UMA LÓGICA CONTINGENCIAL PARA PROJETOS DE SISTEMAS DE CUSTOS NA ATIVIDADE AGRÍCOLA A CONTINGENCY LOGIC SYSTEMS FOR PROJECTS COST IN AGRICULTURAL ACTIVITY UN CONTINGENTE LÓGICA DE SISTEMAS COSTOS DEL PROYECTO EN LA ACTIVIDAD AGRÍCOLA ___________________________________________________________________________ Edson Roberto Macohon Mestre em Administração pela Fundação Universidade Regional de Blumenau; Professor Assistente da Universidade Estadual do Centro-Oeste [email protected] Jorge Eduardo Scarpin Doutor em Controladoria e Contabilidade pela Universidade de São Paulo; Professor do Programa de Pós-graduação em Ciências Contábeis da Universidade Federal do Paraná [email protected] Contextus ISSNe 2178-9258 Organização: Comitê Científico Interinstitucional Editor Científico: Marcelle Colares Oliveira Avaliação : Double Blind Review pelo SEER/OJS Revisão: Gramatical, normativa e de formatação Recebido em 14/10/2014 Aceito em 11/12/2014 2ª versão aceita em 06/01/2015 3ª versão aceita em 19/01/2015 4ª versão aceita em 29/01/2015 Marcus Vinicius Moreira Zittei Mestre em Ciências Contábeis pelo Centro Universitário Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (FECAP); Professor Auxiliar Mestre do Centro Universitário FECAP [email protected] RESUMO O objetivo foi identificar os fatores contingenciais para projetos de sistemas de custos na atividade agrícola. A natureza da pesquisa é qualitativa. A análise dos dados coletados ocorreu por meio de análise de conteúdo. Foram realizadas entrevistas estruturadas pessoais gravadas, aplicadas a 11 profissionais selecionados intencionalmente. As variáveis contingenciais de estrutura determinantes para o desenvolvimento de sistemas de custos são os conflitos de classes, os estilos de liderança, a logística, os mecanismos reguladores e de capacitação e as incertezas do mercado. O tipo de cadeia que prepondera na atividade agrícola é a democrática. O grau de incerteza do setor é determinado principalmente pelas políticas governamentais, ambiente econômico, fornecedores e intempéries climáticas. Concluiu-se que cada segmento agrícola possui particularidades na produção, armazenagem e comercialização. Dessa forma, o papel dos profissionais da contabilidade é desenvolver sistemas de custos sob uma combinação de fatores externos e características internas para cada segmento do agronegócio. Palavras-chave: Atividade agrícola. Sistemas de custos. Teoria da Contingência. 156 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee UMA LÓGICA CONTINGENCIAL PARA PROJETOS DE SISTEMAS DE CUSTOS NA ATIVIDADE AGRÍCOLA ___________________________________________________________________________ ABSTRACT The aim was to identify the contingency factors for cost systems projects in agriculture. The nature of research is qualitative. The analysis of the data collected was through content analysis. Recorded personal structured interviews were conducted, applied to 11 intentionally selected professionals. The contingent variables determinants framework for the development costs are conflicts of classes systems, leadership styles, logistics, regulatory and training mechanisms and market uncertainties. The type of chain that prevails in agriculture is democratic. The degree of industry uncertainty is mainly determined by government policies, economic environment, suppliers and climatic conditions. Concluded that each agricultural sector has particularities in the production, storage and marketing. Thus, the role of the accounting profession is to develop cost systems under a combination of external factors and internal characteristics for each of the agribusiness segment. Keywords: Agricultural activity. Cost systems. Contingency Theory. RESUMEN El objetivo fue identificar los factores de contingencia para los proyectos de sistemas de costes en la agricultura. La naturaleza de la investigación es cualitativo. El análisis de los datos recogidos fue a través de análisis de contenido. Se llevaron a cabo entrevistas estructuradas de carácter personal registrados, aplicado a 11 profesionales seleccionados intencionalmente. El marco de las variables contingentes determinantes de los costos de desarrollo son los conflictos de los sistemas de clases, estilos de liderazgo, la logística, los mecanismos de regulación y de formación y las incertidumbres del mercado. El tipo de cadena que prevalece en la agricultura es democrático. El grado de incertidumbre industria está determinada principalmente por las políticas gubernamentales, entorno económico, los proveedores y las condiciones climáticas. Secar concluido cada sector agrícola tiene particularidades en la producción, almacenamiento y comercialización. Así, el papel de la profesión contable es el desarrollo de sistemas de costos bajo una combinación de factores externos y las características internas de cada uno de los segmentos de agronegocios. Palabras clave: actividad agrícola. Sistemas de costos. Teoría de la Contingencia. aumento do comércio internacional, dos 1 INTRODUÇÃO A sustentabilidade da economia, no mercado globalizado, depende da rentabilidade do capital das empresas, que induz à existência de formas mais eficazes de produção. Como transforma radicalmente produtivas da transformações Varela (2004, acompanhadas consequência, as forças agricultura. Essas tecnológicas, p. pelo 14): conforme “foram processo da globalização da economia, levando a um financiamentos internacionais investimentos diretos multinacionais”. agronegócio A das e empresas participação brasileiro, no dos do mercado internacional, depende fundamentalmente da escala de produção. Contudo, a impossibilidade de controle do agronegócio, extremamente processo que produtivo tem dependente do estrutura dos fatores naturais (clima, relevo, solo, temperatura, topografia etc.) e do ciclo biológico das 157 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee Edson Roberto Macohon, Jorge Eduardo Scarpin, Marcus Vinicius Moreira Zittei ___________________________________________________________________________ plantas e dos animais, sempre representou perspectiva abstrata, a visão do ambiente, um limite para a ampliação da escala de incluindo a natural, há vários fatores e produção do setor. atores externos, todos com importância Guerreiro, Pereira e Rezende (2008, p. 81) se reportam à Teoria da Contingência para explicar relativizada pelo foco da incerteza interna (DUTRA; NASCIMENTO, 2005). o Diante do exposto, o presente comportamento organizacional interno e artigo tem a seguinte pergunta de pesquisa: externo das organizações, bem como suas Quais são os fatores contingenciais para interdependências a fatores ambientais: projetos de sistemas de custos na atividade agrícola? [...] a taxa de mudança, o grau de complexidade do ambiente externo à organização, as variáveis indutoras ao processo de mudança, as forças e fraquezas internas da organização valores, objetivos, habilidades e atitudes dos administradores e trabalhadores da organização, e tipos de tarefas, recursos e tecnologias que a organização utiliza. Para responder essa argumentação, o objetivo do estudo foi identificar os fatores contingenciais para projetos de sistemas de custos na atividade agrícola. A destacada atividade importância agrícola em países tem de grandes extensões territoriais e condições O contexto do planejamento na área rural, em resposta às contingências ambientais, é concebido por Santos (2009, p. 15): climáticas, como o Brasil. O agronegócio brasileiro é responsável por cerca de um terço de tudo que é produzido no país, é o setor O planejamento é importante no sentido de alertar os empresários rurais quanto às mudanças na economia, no hábito dos consumidores, na tecnologia, no comportamento climático, nos custos, na oferta dos produtos (supersafras), na demanda e outras alterações e traz inúmeros benefícios. mais economia Para Canziani (2001, p. 12), as pesquisas, no âmbito do agronegócio, se justificam devido a isto: A nova realidade do ambiente macroeconômico [...] exigirá dos produtores e dos profissionais ligados à assistência técnica e extensão rural, à busca de novos conhecimentos, à geração de novas habilidades e à adoção de novas posturas e posicionamentos sobre os negócios do setor agropecuário. contingencial para o ambiente da atividade agrícola, a visão mais aprofundada do ambiente natural pode ser considerada como a divisão entre o papel do fornecedor específicos de cada cultura. Em uma da brasileira (LOURENÇO; LIMA, 2009). Portanto, na concepção da lógica de recursos e os fatores contingenciais importante O brasileiro, avanço nos do últimos setor agrícola anos, tem 158 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee UMA LÓGICA CONTINGENCIAL PARA PROJETOS DE SISTEMAS DE CUSTOS NA ATIVIDADE AGRÍCOLA ___________________________________________________________________________ incentivado a utilização e aperfeiçoamento Interorganizacionais na Cadeia de Valor de técnicas de gestão, fato que deve ser em Hospitais Privados no Brasil, nessa avaliado sob o ponto de vista da pressão pesquisa, exercida pelos custos de produção, o que condicionantes tem levado várias empresas rurais a interorganizacionais. A pesquisa de Rao priorizarem (2007) propõe um quadro para orientar a a redução dos gastos (OLIVEIRA, 2009). A o autor revela 17 fatores da gestão de custos política e a aplicação de tecnologia da literatura contábil sobre informação no desenvolvimento da sistemas de custos na atividade agrícola é agricultura indiana. O trabalho de Jack bastante escassa. Para Jack (2007), existe (2007) sobre o agronegócio do Reino muito Unido identificou alguns elementos que pouca pesquisa acadêmica de contabilidade na indústria agroalimentar e têm pouca contabilidade rural. A autora expõe duas consideração para assuntos impacto sobre o abordagens autora afirma que a área é propícia para produtivismo e o pós-produtivismo, bem estudos interdisciplinares. como a influência considerável, ainda não destacam na forma de contribuição acadêmica na área. Tavares (2008) destaca sempre agronegócio, da contabilísticos na literatura agrícola. A Entretanto, alguns trabalhos se do ambiente óbvia, de o corporações agroalimentares de grande porte sobre os agricultores. as variáveis contingenciais no papel de Em entrevistas com produtores de desenvolvimento das organizações: “toda e salmão qualquer organização, seja qual for o porte Georgakopoulos e o ramo do negócio, adota estratégias para destacaram que a cultura de salmão alcançar objetivos planejados, visando