UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA Departamento de Educação – DEDU Curso de Licenciatura em Letras com Língua Estrangeira Política e Gestão Educacional Professor Otto Vinícius 09 Dez. 2009 JOÃO BOSCO DA SILVA ([email protected]) RESENHA: POLÍTICA EDUCACIONAL COMO INSTRUMENTO DE CIDADANIA MARTINS, Clélia Aparecida. O que é política educacional. São Paulo: Brasiliense, 1993. A autora possui graduação em Serviço Social pela Universidade de Ribeirão Preto (1982), mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas (1988) e doutorado em Filosofia pela Universidade de São Paulo (1997). Desde 1987 é docente da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho, onde atua na Pósgraduação em Filosofia. Tem experiência na área de Filosofia, atuando principalmente nos temas: Ética, Linguagem, Hermenêutica e Direitos humanos. No livro, a autora Clélia Martins introduz a compreensão do que seria uma política educacional, que é diferente da simples educação. É um instrumento de se 2 projetar a formação desejada dos tipos de pessoas que uma sociedade necessita, pois só existirá uma política educacional verdadeira e objetiva se forem considerados os seres humanos de hoje e os de amanhã, preocupando-se com seus aspectos de cidadãos, sociais, cívicos e individuais. A educação pensa os tipos de homens e mulheres, ao tempo em que a política educacional ajuda a criá-los, definindo a sua forma e conteúdo, para legitimar o mundo daquela sociedade no seu tempo. A política educacional pode revelar o que se fez numa determinada época, para que se conheça a estrutura ideológica da educação empreendida com os grupos sociais, de forma organizada, levando-se em conta o público alvo envolvido no processo e a sua destinação. A educação deve ser livre para que possa comunicar o saber comum entre todas as pessoas. Já a política educacional passa pela organização e regras sobre do que se pretende transmitir, atuando sobre a educação, mas sem a dominar. A educação é a própria prática social que pode interferir na política educacional. A política educacional é quem vai direcionar a educação para fins específicos, podendo causar fragilidade no processo pedagógico, prejudicando a criatividade e reflexão dos entes envolvidos, a exemplo do que fez a igreja com os indígenas brasileiros. Quando se reproduz a ideologia, tomando conta da educação e dos seus processos, o ensino pode ser severamente prejudicado, causando uma deseducação, formando futuros robôs, fazendo sempre o que os outros mandam. Na sociedade brasileira a política educacional tem uma grande aliado, que é a industria cultural, que tem servido aos planos temporários e não deveria ser apenas programa de governo, pois envolve gerações após gerações, podendo influir negativamente na formação subjetiva de sentimentos e emoções do povo. A educação ocorre em todo lugar e não somente na escola, e nem sempre onde há educação vai haver uma política educacional correspondente, mas ela já começa nos primeiros anos escolares, com processos definidos em determinadas direções. Por incrível que pareça, até nas sociedades tribais pode haver uma determinada política educacional, inicialmente sem muita sistematização, também ultrapassando a estrutura escolar para fora dos seus limites geográficos e sociais. A intenção (livros, documentos, discursos etc.) é quem vai determinar o espaço e o modo objetivo aonde a excelência da educação irá se realizar e que, a depender do propósito do poder dominante 3 daquela oportunidade, nada garante a transformação desse ser humano em emancipado ou cidadão. Platão, por exemplo, disse que o homem é um produto do meio e que o Estado era a figura suprema da sociedade, devendo ser governado por sábios e filósofos, como se a política fosse a arte de pequenos grupos. Para Platão e Aristóteles, um processo pedagógico poderia decorrer da política de um pequeno grupo de poderosos, ou ser feito num amplo processo participativo da sociedade. Na visão platônica, a política de nossos tempos seria a educacional tecnocrática. Já no entender aristotélico, essa política educacional seria municipalizada. Para Platão os que elaboram normativamente essas políticas são praticamente invisíveis, uma elite representada por grupos oriundos do poder do Estado, os quais determinam as regras, porém não se responsabilizam pelo fornecimento do ensino. Ideologicamente. Um exemplo disso ocorreu no período autoritário do Brasil, após 1964, cuja política educacional tecnocrata foi planejada e imposta de cima para baixo, como se o Estado tivesse o poder legítimo de ditar essas normas, pelo despreparo das classes mais pobres. Os tecnocratas argumentam que os processos não podem ser democráticos no ambiente escolar, pois são lentos e ineficazes, pela incompetência das pessoas envolvidas. Aristóteles deixa entender que onde houver uma política municipalizante, os resultados democráticos poderão ser melhores observados, mesmo sabendo que os defensores dessa idéia sem sempre estão