The Global Gems and Jewellery Industry Vision 2015: Transforming for Growth KPMG Report – 2005 Estudo Comentado. Circulação Restrita ao Encontro de Presidentes de Entidades de Classe do Setor Joalheiro. Gramado RS, setembro de 2007. Sumário Executivo. Nos últimos 10 anos, o setor joalheiro vem testemunhando profundas mudanças de mercado devido, principalmente aos movimentos da economia global que alteraram radicalmente a posição das peças no tabuleiro do poder internacional. Dentre estas mudanças destacamos: • Ascensão da China, Índia, Rússia e Turquia como potências emergentes no mercado de consumo e produção de jóias; • Forte aumento dos preços das matérias primas, particularmente o ouro e o diamante devido ao esgotamento das fontes de suprimento; • Lento crescimento da demanda de jóias nos principais centros consumidores mundiais; • Compressão das margens de lucratividade devido ao incremento da competição global; • Ascensão global de um consumidor mais “individualizado”, informado, exigente, que faz do consumo um ato de construção de identidade e de responsabilidade social; • Incremento da competição com outros produtos como I.Pods, produtos de marca, celulares, etc. • Pressão sobre a periodicidade de lançamentos, cada vez menor, devido ao ritmo da moda; • Crescente importância da qualidade e da garantia de teor (hallmarking) dos produtos ofertados; • Profundas alterações nos canais de distribuição com o advento da internet, da penetração das grandes cadeias de varejo como Wal Mart. Estas alterações no cenário mundial exigirão um profundo reposicionamento da cadeia de valor (gemas/ouro, indústria e varejo) do segmento de jóias nos próximos anos e todas as entidades mundiais de representação do setor estão preocupadas e atentas a estas tendências. Neste contexto a equipe técnica do IBGM – Instituto Brasileiro de Gemas e Metais Preciosos – preparou o presente documento, baseado no estudo realizado pela KPMG em 2005 e intitulado “Global Gems and Jewellery Industry – Vision 2015: Transforming for Growth” e em outras pesquisas, como forma de subsidiar o debate de um plano interno de reposicionamento da cadeia de valor do setor de jóias e gemas no Brasil. Paralelo às grandes mudanças no cenário internacional, identificadas pelo estudo da KPMG, o segmento de jóias e gemas no Brasil enfrenta outros desafios no ambiente doméstico: • Desordem na cadeia de produção e distribuição (varejo produzindo de forma crescente, o atacado vendendo como varejo, indústria abrindo lojas ou vendendo consignado); • Perspectivas concretas de um câmbio valorizado por longo período estimulando as importações ilegais; • A informalidade agravando a desordem, deprimindo e comprometendo a imagem do setor; • Forte queda e comprometimento da renda discricionária do consumidor de classe média nos últimos anos; • Forte fragmentação e dispersão da produção de gemas no país, produção esta proveniente de pequenas empresas com alto índice de informalidade nas operações e baixo nível de gestão empresarial. O Estudo da KPMG identifica os desafios correntes, recomenda estratégias para enfrentá-los e traça uma previsão de futuro para os próximos dez anos do setor. O Estudo se restringe ao segmento de jóias em ouro e jóias com diamantes que constituem 95% do mercado mundial, estimado pela KPMG em US$ 146 bilhões a preços de varejo (dados de 2005). O presente documento se orienta pelo Estudo da KPMG (anexo), à luz da realidade brasileira e recomenda algumas diretrizes estratégicas para o setor. Parte destas orientações já vem sendo implantada pelo IBGM e pelas Entidades estaduais. Perfil da Indústria de Jóias e Gemas no Mundo. Segundo a KPMG o faturamento do setor de jóias e gemas no mundo em 2005 atingiu US$ 146 bilhões com um crescimento médio de 5,2% desde 2000. O segmento de jóias com diamantes respondeu por US$ 69 bilhões (47,2% do total) e o segmento de jóias em ouro por US$ 60,7 bilhões (41,6% do total). Jóias com platina e gemas coradas responderam pelos 12% restantes.Os Estados Unidos respondem por mais de 30% do mercado de consumo mundial, seguido da China (8,9%), Índia (8,3%), Japão (8,3%) e Médio Oriente (8,9%). Principais Tendências e Cenários. Várias forças estão atuando sobre cada segmento da cadeia de valor do setor de jóias e gemas: Na Mineração: • Ouro em Alta: Os dados do Relatório GOLD do Gold Fields Mineral Services, indicam que existe um descompasso entre a oferta e a demanda de ouro no mundo. Nos