Mestrado Integrado em Medicina Veterinária Ciências Veterinárias Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo Carla Rafaela Miranda de Sousa Morgado Orientador: Professora Doutora Alexandra Esteves Co-orientador: Dr. Paulo Ribeiro Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro Vila Real, 2009 Aos meus pais, à Sil e ao Rick. “God loved the birds and invented trees. Man loved the birds and invented cages.” ~Jacques Deval Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo AGRADECIMENTOS AGRADECIMENTOS À Professora Alexandra Esteves, por ter aceite orientar esta Tese. Pela inteira disponibilidade, dedicação e apoio com que me recebeu ao longo destes meses. Por me ter incentivado e motivado a fazer um melhor trabalho sempre que precisei. Pelos imprescindíveis e valiosos esclarecimentos, críticas e sugestões, sem os quais este trabalho não seria possível, a minha mais sincera gratidão e profundo reconhecimento. Ao Dr. Paulo Ribeiro, pelo privilégio concedido ao aceitar ser meu coorientador. Por me ter entusiasmado pelo tema desta Tese. Pelo profissionalismo, competência e dedicação pela profissão demonstrados, o que contribuiu de forma decisiva para a minha vontade de aprender e progredir nesta área, para além de me ter transmitido inúmeros valores que me enriqueceram pessoal e profissionalmente. Pelo espírito jovem e por todos os momentos de boa disposição, pela simpatia, amizade e confiança que depositou em mim desde o início, o meu apreço, respeito e agradecimento sinceros. Ao Dr. Zé Carlos, Dr. Tiago, assim como à Eng. Benvinda e D. Maria do Céu, pela paciência e boa vontade em esclarecer todas as minhas dúvidas durante o meu estágio. Ao Prof. Luís Patarata, que teve a amabilidade de me dar a conhecer o programa estatístico XLSTAT, que muito facilitou todo o tratamento de dados. Ao Prof. Silvestre, pelas ideias e sugestões que enriqueceram este trabalho. A todos os autores contactados por e-mail, que, apesar de não me conhecerem pessoalmente, se interessaram pelo meu trabalho e responderam rapidamente com artigos relevantes e se disponibilizavam a prestar esclarecimentos e a tirar quaisquer dúvidas que surgissem. À Sónia Gaspar, colega de curso e melhor amiga, que eu tive a sorte de conhecer. Por ter estado sempre presente nos bons e nos maus momentos destes longos 6 anos. Pela amizade eterna, pelas gargalhadas, pelo companheirismo e por todas as i Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo AGRADECIMENTOS horas de estudo e de diversão. Por não me ter deixado desistir do curso. Nunca te poderei agradecer o suficiente. Um agradecimento especial para a Catarina, a minha “mana adoptada”, e para a mãe da Sónia, que me fizeram sentir parte da família. Ao Bruno Elias, melhor amigo desde os tempos do secundário, que, apesar da distância, está presente em todos os momentos da minha vida. Por ser único. Adoro-te. Ao meu primo João, que me ensinou a trabalhar com o Excel e que me explicou os fundamentos do teste de Qui-quadrado. Ao Carlos André, pela amizade incondicional, apoio e por me inspirar a ser alguém melhor. Pelo interesse e espírito crítico com que leu este trabalho, apesar de não ser a sua área. À minha família. Aos meus pais, que sem eles não seria possível escrever estas palavras. Pela confiança, por sempre terem aceite as minhas escolhas e por acreditarem em mim. À Sílvia, que me entusiasmou a seguir este curso, e ao Ricardo, pelo apoio moral. À minha sobrinha Inês, que passou muitas tardes na secretária a estudar comigo. Ao meu sobrinho e afilhado José Dinis, que tem sempre um sorriso para mim quando me vê. A todos aqueles que, embora não referidos não foram esquecidos, tornaram a conclusão desta etapa da minha vida numa realidade, o meu muito obrigada. ii Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ÍNDICE ÍNDICE Resumo v Abstract vii Lista de Abreviaturas viii Índice de Quadros x Índice de Figuras xii INTRODUÇÃO 4 PARTE I – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 5 1. Bem-Estar Animal 6 1.1 Definição 6 1.2 Indicadores de deficiências no bem-estar animal 8 1.3 A preocupação pelo Bem-estar animal 9 1.4 Sugestões para melhorias no Bem-estar animal 2. Factores relacionados com a Exploração 11 13 2.1 Manipulação dos animais 15 2.2 Stresse na exploração 16 3. Factores genéticos 18 4. O Transporte até ao Matadouro 19 4.1 O período pré-transporte 21 4.2 Carga dos animais 23 4.3 Cuidados a ter no Transporte 24 4.4 Factores associados a um transporte inadequado e suas consequências 26 4.4.1 Duração excessiva do transporte 26 4.4.2 Densidade excessiva 27 4.4.3 Condução inadequada do transporte 28 4.4.4 Condições climatéricas desfavoráveis 28 4.4.5 Stresse de transporte 29 4.4.6 Doenças de transporte 30 31 5. Matadouro 5.1 Recepção e permanência na abegoaria iii 31 Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo 5.2 Abate dos animais ÍNDICE 34 5.2.1 Encaminhamento dos animais para a nave de abate 34 5.2.2 Na nave de abate 35 6. Conclusão 41 PARTE II – TRABALHO EXPERIMENTAL 43 1. Introdução 44 2. Material e Métodos 45 3. Resultados e Discussão 48 3.1 Tamanho do lote de animais – Lesões observadas 48 3.1.1 Lacerações 49 3.1.2 Eritema cutâneo 50 3.1.3 Hematomas 51 3.2 Tipo de trajecto – Lesões observadas 52 3.2.1 Lacerações 52 3.2.2 Eritema cutâneo, hematomas e fracturas 53 3.3 Horas totais antes do abate – Lesões observadas 54 3.3.1 Lacerações 55 3.3.2 Eritema cutâneo 56 3.3.3 Hematomas 56 3.4 Horas de viagem – Lesões observadas 57 3.4.1 Lacerações 58 3.4.2 Eritema cutâneo 58 3.4.3 Hematomas 59 3.5 Horas na abegoaria – Lesões observadas 60 3.5.1 Lacerações 60 3.5.2 Eritema cutâneo 62 3.5.3 Hematomas 63 3.6 Lacerações tipo 1, 2 e 3 – Abate realizado 64 3.7 Eritema cutâneo localizado e generalizado – Abate realizado 65 4. Conclusões 66 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 68 ANEXOS 76 iv Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo RESUMO RESUMO Nos últimos anos tem havido uma maior consciencialização pelo Bem-Estar Animal, principalmente dos animais de produção, não só por questões éticas, mas também porque tem grande influência na qualidade final da carne, com repercussões a nível económico. O stresse, em particular, é um factor que reduz a resistência às infecções, diminui a produtividade, crescimento e capacidade reprodutiva dos animais, facilitando também o aparecimento de carnes com características indesejáveis. Deste modo, é de todo o interesse adoptar medidas para prevenir ou reduzir o stresse dos animais de produção, seja na exploração, durante o transporte e no matadouro. O uso de “brinquedos” e de palha nos currais, de tranquilizantes naturais e criação ao ar livre são opções viáveis e certificadas quanto à melhoria do bem-estar animal, assim como a preferência por animais dóceis e, no caso dos suínos, negativos ao gene halotano. A carga e transporte dos animais de produção, descarga, permanência na abegoaria e encaminhamento para a nave de abate e insensibilização dos animais são momentos de grande stresse e potencialmente traumatizantes para estes. Um mau maneio, más condições de transporte, duração excessiva da viagem até ao matadouro, uma condução inadequada, mistura de animais de diferentes explorações, densidade excessiva e o stresse de transporte, são factores que podem comprometer gravemente o bem-estar animal e a qualidade da carne. Neste estudo analisaram-se pormenorizadamente 5 abates de suínos de engorda, num total de 834 animais, registando-se a ocorrência de lacerações, eritema cutâneo, hematomas e fracturas, pretendendo-se averiguar qual o efeito do tamanho do lote, do n.º de horas de viagem, do n.º de horas de permanência na abegoaria, do n.º de horas pré-abate e do tipo de trajecto a que os animais foram submetidos no aparecimento destas lesões, directamente relacionadas com deficiências no bem-estar animal. As lacerações são as lesões mais frequentemente observadas nas carcaças. Observou-se que o transporte e estadia na abegoaria de lotes de grande tamanho levam a um aumento da percentagem de animais com lacerações, eritema cutâneo e hematomas. Houve um aumento de 10% de animais que apresentaram lacerações na inspecção post mortem quando foram submetidos a um trajecto do tipo misto, em vez de trajecto por auto-estrada. Verificou-se que um aumento do número de horas de viagem leva a um aumento do número de casos de eritema cutâneo nos suínos de engorda, particularmente v Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo RESUMO de eritema generalizado. Observou-se também que, quando mais tempo os animais demoram desde a saída da sua exploração até serem abatidos no matadouro de destino, maior a percentagem de animais que surge com hematomas. vi Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ABSTRACT ABSTRACT In the last years there has been a growing concern for Animal Welfare, especially when it comes to livestock, not only for ethical reasons, but also because it influences the final quality of meat, with consequences on the economic level. Stress, in particular, is a factor that reduces infection resistance, productivity, growth rate and reproductive aptitude of animals, leading to unwanted meat characteristics. Therefore, it is important to adopt measures to prevent or reduce the stress of livestock, either in the farm, during transport and in the slaughterhouse. The use of “toys” and straws in the pen house and the use of natural tranquilizers, the preference for calm animals and for halothane-negative pigs, and the extensive livestock production are all viable and certificated options that improve animal welfare. The loading, transport, unloading, lairage time, moving the animals to the slaughter point and insensibilization are moments of great stress and potentially traumatizing to animals. An incorrect handling, poor transport conditions, excessive transport time, improper driving, mixture of animals from different farms, excessive density and transport stress are factors that severely compromise animal welfare and meat quality. In this study, 5 different slaughtering days were evaluated in detail, in a total of 834 swines. We registered the occurrence of skin damage, skin erythema, contusions and fractures, to evaluate the effect of group size, number of transport hours, number of lairage hours, number of pre-slaughter hours and road type, which are all features related to animal welfare deficiencies. Skin damage is the most frequent type of lesion that could be observed. The transport and lairage of bigger groups increases the animal percentage with skin bruising, skin erythema and contusions. There was an increase of 10% of animals with skin bruising when subjected to a road type that included secondary roads, as opposed to the groups that travelled through highway. The results also indicated that the increasing of the number of transport hours increased the cases of skin erythema, especially the generalized type. Furthermore, the longer the animals took since leaving the farm to the slaughter moment, the bigger the percentage of animals with contusions. vii Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo LISTA DE ABREVIATURAS ABC – Abcesso ABCs – Abcessos Adul. – Adultas AN – Anormal Bov. – Bovinos bpm – batimentos por minuto C – Celsius Cap. – Caprinos CBG – Captive Bolt Gun cm – centímetros CO2 – Dióxido de carbono Compart. – Compartimentos DFD – Dark, Firm, Dry DGV – Direcção-Geral de Veterinária Diafr. – Diafragma EET – Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis Eng. – Engorda etc. - et cetera EU – União Europeia FAO – Food and Agriculture Organization FAWC – Farm Animal Welfare Council Fig. – Figura GL – Graus de Liberdade Gr. Rum. – Grandes Ruminantes HACCP – Hazard Analysis and Critical Control Points Kg – Kilogramas km – quilómetros Lei. – Leitões LFDs – Linfadenites Liquef. – Liquefacção m2 – metros quadrados viii LISTA DE ABREVIATURAS Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo n.º – número OMS – Organização Mundial de Saúde Ov. – Ovinos Peq. Rum. – Pequenos Ruminantes PL – Pleurisia PleuroPN – Pleuropneumonia PN – Pneumonia PR – Pequenos Ruminantes PSE – Pale, Soft, Exsudative ROG – Reacção Orgânica Geral RP – Reprovações Parciais ix LISTA DE ABREVIATURAS Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ÍNDICE DE QUADROS ÍNDICE DE QUADROS Quadro 1. Registos gerais relativos aos 5 abates analisados. 48 Quadro 2. Percentagem de animais com e sem lacerações, em função do tamanho do lote. 49 Quadro 3. Percentagem de animais com e sem lacerações, agrupados consoante o tamanho do lote a que pertenciam. 50 Quadro 4. Percentagem de animais encontrados com e sem eritema cutâneo, em função do lote. 51 Quadro 5. Percentagem de animais com e sem eritema, agrupados consoante o tamanho do lote a que pertenciam. 51 Quadro 6. Percentagem de animais encontrados com e sem hematomas, em função do tamanho do lote. 52 Quadro 7. Percentagem dos animais encontrados com e sem lacerações, em função do tipo de trajecto considerado. 53 Quadro 8. Percentagem dos animais encontrados com e sem eritema, em função do tipo de trajecto considerado. 54 Quadro 9. Percentagem dos animais encontrados com e sem hematomas, em função do tipo de trajecto considerado. 54 Quadro 10. Percentagem de animais encontrados com e sem lacerações, em função do número de horas desde o início da viagem até ao abate. 55 Quadro 11. Percentagem de animais encontrados com e sem eritema cutâneo, em função do número de horas desde o início da viagem até ao abate. 56 Quadro 12. Percentagens relativas à presença e ausência de hematomas em função das horas totais desde início da viagem até ao matadouro. 57 Quadro 13. Percentagens relativas à presença e ausência de lacerações em função das horas de viagem até ao matadouro. 58 Quadro 14. Percentagens relativas à presença e ausência de eritema cutâneo em função das horas de viagem até ao matadouro. 59 Quadro 15. Percentagens relativas à presença e ausência de hematomas em função das horas de viagem até ao matadouro. 59 Quadro 16. Percentagens relativas à presença e ausência de lacerações em função das horas passadas na abegoaria. 61 x Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ÍNDICE DE QUADROS Quadro 17. Percentagens relativas à presença e ausência de lacerações em função das horas passadas na abegoaria. 61 Quadro 18. Percentagens relativas à presença e ausência de eritema cutâneo em função das horas passadas na abegoaria. 62 Quadro 19. Percentagens relativas à presença e ausência de eritema cutâneo, agrupados consoante as horas passadas na abegoaria. 62 Quadro 20. Percentagens relativas à presença e ausência de hematomas em função das horas passadas na abegoaria. 63 Quadro 21. Percentagens relativas à presença e ausência de hematomas, agrupados consoante as horas passadas na abegoaria. 63 Quadro 22. Números e percentagens dos diferentes tipos de lacerações considerados e ausência destas nos diferentes abates analisados. 64 Quadro 23. Números e percentagens relativos à presença de eritema localizado e generalizado ou à sua ausência nos diferentes abates analisados. xi 65 Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ÍNDICE DE FIGURAS ÍNDICE DE FIGURAS Figura 1. Carcaça de suíno sem lacerações relevantes. 46 Figura 2. Carcaça de suíno com lacerações tipo 1. 46 Figura 3. Carcaça de suíno apresentando lacerações tipo 2. 46 Figura 4. Carcaça de suíno com lacerações tipo 3. 46 Figura 5. Membro posterior de suíno apresentando eritema localizado. 46 Figura 6. Carcaça de suíno com eritema generalizado. 46 Figura 7. Membro posterior de suíno com hematoma. 47 Figura 8. Membro posterior de suíno apresentando fractura. 47 xii Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo INTRODUÇÃO INTRODUÇÃO Durante o período de 4 meses de estágio curricular em Inspecção Sanitária, entre 15 de Setembro de 2008 a 15 de Janeiro de 2009, acompanharam-se as actividades de Inspecção Sanitária ante mortem e post mortem dos animais apresentados para abate em 5 matadouros da Região Norte do país: Matadouro Fumados Douro (Travanca, Armamar), Matadouro Beira-Lamego-Agroalimentar S.A. (Lamego), Matadouro Santos e Jesus, Lda. (Lamego), Matadouro Aleu (Vila Real) e Matadouro PEC-NordesteCarnagri (Penafiel). Para além de todo o estudo e investigação feitos para a elaboração da Tese, foi possível aprofundar os conhecimentos teóricos e, principalmente, práticos da Inspecção Sanitária obtidos durante o Mestrado Integrado em Medicina Veterinária. A oportunidade de abordar o conceito de Bem-Estar Animal de uma forma mais aprofundada e de discutir o impacto que algumas falhas no bem-estar animal têm sobre os animais de produção, em particular da espécie suína, surgiu naturalmente, visto ser um tema actual e que vai ganhando cada vez mais importância graças à consciencialização e educação da sociedade para uma melhoria da saúde, qualidade e respeito pela vida dos nossos animais. Desta forma, foram acompanhados 5 abates de animais da espécie suína no Matadouro Aleu (Vila Real) de uma forma mais pormenorizada e atenta, tendo-se particular atenção a todos os aspectos relativos ao bem-estar animal destes animais abatidos, com recolha de dados para posterior análise e interpretação. Foram também recolhidos os dados referentes às rejeições parciais e totais de várias espécies animais submetidas a abate durante esse período de tempo, tendo-se prestado especial atenção às principais causas de rejeição (Anexo A). Apesar destes dados recolhidos não terem sido usados na elaboração da presente Tese, reconheceu-se que é uma informação adicional a considerar, visto terem feito parte do aprofundar de conhecimentos na área da Inspecção Sanitária. -4- Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA PARTE I – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA -5- Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA PARTE I – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1. Bem-estar Animal 1.1 Definição Bem-estar animal, segundo BROOM (1991, 2004) pode ser definido como sendo o estado do animal na sua tentativa de adaptação com o meio ambiente envolvente. HUGHES (1976) citado por LEMAN e colaboradores (1992), afirma que bem-estar animal é “um estado de completa saúde mental e física do animal em harmonia com o meio ambiente”. Sendo um conceito bastante complexo, bem-estar animal pode ser definido seguindo várias abordagens, complementares entre si. Podemos ter em conta a condição psicológica do animal – animais com medo, stresse ou frustração indicam falhas no seu bem-estar, o ambiente natural – um bem-estar animal adequado implica que um animal viva num habitat natural, onde seja livre de expressar os seus comportamentos naturais e satisfazer as suas necessidades, ou, a actividade biológica do animal – o ideal seria um animal manter um funcionamento orgânico em bom estado, podendo crescer, reproduzir-se, alimentar-se e permanecer saudável (COSTA, 2006). As falhas relativas ao bem-estar animal surgem nas situações em que animal não é bem sucedido nas suas tentativas de adaptação ao ambiente, o que na maioria das vezes leva a estados de sofrimento. É de referir, no entanto, que sofrimento animal e deficiente bem-estar animal são conceitos distintos. O facto de um animal não ter condições de bem-estar não significa obrigatoriamente que seja um animal em sofrimento. Apesar de ser um dos aspectos mais importantes na nossa avaliação do bem-estar do animal, sofrimento é um termo menos abrangente e bastante subjectivo, referindo-se apenas aos sentimentos do animal em causa (BROOM, 1991). Também não se deve confundir ausência de bem-estar animal e sofrimento com crueldade animal. Crueldade animal é uma prática condenável, premeditada e escusada, que tem apenas como propósito aplicar dor e sofrimento aos animais (MACHADO F.º e HÖTZEL, 2000). -6- Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Existem algumas medidas a serem cumpridas para se poder considerar que um animal está sujeito a boas condições de bem-estar animal. Estas medidas consistem numa correcta alimentação e abeberamento, na existência de condições e de conforto no seu local de abrigo que tenham também em vista a prevenção de situações de dor, de ferimentos ou de doença. Tem de ser dada a possibilidade ao animal de exibir o seu comportamento natural, sendo também importante evitar situações que lhe causem qualquer medo ou stresse (ANÓNIMO, 1993 citado por BEAUMOND, 2006). Uma outra forma de definir bem-estar animal refere-se às chamadas “Cinco Liberdades” dos animais, propostas pela primeira vez em 1979, pelo FAWC (Farm Animal Welfare Council), Reino Unido: Liberdade da fome, da sede e da subnutrição, que inclui o direito ao acesso a água e a comida em quantidades suficientes; Liberdade do desconforto, que inclui o direito a um abrigo adequado para se protegerem e abrigarem; Liberdade da dor, de doenças e de lesões, que inclui o direito à prevenção e ao tratamento destas; Liberdade do medo e do stresse, que inclui o direito à ausência de sofrimento; Liberdade para expressarem os seus comportamentos naturais, através de um ambiente envolvente adequado. DANTZER (2002) faz referência à capacidade cognitiva e emocional dos animais, muitas vezes subvalorizada por quem lida com eles. O autor refere que reacções como agitação ou um aumento da actividade do sistema pituitário-adrenal (devido a estímulos exteriores de stresse) são reacções emotivas primitivas. Quando deparados com situações pouco familiares ou mudanças súbitas, associadas a uma fraca capacidade de ajustamento, é de esperar que os animais apresentem uma reacção emocional compatível com frustração. DUNCAN e PETHERICK (1991) sublinham que o estado mental do animal é sempre afastado para segundo plano, num sistema que apenas prevê a satisfação das necessidades físicas do animal. Estes autores criticam esta -7- Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA posição e formam uma nova e interessante linha de pensamento, defendendo que o bemestar animal refere-se essencialmente ao estado mental, psicológico e cognitivo do animal, e que sempre que as necessidades mentais do animal estão satisfeitas (e que obrigatoriamente cobrem as necessidades físicas do animal), então o pleno bem-estar animal é atingido. No entanto, esta possibilidade implica que os animais tenham capacidade para compreender o que os rodeia, ao invés de apenas reagirem instintiva e automaticamente às situações apresentadas. Mais estudos acerca deste assunto têm que ser desenvolvidos. 