GUIA DE PRÁTICAS PARA
PECUÁRIA SUSTENTÁVEL
GTPS - Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável
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GUIA GTPS
Capítulo 1 - Bem-Estar Na Fazenda
1. Introdução...................................................................................................04
2. Boas Práticas De Bem-Estar Animal Nas Fazendas
De Bovinos De Corte.................................................................................06
3. Como Projetar E Construir Os Currais De Manejo............................08
4. Como Realizar O Manejo Dos Bezerros Ao Nascimento.................11
5. Como Realizar A Identificação De Bovinos De Corte.......................13
6. Como Realizar A Vacinação De Bovinos De Corte............................15
7. Como Realizar O Embarque De Bovinos.............................................17
8. Como Realizar O Transporte De Bovinos............................................19
9. Outros Elementos Relevantes Para Promoção Do
Bem-Estar De Bovinos De Corte..........................................................21
10. Conclusão....................................................................................................24
11. Bibiografia...................................................................................................25
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BEM ESTAR
NA FAZENDA
Carla Ferrarini1, Fernanda Macitelli Benez2, Ricardo Baldo3,Mateus J. R. Paranhos da Costa4
Esta publicação é parte do guia para o produtor para produção pecuária sustentável do
GTPS. O guia é um conjunto de informações sobre tecnologias sustentáveis condensadas
em uma única publicação, destinado ao setor produtivo, pecuaristas de corte e leite do país,
estudantes de ciências agrárias, consultores, técnicos agropecuários e extensores rurais
interessados em como produzir e manejar animais para corte e leite de forma sustentável
financeira-econômica, social e ambiental para esta e futura gerações.
1. Zootecnista, integrante do Grupo ETCO.
2. Zootecnista, Professora da Universidade Federal de Mato Grosso, Campus de Rondonópolis, integrante do Grupo ETCO e pecuarista
3. Engenheiro Agrônomo, diretor técnico da Somma+ Consultoria Agropecuária
4. Zootecnista, Professor da Universidade Estadual Paulista, Campus de Jaboticabal. Coordenador do grupo ETCO. Pesquisador do CNPq
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1. INTRODUÇÃO
O Brasil tem sido palco de debates, estudos e projetos que têm como objetivo a difusão e
aplicação de sistemas sustentáveis na produção pecuária. Isto ocorre principalmente devido à vasta
extensão territorial do país que dedicada à produção agropecuária (principalmente à criação de bovinos
de corte) e a grande participação das cadeias produtivas de carnes (de bovinos, aves e suínos) no
comércio internacional brasileiro. Esses debates têm promovido a conscientização dos consumidores
e produtores sobre a necessidade de adoção de sistemas sustentáveis de produção, em particular com
relação às práticas do bem-estar animal, decorrente das pressões da sociedade sobre as questões éticas
envolvidas na produção animal, mas também por interesse econômico, devido a perdas quantitativas e
qualitativas de carnes decorrentes de falhas de manejo.
Segundo a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE, 2008), bem-estar animal é um tema
complexo, envolvendo questões científicas, éticas, culturais e políticas. Esta complexidade torna difícil
o consenso na formulação de uma única definição de bem-estar animal. A mais abrangente (e também
a mais aceita) foi descrita por Broom (1986), sendo caracterizado como “o estado do organismo nas
suas tentativas de se ajustar ao seu ambiente”. Esta definição, certamente, serviu de base para o
posicionamento da OIE sobre a questão do bem-estar animal, que considera que “um animal está em
bom estado de bem-estar se (segundo evidências científicas) está saudável, confortável, bem nutrido,
seguro, se comportando naturalmente e se não estiver sofrendo com sensações desagradáveis como
a dor, o medo e o estresse” (OIE, 2008), destacando que “um bom estado de bem-estar animal exige
prevenção de doenças e tratamento veterinário apropriado, abrigo, gerenciamento e nutrição, técnicas
humanitárias de manejo e abate”. Destaque para a conclusão da OIE de que o “bem-estar animal se
refere ao estado do animal” (conforme descrito por Broom) e que “o tratamento recebido por eles é
coberto por outros termos, tais como: cuidado, manejo e tratamento humanitário”.
Tratando-se de animais de produção, deve-se considerar também que o bom desempenho
depende diretamente do estado de bem-estar dos mesmos. Os que não estão em boas condições de
bem-estar não são capazes de expressar seu potencial produtivo. Entretanto, apenas a expressão de
boas respostas produtivas não é suficiente para caracterizar que o animal está bem. Assim, para que
se tenha uma definição segura do estado de bem estar dos animais é necessário que sejam utilizados
outros indicadores, que podem ser definidos com base em informações do ambiente de criação e dos
próprios animais, sendo que estas últimas são aquelas que proporcionam uma avaliação mais precisa.
Por exemplo, podemos avaliar se as condições de alimentação são boas com medidas de quantidade
e qualidade do alimento oferecido, em conjunto com avaliações de escores de condição corporal dos
animais. Da mesma forma podemos analisar sua saúde com base na frequência de uso de medicamentos,
porém esta avaliação será mais precisa quando realizados exames clínicos nos mesmos.
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De maneira geral, na cadeia produtiva da bovinocultura de corte, há uma grande atenção aos
índices produtivos, com os produtores considerando apenas os ganhos efetivos, sem considerar as
perdas (o que deixam de ganhar). Por exemplo, os produtores raramente levam em conta as perdas
decorrentes da presença de hematomas nas carcaças e também são negligenciadas as perdas de peso
por falta de um atendimento médico veterinário adequado, ou ainda os custos causados por acidentes
de trabalho resultantes de instalações precárias e de falhas de manejo.
Cabe aos produtores ficarem atentos ao crescente interesse da sociedade em relação à questão
do bem-estar dos animais de produção e, em particular, sobre as ações da sociedade civil organizada,
representada pelas organizações não governamentais que militam na área da proteção animal, que têm
exercido crescente pressão sobre as cadeias produtivas de carnes, demandando produtos mais seguros,
que tenham algum controle de origem (rastreabilidade) que permita resgatar informações sobre onde e
como os animais foram criados, que tipo de alimentação eles receberam, se tiveram suas necessidades
atendidas e se o abate foi feito de forma adequada (sem resultar em sofrimento desnecessário). Essas
demandas têm pressionado a cadeia produtiva da carne bovina a reestruturar os sistemas de produção
tradicionalmente utilizados, sendo a opção por sistemas sustentáveis de produção, que tenham em
conta o bem-estar animal, o caminho mais indicado.
