,414 / 9,566 0,56 /0,59 *Sinal encoberto pelo solvente em 3,5 ppm. 49 1 Figura 16: Espectro de RMN H do produto da primeira reação de síntese da Mono-maloil-boldina em DMSO-d6, 300 MHz. 50 A segunda rota de síntese do derivado maloil-boldina (Figura 17), conta com um sistema livre de solvente em que os reagentes foram solubilizados entre si após serem fundidos. Figura 17 Reação de síntese solvent-free da maloil boldina. 4.1.2. Síntese e caracterização da Palmitoil-boldina A reação de síntese da palmitoil-boldina (Figura 18) foi efetiva conforme demonstrada nos valores obtidos na CCD conforme tabela 3. Figura 18: Reação de síntese da palmitoil boldina. 51 4.2. Capacidade antioxidante O resultado da curva de calibração da solução metanólica de DPPH está ilustrado na figura 19. Figura 19: Curva de calibração do DPPH. A figura 20 traz os resultados espectrofotométricos da triplicata realizada para acompanhamento da reação entre a Boldina, em solução metanólica a 20 µM (2,5%) e a solução de DPPH à 60 µM determinado a absorbância à 515 nm e seu desvio padrão, esses dados foram obtidos à partir da tabela 5. Os resultados referentes ao traço cinético do ao longo de 60 min. de acompanhamento, e fragmentação para verificação das cinéticas da reação do 0 aos 8 min iniciais e dos 9 aos 25 min, estão dispostos respectivamente nas figuras 21, 22 e 23. 52 Tabela 5: Resultado da análise em triplicata da absorbância da solução metanólica de Boldina. tempo 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 0 0,557 0,557 0,558 0,558 0,558 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,556 0,556 0,557 0,557 0,557 0,556 0,557 0,557 0,557 0,557 0,556 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 1 0,557 0,381 0,295 0,257 0,229 0,216 0,204 0,195 0,182 0,178 0,174 0,172 0,17 0,17 0,169 0,169 0,168 0,167 0,167 0,167 0,166 0,166 0,165 0,165 0,164 0,164 0,164 0,164 0,163 0,164 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 2 0,557 0,377 0,282 0,259 0,227 0,215 0,203 0,192 0,185 0,181 0,179 0,177 0,175 0,173 0,171 0,169 0,168 0,168 0,167 0,167 0,167 0,166 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 0,165 3 0,557 0,383 0,29 0,252 0,229 0,213 0,202 0,193 0,187 0,18 0,176 0,172 0,17 0,168 0,166 0,164 0,164 0,164 0,163 0,163 0,163 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 0,162 Média 0,557 0,380 0,289 0,256 0,228 0,215 0,203 0,193 0,185 0,180 0,176 0,174 0,172 0,170 0,169 0,167 0,167 0,166 0,166 0,166 0,165 0,165 0,164 0,164 0,164 0,164 0,164 0,164 0,163 0,164 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 0,163 Desvio Padrão 0,0000 0,0031 0,0066 0,0036 0,0012 0,0015 0,0010 0,0015 0,0025 0,0015 0,0025 0,0029 0,0029 0,0025 0,0025 0,0029 0,0023 0,0021 0,0023 0,0023 0,0021 0,0023 0,0017 0,0017 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 0,0015 53 Figura 20: Absorbância de DPPH com 2,5% de solução de boldina (padrão) em solução de DPPH 60mM em triplicata. y = -0,0069x + 3,0797 R2 = 0,3129 4,30 4,10 Ln (Concentração mM) 3,90 3,70 3,50 3,30 3,10 2,90 2,70 2,50 0 10 20 30 40 Tempo (Minutos) 50 60 70 Boldina Linear (Boldina) Figura 21: Traço cinético da concentração media de DPPH com 2,5% de solução de boldina (padrão) 54 y = -0,1233x + 3,7634 R2 = 0,8485 4,3 4,1 Ln (Concentração mM) 3,9 3,7 K1= 0,1233 Min-1 3,5 3,3 3,1 2,9 2,7 2,5 0 1 2 3 4 5 6 Tempo (Minutos) 7 8 9 Boldina Linear (Boldina) Figura 22: Traço cinético da concentração de DPPH com 2,5% de solução de boldina (padrão) 8 min iniciais. 2,90 y = -0,0055x + 2,9178 R2 = 0,8535 Ln (Concentração mM) 2,88 2,86 K2 = 0,0055 Min-1 2,84 2,82 2,80 2,78 7 9 11 13 15 17 Tempo (Minutos) 19 21 23 25 Boldina Linear (Boldina) Figura 23: Traço cinético da concentração de DPPH com 2,5% de solução de boldina (padrão) de 9 a 25 min. 55 A figura 24 traz os resultados espectrofotométricos da triplicata realizada para acompanhamento da reação entre a Mono-maloil-boldina, em solução metanólica à 20 µM (2,5%) e a solução de DPPH à 60 µM determinado pela absorbância à 515 nm e seu desvio padrão, esses dados foram obtidos à partir da tabela 6. Os resultados referentes ao traço cinético do ao longo de 60 min de acompanhamento, e a fragmentação para verificação das cinéticas da reação do 0 aos 8 min iniciais e dos 9 aos 25 min, estão dispostos respectivamente nas figuras 25, 26 e 27. O decaimento percentual do radical de DPPH ao longo dos sessenta minutos de análise, após a introdução do antioxidante boldina comparativamente com o derivado mono-maloil-boldina está disposto na figura 28. 