Análise Socioeconômica do Brasil segundo a OCDE 2013 O Grupo AfroReggae é uma organização que luta pela transformação social e, através da cultura e da arte, desperta potencialidades artísticas que elevam a autoestima de jovens das camadas populares. Tem por missão promover a inclusão e a justiça social, utilizando a arte, a cultura afro-brasileira e a educação como ferramentas para a criação de pontes que unam as diferenças e sirvam como alicerces para a sustentabilidade e o exercício da cidadania. O InfoReggae é uma publicação semanal e faz parte dos conteúdos desenvolvidos pela Editora AfroReggae. 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Apresentação A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico - OCDE é uma organização internacional formada por 34 países que desenvolve parâmetros de comparação entre políticas econômicas de diversas nações e apresenta soluções e direcionamentos para problemas nacionais e internacionais. A OCDE divulgou em outubro de 2013 os relatórios “Estudos Econômicos da OCDE: Brasil” e “Investindo na Juventude: Brasil”. As publicações analisam, respectivamente, os progressos socioeconômicos alcançados e a situação da educação e do mercado de trabalho entre os jovens brasileiros. Em todos os gráficos apresentados, os cometários são traduções literais da avaliação realizada pela OCDE. O AfroReggae encontrou no relatório da OCDE indicativos importantes sobre o trabalho com educação e juventude. O AfroReggae emite sua análise na coluna “UM DEBATE A SER FEITO”. Para a OCDE muitos avanços foram alcançados nos últimos anos, mas é fundamental reorganizar as ações para que outros desafios possam ser definidos e enfrentados. Sabendo que não é mais possível políticas sociais que não estejam integradas e focadas, o Brasil, sem dúvida nenhuma, precisa construir um caminho mais seguro para seu futuro. Caminho este que articule o combate à pobreza, melhoria da educação e mais oportunidades para a juventude. Nesta 11ª edição do InfoReggae SP apresentamos uma síntese destes relatórios com um olhar especial sobre a questão social e juventude. Relatório Estudos Econômicos da OCDE Gráfico 1: Índice de Gini 2010 Africa do Sul Colombia Brasil Paraguay Chile Peru Mexico Uruguay Argentina China Russia Estados Unidos Israel Portugal Reino Unido India Espanha Polonia França Alemanha Dinamarca Noruega 0,63 0,56 0,53 0,52 0,50 0,48 0,47 0,45 0,44 0,42 0,40 0,38 0,38 0,34 0,34 0,34 0,34 0,31 0,30 0,29 0,25 0,25 Fonte: OECD, 2010 O Índice de Gini é uma medida desenvolvida para calcular a desigualdade de distribuição de renda. Os indicadores variam entre 0 e 1, onde 0 corresponde à completa igualdade (onde todos têm a mesma renda) e 1 corresponde à completa desigualdade (onde uma pessoa tem toda a renda e as demais, não). Sendo assim, quanto mais proximo de 1 for o Índice de Gini, maior é sua desigualdade de renda do país. O Brasil tem uma desigualdade muito forte entre as classes, inclusive é um dos paises mais desiguais da América Latina. Para vencer esta desigualdade, o país precisa de políticas sociais sustentáveis que agreguem transferência de renda com educação, aprendizagem e emprego de qualidade. Gráfico 2: Histórico da Pobreza Absoluta (Abaixo de U$ 2 por dia) Brasil 29,2 29,2 29,4 28,4 28,1 26,6 25,1 23,2 23,6 20,2 17,1 14,0 12,5 9,4 9,5 8,4 7,3 5,9 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 Fonte: OCDE e IPEADATA. Nos últimos 20 anos o Brasil alcançou significativos progressos na redução da pobreza extrema e da desigualdade social. De acordo com a OCDE, o rápido crescimento dos rendimentos nos baixos segmentos da população permitiu que 40 milhões de brasileiros alcançassem um nível de renda equivalente ao das famílias de classe média dos países participantes da OCDE. Esse avanço pode ser explicado por um forte crescimento econômico nos últimos anos e pelas políticas sociais, como o Bolsa Família, que tem expandido a renda dos brasileiros mais pobres. Entretanto a desigualdade de renda continua elevada. O relatório aponta que o aumento da escolaridade da população mais pobre pode contribuir para que mais avanços sejam alcançados. Portando, é importante expandir a educação na primeira infância bem como identificar no aluno problemas relacionadados à dificuldades de aprendizagem e assim reduzir a repetência e a evasão escolar no Ensino Médio. Gráfico 3: Problemas com a Aposentadoria no Brasil Grécia 111,2 Arabia Saudita 107,6 Holanda 99,8 Brasil 96,6 Argentina 91,3 Austria 89,9 Dinamarca 89,8 China 86,8 Espanha 84,9 Israel 78,2 Italia 75,3 India 74,1 Russia 72,0 Portugal 69,2 OECD 68,9 Polonia 68,2 Chile 