orgânico direcionar e coordenar esforços, definir as consideravelmente estruturas ambientais e econômicos. Os autores e sobreviver ao ambiente competitivo”. Brignall de tem viveiro e na Escócia, Thomson potencial os para riscos (2005) reduzir sociais, propõem a combinação desses fatores e o (1997) aborda duas uso da contabilidade ambiental para teorias para orientar um design de sistemas avaliação das decisões estratégicas no de custos no contexto da Teoria da setor. Sob a perspectiva de custos, Flaten Contingência: Teoria do Ciclo de Vida e (2002) considerou o emprego no campo e Teoria do Tipo de Processo de Fabricação. subsídios agrícolas para desenvolver um Camacho (2012) investiga os Fatores modelo de simulação dos efeitos das Condicionantes da Gestão de Custos 159 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee Edson Roberto Macohon, Jorge Eduardo Scarpin, Marcus Vinicius Moreira Zittei ___________________________________________________________________________ mudanças estruturais sobre os custos conclusões do estudo e recomendações sociais da produção de leite na Noruega. para futuras pesquisas. Dessa forma, a contribuição prática do presente estudo se dá pela necessidade de informações gerenciais 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Atividade agrícola (contingências internas e externas) para projetos de sistemas de custos na atividade agrícola. A abordagem contingencial para projetos de sistemas de custos, na atividade agrícola, é pouco investigada, assim a presente pesquisa pode contribuir para a compreensão teórica das variáveis que influenciam o comportamento dos custos. A contribuição social visa fortalecer a estrutura administrativa das propriedades rurais, proporcionando maior competitividade do agronegócio brasileiro no mercado externo. capítulos. O primeiro capítulo apresenta a iniciando com a contextualização do estudo, a exposição do problema e o objetivo da pesquisa. No segundo capítulo, deve, no futuro, atender as demandas geradas pelo crescimento da população e seus rendimentos. Isso pode levar a impactos ambientais significativos como esgotamento dos recursos de água doce subterrânea e de superfície, deterioração da qualidade dos solos e da água, erosão do solo, perda de biodiversidade e até mesmo mudança climática. As práticas agrícolas do futuro moldarão, talvez irreversivelmente, a superfície da terra. Assim, determinarão não só o nível da O trabalho compõe-se de cinco introdução, A intensificação da agricultura apresenta-se a fundamentação teórica. Primeiro, discorrese sobre a atividade agrícola. Em seguida, discorre-se sobre sistemas de custos na atividade agrícola. Após, faz-se uma incursão sobre a lógica contingencial na atividade agrícola. O terceiro capítulo apresenta os métodos e procedimentos da pesquisa. No quarto capítulo, faz-se a descrição e análise dos dados. E por produção alimentar, mas também substancialmente o estado do ambiente futuro (RAO, 2007). O contexto do desenvolvimento de escala de produção agrícola é concebido por Jack (2007) o qual destaca dois movimentos do agronegócio: o produtivismo, que significa a ênfase nas receitas da fazenda por meio de avanços tecnológicos, com tendência na agricultura intensiva, e os rendimentos elevados. Nesse caso, pode ocorrer a difusão de cadeias oligárquicas, ou seja, uma empresa líder, mais poderosa que as demais, usa esse poder ou influência para promover um último, o quinto capítulo apresenta as 160 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee UMA LÓGICA CONTINGENCIAL PARA PROJETOS DE SISTEMAS DE CUSTOS NA ATIVIDADE AGRÍCOLA ___________________________________________________________________________ clima de cooperação entre os membros da A agricultura, no século XXI, cadeia (BRIGNALL, 1997; CAMACHO, será; portanto, uma indústria extremamente 2012). diversificada orientada por preocupações O relacionamento cooperativo é com os rendimentos rurais e com sua base uma característica a qual permite que as de recursos naturais para a sustentabilidade empresas trabalhem juntas para gerenciar de longo prazo. A moderna agricultura custos e resolver problemas trazidos pela envolve uma diversidade de atividades pressão de adversidades do ambiente econômicas que afetam uma gama muito (COOPER; SLAGMULDER, 1999). Como maior de interessados do que no passado, consequência, há o compartilhamento dos incluindo ganhos auferidos entre as organizações, os governo, indústria e sociedade em geral benefícios mútuos, os quais incentivam a (RAO, manutenção da relação (SOUZA; ROCHA, ocorre, segundo Camacho (2012), quando 2009). uma empresa e seu fornecedor são consumidores, 2007). Essa agricultores, interdependência Por outro lado, o termo pós- dependentes, ou seja, a empresa não produtivismo tem sido usado, desde a consegue concluir a fabricação de um década de 1990, pelos cientistas sociais e produto sem o insumo do fornecedor. De políticos para indicar uma abordagem da outro modo, a inexistência do produto faz agricultura ambientalmente sensível, que com que o fornecedor perca boa parte da não implica em rendimentos elevados. sua produção. Nesse cenário, os agricultores podem O agronegócio brasileiro é utilizar suas terras para fins não agrícolas moderno, eficiente e competitivo, é uma e, com isso, alcançarem recursos para atividade próspera, segura e rentável. “O complementar sua renda (JACK, 2007). Brasil é um dos poucos países que tem área Esse ambiente propicia a difusão de para crescer” (BARROS, 2010, P. 2). O cadeias democráticas, ou seja, não há uma país possui clima diversificado, chuvas organização As regulares, energia solar abundante e quase organizações devem formar alianças, todas 13% de toda a água doce disponível no têm, mais ou menos, o mesmo nível de planeta. Lourenço e Lima (2009) destacam poder (SOUZA; ROCHA, 2009). Uma que o Brasil tem 388 milhões de hectares implicação é que há um movimento do de terras agricultáveis, férteis e de alta produtivismo para o pós-produtivista no produtividade dos quais 90 milhões ainda século XXI (JACK, 2007). não foram que comande. explorados. Esses fatores proporcionam ao país um lugar de vocação 161 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee Edson Roberto Macohon, Jorge Eduardo Scarpin, Marcus Vinicius Moreira Zittei ___________________________________________________________________________ natural para o agronegócio e demais 2.2 Sistemas de custos na atividade setores agrícola relacionados às suas cadeias produtivas. O agronegócio é hoje a principal locomotiva da economia brasileira. Nos últimos anos, poucos países tiveram um crescimento tão expressivo no agronegócio internacional quanto o Brasil. O país é um dos líderes mundiais na produção e exportação de vários produtos agropecuários. É o primeiro produtor e exportador de café, açúcar, álcool e sucos de frutas. Além disso, lidera o ranking das vendas externas de soja, carne bovina, carne de frango, tabaco, couro e calçados. As projeções indicam que o país também será, em pouco tempo, o principal polo mundial de produção de algodão e biocombustíveis feitos a partir de cana-deaçúcar e óleos vegetais. O milho, arroz, frutas frescas, cacau, castanhas, nozes, além de suínos e pescados, são destaques do agronegócio brasileiro (LOURENÇO; LIMA, 2009). No entanto, a escassez de recursos para infraestrutura compromete a competitividade do agronegócio brasileiro. Os problemas de logística, sobremaneira, a recuperação de rodovias, bem investimentos em ferrovias, como são considerados os grandes obstáculos para o desenvolvimento da atividade agrícola brasileira. A agricultura é uma atividade econômica que exige um eficiente gerenciamento da produção, mas enfrenta fatores de difícil controle, como o clima, pragas, doenças e adequação do solo. No entanto, a comunidade científica internacional tem pouco conhecimento sobre o grau de influência das intempéries climáticas no desenvolvimento do setor agrícola. Jack (2007) discorre sobre a baixa implementação de sistemas de contabilidade na agricultura do Reino Unido. A autora afirma que a contabilidade rural é considerada uma atividade opcional, utilizada por uma minoria, apesar de décadas de investimento do governo para incentivar as práticas da contabilidade na gestão das agroindústrias. Anjos (2009) concebe que a contabilidade de custos oferece elementos de medição e análise para alcançar, além dos objetivos financeiros, objetivos administrativos e econômicos. A partir disso, Camacho (2012) considera a contabilidade de custos como um sistema de informação gerencial. O escopo de um sistema de contabilidade de custos para Warren, Reeve e Fess (2001, p. 8) é “acumular os custos do produto. As informações sobre os custos do produto 162 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee UMA LÓGICA CONTINGENCIAL PARA PROJETOS DE SISTEMAS DE CUSTOS NA ATIVIDADE AGRÍCOLA ___________________________________________________________________________ são usadas pelos gerentes para estabelecer ocorra a sintonia entre as perspectivas os preços dos produtos, controlar as micro e macro, a Teoria da Contingência operações e preparar as demonstrações considera financeiras”. identificação das condições ambientais e Para tanto, faz-se relevante a constante necessário das práticas administrativas. O objetivo da entender os custos com uma visão de longo Teoria da Contingência é compreender prazo (BAINES; LANGFIELD, 2003; como a organização se relaciona com o JUNQUEIRA, 2010) a ambiente. Dessa forma, demonstra a informação estratégica da propriedade existência de uma relação funcional entre agrícola. No que concerne ao alcance e as condições do ambiente e as técnicas tempo, as questões estratégicas envolvem administrativas, no caso do agronegócio, as as mais amplas decisões da organização. O técnicas sistema estratégico de custos deve ser comportamento dos custos (ANDRADE; capaz de indicar mudanças fundamentais AMBONI, 2009). para compor na estrutura de custos da organização (DIEHL, 2004). agrícolas e o impacto no Alguns fatores contingenciais são determinantes para o desenvolvimento do O controle estratégico de custos é setor agrícola, por exemplo, os aspectos dispositivo ao comportamentais, como os conflitos de comportamento, o qual requer análise classes, a resistência às mudanças e os objetiva e subjetiva (DIEHL, 2004). O estilos de liderança. Assim como os sistema aspectos estruturais das propriedades, por um de perspectiva custos, vinculado integrado estratégica, sob a possibilita exemplo, o tamanho, a logística, a vislumbrar a lógica contingencial no automatização a comportamento dos custos de produção da descentralização, atividade agrícola, o qual será abordado no reguladores e os capacitadores (BAINES; próximo capítulo. LANGFIELD, 2003). 