0,6 Desvio Padrão Médio: 0,0085 0,5 ABS 0,4 0,3 0,2 0,1 0 0 10 20 30 40 50 60 70 Tempo (Minutos) 1 2 3 Média Maloil Boldina Figura 24: Absorbância de DPPH com 2,5% de solução de Mono-maloil-Boldina em solução de DPPH 60mM em triplicata. 56 Tabela 6: Resultado da análise em triplicata da absorbância da solução metanólica de Mono-MaloilBoldina. tempo 0 1 2 3 Média Desvio Padrão 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46 47 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 0,557 0,557 0,558 0,558 0,558 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,556 0,556 0,557 0,557 0,557 0,556 0,557 0,557 0,557 0,557 0,556 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,557 0,468 0,379 0,268 0,257 0,244 0,221 0,216 0,21 0,203 0,189 0,186 0,182 0,177 0,173 0,169 0,167 0,163 0,16 0,158 0,154 0,153 0,15 0,147 0,146 0,144 0,144 0,144 0,144 0,144 0,144 0,142 0,14 0,138 0,136 0,134 0,132 0,13 0,128 0,126 0,124 0,122 0,12 0,118 0,116 0,114 0,112 0,11 0,108 0,106 0,104 0,102 0,1 0,097 0,095 0,094 0,092 0,09 0,088 0,09 0,089 0,557 0,478 0,389 0,283 0,266 0,25 0,224 0,218 0,21 0,202 0,188 0,184 0,179 0,175 0,17 0,166 0,163 0,159 0,155 0,153 0,149 0,153 0,15 0,147 0,146 0,144 0,142 0,14 0,138 0,136 0,134 0,132 0,13 0,128 0,126 0,124 0,122 0,12 0,118 0,116 0,114 0,112 0,11 0,108 0,106 0,104 0,102 0,1 0,098 0,096 0,094 0,092 0,09 0,088 0,086 0,086 0,086 0,086 0,086 0,086 0,086 0,557 0,46 0,371 0,329 0,302 0,281 0,252 0,241 0,232 0,224 0,209 0,203 0,198 0,193 0,188 0,183 0,18 0,176 0,172 0,17 0,166 0,148 0,145 0,141 0,14 0,138 0,135 0,134 0,132 0,13 0,128 0,126 0,124 0,122 0,12 0,118 0,116 0,114 0,112 0,11 0,108 0,106 0,104 0,102 0,1 0,098 0,096 0,094 0,092 0,09 0,088 0,086 0,084 0,082 0,082 0,082 0,082 0,082 0,082 0,082 0,082 0,557 0,469 0,380 0,293 0,275 0,258 0,232 0,225 0,217 0,210 0,195 0,191 0,186 0,182 0,177 0,173 0,170 0,166 0,162 0,160 0,156 0,151 0,148 0,145 0,144 0,142 0,140 0,139 0,138 0,137 0,135 0,133 0,131 0,129 0,127 0,125 0,123 0,121 0,119 0,117 0,115 0,113 0,111 0,109 0,107 0,105 0,103 0,101 0,099 0,097 0,095 0,093 0,091 0,089 0,088 0,087 0,087 0,086 0,085 0,086 0,086 0,0000 0,0090 0,0090 0,0318 0,0238 0,0199 0,0171 0,0139 0,0127 0,0124 0,0118 0,0104 0,0102 0,0099 0,0096 0,0091 0,0089 0,0089 0,0087 0,0087 0,0087 0,0029 0,0029 0,0035 0,0035 0,0035 0,0047 0,0050 0,0060 0,0070 0,0081 0,0081 0,0081 0,0081 0,0081 0,0081 0,0081 0,0081 0,0081 0,0081 0,0081 0,0081 0,0081 0,0081 0,0081 0,0081 0,0081 0,0081 0,0081 0,0081 0,0081 0,0081 0,0081 0,0075 0,0067 0,0061 0,0050 0,0040 0,0031 0,0040 0,0035 57 4,50 y = -0,0225x + 3,3303 R2 = 0,8708 Ln (Concentração mM) 4,00 3,50 3,00 2,50 2,00 0 10 20 30 40 50 Tempo (minutos) 60 70 Maloil-Boldina Linear (Maloil-Boldina) Figura 25: Traço cinético da concentração de DPPH com 2,5% de solução de Mono-maloil-boldina em triplicata. 4,30 y = -0,1189x + 3,9073 R2 = 0,9109 Ln (Concentração mM) 4,10 3,90 3,70 K1 = 0,1189 Min-1 3,50 3,30 3,10 2,90 2,70 0 1 2 3 4 Tempo (Minutos) 5 6 7 8 9 Maloil-Boldina Linear (Maloil-Boldina) Figura 26: Traço cinético da concentração de DPPH com 2,5% de solução de Mono-maloil-boldina 8 minutos iniciais. 58 3,20 y = -0,0173x + 3,1197 R2 = 0,9923 Ln (Concentração mM) 3,00 2,80 K2 = 0,0173 Min-1 2,60 2,40 2,20 2,00 0 10 20 30 40 Tempo (Minuto) 50 60 70 Maloil-Boldina Linear (Maloil-Boldina) Figura 27: Traço cinético da concentração de DPPH com 2,5% de solução de Mono-maloil- boldina de 9 a 60 min. 120% P=3,3373.10-5 % DPPH Remanescente 100% 80% 60% 40% 20% 0% 0 10 20 30 40 50 60 70 Tempo (minutos) Boldina Maloil-Boldina Figura 28: Decaimento comparativo do % DPPH remanescente frente a solução de Boldina e Monomaloi-Boldina a 20 mM após 60 min. 59 4.3. Relação estrutura-atividade antioxidante A partir dos dados estruturais de diferentes grupos aporfinicos, foi realizada através da sobreposição estrutural a definição de um grupamento mínimo para atividade antioxidante (grupo farmacofórico) conforme descrito na figura 29 ao protótipo. N H Grupo Aporfinico OH O O CH3 O HO O O H3C HO HO N CH3 1 HO H3C NH HO H3C N N O 3 5 O H3C N O CH3 O N HO CH3 HO HO H3C HO 2 4 H3C H3C 6 O CH3 O O O H3C O N 7 CH3 Figura 29: Compostos aporfínicos fenólicos e não fenólicos utilizados nos estudos da relação estrutura–atividade antioxidante: boldina [1], clocaurina [2], glaucina [3], norarmepavina [4], aporfina [5], reticulina [6] e grupo farmacofórico [7]. 