Neste capítulo, serão abordadas algumas boas práticas de bem-estar no manejo de bovinos
de corte, que têm como objetivos a redução do estresse e do risco de acidentes, além de melhorar a
imagem da cadeia produtiva da carne bovina junto à sociedade. Para que estes fatores sejam alcançados
devemos assegurar boas condições de vida e de trabalho para as pessoas responsáveis pelos cuidados
com o gado, além de oferecer oportunidades para aprimoramento profissional através de treinamentos
sobre a melhor forma de realizar os manejos com os animais.
Jaime Souza – Projeto Pecuária Verde
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2. BOAS PRÁTICAS DE BEM-ESTAR ANIMAL NAS FAZENDAS DE
BOVINOS DE CORTE
A rotina de trabalho, em uma fazenda de bovinos de corte, envolve a execução de vários processos
como, por exemplo, vacinação, desmame, identificação e inseminação, dentre outros; apresentando
diferentes graus de complexidade para sua realização. Independentemente do processo a ser realizado
é fundamental que seja precedido de um bom planejamento, de forma a evitar acidentes, perdas de
tempo e estresse para as pessoas e animais envolvidos na atividade. Assim, antes da execução de
qualquer processo tome as seguintes iniciativas:
1. Estabeleça um calendário de atividades da fazenda, definindo previamente quando cada um dos
processos deve ser realizado. Escolha a melhor data para a execução do trabalho e faça uma
previsão de quantas pessoas serão necessárias para realizá-lo, além de definir quais animais
serão submetidos ao manejo. Ressalta-se que, no caso do processo de vacinação, por exemplo,
deve-se respeitar o calendário oficial da região, enquanto que para a realização do processo de
embarque o planejamento deve prever que todos os documentos necessários (como GTAs, notas
fiscais, DIAs, etc) estejam preparados antes de iniciar o embarque. Além disso, tomar cuidado para
não sobrecarregar a equipe de trabalho com o agendamento de atividades concomitantes, que
resultem em estresse para os trabalhadores e para os animais.
2. Defina quem será a pessoa responsável pela coordenação dos trabalhos. Um dos integrantes
da equipe deve ser designado para ser o coordenador geral, assumindo a responsabilidade de
planejar, agendar e liderar o processo a ser trabalhado. Esta pessoa deve assegurar que tudo esteja
em ordem para a realização do trabalho, checando a disponibilidade e condições dos materiais
necessários para fazê-lo, bem como pela preparação da instalação e equipamentos, orientação da
equipe e liderança do processo como um todo.
3. Disponibilize os recursos necessários para um trabalho eficiente. Antes de cada manejo, certifiquese de que todos os recursos necessários para tal estejam disponíveis na quantidade certa e no dia
correto, bem como os equipamentos em boas condições de uso. Para realização dos processos
que necessitam do curral é extremamente importante a utilização do tronco de contenção, que
também deve estar em boas condições de uso e ser utilizado de maneira correta, reduzindo os
riscos de acidentes e estresse para os vaqueiros e os animais. Dentre os recursos necessários para
a realização dos trabalhos deve-se considerar que os equinos e muares, geralmente, utilizados no
manejo com o gado, devem apresentar boas condições de saúde, serem calmos e bem treinados.
Certifique-se que a fazenda tenha número adequado desses animais, como também que os mesmos
estejam bem nutridos e possuam um local de descanso confortável e alimento de qualidade.
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4. Ofereça boas condições de vida aos trabalhadores. Todos os funcionários da fazenda (permanentes
ou temporários) devem sentir que seu trabalho é valorizado, portanto, elogie-os em momentos
oportunos pelo bom desempenho nas realizações de suas tarefas, capacite-os sempre que possível
com materiais, palestras e cursos, ou mesmo com orientações simples sobre temas importantes
para a realização dos trabalhos. Certifique se sua moradia está em boas condições, e se sua família
está satisfeita com as condições que a fazenda oferece. Caso seja necessário repreender um dos
trabalhadores, faça-o com educação e de preferência a sós. Lembre-se de que a eficiência da
produção pecuária depende diretamente da forma com que os trabalhos são realizados.
5. Descreva detalhadamente como cada um dos processos deve ser conduzido. Uma das formas de
se fazer isto é com a definição de procedimentos operacionais padrão (POPs) para cada um dos
processos realizados na fazenda. Trata-se de uma ferramenta gerencial que tem como objetivo
garantir, mediante padronização, os resultados esperados para cada tarefa executada (Colenghi,
2007). O POP é um instrumento de orientação, preparado para as pessoas que irão executar a
tarefa, portanto, deve ser elaborado com a participação delas. O ideal é que possa ser testado
e revisado antes de sua adoção para a orientação das rotinas de trabalho. Os itens que devem
compor um POP são: 1) Nome da tarefa pertinente ao POP, por exemplo, manejo dos bezerros
recém-nascidos da “Fazenda Modelo”; 2) objetivo do POP, deixando clara a utilidade dele e o
que se espera com a sua adoção; 3) materiais de referência, informando onde os trabalhadores
poderão encontrar informações mais detalhadas sobre os procedimentos a serem realizados,
por exemplo, nos manuais de boas práticas de manejo ou em bulas de medicamentos; 3) equipe
responsável pela realização do trabalho, com a definição da pessoa encarregada de coordenálo; 4) recursos necessários para a realização do trabalho, detalhando quais são os equipamentos
e recursos necessários para a boa execução da tarefa; 5) local onde será realizada a tarefa; 6)
caracterização de pontos críticos e descrição de cuidados especiais (alertas) que devem ser
tomados para minimizar os riscos de acidentes e de comprometimento do trabalho a ser realizado;
7) descrição detalhada dos procedimentos a serem realizados, de forma que as tarefas possam
ser bem executadas, de acordo com a melhor sequência operacional; 8) resultados esperados,
informando as metas que devem ser alcançadas.
Como caracterizado acima para a definição dos POPs devemos considerar os recursos disponíveis e as
condições de trabalho do local onde a tarefa será realizada (fazenda ou retiro), portanto as recomendações
serão específicas para cada situação avaliada. Entretanto, há elementos comuns a todas as fazendas que
devem ser considerados na elaboração dos POPs, esses elementos são normalmente apresentados na
forma de manuais de boas práticas de manejo. A seguir, apresentaremos algumas recomendações sobre
a melhor forma para planejar e construir currais e manejos, bem como sobre uma descrição resumida
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de como realizar alguns processos que fazem parte das rotinas das fazendas de bovinos de corte, dentre
eles o manejo dos bezerros recém-nascidos, a identificação, a vacinação, o embarque e o transporte,
como apresentado na série de manuais produzidos pelo grupo ETCO.