últimos anos a demanda em alta vem superando a oferta em queda, de forma consistente e permanente. Segundo os especialistas, as reservas estimadas de ouro são de menos da metade de todo o ouro já produzido ao longo da história (estoque acima do solo) que, por sua vez, são estimadas em 128.000 toneladas. Destas 128.000 toneladas, 15% se perderam, 34.000 toneladas estão nos cofres dos bancos centrais e 74.000 toneladas estão imobilizadas em jóias, moedas e barras. De acordo com o USGS – existem apenas 49.000 toneladas de ouro para serem extraídas no futuro a custos crescentes devido às restrições ambientais e às dificuldades de acesso ao metal. Ao confrontarmos este dado com as estimativas de crescimento da população, de crescimento do consumo de jóias e de demanda por investimento ou hedge cambial, identificamos um poderoso obstáculo à prosperidade da indústria joalheira: uma explosão nos preços do ouro. Analistas já falam em US$ 1.000 a onça nos próximos dois anos. Nos últimos sete anos o preço do ouro saltou de US$ 270 a onça em outubro de 2000 para US$ 730 a onça em outubro deste ano, um aumento de 170%. O ouro é um ativo real que absorve um conjunto heterogêneo de forças na definição do nível de variação de suas cotações. A importância de cada fator no preço final é uma determinação dinâmica que se transforma em decorrência do momento histórico e da sociedade em observação. Tradicionalmente a instabilidade política, a desorganização da economia, as crises fiscais e cambiais são importantes estímulos altistas para o metal. Na década de 70, por exemplo, os dois choques nos preços do petróleo (1974 e 1979), as guerras no Oriente Médio, a revolução no Irã e a invasão Soviética ao Afeganistão, desencadearam uma verdadeira corrida ao ouro. Em 20 de janeiro de 1980, o preço do metal bateu seu recorde absoluto, quando a onça foi cotada à US$ 875,00 no pregão de Nova Iorque, obrigando o Federal Reserve Board e o F.M.I. a desovarem 186 toneladas do metal no mercado para conter a escalada dos preços. Essa cotação recorde de US$ 875,00 por onça, representaria, a preços de hoje o valor de US$ 2.200,00 a onça troy. • Diamantes em Alta: Os diamantes também vivenciam um descompasso entre a oferta e a demanda com o esgotamento das minas e as crescentes restrições para novos projetos. Sem um incremento na oferta, os analistas estimam que o preço dos diamantes irá dobrar em 10 anos, abrindo uma janela de oportunidade para os diamantes sintéticos, a moissanita e as gemas coradas. Na Indústria de Jóias: Aceleração dos ciclos da moda, indústria migrando para regiões de baixo custo de produção, compressão das margens de lucratividade e incremento da competição nos mercados, são as tendências predominantes no ambiente da indústria de jóias do mundo todo. No Varejo de Jóias: No varejo podemos identificar as seguintes tendências de mercado: • Individualização do consumo e ascensão de um consumidor mais educado, informado e consciente. Este consumidor exige qualidade, que respeita o meio ambiente e combate o trabalho infantil, foi sendo forjado ao longo dos últimos 50 anos através do aumento da riqueza material, do acesso a educação, da melhoria dos sistemas de saúde, da mudança na natureza do trabalho que se tornou mais abstrato, da ascensão da mulher no mercado de trabalho, da democratização da informação e da vivência de experiências de complexidade cada vez maior. O consumo passou a ser um instrumento de construção de identidade do consumidor. Progressivamente a história humana está deixando de ser “escrita com a tradição familiar”. As pessoas estão deixando de ser filho (a) de alguém para serem elas mesmas, profissional e emocionalmente, a partir de suas escolhas individuais; • Desmaterialização do produto. Atualmente, o que vende o produto é o que está ao redor dele como o ambiente da loja, o atendimento, a embalagem, o serviço associado, o apelo do marketing e a força da marca. Hoje o valor deriva de uma proposição subjetiva e não objetiva. Deriva dos significados que atribuímos às coisas (produtos) e não às coisas em si. Fazer negócios deixou de ser sinônimo de vender um produto ou serviço. Hoje fazer negócio tem a ver com defesa, relacionamento autêntico, confiança mútua, interdependência, e conhecimento íntimo; • Novas tecnologias digitais capazes de gerenciar a complexidade individual permitindo o marketing um a um; • A internet transformou em comodities muitos produtos através da automação da