60 5. DISCUSSÃO 5.1. Síntese e caracterização dos derivados da Boldina O planejamento para construção dos derivados da boldina, parte das alterações de suas propriedades físico-químicas, com ênfase em seu coeficiente de partição, utilizando como ferramenta a substituição do grupo hidroxila ligado aos anéis aromáticos, por derivados estruturais mais hidrofílicos (carboxilas) presentes no anidrido maleico e outros mais lipofílicos (cadeias longas saturadas) proveniente do cloreto de palmitoíla, conforme observado na figura 30. HO O O O O O O DMF HO O O N O O H id ro fílic o O HO OH O O O O O HO ∆ 53 + 2 °C N O HO O O O O 24 horas O N O O CH3 CH3 O O DMF O O O L ip o fílic o O N Cl O Figura 30: Planejamento da síntese de derivados hidro e lipofílicos da Boldina. CH3 61 5.1.1. Síntese e caracterização da Maloil-boldina As etapas para produção do análogo mono maloil-boldina (Figura 15), envolve um ataque nucleofílico das hidroxilas fenólicas presentes na boldina pela carboxila do anidrido maleico, promovendo a cisão da carbonila, com seu posterior restabelecimento e ruptura da ligação anidra e formação da carboxila, conforme está descrita na figura 31. Figura 31: Mecanismo de reação de produção da maloil-boldina a partir do anidrido maleico [2] e boldina [1]. Como demonstrado acima as hidroxilas livres em anéis diferentes permitem a substituição em ambas as unidades, tendo como produto mais comum neste tipo de reação a bissubstituição das hidroxilas, tendo em vista a alta reatividade dos álcoois frente aos anidridos devido a diferença de acidez entre o hidrogênio da carboxila e o da hidroxila alcoólica. Essa alta reatividade é justificada por dois mecanismos principais: a- Baseados no efeito de ressonância: onde é promovida uma maior estabilização por ressonância do íon carboxilato, devido o íon poder ser representado por duas estruturas de ressonância de estabilidades iguais, diminuindo assim a energia 62 livre do íon tornando-o mais ácido. Efeito esse que não é observado nos álcoois alifáticos o que justifica a baixa acidez destes compostos. b- Baseados no efeito indutivo: dado ao diferencial de eletronegatividade entre o oxigênio e hidrogênio das hidroxilas, em ambos os compostos observaríamos um comportamento similar quanto sua acidez. A chave para explicação da maior acidez dos ácidos carboxílicos está no efeito induzido de atração dos elétrons da hidroxila exercido pela presença da carbonila, permitindo a formação de uma carga positiva mais forte no carbono da carbonila, justificando assim o mecanismo descrito na figura 31. Porém a mono substituição da hidroxila alcoólica pode ser justificada pela presença do efeito de ressonância entre os elétrons do oxigênio e o anel aromático, conforme a teoria dos efeitos de ressonância, fazendo com que, a hidroxila se torne mais ácida, e o ataque à carboxila não ocorra, tendo em vista que o solvente e reagentes utilizados para essa síntese não permitem solvólise. As diferenças nos Rf do padrão (boldina) e dos produtos da reação demonstram uma maior afinidade desses produtos pela sílica-gel, caracterizando o caráter polar desses compostos, uma vez que a eluição foi realizada com solventes de baixa polaridade, conforme observado na tabela 1. Os resultados da espectroscopia corroboram com os encontrados para elucidação estrutural de outros análogos da boldina (THOMET et al., 2011), com a presença de dois singletos correspondente a dois grupos metóxi em torno de 3,12 à 3,88 ppm, observa-se na figura 16 a atribuição dos grupos metoxilas o achado em 3,78 ppm, corresponde aos três hidrogênios do carbono 26 e um pico de igual intensidade, com deslocamento menor porém não identificado dado à interferência do solvente, caracteriza um descolamento mais baixo por estar mais blindado pelo efeito anisotrópico gerado pelo anel nitrogenado, o que nos permite atribuí-lo ao carbono 20 (SULZBACH; SCHLEYER; SCHAEFER, 1994). Três singletos, representando três prótons aromáticos podem ser atribuídos da seguinte forma: 7,86 ppm para o hidrogênio do anel aromático localizado no carbono 17, 6,78 ppm para o hidrogênio do carbono 14 e 6,63 ppm para o hidrogênio do carbono 13, o que está de acordo com outros achados de hidrogênios aromáticos em anéis substituídos por grupos hidroxilas em posição orto (MADRID VILLEGAS et al., 2011). 