1.2 Indicadores de deficiências no bem-estar animal Segundo BROOM (1991, 2004) o bem-estar animal é uma característica do animal, que pode ser melhorada através das acções do Homem. É um estado passível de ser medido de forma objectiva, variando consoante a capacidade do animal de se ajustar às condições. Também segundo BROOM (1991, 2004) há vários indicadores que apontam para deficiências no bem-estar animal, tais como: Reduzida esperança média de vida (mau maneio, doenças…); Lesões corporais (lacerações, fracturas…); Reprodução ou crescimento de alguma forma corrompidos ou mal sucedidos; Comportamentos anormais ou profundamente modificados (revelando uma incapacidade de adaptação ao ambiente por parte do animal); Nível de doenças (maior susceptibilidade a agentes patogénicos…); Imunossupressão (por excesso de actividade do córtex adrenal…). Um dos métodos a que se recorre mais frequentemente para a avaliação do bemestar é o comportamento animal (RADOSTITS, 1994). Existem mecanismos de defesa intrínsecos aos animais no caso de a adaptação a um dado ambiente não for bem sucedida. O animal desiste de tentar adaptar-se e surgem comportamentos anómalos, tais como mordeduras repetidas nas barras dos compartimentos, balanço repetido da cabeça, prática de canibalismo ou ausência de reacção a estímulos externos (LEMAN et -8- Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA al., 1992; MACHADO F.º e HÖTZEL, 2000). Estes sinais de apatia, de auto-mutilação e de agressividade são normalmente indícios de um bem-estar animal deficiente (LEMAN et al., 1992; BROOM, 2004) e, por essa razão, apesar de não serem necessariamente comportamentos que impliquem graves perdas produtivas, são considerados indesejáveis (LEMAN et al., 1992). A prática de caudofagia e de dentadas nas orelhas são indícios importantes a ter em conta. A caudofagia, em particular, pode levar a infecções sistémicas no animal afectado, assim como o desenvolvimento de abcessos, pondo em causa a qualidade e segurança da carne (RADOSTITS e BLOOD, 1985; BROOM e FRASER, 2007). Também a presença de medo é um sinal de risco, pois implica que o animal esteja a antever algum perigo iminente, prejudicando o seu bem-estar (BROOM, 1991). Sinais de dor aguda podem incluir vocalização anormal, taquipneia, inaptência, diminuição da mobilidade e perda de interesse por diversas actividades (GEORGE, 2003). Um animal incapaz de se deitar normalmente no seu curral ou que exiba comportamentos estereotipados é um sinal claro de falta de bem-estar animal. Situações de isolamento excessivo ou de demasiada exigência em relação ao animal são também situações a ter em conta (BROOM, 1991, 2004). Apesar da morbilidade dos animais poder ser um bom indicativo para a avaliação do bem-estar animal, é preciso ter em atenção que esta pode ser facilmente mascarada com o uso sistemático de medicamentos como os antibióticos. A sua acção permite uma maior eficiência na conversão alimentar, levando a um crescimento e aumento de peso mais acelerado, ao mesmo tempo que previne doenças indesejáveis (RADOSTITS e BLOOD, 1985; RADOSTITS et al., 2007). No entanto, há situações que podem levar a uma apreciação errada. Animais considerados mais magros não implica que sejam animais com reduzido bem-estar animal, podendo simplesmente ter um maneio diferente, com uma dieta de baixo valor calórico (LEMAN et al., 1992). 1.3 A preocupação pelo Bem-estar animal Nas últimas décadas observou-se uma explosão na produtividade animal. Segundo a Ordem dos Médicos Veterinários (2008), cerca de 360 milhões de suínos e -9- Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA pequenos e grandes ruminantes são abatidos todos os anos nos países que constituem a União Europeia. Industrializou-se a agricultura e os animais de produção tornaram-se meros instrumentos económicos e quantitativos, com evidentes repercussões em termos de bem-estar animal. Regimes extensivos foram substituídos pelos intensivos, alguns quase levados ao extremo, nos quais os animais se encontram completamente confinados, de forma a poupar tempo e trabalho, reduzir espaço e diminuir as perdas energéticas (MACHADO F.º e HÖTZEL, 2000). São estas condições de confinamento e de sobrepopulação, que impedem os animais de se moverem ou de terem quaisquer possibilidades de socialização, consideradas desumanas por alguns grupos de defesa dos animais, que têm merecido mais atenção (RADOSTITS, 1994). No entanto, nos últimos anos tem havido uma maior consciencialização pelo bem-estar animal, principalmente no que respeita a animais de consumo (ROLLIN, 1990). Segundo ROÇA (2001), começou-se a dar mais valor ao maneio destes animais em vida assim que se constatou que este influencia a qualidade da carne. Também se assiste a um crescente grau de exigência por parte dos consumidores de carne em relação à sua qualidade e origem. O consumidor preocupa-se principalmente pelo aumento da produção intensiva, pela grande restrição dos movimentos dos animais e pelos meios usados para atingir essa medida (LEMAN et al., 1992). Com uma melhoria do poder económico, com a influência dos media (frequentemente criando suspeitas e abrindo valas de desconfiança entre produtores e consumidores, empolando as más condições a que animais de produção são sujeitos), com a maior interferência e críticas no campo político-social por parte da comunidade vegetariana, e com o aparecimento duma maior preocupação com o impacto ambiental das suas escolhas, os consumidores passaram a valorizar outros factores para além da simples qualidade nutricional e organoléptica dos alimentos. O actual consumidor dispõe-se agora a pagar pela segurança alimentar e pelo bom maneio, pressionando os criadores a uma melhoria das condições de bem-estar em todas as fases da vida do animal (LEMAN et al., 1992; BEAUMOND et al., 2006). COSTA (2006) chega a declarar que a carne tem também um “valor moral”, valor esse definido pelos padrões de bem-estar animal utilizados para a produção dessa carne, tanto na criação como no abate, e ao qual os consumidores não são indiferentes. Apesar de tudo, o objectivo - 10 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA principal de um produtor é a máxima produtividade ao menor custo, e nem sempre é fácil chegar-se a um equilíbrio satisfatório para ambas as partes (BEAUMOND et al., 2006). É inegável o crescente interesse pelos consumidores no que respeita ao bemestar animal. Num estudo de 2001, financiado pela Comissão Europeia, que tinha como objectivo conhecer a opinião dos europeus relativamente ao bem-estar animal e o impacto que este tinha nas escolhas alimentares, observou-se que existe efectivamente um aumento na preocupação sobre este assunto, mas que nem sempre corresponde a uma maior preferência em alimentos produzidos respeitando o bem-estar dos animais. Isto deve-se, por exemplo, à falta de informação sobre a origem e produção dos produtos, à dificuldade em os encontrar e também ao seu custo (HARPER e HENSON, 2001). Um outro estudo publicado pela Comissão Europeia em 2007 revela que 52% dos europeus raramente ou nunca tem em consideração o bem-estar animal quando compra carne. Esta percentagem é particularmente elevada nos novos países-membros da Europa, podendo estar relacionado com a cultura e nível de vida existente nos diferentes países. 1.4 Sugestões para melhorias no Bem-estar animal Pode-se agir a vários níveis de forma a melhorar o bem-estar animal. Uma das opções é enriquecer o ambiente envolvente do animal. Verificou-se que a colocação de “brinquedos” nos currais dos animais (para se distraírem) e de palha no chão (em vez do uso de chão ripado) diminuiu o canibalismo e as agressões entre os animais. A palha é um factor muitas vezes subvalorizado, mas associado a benefícios evidentes ao bemestar dos suínos (MACHADO F.º e HÖTZEL, 2000). É evidente o aumento do aparecimento de doenças metabólicas, como a acidose, em sistemas de criação intensivos, prejudicando o bem-estar animal e eventualmente a qualidade da carne (NIELSEN, THAMSBORG, 2005). Uma das opções a considerar é a criação intensiva ao ar livre, no caso dos suínos, que consiste na criação de animais a céu aberto, com o recurso a cabanas como abrigo. MACHADO F.º e HÖTZEL verificaram efectivamente que animais criados neste sistema exibiam menos - 11 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA comportamentos anómalos, menos canibalismo e menos agressões comparativamente ao sistema com animais confinados, com melhorias na saúde dos animais e em termos ambientais. São também animais que têm uma melhor conversão alimentar, ganhando peso mais rapidamente (GENTRY et al., 2002, 2004; LEBRET et al., 2006). Além destes factores, sublinha-se que podem ser considerados animais criados biologicamente, tendo por isso um maior valor comercial. Também verificaram que os animais com ambiente enriquecido com palha e mais espaço tiveram melhorias na qualidade da carne, sendo esta mais macia e sofrendo menos perdas na cozedura (MACHADO F.º e HÖTZEL, 2000). As afinidades e relações de dominância e submissão que se estabelecem num grupo de animais na exploração são uma boa ajuda para o produtor preservar o bemestar animal, evitando situações de stresse no caso de mistura de animais que ele sabe serem incompatíveis (BOUISSOU e BOISSY, 2005). É também importante referir os efeitos da prática da castração nos animais de produção, acto considerado necessário em termos da promoção da qualidade da carne, ao evitar o aparecimento do “cheiro sexual” na carne de porco (característica indesejável para o consumidor), mas que está associado ao desencadear de deficiências em termos de bem-estar animal. FISHER e colaboradores (1996) referem que os níveis de cortisol plasmáticos atingem níveis elevados nos animais que são castrados, mesmo recorrendo-se ao uso de analgesia para o efeito. No entanto, KING e colaboradores (1991) citados por NIELSEN e THAMSBORG (2005), revelam que a idade da castração tem um papel preponderante no bem-estar animal, visto que animais mais novos (com 2 meses e meio) tinham níveis de cortisol mais baixos que animais mais velhos (com 5 meses de vida). Em termos de bem-estar animal e eficiência produtiva, a melhor altura para a castração de suínos é logo a seguir ao nascimento ou por volta dos 6 meses de idade, de preferência utilizando o método de Burdizzo (método de castração menos invasiva, que implica apenas a destruição do cordão espermático, sem remoção dos testículos nem epidídimo) (NIELSEN e THAMSBORG, 2005). Recentemente foi descoberta uma vacina (Improvac®) que evita a manifestação do já referido “cheiro sexual” na carne de suíno, permitindo assim que a carne do animal mantenha todas as características dum animal inteiro (HENNESSY et al., 2008). - 12 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Este tipo de vacinação, chamado de imunocastração, foi objecto de estudo de JEONG e colaboradores em 2008, na Coreia, onde o consumo de barriga de porco é extremamente popular. Os resultados demonstraram que, efectivamente, o uso desta vacina não tem quaisquer efeitos negativos na qualidade da carcaça, sendo que os animais vacinados obtiveram melhores resultados em termos de cor e relação entre carne e gordura do que animais castrados. Outra substância com grande interesse para a prevenção de stresse em suínos refere-se a um extracto de planta contendo Valeriana officinalis L. e Passiflora incarnata L. (OmnycalmTM), que se tem tornado mais popular nos últimos anos, devido ao seu efeito sedativo e ansiolítico, podendo ser usada de forma rotineira e sem deixar resíduos na carne. Um estudo realizado na Dinamarca em 2006 comprovou o efeito deste extracto em suínos, que se apresentaram mais relaxados e com níveis de stresse inferiores ao ser simulado o acto de carga, transporte e descarga desses animais (BOUSQUET et al., 2006). 2. Factores relacionados com a Exploração Na exploração deve-se ter em conta vários aspectos, como a sanidade e higiene animal, o grau de conforto animal, a qualidade do ar e a eficiência da ventilação, a existência de sobrepopulação, o tipo de chão e a existência de animais com problemas podais ou de postura, a temperatura do ambiente e o sistema de eliminação de fezes e urina. Ambientes extremamente confinantes para os animais levam a um aumento da incidência de problemas respiratórios, de crescimento, de performance e a um aumento da incidência de doenças, a maioria das quais de origem multifactorial. A má ventilação, em particular, é um factor associado a problemas de saúde nos animais, tais como pneumonia enzoótica e rinite atrófica, mas também a problemas comportamentais como a caudofagia. Está provado que a produtividade e a performance dos animais diminui e a incidência de doenças aumenta com o aumento da densidade populacional da exploração, o que está na génese da recomendação de manter os animais em grupos pequenos (RADOSTITS e BLOOD, 1985). - 13 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA O Decreto-Lei n.º 48/2001 de 10 de Fevereiro estabelece os princípios básicos de alojamento, alimentação e outros cuidados fundamentais adequados às necessidades de animais nos locais de criação. Assim, é o proprietário dos animais quem deve salvaguardar o seu bem-estar, garantindo ao mesmo tempo que os animais não são expostos a situações que lhes possam causar dor, lesões ou sofrimento desnecessário, devendo ser tratados por um número adequado de pessoas experientes. Segundo o ponto 9, do anexo II, do Decreto-Lei acima referido, os animais não podem ter os seus movimentos restringidos de forma a causar lesões ou sofrimento escusado, e, em particular, devem ter a possibilidade de se levantarem, deitarem e voltearem sem qualquer problema. As instalações e alojamentos devem ser construídos com materiais inócuos para os animais, fáceis de limpar e de desinfectar, sem arestas cortantes ou protuberâncias passíveis de causar lesões nos animais, e a ventilação e temperatura ambiente devem ser adequadas à espécie animal. É proibido manter os animais em condições de luz ou escuridão extremas, devendo sempre ser respeitado o período de luz ou escuridão mínima adequada ao bem-estar do animal. No caso de a luz natural ser insuficiente para o efeito, deve ser providenciada luz artificial. A alimentação e o consumo de água devem ser adequados à idade e espécie animal, de forma a satisfazer todas as suas necessidades fisiológicas e nutricionais. O equipamento usado para o efeito deve ser construído para que todos os animais tenham a oportunidade de comerem e beberem, com o mínimo de contaminação do alimento e da água e o mínimo de competição entre animais (Decreto-Lei n.º 48/2001 de 10 de Fevereiro). Segundo as pesquisas de investigadores da Welfare Quality®, vitelos que tinham que competir fortemente por comida durante as suas primeiras 4 semanas de vida levavam mais 10 dias que o habitual para apresentarem o peso adequado para abate e apresentavam o dobro de fígados afectados por abcessos. Estes factos podem representar perdas para a exploração de 3 a 5%, para além da redução do nível de bem-estar animal (MANTECA, 2008). LEMAN e seus colaboradores (1992) fazem também referência ao facto de esta competição social por alimento entre animais beneficiar os de hierarquia mais elevada, podendo surgir alguma disparidade no crescimento dentro do grupo, para além da existência de possíveis agressões a animais mais fracos. MCGLONE e colaboradores - 14 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA (1993) referem que os porcos de mais baixa hierarquia apresentam mais sinais de stresse que os outros e têm maior probabilidade de serem afectados por infecções virais. Uma das soluções para este problema em suínos corresponde à adopção de um sistema de produção mais intensivo, no qual os animais se encontram confinados em compartimentos individuais, impedidos de se movimentarem livremente, de socializarem e expressarem apropriadamente os seus comportamentos naturais. Mas por estas razões, é também um sistema de produção muito criticado e questionável (LEMAN et al., 1992). As boas práticas de maneio dos suínos estão expostas no Decreto-Lei n.º 135/2003 de 28 de Junho, relativo às normas mínimas de protecção de suínos em sistemas de criação e engorda intensivos, com referência à necessidade de tomar medidas no caso de os animais exibirem comportamentos violentos ou no caso de serem observados ocorrências de caudofagia. Está referido o uso de materiais como palha, feno ou serradura para os animais manipularem, satisfazendo assim as suas necessidades de manipulação e investigação. É também feita referência aos ruídos altos, constantes ou incomodativos, que devem ser reduzidos o mais possível. O Decreto-Lei n.º 135/2003 de 28 de Junho prevê as áreas mínimas de pavimento livre destinada aos suínos, consoante o seu peso. Segundo a FAO (2007), os suínos devem ter currais com paredes sólidas com uma altura de cerca de 0,9 metros. Os pisos devem permitir uma fácil e boa limpeza e drenagem, devendo também ser antiderrapantes, para impedir que os animais sofram quedas e se magoem. 2.1 Manipulação dos animais Há vários comportamentos humanos pelos quais os animais sentem antipatia e que são passíveis de causar uma aversão natural e medo, prejudicando o seu bem-estar. Destaca-se, por exemplo, o levantar da voz, maus-tratos físicos, uso do aguilhão eléctrico, o acto da vacinação, colocação dos brincos ou tatuagem e a castração. Este tipo de tratamento irá provavelmente dificultar tarefas como a simples condução ou manipulação dos animais em situações de rotina (ordenha, alimentação, visitas do - 15 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA veterinário, etc.), para além de causarem grande ansiedade e stresse nos animais (COSTA, 2006). Num estudo de NAPOLITANO e seus colaboradores em 2006, em que se pretendia observar os possíveis efeitos na qualidade da carne do grau de contacto humano nestes animais, concluiu-se que os animais sujeitos a uma interacção gentil e agradável com os tratadores ganhavam mais peso, eram mais activos e curiosos. O maneio e a condução dos animais também ficaram facilitados. Além disso, 24 horas post mortem, estes animais indicavam valores de pH da carne mais baixos. Uma das explicações para este facto pode estar relacionada com a redução de stresse nestes animais na altura da contenção e manipulação pré-abate. Ao estarem habituados à presença e manipulação de humanos, o stresse sofrido é menor (BROOM, 1993; LENSINK et al., 2000) e têm um mais rápido decréscimo do pH da carne (NAPOLITANO et al., 2006). 2.2 Stresse na exploração O stresse é uma das consequências aos estímulos negativos do ambiente envolvente. Pode ser uma resposta rápida (no caso de uma ameaça inesperada, em que o organismo se prepara para a “fuga ou luta”, libertando repentinamente catecolaminas, adrenalina e noradrenalina na corrente sanguínea, através do sistema simpático-adrenal) (LEMAN et al., 1992; MACHADO F.º e HÖTZEL, 2000). Neste caso, o stresse é útil para a sobrevivência do animal. Pode também ser uma reacção prolongada e crónica como forma de adaptação a um determinado ambiente (podendo ter consequências prejudiciais para o organismo do animal), ao que SEYLE em 1950 chamou de Síndrome Geral de Adaptação, envolvendo hormonas do sistema hipófise-adrenal. Este stresse continuado pode levar a quebras na resposta imunitária do animal, assim como diminuição da produtividade (RADOSTITS e BLOOD, 1985; MACHADO F.