3. COMO PROJETAR E CONSTRUIR OS CURRAIS DE MANEJO
O curral de manejo tem como função facilitar o trabalho com o gado e é nele que realizamos a maioria dos
manejos nas fazendas de bovinos de corte, dentre eles identificação, pesagem, vacinação e inseminação
artificial, dentre outros. Para que esses (e outros) trabalhos sejam executados com eficiência, os currais devem
ser bem projetados e estar em boas condições de uso. A seguir reproduzimos um resumo das recomendações
de como planejar e construir um curral para o manejo de bovinos de corte, como descrito por Quintiliano,
Pascoa e Paranhos da Costa (2014, p. 51-53) no manual de Boas Práticas de Manejo: Curral Projeto e Construção.
Planejamento e construções de currais passo a passo
1 - Antes de iniciar a construção do curral estude bem o posicionamento de suas estruturas em relação
aos ângulos do sol para reduzir situações de contrastes entre claro e escuro.
2 - Quando necessário use telhas transparentes ou iluminação artificial para evitar áreas muito escuras
ou sombras.
3 - Evite construir estruturas com curvas ou cantos com ângulos fechados, sempre que possível use
formas arredondadas, que suavizam as curvas e os cantos.
4 - Construa o curral em local de fácil acesso, sobre terreno com boa drenagem e com declividade que
facilite o escoamento de água, sem risco de causar erosão. Evite terrenos com afloramentos rochosos.
5 - Dimensione o curral de acordo com as necessidades de manejos, não utilize as estruturas do curral
para manter os bovinos presos.
6 - Construa piquetes no entorno do curral, que devem ter boa disponibilidade de forragem, água de boa
qualidade, cochos para fornecimento de suplementos e sombra.
7 - Faça uso alternado dos piquetes, evitando a degradação das pastagens.
8 - As dimensões das estruturas do curral devem ser feitas considerando os animais de maior tamanho
presentes na fazenda.
9 - Defina os materiais que serão utilizados na construção do curral tendo em conta a sua disponibilidade,
custo e resistência. Priorize o uso de materiais de boa qualidade para reduzir os custos com
manutenção e reformas.
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10 - Evite a ocorrência de quinas salientes e a exposição de pontas de parafusos, pregos, fios e de outros
objetos pontiagudos.
11 - Os currais devem ter as seguintes estruturas: remangas, mangas, corredores, embutes, seringa,
tronco coletivo, tronco de contenção, apartadouros e embarcadouro.
12 - As remangas servem para facilitar a condução dos animais dentro do curral e para acomodá-los
enquanto esperam pelo final do manejo, quando não houver piquetes em seu entorno.
13 - As cercas das remangas podem ser feitas de arame liso, com 5 fios e devem ter entre 1,3 e 1,5 m de altura.
14 - As porteiras das remangas devem ser posicionadas nos cantos e devem abrir preferencialmente para
os dois lados.
15 - Com exceção das cercas das remangas, todas as cercas do curral devem ter, no mínimo, 1,8m de altura.
16 - As mangas servem para acomodar pequenos grupos de animais, seu número, formas e dimensões
devem ser definidos com base nos manejos a serem realizados.
17 - Os corredores devem ter pelo menos 3,2 m de largura, evitando curvas fechadas e cantos vivos e
devem ser posicionados de forma a facilitar o manejo.
18 - A parte final do corredor que faz a transição entre as mangas e a seringa pode ser usada como embute.
Para tanto, posicione uma porteira a 6,0 m de distância do início da seringa, feche as laterais do corredor
e instale uma passarela externa para que a condução dos animais seja feita pelo lado de fora. Estas
devem ter pelo menos 80 cm de largura e “guarda corpo” (com 1,0 m de altura) em toda sua extensão.
19 - O embute é geralmente posicionado na entrada da seringa (ou em qualquer outro ponto
estratégico do curral) com a finalidade de realizar apartações. Dimensione o embute com área
duas vezes maior que a da seringa.
20 - A seringa serve para facilitar a entrada dos animais no tronco coletivo, podendo ter formatos
triangulares ou circulares. Prefira seringas circulares, elas evitam a formação de cantos e dispõe de
uma ou duas porteiras giratórias, facilitando a condução dos bovinos.
21 - O tronco coletivo deve manter os animais enfileirados, evitando que se virem durante o manejo. A
sua largura deve ser definida com base na maior categoria animal criada na fazenda, em rebanhos
comerciais, geralmente é usado o de 80 cm de largura.
22 - As paredes do tronco coletivo podem ser construídas a prumo (quando a base e topo têm a mesma
largura) ou inclinadas (quando a base é mais estreita que o topo, dando a forma de “V”).
23 - Troncos coletivos podem ser curtos, sendo projetados para caber apenas um (com 3,0 m de
comprimento) ou dois animais ao mesmo tempo (com 6,0 m de comprimento).
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24 - O tronco de contenção é um equipamento usado para restringir os movimentos dos bovinos,
dispondo de estruturas que servem para imobilizar a cabeça e o corpo do animal.
25 - Há três tipos de apartadouros (“ovo”, em linha e de canto) que servem para separar grupos de
animais. Todos eles devem ter as laterais fechadas.
26 - O embarcadouro é um corredor com uma rampa no final, que permite aos animais alcançarem
o piso do compartimento de carga. Ele deve ter entre 80 e 90 cm de largura, dependendo do
tamanho médio dos animais.
27 - Quanto menor, a declividade da rampa de embarque, melhor; sendo recomendado não passar de 25°.
28 - Os projetos de curral devem contemplar a construção de banheiros e salas para o armazenamento
de materiais e de equipamentos.
29 - Instale calhas para captar a água da chuva que cai sobre o telhado do curral, para minimizar a
formação de lama.
30 - Faça manutenções periódicas no piso do curral. Quando necessário faça a reposição da terra nas
áreas com buracos ou depressões.
31 - Considere a possibilidade de pavimentar o piso do curral. Evite usar pedras e paralelepípedos, que
aumentam os riscos de escorregões, quedas e machucados os cascos dos animais.