2.3 Lógica contingencial na atividade agrícola Dessa de tecnologias, os forma, mecanismos a Teoria da Contingência estabelece que não existe uma estrutura organizacional única, A lógica contingencial é a visão altamente efetiva a todas as organizações. mais abrangente das variáveis internas e Burns e Stalker (1961) criaram os tipos externas que modelam as características ideais de organização de acordo com seu organizacionais em determinado momento meio ambiente: a) organizações orgânicas: (MCKINLEY; MONE, 2003). Para que são aquelas que melhor se adaptam à 163 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee Edson Roberto Macohon, Jorge Eduardo Scarpin, Marcus Vinicius Moreira Zittei ___________________________________________________________________________ complexidade ambiental, grau de com forte estrutura burocrática competição (CAMACHO, 2012), grau de (CHAPMAN, 1997). Na sequência, o incerteza Quadro 1 contempla quatro tipos de (JUNQUEIRA, 2010) e inovação; e b) organizações mecânicas: ambientes e suas características. caracterizadas por ambientes estáveis e Quadro 1 – Características ambientais AMBIENTE CARACTERÍSTICAS Estabilidade O ambiente pode variar de estável a dinâmico. Complexidade O ambiente pode variar de simples a complexo, quanto mais complexo for, maior será a necessidade de utilização de conhecimentos sofisticados a respeito de: produtos, clientes, fornecedores, sistemas de custeio, dentre outros. Diversidade O mercado de atuação de uma organização pode variar de integrado a diversificado, em de mercado que quanto mais horizontal, em relação à cadeia produtiva, ou quanto maior for o mix de produtos e serviços oferecidos, mais diversificada será a organização. Hostilidade O ambiente de atuação de uma organização pode variar de favorável a hostil, em que quanto maior for a capacidade dos concorrentes em influenciar os resultados da organização, mais hostil será o ambiente. Fonte: Adaptado de Khandwalla (1977) e Mintzberg (1979). A estabilidade pode ser ameaças, que podem interferir no compreendida a partir do desenvolvimento andamento das organizações. As entidades, de relacionamentos de confiança, da por meio dos indivíduos, estudam o segurança no atendimento de metas, da ambiente para reduzir suas incertezas, mas cooperação são sujeitas à subjetividade (AZEVEDO et nos investimentos e da coordenação das atividades (COOPER; al., 2003). SLAGMULDER, 1999). Para Camacho O grau de complexidade está (2012), a confiança é concebida a partir de relacionado tanto com o número de acordos formais entre as partes, com o variáveis do ambiente que impactam o estabelecimento de direitos, obrigações e setor, punições. No caso de desvios de conduta, interdependência entre essas variáveis esses acordos são mecanismos que podem (KHANDWALLA, 1977; MINTZBERG, amenizar 1979). Para compreender o grau de a relação entre as partes (CAMACHO, 2012) quanto com o nível de incerteza do setor agrícola, Junqueira Assim, ressalta-se a importância (2010) considera o nível de estabilidade da inserção do meio ambiente nas questões das empresariais, representado por variáveis demanda independentes fornecedores, exigências dos clientes por às estruturas organizacionais. O ambiente externo pode variáveis: de governo, clientes, economia, oferta de inovação, dentre outras. ser fonte tanto de oportunidades como de 164 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee UMA LÓGICA CONTINGENCIAL PARA PROJETOS DE SISTEMAS DE CUSTOS NA ATIVIDADE AGRÍCOLA ___________________________________________________________________________ O ambiente de uma organização é adapte a todas as empresas em todas as representado pelo conjunto de forças, circunstâncias. variáveis ou instituições externas que, de comportamentais algum modo, afetam o seu desempenho processo de institucionalização são base de (BRIGNALL, 1997). O ambiente é uma exploração da Teoria Contingencial da variável contingencial importante utilizada Estrutura, a qual analisa a dinâmica desde o início da pesquisa contingencial cultural (CHENHALL, 2003). TOLBERT, 1997). A Teoria da e Os e fenômenos interpretações estrutural do (BARLEY; Contingência Em âmbito geral, o objetivo da caracteriza o ambiente externo como Teoria da Contingência é encontrar a volátil às modificações que o permeiam, as relação entre o desenvolvimento dos pessoas envolvidas precisam se adaptar a sistemas e as contingências específicas, essas alterações para o desenvolvimento da Não organização administrativa geral aplicável a todas as (ANDRADE; AMBONI, 2009). existe, portanto, uma estratégia organizações e a quaisquer circunstâncias. No âmbito contabilidade Os sistemas de custeio são desenvolvidos gerencial, um dos focos da Teoria da com base em uma combinação de fatores Contingência é encontrar a combinação externos e características internas das entre o desenvolvimento dos sistemas de empresas. Com isso, a utilização de custeio e as contingências específicas técnicas tradicionais de controle de custos (RIAHI-BELKAOUI, 1989). A Teoria da de fabricação e prestações de serviços Contingência como tornou-se controversa. Os controles de circunstâncias específicas transformam os custos devem basear-se em medidas mais sistemas da contabilidade de oportunas, relacionadas à identificação e Estudos empíricos pode da analisar custos. demonstram que solução de problemas. Como alternativa, tamanho organizacional, diversificação, há o custeio baseado em atividades aderência ao orçamento participativo e (BRIGNALL, 1997). têm Na cadeia de valor e fora dela, há da forças competitivas que podem afetar o contabilidade rural (LUFT; SHIELDS, custo, por exemplo, concorrentes, clientes, 2003). fornecedores, aumento da influência no descentralização desenvolvimento A Teoria da Contingência baseiase na premissa da inexistência de um modelo de contabilidade gerencial que se tendência econômica (CAMACHO, 2012), entre outros. As forças competitivas mais importantes variam de acordo com as características de 165 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee Edson Roberto Macohon, Jorge Eduardo Scarpin, Marcus Vinicius Moreira Zittei ___________________________________________________________________________ cada organização. A intensidade e os tipos 3 MÉTODOS E PROCEDIMENTOS de controles serão dependentes de cada DA PESQUISA circunstância (DIEHL, 2004). Assim, os fatores contingenciais são dimensões ou variáveis críticas que, uma vez presentes, podem propiciar ou inibir os sistemas de custos. A essência dos sistemas de custos está em partilhar informações entre os membros de uma cadeia de valor (CAMACHO, 2012). Um ambiente empresarial pode ser mais ou menos competitivo, arriscado, instável, dinâmico e variáveis contingenciais incerto. podem Essas estar A pesquisa quanto à abordagem é caracterizada como qualitativa e define-se como descritiva, uma vez que teve suporte nas referências que fundamentam a parte teórica para analisar a realidade observável dos sistemas de custos na atividade agrícola. A pesquisa é caracterizada como descritiva a partir de estudo bibliográfico e aplicação de entrevistas. As entrevistas são estruturadas, pessoais e gravadas com autorização dos respondentes. Ademais, os sujeitas a diferentes interpretações, como entrevistados também afetar o comportamento de uma autorizaram a publicação dos resultados organização. Os gerentes sem menção de seus nomes. subordinados têm muitas e e seus talvez As foram variáveis consultados e contingenciais conflitantes escolhas quanto à forma de analisadas são apresentadas, a seguir, no interpretar e reagir a essas variáveis Quadro 2, o qual apresenta também a fonte relevantes (BRIGNALL, 1997). bibliográfica de Quadro 2 – Variáveis contingenciais para sistemas de custos na atividade agrícola VARIÁVEIS FONTE VARIÁVEIS CONTINGENCIAIS BIBLIOGRÁFICA CONTINGENCIAIS 1) Infraestrutura Dados da pesquisa 10) Confiança regional/nacional 2) Aspectos estruturais das Baines; Langfield (2003) 11) Grau de incerteza propriedades 3) Aspectos Baines; Langfield (2003) 12) Grau de complexidade comportamentais 4) Sistema de informação Camacho (2012) 13) Grau de hostilidade gerencial 5) Tipos de cadeia Brignall (1997); Camacho 14) Grau de competição (2012) 6) Interdependência Camacho (2012) 15) Tendência econômica 7) Estabilidade Cooper; Slagmulder 16) Intempéries climáticas (1999) 8) Cooperação Cooper; Slagmulder 17) Visão de Longo Prazo (1999) 9) Benefícios mútuos Fonte: Dados da pesquisa cada variável. FONTE BIBLIOGRÁFICA Camacho (2012) Junqueira (2010) Khandwalla (1977); Mintzberg (1979) Khandwalla (1977); Mintzberg (1979) Camacho (2012) Camacho (2012) Dados da pesquisa Baines e Langfield (2003); Junqueira (2010) Souza; Rocha (2009) 166 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee UMA LÓGICA CONTINGENCIAL PARA PROJETOS DE SISTEMAS DE CUSTOS NA ATIVIDADE AGRÍCOLA ___________________________________________________________________________ As variáveis contingenciais e/ou custos agrícolas; a experiência propostas neste estudo foram base para a profissional na atividade rural; e o seu formulação papel e representatividade no setor. das 12 questões predominantemente abertas do roteiro Cabe não implantados há sistemas houve intervenções do pesquisador para agroindústrias, bem como nas propriedades aprofundar nas sobre o agrícolas pelas quais os respondentes da contabilidade na pesquisa são responsáveis. A natureza da atividade agrícola, bem como explicações análise dos dados coletados nesta pesquisa acerca de aspectos conceituais de cada foi qualitativa. Os dados coletados nas variável contingencial. O processo de entrevistas foram analisados por meio da coleta dos dados foi realizado no mês de técnica de análise de conteúdo de Bardin maio de 2012, com tempo médio de 50 (1977). desenvolvimento assunto custos que estruturado de entrevista. Dessa forma, o de salientar da minutos para cada respondente. As entrevistas foram aplicadas aos profissionais intencionalmente selecionados de acordo com a disponibilidade de agenda, 11 respondentes no total, conforme Quadro 3. Os critérios de seleção são os seguintes: a formação acadêmica relacionada ao agronegócio Quadro 3 – Caracterização dos respondentes da pesquisa Respondentes Profissão Respondente 1 Empresário do ramo atacadista de cereais Respondente 2 Técnico em agropecuária Respondente 3 Funcionário público - Engenheiro agrônomo Respondente 4 Produtor de mel e gerente de entreposto de beneficiamento de mel Respondente 5 Empresário de agroindústria do ramo de defumados Respondente 6 Engenheiro agrônomo Respondente 7 Respondente 8 Respondente 9 Respondente 10 Engenheiro agrônomo Advogado Técnico agrícola Empresário de agroindústria do ramo de frigorífico Respondente 11 Produtor rural Fonte: Dados da pesquisa. 