º e HÖTZEL, 2000). Os níveis anormalmente elevados de hormonas corticosteróides devido ao stresse crónico levam a uma diminuição na capacidade de resistência a infecções - 16 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA (RADOSTITS et al., 2007). É por isso de esperar que sistemas muito intensivos, geradores de stresse crónico nos animais, provoquem um impacto negativo na saúde dos animais, atingindo-os do ponto de vista produtivo tanto a nível de conversão alimentar (levando a um reduzido crescimento), como ao nível da mortalidade (aumentando a taxa de mortalidade), e como a nível reprodutivo (diminuindo a capacidade reprodutiva) (LEMAN et al., 1992). KLONT e colaboradores (2001) referem que uma melhoria das condições de bem-estar origina animais mais capazes de se ajustarem à mudança de ambiente (exploração-matadouro) e que reagem menos negativamente ao stresse da manipulação e do transporte. Recentes estudos revelam que o stresse pré-abate pode começar, não na carga dos animais para o transporte, mas ainda antes, por restrição da alimentação, por prévia separação dos animais por pesos ou categorias, ou ainda pela manipulação feita para conferir os números do passaporte na exploração. DEVINE e colaboradores (2006) citados por GREGORY (2008) referem que a carne das ovelhas demora mais de 3 dias até recuperar o seu pH normal quando tal acontece. Segundo COSTA et al. (1998) citado por ele próprio em 2006, há um risco acrescido de lesões e lacerações nas carcaças (que poderão levar a perdas económicas) em animais de explorações onde são submetidos a situações de stresse e de mau maneio. No estudo procedeu-se ao levantamento das situações de riscos que podem provocar hematomas ou lesões na carcaça e, consequentemente, prejudicar a qualidade e rentabilidade da carne: agressões, densidade animal excessiva, condições das instalações ou de transporte inadequadas e animais mantidos em estado de ansiedade ou sob stresse. Também segundo este autor, situações a que os animais não estejam habituados são causadoras de stresse (por exemplo, a carga, o transporte, e a descarga), stresse esse que poderá diminuir a qualidade da carne dos animais. Um estudo de NANNI-COSTA e colaboradores (2007) apontou que suínos criados em chão ripado tinham mais relutância à movimentação para o interior do veículo de transporte do que suínos criados e habituados a pisos sólidos, provavelmente devido à novidade do novo piso. - 17 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3. Factores genéticos O ambiente circundante dos animais não é o único responsável pelo seu stresse. Os factores genéticos têm também grande influência na reacção dos animais face a situações da maior perturbação, podendo determinar a resposta ao stresse durante a manipulação ou o transporte de uma determinada espécie. O gene halotano, também denominado o “gene do stresse” ou “o gene da Síndrome do Stresse Porcino”, é um gene ligado à produção de carne de suíno com menor percentagem em gordura, mas está também relacionado com uma maior predisposição para o aparecimento de carnes PSE (Pale, Soft and Exsudative – carnes pálidas, moles e exsudativas), visto produzir animais mais susceptíveis a situações de stresse (BOWKER et al., 2000; COSTA et al., 2005). Num estudo de FÀBREGA e seus colaboradores (2004) com porcos portadores do gene halotano, verificou-se que, efectivamente, estes animais respondiam de maneira diferente em situações de stresse ou de mudança de ambiente. Animais com este gene sofrem mais frequentemente de stresse por calor, habitual causa de morte em suínos transportados nas estações mais quentes do ano (COSTA et al., 2005). Segundo O’BRIAN e colaboradores (1990) animais portadores do gene possuem uma mutação que leva a uma regulação anormal dos níveis do ião cálcio, levando a contracções musculares e a um aumento do metabolismo. Assim, quando sob stresse por calor, sofrem mais violentamente de acidose metabólica muscular, provocando sinais graves de hipertermia e níveis de potássio sanguíneos fatais para o animal. O medo sentido pelos animais, tal como o stresse, tem também uma componente genética, e pode levar a uma diminuição da produtividade se em excesso. Para além dos genes, depende também de experiências anteriores e de influências ambientais. Apesar de ser uma característica difícil de medir, é possível fazer uma selecção genética de forma a beneficiar os animais mais calmos e menos assustadiços (HEMSWORTH e GONYOU, 1997; BOISSY et al., 2005), assim como reduzir comportamentos que prejudiquem o bem-estar animal (JENSEN et al., 2008). Esta selecção é facilmente praticável em bovinos, cujas diferentes raças apresentam distintas características comportamentais, desde os mais dóceis aos mais excitáveis (GRANDIN, 1993c). - 18 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Refira-se que bovinos com um temperamento calmo têm um ganho diário de peso mais elevado que os bovinos mais facilmente excitáveis (VOISINET et al., 1997). Há à disposição uma grande gama de testes, que, implementados num programa de selecção, permitem detectar possíveis casos de PSE e de Síndrome de Stresse Porcino, tais como o teste do halotano, análises enzimáticas, biopsias musculares, marcadores genéticos ou o teste da fragilidade eritrocitária (RADOSTITS e BLOOD, 1985). De referir, no entanto, que uma selecção a favor de determinadas características demora várias gerações e também pode levar a uma degradação ou desaparecimento de outras características economicamente desejáveis, de forma que é preferível actuar também sobre outros métodos de melhoramento do bem-estar animal (MILLS et al., 1997). No respeitante às aves, a melhoria do bem-estar através de selecção genética está também em uso. Desenvolveu-se uma estirpe de galinhas poedeiras que não tem grande inclinação para o canibalismo ou para bicar nos outros animais, não exigindo corte do bico para prevenir este comportamento indesejável (MUIR e CRAIG, 1998). Também é conhecida uma estirpe de galinhas que, acidentalmente e sem manipulação biotecnológica, é cega. Ao contrário do que se possa pensar, estas galinhas de capacidade sensorial deficiente sofrem menos de stresse e não apresentam certos comportamentos indesejáveis da espécie, factores que prejudicam o seu bem-estar. Apesar de constituir potencialmente uma solução para uma melhoria no bem-estar destes animais, desenvolver galinhas cegas não será facilmente aceite, quer pelo público, quer pelos grupos de defesa animal (THOMPSON, 2007). 4. O Transporte até ao Matadouro Segundo a FAO/OMS (2004) citado pela FAO (2007), o transporte de animais para abate exige uma série de condições que devem ser obedecidas de forma a poder ser assegurado um mínimo de bem-estar ao animais a transportar. São elas: O risco de contaminação cruzada fecal e de contacto dos animais com a sujidade deve ser reduzida ao mínimo; - 19 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Durante o transporte não devem ser introduzidos quaisquer novos factores de risco; A correcta identificação do local de origem dos animais deve ser garantida; Todo o stresse desnecessário deve ser evitado. Para além destas precauções, e, segundo a mesma fonte, os veículos de transporte devem ter determinadas características para serem considerados aptos no que toca às boas condições de bem-estar animal: Assegurar que o risco de lesões nos animais provocadas na carga, descarga ou no transporte seja mínimo; Assegurar que animais ou espécies considerados incompatíveis viajem com separação física entre eles; Evitar situações de contaminações cruzadas com matéria fecal (em transportes de mais que um piso, verificar a sua construção apropriada); Permitir uma fácil limpeza e desinfecção do espaço; Permitir uma adequada ventilação no transporte. O Decreto-Lei n.º 265/2007 de 24 de Julho estabelece que os transportadores devem utilizar veículos que sigam determinadas normas, de forma a terem todas as condições para um correcto e seguro transporte animal. Os veículos devem ser construídos de maneira a que nem os dejectos, nem a cama ou alimentação dos animais saiam para fora do mesmo. Devem ser limpos e desinfectados com desinfectantes autorizados logo a seguir à descarga numa instalação de limpeza e desinfecção credenciada pela DGV. As más condições de transporte podem resultar em graves repercussões para os animais, e, consequentemente, em perdas económicas para os proprietários. A má ventilação afecta sobretudo suínos e aves, mais sensíveis ao calor excessivo. Os suínos, conhecidos pela sua fraca capacidade de lidar com stresse, facilmente sofrem falhas cardíacas, podendo levar à sua morte no transporte. Os suínos de pele branca tendem a - 20 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA sofrer queimaduras solares em tempo propício. A desidratação ou a falta de alimento durante o transporte, o cansaço da viagem (obrigando os animais a equilibrarem-se em pé no interior do veículo por períodos de tempo excessivos) são factores que afectam estes animais. Também a existência de arestas afiadas no transporte susceptíveis de causarem feridas, assim como a presença de animais com cornos podem provocar lesões no couro, pele ou carne dos animais atingidos. Todas estas causas, acrescidas do stresse sofrido no transporte, levam a uma diminuição da qualidade da carne, podendo resultar no aparecimento de carnes PSE (carne pálida, mole e exsudativa – pale, soft, exsudative – de aparência e características não desejáveis para o consumidor) ou carnes DFD (carne escura, dura e seca – dark, firm, dry – também de características desagradáveis, para além de representarem um risco acrescido de multiplicação bacteriana) (FAO, 2007). 4.1 O período pré-transporte No período que antecede o transporte, os animais devem ter acesso a água limpa e a um abrigo apropriado, capaz de os proteger de condições climatéricas mais desvantajosas, assim como adequado para evitar lesões nos animais (FAO, 2007). É necessário que os animais sejam inspeccionados antes da carga, de forma a avaliar se estão aptos para o transporte. De acordo com o Regulamento (CE) n.º 1/2005 do Conselho, de 22 de Dezembro de 2004, relativo à protecção dos animais durante o transporte e operações afins, é proibido o transporte de animais muito jovens (suínos com menos de 3 semanas, cordeiros com menos de 1 semana e vitelos com menos de 10 dias), assim como de fêmeas prenhes no fim da gestação e de fêmeas que tenham feito um parto na semana anterior, pois são considerados animais não aptos para viajar. Relativamente ao transporte de equinos, é obrigatório o uso de baias individuais nas viagens de longo curso. Apesar de muitas vezes não ser uma prática corrente no nosso país, é importante que os animais venham de explorações o mais próximo possível do matadouro onde irão ser abatidos, visto isto diminuir o tempo de transporte a que os animais são sujeitos. No entanto, o tempo máximo a que os animais devem estar sujeitos à viagem de transporte - 21 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA não está estabelecido. Segundo o Regulamento (CE) n.º 1/2005 do Conselho, de 22 de Dezembro de 2004, animais não desmamados devem apenas ser submetidos a viagens de 9 horas, com uma hora de intervalo para abeberamento e podendo depois seguir viagem por mais 9 horas. Os suínos podem ser submetidos a 24 horas de viagem, mas devem para isso ter água sempre à disposição. Relativamente aos pequenos e grandes ruminantes, podem fazer viagens de 14 horas, seguidas de uma hora de repouso e podendo depois seguir viagem durante mais 14 horas. Estes ciclos referidos podem-se repetir sempre se necessário, desde que os animais tenham uma pausa de 24 horas em local apropriado, para serem descarregados, alimentados, abeberados e poderem repousar. Animais que não estejam em jejum também não são considerados aptos para transporte imediato. Isto porque, com o estômago ou os compartimentos gástricos repletos, os solavancos e o stresse do transporte aumentam muito o risco de uma torção gástrica, o que poderia causar-lhes a morte desnecessariamente. O tempo recomendado de jejum pré-transporte é de cerca de 4 horas para os suínos (FAO, 2007). Além disso, segundo TARRANT (1991), GUISE et al. (1995), MURRAY (2001), FAUCITANO (2001) e PELOSO (2002) citados por COSTA e colaboradores (2005), o jejum é benéfico pois, para além de diminuir a probabilidade de vómito dos animais, também evita uma maior disseminação de salmonela intestinal através das fezes (por diminuição do número de evacuações), diminui a carga de conteúdo intestinal (o que facilita a evisceração, diminuindo o risco de ruptura do intestino durante o processo), melhorando assim a higiene e segurança alimentar, antes, durante e após o abate. Pode-se também manter o piso do transporte mais seco e higiénico quando se restringe o fornecimento de água aos animais antes da carga, reduzindo assim a micção durante o transporte (FAO, 2007). Há situações especiais em que animais mais fracos ou lesionados podem ser transportados, mas apenas com autorização veterinária ou, quando o Veterinário não está disponível, com autorização de um responsável. Devem-se ter cuidados especiais nestes casos, principalmente na rapidez e comodidade do transporte (FAO, 2007). O Regulamento (CE) n.º 1/2005 do Conselho, de 22 de Dezembro de 2004, obriga a que todos os operadores envolvidos no processo de transporte (incluindo - 22 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA operações anteriores e posteriores ao transporte) tenham tido uma formação adequada. Os transportadores e tratadores devem apresentar um Certificado de Aptidão Profissional que prove a formação adequada recebida relativamente ao bem-estar dos animais em transporte. Sempre que o trajecto a percorrer é superior a 65 km, os transportadores são obrigados a pedirem uma autorização à DGV. No caso de viagens de duração superior a 8 horas (chamadas viagens de longo curso), os transportadores devem também possuir um Certificado de Aptidão Profissional, um certificado de aprovação do meio de transporte usado e a informação acerca do rastreio e registo dos movimentos do veículo, assim como plano de emergência. Presentemente é também necessário apresentar provas de que se possui um sistema de navegação por satélite em todos os veículos (Regulamento (CE) n.º 1/2005). 4.2 Carga dos animais HARTUNG e seus colaboradores apresentaram em 2008 um estudo baseado na medição de frequências cardíacas e os resultados indicam que o momento da carga dos animais no veículo é um dos pontos mais críticos nos seus níveis de stresse. A frequência cardíaca dos animais atingiu níveis muito elevados (passou de 100 bpm para 170 bpm) durante a carga. Também durante a descarga houve um aumento na frequência cardíaca dos animais, que voltou a níveis considerados normais durante o período de tempo de espera na abegoaria. No entanto, VAN PUTTEN (1982) refere que o stresse na carga pode ser controlado caso haja estruturas e condições para tornar a carga um evento o menos traumatizante possível para os animais. Por isso é essencial que os responsáveis pela condução dos animais tenham noções de comportamento animal e de como correctamente lidar com eles, de forma a afastar possíveis danos ou stresse desnecessário, tanto nos animais como nas pessoas envolvidas (FAO, 2007). No caso de se usar aguilhão eléctrico, o seu uso deve ser reduzido ao mínimo e é apenas autorizado em bovinos e suínos que recusem mover-se (Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril). Deve-se dar preferência ao uso de objectos menos cruéis, como varas ou - 23 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA vassouras, que manejadas inteligentemente, produzem o mesmo efeito. Também se tolera o recurso a cães treinados para auxiliar a mobilizar gado (FAO, 2007). No caso de se usarem rampas para a carga dos animais no meio de transporte, é aconselhável que esta não tenha uma inclinação superior a 20º (o mesmo se diz em relação a rampas de descarga), visto desagradar aos animais mudanças bruscas no nível do chão, podendo recusar a movimentação. Também é importante verificar a ausência de arestas pronunciadas que possam magoar os animais enquanto caminham. As rampas devem ter pelo menos 1,5 metros de largura, de forma a dar espaço e facilitar a carga dos animais. Além disso, o piso deve ser antiderrapante e possuir gradeamento lateral ou equivalente de forma a impedir que os animais caiam ou resvalem para os lados. O material deve ser sólido e resistente (FAO, 2007). Sempre que possível, devem utilizar-se plataformas ou elevadores hidráulicos para a carga e descarga dos animais. É também importante que os animais tenham espaço para seguirem uns atrás dos outros, mas não tanto que se dispersem. O recurso a mangas curvas, de paredes compactas de forma a bloquear a visão dos animais, é muito útil para facilitar a movimentação dos animais e impedir os animais de se assustarem ou distraírem com a presença de pessoas, mudança no nível do chão, ou existência de objectos estranhos. As portas existentes não devem ser demasiado ruidosas nem ter arestas cortantes. Também é importante assegurar uma correcta iluminação das instalações, mangas, rampas e transportes, visto que os animais reagem com hesitação sempre que surgem subitamente zonas de sombra ou de luz forte. O ideal é a existência de uma luz suave e difusa, sem grandes contrastes. O transporte a receber os animais deve ter sido limpo previamente e ter um piso seco (FAO, 2007). 4.3 Cuidados a ter no transporte Os veículos de transporte devem ser suficientemente fortes e estáveis, sendo vistos regularmente para manutenção, para oferecerem alguma segurança e impedirem qualquer fuga dos animais durante o transporte, assim como conterem todas as partes do corpo dos animais no interior dos seus limites. Devem ser facilmente laváveis, tanto no interior como no exterior. No interior do veículo, o piso deve ser antiderrapante. Não - 24 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA devem existir materiais ou objectos perigosos passíveis de provocar lesões nos animais, assim como qualquer tipo de arestas perfurantes. Deve ser suficientemente espaçoso para dar bem-estar aos animais e permitir alguma movimentação. As portas devem ter sempre mais de 90 cm, e ser construídas de forma a facilitarem a entrada e saída dos animais. A ventilação deve ser adequada e os fumos provenientes do tubo de escape do veículo não devem dirigir-se para os animais transportados (FAO, 2007). O transporte deve ser efectuado de noite (ou nas horas consideradas mais frescas) quando as condições climatéricas de dia não forem favoráveis ao transporte por calor excessivo, visto os animais (sendo os suínos uma espécie particularmente sensível) poderem vir a sofrer de stresse térmico. O transportador deve ter o cuidado de evitar estradas sinuosas ou de mau piso, assim como ter a atenção de conduzir sem travagens ou acelerações bruscas, de forma a afastar um risco maior de lesões ou quedas dos animais que transporta (FAO, 2007). Tal como sugerido anteriormente, deve ser assegurado que animais ou espécies considerados incompatíveis viajem separados. Os grupos de animais que não devem viajar juntos ou sem separação física incluem animais com cornos, animais sem cornos, animais mais fracos ou excessivamente fortes, animais de tamanhos muito díspares, assim como touros adultos (FAO, 2007). É da responsabilidade do condutor do veículo transportador que o seu veículo permita a densidade de carga a que será sujeito. A densidade da carga varia com o peso e tamanho dos animais, condições climatéricas e tipo de transporte. Isto é muito importante visto que a densidade tem repercussões na quantidade de lesões que os animais sofrem durante o transporte. No caso dos animais terem cornos, a densidade deve ser reduzida cerca de 5% da densidade considerada normal. É também seu dever certificar-se que os animais carregados têm todas as condições de bem-estar devidas (FAO, 2007). O Regulamento (CE) n.º 1/2005 do Conselho, de 22 de Dezembro de 2004, estipula as densidades de carga recomendadas para cada espécie animal consoante o seu peso, para os tipos de transporte previstos. Os valores previstos podem variar consoante o peso, tamanho e estado físico dos animais, condições atmosféricas e duração da viagem (Regulamento (CE) n.º 1/2005). - 25 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 4.4 Factores associados a um transporte inadequado e suas consequências Mesmo sob condições boas de transporte e viagens curtas desde a exploração até ao matadouro, os animais podem apresentar sinais de stresse. Esta resposta aumenta drasticamente se as condições de transporte não são as melhores, levando inevitavelmente a uma diminuição do bem-estar animal e a perdas económicas (TARRANT e GRANDIN, 1993). A degradação do bem-estar animal durante o transporte tem influência directa no stresse animal, o que interfere na qualidade da carne (CHLOUPEK et al., 2008). Transporte sob condições atmosféricas adversas (temperaturas extremas ou tempo húmido), com mistura de animais de diferentes proveniências no mesmo espaço (stresse social), com densidades excessivas ou vibrações e ruídos estranhos que possam assustar os animais são alguns dos inúmeros factores que podem afectar os animais durante o transporte (MOTA-ROJAS et al., 2006). Também a fraca ventilação do transporte, a técnica de transporte e uma manipulação violenta diminuem o bem-estar dos animais transportados (LAMBOOIJ e VAN PUTTEN, 1993). De seguida são enumerados alguns dos principais problemas com que os animais de produção se deparam durante o transporte desde a exploração até ao matadouro e são referidas algumas das suas consequências. 4.4.1 Duração excessiva do transporte Os resultados obtidos por MOTA-ROJAS et al. (2006) indicam que a duração do transporte afecta a incidência de lesões na pele dos animais. Quanto mais longo for o tempo de transporte, mais lacerações os animais apresentam e mais casos de eritema (tanto localizado como generalizado) são detectados em matadouro. Os machos são aqueles que mais lacerações exibem, podendo isto ser explicado pela maior tendência destes animais para lutas durante o transporte e principalmente no período de tempo que passam na abegoaria, local preferencial para estabelecer hierarquias quando há mistura de animais de diferentes proveniências (GEVERINK et al., 1996). Num estudo de - 26 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA BECERRIL-HERRERA et al. (2007) demonstra-se que são os machos os mais afectados com sinais de hiperventilação, em transportes com a duração elevada e são também os menos resistentes à fadiga. O ideal seria abater os animais próximo dos locais de cria e produção, para que o stresse de transporte fosse minimizado (RADOSTITS e BLOOD, 1985; MOTA-ROJAS et al., 2006). HARTUNG e colaboradores (2008) referem mesmo que transportes de curta distância não têm qualquer efeito nefasto na qualidade da carne. É de prever alguma perda de peso no transporte, quer devido ao stresse de transporte como à privação de água e comida a que os animais são submetidos (GRACEY et al., 1999). As perdas normalmente variam entre 4 a 9% do peso do animal, a maior parte devido à perda de fluidos e electrólitos no tracto digestivo do animal, que não são substituídos ou compensados. No caso de animais submetidos a transportes longos ou sob muito stresse, a recuperação total do peso perdido pode demorar até 3 semanas (RADOSTITS e BLOOD, 1985). As fêmeas desidratam menos que os machos, provavelmente devido à sua constituição corporal ser diferente, contendo uma maior percentagem de gordura, sendo esta capaz de reter água (BROWN et al., 1999; RUBIO, 1996 citado por MOTAS-ROJAS et al., 2006). 4.4.2 Densidade excessiva A elevada densidade de animais no transporte é um dos factores que predispõe a uma maior incidência de contusões (GRANDIN, 2001). Um estudo de NANNI-COSTA e colaboradores (1999) revelou que altas densidades (acima dos 0.6 m2/100kg) aumenta a ocorrência de traumatismos e lacerações nos animais. WAJDA e DENABURSKI (2003) citados por BECERRIL-HERRERA e colaboradores (2007) também referem que a qualidade da carne diminui sempre que os animais são transportados em condições de excessiva densidade e em longos trajectos, o que provoca uma diminuição do glicogénio dos músculos, originando carnes fatigadas. Uma das conclusões a que de BECERRIL-HERRERA e seus colaboradores (2007) chegaram defende que o aumento de espaço no transporte possibilita um maior - 27 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA bem-estar animal, além de assegurar uma diminuição da incidência de cores desfavoráveis na carne. Outro problema relativo a grandes densidades é a pouca capacidade de arrefecimento dos animais nestas condições, que pode ser agravada quando o transporte não tem uma ventilação adequada ou no caso de ser efectuado em dias quentes. Os suínos não têm glândulas sudoríparas desenvolvidas e por isso não transpiram. A selecção a que os suínos domésticos foram submetidos também deteriorou a sua capacidade de arrefecimento, visto que sempre se preferiu animais com uma tromba mais pequena (por razões estéticas), o que lhes diminuiu a área corporal de evaporação (LAMBOOIJ e VAN PUTTEN, 1993). 