32 - Antes de iniciar a reforma de um curral, identifique os pontos críticos e oriente a reforma com base
nesse levantamento. Nas fazendas de cria, o ideal é que cada vaca desmame um bezerro saudável
por ano. Apesar deste alto nível de eficiência (100%) ser muito difícil de ser alcançado, devemos
realizar nosso trabalho de forma a ficar muito próximo dele. Para tanto, deve-se dar atenção especial
aos cuidados com os bezerros recém-nascidos, de forma a minimizar os riscos de morte, além de
proporcionar condições para que tenham um bom desenvolvimento.
Figura 2. Exemplo de um curral com piquetes no entorno.
Fonte: Manual de Boas Práticas de Manejo Curral
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4. COMO REALIZAR O MANEJO DOS BEZERROS
AO NASCIMENTO
Nas fazendas de cria, o ideal é que cada vaca desmame um bezerro saudável por ano. Apesar deste alto nível
de eficiência (100%) ser muito difícil de ser alcançado, devemos realizar nosso trabalho de forma a ficar muito
próximo dele. Para tanto, deve-se dar atenção especial aos cuidados com os bezerros recém-nascidos, de forma
a minimizar os riscos de morte, além de proporcionar condições para que tenham um bom desenvolvimento.
O acompanhamento da primeira mamada (na tentativa de assegurar que ela ocorra logo após o parto) e o
bom manejo de cura do umbigo são cuidados essenciais para garantir a saúde e sobrevivência dos bezerros,
e esses manejos são de responsabilidade do “materneiro”, que é o vaqueiro responsável pelos trabalhos na
maternidade. A seguir são apresentadas as recomendações, na forma de passo a passo, sobre o trabalho do
“materneiro”, apresentando algumas recomendações de como manejar os bezerros ao nascimento de forma
eficiente, como descrito por Paranhos da Costa, Schmidek e Toledo (2006, p. 32-33) no Manual de Boas
Práticas de Manejo: Bezerros ao Nascimento.
O manejo de bezerros recém-nascidos passo a passo
1 - Vistorie o local da maternidade antes do início das parições, tape buracos e assegure-se de que cercas
e bebedouros estejam em ordem.
2 - Providencie os equipamentos e materiais que serão utilizados na identificação e no cuidado com
os bezerros (medicamentos, tatuador, pasta para tatuagem, aplicador de brincos, brincos, tesoura,
pinça, agulhas, balança, etc.).
3 - Separe as vacas em final de gestação, levando-as aos pastos maternidade um mês antes da data
provável do parto.
4 - O ideal é as novilhas em um pasto, separadas das demais matrizes.
5 - Defina quem será o responsável pelo acompanhamento dos partos, o materneiro.
6 - Visite o pasto maternidade pelo menos duas vezes ao dia (pela manhã e pela tarde).
7 - Leve sempre uma caderneta para anotações de campo e lápis ou caneta.
8 - Esteja atento às dificuldades de parto, rejeição da cria e bezerro fraco, registre o fato e comunique o
administrador ou o veterinário para que sejam tomadas as providências necessárias.
9 - Registre na caderneta qualquer problema ocorrido (frio, chuva, ataque de urubus, troca de piquetes, etc.).
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10 - Não maneje bezerros recém-nascidos, faça-o de preferência após 6 horas do nascimento. Quando
for detectado algum problema, aja imediatamente.
11 - Contenha o bezerro, segurando-o pela virilha e pescoço. Não o jogue no chão! Levante-o um pouco
e apoie-o na perna fazendo-o escorregar até o solo.
12 - Cuide do cordão umbilical.
13 - Identifique o bezerro, preferencialmente com uso de tatuagem. 14- Pese o bezerro sempre que possível.
15 - Observe se o bezerro ingeriu o colostro e em caso negativo, ajude-o a mamar. Anote na caderneta as
prováveis causas (tetos e úbere grandes, bezerro fraco, rejeição materna). Estes animais devem ser
ajudados até que consigam mamar por conta própria.
16 - Mantenha a rotina de visitas diárias, ou com a maior frequência possível, para diagnosticar qualquer
problema como bezerros fracos, apartados, com diarreia, etc.
É importante considerar que o cordão umbilical deve ser cortado apenas quando for muito comprido, deixando-o
com pelo menos 4 cm. Ao cuidar do umbigo não puxe pelo cordão e nem desperdice medicamento, o correto é
segurar a pele em volta do cordão umbilical e despejar o medicamento na inserção deste com a pele.
Figura 3. Maneira adequada de segurar um umbigo ecurá-lo
Fonte: Grupo ETCO
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5. COMO REALIZAR A IDENTIFICAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE
A identificação dos animais é uma importante ferramenta de gestão em fazendas que se dedicam à produção
de bovinos de corte, pois facilita a tomada de decisões com base no monitoramento individual do ganho
de peso, reprodução e mortalidade, dentre outros. Assim, a identificação dos animais facilita a prevenção
ou solução de problemas que ocorrem na rotina de trabalho das fazendas de bovinos de corte. Existem
várias métodos que podem ser usados na identificação, dentre eles destacam-se a tatuagem, os brincos de
identificação e a marcação a fogo.
O manejo de identificação causa estresse nos animais, sendo alguns métodos, como a marcação a fogo, não
recomendados do ponto de vista do bem-estar animal. No entanto, muitas vezes sua utilização é necessária
ou mesmo obrigatória, como no caso da identificação de bezerras que foram vacinadas de brucelose e
na identificação de animais para registro em associações de criadores. Nesses casos, o cuidado deve ser
redobrado, para minimizar o estresse que é inerente ao manejo. Independente do tipo de identificação a
ser utilizada, deve-se tomar cuidados especiais para que ela seja única (sem duplicidade de identificação no
rebanho) e positiva (quando o número ou código de identificação é registrado corretamente, sem trocas ou
inversões). Para tanto os procedimentos de identificação devem ser realizados com calma e atenção, como
recomendado no manual de Boas Práticas de Manejo: Identificação (Schmidek, Durán e Paranhos da Costa,
2009, p.36-37), cujo resumo é reproduzido a seguir.
A identificação passo a passo
1 - O manejo de identificação deve ser feito com planejamento e organização.
2 - Defina previamente o tipo de identificação a ser utilizado, onde o trabalho será realizado, quais
animais serão identificados e quem será o responsável pelo trabalho.
3 - Verifique com antecedência se as instalações, equipamentos e materiais estão disponíveis, limpos e
em boas condições de uso. Utilize sempre equipamentos e materiais de boa qualidade.