4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 4.1 Caracterização dos respondentes da pesquisa O Quadro 3 evidencia as características profissionais e funcionais dos respondentes da pesquisa. Cargo ou função Sócio gerente de agropecuária Assistência técnica e extensão rural Instrutor do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR Gerente financeiro de fazenda produtora de cereais Produtor rural Presidente de organização não governamental que promove o desenvolvimento das famílias na área rural Secretário municipal de agricultura Presidente de sindicato dos trabalhadores rurais 167 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee Edson Roberto Macohon, Jorge Eduardo Scarpin, Marcus Vinicius Moreira Zittei ___________________________________________________________________________ O Respondente 1 é empresário do Respondente 3 possui ramo atacadista de cereais, trabalha com experiência, 10 anos exportação e importação, efetua compra do Paranavai/PR e 10 anos na região de exterior de aproximadamente 30% da sua Guarapuava/PR. comercialização. Os principais produtos 20 na anos de região de O Respondente 4 é produtor de importados pela empresa são o feijão e o mel milho-pipoca oriundos principalmente da beneficiamento de mel, atua também como China, Argentina e Bolívia. O Respondente instrutor 1 afirmou que a importação dos produtos Aprendizagem da China diminuiu: “antes era uma Respondente 5 é proprietário de uma novidade. [...] o feijão chinês é de boa agroindústria do setor de defumados, a qualidade. [...] com a recuperação do dólar empresa possui 7 produtos com registros a participação da China caiu, está em torno inspecionados pelo Serviço de Inspeção do de 5%. Atualmente é mais viável comprar Paraná. A vocação para a produção de de países da América do Sul, como defumados é herança familiar, teve início Argentina e Bolívia.”. O Entrevistador na década de 80. A estratégia da empresa é argumentou sobre o que motivou a conseguir o selo de inspeção federal nos empresa o próximos 5 anos. A agroindústria está Respondente 1 alegou que as safras localizada no interior do município de 2009/2010 passaram por períodos de Prudentópolis/PR, grandes Velhos, aproximadamente a 7 km da BR a importar intempéries commodities, climáticas que ocasionaram quedas de produtividade, bem como a qualidade do produto brasileiro. e gerente do de entreposto Serviço Rural de Nacional – distrito de SENAR. de O Patos 277 e a 22 km da comarca. O Respondente 6 é engenheiro O Respondente 2 é técnico em agrônomo, possui também graduação em agropecuária, possui formação acadêmica Ciências Contábeis, é gerente financeiro em Ciências Contábeis e é sócio-gerente de fazenda produtora de cereais. O de uma empresa do ramo agropecuarista Respondente 7 é engenheiro agrônomo, que atua há 20 anos no mercado. O produtor rural, tem experiência na área de Respondente 3 é funcionário público assistência técnica na Secretaria Municipal estadual, agrônomo, de Agricultura e na EMATER, atualmente extensionista rural, atualmente trabalha na atua também na área política como área de crédito rural e assistência técnica vereador. engenheiro do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER). O O Respondente 8 é advogado e presidente de uma organização não 168 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee UMA LÓGICA CONTINGENCIAL PARA PROJETOS DE SISTEMAS DE CUSTOS NA ATIVIDADE AGRÍCOLA ___________________________________________________________________________ governamental que atua na promoção do 4.2 Variáveis contingenciais na atividade desenvolvimento das famílias na área rural, agrícola principalmente os faxinalenses que trabalham na atividade da fumicultura. O 4.2.1 Variável estrutura Esta objetivo da ONG é conscientizar os seção tem a sequência pequenos produtores dos malefícios à apresentada no Quadro 2, conforme design saúde humana no cultivo do fumo, motivá- da pesquisa de Baines e Langfield (2003), los a cultivar produtos orgânicos e a com as seguintes variáveis contingenciais: preservar o meio ambiente. Percebe-se que 1) o objetivo da ONG é o mesmo que Aspectos estruturais das propriedades; 3) preconiza Georgakopoulos e Thomson Aspectos comportamentais; e 4) Sistema (2005), os quais vislumbram a produção de informação gerencial. Infraestrutura regional/nacional; 2) orgânica para a minimização de impactos O Respondente 1 afirmou que sociais e ambientais. O Respondente 9 é existem aspectos diferenciados no cultivo técnico Secretário do feijão preto e do feijão carioca. “As Municipal de Agricultura do município de sementes de feijão carioca são mais Prudentópolis/PR. desenvolvidas do que as do feijão preto, agrícola e atual O Respondente 10 é proprietário que não tem o mesmo rendimento. ‘Desta’ de um frigorífico Ele afirmou que compra forma, a área de plantio do feijão preto foi bovinos, suínos e caprinos. A empresa dele reduzida.”, explcou ele. O Entrevistador foi fundada em 2007, possui selo de interveio: “A falta de inovação e pesquisa inspeção da vigilância sanitária do Estado são do Paraná e sua comercialização atinge 23 desenvolvimento da cultura do feijão municípios da região centro-sul do estado. preto?”. “Sim”, disse o Respondente 1. fatores de Trabalhadores Rurais, para o O Respondente 2 revelou que as O Respondente 11 é presidente do Sindicato preponderantes questões cambiais são fatores produtor rural de soja e milho, possui condicionantes ao desenvolvimento da também Essa atividade agrícola, citou as culturas do agricultura fumo e da soja, as quais são dependentes uma diversificação pequena leiteria. incumbe à familiar, analisada segundo a lógica de diretas das oscilações Flaten (2002) que propõe alternativas para explicou que os insumos e o preço de os custos sociais na atividade agrícola, a venda são ditados pelo mercado externo. pesquisa considera o emprego no campo e Salientou subsídios agrícolas. investimentos em pesquisa científica no que há cambiais. necessidade Ele de 169 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee Edson Roberto Macohon, Jorge Eduardo Scarpin, Marcus Vinicius Moreira Zittei ___________________________________________________________________________ Brasil para minimizar a dependência das tínhamos uma grande deficiência, suínos empresas multinacionais. O Entrevistador muito gordos, bois mal acabados. [...] argumentou se esse cenário afetava o faltou, comportamento dos custos, o Respondente produtores, melhoramento de raças, dietas 2 destacou: “nosso custo de produção é ‘melhor’ muito elevado em relação a outros países, conseguimos melhorar isso, mas ainda maior até que os da Argentina e Paraguai. falta assistência técnica governamental Produzimos bem, mas o custo é maior. O mais efetiva.”, relatou ele. nosso sistema de transporte também contribui para a elevação dos custos.”. Para o Respondente 3, a falta de na época, treinamentos elaboradas. aos Atualmente O Respondente 8 contextualizou a problemática do atividade desenvolvimento agrícola, da abordando inclusão dos pequenos agricultores é a primeiramente a escassez de recursos maior contingência ao desenvolvimento da destinados pelas prefeituras municipais à atividade agrícola. O Entrevistador arguiu: agricultura. “A proporção de crédito disponibilizado é associativistas maior para os grandes produtores?”. “Sim, produtores rurais também foi citada como e mais fácil de ser captada, está muito um difícil para o pequeno produtor, apesar de desenvolvimento do setor. Ele falou ainda o Pronaf estar melhorando, ainda é tímida que a mudança. O ambiente burocrático é concessão bastante captação de recursos. complexo. Os pequenos A falta entre aspecto a movimentos os pequenos contingencial burocracia de de governamental, crédito, inviabiliza ao na a produtores necessitam não apenas de O Respondente 4 destacou que a recursos financeiros, mas de assídua falta de organização dos produtores é a assistência técnica.”, disse o Respondente maior 3. apícola. O Respondente 7 destacou contingência para a atividade “A produção ocorre de forma individual, nós não temos lideranças fortes também a falta de assistência técnica de no qualidade como a principal contingência produção de mel. [...] a sazonalidade no âmbito rural. também é um fator de incerteza do setor, a O Respondente agrícola principalmente na também empresa nem sempre tem estoque, em ressaltou a precariedade da assistência vários momentos os estoques não suprem a técnica como a contingência que mais afeta necessidade da demanda de mercado.”, o afirmou o entrevistado. desenvolvimento agropecuária. 