64,3 Noruega 62,2 França 60,4 Australia 58,9 Estonia 58,3 Alemanha 57,9 Suiça 57,7 Canada 57,3 Estados Unidos 50,0 Reino Unido 41,5 Japan 39,7 Mexico Indonesia Africa do Sul 32,2 14,9 11,9 Fonte: Banco de dados OECD para a desigualdade. Na área das transferências sociais, o relatório da OCDE chama-nos a atenção para o fato de que a dependência dos idosos passará de 10% em 2010 para cerca de 40%, em 2060, o que aumenta significativamente as despesas com aposentadoria. Lidar com este crescimento o quanto antes torna o processo de ajustamento mais eficaz. Para a OCDE o sistema de aposentadoria brasileiro é relativamente generoso se comparado à renda da vida ativa. O Gráfico 3 nos mostra que os benefícios, a partir da aposentadoria, repõem 96,6% da renda líquida de um trabalhador médio com carreira completa. A média da OCDE e de 69%. De acordo com a Organização, a razão principal para o elevado gasto com aposentadoria é a vinculação da aposentadoria com o salário mínimo, cujo valor real praticamente dobrou nos últimos 10 anos. A OCDE defende que este vínculo automático deve ser eliminado. Gráfico 4: Evolução da Taxa de Desemprego Brasil 9,87 10,00 9,34 7,91 8,08 6,74 2005 2006 2007 2008 2009 2010 5,98 2011 5,50 2012 5,70 2013 Fonte: OECD estimates based on national labor force surveys. Em relação ao desemprego no país, as taxas vem caindo gradativamente desde 2005. Em julho de 2013 a taxa de desemprego foi de 5,6%, nas seis maiores áreas metropolitanas do país, ao passo que a média dos países membros da OCDE foi de 8,0%, uma diferença de 2,4 pontos percentuais. Relatório Investindo na Juventude: Brasil Gráfico 5: Porcentagem de Jovens Desocupados e Não Matriculados em Instituições de Ensino OCDE - Abril 2013 África do Sul Grécia Turquia Italia México Espanha Brasil Irlanda Portugal OCDE Hungira Estados Unidos Bélgica Nova Zelândia Europa Reino Unido França Australia Canada Alemanha Japão 31,6 27,4 26,7 21,4 21,1 19,6 16,7 16,7 15,3 15,2 15,1 15,0 13,9 13,7 13,7 13,5 13,2 12,2 9,6 7,6 6,9 Fonte: OECD estimates based on national labor force surveys. Já o desemprego entre os jovens é de 15,3%. Um em cada cinco jovens brasileiros estão sem educação, sem emprego, ou sem formação profissional. Entre as mulhers a situação é ainda pior, duas em cada 5 estão nessa situação. De acordo com os dados coletados, os jovens estão 3 vezes mais propensos ao desemprego do que os adultos, enquanto nos países membros da OCDE esta proporção é de 2,5 para 1. Há também graves desigualdades raciais, regionais e de gênero. Também é necessário observar qualidade da empregabilidade destes jovens. Um grande número está em empregos onde possuem alta rotatividade e falta de investimento na formação técnica dos trabalhadores. É essencial que os candidatos a empregos se tornem mais interessantes para os potenciais empregadores. E para isso, o custo da sua contratação deve ser reduzido. Muitos países da OCDE já estão reduzindo o nível das contribuições obrigatórias para a seguridade social. De acordo com estes dados, subsídios são importantes para a inserção dos jovens em seu primeiro emprego para que ocorra maior estímulo dos empregadores na contratação de qualidade. Gráfico 6: Taxa de Desemprego entre Jovens de 15 e 24 anos OCDE - Abril - 2013 Grécia Espanha África do Sul Portugal Itália Hungria Irlanda França Europa Bélgica Inglaterra OECD Turquia Estados Unidos Nova Zelândia Canada Brasil Austrália México Alemanha Japão 62,5 56,4 52,4 42,5 40,5 27,4 26,6 26,5 23,5 22,4 20,2 16,5 16,7 16,3 15,1 13,6 13,5 11,6 9,7 7,5 8,1 Fonte: OECD estimates based on national labor force surveys. Em relação à juventude, o relatório aponta que o país também logrou avanços importantes na área da educação. As políticas que focam na melhoria das capacidades e aproveitamento educacional da população já estão apresentando resultados positivos. Os recursos dedicados à educação tiveram um aumento de 6,3 pontos percentuais entre 2000 e 2009. Atualmente o sistema de educação e formação brasileiro é de melhor qualidade e de maior acesso, ao mesmo tempo em que a proporção de indivíduos que atingem o ensino secundário superior duplicou no espaço de uma geração. Apesar do Brasil estar entre os três países que mais melhoraram seus resultados no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) durante a última década, ainda ocupa a 53ª posição no ranking mundial. Um debate a ser feito A partir dos dados apresentados pela OCDE e de suas avaliações podemos sinalizar varios debates. O relatório mostra-se um instrumento importante para ser avaliado, mas muitas das posições propostas pela OCDE não são