4 - Os responsáveis pelo manejo devem estar bem treinados e orientados sobre os procedimentos para
a identificação dos bovinos.
5 - Antes de iniciar o trabalho, defina as funções de cada integrante da equipe.
6 - Defina um ritmo de trabalho para assegurar que a identificação será bem feita. Não tenha pressa,
realize-o com muita calma e atenção.
7 - Com exceção dos bezerros recém-nascidos, todos os animais devem ser conduzidos ao curral para
realizar a identificação; de preferência, utilizando um tronco de contenção. Só realize a identificação
com o animal bem contido.
8 - Conduza os animais para o curral com cuidado, sem correr nem gritar.
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9 - Organize os números (ou códigos) de identificação para facilitar sua utilização.
10 - Evite erros! Esteja certo de que o código de identificação é o correto antes de aplicá-lo no animal.
11 - Monitore os animais regularmente após a identificação, faça-o de forma mais frequente nas
primeiras semanas e em situações de maior risco de bicheiras
12 - No caso do animal estar muito agitado, espere um pouco para que ele se acalme antes de
posicionar a marca.
13 - No caso de ocorrência de bicheiras ou inflamações, trate o animal o quanto antes, seguindo as
recomendações do veterinário
A tatuagem
14 - Não tatue em cima das nervuras nem em áreas com veias grossas e com muitos pelos.
15 - Limpe bem o local da orelha onde será aplicada a tatuagem.
16 - Passe a tinta no local que será tatuado. A área coberta pela tinta deve ser maior que a tatuagem.
17 - Use tinta preta para animais com a pele clara e verde para os de pele escura.
18 - Posicione o alicate tatuador no local correto. Pressione até furar a cartilagem da orelha.
19 - Retire o alicate tatuador com cuidado. Passe mais tinta sobre a tatuagem, esfregando suavemente.
A aplicação de brincos
20 - É recomendado fazer a aplicação de brincos em meses mais frios e secos.
21 - Em períodos de chuva e calor, recomenda-se furar a orelha do bezerro antes da aplicação do brinco,
o furo deve ser de 6 mm. Coloque o brinco apenas após a cicatrização do furo.
22 - O alicate aplicador deve ficar na posição vertical (“em pé”), evite a posição horizontal (“deitado”).
23 - Aplique o brinco na parte central da orelha e entre as duas nervuras principais.
A marcação a fogo
24 - Não realize a marcação a fogo em dias de chuva, nem em animais com os pelos molhados ou sujos
de lama ou excrementos.
25 - O ferro deve estar bem quente, em brasa (vermelho).
26 - Posicione a marca de maneira firme no local correto e pressione, sem muita força, por alguns
segundos. Não faça movimentos bruscos.
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6. COMO REALIZAR A VACINAÇÃO DE BOVINOS DE CORTE
A vacinação tem a função de prevenir ou erradicar doenças, assegurando boas condições de saúde aos
animais, minimizando riscos de prejuízos econômicos.
O procedimento de vacinação é pela sua natureza uma prática aversiva para os animais, portanto deve ser
realizado com cuidado e atenção, de forma a minimizar o estresse inerente a este manejo. A recomendação
do manejo racional na vacinação consiste em vacinar os bovinos individualmente, contendo-os um a um no
tronco de contenção. Quando o procedimento é realizado com cuidado há menor risco de acidentes com
os vaqueiros e com os animais, bem como maior eficiência na realização do trabalho. A vacinação no tronco
de contenção garante que o bovino recebeu a dosagem correta da vacina ou medicamento, resultando em
menor perda de vacinas e no número de abcessos e contusões.
Ao contrário que muitos pensam, a vacinação individual não implica em aumento no tempo para realizar o
trabalho quando comparado com a vacinação dos animais no tronco coletivo, isto porque os problemas de
manejo (p.ex. animais deitados e equipamentos quebrados, dentre outros) são muito reduzidos quando a
vacinação é feita com os animais contidos.
A seguir é apresentado o passo a passo para a vacinação, como descrito no manual de Boas Práticas de
Manejo – Vacinação (Paranhos da Costa, Macedo de Toledo e Schmidek, 2006, p.26-27).
A vacinação passo a passo
1 - Antes de começar a vacinação, deixe tudo preparado. Leve as vacinas para o curral dentro da caixa
térmica, leve também os equipamentos necessários para a vacinação e esterilização das agulhas.
Ponha tudo sobre uma mesa em local seguro e protegido do sol (caso a vacinação dure o dia todo,
talvez seja preciso mudar o local da caixa no período da tarde). Prepare as seringas e agulhas e ponha
água para ferver. Carregue duas seringas e coloque-as dentro da caixa térmica em posição horizontal,
até o início da vacinação .
2 - Reúna os animais, levando-os ao brete ao passo, sem gritos e sem choques (repetir este procedimento
quando faltarem dois animais para entrar no tronco de contenção).
3 - Não encha o brete a ponto de apertar os animais, tampouco as mangas (os animais devem ocupar no
máximo metade do espaço da manga).
4 - Quando estiver tudo pronto, conduza o primeiro animal ao tronco de contenção. Conduza um de cada
vez e sempre ao passo.
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5 - Antes de conter o animal com a pescoceira, feche a porteira da frente do tronco de contenção.
6 - Feche as porteiras sem pancadas.
7 - Contenha o animal com a pescoceira, sem golpes e preferencialmente quando ele estiver parado.
8 - Abra a porta (ou janela) imediatamente atrás da pescoceira (use o lado que for mais conveniente e
confortável) para aplicar a vacina. Nunca enfie o braço por entre as travessas do tronco de contenção.
9 - Aplique a vacina no pescoço. Para aplicação subcutânea, posicione a seringa na posição paralela ao pescoço
do animal, puxe o couro, introduza a agulha e aplique a vacina. Para vacina intramuscular, mantenha a
seringa na posição perpendicular ao pescoço do animal, introduza a agulha e injete a vacina.
10 - Após a aplicação, feche a porta (ou janela), solte a pescoceira e só então abra a porteira de saída.
11 - Solte o animal já vacinado e contenha o próximo animal.
12 - O ideal é que o animal saia direto em uma manga ou piquete com água e sombra e, se possível, que
encontre ali uma recompensa na forma de alimento.
13 - Quando a carga da seringa acabar, retire a agulha, coloque-a na vasilha com água. Pegue uma agulha
limpa (já seca e fria) e coloque-a na seringa. Abasteça e coloque-a na caixa térmica em posição horizontal.