10 setor da “Quando atividade iniciamos, 170 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee UMA LÓGICA CONTINGENCIAL PARA PROJETOS DE SISTEMAS DE CUSTOS NA ATIVIDADE AGRÍCOLA ___________________________________________________________________________ O Respondente 5 discorreu sobre o acesso interior dos maioria das O Respondente 9 afirmou que a agroindústrias estão localizadas, afirmou maior contingência é o próprio governo, a que as estradas ficam interditadas em política atual que incentiva a compra de épocas de chuvas, e isso impossibilita o commodities de países como Argentina e transporte de suínos das propriedades aos China influenciam o preço de venda do frigoríficos, bem como de matérias-primas produto brasileiro. “[...] ‘Esta’ situação dos fornecedores às agroindústrias. O favorece a incerteza do setor, os produtores Respondente 11 afirmou que a região não têm conhecimento sobre os valores centro-sul do Estado do Paraná não tem que serão praticados pelo mercado.”, disse problemas de reforma agrária. “A maioria ele. municípios, precário onde no implementação de sistemas de informação a gerencial. das propriedades rurais são compostas por Confome Baines e Langfield pequenos produtores.”, relatou ele. No (2003), o exposto insurge às variáveis entanto, destacou ainda que assistência contingenciais técnica continuada é fundamental para a determinantes para o desenvolvimento de profissionalização propriedades. sistemas de custos na atividade agrícola. A Sob a ótica da Teoria Contingencial, Luft e partir dos relatos das entrevistas, destacam- Shields (2003) vislumbram também o se os conflitos de classes, os estilos de tamanho como liderança, a logística, os mecanismos preponderante para o desenvolvimento de reguladores e capacitadores e as incertezas sistemas de custos. do mercado. dessas organizacional Para o Respondente 6, a principal contingência de projetos de sistemas de profissional envolvidas no Salientou que processo podem ser 4.2.2 Variável tipo de cadeia De acordo com o que preconiza custos na atividade agrícola é a falta de capacitação que pessoas Souza e Rocha (2009), o Respondente 1 produtivo. revelou que a cadeia produtiva do feijão é das composta por funcionários acabam esquecendo-se de independentes entre efetuar os apontamentos das atividades insumos, produtores rurais, cerealistas e desenvolvidas, ocasionando subjetividade clientes, ou seja, não há uma organização na alocação dos custos. Atkinson (2000) de trata da participação dos colaboradores democrático favorece o agricultor na como negociação, estratégia constantemente primordial os para liderança: relacionamentos fornecedores “[...] porque esse o de ambiente produtor vai 171 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee Edson Roberto Macohon, Jorge Eduardo Scarpin, Marcus Vinicius Moreira Zittei ___________________________________________________________________________ encontrar mercado para o seu produto, estamos iniciando uma integração para o então não há um cartel organizado como mercado futuro, porque o mercado de em a suínos está em crise, teremos pouco suinocultura.”. O Entrevistador interveio: produto disponível no mercado, ‘esta’ “A cadeia democrática é um modelo parceria irá proporcionar ganhos para os interessante para a implementação de produtores e ao frigorífico.”. Percebe-se projetos de sistemas de custos?”. “Eu que a estratégia do Respondente 10 está acredito que é preciso melhorar algumas alinhada ao que preconiza Camacho coisas, as próprias cerealistas poderiam (2012), ou seja, na cadeia oligárquica, há a desenvolver divisão de poder. outras culturas, exemplo: algum tipo de acompanhamento técnico nas propriedades O Respondente 2 criticou a cadeia fumo: fumageiras produtiva oferece este tipo de serviço ‘ou’, até incentivam, são oligárquicas, o problema ‘pode’ fornecer ‘é’ no momento da venda, o produtor não sementes e insumos aos agricultores, sabe quanto vai receber, isso causa mediante um contrato de venda futura, incerteza ao produtor.”. No entanto, o mas o atual modelo é interessante para o próprio Respondente 2 destacou a cadeia agricultor.”, disse o Respondente 1. produtiva do milho e da soja: “O produtor mesmo, a cerealista do “as dos seus clientes. Atualmente ninguém O Respondente 1 criticou a cadeia de soja e ‘o’ milho tem conhecimento do produtiva da suinocultura: “as empresas preço de venda, é o próprio produtor que oligárquicas estão se aproveitando do estipula o seu preço de venda.”. Cabe produtor para não pagar 13º salário, férias salientar que o preço de venda dos e nenhum outro benefício ao trabalhador. produtos agrícolas é cotado pela Bolsa de Ainda usam a propriedade rural para Mercadorias e Futuros, e a decisão do produzir a matéria-prima com baixos produtor de não realizar a venda do custos, o produtor assume todo o risco. produto o incumbe, geralmente, com os [...] a cadeia oligárquica explora os custos adicionais de armazenagem. produtores”. No entanto, para Camacho A visão do Respondente 3 (2012), a cadeia oligárquica não se divergiu da dos Respondentes 1 e 2: “eu caracteriza pelo viés de exploração, mas não considero as culturas do feijão, milho sim pelo domínio da cadeia. e soja como uma cadeia democrática, O Responde 10 indicou que talvez uma oligarquia, as oligárquicas pretende firmar parceria com uma empresa seriam as cerealistas. ‘Estas’ empresas oligárquica do setor de suínos: “[...] dominam o mercado, estipulam até o preço 172 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee UMA LÓGICA CONTINGENCIAL PARA PROJETOS DE SISTEMAS DE CUSTOS NA ATIVIDADE AGRÍCOLA ___________________________________________________________________________ final, isso deve-se a falta de organização responsabilidades que seriam da própria dos nossos produtores.”. O Entrevistado empresa ‘será’ de responsabilidade do complementou: “ ‘esta’ realidade promove agricultor.”. O Respondente 8 afirmou incertezas.”. Na sequência, o Respondente ainda que esse tipo de cadeia favorece o 3 discorreu sobre a cadeia democrática controle de custos, porque obriga as com relacionamento cooperativo, em que pessoas a ter uma padronização. Na as cooperativas associações de sequência da entrevista, o Respondente 8 o de discorreu sobre a cadeia produtiva dos comercialização e assistência técnica. O produtos orgânicos: “[...] é uma cadeia Respondente 3 apresentou uma alternativa democrática, mas o produtor deve cumprir confluente ao que preconiza Camacho normas para o seu enquadramento.”. agricultores e teriam papel (2012), uma empresa líder, no caso uma As falas do Respondente 8 sobre a cooperativa de produtores rurais, para cadeia do tipo tirania corroboram com o promover um clima de cooperação entre conceito apresentado por Camacho (2012), os membros da cadeia. quando apenas uma empresa domina, seu O Respondente 8 corroborou com poder é alto, e as negociações ocorrem em o Respondente 3 sobre as culturas do condições favoráveis a ela. No entanto, milho e feijão: “as cerealistas combinam esse ambiente, segundo o Respondente 8, preços de compra e acabam prejudicando favorece o desenvolvimento de sistemas os produtores, ‘estas’ empresas não pagam de custos. os preços praticados no mercado, é uma cadeia oligárquica que explora O Respondente 4 afirmou que não os existe uma cadeia organizada na apicultura produtores rurais e que não favorece o e que seria praticamente impossível o controle de custos.”. entreposto de mel desenvolver um trabalho O Respondente 8 considerou que similar a cadeia da suinocultura ou da a cadeia produtiva do fumo é uma tirania: fumicultura. A justificativa é que a “[...] o produtor precisa cumprir todas as apicultura , na maioria das vezes, é uma exigências. empresas atividade secundária nas propriedades assinaram um termo de ajuste de conduta rurais. O Respondente 4 assumiu que o com Ministério do Trabalho, exemplo: a ambiente utilização da lenha que somente poderá ser organização das propriedades rurais e que de reflorestamento; as crianças, filhos dos as produtores rurais, não poderão mais estar profissionalizam os produtores, porque os ‘Estas’ produtos precisam de padrões de qualidade trabalhando Neste na ano, as atividade. democrático oligarquias, de desfavorece certa a forma, 173 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee Edson Roberto Macohon, Jorge Eduardo Scarpin, Marcus Vinicius Moreira Zittei ___________________________________________________________________________ e, com isso, o controle de custos é controle de custos devido à padronização favorecido. O Respondente 11, no entanto, das rotinas de produção. O Respondente 9 acredita que a cadeia democrática concebe teve a mesma posição quanto às cadeias ambiente de controle aos produtores, oligárquicas. afirmou ainda que a maioria das culturas Para o Respondente 7, o que agrícolas estão enquadradas na cadeia prepondera, democrática. O controle mencionado pelo oligarquias: “[...] empresas multinacionais Respondente 11 é caracterizado por que vendem insumos, sementes e adubos. planilhas básicas de entradas e saídas de ‘Estas’ empresas dominam as tecnologias, caixa. a biotecnologia. [...] ‘está-se’ iniciando um O Respondente 5 tem visão processo no setor de agrícola, são desenvolvimento de diferenciada sobre a cadeia oligárquica: ‘oligárquicas’ na suinocultura da região, as “[...] eu compro a matéria-prima pronta de propriedades que estiverem atreladas às frigoríficos.”. O Entrevistador questionou ‘oligárquicas’ por que a empresa adquire matéria-prima propício ao controle de custos.”. terão ambiente mais de frigoríficos e não diretamente dos As visões diferenciadas sobre o produtores. “Porque os produtores são desenvolvimento da atividade agrícola integrados aos frigoríficos, e não temos atrelado aos tipos de cadeia produtiva faz estrutura de refletir sobre a complexidade do ambiente. animais. Os produtores são condicionados O conhecimento técnico, as disputas de a vender para os frigoríficos, e isso é poder e as ideologias estão nas entrelinhas interessante porque favorece à agricultura das respostas de cada respondente. Por familiar e ao controle de custos das conseguinte, o cenário atual da atividade propriedades.”, explicou o Respondente 5, agrícola o qual pertence a uma cadeia oligárquica, cooperação entre os produtores rurais, já que se percebe, conforme Camacho suscetíveis, assim, às organizações com (2012), que tem poder dentro da cadeia. diferentes física para abatimento O Respondente 6 afirma que, no se níveis e pela baixa propósitos. Na sequência, o Quadro 4 apresenta as agronegócio, quase não existe a tirania, o características que prevalece são as cadeias oligárquicas, relacionamentos as quais, segundo clientes. ele, favorecem o caracteriza pontuais de entre fornecedores os e 174 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee UMA LÓGICA CONTINGENCIAL PARA PROJETOS DE SISTEMAS DE CUSTOS NA ATIVIDADE AGRÍCOLA ___________________________________________________________________________ Quadro 4 - Relacionamentos com os principais fornecedores e clientes FORNECEDORES Respondentes Somos Não ocorre Exercemos Somos dominados dominação domínio dominados Respondente 1 X X Respondente 2 X Respondente 3 X X Respondente 4 X Respondente 5 X Respondente 6 X Respondente 7 X Respondente 8 X Respondente 9 X Respondente 10 X Respondente 11 X Fonte: Dados da pesquisa. CLIENTES Não ocorre dominação Exercemos domínio X X X X X X X X X O Quadro 4 revela que seis oligarcas favorece o desenvolvimento da respondentes indicaram que os produtores atividade agrícola e, consequentemente, rurais são dominados pelos fornecedores dos sistemas de custos. de insumos e sementes. Outros cinco respondentes indicaram que não ocorre dominação, há relacionamento. paridade Nenhum no respondente 4.2.3 Variáveis estabilidade, interdependência, cooperação, benefícios mútuos e confiança exercem Para exemplificar as parcerias de domínio sobre os fornecedores. Quanto comércio no agronegócio, o Respondente aos clientes, apenas um respondente 1 destacou a cultura da soja a qual é afirmou exercem comercializada por meio de contrato de domínio sobre os clientes. Outros dois venda futura, contrato de benefícios indicaram são mútuos: “[...] na data prevista, o produtor dominados pelos clientes, e a maioria, oito entrega o produto por um preço pré-fixado respondentes, afirmaram que não ocorre em contrato, as duas partes correm o risco, dominação. o preço pré-fixado pode estar acima ou afirmou que que os os que produtores produtores os produtores (2012), abaixo do mercado.”