compra por comparação; • Clara tendência do marketing orientado pela propaganda para o marketing orientado pelas relações públicas; • Profundas mudanças nos canais de distribuição com uma maior presença das grandes redes de varejo como o Wal Mart e com o aumento das vendas por internet e pela TV. Observa-se também um movimento de grandes players como a De Beers, em direção ao varejo de luxo. O Futuro da Indústria Joalheira Global Diante dos grandes desafios que tem pela frente, a KPMG traça um cenário de modesto crescimento para o setor joalheiro nos próximos anos. Algo como um crescimento médio de 4,5% ao ano, contra um crescimento médio esperado de 10 a 15% para outros produtos de luxo. A China, a Índia, a Turquia e a Russia se consolidarão como centros de produção e consumo. Devido ao aumento nos preços, as fontes de suprimento de matérias primas tendem a se fragmentar. Este cenário de relativa mediocridade poderá ser minimizado, segundo a KPMG, se algumas recomendações forem seguidas. Neste caso os índices de crescimento poderão atingir quase 7% de média ao ano nos próximos 10 anos. Recomendações para um Futuro mais Promissor • A Concorrência dos Produtos Alternativos: de acordo com a KPMG, a principal ameaça ao setor joalheiro provém da concorrência com outros produtos de luxo e conteúdo tecnológico. Neste sentido, o setor precisa se unir para se defender e promover a joalheria como uma categoria de produto. Ainda de acordo com a KPMG, ao contrário da indústria do luxo, o setor joalheiro manteve relativamente inalterado sua proposição de valor nos últimos anos. A KPMG recomenda mais criatividade na proposição de valor, uma ação colegiada do setor, um marketing segmentado, compatível com nichos de mercado que se pretende atingir e uma melhor administração do “portfólio” de mercados que pretende atingir. • Investimento na Profissionalização, na Imagem e na Transparência das Atividades: para fazer frente aos desafios do futuro, o setor, além de se unir deverá investir na transparência de suas atividades, no profissionalismo de sua gestão, na busca de fontes de financiamento menos custosas. O setor deverá trabalhar para melhorar sua imagem tradicional, muitas vezes associadas a lavagem de dinheiro, conflitos nas regiões diamantíferas e baixa transparência em suas operações. • Investimento na Coleta e Divulgação de Dados Estatísticos: Coletar e divulgar dados estatísticos da cadeia de valor do setor será uma forma de tornar a indústria mais transparente e confiável aos olhos dos governos e da sociedade. • Profissionalização das Operações: O setor joalheiro é tradicionalmente, uma indústria familiar. Para sobreviver e crescer em um mundo brutalmente competitivo, o setor deve caminhar no sentido da profissionalização de suas atividades. A fusão de pequenas empresas em grupos maiores também será uma forma de manter a competitividade dos negócios. • Atrair Profissionais da Indústria do Luxo: Em seu processo de transformação e profissionalização, o setor deve buscar no mercado atrair talentos da indústria do luxo que, com suas experiências em gerenciamento de marcas e relacionamento com o consumidor, poderão ser muito úteis na modernização do segmento. • Redução dos Custos de Financiamento: A falta de transparência das atividades do setor compromete o acesso a fontes de financiamento de menores custos. Posições Estratégicas para Indústria. Ao final do estudo, os técnicos da KPMG discorrem sobre 03 posicionamentos estratégicos possíveis para a indústria se colocar: • “Big Brother” ou Presença ao Longo da Cadeia de Valor: Neste modelo a empresa atua de forma verticalizada, operando ao longo da cadeia de valor; • Volume Player: Opção pela especialização e pelo ganho de escala em um segmento da cadeia de valor. Este modelo exige desenvolvimento de processos e sistemas para tornar a operação eficiente; • Possession of Skills: Opção pela diferenciação do produto, pelo investimento no design e na inovação. O modelo exige alta profissionalização, flexibilidade e investimento em novas tecnologias. O Cenário Nacional. Devemos fazer uma leitura especial e analisar os impactos das previsões do estudo da KPMG para o cenário brasileiro. De acordo com a Pesquisa Nacional do Mercado Consumidor de Jóias, o faturamento do setor no Brasil encontra-se na casa dos R$ 4,2 bilhões, ou o equivalente a US$ 2 bilhões ou ainda 1,3% do mercado mundial. • O Impacto dos Custos Crescentes das Matérias Primas: Dado