4.4.3 Condução inadequada do transporte Chegou-se à conclusão que a qualidade do piso das estradas e a perícia do condutor têm influência no stresse dos animais (HARTUNG et al., 2008). TARRANT e GRANDIN (1993) afirmam mesmo que a capacidade de condução do transportador e a qualidade da estrada é mais importante que a distância percorrida pelos animais desde a exploração até ao matadouro. Paragens bruscas ou a utilização de estradas secundárias em mau estado estão associadas ao aumento de stresse e aparecimento de traumatismos e lacerações (TARRANT, KENNY e HARRINGTON, 1988 citado por MOTA-ROJAS et al., 2006). Carcaças de animais muito lesionados terão de ser aparadas, perdendo peso e destruindo o aspecto comercial, o que leva a perdas económicas (SOUZA e FERREIRA, 2007). 4.4.4 Condições climatéricas desfavoráveis GRANDIN (1994) menciona que há uma maior tendência para o aparecimento de carnes PSE caso o transporte se verifique em meses do Verão, quando há mistura de animais de diferentes proveniências ou quando há uma densidade excessiva no transporte. Este facto foi comprovado em 2008, por VOSLAROVA e seus colaboradores. O factor ambiental mais determinante no stresse de suínos transportados - 28 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA é a temperatura ambiente, devendo ser sempre um aspecto a considerar antes de se proceder ao transporte. Num dos seus estudos na República Checa com porcos de engorda, desde 1997 até 2006, verificou-se que as estações do ano afectam directamente a mortalidade dos animais durante o transporte. A maior taxa de mortalidade foi notada no durante o mês de Junho, Julho e Agosto (meses particularmente quentes, cujas temperaturas médias ultrapassavam os 15ºC). 4.4.5 Stresse de transporte Um estudo de GRIGOR e colaboradores (2004) pretenderam comparar o bemestar animal entre animais (vitelos, neste caso) transportados para o matadouro para abate e animais que foram abatidos na própria exploração, para determinar de que forma é que o transporte atinge os animais. Observou-se que, efectivamente, o transporte é um evento indutor de stresse nos animais. Os vitelos transportados para o matadouro tinham níveis mais elevados de creatina-quinase comparativamente com animais não submetidos a transporte. A creatina-quinase é uma enzima específica dos músculos, cujos níveis altos indicam trauma muscular devido a lesão ou excesso de exercício físico (LEFEBVRE e colaboradores, 1996 citados por GRIGOR et al., 2004). Esta observação está em sintonia com o facto de os animais transportados para o matadouro aparecerem com mais lesões do que os animais abatidos na exploração. Também se observou um aumento na frequência cardíaca (durante o transporte e estadia na abegoaria), e um aumento significativo dos níveis de cortisol plasmático após o transporte, indicando que estes eventos são particularmente stressantes para os animais. GRANDIN (1997) documenta também que o transporte é responsável tanto por stresse físico (cansando os animais, submetendo-os a temperaturas não adequadas e expondo-os ao risco de traumatismos), como por stresse psicológico (na manipulação, contenção e condução dos animais, sujeitando-os a ambientes desconhecidos). O estudo de BECERRIL-HERRERA et al. (2007) demonstrou de que forma a qualidade da carne se altera com o stresse de transporte. Neste estudo verificou-se que viagens longas aumentam o aparecimento de um pH baixo na carne, aos 45 minutos pós-abate. Este facto pode ser explicado pela aceleração do processo de glicólise no - 29 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA músculo do animal, devido ao stresse agudo sofrido por este. Isto leva a que o pH da carne diminua mais rapidamente que o normal, alterando as suas características e predispondo ao aparecimento de carnes PSE. No caso de viagens de longa duração, há uma maior incidência de carne DFD (também corroborado por BROWN et al., 1990 e por MOTA-ROJAS et al., 2006), ocorrência que se compreende devido ao stresse crónico e continuado, à fome e às temperaturas extremas, o que limita o processo de glicólise (provocando um esgotamento de glicogénio muscular e de reservas energéticas) e, consequentemente, limita também a descida de pH (GIL, 2000). De referir que a carne que apresente um pH inferior a 5.7 aos 45 minutos após o abate pode apresentar a condição conhecida por PSE e carne que apresente pH superior a 6.3 aos 45 minutos após o abate pode apresentar a condição DFD (BECERRIL-HERRERA et al., 2007). Trabalhos de VAN DE WATER e colaboradores (2003) provaram que existem diferenças nos níveis de cortisol e na qualidade da carne de animais dependentemente da zona do veículo de transporte onde viajam. Animais que viajavam nos compartimentos mais atrás do veículo apresentaram um ritmo cardíaco mais acelerado, o que se deve ao facto de ser mais difícil os animais equilibrarem-se nestes compartimentos (devido à maior movimentação desta zona), levando a um maior esforço e desgaste físico dos animais. No entanto, era nos compartimentos da frente que os animais apresentavam maiores níveis de cortisol plasmático (provavelmente devido ao facto de, nesta parte do veículo, mais facilmente existir pior ventilação, temperaturas inadequadas, ruídos incómodos vindos do motor ou correntes de ar), ocorrendo com maior frequência a condição PSE nestes animais. 4.4.6 Doenças de transporte O transporte, por ser um factor de stresse importante, predispõe a várias doenças, entre elas a doença respiratória aguda e a pasteurolose pneumónica, levando a graves perdas económicas (RADOSTITS e BLOOD, 1985). Uma das doenças mais importantes é a chamada “febre dos transportes”, frequente causa de mortalidade, sendo uma patologia respiratória com origem multifactorial, que surge devido à associação do - 30 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA stresse de transporte (que deprime o sistema imunitário), agentes bacterianos e agentes virais oportunistas (GRANDIN, 1993a). Outro problema bastante comum é a salmonelose. O stresse provoca aumento da susceptibilidade dos animais que estão em contacto com a bactéria e um aumento da eliminação de Salmonella em suínos portadores (ISAACSON et al., 2001). A Salmonella é potencialmente patogénica para o ser humano, podendo provocar graves intoxicações alimentares (WIERUP, 1994). Salmonella typhimurium é a responsável pela maioria das salmoneloses no Homem (representa 11-30% dos casos de intoxicações alimentares relacionados com o consumo de carne de porco, segundo o Centre for Disease Control, EUA) (ISAACSON et al., 2001). Este aumento da excreção de agentes bacterianos pode levar a contaminações cruzadas e a uma reduzida salubridade das carnes (GREGORY, 2008). Daí perceber-se a importância de uma boa higiene e a gravidade de uma carcaça estar contaminada pela bactéria e proceder para consumo humano (WIERUP, 1994). Normalmente, os suínos são infectados por Salmonella ainda jovens, tornando-se portadores crónicos no caso de sobreviverem à infecção. O estudo de ISAACSON e seus colaboradores também provou que é o stresse de transporte e não o jejum a que os animais são submetidos antes do transporte que provoca este aumento na eliminação do agente, uma hipótese que anteriormente se tinha colocado (ISAACSON et al., 2001). 5. Matadouro 5.1 Recepção e permanência na abegoaria Segundo o Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril, todos os matadouros devem dispor de instalações e equipamento adequado à descarga dos animais. O transportador tem que apresentar na recepção toda a documentação necessária que a legislação em vigor exige, incluindo o registo da exploração, guias, certificados, passaportes, etc. (GIL, 2000). É da responsabilidade do condutor do veículo informar a pessoa encarregada de todas as ocorrências na viagem susceptíveis de atingir o bem-estar - 31 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA animal, assim como da última refeição e abeberamento, e tratamentos administrados (FAO, 2007). Na descarga, devem ser tomados os mesmos procedimentos e cuidados adoptados na carga (FAO, 2007). Deve-se ter em conta que os animais chegam cansados e possivelmente lesionados, sendo por isso imprescindível uma maior calma ao lidar com eles. Também por isso, a descarga deve ser feita assim que se chega ao matadouro (Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril; GIL, 2000; FAO, 2007). É importante assegurar que animais incompatíveis não se misturem durante este processo (DecretoLei n.º 28/96 de 2 de Abril; FAO, 2007). Animais que cheguem em agonia ou com lesões severas devem ser submetidos a abate de urgência. No caso de não haver um Veterinário presente, o abate pode ser feito sob a supervisão de um responsável para o efeito. Deve-se evitar ao máximo causar dor acrescida ao animal em sofrimento, seja por movimentação desnecessária, seja por prolongamento do período de agonia (Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril; FAO, 2007). É aceitável proceder-se à insensibilização e sangria do animal, caso tal seja possível ou necessário, no próprio veículo de transporte (FAO, 2007). Assim que os animais são descarregados e encaminhados para a abegoaria, develhes ser oferecida água potável sem limitações, de forma aos animais puderem recuperar do desgaste e desidratação sofridos no transporte (Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril; FAO, 2007). Segundo o Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril, os animais que não sejam abatidos nas 12 horas seguintes à sua chegada devem ser alimentados adequadamente, assegurando sempre um intervalo seguro de jejum antes do abate. Nos matadouros, as abegoarias devem ser construídas de forma a garantir o bemestar animal e segurança para todos os intervenientes. Os currais onde são mantidos os animais, assim como os corredores ou mangas por onde são encaminhados, devem ser adequados para a espécie animal respeitante. O piso deve ser facilmente lavável e antiderrapante. A ventilação e iluminação do local devem ser adequadas (Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril; FAO, 2007). Deve haver um sistema eficaz para eliminação de fezes e urina. Não deve haver arestas cortantes ou objectos passíveis de causar lesões nos animais. De preferência, as paredes das mangas devem ser maciças, de forma a - 32 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA impedir que os animais se assustem ou distraiam enquanto são movimentados. Toda a maquinaria circundante deve ser o mais silenciosa possível (FAO, 2007). Durante a sua permanência nas abegoarias os animais nunca devem sofrer agressões que lhes provoquem medo, stresse ou dor. Não devem ser agredidos, flagelados, espancados ou empurrados, nem lhes deve ser provocada qualquer dor em zonas sensíveis. Não devem ser obrigados a moverem-se arrastando-os por qualquer parte do corpo, seja pela cauda, pelos cornos, pelo nariz, pelo pêlo, etc. O uso do aguilhão eléctrico deve ser feito com a maior cerimónia possível, sendo uma opção de último recurso (Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril; FAO, 2007), e as descargas apenas podem ser aplicadas nos membros posteriores do animal (Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril). No caso de ser usado, indica uma falha em termos da aplicação das boas práticas do bem-estar animal, e que é necessário uma revisão do sistema de condução animal (FAO, 2007). A sobrelotação da abegoaria é outro factor a evitar, devendo sempre dar-se espaço suficiente aos animais para uma circulação livre, seja para exploração do novo espaço ou para abeberamento/alimentação se necessário. O espaço tem de ser suficiente para todos os animais estarem deitados ao mesmo tempo sem problemas de maior (FAO, 2007). Também aqui se deve seguir as regras de segregação de animais incompatíveis (Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril), separando animais de explorações diferentes, touros adultos, animais adultos de animais jovens, animais com cornos e sem cornos, etc. Os animais mais frágeis (seja por lesão, fadiga excessiva, ou por serem muito jovens) devem ser protegidos e colocados à parte (FAO, 2007). Esta separação dos animais por lotes de idade, sexo, espécie e tamanho, para além de evitar possíveis prejuízos económicos devido a agressividade dos animais, ajuda o inspector sanitário a realizar a inspecção ante mortem (GIL, 2000). Uma forma rápida e fácil de reduzir o stresse destes animais é aspergindo água sobre eles. O duche relaxa e alivia o stresse, atenuando a possibilidade de surgir carne com características PSE, ao diminuir a acidose pré-abate (GREGORY, 2008). Segundo ROÇA e SERRANO (1995), também permite um abate mais higiénico, apesar de não ter quaisquer efeitos relativamente à contaminação microbiana na carcaça. - 33 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Refira-se ainda que a acção do stresse (devido ao jejum forçado, às condições climatéricas, do transporte e do matadouro e à mistura de animais de diferentes proveniências) reduz a resposta imunológica do animal. Segundo COSTA e colaboradores (2005), o stresse provoca um aumento de evacuação fecal, levando, por exemplo, a um agravamento de excreção de Salmonella nas fezes. Os mesmos autores citam BERENDS e seus colaboradores (1996), que referem que esta situação leva à contaminação de animais que não estavam infectados por Salmonella anteriormente, piorando as condições de higiene na abegoaria. É, por isso, de esperar que quanto mais tempo os animais passam na abegoaria, maior será a contaminação cruzada de Salmonella intestinal (GIL, 2000; COSTA et al., 2005). 5.2 Abate dos animais 5.2.1 Encaminhamento dos animais para a nave de abate O encaminhamento dos animais consta da sua condução desde os parques da abegoaria até à zona de insensibilização ou atordoamento (GIL, 2000). HAMBRECHT e seus colaboradores (2004, 2005) indicam que os momentos antes do abate efectivo são preponderantes no que respeita às características da carne obtida, visto que o stresse vivido pelo animal desde a abegoaria até ao local de insensibilização tem grande influência na concentração de lactato muscular nas 2-3 horas post mortem e no pH final da carne. Uma má manipulação dos animais leva invariavelmente a perdas económicas (GALLO et al., 2001 citado por BECERRILHERRERA et al., 2007). FRANK e seus colaboradores (2003a) chegaram a conclusões semelhantes. Estudaram o efeito de duas técnicas de encaminhamento de suínos para a zona de insensibilização e da forma como estes afectavam a frequência de ocorrência de carne PSE. O primeiro grupo de animais foi submetido a um encaminhamento violento, através de uma manga de retenção imobilizadora, que obrigava os animais a dirigiremse para a zona de insensibilização um a um, e com o uso sistemático de aguilhão eléctrico. Foram observados sinais de stresse, como a vocalização, apatia e tentativas de - 34 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA fuga. No segundo grupo, o encaminhamento foi feito calmamente, com os animais conduzidos em pequenos grupo, recorrendo-se apenas ao uso de portas de deslize, sem intervenção humana. Estes animais não aparentaram sinais de stresse, dirigindo-se sem relutância para a zona de insensibilização. Após o abate, a carne dos animais foi analisada, constatando-se que o stresse imediatamente antes do abate tem grandes consequências na qualidade da carne, particularmente na ocorrência de carne PSE, que se caracteriza pela ocorrência de miopatia exsudativa (FRANK et al., 2003b). O segundo grupo de animais teve uma frequência de 13% de carne com características PSE, contrastando com o primeiro grupo, com uma frequência de 50% (FRANK et al., 2003a). Tem sido referido também que, na proximidade da nave de abate, os animais a abater tenham a capacidade de detectar uma feromona de aviso presente no sangue de animais submetidos a um elevado nível de stresse que se liberta para o ambiente no acto da sangria. Tal facto teria naturalmente um efeito ao exacerbar o stresse pré-abate. Desta forma, é importante a colocação de ventoinhas que retirem o ar da zona de insensibilização, assim como de lavagens regulares do sangue dos animais abatidos (GRANDIN, 1993b). 5.2.2 Na nave de abate O Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril estabelece as normas para a protecção dos animais no abate. Proíbe a utilização do equipamento de atordoamento como forma de contenção ou imobilização dos animais, assim como para os obrigar a mover. Também não é permitido utilizá-lo para provocar sofrimento nos animais. De referir que existem métodos menos convencionais de abate, que comprometem gravemente o bem-estar animal. Práticas como o afogamento, matança de porcos sem atordoamento ou o corte da medula espinal cervical em bovinos sem insensibilização são práticas a considerar como cruéis e inaceitáveis (FAO, 2007). A FAO (2007) sugere a implementação de um sistema do tipo HACCP para assegurar o bem-estar animal durante todos os passos do abate, apontando falhas e - 35 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA apresentando possíveis melhorias para um contínuo progresso na qualidade de todo o sistema de abate. Há referência a 5 pontos críticos de controlo: - Eficácia do atordoamento: avaliação do número de animais que são efectivamente insensibilizados à primeira tentativa; - Insensibilidade após o atordoamento: avaliação do número de animais que se mantêm insensíveis durante e após a sangria; - Vocalização: avaliação do número de animais que vocalizam (não se aplica na espécie ovina, pois pouco vocalizam em condições ditas normais); - Quedas/deslizes: avaliação do número de animais que caem ou escorregam durante o encaminhamento e na zona de atordoamento; - Eficácia do uso de aguilhão eléctrico: avaliação do número de animais que obrigam ao uso de aguilhão eléctrico. A INSENSIBILIZAÇÃO: A insensibilização antes da sangria é um passo extremamente importante do ponto de vista do bem-estar animal de forma a evitar sofrimento inútil ao animal (ROÇA, 2001; Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril; FAO, 2007). Consiste em induzir o estado de inconsciência ao animal, de forma a evitar qualquer sofrimento desnecessário (GIL, 2000). A insensibilização deve ser feita através de um método seguro e apropriado para o efeito, deve provocar a perda de consciência do animal e deve durar até a altura da morte do animal na sangria (Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril; FAO, 2007). É importante que haja formas de verificar se o processo de atordoamento está a ser correctamente executado, consoante a espécie e tamanho do animal. Os operadores responsáveis pela execução do método devem ser competentes e treinados para o efeito. Os dispositivos utilizados para a insensibilização devem ser limpos regularmente e sempre que necessário, submetidos a manutenção apropriada. O animal só deve ser sujeito à insensibilização no caso de se proceder à sangria imediatamente depois (Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril; FAO, 2007). - 36 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Os animais são normalmente conduzidos para a área de insensibilização através de mangas, de preferência com paredes maciças e sem arestas, com iluminação adequada e com chão antiderrapante, e com o mínimo de stresse possível (FAO, 2007). Um correcto atordoamento implica que se faça antes a imobilização do animal, limitando-lhe os movimentos (GIL, 2000). Segundo as normas estabelecidas pelo Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril, os animais devem ser sempre imobilizados, de forma a prevenir possíveis dores, sofrimento, agitação ou lesões desnecessárias. Existem vários tipos de imobilizadores de animais, que facultam a contenção do animal e facilitam o processo de insensibilização, tornando-o mais seguro, rápido e eficaz. O objectivo é confinar o animal e impedi-lo de fazer movimentos bruscos. No entanto, a imobilização dos animais também pode ser manual (FAO, 2007). É importante que, qualquer que seja o método de imobilização do animal, este não provoque lesões nem sofrimento ao animal (GIL, 2000). Segundo o Anexo D do Decreto-Lei 28/96 de 2 de Abril, existem vários métodos de atordoamento autorizados: - Electronarcose ou Atordoamento eléctrico: Este método consiste na utilização de eléctrodos que são colocados abrangendo o cérebro do animal, de forma a que seja atravessado por uma corrente eléctrica. A identificação de uma correcta insensibilização é fundamental para reconhecer situações de falhas no bem-estar animal. Após um atordoamento correcto e eficaz, o animal passa por duas fases: a fase tónica (com duração de 10 a 12 segundos, em que o animal cai rigidamente, com as patas anteriores esticadas e as posteriores flectidas, respirando irregularmente) e a fase clónica (com duração de 20 a 35 segundos, em que o animal escoiceia, movimenta os olhos e saliva). Caso o animal não seja sangrado imediatamente, recuperará a respiração regular (FAO, 2007). Uma consequência possível de um atordoamento eléctrico incorrecto é o aparecimento de hemorragias de shock (também conhecida por “splashing”) na carcaça ou vísceras do animal. Estas manchas ou petéquias hemorrágicas aparecem normalmente nos tecidos contíguos à zona de descarga eléctrica, principalmente - 37 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA músculos e fáscias. Ocorre devido à súbita ruptura de capilares que a descarga desencadeia, havendo várias teorias