. Percebe-se a relação empresas oligárquicas têm poder de de interdependência (CAMACHO, 2012), negociação suficiente para dominar as ou seja, a cerealista e seus fornecedores, outras. Assim, a partir das indicações dos produtores rurais, são interdependentes. A respondentes, percebe-se que as cadeias inexistência do produto faz com que a democrática e oligárquica prevalecem na cerealista atividade agrícola. No entanto, para a comercialização. Ao mesmo tempo, para maioria deles, o ambiente propiciado pelos minimizar Conforme Camacho perca o boa risco, parte foram da sua firmados 175 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee Edson Roberto Macohon, Jorge Eduardo Scarpin, Marcus Vinicius Moreira Zittei ___________________________________________________________________________ contratos formais entre as partes, atividades - variável estabilidade estabelecendo, assim, uma relação de (COOPER; SLAGMULDER, 1999) - é a confiança (CAMACHO, 2012). principal característica nesse segmento O Entrevistador arguiu sobre a agrícola. relação de confiança no setor agrícola, o Respondente 1 foi contundente na O Respondente 10 teve a seguinte explanação: “[...] temos uma parceria com resposta: “Nem mesmo o Governo Federal os tem confiança no mercado agrícola, a adiantamento financeiro aos produtores, exemplo disso que, desde o ano 2008, o estamos desenvolvendo a integração que Governo ‘pagou’ a saca do feijão preto R$ pode 80,00 como preço mínimo, neste mês estamos entregando o animal ao produtor a baixou para R$ 72,00.”. “O senhor custo zero, o produtor se responsabiliza acredita que isso é questão de demanda ou com a ração, futuramente forneceremos a especulação de mercado?”, perguntou o ração também, caberá ao produtor apenas Entrevistador. “Eu considero que foi um a mão de obra e a estrutura para engorda.”. erro do Governo, porque o feijão estava a O Entrevistador interveio sobre o trabalho R$ 48,00, e o governo estipulou o valor de assistência técnica do frigorífico aos mínimo de R$ 80,00, isso atrapalhou o produtores. mercado, capacitados que visitam as granjas e, se porque todos os grandes produtores, trazer proporcionamos benefícios “[...] temos ocorrer, [...] veterinários produtores de soja passaram a plantar algo feijão pelo fato de que o Governo garantia produtores.”, disse o Respondente 10. Essa o preço mínimo de R$ 80,00.”, esclareceu perspectiva o Respondente 1. preconizado por Souza e Rocha (2009), O Respondente 3 destacou a errado mútuos. é orientamos condizente com ganhos, sensível desenvolvimento da atividade rural. devido ao o quando ocorre o compartilhamento dos cultura da erva-mate, a qual se percebe desenvolvimento os há a tendência do trabalho de integração entre empresas O Respondente 8 exemplificou a ervateiras e propriedades extrativistas. relação de interdependência na cultura da Essa proporcionando soja: “[...] o produtor depende de insumos minimização de riscos e interdependência. e sementes, [...] e a ‘oligárquica’ depende Para o Respondente 3, ainda não há da soja do agricultor, um depende do controle de custos nessas parcerias, mas outro.”. “ ‘Este’ relacionamento favorece esse ambiente favorece o planejamento e o ‘ao’ controle da produção. A coordenação das Entrevistador. “Em termos de controles relação está controle custos?”, perguntou o 176 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee UMA LÓGICA CONTINGENCIAL PARA PROJETOS DE SISTEMAS DE CUSTOS NA ATIVIDADE AGRÍCOLA ___________________________________________________________________________ cadeia Junqueira (2010), expôs o seguinte: “o produtiva que mais faz contas, [...] é um ambiente de atuação envolve todas as ambiente variáveis externas do setor. Quando pensar contábeis, imagino que estável, é [...] a o risco é compartilhado.”, disse o Respondente 8. sobre o ambiente de atuação do setor, O Respondente 9 destacou a bacia pense nas variáveis que podem ter algum leiteira como exemplo de relação de efeito no desenvolvimento do setor, como cooperação, afirmou que esse tipo de por exemplo: (i) clientes; (ii) fornecedores; parceria proporciona ambiente de controle (iii) concorrentes; (iv) mercado financeiro; de custos. De acordo com Cooper e (v) sistema político; (vi) regulação de Slagmulder mercado, dentre ‘outros’.”. (1999), o relacionamento cooperativo permite o gerenciamento de custos. Quanto ao ambiente de incerteza, o Respondente 1 fez a seguinte pelos contextualização: “o mercado do feijão é respondentes é diferenciado de acordo muito nervoso, principalmente o feijão com as características de cada segmento carioca, agrícola. Sob a lógica contingencial, BM&FBovespa de São Paulo, na última Chapman (1997) estabelece que não há semana do mês de abril de 2012 o feijão uma única, carioca estava custando R$ 60,00, agora altamente efetiva a todas as organizações. em maio de 2012, está em R$ 197,00. O Dessa forma, conclui-se que os sistemas mercado do feijão preto é mais estável. de custos precisam ser estruturados de [...] o clima influencia, quando há geadas acordo fora de época, o agricultor pode perder O cenário estrutura com exposto organizacional as demandas de cada consultarmos dados da tudo em uma noite só”. segmento. O Respondente 3 discorreu sobre 4.2.4 Variável ambiente de atuação Esta se seção tem a os fornecedores da atividade rural: “[...] a sequência oferta de fornecedores, falta insumos, [...] apresentada no Quadro 2, com as seguintes algumas vezes, não há fornecedores que variáveis contingenciais: (10) Grau de têm produtos específicos para determinado incerteza; (11) Grau de complexidade; tipo de solo ou cultura, ocorre a falta de (12) Grau de hostilidade; (13) Grau de diálogo entre fornecedor e cliente, ou não competição; e (14) Tendência econômica. ocorre a procura do produto adequado para Preliminarmente, em todas as entrevistas, o concepção de pesquisador, Mintzberg produção de determinada região. Às vezes, sob a é um adubo muito caro, que não haveria a (2000) e necessidade de aplicação. Muitas vezes, os 177 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee Edson Roberto Macohon, Jorge Eduardo Scarpin, Marcus Vinicius Moreira Zittei ___________________________________________________________________________ produtores utilizam defensivos da soja produtores não possuem terras suficientes para a cultura do feijão, porque não há para isso.”. produto disponível no mercado.”. Para o Respondente 9, a Para o Respondente 4, uma das contingência que gera maior grau de principais contingências que ocorrem na incerteza no campo é a infraestrutura atuação da atividade apícola é a falta de tecnológica. “A agricultura americana é estrutura física de armazenamento. muito O Respondente 5 destacou a avançada, em termos tecnológicos, que a brasileira. Exemplo: a um previsão do tempo, a nossa previsão é bem funcionário sair da empresa e souber da mais limitada que a americana, isso devido nossa receita, ele poderá ser contratado ao número de satélites e equipamentos relação com funcionários: Entrevistador mais sofisticados de previsão do tempo.”, argumentou se todos os funcionários têm disse ele. Na sequência da entrevista, o conhecimento da receita da agroindústria Respondente 9 afirmou que a falta de de defumados, o Respondente 5 afirmou previsão que apenas dois funcionários e membros influencia no volume e qualidade da da família do proprietário têm a fórmula produção. da receita. americanos pela O “se mais concorrência.”. O Respondente 6 evidenciou meteorológica Destacou mais ainda utilizam acurada que os informações a meteorológicas para fins estratégicos, variável mais impactante na atuação do possuem informações de médio prazo, agronegócio brasileiro, os subsídios e antecipando ou não barreiras internacionais. otimizando a produção de determinada O Respondente 7 salientou que a burocratização, na financiamentos, concessão causa e, até mesmo, cultura. As falas dos respondentes 8 e 9 de reiteram as proposições de Santos (2009), incerteza o qual releva o planejamento como principalmente aos pequenos produtores ferramenta essencial rurais. organizacional. de controle O Respondente 8 discorreu sobre Denota-se, nas considerações, dos o grau de incerteza dos agricultores de respondentes a confirmação do arcabouço produtos orgânicos: “[...] o orgânico é teórico mais complicado, para se tornar orgânico o concluiu-se que o grau de incerteza do agricultor setor terá carência de de Junqueira (2010). Assim, agrícola aproximadamente 3 anos, [...] ‘este’ tempo principalmente é para desintoxicação do solo. Muitos governamentais, é pelas ambiente determinado políticas econômico, 178 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee UMA LÓGICA CONTINGENCIAL PARA PROJETOS DE SISTEMAS DE CUSTOS NA ATIVIDADE AGRÍCOLA ___________________________________________________________________________ oferta de fornecedores e intempéries complexidade da atividade agrícola. climáticas. O Quadro 5 evidencia a Quadro 5 – Grau de complexidade do ambiente de atuação da atividade agrícola De l (ambiente extremamente simples) até 7 (ambiente extremamente complexo) Respondente 1 1 2 3 4 5 6 7 Respondente 2 1 2 3 4 5 6 7 Respondente 3 1 2 3 4 5 6 7 Respondente 4 1 2 3 4 5 6 7 Respondente 5 1 2 3 4 5 6 7 Respondente 6 1 2 3 4 5 6 7 Respondente 7 1 2 3 4 5 6 7 Respondente 8 1 2 3 4 5 6 7 Respondente 9 1 2 3 4 5 6 7 Respondente 10 1 2 3 4 5 6 7 Respondente 11 1 2 3 4 5 6 7 Fonte: Dados da pesquisa. Os respondentes assinalaram a regular corretamente os implementos escala de 1 a 7, em que se consideravam 1 agrícolas para otimizar a produção.”