Pegue a seringa carregada que ficou em descanso na caixa. Feche bem a tampa da caixa térmica. Esteja
certo de que há gelo dentro da caixa térmica, garantindo a temperatura correta (de 2 a 8 ºC).
14 - Preste atenção na água usada para desinfecção das agulhas, mantenha sempre o nível correto,
repondo-a quando necessário. Caso a água fique suja, realize sua troca por completo.
15 - Ao final de um período de trabalho, ponha as agulhas em água fervente por 15 minutos. Retire as
agulhas esterilizadas da vasilha com água fervente, colocando-as sobre papel absorvente limpo e
seco. Cubra com outra folha de papel.
16 - Ao final do trabalho, faça o possível para passar os animais novamente pela seringa, brete e tronco
de contenção.
Jaime Souza – Projeto Pecuário Verde
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7. COMO REALIZAR O EMBARQUE DE BOVINOS
O embarque também deve ser realizado com cuidado para reduzir o risco de acidentes de trabalho e de
ocorrência de hematomas nas carcaças. O manejo de embarque não se limita ao procedimento de colocar
os bovinos dentro dos caminhões boiadeiros, ele inclui também a manutenção de estradas, instalações e
equipamentos, bem como a formação dos lotes que serão embarcados e a preparação dos documentos
necessários para o transporte.
Assim, para a aplicação das boas práticas de manejo no embarque é necessário realizar um bom planejamento,
uma vez que as atividades preparatórias do embarque começam muito antes do caminhão boiadeiro chegar
à propriedade. A seguir são apresentadas, na forma de uma descrição passo a passo, as ações que devem
ser tomadas para a adoção das Boas Práticas de Manejo no Embarque (Paranhos da Costa, Spironelli e
Quintiliano, 2008, p.33-34).
O embarque passo a passo
1 - Faça um bom planejamento de todas as atividades necessárias para o embarque.
2 - Certifique-se de que os documentos necessários para o transporte estão em ordem.
3 - Planeje a chegada dos caminhões na propriedade de forma a evitar longas esperas pelos motoristas.
4 - Assegure-se de que as estradas de acesso ao curral estão em boas condições para o trânsito dos
caminhões, caso contrário providencie os reparos necessários ou organize-se para dar apoio aos
motoristas nos trechos com problema.
5 - Certifique-se de que as instalações e equipamentos estejam em boas condições para o trabalho.
6 - Organize o manejo de embarque, definindo as funções de cada vaqueiro.
7 - Assegure-se de que o número de pessoas é suficiente para realizar bem o trabalho. Defina também a
pessoa que será a responsável pelo embarque.
8 - Quando for embarcar poucos animais de um lote (50% ou menos) faça a apartação no local (pasto
ou piquete) onde eles se encontram e conduza ao curral apenas os animais que serão embarcados.
9 - Quando for embarcar a maioria dos animais do lote (acima de 50%) conduza todos ao curral de
manejo e faça a apartação.
10 - Conduza os animais sempre com calma, mantendo um vaqueiro como ponteiro.
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11 - No caso de animais alojados em pastos muito distantes do curral de manejo, conduza os animais
para pastos mais próximos, com pelo menos um dia de antecedência.
12 - Distribua os lotes nas mangas do curral, deixe pelo menos metade da área da manga ou remanga
livre, isto facilita o manejo e é menos estressante para os animais.
13 - O curral é um local de trabalho, por isso minimize o tempo de permanência dos animais dentro do
mesmo.
14 - Não embarque os animais logo após longas caminhadas.
15 - No caso de pesar os animas antes do embarque, faça-o com cuidado e tranquilidade.
16 - Aproveite o manejo de pesagem para apartação e formação dos lotes para embarque.
17 - Forme os lotes de embarque de acordo com a capacidade do caminhão ou carreta.
18 - Não deixe os animais sem água, principalmente os que estão esperando para serem embarcados.
Utilize piquetes próximos ao curral com água e sombra disponíveis.
19 - Não deixe para identificar os animais (colocação de brincos) destinados ao abate, minutos antes de
realizar o embarque.
20 - Não misture animais de diferentes lotes ou categorias.
21 - Verifique as condições dos caminhões (manutenção e limpeza). Só proceda ao embarque quando
tudo estiver em ordem.
22 - Os vaqueiros são responsáveis pela condução e embarque dos animais.
23 - Respeite a capacidade de carga de cada compartimento do caminhão, tenha em conta a categoria
dos animais que serão embarcados.
24 - Conduza ao embarcadouro o número exato de animais para cada compartimento de carga.
25 - Caso um animal se recuse a embarcar, tenha calma, nunca agrida-o com paus ou pedras. Utilize o
bastão elétrico com voltagem e amperagem adequadas somente em situações críticas.
26 - Nunca arraste um animal para o embarque.
27 - Acomode o grupo de animais em cada compartimento de carga.
28 - Depois de completar um compartimento, feche-o e repita o processo até completar a carga.
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Figura 4. Modelo de embarcadouro com sugestões de medidas.
Atenção para a presença de passarela externa, laterais fechadas e última parte do
embarcadouro em nível (com 1,40 m de altura, que é a altura da maioria dos pisos
dos compartimentos de cargas dos caminhões boiadeiros).
Fonte: Paranhos da Costa, Spironelli e Quintiliano (2008).
8. COMO REALIZAR O TRANSPORTE DE BOVINOS
Milhares de bovinos são transportados todos os dias em nosso país, sendo os abatedouros o principal destino.
O transporte de bovinos é caracterizado pela sua complexidade, envolvendo elementos de responsabilidade
das fazendas, das transportadoras e dos frigoríficos. Isto é potencialmente estressante para os bovinos,
mesmo quando realizado em boas condições e em viagens curtas. A intensidade desse estresse é variável,
dependendo do estado físico dos animais, do clima, da duração da viagem e das condições de manejo,
dos veículos e das estradas. A seguir são apresentadas as recomendações de Boas Práticas de Manejo no
Transporte, conforme descrito por Paranhos da Costa, Quintiliano e Tseimazides (2010 p.52-54).
Transporte de bovinos passo a passo
1 - Tenha em mãos os planos de viagem e para situações de emergência.
2 - O veículo deve estar limpo e em boas condições de uso.
3 - O piso do compartimento de carga deve dispor de tapete de borracha e estrutura antiderrapante.
4 - Os caminhos de acesso às fazendas devem estar em boas condições e quando não estiverem, dê
apoio aos motoristas.