para o facto, mas nenhuma ainda foi provada. Pensa-se que poderá estar relacionado com as contracções musculares que rasgam os capilares devido a um súbito aumento de pressão venosa (MORENO, 2006; GREGORY, 2007). Poderá também estar relacionado com a própria genética do animal, visto que o “splashing” é mais frequentemente observado em animais com capilares frágeis (GREGORY, 2007). - Atordoamento por concussão: Feito através de um golpe violento na cabeça do animal, de forma a provocar a perda repentina de consciência do animal, que deve durar até à sua morte (FAO, 2007). É feito através de pistolas de êmbolo (também chamadas de CBG’s) não penetrantes. A mais recomendada é a CBG que incorpora no seu sistema um dispositivo em forma de cogumelo que atinge a cabeça do animal com uma pancada, provocando perda de consciência por concussão, devendo ser usada apenas em bovinos (GRACEY et al., 1999; FAO, 2007). O atordoamento não deve provocar fractura do crânio (Decreto-Lei 28/96 de 2 de Abril). - Atordoamento com pistola de êmbolo retráctil: No caso das CBG’s penetrantes, ao contrário das CBG’s não penetrantes, o êmbolo causa sempre lesões irreversíveis no cérebro, penetrando no córtex e cérebro médio, provocando a inconsciência ao interromper a actividade cerebral do animal. A posição de tiro destas pistolas varia com a espécie do animal (Decreto-Lei 28/96 de 2 de Abril), assim como com a sua idade e o tipo de CBG usada (FAO, 2007). É proibido atordoar os animais pela nuca, excepto no caso de coelhos, ovinos ou caprinos cuja posição dos cornos não permita a penetração frontal do êmbolo (Decreto-Lei 28/96 de 2 de Abril). Após um atordoamento mecânico eficaz, o animal cai imediatamente, tendo os olhos fixos, sem qualquer reflexo córneo ou respiração rítmica. Caso o animal não caia prontamente, tenha reflexo córneo, mova os olhos ou respire ritmicamente, é indicativo de que o atordoamento foi mal feito, violando-se um principio importante do bem-estar animal. Deve-se assegurar que este erro seja rapidamente corrigido, atordoando novamente o animal de uma forma eficaz, posicionando a pistola cerca de 1 cm acima - 38 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA do ponto correcto de disparo e cerca de 5 cm ao lado da linha média. De salientar que não se deve nunca utilizar o mesmo ponto de disparo utilizado anteriormente. Sempre que a eficácia dos disparos baixe dos 95%, deve-se actuar de forma a melhorar esta percentagem (FAO, 2007). Têm-se feito estudos acerca da possibilidade de tecido cerebral passar para a corrente sanguínea devido à insensibilização feita com pistola de êmbolo oculto penetrante. Os resultados indicam que há efectivamente risco de disseminação de material do sistema nervoso central na circulação sistémica, incluindo órgãos viscerais, levantando novas preocupações acerca de possíveis infecções de EET (Encefalopatias Espongiformes Transmissíveis) nos seres humanos. É possível que, eventualmente, este problema possa levar à proibição do uso deste método de atordoamento (FAO, 2007). - Atordoamento com atmosfera modificada ou Exposição ao CO2: Este tipo de atordoamento é feito com a ajuda de uma câmara com uma mistura de gases aos quais o animal é exposto, capazes de provocar inconsciência no animal. Deve-se monitorizar e assegurar que a quantidade de gases e o tempo que o animal é exposto a eles são suficientes para uma insensibilização eficaz. Um animal correctamente insensibilizado sai da câmara com os músculos relaxados, sem respiração rítmica e sem resposta a estímulos dolorosos (FAO, 2007). Segundo o Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril, a concentração de CO2 para um atordoamento eficiente deve ser, no mínimo, de 70% em volume. Segundo GIL (2000), vários métodos de atordoamento foram abandonados por apresentarem problemas de segurança, de sanidade e de bem-estar animal, tais como a técnica da choupa, a técnica da cavilha ou prego, o uso do maço (de madeira ou de ferro) ou o uso de armas de fogo. São consideradas excepções relativamente ao método de atordoamento os casos de abate de emergência sem que haja possibilidade de executar o atordoamento, abate de animais devido a controlo sanitário, abate realizado pelo produtor para consumo próprio e abate religioso (GIL, 2000). - 39 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SACRIFÍCIO JUDAICO (“SHECHITA”): O método de sacrifício judaico, também chamado de “shechita”, é aplicado somente a bovinos, caprinos e aves, visto que os judeus não comem carne de porco. Não é feito qualquer tipo de insensibilização ao animal, apesar de já haver algumas práticas de insensibilização com êmbolo autorizadas pela lei judaica (FAO, 2007). A legislação abre uma excepção para estes rituais religiosos (Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril). O abate é feito após contenção do animal, com uma faca especial afiada que corta rápida e eficazmente o pescoço do animal. A sangria faz-se cortando todos os vasos do pescoço, devendo ser rápida para que o animal morra o mais depressa possível. O maneio préabate deve ter as mesmas considerações sobre bem-estar animal que um abate nãoreligioso (FAO, 2007). Segundo o Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril, é obrigatória a imobilização de bovinos antes do abate religioso, através do uso de processos mecânicos. É proibido prender as patas dos animais, assim como suspendê-los antes do abate ou atordoamento. Existem inúmeras preocupações sobre o bem-estar de animais submetidos a abate religioso. Os pontos principais são o maneio pré-abate que provoca grande stresse nos animais (imobilização com cordas para prender as patas; vendas nos olhos), a dor sentida pelo animal durante o corte do pescoço (visto estarem conscientes) e a possibilidade de degolas mal feitas (levando a uma morte lenda e agonizante para o animal) (FAO, 2007; GREGORY, 2007). Desta maneira, é essencial que as pessoas envolvidas no abate religioso sejam experientes e tenham formação adequada para a tarefa a executar, para que o animal sofra o menos possível. Deve-se, sempre que possível, explicar todas as vantagens da insensibilização do animal antes da sangria, alertando para o facto de que a insensibilização não ter qualquer efeito negativo na sangria (FAO, 2007). SANGRIA: A sangria consiste na redução da quantidade de sangue em circulação no sistema do animal (GIL, 2000). De acordo com as normas estabelecidas no Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril, deve ser iniciada o mais rapidamente possível após o correcto atordoamento e ser efectuada antes da recuperação da consciência do animal. - 40 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA A sangria deve apenas ser feita em animais correctamente insensibilizados. Recorre-se a uma faca “tipo vampiro”, adequada ao tamanho e espécie do animal. O corte é feito na base do pescoço, na prega da jugular, apontando para o peito do animal (FAO, 2007). O que se pretende é cortar as artérias carótidas ou os vasos que delas derivam, para que o animal sangre o mais completamente possível e a morte ocorra (Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril; FAO, 2007). Os tempos máximos tolerados para começar a sangria após atordoamento do animal, segundo o Decreto-Lei n.º 28/96 de 2 de Abril, estão expostos a seguir: Atordoamento com pistola de êmbolo: 60 segundos; Atordoamento eléctrico ou por pancada: 20 segundos; Atordoamento por exposição ao CO2: 60 segundos (após sair da câmara). É importante que o animal mantenha os movimentos respiratórios e os batimentos cardíacos para que a sangria seja o mais completa possível. Nos grandes animais, uma sangria completa demora entre 5 a 8 minutos. Uma má sangria leva a carnes com má apresentação, conservação e salubridade (GIL, 2000). 6. Conclusão Actualmente ainda há muito trabalho a fazer no vasto campo do bem-estar animal. Nos últimos anos tem havido um acréscimo de atenção relativamente às condições de transporte a que os animais são submetidos, e um aperto das fiscalizações e restrições em termos da lei. Apesar de continuarem estar longe do ideal, estas melhorias tiveram efeitos positivos na redução da taxa de mortalidade dos animais durante o transporte, principalmente de suínos, animais mais sensíveis ao stresse de transporte (CHLOUPEK et al., 2008). O ideal seria aperfeiçoar todas as etapas da cadeia de produção de carne, desde o processo de cria e maneio pré-abate, passando pela melhoria das instalações e rede de transportes para o matadouro, até todo o processo de insensibilização e de abate. A escolha de raças de animais menos propensas - 41 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE I REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ao stresse é também uma medida a ser avaliada para se obterem carcaças e carne de melhor qualidade (COSTA, 2006). Existem movimentos cívicos que defendem a proibição de importação de carne vinda de países com poucas condições de bem-estar animal, de forma a pressionar os produtores a melhorar as condições em que produzem os animais (APPLEBY, 2005). GRANDIN (1993a) também sugere o uso de incentivos financeiros, valorizando-se o trabalho pela qualidade e não pela rapidez de execução. Prémios pela redução de lesões nos animais para abate são uma opção a ter em conta. Segundo a Ordem dos Médicos Veterinários (2008), foram várias as propostas sugeridas pela Comissão para melhorar os níveis de protecção animal em relação ao bem-estar, tidos como muito desiguais dentro da União Europeia. Entre elas, destaca-se a necessidade de certificados de competência (emitidos por órgãos creditados para o efeito) de cada pessoa envolvida no abate dos animais. Também se propôs a criação de um Centro Nacional de Referência em cada país da UE, que assegurará um melhor bemestar animal, ao conceder assistência técnica, ao ponderar os métodos de atordoamento e avaliar novos matadouros. CURTIS (1990) citado por LEMAN e colaboradores (1992), afirma também que é importante educar os produtores e todas as pessoas envolvidas no maneio animal acerca do bem-estar animal e a sua importância para uma maior produtividade e melhores lucros. FRIEND (1990) alerta inclusive para a importância da instrução acerca do bem-estar animal e do bom maneio dos animais a alunos de Medicina Veterinária, de forma a tornarem-se profissionais com ética, conhecedores do comportamento de animais de produção, da fisiologia do stresse e da melhor maneira para implementação de um bem-estar animal de qualidade superior, ao mesmo tempo que são capazes de enfrentar criticas de possíveis grupos activistas de defesa dos animais. De referir, no entanto, que, apesar de poderem aparentar algum extremismo, estes grupos activistas, juntamente com os grupos responsáveis pelo bem-estar animal, desafiam tanto os métodos como os procedimentos utilizados na produção animal, possibilitando e estimulando a constante mudança e evolução do sistema (GETZ e BAKER, 1990). - 42 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL PARTE II – TRABALHO EXPERIMENTAL - 43 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL 1. Introdução Lacerações, hematomas, eritema, fracturas e luxações são alguns tipos de anomalias observáveis em suínos abatidos para consumo, causados por deficiências de bem-estar animal, nomeadamente na carga dos animais, transporte, descarga e permanência na abegoaria. Refira-se ainda como tendo um papel importante a mistura de animais de diferentes proveniências e os golpes infligidos através do uso de paus ou objectos para o encaminhamento dos animais (MORENO, 2006). Durante a inspecção post mortem, estas lesões podem ser motivo de reprovação parcial ou da carcaça inteira, consoante a sua extensão e repercussões sobre outras partes da carcaça. Refira-se também que a ocorrência deste tipo de lesões está muitas vezes ligada ao aparecimento de alterações na qualidade da carne, que conferem à carcaça um aspecto repugnante, comprometendo a sua aprovação, levando a perdas económicas (GRANDIN, 1993a; KNOWLES, 1999; MORENO, 2006), e são consideradas ainda bons indicadores de problemas relacionados com o bem-estar animal (BROOM, 1993; FLECKNELL e MOLONY, 1997; GUÀRDIA et al., 2009). Desta forma, achou-se oportuno o estudo mais aprofundado deste problema em suínos, animais onde facilmente se identifica a presença de lacerações, hematomas, eritema cutâneo ou fracturas durante a inspecção post mortem, procedendo-se à elaboração deste trabalho prático. Este trabalho foi delineado com o objectivo de se determinar o efeito do tamanho do lote de suínos para abate, o tipo de trajecto a que os suínos são submetidos, o número de horas totais desde a saída da exploração até serem abatidos, horas de viagem e horas na abegoaria na ocorrência de lacerações, eritema cutâneo, hematomas e fracturas nos suínos monitorizados. Pretendeu-se também comparar os resultados obtidos com outros estudos feitos neste campo e contribuir academicamente para uma melhor compreensão relativamente à importância do bem-estar nesta espécie animal. - 44 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL 2. Material e Métodos Fez-se o acompanhamento de actos de descarga dos animais à chegada ao matadouro e ainda dos actos de Inspecção Sanitária ante mortem e post mortem em vários matadouros da Região Norte do país durante 4 meses (no período entre 15 de Setembro de 2008 e 15 de Janeiro de 2009), tendo-se especial atenção na observação de irregularidades relativas ao Bem-Estar Animal. Em particular, procedeu-se a uma recolha de dados para o presente trabalho no Matadouro Aleu, em Vila Real, entre 12 de Novembro e 2 de Dezembro de 2008, tendo sido analisados com detalhe 5 abates diferentes, que se traduziram na inspecção de um total de 834 animais da espécie suína. Os animais chegavam ao matadouro no dia anterior ao abate, sendo descarregados imediatamente à chegada e encaminhados para a abegoaria. No dia seguinte, eram inspeccionados na abegoaria antes do abate. Recorrendo-se ao uso de palmas ou de jactos de água, forçava-se os animais a circularem, procurando-se quaisquer sinais de lesões, hematomas ou fracturas que pudessem ter resultado da viagem ou da estadia na abegoaria. Durante o abate, e durante a execução da Inspecção Sanitária post mortem, era feito o exame visual rigoroso e individual da carcaça dos animais submetidos a abate, procedendo-se ao registo de lesões observadas, como fracturas de membros, hematomas, eritema e lacerações (lesões habitualmente relacionadas com deficiências no bem-estar animal). As lacerações observadas foram classificadas em lesões tipo 1, 2 ou 3, consoante a sua extensão na carcaça, a gravidade ou profundidade dos golpes. As lacerações tipo 1 são lesões relativamente superficiais na pele e presentes na carcaça em escasso número (Fig. 2). As lacerações tipo 3 são lesões profundas na pele e mais ou menos generalizadas por todo o dorso ou membros do animal (Fig. 4). As lacerações tipo 2 são lesões de grau intermédio entre os 2 últimos tipos (Fig. 3). Refira-se ainda a detecção de carcaças não inclusas nesta classificação, uma vez que não apresentaram sinais de lacerações consideradas relevantes (Fig. 1). O eritema observado na face externa da carcaça foi diferenciado em localizado (Fig. 5) ou generalizado (Fig. 6). - 45 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL Figura 1. Carcaça de suíno sem Figura 2. Carcaça de suíno com lacerações relevantes. lacerações tipo 1. Figura 3. Carcaça de suíno Figura 4. Carcaça de suíno com apresentando lacerações tipo 2. lacerações tipo 3. Figura 5. Membro posterior de suíno Figura 6. Carcaça de suíno com eritema apresentando eritema localizado. generalizado. - 46 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL Na figura 7 e 8 estão representadas, respectivamente, um hematoma e uma fractura recente do membro posterior, lesões também consideradas como possíveis indicadores de bem-estar animal pré-abate. Figura 7. Membro posterior de suíno Figura 8. Membro posterior de suíno com hematoma. apresentando fractura. Foi constatado que os animais que chegam ao matadouro no mesmo transporte são muitas vezes constituídos por diversos grupos de animais de diferentes zonas do país, e consequentemente, a hora da carga dos animais analisados varia consoante essa proveniência. Desta forma, optou-se por calcular a média de horas em viagem dos animais para trabalhar estatisticamente os dados. Foram registadas as horas de permanência na abegoaria antes do abate. Foi classificado o tipo de trajecto que os animais percorriam na viagem da exploração até ao matadouro, separando-se em dois tipos: animais que viajaram por auto-estrada e animais que viajaram por trajecto misto (cujo principal trajecto passa por estradas nacionais ou estradas secundárias, mas podendo também passar por um troço de auto-estrada). Recorreu-se ao programa de estatística XLSTAT 2009 para o cálculo do χ2 e de percentagens relativamente aos dados recolhidos, com o objectivo de verificar que tipo de relação existe entre as variáveis analisadas (dimensão do lote/tipo de trajecto/tempo pré-abate/horas de viagem/horas na abegoaria) e a ocorrência de lesões relacionadas com deficiências nos cuidados de bem-estar animal. Também se avaliou o nível de significância dos resultados obtidos, em que p≥0,05 é indicativo da não existência de diferenças estatisticamente significativas, p<0,05 indica a existência de diferenças 47 Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL significativas, p<0,01 indica a existência de diferenças muito significativas e p<0,001 indica a existência de diferenças altamente significativas entre as variáveis analisadas. 3. Resultados e Discussão Apresenta-se de seguida o quadro 1 onde se encontram os registos gerais referentes a cada um dos 5 abates analisados. Quadro 1. Registos gerais relativos aos 5 abates analisados. Abate 1 Abate 2 Abate 3 Abate 4 Abate 5 Tamanho do lote 111 153 153 112 305 Tipo de trajecto Auto-estrada Misto Misto Auto-estrada Misto Horas totais pré-abate (viagem+abegoaria) 18,5 22,5 18 17,5 21,5 Horas de viagem 5 13,5 9,5 4 13 Horas na abegoaria 13,5 9 8,5 13,5 8,5 No total dos 5 abates considerados (834 animais), 71,5% dos animais apresentou lacerações (Anexo B, quadro B.2), 19,7% apresentou eritema cutâneo (Anexo B, quadro B.19), 10,9% apresentou hematomas (Anexo B, quadro B.34) e apenas 1,2% surgiu com fracturas nos membros (Anexo B, quadro B.49). São de seguida apresentados os resultados individuais de cada variável estudada. Concretamente, o que se pretendeu foi avaliar o tipo de dependência existente entre estas e a ocorrência das lesões observadas na carcaça, consideradas como indicadores de bem-estar animal. 3.1 Tamanho do lote de animais – Lesões observadas Relativamente ao tamanho do lote, resultado da aplicação do teste de χ2, verificou-se que o tamanho do lote foi um factor determinante e altamente significativo (p<0,001) no aparecimento de animais com lacerações e eritema (Anexo B, quadro B.5 e B.22). O efeito do tamanho do lote revelou-se muito significativo (p<0,01) relativamente ao aparecimento de suínos com hematomas (Anexo B, quadro B.36 e 48 Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL B.37). Não se observou a existência de diferenças estatisticamente significativas (p≥0,05) em relação às fracturas que surgiram (Anexo B, quadro B.50), muito provavelmente devido à ocorrência em baixo número deste tipo de lesões. O aparecimento de fracturas não é muito habitual nos animais de produção como os suínos, mas são vários os factores que podem contribuir para o aumento da sua ocorrência: instalações dos animais em más condições, responsáveis pelo maneio e encaminhamento dos animais sem formação adequada, procedimentos impróprios de carga e descarga ou feitos sob fracas condições, etc. (BROOM, 1993). 3.1.1 Lacerações No quadro 2 estão representadas as percentagens referentes à presença ou ausência de lacerações, consoante o tamanho do lote a que os animais pertencem. Quadro 2. Percentagem de animais com e sem lacerações, em função do tamanho do lote. Tamanho do lote (n.º de animais) 111 112 153 153 305 Total N.º do abate 1 4 2 3 5 Sem Lacerações Com Lacerações Total 61,3% 10,7% 49,7% 32,7% 10,5% 28,5% 38,7% 89,3% 50,3% 67,3% 89,5% 71,5% 100% 100% 100% 100% 100% 100% Fazendo uma simples análise do quadro 2, é evidente a grande quantidade de animais com lacerações que surge em todos os abates. Observa-se que 89,5% dos animais referentes ao lote de maior tamanho (305 animais) apresentaram lacerações na inspecção post mortem, sendo o lote com a maior percentagem deste tipo de lesões. O lote mais pequeno que se analisou, com 111 animais, foi o lote que menos animais com lacerações apresentou, com apenas 38,7% dos animais atingidos por estas lesões. Estes resultados confirmam que altas densidades aumentam a tendência para lutas entre animais, levando a um aumento de lesões cutâneas. (WARRISS et al., 1998; NANNICOSTA et al., 1999, citados por BECERRIL-HERRERA et al., 2007). Também GRANDIN (2001) e GUÀRDIA e colaboradores (2009) referem um aumento deste tipo 49 Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL de lesões quando há excesso de densidade animal. Destacamos, no entanto, que no lote de 112 animais surgiram 89,3% de animais com lacerações. Esta variação pode ser causada pela influência de outros factores e variáveis que influenciem o aparecimento deste tipo de lesão, que são analisados nos pontos seguintes. Para uma análise mais aprofundada dos dados, optou-se por reunir os dados obtidos nos 5 abates em 3 grupos, em função do tamanho do lote a que os animais pertenciam, já que 2 abates apresentaram o mesmo número de animais (153 animais) e outros 2 abates apresentaram um número de animais muito próximo (111 e 112 animais). No quadro 3 apresentam-se as percentagens de animais com e sem lacerações, em função do tamanho do lote. Quadro 3. Percentagem de animais com e sem lacerações, agrupados consoante o tamanho do lote a que pertenciam. Tamanho do lote (n.º de animais) 111-112 153 305 Total N.