. Esse como ambiente extremamente simples e 7 cenário como ambiente extremamente complexo. reflexão do que preconiza Khandwalla Percebe-se que a maioria dos respondentes (1977) considerou complexo o ambiente da complexidade está relacionada tanto com o atividade agrícola. O Respondente 7 número de variáveis do ambiente que sintetizou: “muitos produtores rurais foram impactam o setor, quanto com o nível de excluídos pelo pouco estudo, atualmente é interdependência entre essas variáveis. O necessário entender várias áreas como Quadro 6 evidencia a hostilidade do Economia, Física, Matemática. [...] os ambiente agrícola. multidisciplinar e Mintzberg incumbe (1979), à a detalhes fazem a diferença, como exemplo, Quadro 6 – Grau de hostilidade do ambiente de atuação da atividade agrícola De l (ambiente extremamente calmo) até 7 (ambiente extremamente hostil) Respondente 1 1 2 3 4 5 6 Respondente 2 1 2 3 4 5 6 Respondente 3 1 2 3 4 5 6 Respondente 4 1 2 3 4 5 6 Respondente 5 1 2 3 4 5 6 Respondente 6 1 2 3 4 5 6 Respondente 7 1 2 3 4 5 6 Respondente 8 1 2 3 4 5 6 Respondente 9 1 2 3 4 5 6 Respondente 10 1 2 3 4 5 6 Respondente 11 1 2 3 4 5 6 Fonte: Dados da pesquisa. 7 7 7 7 7 7 7 7 7 7 7 179 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee Edson Roberto Macohon, Jorge Eduardo Scarpin, Marcus Vinicius Moreira Zittei ___________________________________________________________________________ Os respondentes assinalaram a recursos financeiros não são escassos, e escala de 1 a 7, em que se consideravam 1 sim há morosidade e complexidade da como ambiente extremamente calmo e 7 burocracia governamental. como ambiente extremamente hostil. O As respostas dos entrevistados, Quadro 6 revela que a maioria dos acerca do grau de hostilidade, não seguem respondentes considera hostil o ambiente o preconizado por Khandwalla (1977) e de atuação da atividade agrícola. Apenas Mintzberg (1979), os quais afirmam que um respondente indicou que o ambiente é quanto maior for a capacidade dos extremamente calmo. A maior parte dos concorrentes de influenciar os resultados respondentes destacou que a hostilidade da deve-se principalmente a falta de amparo ambiente. governamental com as perdas das safras. diferentemente, a variável contingencial O Respondente 9 esclareceu que os contratos de financiamentos agrícolas organização, Na mais hostil atividade será o agrícola, preponderante para o ambiente hostil é a política governamental. possuem cláusulas bastante hostis aos O Quadro 7 evidencia a produtores, para ele, o Governo deveria competitividade do ambiente de atuação da flexibilizar atividade agrícola. o crédito agrícola. Os respondentes afirmaram ainda que os Quadro 7 – Grau de competitividade do ambiente de atuação da atividade agrícola De 1 (ambiente onde inexiste competição) até 7 (ambiente extremamente competitivo) Respondente 1 1 2 3 4 5 6 7 Respondente 2 1 2 3 4 5 6 7 Respondente 3 1 2 3 4 5 6 7 Respondente 4 1 2 3 4 5 6 7 Respondente 5 1 2 3 4 5 6 7 Respondente 6 1 2 3 4 5 6 7 Respondente 7 1 2 3 4 5 6 7 Respondente 8 1 2 3 4 5 6 7 Respondente 9 1 2 3 4 5 6 7 Respondente 10 1 2 3 4 5 6 7 Respondente 11 1 2 3 4 5 6 7 Fonte: Dados da pesquisa. Os respondentes assinalaram a escala de 1 a 7, em que seconsideravam 1 chineses e argentinos foram as principais causas da competitividade no mercado. como ambiente onde inexiste competição e 7 como ambiente extremamente Quanto à influência da economia no desenvolvimento do setor, as respostas foram assinalou que o ambiente da atividade oscilações de mercado não afetam o preço agrícola os do feijão.” (Respondente 1). “Existe respondentes, a concorrência dos produtos impacto, o preço da soja terá oscilações se é competitivo. Para bastante diferenciadas. “As competitivo. A maioria dos respondentes 180 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee UMA LÓGICA CONTINGENCIAL PARA PROJETOS DE SISTEMAS DE CUSTOS NA ATIVIDADE AGRÍCOLA ___________________________________________________________________________ ocorrer desaceleração na economia.” (Respondente 2). “O mel tem preço estável, independente (Respondente 4). de “Crises 8). “A econômicas estabilidade econômica traz condições favoráveis para o consumo e planejamento das propriedades.” (Respondente 9). Percebese, em alguns segmentos da atividade agrícola, maior sensibilidade às oscilações da economia. As indicações dos respondentes refletem o preconizado por Brignall (1997), o qual destaca que um ambiente empresarial pode ser competitivo, arriscado, instável e incerto. Quadro 8 – Grau de importância das variáveis estratégicas RESPONDENTES ESTRATÉGIAS Fornecer produtos de baixo custo Fornecer produtos diferenciados Fornecer uma ampla variedade de produtos Fornecer produtos de baixo preço Introduzir novos produtos rapidamente Modificar rapidamente o volume e/ou mix de produtos oferecidos Realizar entregas rápidas Possuir um canal de distribuição amplo Fonte: Dados da pesquisa. O Quadro 8 revela visão de longo prazo crises.” repercutem nos preços dos insumos.” (Respondente 4.2.5 Variáveis intempéries climáticas e que a Todos os respondentes afirmaram que as variações climáticas são causadoras de grande incerteza no setor. O Respondente 3 discorreu que o plantio fora de época pode ser uma alternativa para minimização dos riscos. O Quadro 8 contempla o grau de importância das variáveis estratégicas da atividade agrícola. Os respondentes foram instruídos a indicar na escala: 1 até 7, este para muito importante para o desenvolvimento da atividade agrícola, aquele para pouco importante. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 PESOS ATRIBUÍDOS 6 7 7 7 6 4 6 7 1 7 6 2 5 7 1 7 6 2 5 7 7 2 6 2 6 2 7 7 6 2 7 7 5 3 4 7 7 1 3 1 7 7 7 3 5 5 1 6 3 5 7 7 6 7 7 1 1 7 7 7 7 5 5 4 7 7 7 6 6 entrevistados. A variável 10 11 6 7 3 2 1 5 6 2 3 4 2 2 5 6 7 7 6 6 6 “Fornecer estratégia “Fornecer produtos de baixo produtos de baixo preço” foi considerada custo” é considerada como importante por importante para apenas 4 respondentes. todos os respondentes da pesquisa. A “Introduzir novos produtos rapidamente” e variável “Modificar rapidamente o volume e/ou “Fornecer produtos diferenciados” foi considerada importante mix de produtos oferecidos” foram para 9 deles. “Fornecer uma ampla consideradas importantes para 7 deles. variedade de produtos” é relevante para 6 Apenas um não considerou importante 181 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee Edson Roberto Macohon, Jorge Eduardo Scarpin, Marcus Vinicius Moreira Zittei ___________________________________________________________________________ “Realizar entregas rápidas” e “Possuir um acesso precário ao interior dos municípios; canal de distribuição amplo”. falta de capacitação profissional dos As diferentes visões de longo prazo colaboradores e produtores rurais; e dos respondentes levam a Brignall (1997), políticas públicas ineficientes à atividade não existe uma estratégia geral aplicável a agrícola. todas as organizações e a quaisquer circunstâncias. Dessa os Baines e Langfield (2003), insurgem as profissionais da contabilidade devem estar variáveis contingenciais que podem ser atentos para que os sistemas de custos determinantes para o desenvolvimento de sejam desenvolvidos com base em uma sistemas de custos na atividade agrícola, as combinação e quais destacam-se os conflitos de classes, características internas das organizações os estilos de liderança, a logística, os rurais. mecanismos reguladores e capacitadores e de forma, A partir desses relatos, confome fatores externos as incertezas do mercado. 5 CONCLUSÕES Quanto ao tipo de cadeia, De acordo com Riahi-Belkaoui Camacho (2012) revela que uma empresa (1989), um dos focos da Teoria da líder, sendo mais poderosa que as demais, Contingência é encontrar a combinação pode usar esse poder ou influência para entre o desenvolvimento dos sistemas de promover um clima de cooperação entre custos e as contingências específicas. os membros da cadeia. Contudo, houve Nesse contexto, a lógica contingencial da divergências pesquisa a respondentes, a maioria afirmou que o tipo realidade da atividade agrícola no quesito de cadeia que prepondera na atividade estrutura. Os respondentes citaram as agrícola é a democrática e, em seguida, a seguintes variáveis como preponderantes oligárquica. No entanto, o ambiente ao desenvolvimento da atividade agrícola democrático e, por conseguinte à implementação de desenvolvimento para sistemas de custos: falta de inovação e custos, a cadeia democrática precisa de pesquisa; variações cambiais abruptas; adaptações, falta padronização dos produtos. vislumbrou de agricultores; primeiramente inclusão dos pequenos ambiente burocrático na As nas opiniões não como proporciona dos o o controle de normas divergências para a ocorreram concessão de crédito; assistência técnica de também quanto à caracterização do tipo de pouca continuada; cadeia, alguns respondentes afirmaram que ausência de movimentos associativistas; as culturas do milho e do feijão são qualidade e não 182 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee UMA LÓGICA CONTINGENCIAL PARA PROJETOS DE SISTEMAS DE CUSTOS NA ATIVIDADE AGRÍCOLA ___________________________________________________________________________ democráticas, outros afirmaram que são assistência cadeias oligárquicas. Essa divergência produtores, os quais deverão vendê-los em pode ser compreendida pelo estudo de data prevista às integradoras. Contudo, os Jack dois produtores não têm o conhecimento do movimentos na atividade agrícola, o valor da venda, apenas o têm na sua produtivismo e o pós-produtivismo, o realização. Esse tipo de problema também primeiro limita-se a produção de escala e o ocorre na fumicultura. (2007), segundo o se qual define preocupa e animais aos a O relacionamento de estabilidade e (COOPER; SLAGMULDER, 1999) pôde qualidade da vida humana no campo. A ser observado nos relacionamentos dos autora destaca ainda a influência de produtores com as empresas oligárquicas, corporações agroalimentares de grande nessa porte sobre os agricultores. No entanto, desenvolvimento de uma padronização das observou-se que a cadeia oligárquica é atividades presente minimização de riscos aos produtores. sustentabilidade, na com técnica diversificação fumicultura e está se desenvolvendo na cultura da soja, na cadeia, percebe-se executadas, O o propiciando movimento a cooperativista criação de suínos e, mais recentemente, na (COOPER; SLAGMULDER, 1999), na produção de leite. atividade agrícola da região, é fraco. A Quanto a interdependência nos maioria dos respondentes desorganização cliente e fornecedor são interdependentes, preponderante ao desenvolvimento de ou seja, não conseguem concluir um controles de custos. Os respondentes produto sem o insumo do fornecedor, de afirmaram outro modo, a inexistência do produto leva propicia a suscetibilidade dos produtores o fornecedor a perder boa parte