63 O N-metil que está em ressonância com o anel aromático mais próximo (anel C), tem seus hidrogênios representados pelo singleto em 2,59 ppm, dados espectrais mostram que podemos localizar os hidrogênios do grupo entre 2,35 e 2,65 ppm, devido a variáveis como o solvente empregado (ALIAS et al., 2010). O multipletos da região de 2,8 a 3,4 ppm estão encobertos pelo sinal do solvente, porém segundo as referencias demonstrariam um par de dupletos apareceu em 3,4 ppm, que atribuiria-se ao hidrogênio do carbono 2, observaríamos também, três dupletos de dupletos em aproximadamente 2,7 e 2,8 ppm, que seriam atribuídos respectivamente aos hidrogênios dos carbonos 3, 6 e 7. Além disso, outro hidrogênio, o do carbono 8 ressoado em torno de 2,5 como um dupleto de tripletos teve seu sinal acoplado em 2,59 ao do N-metila (NAFIAH et al., 2011). Os demais sinais apontam para a substituição feita no grupo aporfinico, a presença do singleto em 6,081 ppm, está atribuído aos dois hidrogênios dos carbonos 26 e 27 do grupo maloil, tendo em vista que tais hidrogênios são vistos frequentemente entre 6,0 e 6,2 ppm, a proporção representada é indicativo de uma mono substituição da hidroxila fenólica presente na boldina (GADAPE; PARIKH, 2011), confirmando com a quebra do sinal em 9,5 ppm correspondente a carboxila, nos fazendo supor a presença de dois isômeros de posição conforme descrito na figura 16. A segunda rota de síntese do derivado maloil-boldina (Figura 17), conta com um sistema livre de solvente em que os reagentes foram solubilizados entre si após serem fundidos. O mecanismo reacional conta com as mesmas etapas descritas na figura 31, porém neste sistema a reação tende a ser mais lenta, contando com a manutenção de um equilíbrio entre os reagentes e o produto formado, sendo assim justificado o excesso de anidrido maleico na síntese para deslocar o equilíbrio a uma maior formação de produtos. Dado ao aquecimento para fusão dos compostos, a reatividade das hidroxilas poderá ser alterada, visto que o aumento da temperatura favorece o mecanismo de reação por aumentar a energia cinética no sistema e desta forma facilitar a formação do complexo ativado, o que levaria a bissubstituição dos anéis. Os dados de CCD mostram a formação de um produto mais hidrofílico (Rf = 0,15), o que se justificaria pela introdução da outra carboxila à estrutura. 64 O produto maloil boldina obtido pela segunda rota de reação encontrasse em fase elucidação estrutural e seus dados ainda não estão disponíveis. 5.1.2. Síntese e caracterização da Palmitoil-boldina A síntese da palmitoil-boldina teve seu mecanismo baseado em uma substituição nucleofílica unimolecular (SN1), em que inicialmente ocorre a ionização do cloreto de palmitoíla, formando o carbocátion que posteriormente recebe os elétrons da hidroxila fenólica, conforme descrito na figura 32. Figura 32: Mecanismo de reação de produção da palmitoil-boldina a partir do cloreto de palmitoíla [2] e boldina [1]. Conforme observado na tabela 1 o produto gerado por essa substituição apresenta uma alta lipofilicidade, tendo maior afinidade pelo solvente da eluição, todavia o processo de separação e purificação dos produtos formados nesta reação não obteve pureza suficiente para promovermos a caracterização estrutural. Tal impureza apresenta como prováveis causas a interação de partes dos reagentes aos produtos ou solvente da cromatografia por ligações de hidrogênio, baixa efetividade da fase móvel ou relação ineficiente entre os solventes do eluente. 