º do abate Sem Lacerações Com Lacerações Total 1e4 2e3 5 35,9% 41,2% 10,5% 28,5% 64,1% 58,8% 89,5% 71,5% 100% 100% 100% 100% No quadro 3, apesar de se observar que a percentagem de animais com lacerações não aumenta linearmente com o aumento do tamanho do lote, nota-se novamente que é no maior lote (305 animais) que surge a maior percentagem de animais com lacerações. 3.1.2 Eritema cutâneo No referente ao eritema cutâneo, os 2 lotes com 153 animais foram os que mais apresentaram lesões deste tipo, com 41,2% e 20,9% dos animais atingidos. O lote que menos lesões de eritema apresentou (apenas 9,8% dos animais) foi o maior lote (de 305 animais), como se pode observar no quadro 4. Neste caso, outros factores contribuíram para que um tão baixo número de animais fosse atingido. O transporte utilizado para transportar os 305 animais tinha melhores condições de bem-estar animal (um correcto uso de serrim seco no chão do transporte, animais submetidos a um jejum prévio para 50 Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL reduzir o número de excreções e um transporte com melhores condições gerais de bemestar), prevenindo assim o aparecimento de eritema cutâneo. Quadro 4. Percentagem de animais encontrados com e sem eritema cutâneo, em função do lote. Tamanho do lote (n.º de animais) 111 112 153 153 305 Total N.º do abate Sem eritema Com eritema Total 1 4 2 3 5 81,1% 83,9% 58,8% 79,1% 90,2% 80,3% 18,9% 16,1% 41,2% 20,9% 9,8% 19,7% 100% 100% 100% 100% 100% 100% No quadro 5 apresentam-se também as percentagens de animais com e sem eritema, agrupados em função do seu número para uma análise mais aprofundada dos dados. Quadro 5. Percentagem de animais com e sem eritema, agrupados consoante o tamanho do lote a que pertenciam. Tamanho do lote (n.º de animais) 111-112 153 305 Total N.º do abate 1e4 2e3 5 Sem eritema Com eritema Total 82,5% 69,0% 90,2% 80,3% 17,5% 31,0% 9,8% 19,7% 100% 100% 100% 100% Mais uma vez se nota a grande ocorrência de eritema cutâneo nos animais em lotes de 153 animais, e a baixa percentagem de animais com este tipo de lesão no grupo de 305 animais. 3.1.3 Hematomas Relativamente ao aparecimento de hematomas, observa-se que o lote com o maior número de animais (305 animais) é o lote que mais animais com hematomas apresentou em abate, com 15,4% dos animais a surgirem com este tipo de lesão (quadro 6). É provável que este facto se deva à grande densidade animal tanto no transporte como na abegoaria, que leva inevitavelmente a uma maior proximidade, contacto físico, 51 Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL pisoteio do animal no caso de quedas e possível confronto entre animais (KNOWLES, 1999), sendo por isso de esperar um aumento de ocorrência de hematomas nestes animais. Quadro 6. Percentagem de animais encontrados com e sem hematomas, em função do tamanho do lote. Tamanho do lote 111 112 153 153 305 Total N.º de abate 1 4 2 3 5 Sem hematomas 84,7% 96,4% 92,2% 92,8% 84,6% 89,1 Com hematomas 15,3% 3,6% 7,8% 7,2% 15,4% 10,9% Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% Também o lote de 111 animais (o menor) apresentou uma grande ocorrência de hematomas, com 15,3% dos animais lesionados. Isto pode-se explicar pelo facto de os hematomas não surgirem apenas devido a um aumento de densidade animal, mas também devido às condições de transporte, maneio, tipo de trajecto, tempo de viagem e de estadia na abegoaria ou mistura de animais de diferentes proveniências, por exemplo. Este lote foi submetido a uma viagem relativamente curta, de 5 horas, por auto-estrada, o que não justifica o grande número de hematomas. O facto de ter tido um período de 13 horas e meia na abegoaria pode justificar estes resultados visto que a aplicação do teste de χ2 demonstrou a existência de um efeito muito significativo entre as horas passadas na abegoaria e o aparecimento de hematomas (ver ponto 3.5.3). Este lote poderá também ter sido submetido a um maneio menos adequado ou a um veículo de transporte com poucas condições de bem-estar, ambos os factores com potencial para serem apontados como causas de hematomas em suínos. 3.2 Tipo de trajecto – Lesões observadas 3.2.1 Lacerações Através da aplicação do teste de χ2 observa-se que existem diferenças muito significativas (p<0,01) quando se comparou o tipo de trajecto (auto-estrada ou misto) e o aparecimento de lacerações nos animais (Anexo B, quadro B.7 e B.8). No quadro 7 52 Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL podemos observar as percentagens de lacerações encontradas nos animais em função de cada tipo de trajecto considerado. Quadro 7. Percentagem dos animais encontrados com e sem lacerações, em função do tipo de trajecto considerado. Trajecto - Auto-estrada Trajecto - Misto Total Sem Lacerações 35,9% 25,9% 28,5% Com Lacerações 64,1% 74,1% 71,5% Total 100% 100% 100% 74,1% dos animais que viajaram por trajecto misto apresentaram lacerações na inspecção post mortem, mais 10% que os animais que viajaram apenas por auto-estrada. Este resultado não é surpreendente visto que a viagem por auto-estrada é mais cómoda, rápida e menos traumatizante para os animais do que por estradas nacionais ou secundárias, tendencialmente em piores condições e exigindo mais travagens bruscas ou manobras de diversos tipos, o que necessariamente vai aumentar a probabilidade de lesões dos animais transportados. TARRANT e GRANDIN (1993) referem mesmo que a qualidade da estrada (e a capacidade de condução do transportador) são factores mais importantes que a distância percorrida no que respeita ao aparecimento de lesões nos animais. 3.2.2 Eritema cutâneo, hematomas e fracturas A aplicação do teste de χ2, relativamente à ocorrência de eritema cutâneo, hematomas e fracturas, reflectiu uma ausência de diferenças significativas (p≥0,05) entre os 2 tipos de trajectos considerados e o aparecimento destes tipos de lesões. Observou-se, contudo, um ligeiro acréscimo de casos de eritema e de hematomas em animais submetidos a viagens por trajecto misto (20,5% destes animais surgiram com eritema cutâneo e 11,5% com hematomas, comparativamente aos 17,5% de casos de eritema e 9,4% de casos de hematomas dos animais que chegaram ao matadouro por auto-estrada), como se pode observar no quadro 8 e 9. 53 Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL Quadro 8. Percentagem dos animais encontrados com e sem eritema, em função do tipo de trajecto considerado. Sem eritema 82,5% 79,5% 80,3% Trajecto – Auto-estrada Trajecto - Misto Total Com eritema 17,5% 20,5% 19,7% Total 100% 100% 100% Quadro 9. Percentagem dos animais encontrados com e sem hematomas, em função do tipo de trajecto considerado. Trajecto – Auto-estrada Trajecto - Misto Total Sem hematomas 90,6% 88,5% 89,1% Com hematomas 9,4% 11,5% 10,9% Total 100% 100% 100% O facto de as lesões de eritema não parecerem estar relacionadas com o tipo de trajecto é um resultado que se pode facilmente explicar. O eritema cutâneo é uma lesão inflamatória caracterizada pelo aparecimento de uma coloração avermelhada anormal na pele do animal e que pode surgir associada ao transporte devido ao contacto prolongado da pele dos animais com substâncias irritantes (fezes, urina, desinfectantes) presentes no chão do veículo (SHEARD e colaboradores, 1981, citados por MORENO, 2006), e portanto, no caso de transportes que cumpram as regras de bem-estar animal e as leis em vigor na legislação (serrim seco no solo, andar superior do transporte sem fugas de urina ou fezes para o andar inferior, densidade animal no transporte dentro do normal), é um problema evitável, mesmo em viagens mais longas ou acidentadas. As fracturas de membros que surgiram em abate (apenas em 10 animais ao todo) podem não ter sido em número suficiente para concluirmos relativamente à sua ocorrência e tipo de trajecto. 3.3 Horas totais antes do abate – Lesões observadas Relacionou-se também o tempo total desde o início da viagem, iniciada na exploração, até os animais serem apresentados para abate (ou seja, a soma das horas de viagem com as horas passadas na abegoaria) com a existência de animais com as lesões mencionadas. Da aplicação do teste de χ2, foram observadas diferenças muito significativas (p<0,01) no aparecimento de suínos com hematomas (Anexo B, quadro 54 Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL B.40 e B.41) e altamente significativas no aparecimento de animais com lacerações e eritema cutâneo (p<0,001) (Anexo B, quadro B.11 e B.26). Mais uma vez, não se observaram diferenças significativas (p≥0,05) relativamente ao aparecimento de animais com fracturas (Anexo B, quadro B.52), provavelmente devido ao baixo número deste tipo de lesões observado. 3.3.1 Lacerações Relativamente ao aparecimento de animais com lacerações, os resultados obtidos não demonstraram uma evolução linear, como se pode observar no quadro 10. Quadro 10. Percentagem de animais encontrados com e sem lacerações, em função do número de horas desde o início da viagem até ao abate. Horas totais antes do abate (viagem+abegoaria) 17,5 18 18,5 21,5 22,5 Total N.º de abate N.º de animais Sem Lacerações Com Lacerações Total 4 3 1 5 2 112 153 111 305 153 834 10,7% 32,7% 61,3% 10,5% 49,7% 28,5% 89,3% 67,3% 38,7% 89,5% 50,3% 71,5% 100% 100% 100% 100% 100% 100% O abate cujos animais tiveram um total de 18 horas e meia antes do abate (abate n.º 1, 111 animais, trajecto auto-estrada) foi o que apresentou uma menor percentagem de lacerações (apenas 38,7%). Em contrapartida, no lote no qual o tempo total pré-abate foi inferior em uma hora (17 horas e meia), apesar de submetido a condições semelhantes (abate n.º 4, 112 animais, trajecto auto-estrada) apresentou percentualmente um dos maiores números de animais com lacerações observados nos 5 lotes monitorizados, 89,3%. Uma explicação a considerar é o factor de erro humano no abate n.º 1, com a possibilidade de se terem observado animais com lacerações do tipo 1 que foram encarados como animais que não apresentavam lacerações. Refira-se, contudo, que os factores tipo de veículo e maneio pré-abate podem explicar o resultado obtido. O lote que apresentou 21 horas e meia pré-abate (Abate 5, 305 animais, trajecto misto), foi o que apresentou maior percentagem de lacerações (89,5%). Apesar de não 55 Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL ser o lote com maior número de horas em viagem e na abegoaria, a sua dimensão pode justificar este grande número de lacerações, pela maior proximidade a que o aumento de densidade (quer no transporte, quer no abegoaria) obriga. 3.3.2 Eritema cutâneo Relativamente ao eritema cutâneo, 41,2% dos animais submetidos ao maior número de horas pré-abate (22 horas e meia) analisado apresentaram esta lesão (quadro 11). Este grupo de animais foi o que passou mais tempo em viagem (13 horas e meia), podendo-se assim justificar facilmente estes resultados. O eritema cutâneo é conhecido por afectar suínos após viagens longas (SHEARD e colaboradores, 1981, citados por MORENO, 2006; MOTA-ROJAS et al., 2006). Quadro 11. Percentagem de animais encontrados com e sem eritema cutâneo, em função do número de horas desde o início da viagem até ao abate. Horas totais antes do abate (viagem+abegoaria) 17,5 18 18,5 21,5 22,5 Total N.º de abate N.º de animais Sem eritema Com eritema Total 4 3 1 5 2 112 153 111 305 153 834 83,9% 79,1% 81,1% 90,2% 58,8% 80,3% 16,1% 20,9% 18,9% 9,8% 41,2% 19,7% 100% 100% 100% 100% 100% 100% Relativamente aos outros abates, não há um aumento linear no aparecimento de animais com eritema com o aumento das horas pré-abate. O abate n.º 5 (21 horas e meia pré-abate), surpreendentemente, foi o lote no qual surgiu uma menor percentagem de animais com eritema cutâneo. Este facto deve-se, provavelmente, à acção de outros factores concorrentes, como as condições de transporte. 3.3.3 Hematomas Os animais submetidos ao menor número de horas pré-abate analisado (17 horas e meia) foram os que apresentaram menos hematomas em abate. Este resultado era 56 Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL esperado, visto que quanto mais tempo os animais passam em viagem ou em grupos na abegoaria, maior a probabilidade de contacto físico e lesões físicas nos animais (MOTA-ROJAS et al., 2006). A percentagem de hematomas registados aumenta com o aumento do número de horas totais antes do abate, como se pode observar no quadro 12, excepto no abate correspondente ao maior número de horas totais pré-abate. Este resultado pode-se explicar tendo em conta outras variáveis que influenciaram o lote de animais em causa e que podem resultar nesta baixa ocorrência de hematomas, como por exemplo um maneio mais cuidado dos animais por parte do transportador e pessoal responsável do matadouro e o tipo de veículo utilizado. No entanto, da análise global dos dados, parece que quanto mais tempo os animais passam em viagem e em repouso na abegoaria, maior a probabilidade destes surgirem com hematomas à inspecção post mortem. Quadro 12. Percentagens relativas à presença e ausência de hematomas em função das horas totais desde início da viagem até ao matadouro. Horas totais antes do abate (viagem+abegoaria) 17,5 18 18,5 21,5 22,5 Total N.º de abate N.º de animais Sem hematomas Com hematomas Total 4 3 1 5 2 112 153 111 305 153 834 96,4% 92,8% 84,7% 84,6% 92,2% 89,1% 3,6% 7,2% 15,3% 15,4% 7,8% 10,9% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 3.4 Horas de viagem – Lesões observadas A aplicação do teste de χ2 indicou a existência de diferenças altamente significativas (p<0,001) nos valores de ocorrência de lacerações e eritema nos animais monitorizados em função da duração da viagem (Anexo B, quadro B.14 e B.29). Também foram detectadas diferenças muito significativas (p<0,01) relativamente ao aparecimento de hematomas nos animais (Anexo B, quadro B.43 e B.44). No que respeita à presença de fracturas, mais uma vez não foram encontradas diferenças 57 Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL significativas (p≥0,05) quando se comparou a sua ocorrência face à duração da viagem (Anexo B, quadro B.53). 3.4.1 Lacerações No quadro 13 estão representados os resultados percentuais relativos à presença e ausência de lacerações nos suínos monitorizados. Refira-se que a análise destes resultados pela simples observação da tabela não nos permite tirar conclusões claras sobre o efeito do número de horas de viagem na ocorrência de lacerações. Contudo, observa-se que o lote no qual foram encontradas percentualmente um maior número de lacerações (89,5%) corresponde ao lote com maior número de animais (abate n.º 5, 305 animais). Quadro 13. Percentagens relativas à presença e ausência de lacerações em função das horas de viagem até ao matadouro. Horas de viagem 4 5 9,5 13 13,5 Total N.º de abate 4 1 3 5 2 N.º de animais 112 111 153 305 153 834 Sem Lacerações Com Lacerações Total 10,7% 61,3% 32,7% 10,5% 49,7% 28,5% 89,3% 38,7% 67,3% 89,5% 50,3% 71,5% 100% 100% 100% 100% 100% 100% Um estudo de 2004 (GRIGOR et al.) comparou a quantidade de lacerações que surgiam entre animais abatidos na própria exploração e animais submetidos a transporte para abate em matadouro e concluiu que os animais transportados apresentavam mais frequentemente este tipo de lesões mas as diferenças não foram significativas, indicando que o tempo passado em viagem não é determinante para o aparecimento de lacerações. 3.4.2 Eritema cutâneo No que respeita ao aparecimento de eritema cutâneo, há um aumento gradual da manifestação desta lesão com o aumento do número de horas em viagem, excepto no lote sujeito a 13 horas de viagem, curiosamente correspondente ao maior lote (abate n.º 58 Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL 5, 305 animais), como se pode observar no quadro 14. Mais uma vez se considera a possibilidade deste lote ter sido sujeito a um de transporte mais cuidadoso e com melhores condições de higiene e bem-estar que os outros lotes, explicando assim o menor número de casos de eritema. Quadro 14. Percentagens relativas à presença e ausência de eritema cutâneo em função das horas de viagem até ao matadouro. Horas de viagem 4 5 9,5 13 13,5 Total N.º de abate 4 1 3 5 2 N.º de animais 112 111 153 305 153 834 Sem eritema Com eritema Total 83,9% 81,1% 79,1% 90,2% 58,8% 80,3% 16,1% 18,9% 20,9% 9,8% 41,2% 19,7% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 3.4.3 Hematomas De seguida apresenta-se o quadro 15 com as percentagens relativas à presença e ausência de hematomas em função das horas de viagem até ao matadouro, nos diferentes abates analisados. Quadro 15. Percentagens relativas à presença e ausência de hematomas em função das horas de viagem até ao matadouro. Horas de viagem 4 5 9,5 13 13,5 Total N.º de abate 4 1 3 5 2 N.º de animais 112 111 153 305 153 834 Sem hematomas 96,4% 84,7% 92,8% 84,6% 92,2% 89,1% Com hematomas 3,6% 15,3% 7,2% 15,4% 7,8% 10,9% Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% Observando o quadro 15, vê-se que a viagem de apenas 4 horas foi a menos traumatizante para os animais, surgindo apenas 3,6% de suínos apresentando hematomas. O lote que apresentou uma maior percentagem de hematomas refere-se à viagem de 13 horas, sendo também o lote com o maior número de animais (305 59 Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL animais). Curiosamente, este foi também o lote que apresentou a maior percentagem de animais com lacerações (quadro 13) e a menor percentagem de animais com eritema cutâneo (quadro 14). Pela análise dos dados obtidos, e supondo que a origem das lacerações é comum à ocorrência de hematomas, podemos especular que o aparecimento de lacerações e hematomas são acontecimentos independentes do aparecimento de eritema cutâneo, surgindo devido a factores diferentes. 3.5 Horas na abegoaria – Lesões observadas A aplicação do teste de χ2 aos dados relativos à ocorrência das lesões monitorizadas indica que há diferenças altamente significativas (p<0,001) relativamente ao aparecimento de animais com lacerações e eritema (Anexo B, quadro B.17 e B.32), em função das horas passadas na abegoaria. Também se encontraram diferenças muito significativas (p<0,01) relativamente ao aparecimento de animais com hematomas (Anexo B, quadro B.46 e B.47). No entanto, o teste de χ2 reflectiu uma ausência de efeito (p≥0,05) no tempo passado na abegoaria e a ocorrência de fracturas (Anexo B, quadro B.54). 3.5.1 Lacerações O quadro 16 indica as diferentes percentagens relativas à ausência e presença de lacerações segundo o número de horas que os animais estiveram na abegoaria. Esperava-se um aumento na percentagem de lacerações com o aumento do número de horas na abegoaria (de acordo com os estudos de GUÀRDIA e colaboradores, 2009), devido ao contacto físico prolongado com outros animais, principalmente quando há mistura de animais de diferentes proveniências, como é o caso. No entanto, esta proporcionalidade não se verifica, sendo por isso necessário atender a outros factores que possam ter influenciado estes resultados em particular. 60 Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL Quadro 16. Percentagens relativas à presença e ausência de lacerações em função das horas passadas na abegoaria. Horas na abegoaria 8,5 8,5 9 13,5 13,5 Total N.º de abate 3 5 2 1 4 N.º de animais 153 305 153 111 112 834 Sem Lacerações 32,7% 10,5% 49,7% 61,3% 10,7% 28,5% Com Lacerações 67,3% 89,5% 50,3% 38,7% 89,3% 71,5% Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% Para uma análise de dados mais detalhada, reuniram-se os dados em 3 grupos: animais que estiveram 8 horas e meia na abegoaria, animais que estiveram 9 horas na abegoaria, e animais que estiveram 13 horas e meia na abegoaria (quadro 17). Quadro 17. Percentagens relativas à presença e ausência de lacerações em função das horas passadas na abegoaria. Horas na abegoaria 8,5 9 13,5 Total N.º de abate 3e5 2 1e4 Sem lacerações 17,9% 49,7% 35,9% 28,5% Com lacerações 82,1% 50,3% 64,1% 71,5% Total 100% 100% 100% 100% Os grupos de animais que passaram 8 horas e meia na abegoaria e que mais lacerações apresentaram referem-se aos animais do abate n.º 3 e n.º 5, que são grupos de animais que viajaram por trajectos mistos e com um tamanho de lote considerável (153 e 305 animais, respectivamente). Esta é a provável justificação para estes grupos apresentarem tão grande número de lacerações, comparativamente aos outros grupos de animais. Relativamente aos restantes 2 grupos considerados, observa-se que houve um aumento na percentagem de animais com lacerações (mais 13,8% de animais) quando o período de espera na abegoaria foi de 13 horas e meia, comparando com os animais que apenas estiveram 9 horas na abegoaria. 61 Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL 3.5.2 Eritema cutâneo No que se refere ao aparecimento de eritema cutâneo na pele dos suínos monitorizados, os resultados obtidos apresentam-se no quadro 18. Quadro 18. Percentagens relativas à presença e ausência de eritema cutâneo em função das horas passadas na abegoaria. Horas na abegoaria 8,5 8,5 9 13,5 13,5 Total N.º de abate 3 5 2 1 4 N.º de animais 153 305 153 111 112 834 Sem eritema Com eritema Total 79,1% 90,2% 58,8% 81,1% 83,9% 80,3% 20,9% 9,8% 41,2% 18,9% 16,1% 19,7% 100% 100% 100% 100% 100% 100% Não se verifica um aumento linear dos casos de eritema com o aumento do tempo passado na abegoaria, sendo por isso necessário atender a outros factores que possam ter actuado nestes resultados. Também se reuniram os dados em 3 grupos: animais que estiveram 8 horas e meia na abegoaria, animais que estiveram 9 horas na abegoaria, e animais que estiveram 13 horas e meia na abegoaria para melhor observar o efeito do tempo na abegoaria na presença ou ausência de eritema (quadro 19). Quadro 19. Percentagens relativas à presença e ausência de eritema cutâneo, agrupados consoante as horas passadas na abegoaria. Horas na abegoaria 8,5 9 13,5 Total Sem eritema 86,5% 58,8% 82,5% 80,3% Com eritema 13,5% 41,2% 17,5% 19,7% Total 100% 100% 100% 100% Os resultados relativos ao aparecimento de eritema não aumentaram com o aumento de horas na abegoaria. É preciso salvaguardar o facto de que os animais podem ter apresentado eritema cutâneo devido à viagem e não terem surgido casos durante a permanência na abegoaria. 62 Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL Os animais que passaram 9 horas na abegoaria referem-se aos animais do abate n.