5 - Ofereça condições para atender às necessidades dos motoristas antes de embarcar os animais.
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6 - Certifique-se de que todos os documentos estão em ordem.
7 - Estacione o veículo corretamente, sem deixar espaços com o embarcadouro.
8 - Embarque o número correto de animais por compartimento de carga. Evite embarcar animais
cansados, machucados ou doentes.
9 - Não inicie a viagem logo após o embarque. Retire o veículo do embarcadouro, estacione em um
local plano e faça a primeira vistoria. Se houver animais deitados, levante-os. Se houver animais
agressivos, mude-os de compartimento ou amarre-os.
10 - Quando necessário, amarre os animais pelos chifres ou use um cabresto, nunca amarre pelo pescoço.
11 - Vá devagar nos primeiros 15 a 20 minutos da viagem, dirija com cuidado, evite brecadas e
movimentos bruscos. Pare o veículo e verifique se todos os animais estão em pé. Se houver animais
caídos ou deitados, levante-os.
12 - Estimule o animal a se levantar falando ou batendo palmas. Não grite nem assuste-o. Após duas ou
três tentativas, use o choque.
13 - Nunca aplique choque na cara, ânus, vagina, úbere ou escroto. Não segure o bastão elétrico sobre o
corpo do animal por mais de um segundo.
14 - Caso o animal não se levante, certifique-se que não está ferido ou exausto e que há espaço suficiente
para se levantar; se estiver tudo em ordem, tente mais uma ou duas vezes, no máximo.
15 - Animais debilitados devem ser desembarcados e nos casos mais graves deve-se fazer o abate
de emergência. Se não for possível, siga viagem e realize o abate de emergência logo quando
chegar ao destino.
16 - O abate de emergência deve ser feito por pessoa treinada e com equipamentos apropriados.
17 - Dirija sempre com cuidado, respeitando a sinalização das estradas.
18 - O tempo total da viagem não deve ultrapassar 12 horas, quando isto ocorrer os animais devem ser
desembarcados, recebendo alimento e água à vontade. Evite transporte de longa distância.
19 - Evite paradas longas, principalmente nas horas mais quentes do dia e procure sempre estacionar o
veículo na sombra.
20 - Quando houver problemas durante a viagem, analise a possibilidade de rotas alternativas, solicite
outro veículo e faça o transbordo dos animais ou desembarque-os em local adequado.
21 - Quando nada disso for possível, estacione o veículo em local seguro e na sombra. Ofereça água
regularmente aos animais.
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22 - O transporte de bezerros exige mais cuidado. Nunca misture bezerros com animais adultos, mesmo
que sejam suas mães. Ofereça-lhes água em viagens a cada 6 horas.
23 - O desembarque deve ser feito imediatamente após a chegada ao destino. Estacione o veículo no
desembarcadouro corretamente, sem deixar espaço com a rampa de desembarque.
24 - Antes de abrir as porteiras do compartimento de carga, certifique-se que não há animais deitados
ou caídos e, quando houver levante-os.
25 - Abra a porteira mais próxima da rampa de desembarque e caso os animais não saiam, estimule-os,
batendo palmas e fazendo movimentos na lateral do veículo. Não grite e não use o choque, tenha calma.
26 - Caso algum animal não consiga se levantar, desembarque os animais que estiverem no mesmo
compartimento de carga com calma.
27 - Quando necessário faça o abate de emergência, atordoando o animal dentro do veículo, para
posteriormente arrastá-lo para fora.
28 - Nunca arraste animais conscientes! O desembarque dos animais dos outros compartimentos de
carga deve ser feito após a retirada do animal atordoado.
29 - Limpe e desinfete o veículo logo após o desembarque. Verifique se está tudo em ordem e conserte
ou substitua o que estiver quebrado.
Todos os manejos citados estão descritos detalhadamente nos manuais de Boas Práticas de Manejo
produzidos pelos integrantes do Grupo ETCO (Grupo de Estudos e Pesquisas em Etologia e Ecologia Animal),
que estão disponíveis gratuitamente no site do Grupo ETCO, http://www.grupoetco.org.br/downloads.html.
9. OUTROS ELEMENTOS RELEVANTES PARA PROMOÇÃO DO
BEM-ESTAR DE BOVINOS DE CORTE
Além dos manejos citados, existem muitos outros elementos que são relevantes para a promoção do bemestar dos bovinos, dentre eles a oferta de recursos essenciais para o atendimento das necessidades básicas
dos animais. Nesse caso, deve-se destacar a questão da oferta de água e os alimentos, que devem ser de boa
qualidade e estar sempre disponíveis para todos os animais. Apesar da importância desses recursos, essa
condição, de livre acesso a água e alimento de boa qualidade, nem sempre é atendida com eficiência.
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O fornecimento de água para bovinos: A água pode ser fornecida de duas formas, dando-lhes acesso a fontes
naturais de água (nos rios, riacho, lagos ou represas) ou em bebedouros artificiais, para onde é canalizada
a água. Em ambos os casos deve-se assegurar de que a água oferecida é de boa qualidade e suficiente para
atender a todos os animais.
No caso da água estar disponível em fontes naturais deve-se ter cuidados especiais para evitar que as visitas
constantes dos animais aos bebedouros causem danos ambientais como, por exemplo, a erosão e o consequente
assoreamento dos cursos d’água. Nesse contexto, o código florestal de cada região deve ser aplicado e respeitado.
Por outro lado, quando são utilizados bebedouros artificiais como fonte de água para o gado deve-se realizar
planejar outros cuidados, dentre eles:
a) Localização - avalie o local antes da instalação dos bebedouros, considerando o caminho que os
animais devem percorrer (como a distância e a facilidade de acesso.
b) Dimensionamento dos bebedouros - deve-se dimensionar o bebedouro de acordo com o número
médio de animais que irão pastejar a área, considerando a categoria dos animais como também a
vazão da água. Lembre-se, um bovino adulto pode consumir até 80 litros de água por dia!
c) Tipo de solo e inclinação do terreno (facilitando a instalação e manutenção dos bebedouros, assim
como prevenir a formação de lama) e o custo da instalação dos bebedouros em função da distância
da fonte de água. d) Limpeza e manutenção: realizar a limpeza e manutenção periódicas das
instalações, para que haja acesso ao bebedouro, reduza o aparecimento de animais peçonhentos, e
também para que a água esteja sempre disponível em quantidade e com qualidade.