65 5.2. Capacidade antioxidante O comportamento cinético da boldina em suprimir o radical livre do DPPH foi estimado quantitativamente a partir da curva de calibração obtida por diferentes concentrações de DPPH, neste trabalho pode ser encontrado na figura 19, que foi realizado empregando valores de absorbância que se mantiveram abaixo de 1,0 e superior à 0,1 com uma linearidade de 0,997, mostrando um fator baixo de erro (BLOIS, 1958). O radical livre DPPH é um cromóforo extremamente estável que apresenta um pico de absorção no comprimento de onda de 515 nm em meio metanólico e sua solução possui uma coloração violeta intensa, essa coloração da solução de DPPH em contato com as amostras em testes passa desta coloração para amarela. A intensidade da cor varia de acordo com a concentração de DPPH radicalar no meio, conforme reação geral da figura 33 (ARNAO, 2000; BLOIS, 1958). Figura 33: Reação geral entre o radical DPPH e substratos orgânicos (R). O comprimento de onda máximo utilizado para as medições de absorbância já descritos são de 515 nm (GOMEZ-ALONSO et al., 2003; LEBEAU et al., 2000), 516 nm (SCHWARZ et al., 2001), 517 nm (LU; FOO, 2000; ZHU et al., 2002), 518 nm (LEITÃO; LEITÃO; VILEGAS, 2002) e 520 nm (KIM et al., 2002), portanto para excussão deste trabalho optamos por uma comprimento de 515 nm e como solvente para solução estoque do DPPH metanol. Posteriormente foram realizados os ensaios com o padrão antioxidante, neste trabalho utilizamos a boldina, para verificarmos a cinética de inibição antioxidante, 66 velocidade da reação e a concentração capaz de reduzir em 50% a concentração inicial de DPPH (EC50) (SANCHEZ-MORENO; LARRAURI; SAURA-CALIXTO, 1998). A cinética da boldina obtida no estudo é observada na figura 20, o “plateau” de absorbância foi identificado em torno dos 25 min, com um desvio padrão médio de 0,0018, demonstrando robustez aos valores determinados. Os dados predizem um comportamento cinético antioxidante intermediário para a boldina, o que corrobora com os resultados encontrados na literatura (PÉREZ-JIMÉNEZ et al., 2008). Podem ocorrer três tipos de comportamento cinético entre compostos com atividade antioxidante: substâncias que reagem rapidamente com o DPPH, chegando ao final da reação em menos de um minuto (cinética rápida); substâncias que finalizam a reação em até 30 min (cinética intermediária) e substâncias de cinética lenta que demoram mais de uma hora para completar a reação (cinética lenta) (BRAND-WILLIAMS; CUVELIER; BERSET, 1995). O tempo de reação de 30 min é sugerido na maior parte dos ensaios (KIM et al., 2002). No entanto, como a reação pode apresentar tempos menores em torno de 5 a 10 min (LEBEAU et al., 2000; SCHWARZ et al., 2001), fazendo com que a taxa de reação varie muito entre os substratos (BONDET; BRAND-WILLIAMS; BERSET, 1997), optamos em seguir a reação até sua conclusão, identificando esse momento através da formação de um “plateau" na sua absorbância (LU; FOO 2000; YEPEZ et al., 2002). Estudos cinéticos das reações entre grupos aporfinas e oxigênio singlete sugerem que um complexo de transferência de carga formada inicialmente entre o anel aromático e radical livre e posteriormente, esse complexo, pode transferir o elétron, retornando o oxigênio singlete e os alcalóides aporfinicos ao estado fundamental ou prosseguir para produtos não descritos (ZANOCCO; LEMP; GÜNTER, 1997). Quando utilizado o radical DPPH, existem duas principais formas de alcançar a estabilização dos radicais livres entre a boldina e o DPPH. A primeira é através da formação de uma ligação covalente entre um hidrogênio frágil com o segundo átomo de nitrogênio do DPPH e a segunda é responsável pela formação do complexo descrito anteriormente. No primeiro caso, é necessário que a molécula da boldina desloque o radical livre gerado na reação. 67 A boldina por possuir dois grupos fenólicos com átomos de hidrogênio lábil com a capacidade de gerar cargas negativas resultantes da captação de cada hidrogênio, pode estabilizar essas cargas através dos anéis aromáticos adjacentes, sendo este mecanismo o que sustenta a atividade anti-radicalar da boldina frente ao DPPH. Pois a interação direta do DPPH com os grupos fenólicos mostra uma alta taxa de reação e consequentemente refletindo a alta atividade antioxidante. Estudos anteriores têm mostrado que os grupos fenólicos nos anéis aromáticos influenciam fortemente a atividade anti-radicalar de substâncias polifenólicas (GÓMEZ-ALONSO, et al., 