º 2, que foi o lote que mais tempo passou em viagem (13 horas e meia), podendo ter sido na viagem que tão grande número de casos surgiu devido ao contacto prolongado com outros animais ou com o solo com fezes e urina durante o transporte. 3.5.3 Hematomas Os resultados obtidos relativamente ao aparecimento de hematomas nas carcaças monitorizadas apresentam-se no quadro 20. Quadro 20. Percentagens relativas à presença e ausência de hematomas em função das horas passadas na abegoaria. Horas na abegoaria 8,5 8,5 9 13,5 13,5 Total Sem hematomas 92,8% 84,6% 92,2% 84,7% 96,4% 89,1% Com hematomas 7,2% 15,4% 7,8% 15,3% 3,6% 10,9% Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% Também neste caso não se verifica um aumento linear dos casos de hematomas com o aumento do tempo passado na abegoaria, sendo por isso necessário atender a outros factores que possam ter actuado nestes resultados. Para melhor observar e analisar os resultados, procedeu-se à mesma organização de dados utilizada anteriormente, considerando os animais que estiveram nos parques da abegoaria 8 horas e meia, 9 horas e 13 horas e meia (quadro 21). Quadro 21. Percentagens relativas à presença e ausência de hematomas, agrupados consoante as horas passadas na abegoaria. Horas na abegoaria 8,5 9 13,5 Total Sem hematomas 90,6% 87,3% 92,2% 89,1% Com hematomas 9,4% 12,7% 7,8% 10,9% 63 Total 100% 100% 100% 100% Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL Observa-se que não há uma linearidade no aumento da percentagem de animais com hematomas e o aumento de horas passadas na abegoaria, provavelmente devido à acção de outras variáveis que possam ter tido influência no aparecimento deste tipo de lesões. 3.6 Lacerações tipo 1, 2 e 3 – Abate realizado Encontram-se representados no quadro 22 os dados obtidos relativos ao número e percentagem de animais sem lacerações detectadas e com lacerações tipo 1, 2 e 3 em cada abate analisado. Quadro 22. Números e percentagens dos diferentes tipos de lacerações considerados e ausência destas nos diferentes abates analisados. Sem lacerações Lacerações tipo 1 Lacerações tipo 2 Lacerações tipo 3 Total de animais Abate 1 Abate 2 Abate 3 Abate 4 Abate 5 68 (61,3%) 34 (30,6%) 6 (5,4%) 3 (2,7%) 111 (100%) 76 (49,7%) 63 (41,2%) 13 (8,5%) 1 (0,7%) 153 (100%) 50 (32,7%) 88 (57,5%) 13 (8,5%) 2 (1,3%) 153 (100%) 12 (10,7%) 67 (59,8%) 30 (26,8%) 3 (2,7%) 112 (100%) 32 (10,5%) 176 (57,7%) 72 (23,6%) 25 (8,2%) 305 (100%) Total de animais 238 428 134 34 834 Analisando o quadro, observa-se que é no lote n.º 5 (lote de maior tamanho) que surge a maior parte de animais que apresentam lacerações tipo 3, sugerindo que as lacerações (em particular as mais profundas, mais graves e em maior número) tendem a surgir em lotes de maior tamanho. Os restantes valores não nos permitem tirar mais conclusões relativamente aos diferentes tipos de lacerações considerados. Uma maior densidade animal, quer no transporte, quer na abegoaria, leva sempre a um maior contacto físico e conflitos entre animais (KNOWLES, 1999). No entanto, estas lacerações de maior grau podem ter sido feitas pelas pessoas responsáveis pela condução dos animais que, sendo um grupo maior e por isso mais difícil de dominar, optaram pelo uso da força para os movimentar mais rapidamente. 64 Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL 3.7 Eritema cutâneo localizado e generalizado – Abate realizado O eritema cutâneo é uma lesão que pode surgir associada a várias causas, já referidas. No nosso trabalho desprezaram-se os factores ambientais e alérgicos como causas de eritema, apenas atribuindo o seu aparecimento ao contacto dos animais com fezes, urina ou outras substâncias irritantes que possam estar presentes no transporte e abegoaria. Apresenta-se de seguida o quadro 23, relativo aos dados obtidos (número e percentagem) dos dois tipos de eritema considerados (localizado e generalizado), em função do abate monitorizado. Quadro 23. Números e percentagens relativos à presença de eritema localizado e generalizado ou à sua ausência nos diferentes abates analisados. Eritema localizado Eritema generalizado Sem eritema Total de animais Abate 1 Abate 2 Abate 3 Abate 4 Abate 5 19 (17,1%) 2 (1,8%) 90 (81,1%) 111 (100%) 56 (36,6%) 7 (4,6%) 90 (58,8%) 153 (100%) 28 (18,3%) 4 (2,6%) 121 (79,1%) 153 (100%) 17 (15,2%) 1 (0,9%) 94 (83,9%) 112 (100%) 22 (7,2%) 8 (2,6%) 275 (90,2%) 305 (100%) Total de animais 142 22 670 834 Os animais pertencentes ao abate n.º 5 (lote com o maior número de animais monitorizado) surgiram com poucos casos de eritema, mas os que apresentaram a lesão, tinham principalmente, em termos percentuais, a forma generalizada. No abate n.º 2 (153 animais) também se observa uma grande percentagem de eritema generalizado presente nos animais (4,6% dos animais do lote n.º 2). É também no abate n.º 2 que mais casos de eritema localizado (detectado principalmente nos membros posteriores, mais propensos ao contacto com o chão do veículo e da abegoaria) foram observados (36,6% dos animais do lote n.º 2). Estes abates correspondem aos animais que mais tempo passaram em viagem (13 horas e meia no caso do abate n.º 2, e 13 horas de viagem no caso do abate n.º 5), sugerindo que esta generalização da lesão está também relacionada com um grande número de horas de transporte. 65 Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL 4. Conclusões Apesar de não nos ter sido possível controlar todas as variáveis de forma independente, vários dos resultados obtidos vêm de encontro a outros estudos feitos no campo do bem-estar animal. Desta maneira, podemos considerar várias conclusões: a) As lacerações são as lesões que mais frequentemente se observam nas carcaças de suínos de engorda durante a inspecção post mortem (71,5% dos suínos monitorizados apresentaram este tipo de lesão), em particular as lacerações tipo 1, sugerindo a existência de falhas habituais no bem-estar dos animais durante o transporte e estadia na abegoaria; b) O tamanho dos lotes dos animais enviados para abate tem um efeito altamente significativo (p<0,001) no aparecimento de animais com lacerações e eritema cutâneo, tendo também um efeito muito significativo (p<0,01) no aparecimento de animais com hematomas. O transporte e estadia na abegoaria de lotes de grande tamanho levam a um aumento da percentagem de animais com lacerações, eritema cutâneo e hematomas. Refira-se, contudo, que o lote de maior tamanho analisado para este trabalho apresentou uma menor percentagem de animais com eritema, facto a que atribuímos às boas condições de transporte. Sendo pouco prático enviar lotes reduzidos para abate, deve-se, pelo menos, assegurar sempre uma densidade animal óptima quer no transporte, quer na abegoaria, evitando a mistura de animais de diferentes proveniências ou de animais que possam entrar em conflito com os outros; c) O tipo de trajecto utilizado no transporte de animais tem um efeito muito significativo (p<0,01) no aparecimento de animais com lacerações. Concretamente, a utilização de trajectos mistos em vez de auto-estradas aumenta a percentagem de animais que apresentam este tipo de lesões na inspecção post mortem. Neste estudo, o aumento foi de 10%. Conclui-se, portanto, que é preferível o uso de trajectos suaves (tipo auto-estrada) como forma de diminuir a ocorrência deste tipo de lesões nos suínos; 66 Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo PARTE II TRABALHO EXPERIMENTAL d) Não nos foi possível tirar conclusões relativamente ao efeito do número total de horas pré-abate no aparecimento de animais com lacerações, apesar da análise de dados efectuada ter revelado um efeito altamente significativo (p<0,001). No entanto, um aumento do tempo de permanência na abegoaria (factor cujo efeito no número de animais que apresenta lacerações se revelou altamente significativo) traduz-se num aumento no número de animais que apresentam lacerações na carcaça à inspecção post mortem; e) Os resultados obtidos indicam que o número de horas que decorre entre a saída da exploração e o abate dos suínos tem um efeito altamente significativo (p<0,001) no aparecimento de eritema nos animais. Contudo, os dados obtidos indicam que é a duração da viagem que influi de forma decisiva na ocorrência deste tipo de lesões, e não o período de permanência na abegoaria. Um aumento do número de horas de viagem leva a um aumento do número de casos de eritema cutâneo nos suínos de engorda, particularmente de eritema generalizado. Este problema poderia ser reduzido com a melhoria das condições de transporte. Veículos em boas condições, que cumpram a legislação no que respeita às regras de bem-estar animal são um ponto crucial na redução do eritema de transporte; f) Quando mais tempo os animais demoram desde a saída da sua exploração até serem abatidos no matadouro de destino, maior a percentagem de animais que surge com hematomas. Neste estudo, um aumento de 4 horas (de 17 horas e meia para 21 horas e meia) traduziu-se num aumento de 11,8% de animais com este tipo de lesão. Deve, por isso, ser feito um esforço no sentido de melhorar as estradas de ligação entre as explorações e os matadouros, assim como de evitar abater animais em matadouros longe do local de criação e exploração dos animais; g) Não foram encontradas quaisquer relações significativas (p≥0,05) entre o aparecimento de animais com fracturas dos membros e qualquer uma das variáveis em estudo. 67 Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS - 68 - Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Appleby, M. C., “The relationship between food prices and animal welfare”, Journal of Animal Science, 83, pp. E9-E12; 2005. Beaumond, N., Orenga, L., Sans, P., Brugère, H., “Quality requirements for meat production at the farm level”, XXIV World Buiatrics Congress, Nice, France; 2006. 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Assim, todos os dados referentes aos bovinos que aqui se apresentam são apenas deste Matadouro. Quadro A.1. Total de animais apresentados para abate normal durante os 4 meses de estágio. N.º animais mortos no transporte/abegoaria (Reprovações totais ante mortem) N.º de animais admitidos para abate N.º de Reprovações Totais post mortem (%) Suínos de engorda 4 5998 42 (0,70%) Porcas Adultas - 46 1 (2,17%) Leitões 1 1382 3 (0,22%) Peq. Rum. Cap/Ov<12 meses 3 1603 2 (0,12%) Gr. Rum. Bovinos - 695 7 (1,00%) Suínos Total de animais 8 9724 55 (0,57%) Peq. Rum. – Pequenos Ruminantes; Gr. Rum. – Grandes Ruminantes; Cap – Caprinos; Ov – Ovinos. Verifica-se também que os suínos de engorda são a espécie aparentemente mais sensível, com um maior número de mortos à chegada ao matadouro. As porcas adultas reprodutoras são animais que sofrem bastantes reprovações totais, facto explicado pela sua idade e pela pressão produtiva a que estão sujeitas durante a vida. Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ANEXO A 2. Causas de reprovação total nas diferentes espécies O quadro A.2 mostra quais foram as diferentes causas de reprovação total post mortem dos animais submetidos a abate normal. Quadro A.2. Causas de reprovação total dos diferentes animais apresentados para abate normal durante os 4 meses de estágio. Eng Suínos Adul Lei 1 P Bov R Total Melanosarcoma (Fig. 12) 1 Melanose cutânea generalizada (Fig. 10) 3 3 ABC (Fig. 14) + Melanose cutânea generalizada 1 1 ABCs múltiplos 1 1 2 ABC necrótico-purulento 1 1 Osteíte purulenta (Fig. 9) 10 1 1 12 Osteíte purulenta+ABC 3 3 Osteomielite purulenta (Fig. 13) 1 1 Osteomielite purulenta+ABCs 4 4 Onfalite necrótico-purulenta 1 1 Hemorragias musculares generalizadas (Fig. 15) 1 1 Caquexia+Liquef. gordura+ABCs+ROG 1 1 PN purulenta (Fig. 18) 1 1 PN purulenta+Peritonite purulenta 1 1 PN purulenta+ROG 2 2 PN fibrinopurulenta+ABC 1 1 Mamite purulenta 1 1 Hidrocaquexia 1 1 Caquexia+Liquefacção gordura 1 1 PL sinfisária fibrinosa+PN purulenta 1 1 PleuroPN aguda purulenta 3 3 PleuroPN purulenta+Osteíte purulenta 1 1 PleuroPN aguda+ABC+Ferida supurativa 1 1 PleuroPN aguda+ABC+Pericardite 1 1 PleuroPN+Pericardite fibrinosa+magreza 1 1 Artrites múltiplas+ABC 2 2 LFDs agudas+miosite inespecífica+magreza 1 1 LFDs purulentas (Fig.17)+magreza+PL+pericardite+cheiroAN 1 1 Peritonite e pleurisia fibrinosa+LFDs agudas+ABC abdominal 1 1 Peritonite+Conspurcação carcaça (Fig. 16) 1 1 Peritonite purulenta+caquexia 1 1 Reacção generalizada ganglionar 1 1 TOTAIS 42 1 3 2 7 55 Eng – Engorda; Adul – Porcas adultas; Lei – Leitões; PR – Pequenos Ruminantes; Bov – Bovinos; ABC – Abcesso; ABCs – Abcessos; Liquef. – Liquefacção; ROG – Reacção Orgânica Geral; PN – Pneumonia; PL – Pleurisia; PleuroPN – Pleuropneumonia; LFDs – Linfadenites; AN – Anormal. Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ANEXO A Observou-se que a principal causa de reprovação total dos animais foi a osteíte purulenta (Fig. 9), sobretudo em suínos de engorda. Apresentam-se de seguida algumas imagens das causas de reprovação total mais frequentemente observadas em matadouro. Figura 9. Osteíte purulenta em carcaça Figura 10. Melanose cutânea em de suíno carcaça de suíno. Figura 11. Timo do suíno da Figura 10, Figura 12. Melanosarcoma na carcaça apresentando melanose, confirmando de um leitão, atingindo também o uma melanose generalizada. gânglio pré-crural. Figura 13. Osteomielite purulenta na cauda de um suíno, provavelmente por caudofagia. causada Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ANEXO A Figura 14. Abcesso encapsulado e aberto no membro de um leitão. Figura 15. Hemorragias musculares Figura 16. Conspurcação por conteúdo generalizadas na carcaça de borrego. ruminal de uma carcaça de pequeno ruminante. Figura purulenta 17. Focos presentes de nos linfadenite gânglios mesentéricos do intestino de suínos, compatíveis com lesões tuberculosas. Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ANEXO A Figura 18. Pneumonia purulenta em carcaça de suíno. 3. Reprovações parciais e suas causas Por uma questão de segurança, sempre que se reprovou o coração optou-se também por reprovar igualmente os pulmões e o fígado do animal, ou seja, a colada inteira, partindo-se do princípio que, quando o coração apresenta alguma patologia, poderá existir repercussões nas vísceras mais próximas. Da mesma forma, sempre que se reprovou um pulmão, reprovou-se também o seu par sempre que a patologia ou alteração subjacente fosse de natureza inflamatória. 3.1 Suínos De seguida apresenta-se o quadro A.3 com o número de reprovações parciais de vísceras e cabeças em suínos, num total de 5998 animais desta espécie, assim como a percentagem de reprovações parciais (n.º vísceras ou de cabeças reprovadas/n.º total de vísceras ou cabeças em abate x100). As vísceras e cabeças de animais reprovados totalmente não foram contabilizadas nesta tabela. Quadro A.3. Reprovações parciais das diferentes vísceras e cabeças de suínos observadas durante o estágio. Suínos %RP Fígados Rins 1908 31,81% 5881 49,02% RP – Reprovações parciais. Coladas inteiras 399 6,65% Pulmões Baços Intestinos Cabeça 11996 100% 1 0,02% 53 0,88% 35 0,58% Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ANEXO A No que respeita aos suínos, todos os pulmões foram reprovados visto que os matadouros onde se acompanharam os abates utilizarem um escaldão horizontal. A maioria das causas de reprovação de fígados foi o parasitismo. A presença de “milk spots” ou manchas leitosas no fígado (Fig. 19), causadas pela fase larvar do parasita Ascaris suum, é bastante comum nestes animais. Este parasita, cuja forma adulta se encontra no intestino delgado dos suínos (Fig. 25), faz migrações no parênquima hepático, causando uma hepatite intersticial crónica, notada pela existência das “milk spots” referidas. Outras alterações hepáticas observadas foram casos de esteatose (Fig. 20) e de congestão hepática (Fig. 21). Figura 19. Fígado de suíno com “milk Figura 20. Fígado de suíno com spots”. esteatose. Figura 21. Congestão hepática. No que respeita aos rins, a causa de reprovação mais frequente foi a presença de nefrites inespecíficas (Fig. 24). Outras causas bastante frequentes de reprovação destes orgãos são a existência de quistos renais (Fig. 23) e petéquias. Também as tecnopatias Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ANEXO A (corte dos rins durante a evisceração ou corte sagital) levam muitas vezes à sua reprovação. Figura 22. Rins de suíno com nefrose. Figura 23. Rim de suíno com quisto renal abrangendo grande parte do órgão. Figura 24. Rim de suíno com nefrites. A maioria dos corações foi rejeitada por apresentarem pericardite, que se caracteriza pela presença de aderências fibrinosas entre o coração e o saco pericárdio, e, por vezes, entre este e os pulmões. Os intestinos rejeitados tiveram como principais causas de reprovação o parasitismo extremo (Fig. 25) e a presença de linfadenites purulentas compatíveis com tuberculose (Fig. 17). 23 intestinos foram reprovados por terem estado em contacto com vísceras que apresentavam linfadenites tuberculosas. Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ANEXO A Figura 25. Ascaris suum, parasita adulto do intestino delgado dos suínos. O único baço observado rejeitado teve como causa uma esplenite (Fig. 26), estando o órgão aumentado de volume e com uma aparência hemorrágica. Figura 26. Baço de suíno com esplenite. As 35 cabeças de suínos foram reprovadas parcialmente, de acordo com o Regulamento n.º 854/2004, por apresentarem linfadenites purulentas tuberculosas num dos gânglios submandibulares (Fig. 27 e 28). Caso estas lesões tuberculosas se localizassem também noutras zonas ou vísceras da carcaça, a reprovação seria total, visto indicar uma tuberculose generalizada. Figura 27. Pormenor de pequenos focos purulentos compatíveis com uma linfadenite tuberculosa nos gânglios submandibulares de um suíno. Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ANEXO A Figura 28. Gânglio submandibular de suíno apresentando focos purulentos compatíveis com linfadenite tuberculosa. 3.2 Bovinos Apresenta-se de seguida o quadro A.4 com o número de reprovações parciais de vísceras de bovinos, num total de 695 animais desta espécie, assim como a percentagem de reprovações parciais (n.º vísceras reprovadas/n.º total de vísceras em abate x100). As vísceras de animais reprovados totalmente não foram contabilizadas nesta tabela. Os números apresentados relativamente à língua referem-se apenas à apara do órgão devido à presença de úlcera do palato, não levando a uma rejeição completa do órgão. Quadro A.4. Reprovações parciais das diferentes vísceras de bovinos observadas durante o estágio. Fígados Pulmões Rins Corações Bov. 259 %RP 37,27% 655 47,12% 883 63,53% 2 0,29% Compart. gástricos 9 1,29% Língua Diafragma 12 1,73% 71 10,22% Bov. – Bovinos; RP – Reprovações Parciais; Compart. Gástricos – Compartimentos gástricos. Nota-se uma grande percentagem de rins rejeitados, assim como de fígados e de pulmões nestes animais. Apenas 2 corações num total de 695 bovinos foram rejeitados, sendo a víscera com menos percentagem de rejeição. Apresentam-se de seguida as causas de rejeição parcial das vísceras referidas e o número de órgãos afectados por elas. Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ANEXO A 3.2.1 Fígado Apresenta-se de seguida o quadro A.5 com as causas de reprovação parcial do fígado em bovinos e a quantidade de fígados afectados por cada uma delas. Quadro A.5. Causas de reprovação parcial do fígado em bovinos e número de fígados afectados por cada uma delas. FIGADO Causas de reprovação parcial Aderências Inespecífico Parasitismo Distomatose Fasciolose (Fig. 29) Esteatose Petéquias Colangite parasitária Fibrose (parasitária) Abcesso Órgão friável Conspurcação do órgão Congestão Telangiectasia maculosa (Fig. 30) Órgão aparado TOTAL N.º de órgãos reprovados 34 4 28 10 14 7 4 1 112 17 17 14 4 2 19 259 Percentagem de reprovação 13,13% 1,54% 3,86% 10,81% 5,41% 2,70% 1,54% 0,39% 43,24% 6,56% 6,56% 5,41% 1,54% 0,77% 7,34% 100% A presença de parasitas é habitual neste órgão, sendo a Fasciola hepatica e o Dicrocoelium dendriticum facilmente identificáveis (Fig. 29). Esta distomatose é passível de provocar fibrose, trajectos hemorrágicos e espessamento dos conductos biliares devido à acção traumática e mecânica dos parasitas. A fibrose parasitária foi, por isso, a causa de rejeição mais frequentemente observada do fígado de bovinos no matadouro visitado, durante os 4 meses de estágio. Figura 29. Fígado de bovino parasitado por Fasciola hepatica, podendo-se observar os parasitas a saírem dos canais biliares. Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo Figura ANEXO A 30. apresentando deprimidas compatível Fígado zonas por com de bovino escurecidas todo o e órgão, telangiectasia maculosa. 3.2.2 Pulmões De seguida apresenta-se o quadro A.6 com as diferentes causas de reprovação de pulmões em animais da espécie bovina e o número de órgãos afectados por cada uma delas. Quadro A.6. Causas de reprovação parcial dos pulmões em bovinos e número de pulmões afectados por cada uma delas. PULMÕES Causas de reprovação parcial Fibrose inespecífica Aspiração agónica de sangue de conteúdo ruminal Conspurcação do órgão Aderências Pleurisia Congestão Broncopneumonia inespecífica Pneumonia Purulenta (Fig. 31) Catarral (Fig. 32) Enfisema (Fig. 33) TOTAL N.º de órgãos reprovados 2 20 34 2 12 20 42 12 19 274 57 234 17 160 18 655 Percentagem de reprovação 0,31% 3,05% 0,31% 5,19% 1,83% 3,05% 6,41% 1,83% 2,90% 41,83% 8,70% 2,60% 35,73% 24,43% 2,75% 100% Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ANEXO A Observa-se um grande número de reprovações parciais de pulmões tanto por broncopneumonia (que afectou 41,83% do total de pulmões reprovados) como por pneumonia, particularmente a do tipo catarral (24,43% dos pulmões reprovados), visível na figura 32. Também se observaram alguns pulmões com pneumonia purulenta (Fig. 31). A broncopneumonia é uma patologia caracterizada pela inflamação dos brônquios e do pulmão, observando-se lesões bastante heterogéneas, principalmente nas zonas cranio-ventrais do órgão. No caso da pneumonia, as lesões são mais homogéneas, atingindo principalmente as regiões dorso-caudais do órgão. A aspiração agónica de sangue ocorre durante o abate devido a uma tecnopatia, por corte acidental da traqueia, que leva a uma infiltração de sangue arterial nos pulmões, tornando-os impróprios para consumo. A aspiração de conteúdo ruminal também é comum. Neste caso, observa-se conteúdo ruminal no interior dos brônquios ou bronquíolos, podendo também existir enfisema associado. O enfisema pulmonar (Fig. 33) apresenta-se como sendo uma distensão exagerada dos alvéolos ou do interstício pulmonar por infiltração excessiva de ar. Pode ser provocado durante o abate do animal, por aspiração forçada de ar. Apresentam-se de seguida imagens de pulmões reprovados por algumas das principais causas de reprovação. Figura 32. Pormenor de um pulmão de bovino com pneumonia catarral. Figura 31. Pulmões de bovino com pneumonia purulenta. Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ANEXO A Figura 33. Lobo pulmonar de bovino com enfisema evidente. 3.2.3 Coração No total de 695 animais observados, apenas 2 corações foram reprovados e ambos por apresentarem pericardite, identificada pela existência de aderências de fibrina entre o pericárdio e o coração. 3.2.4 Rins De seguida é apresentado o quadro A.7 com as diferentes causas de reprovação parcial de rins em bovinos, assim como o número de órgãos afectados por cada uma delas. Quadro A.7. Causas de reprovação parcial dos rins em bovinos e número de rins afectados por cada uma delas. RINS Causas de reprovação parcial Nefrite intersticial focal Nefrite inespecífica (Fig. 34) Congestão Petéquias (Fig. 34) Cálculo renal Quisto renal TOTAL N.º de órgãos reprovados 671 162 2 39 1 7 883 Percentagem de reprovação 75,99% 18,35% 0,23% 4,42% 0,11% 0,79% 100% Observou-se que a causa mais frequente de reprovação de rins em bovinos é a nefrite intersticial focal, que afectou 76% dos rins reprovados. Também foram observados rins com nefrites inespecíficas e petéquias (Fig. 34). Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ANEXO A Figura 34. Rim de bovino com nefrites e petéquias. 3.2.5 Diafragma Apresenta-se de seguida o quadro A.8, com as diferentes causas de reprovação parcial do diafragma em bovinos, assim como o número de órgãos afectados por cada uma delas. DIAFR. Quadro A.8. Causas de reprovação parcial do diafragma em bovinos e número de diafragmas afectados por cada uma delas. Causas de reprovação parcial Aderências Conspurcação do órgão Aparado TOTAL N.º de órgãos reprovados 53 2 16 71 Percentagem de reprovação 74,65% 2,82% 22,54% 100% Diafr. – Diafragma. A causa mais frequente de reprovação do diafragma em bovinos é a presença de aderências no órgão (74,65% dos órgãos apresentaram este problema). 22,54% dos diafragmas foram aparados por causas diversas, não sendo rejeitados completamente. 3.2.6 Compartimentos gástricos O quadro A.9, apresentado de seguida, mostra as diferentes causas de reprovação dos compartimentos gástricos nos animais da espécie bovina, assim como o número de compartimentos gástricos afectados por cada uma delas. Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ANEXO A COMP. GÁSTR. Quadro A.9. Causas de reprovação parcial dos compartimentos gástricos em bovinos e número de compartimentos gástricos afectados por cada uma delas. Aderências Abcesso N.º de órgãos reprovados 2 7 Percentagem de reprovação 22,22% 77,78% TOTAL 9 100% Causas de reprovação parcial Comp. Gástr. – Compartimentos gástricos. Observaram-se poucas rejeições parciais de compartimentos gástricos na espécie bovina. A principal causa de rejeição foi a presença de abcessos. 3.3 Leitões, porcas adultas e borregos No que respeita a estes animais, não pôde ser feita a recolha de números de reprovações parciais. No entanto, observou-se que a principal causa de reprovação parcial de fígados e pulmões é o parasitismo. No caso dos caprinos e ovinos jovens é frequente observar a presença de vesículas de Cysticercus tenuicollis no fígado, semelhantes a “bolhas de água” (Fig. 35). Este parasita é também responsável por trajectos hemorrágicos (se recentes) ou fibróticos (se antigos) no fígado (Fig. 36 e 37). Nos pulmões, a causa mais frequente de rejeição é o parasitismo e pneumonias. Outra causa de reprovação bastante comum e facilmente evitável é a conspurcação das vísceras (e carcaça). No caso do Matadouro Beira-Lamego-Agroalimentar S.A. (Lamego), por uma questão de escolha, as vísceras dos leitões não são aproveitadas, apesar da maioria estar em bom estado para aprovação sanitária. As porcas adultas reprodutoras são animais que, devido à pressão reprodutiva e produtiva a que são submetidas durante a sua vida, têm uma maior taxa de reprovação no que respeita às suas vísceras. Efectivamente, a grande maioria das vísceras (em particular os rins e fígado) foram reprovadas. Nos rins observou-se frequentemente nefrites e quistos renais, enquanto que nos fígados era habitual encontrar zonas fibróticas. Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ANEXO A Figura 35. Vesícula de Cysticercus Figura tenuicollis presentes à superfície de um recentes no fígado de um pequeno fígado de pequeno ruminante. ruminante. Figura 36. 37. Trajectos Trajecto parasitários fibrótico- hemorrágico parasitário no fígado de um pequeno ruminante. Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ANEXO B 2. ANEXO B LACERAÇÕES Quadro B. 1 Tabela de contingência (Lote / Lacerações): Lacerações-0 Lacerações-1 Lote-1 68 Lote-2 76 43 77 Lote-3 50 103 Lote-4 12 100 Lote-5 32 273 Nota: 0 – ausência; 1 – presença. Quadro B.2 Porcentagens / Total (Lote / Lacerações): Lacerações-0 Lacerações-1 Total Lote-1 8,153 5,156 13,309 Lote-2 9,113 9,233 18,345 Lote-3 5,995 12,350 18,345 Lote-4 1,439 11,990 13,429 Lote-5 3,837 32,734 36,571 28,537 71,463 100,000 Total Nota: 0 – ausência; 1 – presença. - Tamanho do lote Quadro B.3 Quadro B.4 Teste de independência entre as linhas e as colunas (Tamanho lote / Lacerações): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 159,236 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) 9,488 GL p-valor Teste de independência entre as linhas e as colunas (Tamanho lote / Lacerações): 4 < 0,0001 alfa 0,05 Qui-quadrado ajustado (Valor observado) Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) GL p-valor alfa 159,236 13,277 4 < 0,0001 0,01 Quadro B.5 Teste de independência entre as linhas e as colunas (Tamanho lote / Lacerações): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) GL p-valor alfa 159,236 18,467 4 < 0,0001 0,001 Como o p-valor calculado é menor que o nível de significância alfa=0,001, deve-se rejeitar a hipótese nula H0 em favor da hipótese alternativa Ha (Ha: Há uma dependência entre as linhas e colunas da tabela). Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ANEXO B - Tipo de trajecto Quadro B.6 Quadro B.7 Teste de independência entre as linhas e as colunas (Trajecto / Lacerações): Teste de independência entre as linhas e as colunas (Trajecto / Lacerações): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 8,035 Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 8,035 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) 3,841 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) GL p-valor alfa 1 0,005 0,05 GL p-valor alfa 6,635 1 0,005 0,01 Quadro B.8 Teste de independência entre as linhas e as colunas (Trajecto / Lacerações): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) GL 8,035 10,828 1 p-valor 0,005 alfa 0,001 Como o p-valor calculado é maior que o nível de significância alfa=0,001, não se rejeita a hipótese nula H0 (H0: as linhas e colunas da tabela são independentes). - Horas totais pré-abate Quadro B.9 Quadro B.10 Teste de independência entre as linhas e as colunas (H pré-abate (viagem+abegoaria) / Lacerações): Teste de independência entre as linhas e as colunas (H pré-abate (viagem+abegoaria) / Lacerações): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) Qui-quadrado ajustado (Valor observado) Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) GL p-valor alfa 159,236 9,488 4 < 0,0001 0,05 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) GL p-valor alfa 159,236 13,277 4 < 0,0001 0,01 Quadro B.11 Teste de independência entre as linhas e as colunas (H pré-abate (viagem+abegoaria) / Lacerações): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) GL p-valor alfa 159,236 18,467 4 < 0,0001 0,001 Como o p-valor calculado é menor que o nível de significância alfa=0,001, deve-se rejeitar a hipótese nula H0 em favor da hipótese alternativa Ha (Ha: Há uma dependência entre as linhas e colunas da tabela). Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ANEXO B - Horas de viagem Quadro B.12 Quadro B.13 Teste de independência entre as linhas e as colunas (H viagem / Lacerações): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) GL p-valor alfa Teste de independência entre as linhas e as colunas (H viagem / Lacerações): 159,236 9,488 4 < 0,0001 0,05 Qui-quadrado ajustado (Valor observado) Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) GL p-valor alfa 159,236 13,277 4 < 0,0001 0,01 Quadro B.14 Teste de independência entre as linhas e as colunas (H viagem / Lacerações): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) GL p-valor alfa 159,236 18,467 4 < 0,0001 Como o p-valor calculado é menor que o nível de significância alfa=0,001, deve-se rejeitar a hipótese nula H0 em favor da hipótese alternativa Ha (Ha: Há uma dependência entre as linhas e colunas da tabela). 0,001 - Horas na abegoaria Quadro B.15 Quadro B.16 Teste de independência entre as linhas e as colunas (H abegoaria / Lacerações): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) GL p-valor alfa Teste de independência entre as linhas e as colunas (H abegoaria / Lacerações): 159,236 9,488 4 < 0,0001 0,05 Qui-quadrado ajustado (Valor observado) Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) GL p-valor alfa 159,236 13,277 4 < 0,0001 0,01 Quadro B.17 Teste de independência entre as linhas e as colunas (H abegoaria / Lacerações): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) GL p-valor alfa 159,236 18,467 4 < 0,0001 0,001 Como o p-valor calculado é menor que o nível de significância alfa=0,001, deve-se rejeitar a hipótese nula H0 em favor da hipótese alternativa Ha (Ha: Há uma dependência entre as linhas e colunas da tabela). Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ANEXO B ERITEMA Quadro B.18 Tabela de contingência (Lote / eritema): eritema-0 Lote-1 eritema-1 90 21 Lote-2 90 63 Lote-3 121 32 Lote-4 94 18 Lote-5 275 30 Nota: 0 – ausência; 1 – presença. Quadro B.19 Porcentagens / Linha (Lote / eritema): eritema-0 eritema-1 Total Lote-1 81,081 18,919 100 Lote-2 58,824 41,176 100 Lote-3 79,085 20,915 100 Lote-4 83,929 16,071 100 Lote-5 90,164 9,836 100 Total 80,336 19,664 100 Nota: 0 – ausência; 1 – presença. - Tamanho do lote Quadro B.20 Quadro B.21 Teste de independência entre as linhas e as colunas (Tamanho lote / eritema): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) GL p-valor alfa Teste de independência entre as linhas e as colunas (Tamanho lote / eritema): 64,575 9,488 4 < 0,0001 0,05 Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 64,575 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) 13,277 GL p-valor alfa 4 < 0,0001 0,01 Quadro B.22 Teste de independência entre as linhas e as colunas (Tamanho lote / eritema): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 64,575 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) 18,467 GL p-valor alfa 4 < 0,0001 0,001 Como o p-valor calculado é menor que o nível de significância alfa=0,001, deve-se rejeitar a hipótese nula H0 em favor da hipótese alternativa Ha (Ha: Há uma dependência entre as linhas e colunas da tabela). Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ANEXO B - Tipo de trajecto Quadro B.23 Teste de independência entre as linhas e as colunas (Trajecto / eritema): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 0,912 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) 3,841 GL p-valor alfa 1 Como o p-valor calculado é maior que o nível de significância alfa=0,01, não se rejeita a hipótese nula H0 (H0: As linhas e as colunas da tabela são independentes). 0,340 0,05 - Horas totais pré-abate Quadro B.24 Quadro B.25 Teste de independência entre as linhas e as colunas (H pré-abate (viagem+abegoaria) / eritema): Teste de independência entre as linhas e as colunas (H pré-abate (viagem+abegoaria) / eritema): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 64,575 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) 13,277 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) GL p-valor alfa 64,575 9,488 4 < 0,0001 0,05 GL p-valor alfa 4 < 0,0001 0,01 Quadro B.26 Teste de independência entre as linhas e as colunas (H pré-abate (viagem+abegoaria) / eritema): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 64,575 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) 18,467 GL p-valor alfa 4 < 0,0001 Como o p-valor calculado é menor que o nível de significância alfa=0,001, deve-se rejeitar a hipótese nula H0 em favor da hipótese alternativa Ha (Ha: Há uma dependência entre as linhas e colunas da tabela). 0,001 - Horas de viagem Quadro B.27 Quadro B.28 Teste de independência entre as linhas e as colunas (H viagem / eritema): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) GL p-valor alfa Teste de independência entre as linhas e as colunas (H viagem / eritema): 64,575 9,488 4 < 0,0001 0,05 Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 64,575 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) 13,277 GL p-valor alfa 4 < 0,0001 0,01 Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ANEXO B Quadro B.29 Teste de independência entre as linhas e as colunas (H viagem / eritema): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 64,575 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) 18,467 GL p-valor alfa 4 < 0,0001 Como o p-valor calculado é menor que o nível de significância alfa=0,001, deve-se rejeitar a hipótese nula H0 em favor da hipótese alternativa Ha (Ha: Há uma dependência entre as linhas e colunas da tabela). 0,001 - Horas na abegoaria Quadro B.30 Quadro B.31 Teste de independência entre as linhas e as colunas (H abegoaria / eritema): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) GL p-valor alfa Teste de independência entre as linhas e as colunas (H abegoaria / eritema): 64,575 9,488 4 < 0,0001 0,05 Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 64,575 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) 13,277 GL p-valor alfa 4 < 0,0001 0,01 Quadro B.32 Teste de independência entre as linhas e as colunas (H abegoaria / eritema): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 64,575 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) 18,467 GL p-valor alfa 4 < 0,0001 Como o p-valor calculado é menor que o nível de significância alfa=0,001, deve-se rejeitar a hipótese nula H0 em favor da hipótese alternativa Ha (Ha: Há uma dependência entre as linhas e colunas da tabela). 0,001 HEMATOMAS Quadro B.33 Tabela de contingência (Lote / hematoma): hematoma-0 hematoma-1 Lote-1 94 17 Lote-2 141 12 Lote-3 142 11 Lote-4 108 4 Lote-5 258 47 Nota: 0 – ausência; 1 – presença. Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ANEXO B Quadro B.34 Porcentagens / Linha (Lote / hematoma): hematoma-0 hematoma-1 Total Lote-1 84,685 15,315 100 Lote-2 92,157 7,843 100 Lote-3 92,810 7,190 100 Lote-4 96,429 3,571 100 Lote-5 84,590 15,410 100 Total 89,089 10,911 100 Nota: 0 – ausência; 1 – presença. - Tamanho do lote Quadro B.35 Quadro B.36 Teste de independência entre as linhas e as colunas (Tamanho lote / hematoma): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) GL p-valor alfa Teste de independência entre as linhas e as colunas (Tamanho lote / hematoma): 18,433 9,488 4 0,001 0,05 Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 18,433 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) 13,277 GL p-valor alfa 4 0,001 0,01 Quadro B.37 Teste de independência entre as linhas e as colunas (Tamanho lote / hematoma): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 18,433 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) 18,467 GL 4 p-valor 0,001 alfa 0,001 Como o p-valor calculado é maior que o nível de significância alfa=0,001, não se rejeita a hipótese nula H0 (H0: As linhas e as colunas da tabela são independentes). - Tipo de trajecto Quadro B.38 Teste de independência entre as linhas e as colunas (Trajecto / hematoma): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 0,699 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) 3,841 GL p-valor alfa 1 0,403 0,05 Como o p-valor calculado é maior que o nível de significância alfa=0,05, não se rejeita a hipótese nula H0 (H0: As linhas e as colunas da tabela são independentes). Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ANEXO B - Horas totais pré-abate Quadro B.39 Quadro B.40 Teste de independência entre as linhas e as colunas (H pré-abate (viagem+abegoaria) / hematoma): Teste de independência entre as linhas e as colunas (H pré-abate (viagem+abegoaria) / hematoma): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 18,433 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) 13,277 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) 18,433 9,488 GL p-valor alfa 4 0,001 0,05 GL p-valor alfa 4 0,001 0,01 Quadro B.41 Teste de independência entre as linhas e as colunas (H pré- abate (viagem+abegoaria) / hematoma): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 18,433 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) 18,467 GL 4 p-valor 0,001 alfa 0,001 Como o p-valor calculado é maior que o nível de significância alfa=0,001, não se rejeita a hipótese nula H0 (H0: As linhas e as colunas da tabela são independentes). - Horas de viagem Quadro B.42 Quadro B.43 Teste de independência entre as linhas e as colunas (H viagem / hematoma): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) GL p-valor alfa Teste de independência entre as linhas e as colunas (H viagem / hematoma): 18,433 9,488 4 0,001 0,05 Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 18,433 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) 13,277 GL p-valor alfa 4 0,001 0,01 Quadro B.44 Teste de independência entre as linhas e as colunas (H viagem / hematoma): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 18,433 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) 18,467 GL 4 p-valor 0,001 alfa 0,001 Como o p-valor calculado é maior que o nível de significância alfa=0,001, não se rejeita a hipótese nula H0 (H0: As linhas e as colunas da tabela são independentes). Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ANEXO B - Horas na abegoaria Quadro B.45 Quadro B.46 Teste de independência entre as linhas e as colunas (H abegoaria / hematoma): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) Teste de independência entre as linhas e as colunas (H abegoaria / hematoma): 18,433 9,488 GL 4 p-valor 0,001 alfa 0,05 Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 18,433 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) 13,277 GL p-valor alfa 4 0,001 0,01 Quadro B.47 Teste de independência entre as linhas e as colunas (H abegoaria / hematoma): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 18,433 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) 18,467 GL 4 p-valor 0,001 alfa 0,001 Como o p-valor calculado é maior que o nível de significância alfa=0,001, não se rejeita a hipótese nula H0 (H0: As linhas e as colunas da tabela são independentes). FRACTURAS Quadro B.48 Tabela de contingência (Lote / Fractura): Fractura-0 Fractura-1 Lote-1 109 2 Lote-2 152 1 Lote-3 152 1 Lote-4 111 1 Lote-5 300 5 Nota: 0 – ausência; 1 – presença. Quadro B.49 Porcentagens / Linha (Lote / Fractura): Fractura-0 Fractura-1 Total Lote-1 98,198 1,802 100 Lote-2 99,346 0,654 100 Lote-3 99,346 0,654 100 Lote-4 99,107 0,893 100 Lote-5 98,361 1,639 100 Total 98,801 1,199 100 Nota: 0 – ausência; 1 – presença. Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ANEXO B -Tamanho do lote Quadro B.50 Teste de independência entre as linhas e as colunas (Tamanho lote / Fractura): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 1,697 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) 9,488 GL p-valor alfa 4 Como o p-valor calculado é maior que o nível de significância alfa=0,001, não se rejeita a hipótese nula H0 (H0: As linhas e as colunas da tabela são independentes). 0,791 0,05 - Tipo de trajecto Quadro B.51 Teste de independência entre as linhas e as colunas (Trajecto / Fractura): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 0,055 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) 3,841 GL p-valor alfa 1 Como o p-valor calculado é maior que o nível de significância alfa=0,001, não se rejeita a hipótese nula H0 (H0: As linhas e as colunas da tabela são independentes). 0,815 0,05 - Horas totais pré-abate Quadro B.52 Teste de independência entre as linhas e as colunas (H pré-abate (viagem+abegoaria) / Fractura): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 1,697 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) 9,488 GL p-valor alfa 4 Como o p-valor calculado é maior que o nível de significância alfa=0,001, não se rejeita a hipótese nula H0 (H0: As linhas e as colunas da tabela são independentes). 0,791 0,05 - Horas de viagem Quadro B.53 Teste de independência entre as linhas e as colunas (H viagem / Fractura): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 1,697 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) 9,488 GL p-valor alfa 4 0,791 0,05 Como o p-valor calculado é maior que o nível de significância alfa=0,001, não se rejeita a hipótese nula H0 (H0: As linhas e as colunas da tabela são independentes). Deficiências no Bem-Estar Animal Repercussões sobre as carcaças de suínos abatidos para consumo ANEXO B - Horas na abegoaria Quadro B.54 Teste de independência entre as linhas e as colunas (H abegoaria / Fractura): Qui-quadrado ajustado (Valor observado) 1,697 Qui-quadrado ajustado (Valor crítico) 9,488 GL p-valor alfa 4 0,791 0,05 Como o p-valor calculado é maior que o nível de significância alfa=0,001, não se rejeita a hipótese nula H0 (H0: As linhas e as colunas da tabela são independentes).