o fato de o Brasil ser um país emergente, com altos índices de pobreza e com uma classe média fragilizada, o aumento dos custos das matérias primas (ouro e diamantes) e consequentemente dos custos dos produtos, terá um impacto muito forte no faturamento e na saúde das empresas. Abre-se aí uma janela de oportunidade para a promoção e uso crescente de gemas coradas e materiais alternativos. • A Concorrência dos Produtos Alternativos: Através do Projeto Rumos, o IBGM, ainda que de forma modesta, vem tentando desenvolver uma estratégia para fazer frente à concorrência da indústria do luxo. Com honrosas exceções, não sentimos até o momento o devido engajamento das entidades estaduais no projeto. Faz-se necessário ainda um grande esforço no sentido de promover uma maior união do varejo em torno desta questão. A nova diretoria da Ajesp – Associação dos Joalheiros do Estado de São Paulo – priorizou esta iniciativa para os próximos três anos. • Profissionalização do Setor: Recentemente o IBGM apresentou ao SEBRAE um projeto intitulado “Capacitação Gerencial e Mercadológica para Empresas do Setor de Gemas e Metais Preciosos”. O Projeto pretende atingir, principalmente as empresas exportadoras. Será necessário, no entanto, o desenvolvimento de um programa de âmbito nacional articulado entre as diversas Associações de Classe uma espécie de MBA em Gestão para o Setor Joalheiro. A fragmentação tradicional da indústria brasileira com um grande número de pequenas empresas dificilmente sobreviverá diante de um mercado fortemente globalizado e competitivo. A opção pela fusão, aquisição, “join ventures” ou negociações com fundos de private equity, também devem ser consideradas. • Investimento na Melhoria da Imagem e na Formalização do Setor – Programa Sou Formal, Sou Legal -: Através do Programa “Sou Formal, Sou Legal” o IBGM pretende mobilizar todo o setor joalheiro no combate à informalidade presente na cadeia de produção da indústria joalheira no Brasil. Ao longo da cadeia, no entanto, encontramos diferentes realidades. A rede de médios e grandes varejistas, por exemplo, tem sido pressionada a regularizar suas atividades devido ao uso crescente do cartão de crédito que chega a 80% do faturamento. No lado oposto, as revendedoras autônomas, em sua maioria, encontram-se na informalidade. As necessidades das indústrias optantes pelo SUPER-SIMPLES não são as mesmas das indústrias que operam no lucro presumido. A mineração de gemas extremamente fragmentada e do ouro, inicio da cadeia de produção, tem problemas específicos. A estratégia, portanto é desmembrar os elos da cadeia de produção e identificar os entraves à formalização em cada um destes elos e desenvolver as melhores táticas de abordagem, de forma a identificar a menor carga tributária possível para a cadeia produtiva do setor joalheiro. • Atrair Profissionais da Indústria do Luxo: A Associação dos Joalheiros do Estado de São Paulo possui uma rica experiência de recrutamento e seleção de pessoal para a indústria e o comercio de jóias. Esta experiência consubstanciada em sua “Bolsa de Empregos” pode ser repassada para as demais Entidades de Classe do setor e direcionada para identificar e recrutar novos talentos. • Redução dos Custos de Financiamento: A falta de transparência das atividades do setor compromete o acesso a fontes de financiamento de menores custos. • Promoção das Exportações e de Novos Negócios: Criatividade, inovação e inteligência competitiva serão palavras chave para o bom desempenho nos negócios futuros. Neste sentido, o fortalecimento da parceria com a APEX, o maior envolvimento das Entidades Estaduais no Programa de Exportação e o desenvolvimento de um Núcleo de Informações e de Inteligência Competitiva no IBGM, integrado com as Associações de Classe será muito importante. O Núcleo poderia, por exemplo, produzir estudos, coletar dados estatísticos, antecipar tendências como o crescente consumo de jóias com gemas coradas no mercado americano, ou a ascensão do consumo de jóias pelo público masculino ou ainda identificar nichos de mercados importantes como o hispânico americano que está crescendo em todos os aspectos e já atingiu mais de US$ 2,5 bilhões por ano. • Integração do Setor na América do Sul – ALAJOYAS -: A integração do setor na América do Sul passou a ser um objetivo estratégico para a indústria joalheira do Brasil. Com a integração teremos uma ampliação do mercado de consumo e os correspondentes ganhos de escala.