Suplementação alimentar para bovinos: A oferta de suplementos alimentares é muitas vezes essencial
para o atendimento das necessidades de nutrientes carentes nas forragens (ou outros tipos de alimentos)
utilizadas para alimentar os bovinos. Há várias possibilidades de usos de suplementos alimentares, que
se diferenciam tanto na quantidade de deve ser ingerida por cada animal diariamente quanto na sua
composição, dependendo do tipo de nutriente oferecido, da carência a ser suprida e do sistema de
produção adotado.
Além de servir para o provimento de nutrientes necessários, assegurando boas condições de saúde
aos mesmos, a suplementação alimentar traz também a oportunidade para melhorar a interação entre
nós (humanos) e os animais. Para tanto, a pessoa responsável pela suplementação deve aproveitar o
momento de abastecimento dos cochos para chamá-los (com aboios) e passar alguns minutos no meio
deles. O ideal é que o vaqueiro se movimente, a pé ou a cavalo, no meio dos bovinos, enquanto os
mesmos se aproximam do cocho, com isto os animais irão estabelecer uma associação positiva com a
presença dos vaqueiros, sendo o alimento o elemento reforçador (que funciona como uma recompensa)
na formação dessa associação, com isto fica muito mais fácil se aproximar dos mesmos e realizar outros
manejos, tais como condução e apartação, dentre outros.
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É de extrema importância destacar que cada suplemento requer uma disponibilidade diferenciada de cocho,
que muitas vezes é condicionada apenas ao tipo de suplementação e quantidade fornecida por animal. Porém
recomenda-se considerar outros fatores como: o comportamento dos bovinos nessa situação onde são
forçados a se alimentarem muito próximos uns dos outros, a categoria e grau de familiarização dos
animais, a frequência de fornecimento do suplemento, a disponibilidade de manutenção das instalações
devido a danos causados por brigas e disputas, e até mesmo a possibilidade de acúmulo de lama em
função do tipo de solo e quantidade de chuva da região, entre outros. Comumente, a recomendação
realizada por muitos técnicos é de 10 a 50 cm/animal, no entanto são escassas as pesquisas científicas
sobre o tema de disponibilidade de espaço nos cochos para alimentação e suplementação. O ideal seria
que o espaço de cocho fosse suficiente para que todos tivessem acesso ao alimento ou suplemento
ao mesmo tempo, mas mesmo esta recomendação carece de elementos básicos que permitam sua
aplicação na prática.
A questão do conforto térmico para os bovinos: O Brasil tem a maior parte de seu território situada na faixa
intertropical, que aumenta o risco dos animais enfrentarem situações que resultem em estresse por calor.
Entretanto, em algumas regiões, também é necessário oferecer condições que lhes permitam se proteger
contra o frio, por exemplo, criando barreiras naturais ou artificiais contra o vento.
É correto pensar que o gado zebu é adaptado às condições tropicais, pois apresenta uma série de
características que favorecem a dissipação de calor (p.ex., maior número de glândulas sudoríparas e pelos
curtos), além de outros atributos que contribuem para a manutenção da temperatura corporal. Entretanto,
é um erro assumir que, por conta dessas características, esses animais não precisam de sombra. Há muitos
estudos mostrando que a sombra melhora o bem-estar dos bovinos taurinos e zebuínos, oferecendo
condições para que melhorem também seu desempenho (Mitlöhner et al., 2002; Lopes, 2010). Em um
estudo realizado em confinamento comercial no Mato Grosso pelo Grupo ETCO, foi observado que os
bovinos Nelore com acesso à sombra (4m²/animal) apresentaram ganho médio superior de 125g/animal/
dia que aqueles que não tinham acesso a este recurso (Macitelli et al. 2012).
Ressalta-se que, independente da fonte de sombra, a mesma deve ser dimensionada de modo que abrigue
todos os animais ao mesmo tempo, permitindo que os mesmos deitem e se movimentem, respeitando o
espaço individual de cada um. A disponibilidade de sombra por animal é dependente da categoria animal
considerada, sendo recomendado entre 2 e 4m²/animal. Caso a opção de sombreamento for artificial,
atente-se à posição do sol, para que o mesmo penetre nos horários mais frescos do dia dentro da instalação
com o objetivo de secar a superfície da mesma, como também para que nos horários mais quentes a
sombra seja projetada no local esperado. Outras ferramentas eficazes utilizadas no controle térmico são
os aspersores e nebulizadores, no entanto, a disponibilidade de água e energia deve ser constante, assim
como a manutenção dos equipamentos.
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Figura 5. Sombreamento artificial no confinamento e natural na pastagem.
Fonte: Grupo Etco
Para animais mantidos em confinamento, também se deve considerar a questão da presença de poeira durante o
período seco (cuja ocorrência depende, principalmente, da movimentação de veículos e ou animais) e do acúmulo
de lama (cuja ocorrência depende da intensidade de chuva, capacidade de drenagem do solo, inclinação do
terreno e da densidade de animais nos currais do confinamento). Situações em que os bovinos são mantidos em
ambientes com muita poeira e grande acúmulo de lama resultam em queda da imunidade e, consequentemente,
no desenvolvimento de vários problemas de saúde, principalmente as doenças respiratórias. Sinais clínicos visíveis,
como corrimento nasal e ocular abundantes, altas frequências de tosses e espirros, crescimento irregular dos
cascos, claudicação, alterações na pele, diarreia, entre outros, podem ser bons indicadores de que o ambiente em
geral (ar, piso, dieta, presença de patógenos, etc) não é adequado para os animais.
De maneira geral, é necessário ter em mente que independente do agente estressor (frio, calor, poeira,
lama, dor, etc), os animais acionam mecanismos adaptativos que implicam diretamente em mudanças na
taxa metabólica, temperatura corporal, frequência respiratória, frequência cardíaca, alterações hormonais
e comportamentais. Essas mudanças, que ocorrem para promover a adaptação do organismo ao meio,
geralmente implicam em queda na produção.
10. CONCLUSÕES
As rotinas diárias de manejo devem ser conduzidas de forma a assegurar que o bem-estar dos animais é assegurado.
Assim, todos os trabalhos executados nas fazendas de bovinos devem ser planejados com antecedência e realizados
com cuidado, de forma a atender as necessidades da fazenda sem colocar as pessoas responsáveis pelo manejo
e os animais em condições que resultem em estresse intenso e prolongado. O sucesso da pecuária sustentável
depende de adoção de uma atitude de RESPEITO, tanto com as pessoas quanto com o ambiente e os animais.
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