aceitas pelas defesas que o AfroReggae faz em seu trabalho diário. O AfroReggae adotou em outubro de 2012 o conceito de Pobreza Multidimensional do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD. Não trabalhamos com o conceito da OCDE de mensurar a pobreza de forma monetária. A OCDE define pobreza absoluta a partir da linha de pobreza estabelecida em U$ 2,00 por dia. Para o AfroReggae isto é uma simplificação das expressões da pobreza que se encontram em movimentos, como moradia, insegurança e falta de acesso a serviços de qualidade como saúde e educação. Explicar pobreza é muito mais do que fazer contas. Para o AfroReggae, explicá-la só faz sentido quando se conhece de fato as privações e desproteções sociais da população. A avaliação que a OCDE faz sobre a queda da pobreza absoluta no Brasil não leva em conta questões como o saneamento, por exemplo, que tiveram indicadores estagnados nos últimos 10 anos. A avaliação não sinaliza a falta de uma proposta de inclusão social sustentável, pois parte das famílias que ganham mais de U$ 2,00 por dia recebem este recurso de programas de transferência de renda. Em relação à questão das aposentadorias, o AfroReggae defende a vinculação da aposentadoria ao salário mímimo e entende ser fundamental que o país discuta seu sistema previdenciário sem que os aposentados sejam prejudicados. Não temos qualquer problema em debater o limite de idade ou mesmo o teto de contribuição, mas discordamos que um brasileiro aposentado não tenha condições de sobrevivência com o valor que recebe da previdência. Este debate é urgente e precisa ser feito. Com o aumento da expectativa de vida o sistema previdenciário está sobrecarregado e é fundamental encontrar outros caminhos para que os aposentados possam manter o padrão de vida. Em relação à taxa de desemprego, defendemos uma nova forma de avaliá-la em áreas pobres e violentas. Estudos internos nos indicam que o desemprego de adultos no Brasil está subdimensionado. Os dados sobre desemprego de jovens são preocupantes e estão intimamente relacionados com os problemas que o Brasil ainda enfrenta na qualidade de seu ensino, sobretudo do nível médio. Temos uma educação desassociada do mundo do trabalho. O ideal é pensar a educação articulada com o emprego e compromissada com o futuro. Em relação aos jvens que não estudam e nem trabalham fica o imenso desafio de realizar um processo de mutirão educacional ou frentes de educação que envolvam estes jovens em um movimento de aceleração da aprendizagem e de formação profissional. Lendo atentamente o relatório, o que mais preocupou a equipe do AfroReggae são os dados de jovens que demandam, ha muitos anos, uma política eficiente para resolver os mais graves problemas de formação e desenvolvimento individual. Em muitos momentos, o relatório mostra-se conservador no gasto social, sobretudo com os mais velhos. Ao mesmo tempo indica que temos uma geração de jovens que caminha para uma velhice sem apropriações importantes para a economia brasileira. O principal debate a ser feito aqui é entender o porquê do Brasil vir fracassando de forma histórica na atenção à sua população jovem, sobretudo a mais pobre. Este relatório deixa dois deveres de casa para o país: o primeiro é repensar e reorganizar seu sistema previdenciário sem prejudicar os aposentados e o mais urgente, importante e estratégico é a construção de uma Agenda Social vinculada a juventude brasileira. Os jovens não podem ser tratados como problema e sim como solução para o país, mas para isso acontecer é preciso tratar desta questão com responsabilidade e urgência social. O Brasil tem muitos pontos para avançar e este InfoReggae indica 5 urgências estratégicas: 1- Definir pobreza no campo da privação e desproteção social; 2- Reorganizar seu sistema previdenciário; 3- Articular seus programas de transferência de renda com o conceito de inclusão social sustentável; 4- Estruturar uma política articulada para os jovens; 5- Garantir que a educação e o espaço da escola sejam prioritários no debate nacional de desenvolvimento e superação da pobreza. O AfroReggae vem realizando este debate em sua sede no Rio de Janeiro, em seu escritório de representação em São Paulo e em sua missão humanitária na Africa e assume publicamente o compromisso de formular caminhos para estas urgências estratégicas. Não existe milagre, nem remédio. Só mudamos com muito trabalho. O relatório econômico completo da OCDE sobre o Brasil é disponibilzado no seguinte endereço: http://www.keepeek.com/Digital-Asset-Management/oecd/economics/oecd-economic-surveys-brazil2013_eco_surveys-bra-2013-en#page26