da sua rurais às incertezas de mercado. O produção os Respondente 6 revelou que os estilos de respondentes da pesquisa afirmaram que gestão das cooperativas são diferentes, em este tipo de relacionamento é mais comum algumas, o produtor define o preço de na cultura de commoditie da soja, em que venda desejado, contudo arca com os empresas oligárquicas fornecem sementes custos de armazenamento; em outras, o e insumos com contratos de vendas preço de venda é definido pela própria futuras. Esse tipo de relacionamento foi cooperativa, observado também na produção de suínos, armazenamento em agricultores. que as integradoras 2012); fornecem ainda e setor que não como a relacionamentos de comércio, quando (CAMACHO, do citaram essa há fator realidade custos repassados de aos 183 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee Edson Roberto Macohon, Jorge Eduardo Scarpin, Marcus Vinicius Moreira Zittei ___________________________________________________________________________ Conforme Mintzberg (2000) e Junqueira (2010), a variável ambiente de atuação foi analisada à falta de amparo governamental com as perdas das safras. cinco Os relatos, acerca do grau de complexidade, hostilidade, não seguem o preconizado por hostilidade, competitividade e economia. A Khandwalla (1977) e Mintzberg (1979), os incerteza foi caracterizada devido às quais afirmam que quanto maior for a variações preços, capacidade dos concorrentes de influenciar principalmente do feijão carioca; a falta de os resultados da organização, mais hostil oferta a será o ambiente. Para os respondentes, a determinadas culturas e tipos de solos em concorrência dos produtos chineses e geral; estrutura física de armazenamento; argentinos foram as principais causas da subsídios competitividade no mercado. Contudo, o perspectivas: sob principalmente incerteza, abruptas de de produtos e apropriados barreiras burocratização na financiamentos internacionais; concessão agrícolas; tempo de que prepondera na atividade agrícola para de o ambiente ser considerado hostil é a desintoxicação do solo para a cultura dos produtos orgânicos; e política governamental. previsão Quanto à influência da economia meteorológica pouco acurada. A partir no desenvolvimento do setor, as respostas desses relatos, concluiu-se que o grau de foram bastante diferenciadas e divergentes. incerteza do setor agrícola é determinado Alguns respondentes principalmente fatores econômicos pelas governamentais, são que variáveis econômico, independentes à atividade agrícola, outros oferta de fornecedores e intempéries afirmaram que o aquecimento da economia climáticas. resulta no aumento de preços e é ambiente A considerou ambiente políticas destacaram maioria dos respondentes complexo o ambiente da favorável ao controle de custos. Por fim, todos afirmaram que as atividade agrícola. A complexidade deve- climáticas se principalmente à falta de qualificação incerteza no setor. Os resultados da profissional dos produtores, segundo os pesquisa coincidem com Jack (2007) sobre eles, das o problema da utilização da contabilidade propriedades agrícolas, será necessário pelos agricultores do Reino Unido. No visão estratégica de negócios, conforme contexto brasileiro, verificou-se também a preconiza Baines e Langfield (2003), e pouca utilização de controles de custos nas Junqueira (2010). Para a maior parte dos propriedades agrícolas. para respondentes, o desenvolvimento a hostilidade deve-se são causadoras variações de grande A partir do cenário exposto, 184 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee UMA LÓGICA CONTINGENCIAL PARA PROJETOS DE SISTEMAS DE CUSTOS NA ATIVIDADE AGRÍCOLA ___________________________________________________________________________ concluiu-se que cada segmento agrícola possui particularidades na produção, armazenagem e comercialização. Sob a lógica contingencial, Chapman (1997) estabelece que não há uma estrutura organizacional única, altamente efetiva a todas as organizações. Dessa forma, o papel dos profissionais da contabilidade é desenvolver sistemas de custos sob uma combinação de fatores externos e características internas para cada segmento do agronegócio. REFERÊNCIAS ANDRADE, R. O. B.; AMBONI, N. Teoria geral da administração. Rio de Janeiro, Elsevier, 2009. ANJOS, E. J. F. A contabilidade de custos: um enfoque para a moderna empresa. Sistema de custos para a otimização dos recursos – SICOR. Intercostos.org., 2009. Disponível em: <http://www.intercostos.org/documentos/T EXTO8-4.pdf>. Acesso em: 21 abr. 2012. ATKINSON, A. A. Contabilidade gerencial. São Paulo: Atlas. 1. ed. 2000. AZEVEDO, CGD et al. Implantação de um sistema ERP: a mudança organizacional sob os aspectos contingencial e institucional. Encontro nacional da associação nacional dos programas de pós-graduação em administração, v. 27, 2003. BAINES, A.; LANGFIELD-SMITH, K. Antecedents to management accounting change: a structural equation approach. Accounting, organizations and society, v. 28, n. 7, p. 675-698, 2003. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa, Portugal: Edições 70, 1977. BARLEY, S. R.; TOLBERT, P. S. Institutionalization and structuration: Studying the links between action and institution. Organization studies, v. 18, n. 1, p. 93-117, 1997. BARROS, A. M. Brasil: celeiro do mundo. O Brasil vai puxar a produção agrícola na próxima década e se firmará como o grande celeiro do mundo. 2010. Disponível em: <http://www.portaldoagronegocio.com.br> . Acesso em: 31 mar. 2012. BRIGNALL, S. A contingent rationale for cost system design in services. Management Accounting Research, v. 8, n. 3, p. 325-346, 1997. BURNS, T.; STALKER, G. M. The management of innovation. London: Tavistock, 1961. CAMACHO, R. R. Fatores condicionantes da gestão de custos interorganizacionais na cadeia de valor de hospitais privados no Brasil: uma abordagem à luz da Teoria da Contingência. 2012. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. CANZIANI, J. R. F. Assessoria administrativa a produtores rurais no Brasil. 2001. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001. CHAPMAN, C. S. Reflections on a contingent view of accounting. Accounting, organizations and society, v. 22, n. 2, p. 189-205, 1997. CHENHALL, R. H. Management control systems design within its organizational context: findings from contingency-based research and directions for the future. 185 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee Edson Roberto Macohon, Jorge Eduardo Scarpin, Marcus Vinicius Moreira Zittei ___________________________________________________________________________ Accounting, organizations and society, v. 28, n. 2, p. 127-168, 2003. Doutorado. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010. COOPER, R.; SLAGMULDER, R. Supply chain development for the lean enterprise: interorganizational cost management. New Jersey: The IMA Foundation for Applied Research, 1999. KHANDWALLA, P. N. Design of organizations. New York: Harcourt Brace Jovanovich, 1977. DIEHL, C. A. Controle estratégico de custos: um modelo referencial avançado. 2004. Tese de Doutorado. Universidade Federal de Santa Catarina, Centro Tecnológico, Santa Catarina, 2004. DUTRA, C. J. C; NASCIMENTO, L. F. Teorias organizacionais eo dilema ambiental: um tratamento para a mudança organizacional? Revista Eletrônica de Ciência Administrativa-RECADM, v. 4, n. 2, p. 1-17, 2005. FLATEN, O. Alternative rates of structural change in Norwegian dairy farming: impacts on costs of production and rural employment. Journal of Rural Studies, v. 18, n. 4, p. 429-441, 2002. GEORGAKOPOULOS, G.; THOMSON, I. Organic salmon farming: risk perceptions, decision heuristics and the absence of environmental accounting. In: Accounting Forum. Elsevier, 2005. p. 4975. GUERREIRO R.; PEREIRA C. A.; REZENDE A. J. Em busca do entendimento da formação dos hábitos e das rotinas da contabilidade gerencial: um estudo de caso. Revista de administração Mackenzie, v. 7, n. 2, 2008. JACK, L. Accounting, post-productivism and corporate power in UK food and agriculture. Critical Perspectives on Accounting, v. 18, n. 8, p. 905-931, 2007. JUNQUEIRA, E. R. Perfil do sistema de controle gerencial sob a perspectiva da teoria da contingência. 2010. Tese de LOURENÇO, J. C.; LIMA, C. E. M. de. Evolução do agronegócio brasileiro, desafios e perspectivas. Observatório de Economia Latino-americana, v. 118, 2009. Disponível em: <http://www.eumed.net/cursecon/ecolat/br/ >. Acesso em: 09 fev. 2012. LUFT, J.; SHIELDS, M. D. Mapping management accounting: graphics and guidelines for theory-consistent empirical research. Accounting, organizations and society, v. 28, n. 2, p. 169-249, 2003. MCKINLEY, W.; MONE, M. Organization theory. Oxford University Press, USA. 2003. MINTZBERG, H. The structuring of organizations. New Jersey: Prentice Hall, 1979. OLIVEIRA, N. O. J. de, Redes de Informação: Essência do planejamento na tomada de decisões estratégicas no Agronegócio. Agronline.com.br. 2009. Disponível em: <http://www.agronline.com.br/artigos/artig o.php?id=192>. Acesso em: 30 de abr. de 2012. RAO, N. H. A framework for implementing information and communication technologies in agricultural development in India. Technological Forecasting and Social Change, v. 74, n. 4, p. 491-518, 2007. RIAHI-BELKAOUI, A. Behavioral accounting: the research and practical issues. Quorum Books, 1989. 186 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee UMA LÓGICA CONTINGENCIAL PARA PROJETOS DE SISTEMAS DE CUSTOS NA ATIVIDADE AGRÍCOLA ___________________________________________________________________________ SANTOS, G. J. Administração de Custos na Agropecuária. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2009. SOUZA. B. C.; ROCHA W. Gestão de custos interorganizacionais: ações coordenadas entre clientes e fornecedores para otimizar resultados. São Paulo: Atlas, 2009. TAVARES, R. Proposta de um sistema de apoio à decisão para controle e gerenciamento agrícola em usinas de açúcar e álcool. 2008. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008. VARELA, P. S. Indicadores sociais no processo orçamentário do setor público municipal de saúde: um estudo de caso. 2004. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2004. WARREN, C. S.; REEVE, J. M.; FESS, P. E. Contabilidade gerencial. Trad. André Olímpio Mosselman Du Chenoy Castro. Revisão de Elizabeth Vieira Honorato. 6. ed. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001. 187 CONTEXTUS Revista Contemporânea de Economia e Gestão. Vol 13 – Nº 1 – jan/abr 2015eeeeeeeeeeeeee