preocupados com a qualidade do ensino, e sim com as verbas que circularão em maior quantidade por suas mãos. A igualdade social nada mais era do que um resultado das relações de produção. Para os liberais, e atualmente para os neoliberais, a igualdade está ligada aos direitos sociais. Para solucionar os males sociais, o povo deve ter mais acesso à educação, e para isso, ao longo do tempo vão se alternando os governos, implantando políticas educacionais ao seu gosto, ideologias e objetivos, sem demonstrarem prioridade em resolver esse problema e nem universalizarem o ensino com igualdade de oportunidades para todos os cidadãos. No Brasil do século XXI, o governo incentiva, através de financiamentos (FIES) os estudantes a se endividarem, pagando para estudar em faculdades privadas, quando o foco deveria ser a elevação da quantidade de vagas para o ensino público. 4 “Nunca na história desse País” o ensino privado cresceu tanto, em todas as suas modalidades e níveis, elevando o lucro, tornando a educação um produto de consumo. Economicamente a educação está tão direcionada ao desenvolvimento que as políticas educacionais chegam a propor a educação como possibilidade de crescimento econômico, como se o enriquecimento da indústria, por exemplo, representasse o desenvolvimento da sociedade. Essas políticas estão direcionando as ações educacionais para o ensino profissionalizante, qualificando o ser humano para ser parte do processo produtivo e tecnológico (máquinas), deixando-se entender que essa é a moderna educação técnica especializada, conseguida até no ensino superior. Enquanto que a política educacional tradicional busca oferecer o direito social e igualdade entre os seres humanos, já a partir do ensino fundamental nas escolas, influenciando o comportamento de grupos sociais em benefício da organização, estimulando que os alunos desenvolvam a capacidade de ter iniciativas próprias e agir de forma autônoma e crítica. Um povo que não pensa é como um burro que não compensa. Só serve como “massa de manobra” aos interesses do poder instalado. Nas políticas educacionais modernas o processo de escolarização formal contribui para a formação e assimilação de conduta, atitudes e valores adequados do estudante na sociedade, mas não garante incutir na sua mentalidade a reflexão de mudanças necessárias na comunidade, o que contribuiria para a inclusão e aceitação do cidadão pleno nas relações produtivas, sociais e afetivas. O Estado não consegue organizar as escolas secundárias para a melhoria da qualificação da mão de obra num ensino integral, o que estimularia a formação do profissional e cidadão. A relação entre política educacional e estrutura econômica lida com atrito entre as dinâmicas das necessidades da economia e a democracia. O poder político e o econômico funcionam como uma ditadura velada, dando acesso apenas ao que se lhes é de interesse.. Portanto, a cultura do ensino nas escolas é determinada por fatores externos ao sistema educacional, obrigando o fazer pedagógico a ser orientado por várias preocupações internas, além das externas, que refletem o modo de viver das comunidades próximas da região da unidade escolar, no seu subconjunto de elementos culturais, sociais e políticos, a serem interligados no planejamento pedagógico estabelecido, atentando para o cotidiano que irá condiciona a política educacional reprodutora dos lugares e diversos agentes. 5 Outro problema é a indústria cultural. A política educacional é um processo dinâmico, que busca a verdadeira transformação e emancipação das consciências individuais, tentando unir a teoria à prática, reconstruindo uma relação dos educadores com o mundo, levando a escola a um novo padrão civilizado e social, por isso devem-se ter determinados cuidados com a indústria cultural que geralmente aparece numa perspectiva democrática falsa, pois é grande o seu poder alienador, através da tecnologia e dos meios de comunicação em massa, transformando-a apenas numa mercadoria de consumo, distante da crítica e do mundo ideal, restringindo as informações do seu conteúdo, apoiando apenas as manifestações de acordo com as suas conveniências. Para isso seria necessário que a escola oferecesse o espaço democrático de estímulo da criança, para que ela cresça já desenvolvendo uma mentalidade reflexiva. Faz-se urgente que as políticas educacionais cuidem de atender aos objetivos da alfabetização permanente e atualizadora, capacitando os agentes para acompanharem o progresso tecnológico como um problema local em nosso país, tentando vencer o analfabetismo real e literal – dos que não sabem ler ou escrever, e enfrentar ainda o outro mais abstrato, que é o Funcional – daqueles que sabem ler apenas algumas palavras, sem desenvolver qualquer senso crítico numa leitura reflexiva. Portanto, os meios de comunicação em massa, poderiam atender a uma política educativa social mais democrática e menos ideológica, para ajudar a educação a cumprir um excelente papel no desenvolvimento da cidadania.