2003). Para determinação da velocidade da reação entre a boldina e o DPPH foram avaliadas as curvas cinéticas da concentração em relação ao tempo indicando um comportamento de primeira ordem, e através do coeficiente angular obtido da equação calculada a partir reta média determinou-se por tanto o valor de “a” com a constante da velocidade “k”. A figura 21 foi gerada utilizando os valores da média das absorbâncias em cada ponto de medição da reação entre boldina e DPPH, e calculado o valor da concentração através da equação da reta gerada na figura 19, conforme abaixo: Ln ([mM de DPPH radicalar]) = (Absorbância – 0,0027) / 0,0098 (Equação 3) Os resultados demonstram uma baixa linearidade como resultado da reta (R² = 0,3219), isso se justifica dada a existência de duas velocidades de reações, uma nos primeiros 8 min, onde mais de 67% da reação ocorre. Para atingir o final da reação, foi necessário medir de forma contínua até 25 min. A constante da velocidade de reação “k1” na primeira etapa está relacionada com a facilidade da boldina em interagir com DPPH, enquanto que a amplitude da curva está relacionada com a eficiência da interação, conforme elucidado nos gráficos 4 e 5. A constante k1 foi obtida através da seleção dos dados relativos ao curto tempo, 8 primeiros minutos da reação, resultando em uma linearidade mais expressiva de 0,8485, com um valor de k1 igual à 0,1233 Min-1 (Figura 22) enquanto que a constante k2 obtido pelos dados da concentração de DPPH dos 9 min iniciais de leitura até a estabilização aos 25 min (Figura 23) relacionados ao longo tempo forneceram uma linearidade semelhante para o traço da reta média 0,8535 com um valor de k2 igual à 0,0055 Min-1. 68 Estes resultados evidenciam que a constante cinética calculada no curto período de tempo está relacionada com a eficiência da reação, já a constante no tempo longo (k2) está relacionada com a constante de difusão das moléculas no solvente, sendo que este resultado está de acordo com o observado em estudos anteriores (RACKOVÁ, 2004). Quando aplicado a mesma análise á mono-maloil-boldina observou-se que esta apresentou cinética diferente da encontrada para a boldina, a determinação da velocidade da reação entre a mono-maloil-boldina e o DPPH foi avaliado indicando um comportamento de primeira ordem, e a exemplo da boldina, através do coeficiente angular obtido da equação calculada da reta média definiu-se o valor de “a” como a constante da velocidade “k” conforme observado na figura 24. Os resultados demonstram um resultado de linearidade mais robusto que o encontrado para a boldina com valor da regressão linear (R²) de 0,8708, isso se justifica dado uma cinética mais constante e coerente com um comportamento cinético de primeira ordem (Figura 25). Entre tanto é notável da mesma forma que a boldina, a existência de duas velocidades de reações, dessa maneira traçou-se uma reta média para os primeiros 8 min, onde mais de 61% da reação ocorre. Para atingir o final da reação, foi necessário medir de forma contínua até 60 min. Atribuindo-se a constante da velocidade de reação “k1” na primeira etapa, a facilidade da interação da molécula com o DPPH , enquanto que a amplitude da curva está relacionada com a eficiência da interação, conforme visto nas figuras 26 e 27. A constante k1 foi obtida através da seleção dos dados relativos ao curto tempo, 8 primeiros minutos da reação, resultando em uma linearidade mais expressiva de 0,9109, com um valor de k1 igual à 0,1189 Min-1 (Figura 26) enquanto que a constante k2 obtida pelos dados da concentração de DPPH dos 9 min iniciais de leitura até a estabilização aos 60 min relacionados ao longo tempo forneceram uma linearidade semelhante para o traço da reta média 0,9923 com um valor de k2 igual à 0,0173 Min-1. Portanto considerando que as constantes cinéticas calculada no curto período de tempo estão relacionadas com a eficiência da reação, a reação entre o padrão (boldina) e o análogo (mono-maloil-boldina) não apresentaram diferenças significativas entre elas, fazendo-nos compreender que o análogo não sofreu alterações permanentes nos grupos químicos responsáveis pela atividade ou 69 favorecimento da atividade anti-oxidante, o que se assemelha ao comportamento de diferentes estruturas do mesmo grupo aporfinico quando ensaiado sua relação estrutura-atividade. Já a constante no tempo longo (k2) mostrou um aumento na velocidade da reação em mais de 300% sendo de 0,0055 Min-1 para 0,0173 Min-1, entre a boldina e o análogo mono-maloil-boldina respectivamente, tomando a relação entre a velocidade de longo prazo com a constante de difusão das moléculas no solvente, tais resultados levam a crer que a alteração estrutural promovida no análogo da boldina gerou uma maior interação entre a molécula e o solvente reacional. Para compararmos o comportamento cinético na diminuição do DPPH remanescente para cada um dos compostos plotamos no gráfico 10 os resultados obtidos experimentalmente após definição da concentração de DPPH em cada ponto de leitura, utilizando para isso a seguinte equação baseada na reta de calibração (Figura 19) e sua regressão linear: A515nm = 0,0098.[DPPH*]T+0,0027 Onde A515nm, corresponde ao valor da absorbância medida a 515 nm em um tempo zero e [DPPH*]T, corresponde ao valor da concentração em mM de DPPH radicalar no ponto de leitura. A partir dos dados obtidos das absorbâncias coletadas durante o experimento, foi determinado o percentual de DPPH radicalar remanescente (%DPPH*REM) utilizando a razão entre a concentração em mM de DPPH radicalar no ponto de leitura ([DPPH*]T) pela concentração em mM de DPPH radicalar no momento inicial ([DPPH*]T0) através da equação abaixo: %DPPH*REM = [DPPH*]T / [DPPH*]T0 A atividade antioxidante do análogo (mono-maloil-boldina) demonstrou-se superior ao protótipo (boldina), uma vez que a estabilização da leitura se deu com um percentual final de DPPH remanescente de 15% enquanto a boldina estabilizou sua leitura em 29%, esses dados foram submetidos à análise estatística teste-T Student e demonstraram significância (P< 0,05). Tal diferença pode-se justificar pelo mecanismo de interação entre a molécula do análogo e o radical DPPH. O mecanismo de reação do DPPH é baseado em transferência de elétrons, enquanto a abstração de átomo de hidrogênio é uma 70 reação periférica, pois a mesma acontece lentamente em solventes que estabelecem fortes ligações de hidrogênio, sendo assim assume-se o feito do solvente sobre a mecanística da reação com a maloil-boldina, pois o hidrogênio da carboxila fica livre para promover tais ligações com o solvente, mesmo a hidroxila fenólica da boldina estando esterificada e, portanto não sendo inicialmente envolvida na reação. Outro fator já discutido é a participação do hidrogênio ligado ao carbono alfa ao grupo amina com potencial redutor, na molécula do análogo tal hidrogênio encontra-se livre para reação com o radical DPPH, reação essa que se iniciaria com a homólise da ligação covalente com o carbono, gerando um radical no anel D da estrutura, sendo posteriormente estabilizado pelo efeito de ressonância do anel aromático C (Figura 9) e o par de elétrons emparelhados do nitrogênio terciário (CASSELS; ASENCIO; CONGET, 1995). A presença de uma insaturação no grupo maloil adicionado a molécula, pode também ter contribuído para o aumento da sua atividade antioxidante, isso se daria pela homólise da ligação pi gerando um radical, cuja estabilização seria promovida pelo par de elétrons das carboxilas adjacentes à insaturação, formando assim uma nova estrutura de ressonância, muito similar ao observado em moléculas polinsaturadas como os carotenóides e ácidos graxos polinsaturados (HIRAYAMA et al., 1994). Esse mecanismo ocorre através da transferência de elétrons, podendo ser um processo químico ou físico, sendo esse processo físico, a energia recebida pela insaturação é dispersada através de interações vibracionais e rotacionais com o solvente, recuperando assim o estado fundamental da insaturação, não gerando degradação do produto (Figura 22) (STAHL; SIES, 1993), o que tornaria essa interação menos provável, tendo em vista que o plateau de absorbância foi encontrado antes do DPPH remanescente chegar a zero. Tendo em vista que a ligação éster utilizada para formação do análogo é hidrolisada na presença da água, dependendo do pH ou por reação enzimática, a reconstituição da hidroxila fenólica seguiria uma cinética independente, o que promoveria mais uma região na molécula para geração de um hidrogênio labil (Figura 35), e consequente aumento de seu efeito antioxidante (Figura 34). 71 H H H O O H O O O O O O O O O O H H N O O O O O O H O H O H N H H + O N H O O O H H O N H H Figura 34: Modificação molecular e regiões de estabilização do radical. A abstração do radical maloil do análogo estudado pode ser definida pelo esquema a seguir: Figura 35: Mecanismo para estabilização do radical maloil do protótipo. 5.3. Relação estrutura-atividade antioxidante Boldina é um alcalóide difenólico em que cada função fenol está um tanto protegido por um grupo orto-metoxi, uma característica estrutural que é normalmente associada com propriedades antioxidantes. Porém em estudos de peroxidação lipídica microssomal induzido quimicamente (Fe+2-cisteína), verificou-se que a coclaurine e outras apomorfina catecólicas são antioxidantes muito mais potentes do 72 que a boldina, no mesmo ensaio, a glaucina, também contendo duas porções de orto-metoxifenol, e a norarmepavine, incorporando um grupo igual, demonstraram inibição da peroxidação em concentrações um pouco mais baixas do que a boldina. No entanto, a reticulina, um alcalóide benzilisoquinolina que, como boldina contém dois grupos orto-metoxifenol, exibiu pouca atividade protetora. Por outro lado, o alcalóide não fenólico glaucina foi apenas ligeiramente menos potente do que a boldina como antioxidante. Sugerindo assim, que o efeito antioxidante da glaucina pode estar relacionado com as propriedades químicas do grupo aporfina, que podem ser prontamente oxidados para dehidroaporfina ou oxiaporfinico (Figura 36). Figura 36: Compostos aporfínicos dehidroaporfina [1] e oxiaporfina [2]. Outro destaque está na relação entre N-metilação de glaucina que quando na forma de quaternário de amônio reduziu o seu efeito antioxidante em dois terços. Este resultado sugere que um átomo de hidrogênio vizinho de um par de elétrons desemparelhado de um nitrogênio benzílico pode ser a chave para o efeito protetor das aporfinas não fenólicas. (MARTÍNEZ et al., 1992). Desta forma as alterações propostas nas reações de síntese da maloilboldina mostram não alterar de modo irreversível quaisquer dos grupos responsáveis pela atividade antioxidante da estrutura da boldina, por exclusão dos grupos referenciados nos estudos da relação estrutura-atividade dos alcalóides aporfinicos, chegamos a um grupo farmacofórico (Figura 29) que foi preservado durante a síntese. 73 6. CONCLUSÃO De acordo com o exposto anteriormente é possível concluir que: a) Foi possível promover a síntese através da reação entre o anidrido maleíco e a boldina em DMF produzindo um derivado hidrofílico, mono substituído através de uma reação de esterificação com uma das hidroxilas fenólicas, com a presença de isômeros de posição; b) Houve um efetivo aumento de atividade antioxidante frente ao método de absorção de radicais de DPPH, entre o análogo e o protótipo, bem como foi possível traçar o comportamento cinético desta reação; c) Foi possível através dos estudos da literatura definir o grupo farmacofórico responsável pela atividade antioxidante dos compostos aporfínicos, a fim de orientar as substituições para planejamento de seus análogos, bem como definir a relação estrutura-atividade antioxidante para esse grupo. PERSPECTIVAS Pretende-se otimizar o processo de purificação da palmitoil-boldina, com o objetivo de solucionar os problemas apontados na discussão, e posteriormente realizar a caracterização estrutural deste composto. Após da caracterização estrutural destes compostos realizar os ensaios de atividade antioxidante, através da redução do radical DPPH para determinar a cinética do derivado lipofílico. As perspectivas para trabalhos posteriores envolvem a avaliação biológica in vitro e in vivo da atividade destes compostos, bem como elucidar sua farmacocinética, farmacodinâmica e posologia para futuras aplicações clínicas. 74 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AFANAS'EV, I.B.; DOROZHKO, A.I.; BRODSKII, A.V. et al. Chelating and free radical scavenging mechanisms of inhibitory action of rutin and quercetin in lipid peroxidation. Biochem. Pharmacol. 38(11): 1763-1769, 1989. ACKER, H. 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